Buscar

REVISÃO PENAL


Continue navegando


Prévia do material em texto

Revisão Penal AV1
HOMICÍDIO
Crimes contra a vida
Bem jurídico mais importante, mas não necessariamente, crimes contra a vida são os mais graves.
Homicídio - Art. 121
Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio – Art. 122
Infanticídio – Art. 123i
Aborto – Art. 124 a 128
Todos esses crimes têm em comum o processamento perante o tribunal do júri. O artigo 5º da CF traz direitos e garantias fundamentais, que dentro dele, diz que toda pessoa tem o direito de ser julgado pelo tribunal do júri quando for crime contra a vida, sendo crime doloso, que seja consumado ou tentado.
Homicídio
“Art. 121: “Matar alguém”.
Pena – reclusão de 6 a 20 anos.
Homicídio é a morte de um homem provocado por outro homem. É a eliminação da vida de uma pessoa praticada por outra. O delito de homicídio classifica-se como crime material, que é aquele que se consuma com a produção do resultado naturalístico, sendo certo que o resultado morte da vítima há de se vincular pelo nexo causal à conduta do agente. Trata-se também de crime comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa, tanto a vítima como o vitimador não são específicos. A palavra “alguém” referida no caput do artigo 121, refere-se a todo aquele que tenha vida extrauterina. A lei não exige nenhum requisito especial.
Causa de aumento de pensa no homicídio doloso – MAJORANTES: Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 anos ou maior de 60 anos.
Obs.: as majorantes do homicídio doloso cabem em todos as espécies de homicídio.
Ex.: Se o homicídio for por asfixia, que é uma qualificadora, será considerado homicídio qualificado. Ou seja, mudará os patamares da pena, ou seja, além de ser fixada entre 6 a 20 anos, será fixada entre 12 a 30 anos.
Se ele for feito homicídio por asfixia com motivo de matar o estuprador da filha será um homicídio qualificado (asfixia) privilegiado, por que tem relevante valor moral de o pai matar o estuprador da filha. A pena será fixada entre 12 a 30 mas terá a redução de 1/6 a 1/3.
Se for homicídio por asfixia, matando o estuprador da filha, sendo esse maior de 60 anos, será um homicídio qualificado, privilegiado com majorante do homicídio doloso, que é matar alguém com maior de 60 anos.
FORMAS
Dolo: é o elemento psicológico da conduta. É a vontade e a consciência de realizar os elementos constantes do tipo legal, isto é, de praticar o verbo e produzir o resultado. É a vontade manifestada pela pessoa humana de realizar a conduta.
Dolo direito: o agente quer realizar a conduta e produzir o resultado. Ex: sujeito atira contra o corpo da vítima, desejando matá-la.
Dolo eventual: o agente prevê resultado criminoso, assume o risco de acontecer. Ex: “se eu continuar dirigindo assim, posso vir a matar alguém, mas não importa, se acontecer, tudo bem, eu vou prosseguir”.
Crime preterdoloso: lesão seguida de morte. O agente tem intenção de lesar mas, por algum motivo, leva a morte da pessoa.
Homicídio simples doloso (caput art. 121 – “matar alguém”. Ou seja, é a morte de um homem provocado por outro homem/ pena 6 a 20 anos.) – Constitui o tipo básico fundamental, é o que contém os componentes essenciais do crime. Pode ser cometido por qualquer pessoa contra qualquer pessoa. Há exceção quanto a pessoa quando se refere a o Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, caso em que, o delito será contra a Segurança Nacional, nos termos da Lei 7.170/83, se houver motivação política (princípio da especialidade).
Geralmente mata-se por ação, como por exemplo, quando há disparo de arma de fogo, mas também é possível matar por omissão, por exemplo, mãe que deixa propositadamente de alimentar filho pequeno (dever legal), a baba que se oferece para tomar conta do bebê, assumindo a responsabilidade de zelar por ele (dever de garantidor). Não basta não fazer, é preciso portanto, que no caso concreto haja uma norma determinando o que devia ser feito. Em todos esses casos, o agente tem o dever jurídico de impedir o resultado, de acordo com as hipóteses do art. 13, § 2º, do CP.
O homicídio doloso simples é caracterizado como crime material, ou seja, o resultado precisa acontecer, se não, é considerado meramente tentado, ou seja, tentativa de homicídio (terá a pena do homicídio de 6 a 20 anos reduzida de 1/3 a 2/3).
Obs.: Transmissão consciente de doença incurável:
É necessário verificar se é incurável ou não. Se a doença transmitida for curável, falará em lesão. Se a doença for incurável e o agente quis passar essa doença, mas que essa doença não tenha potencial de morte, o STJ entende ser lesão de natureza gravíssima. Se levar a morte, entende-se que é tentativa de homicídio.
- Homicídio doloso privilegiado – caso de diminuição de pena – favorável ao réu (1/6 a 1/3) – 3ª fase.
Art. 121, § 1º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 6 a 20 anos de 1/6 a 1/3.
A lei prevê 3 causas:
1. Motivo de relevante valor social: Fundado no interesse coletivo. Ex.: “traidor da pátria”; matar uma pessoa que praticou diversos crimes em um município; matar um político que desviou milhões de verba pública.
2. Motivo de relevante valor moral: é motivo de enobrecedor, de interesse individual.
Ex.: Pai que mata estuprador da filha.
Eutanásia que se antecipa a morte para abreviar o sofrimento.
Obs.: Eutanásia difere de:
Ortotanásia: morte natural (sem interferência do homem ou da ciência), a partir da suspensão de medicamentos que prolongariam um pouco a vida. Há cuidados paliativos que permitem a chamada “morte digna”.
Distanásia: persistência na medicação, buscando o prolongamento da vida do doente incurável, prologando-se o sofrimento.
3. Domínio de violenta emoção em seguida a injusta provocação da vítima: Apesar de a emoção ou a paixão não excluírem o crime, levam à diminuição da pena. Ex.: cônjuge que mata o outro em flagrante adultério.
É importante observar alguns requisitos:
- Domínio de violenta emoção: Há domínio e não mera influencia. Há emoção é intensa, violenta; há um choque emocional; perda de controle.
- Reação instantânea: A demora exclui o privilegio. A reação precisa ser feita para configurar privilégio durante a violenta emoção.
- Injusta provocação da vítima: Agressão, injúria ou incitação do direcionado ao agente ou terceiro.
O privilégio de redução da pena de 1/6 a 1/3 é favorável ao réu. Tal privilégio não é encontrado somente no homicídio, mas em outros tipos penais também. O privilégio prepondera sobre a atenuante genérica.
Tais circunstancias de relevante valor social, moral, domínio de violenta emoção em seguida a injusta provocação da vítima são subjetivas. Não se comunicam ao coautor ou partícipe.
Para aqueles que entendem que o privilégio pode coexistir com a circunstância qualificadora objetiva, a aplicação da pena será feita da seguinte forma (CP, art. 68):
1ª fase: no momento da aplicação da pena (art. 68 do CP), se foi reconhecida a existência da qualificadora, a pena-base será fixada entre o limite de 12 a 30 anos de reclusão;
2ª fase: na segunda fase, analisam-se as circunstâncias agravantes e atenuantes;
3ª fase: nessa fase, aplicam-se as causas de diminuição do § 1º do art. 121, cabendo a redução de um sexto a um terço da pena somente para quem entende que as qualificadoras de natureza objetiva podem coexistir com o privilégio. Nesse caso, a redução varia conforme a relevância do motivo de valor moral ou social, ou do domínio de violenta emoção em seguida a injusta provocação da vítima.
- Homicídio qualificado – desfavorável ao réu – muda os patamares da pena. (pena de reclusão de 12 a 30 anos – 1 fase)
No homicídio doloso simples, a pena mínima é de 6 anos quanto a máxima é de 20 anos. No homicídio qualificado, muda-se os patamares da pena, ou seja, a pena mínima passa a ser 12 anos. A qualificadora não se confunde como aumento de pena. A qualificadora faz a pena mínima e máxima sejam alteradas, ou seja, mudam-se os patamares.
Quando há várias qualificadoras em um crime: As qualificadoras presentes, como por exemplo, motivo fútil, traição e uso de veneno, são colocadas para os jurados votarem. Quanto mais qualificadoras, maior será a pena do indivíduo. E como é feito na prática?
O artigo 61 diz que as qualificadoras preponderam sobre a agravante. No exemplo, a primeira qualificadora a ser reconhecida será o motivo fútil, art. 121, inciso II, reconhecendo depois as demais. Tendo em vista o reconhecimento do motivo fútil, sendo uma qualificadora, a pena poderá ser fixada entre 12 a 30 anos. O juiz in casu, fixa em 15 anos.
Na segunda fase de julgamento, uma já foi aplicada para a pena ser fixada entre 12 e 30 anos (motivo fútil), as outras não serão aplicadas como qualificadoras, mas sim como agravantes para ser aumentada a pena.
Só convivem com o privilégio as qualificadoras objetivas, visto que o privilégio é subjetivo.
Crimes hediondos e homicídios:
O que é ser hediondo? Pena cumprida em regime inicial fechado, o livramento condicional é de 2/3, o cumprimento da pena é bem mais severo. Ao cumprir a pena, se dentro de 5 anos, praticar outro crime, é reincidente. O prazo para voltar a ser primário são 5 anos, sem praticar crime nenhum.
A lei dos crimes hediondos, diz que o homicídio qualificado enquadra-se como crime hediondo. O homicídio simples não se enquadra, salvo se não tiver grupo de extermínio, como também não é crime hediondo o homicídio privilegiado.
O homicídio privilegiado e qualificado ao mesmo tempo é hediondo? Visto que o homicídio privilegiado é? Não se enquadra como crime hediondo, seja por que a lei só determinou o qualificado, e não falou homicídio privilegiado-qualificado (homicídio hibrido). O privilégio retira a hediondez. A pena nesse tipo penal será de 12 a 30 anos (pena de homicídio qualificado), com redução de 1/6 a 1/3 (privilégio do homicídio privilegiado).
Art. 121, § 2º - Se o homicídio é cometido:
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
Paga é a recompensa antecipada enquanto a promessa é o pagamento da recompensa posterior ao crime. Em ambos os casos, não é necessário que a promessa ou a paga de recompensa sejam em dinheiro, a qualificadora persiste se a promessa for de emprego.
Para o STF e STJ os dois sujeitos responderam pela qualificadora, ou seja, o que prometeu e pagou e o que executou a conduta.
Motivo torpe: é o motivo moralmente reprovável, vil, repugnante. Ex.: matar por vaidade, matar para fazer sofrer, matar para ficar com a herança.
II – por motivo fútil;
Fútil é o motivo insignificante, que apresenta desproporção entre o crime e a causa moral. Ex.: matar garçom por que encontrou uma mosca na sopa.
Para alguns, não se confunde motivo fútil com ausência de motivo, para outros doutrinadores se equipara.
III- com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
Meio insidioso: é o meio ardiloso, desleal.
Meio cruel: é aquele que causa sofrimento a vítima. Ex.: asfixia, tortura.
Perigo comum: perigo a várias pessoas. Ex.: fogo, explosivo. Obs.: Se ficar comprovada a pratica do crime de perigo comum, como por exemplo incêndio e explosivo, responderá o agente por dois delitos em concurso formal.
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
Traição: ataque inesperado.
Emboscada: É a tocada. O agente fica escondido à espera da vítima.
Dissimulação: o agente esconde ou disfarça o seu propósito, procurando atingir o ofendido quando estiver desprevenido.
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.
Tem-se uma conexão, um lime subjetivo ou objetivo que liga dois ou mais crimes. Ex.: matar a empregada para sequestrar a criança (execução); sujeito mata a vítima para ocultar o crime de estupro; o corrupto mata a testemunha que o viu recebendo “propina” (impunidade); sujeito mata o parceiro de um roubo, para ficar com todo o produto do crime (vantagem).
Obs.: Homicídio para assegurar a ocultação ou impunidade de crime impossível: Ex.: A mata B que já estava morto. Em seguida, mata a testemunha que o viu praticando o crime. Segundo a doutrina e a jurisprudência dominante, muito embora o crime conexo seja impossível, persiste a qualificadora, pois o que interesse é a intenção do agente.
São circunstancias que demonstram maior grau de criminalidade da conduta do agente.
As qualificadoras são subjetivas, com isso, não se comunicam entre os partícipes.
VI – contra a mulher por razões da condição do sexo feminino
V - Feminicídio – Pena: reclusão de 12 a 30 anos.
O feminicídio foi incluído pela lei Nº 13. 104, de 2015. Em 2006 o Brasil aprovou a Lei Maria da Penha, que alterou alguns dispositivos no Código Penal, apesar de não ser uma lei penal, como deixar mais grave a lesão corporal em ambiente doméstico, mas, o grande mérito presente foi a discussão do que é realmente a violência em ambiente doméstico, quais são as formas de violências e quais são as medidas protetivas as mulheres e ao agressor, como por exemplo, encaminhá-lo ao psicólogo. Ou seja, vem trazer cautelares para as mulheres que vinham sofrendo esse tipo de violência.
O agressor pode ser afastado da residência comum, e se não tiverem residência comum, este poderá ser limitado a aproximação da vítima e em casos mais extremos, pode ser preso preventivamente.
Feminicídio: Quando falamos em feminicídio, o próprio radical tem relação com a mulher, ou seja, matar mulher por ser do sexo feminino, dentre as circunstancias de violência doméstica, familiar ou de relação íntima de afeto.
§ 2º - A: Considera-se que há razões de condições de sexo feminino quando o crime envolve:
I – violência doméstica e familiar
Configura-se violência doméstica e familiar contra a mulher, qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.
Há divergências quanto ao assunto, de ser subjetivo ou objetivo. O subjetivo mataria a pessoa por essa ser mulher, ou seja, pertencer ao sexo feminino. Na corrente objetiva, ser mulher não é o motivo real. Ex: Homem que mata esposa por queimar a comida. Ele mata por queimar a comida, ou seja, um motivo fúti, configurando do mesmo jeito homicídio qualificado, mas, não matou por essa ser mulher.
Não é qualquer violência que se enquadre na Lei marinha da penha, precisa estar em um contexto de: Violência em âmbito doméstico, Violência em âmbito familiar ou Violência por relação íntima de afeto.
II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher
Não há que se falar em caráter objetivo, apenas subjetivo, pois a pessoa morre por ser mulher.
MAJORANTES DO FEMINICÍDIO: § 7º - A pena do feminicidio é aumentada de 1/3 até a metade se o crime for praticado
I – durante a geração ou nos 3 primeiros meses após o parto.
Responde a pena com aumento mesmo se o feto sobreviver, o simples fato da mulher estar grávida gera o aumento.
II – contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 ou com deficiência.
III – na presença de descendente ou ascendente da vítima.
VII – Contra autoridade ou agente descrito nos artigos 142 (forças armadas) e 144 (policiais) da CF, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo, até terceiro grau, em razão dessa condição.
Em relação a função. O entendimento é objetivo, ou seja, o policial militar não é morto por que é simplesmente um policial. O PM será morto por que, exercendo sua função, prendeu A.
- Homicídio culposo
Art. 121, § 3º, CP: Se o homicídio é culposo: Pena de 1 a 3 anos.
Ou 302 do CTB: veículo automotor – código de trânsito brasileiro.
Constitui a modalidade culposa do delito do homicídio. Diz-secrime culposo quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligencia ou imperícia. Na conduta culposa, há uma ação voluntária dirigida a uma finalidade lícita, mas, pela quebra do dever de cuidado a todos exigidos, sobrevém um resultado ilícito não querido, cujo risco nem sequer foi assumido (obs:. Se assumisse o risco seria dolo eventual, caracterizado como homicídio doloso).
O convívio social exige de todos o chamado dever de cuidado Impõe-se assim, uma conduta normal, a conduta normal é ditada pelo senso comum. Se a conduta do agente afastar-se daquela prevista na norma social, haverá quebra do dever de cuidado, e consequentemente, a culpa.
Não se fala em homicídio doloso no Código de Trânsito Brasileiro, quando se tratar desse tipo penal, será reputado crime ao art. 121 do Código Penal. Só há de se falar em CTB quando houver culpa, se houver dolo, falar-se-á no Código Penal.
Então, se for no trânsito, art. 302 da Lei 9.503/97. Exige-se ainda que seja na condução de veículo automotor + via pública (princípio da especialidade).
Elementos do fato típico do homicídio culposo.
A-) A conduta humana voluntária e fazer ou não fazer: o fato inicia-se com a prática voluntária de uma conduta, positiva ou negativa, uma ação ou uma omissão.
B-) Inobservância do cuidado objetivo manifestada através da imprudência, negligência ou imperícia. O indivíduo agiu descuidadamente quando nas circunstancias de fato lhe era possível prever as consequências e, portanto, agir de forma prudente, porém não o fez.
A inobservância do cuidado objetivo pode se manifestar através dos seguintes fatores:
Imprudência: é a prática de um fato perigoso. O sujeito pratica uma conduta que a cautela indica que não deve ser realizada. Ex.: dirigir uma lancha em excesso de velocidade próximo a pessoas.
Negligência: É a culpa na sua forma omissiva. Implica na abstenção de um comportamento que era devido. O negligente deixa de tomar, antes de agir, as cautelas que deveria. O sujeito deixa de fazer alguma coisa que a prudência impõe seja feita. Ex.: deixar arma de fogo nas mãos de uma criança.
Imperícia: é a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão.
Causa de aumento de pena no homicídio culposo – MAJORANTES.
§ 4º - No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3, se o crime resulta de inobservância de regra técnica ou profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar socorro imediato à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato ou foge para evitar prisão em flagrante.
Inobservância de regra técnica ou profissão: no caso, o agente conhece a regra técnica, porém, deixa de observá-la. Não se confunde com imperícia, onde o agente não conhece a regra, não domina conhecimentos técnicos.
O agente deixa de prestar socorro imediato à vítima: o agente, após dar causa ao evento ilícito de forma culposa, omite-se no socorro necessário a evitar que a vítima continue a correr perigo de vida ou de saúde. O agravamento visa repreender esse comportamento desumano, egoísta.
Se o agente foge para evitar prisão em flagrante: essa medida de aumento de pena nessa circunstância, visa impedir que o agente deixe o local da infração, dificultando o trabalho Justiça e buscando a impunidade.
Somatório de penas
Crime formal próprio: A conduta do agente gera dois resultados, entretanto, esse a gente não quer os dois resultados, que no máximo um. Responde, portanto, por um resultado, com o aumento de 1/6 até a metade.
Crime formal impróprio: Uma conduta gera dois resultados, querendo o agente esses dois. Tem-se a soma das penas dos dois crimes.
Material: Soma-se as penas.
Perdão judicial – apenas para homicídio culposo
O perdão judicial está previsto no artigo 121, § 5º do CP:
“Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária”.
Trata-se de causa de extinção da punibilidade aplicável somente à modalidade culposa do delito de homicídio. Aplica-se em casos restritos, expressamente previstos em lei. (CP, art. 107, IX).
O promotor irá denunciar, comprovar que houve culpa e o juiz analisará se as circunstâncias especiais estão presentes, ou seja, se trata-se de homicídio culposo, se as consequências da infração atingiram o agente de forma muito grave e que a vitima e o vitimador tenham certa afetividade. Caso entenda que sim, o agente terá direito público subjetivo ao benefício legal.
Ex: Em um acidente, o pai mata a filha e a mulher por dirigir acima da velocidade permitida. O pai foi imprudente, ou seja, o homicídio mesmo culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena por entender que as consequências da infração o atingiram de forma tão grave por perder os seus familiares, que a sanção penal se torna desnecessária.
Art. 120: “ A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência”.
Ou seja, se o indivíduo praticar outro crime depois de concedido o perdão judicial pelo juiz e extinta a pena do primeiro crime, por não ter o efeito de reincidência, ele será réu primário, entretanto, é necessário de fato, uma sentença condenatória.
A posição majoritária, entretanto, prevalece que a sentença não é condenatória, ou seja, basta que o juiz declare o perdão a qualquer momento, sendo meramente declaratória. (Súmula 18 do STJ). Essa Súmula vem por uma questão humanitária, pois é evidente que não será aplicado a pena e por economia processual, é promovido o arquivamento, o juiz homologa e não há nem processo. É importante ressaltar que a aplicação da súmula cabe em casos extremamente evidentes, visto que pode haver dúvida se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
- Homicídio praticado por militar no exercício de suas funções
Tal crime é previsto nos artigos 205 e 206 do COM, em razão do princípio da especialidade. Por exemplo, se um militar matar um cível, o Tribunal do Juri julgará, por ser a vítima cível. Se um militar matar outro militar, quem julgará será a Justiça Militar, ou ser a vítima um militar.
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUÍCIDIO
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena — reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único. A pena é duplicada:
Aumento de pena
I — se o crime é praticado por motivo egoístico;
II — se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
Os verbos nucleares do tipo penal descrito no art. 122 — induzir, instigar e auxiliar — assumem conotação completamente distinta daquela que têm quando se referem à participação em sentido estrito. Não se trata de participação — no sentido de atividade acessória, secundária, como ocorre no instituto da participação “stricto sensu” —, mas de atividade principal, nuclear típica, representando a conduta proibida lesiva direta do bem jurídico vida.
Por isso, quem realizar qualquer dessas ações, em relação ao sujeito passivo, não será partícipe, mas autor do crime de concorrer para o suicídio alheio, visto que sua atividade não será acessória, mas principal, única, executória e essencialmente típica. E essa tipicidade não decorre de sua natureza acessória, mas de sua definição legal caracterizadora de conduta proibida.
A objetividade jurídica do tipo penal é a proteção do direito à vida, ou seja, o bem jurídico tutelado é a vida humana extrauterina.
O sujeito ativo, ou seja, aquele que pode praticar o delito, nesse caso pode ser qualquer pessoa, exceto o suicida. Por esse motivo classifica-se como crime comum.
O sujeito passivo, ou seja, a vítima pode ser qualquer pessoa também, capaz de ser induzida, instigada ou auxiliada a suicidar-se. Aquele que não tem capacidade de autodeterminar-se não será vítima desse crime, mas de homicídio.Ex. Um adulto fala para uma criança de 10 anos pular de uma cobertura, se ela pula e morre, será homicídio e não o tipo penal previsto no artigo 122, do CPB.
O elemento subjetivo (a vontade que está dentro da cabeça do agente) nesse crime é a de induzir, instigar ou auxiliar no suicídio.  Deve ser uma vontade séria, sem nenhum tipo de tom de brincadeira.
Importante: o direito penal não pune o suicídio por questão de política criminal. Assim, em regra não se pune a autolesão.
As condutas previstas são:
Induzir ao suicídio: é criar na cabeça do suicida a ideia de tirar sua própria vida. A vítima sequer pensava nisso.
Instigar ao suicídio: é reforçar uma ideia de autodestruição que o suicida já tinha em mente.
Auxiliar ao suicídio: esse auxílio deve ser secundário, se a participação for direta, será homicídio (Ex.: chutar o banquinho de quem está querendo se enforcar).
Esse crime se classifica como material, ou seja, aquele que tem resultado naturalístico (com modificação do mundo exterior).
A consumação do crime do art. 122 se dá com o evento morte do suicida ou, se da tentativa de suicídio resulta na vítima lesão corporal de natureza grave.  Não se admite a tentativa no art. 122 CP.
Observe que o instituto da tentativa, previsto na 2ª parte do art. 122, refere-se à conduta da vítima e, não, do sujeito ativo. Assim, ao suicídio, como fato jurídico atípico, aplica-se a tentativa; todavia, não se aplica a tentativa prevista no art. 14, inciso II, do CPB para as condutas típicas previstas no caput do artigo 122.
Importante: caso a vítima sofra em razão da tentativa de suicídio apenas lesões de natureza leve, não há crime para quem induziu, instigou ou auxiliou o suicida. A conduta é atípica. 
A competência para julgar os crimes dolosos contra a vida é do Tribunal do Júri.
No parágrafo único está prevista uma causa especial de aumento.  A pena será duplicada, no inciso I, quando o crime for praticado por motivo egoístico, ex.: quando o agente instiga o suicida/vítima a praticar o suicídio para ficar com sua herança. Já no inciso II, a pena será duplicada quando a vítima é menor de 14 anos ou tem por qualquer forma sua capacidade reduzida.
INFANTICÍDIO
Art. 123. Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena — detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
2. Bem jurídico tutelado
O bem jurídico do crime de infanticídio, a exemplo do homicídio, é a vida humana. Protege-se aqui a vida do nascente e do recém-nascido.
Comparativamente ao crime de homicídio apresentam-se duas particularidades: uma em relação aos sujeitos do crime e outra em relação ao período da vida a que se destina essa proteção legal. Relativamente aos sujeitos, no polo passivo pode figurar somente o filho, enquanto no polo ativo somente a mãe, emocionalmente fragilizada pelo puerpério, afora a possibilidade da participação de terceiro; em relação ao aspecto temporal, somente durante o parto ou logo após a sua consumação.
3. Sujeitos ativo e passivo
Somente a mãe pode ser sujeito ativo do crime de infanticídio e desde que se encontre sob a influência do estado puerperal.
Sujeito passivo, segundo expressão literal do art. 123, é “o próprio filho”, vocábulo que abrange não só o recém-nascido, mas também o nascente, diante da elementar contemplada no próprio dispositivo, durante o parto ou logo após.
4. O estado puerperal como elementar normativa
Os dois critérios mais conhecidos que fundamentam a consideração do crime de infanticídio como delictum exceptum são: psicológico e fisiológico. O critério psicológico pretende justificar-se no desejo de preservar a honra pessoal, como, por exemplo, a necessidade de ocultar a maternidade. O critério fisiológico, por sua vez, que foi o adotado pelo nosso Código Penal, admite a influência do estado puerperal.
O estado puerperal pode determinar, embora nem sempre determine, a alteração do psiquismo da mulher dita normal. Em outros termos, esse estado existe sempre, durante ou logo após o parto, mas nem sempre produz as perturbações emocionais que podem levar a mãe a matar o próprio filho.
6. Tipo objetivo: adequação típica
A conduta típica consiste em matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após.
Trata-se, com efeito, de crime próprio (mãe e sob influência do estado puerperal) e privilegiado, pois o verbo núcleo do tipo é o mesmo do homicídio (art.121), mas a pena cominada é bem reduzida, para a mesma ação de matar.
Pode-se destacar, para um exame analítico, as seguintes particularidades dessa forma peculiar de matar alguém, que a distinguem do homicídio convencional:
a) qualidade ou condição dos sujeitos ativo e passivo da ação delituosa; b) influência biopsíquica ou fisiopsicológica do estado puerperal; c) circunstância temporal contida no tipo: durante o parto ou logo após.
É crime próprio porque somente a mãe pode cometê-lo e contra o próprio filho, nascente ou recém-nascido. Não se trata, na verdade, somente da vida de quem acaba de nascer, mas também da de quem está nascendo, pois tanto um quanto outro podem ser mortos. Necessário, no entanto, que a mãe esteja sob a influência do estado puerperal. O puerpério, elemento fisiopsicológico, é um estado febril comum às parturientes, que pode variar de intensidade de uma para outra mulher, podendo influir na capacidade de discernimento da parturiente. O infanticídio é, a rigor, uma modalidade especial de homicídio privilegiado.
O fato, contudo, de tratar-se de crime próprio não impede que possam existir coautores e partícipes, desde que tenham, logicamente, atividade secundária, acessória. Se o terceiro for quem executa a ação de matar o nascente ou recém-nascido, responderá por homicídio, e, neste caso, não há que
se falar em violação da comunicabilidade da elementar típica (influência do estado puerperal), pois a ação principal não foi da mãe puérpera, mas do terceiro, onde examinamos o “concurso de pessoas no delictum exceptum”.
E, finalmente, chama atenção a circunstância temporal contida no tipo, como elemento normativo,
indicando que a ação só pode ser executada durante o parto ou logo após.
7. Tipo subjetivo: adequação típica
O dolo — direto ou eventual — é o elemento subjetivo do tipo e consiste na vontade livre e consciente de matar o próprio filho, durante o parto ou logo após, ou, no mínimo, na assunção do risco de matá-lo, ou, em outros termos, a mãe deve querer diretamente a morte do próprio filho ou assumir o risco de produzi-la. A vontade e a consciência devem abranger a ação da mãe puérpera, os meios utilizados na execução (comissivos ou omissivos), a relação causal e o resultado morte do filho. Convém registrar certa contradição na tipificação desse crime, que só admite a modalidade dolosa, lucidamente destacada por Heleno Fragoso, que afirmava: “Exige o dolo, porém, na forma de vontade viciada pelas perturbações resultantes da influência do estado puerperal”.
Assim, se o terceiro induz, instiga ou auxilia a parturiente a matar o próprio filho durante ou logo após o parto, participa de um crime de infanticídio.
Ora, como a “influência do estado puerperal” é uma elementar do tipo, comunica-se ao participante (seja coautor seja partícipe), nos termos do art. 30 do CP.
A única forma jurídica de se afastar a comunicabilidade da elementar em exame seria, de lege ferenda, tipificar o infanticídio como outra espécie de homicídio privilegiado, quando então o
“estado puerperal” deixaria de ser uma elementar do tipo (comunicável), para se transformar em simples circunstância pessoal (incomunicável), como sugeria Magalhães Noronha.
ABORTO
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque:
Pena — detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Aborto provocado por terceiro
Art. 125. Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena — reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos.
Art. 126. Provocar aborto com o consentimentoda gestante:
Pena — reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 (quatorze) anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Forma qualificada
Art. 127. As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário 
I — se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II — se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
2. Bem jurídico tutelado
O bem jurídico protegido é a vida do ser humano em formação, embora, rigorosamente falando, não se trate de crime contra a pessoa. O produto da concepção — feto ou embrião — não é pessoa,
embora tampouco seja mera esperança de vida ou simples parte do organismo materno, como alguns doutrinadores sustentam, pois tem vida própria e recebe tratamento autônomo da ordem jurídica.
Quando o aborto é provocado por terceiro, o tipo penal protege também a incolumidade da gestante. Comparativamente ao crime de homicídio, apresentam-se duas particularidades: uma em relação ao objeto da proteção legal e outra em relação ao estágio da vida que se protege; relativamente ao objeto, não é a pessoa humana que se protege, mas a sua formação embrionária; em relação ao aspecto temporal, somente a vida intrauterina, ou seja, desde a concepção até momentos antes do início do parto.
O Código Civil também assegura os direitos do nascituro desde a concepção (arts. 1.609, 1.611 e
1.799).
3. Sujeitos ativo e passivo
Sujeito ativo no autoaborto e no aborto consentido (art. 124) é a própria mulher gestante.
Somente ela própria pode provocar em si mesma o aborto ou consentir que alguém lho provoque, tratando-se, portanto, de crime de mão própria.
No aborto provocado por terceiro, com ou sem consentimento da gestante, sujeito ativo pode ser
qualquer pessoa, independentemente de qualidade ou condição especial.
Sujeito passivo, no autoaborto e no aborto consentido (art. 124), é o feto, ou, genericamente falando, o produto da concepção, que engloba óvulo, embrião e feto (há divergência doutrinária).
Nessa espécie de aborto, concordamos com Heleno Fragoso, a gestante não é ao mesmo tempo sujeito ativo e sujeito passivo, não havendo crime na autolesão. Ela é somente sujeito ativo do crime.
A gestante é sujeito passivo no aborto provocado por terceiro sem seu consentimento.
Nessa espécie de aborto, há dupla subjetividade passiva: o feto e a gestante.
No crime de aborto não se aplica a agravante genérica do art. 61, II, h (crime contra gestante), pois fica subsumida no tipo central.
Tipo objetivo
Art. 124
No crime do art. 124, são duas as condutas, uma é o auto aborto outra é o consentimento no aborto.
Auto aborto: o crime se configura quando a própria gestante provoca o aborto em si mesma. A gestante realiza as manobras abortivas, ou seja, ela mesma provoca, causa o aborto. A provocação do aborto pode ser através de ingestão de substâncias químicas ou por via mecânica, com a introdução de objetos pontiagudos no útero.
Consentimento no aborto: a gestante não provoca o aborto, mas consente, ou seja, autoriza, outra pessoa a realizar o aborto. É a hipótese em que a gestante vai até uma clínica de aborto e contrata os serviços do profissional; ou solicita que outra pessoa realize as manobras abortivas. Ressalte-se que nessa conduta, pessoa que realizou o aborto com o consentimento da gestante, responderá pelo crime definido no art. 126.
Em ambas as figuras do art. 124, temos um crime de ação livre, que é cometido por qualquer meio.
Arts. 125 e 126
Já nos crimes dos arts. 125 e 126, a conduta é de provocar aborto. Provocar é dar causa, originar, ocasionar. Trata-se de crime de ação livre, de modo que existe com qualquer meio executivo que provoque a morte do feto. Não importa o meio utilizado, se químico ou mecânico, haverá crime de aborto se houver o resultado naturalístico, morte do feto.
Admite-se o crime cometido por omissão se o agente tinha o dever de impedir (art. 13, § 2º, CP) o aborto e se omite dolosamente.
A diferença entre os dois crimes é que o crime do art. 125 é cometido sem o consentimento da gestante, contra a vontade dela. Nesse caso o crime é mais grave, com pena de reclusão de 3 a 10 anos, pois além da vida em formação que é afetada, também se viola o direito da gestante de ter seu filho.
Já no art. 126, o aborto é provocado por terceiro, com o consentimento da gestante. A gestante consente e comete o crime do art. 124, segunda parte, e a pessoa que provoca comete o crime do art. 126.
Note bem, a gestante consente e o terceiro provoca. São duas condutas diferentes, consentir é autorizar, provocar é realizar os atos que matam o feto.
Se o aborto for cometido em gestante menor de 14 anos, com doença mental ou se o consentimento foi conseguido mediante fraude, grave ameaça ou violência, o consentimento não é válido, de modo que o crime que se configura é o do art. 125.
Tipo subjetivo
Dolo, que pressupõe a consciência da gravidez.
Consumação e tentativa
Consuma-se com a morte do feto.
O aborto se configura com a morte dolosa do feto. A morte tanto pode ocorrer no ventre, como fora, como na hipótese em que a morte ocorre poucos minutos após, em decorrência da expulsão do feto. Contudo, se nascendo com vida, o agente precisa realizar algum ato para causar a morte do nascente, seja comissivo ou omissivo, o crime será de homicídio.
“A ação de provocar o aborto tem por objeto interromper a gravidez e eliminar o produto da concepção. Ela exerce-se sobre a gestante ou também sobre o próprio feto ou embrião. Isto significa que a mulher engravidada e o fruto da concepção constituem objeto material da ação de provocar o aborto. Consuma-se o crime com a morte do feto ou embrião. Pouco importa que a morte ocorra no ventre materno ou fora dele. Irrelevante é, ainda, que o evento se dê com a expulsão do feto ou sem que este seja expelido das entranhas maternas” (TJSP – Rec. – Rel. Onei Raphael – RJTJSP 67/322).
“Ocorrendo o nascimento com vida do feto e verificando-se a sua morte posterior, em consequência de fatores independentes das manobras abortivas, v.g., a ação ou omissão voluntária do agente, o delito a se cogitar é o de homicídio e não mais o de aborto” (TJSP – AP – Rel. Mendes Pereira – RT 483/277)
É admissível a tentativa, pois se trata de crime plurissubsistente, que pode ter o iter criminis fracionado.
Ocorre o crime impossível (art. 17, CP), não se punindo a tentativa, pela impropriedade do objeto, quando não há gravidez ou pela ineficácia absoluta do meio, quando a gestante ingere algo que não é abortivo. Ex.: a) a mulher supõe estar grávida e toma remédios abortivos, nesse caso o crime impossível ocorre pela impropriedade absoluta do objeto; b) a gestante usa meios que não são aptos a causar o aborto, ingerindo ervas, vendidas como se fossem abortivas, mas que são inócuas.
Causas de aumento de pena
Nas hipóteses dos arts. 125 e 126, a pena será aumentada: a) 1/3 se o aborto causa a lesão corporal grave na gestante; b) duplicada se o aborto causa a morte da gestante.
Existem aqui duas modalidades de crime preterdoloso. Tanto no caso de lesão corporal grave, como no de morte, o crime tem dolo no antecedente e culpa no consequente.
A causa de aumento de pena aplica-se apenas a quem for condenado com incurso nos arts. 125 e 126. Se a gestante praticar um dos crimes do art. 124 a gestante não sofrerá com o aumento de pena se ela sofrer lesão corporal grave. A lei é expressa ao prever o aumento de pena exclusivamente para os crimes do art. 125 e 126. Isso ocorre porquea lei penal brasileira não pude a autolesão.
Concurso de crimes
Na hipótese em que o agente mata a mulher, consciente de sua gravidez, causando a morte do feto, haverá concurso formal de delitos, entre o homicídio e o aborto sem consentimento (art. 125). Todavia, se ficar caracterizado o feminicídio (art. 121, § 2º, VI, CP), o aborto fica absorvido pela causa de aumento de pena.
Aborto legal
O art. 128 contém duas hipóteses em que não será punido o aborto, desde que praticado por médico:
Aborto necessário ou terapêutico (art. 128, I): é uma hipótese específica de estado de necessidade. Em tal situação, entre o confronto entre duas vidas, se não houver outro meio de salvar a vida da gestante, a opção é pela vida da mãe em detrimento da vida do feto. É dispensável o consentimento da gestante. Se cometido por pessoa que não seja médico, desde que o perigo seja atual, não há crime pela exclusão da ilicitude, pelo estado de necessidade (art. 24, CP)
Aborto humanitário, sentimental ou ético (art. 128, II): se a gestação é decorrente de estupro, desde que autorizado pela gestante ou por seu representante, se incapaz. “O fundamento da indicação ética reside no conflito de interesses que se origina entre a vida do feto e a liberdade da mãe, especialmente as cargas emotivas, morais e sociais que derivam da gravidez e da maternidade” (Régis prado, Luiz. Comentários ao Código Penal. 9ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014, p. 508). Para que o aborto seja feito, duas são as exigências: a) gravidez decorrente do estupro e b) consentimento prévio da gestante ou seu representante legal. A lei não exige autorização judicial.
Aborto de anencéfalo
Colocando fim a uma demorada controvérsia jurídica, o Supremo Tribunal Federal julgou a ADPF 54, declarando ser inconstitucional a interpretação dos arts. 124, 126 e 128, que considere como crime de aborto a interrupção de gravidez de feto anencéfalo.
ESTADO – LAICIDADE. O Brasil é uma república laica, surgindo absolutamente neutro quanto às religiões. Considerações. FETO ANENCÉFALO – INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ – MULHER – LIBERDADE SEXUAL E REPRODUTIVA – SAÚDE – DIGNIDADE – AUTODETERMINAÇÃO – DIREITOS FUNDAMENTAIS – CRIME – INEXISTÊNCIA. Mostra-se inconstitucional interpretação de a interrupção da gravidez de feto anencéfalo ser conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, incisos I e II, do Código Penal. (STF — ADPF 54 — Pleno — Rel. Min. Marco Aurélio — j. 12/04/2012, in:  file:///C:/Users/Jose/Downloads/texto_136389880.pdf)
O entendimento do STF é no sentido de que não existe bem jurídico a ser tutelado, pois o feto não tem a menor possibilidade de vida.
CRIMES CONTRA A HONRA
Qual o significado de honra? Ainda que imaterial, é valor inerente à dignidade humana.
Conjunto de atributos morais, físicos e intelectuais da pessoa, que lhe conferem autoestima e reputação. Quando tratamos de autoestima, falamos de honra subjetiva. A reputação está relacionada com a honra objetiva.
Honra objetiva pode ser compreendida como o juízo que terceiros fazem acerca dos atributos de alguém. Honra subjetiva, o juízo que determinada pessoa faz acerca de seus próprios atributos.
CALÚNIA
Art. 138 – Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena – detenção de 06 meses a 02 anos, e multa.
Noção: A calúnia é a falsa imputação a alguém de fato tipificado como crime.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, nada impedindo a coautoria ou participação.
Objeto jurídico: A honra objetiva.
Sujeito passivo: qualquer pessoa. Também serão ofendidos os loucos ou menores; os mortos podem ser caluniados (artigo 138, §2º) e seus parentes serão o sujeito passivo. Com relação à pessoa jurídica, há grande controvérsia na doutrina.
Elemento objetivo: atribuir falsamente a alguém a prática de um crime. Trata-se de crime de ação livre que pode ser cometido por meio de palavra escrita ou oral, gestos e símbolos. Pode ser explícita (inequívoca), implícita (equívoca) ou reflexa (atingindo também terceiros). Essa falsidade em relação a imputação pode ser concernente à existência do fato criminoso como também à autoria do crime. Duas são as figuras: 1. imputar falsamente e 2. propalar ou divulgar, bastando que uma só pessoa tome conhecimento.
Elemento subjetivo: dolo. A certeza ou suspeita fundada, mesmo errôneas, do agente quanto à ocorrência de crime praticado pelo sujeito passivo, é erro de tipo, que exclui o dolo. Exige-se o dolo específico (animus injuriandi vel diffamandi), ou seja, o agente tem consciência e vontade de atingir a honra da vítima. Exclui-se o crime se praticado em momento de exaltação emocional ou em discussão.
Consumação: quando chega ao conhecimento de terceira pessoa.
Tentativa: não é admitida se a calúnia for proferida verbalmente, mas se praticada por escrito e não chegar ao conhecimento de terceiro por qualquer razão, poderá ser admitida.
Propalação e divulgação:
§1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo ser falsa a imputação, a propala (relata verbalmente) ou divulga (relata por qualquer outro meio). 
§2º - É punível a calúnia contra os mortos. 
É necessário o dolo direto. Havendo erro ou mesmo dúvida quanto à referida falsidade, não se caracteriza o crime.
Exceção da verdade: 
§3º - Admite-se a prova da verdade, salvo: 
I – se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; 
II – se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no inciso I do art. 141; 
III – se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. 
Como regra, admite exceção da verdade, ou seja, admite que o "Réu" prove que a "Vítima" realmente praticou o crime que lhe foi imputado. No entanto, nos casos do §3º, há uma presunção juris et de jure de que a imputação é falsa, respondendo o agente por ela. Mas se o "Réu" conseguir provar que o fato que imputou à "Vítima" é verdadeiro ele será absolvido.
Ação penal: privada – queixa-crime (art.145/CP).
Concurso de crimes: tem-se admitido a continuidade delitiva com outros delitos contra a honra. A calúnia é absorvida pelo crime de denunciação caluniosa (art. 339/CP). Neste último crime, o agente tem a intenção de prejudicar a vítima perante as autoridades constituídas e, fazendo com isso, que se inicie uma investigação policial ou até mesmo uma ação penal.
2. DIFAMAÇÃO
Art. 139 – Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena – detenção de 03 meses a 01 ano, e multa.
Noção: Difamação é a imputação a alguém de fato ofensivo à sua reputação.
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Objeto jurídico: A honra objetiva.
Sujeito passivo: qualquer pessoa, incluindo menores e doentes mentais. Há crime de difamação contra pessoas jurídicas, já que tem imagem a preservar e o que este crime visa proteger é a honra objetiva, ou seja, o que terceiros pensam a respeito de determinada pessoa, sendo esta jurídica ou física. Não é possível difamação impessoal, contra as instituições.
Elemento objetivo: atribuir a alguém um fato desonroso, mas que não seja crime. O fato deve ser determinado. A imputação não precisa ser falsa, pois ainda que verdadeira, constituirá crime. Como a calúnia, a difamação pode ser explícita, implícita e reflexa.
Elemento Subjetivo: dolo de imputar a alguém fato desonroso. É indispensável o animus diffamandi. Não é exigido que o agente tenha consciência da falsidade da imputação, porque mesmo que verdadeiro, constitui crime.
Consumação: com o conhecimento, por terceiro, da imputação.
Tentativa: admissível se a imputação (escrita ou gravada) não chegar ao conhecimento de terceiro. Se praticada verbalmente, não admite a tentativa.
Exceção da verdade: a regra é que não cabe a exceção de verdade para o crime de difamação, pois independe ser o fato verdadeiro ou não.
Parágrafo único: A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
Assim sendo, se o agente provar que o fato que imputou àvítima é verdadeiro, será absolvido do crime.
Concurso de crimes: pode haver crime continuado de difamação e com outros crimes contra a honra. Havendo várias ofensas no mesmo contexto fático ocorre concurso formal.
INJÚRIA
Art. 140 – Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena – detenção de 01 a 06 meses, ou multa.
Noção: A injúria é a ofensa ao decoro ou dignidade de alguém.
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Sujeito passivo: qualquer pessoa, excluídas aquelas que não possuem capacidade de entender. A ofensa deve se dirigir a pessoas determinadas.
Elemento objetivo: ofender a honra subjetiva de alguém, atingindo atributos morais, físicos, intelectuais, sociais. Quando se diz honra subjetiva, trata-se do que a própria pessoa estima de si mesmo, ou seja, o que ela própria pensa a seu respeito. A dignidade, disposta no caput do artigo, é atingida quando se atenta contra os atributos morais da pessoa, já o decoro, por sua vez, é ferido quando atinge os atributos físicos ou intelectuais da vítima.
Elemento subjetivo: dolo – animus infamandi ou injuriandi (dolo específico).
Consumação: quando a vítima toma conhecimento.
Tentativa: não admitida se real ou verbal, entretanto, se escrita sim, ou seja, depende do meio empregado.
Distinção: difere da calúnia e da difamação, por não conter a imputação de fato preciso e determinado. A ofensa contra funcionário público é desacato (art. 331/CP), e a morto é vilipêndio a cadáver (art. 212/CP).
Concurso de crimes: nada impede que o pratique dois ou mais crimes contra a honra de uma ou várias pessoas, com a mesma conduta, ocorrendo concurso formal. É possível crime continuado.
Perdão judicial na injúria: provocação e retorsão 
§1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: 
I – quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria. Quando o artigo estabelece que tenha sido a ofensa provocada diretamente, está implicando que deve estar as partes presentes, frente a frente. 
II – no caso, de retorsão imediata, que consista em outra injúria. 
Tem-se entendido que o provocador não pode, depois de injuriado, pleitear o reconhecimento do benefício.
Injúria real:
§2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: 
Pena – detenção, de 03 meses a 01 ano, e multa, além da pena correspondente à violência. 
A contravenção de vias de fato fica absorvida pela injúria real. Para que se caracterize a injúria real, é necessário que a agressão seja aviltante, isto é, que possa esta causar vergonha ou desonra à vítima.
Injúria qualificada pelo preconceito:
§3º - Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem: 
Pena – reclusão, de 01 a 03 anos e multa. 
Diferentemente, a lei 7.716/89 prevê os delitos de racismo, por meio de manifestações preconceituosas generalizadas ou pela segregação racial.
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
Furto
Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
Furto qualificado
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 5º - A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
1. Classificação Doutrinária
Crime comum, material, doloso, de dano, de forma livre, comissivo em regra, instantâneo ou permanente, unissubjetivo, plurisubsistente, não transeunte e admite tentativa. Entendemos exequível o cometimento de furto por omissão.
2. Sujeito Ativo: Qualquer pessoa, salvo o proprietário ou possuidor da coisa.
3. Sujeito Passivo: É a pessoa física ou jurídica que detenha a posse ou propriedade da coisa.
4. Objeto Material:
A conduta criminosa recai sobre a coisa alheia móvel, que são considerados os animais, aeronaves, os navios, os títulos de crédito, os talões de cheques, os frutos, as árvores, etc. O furto de gado é conhecido como abigeato. As coisas de uso comum também podem ser objeto de furto como a água e luz. A coisa abandonada (rês derelicta) e a coisa de ninguém (rês nullius) não podem ser objeto material de furto, pois não são coisas alheias. Se o agente pensou que se tratava de coisa abandonada e dela se apoderou haverá erro de tipo que excluirá o dolo.
Quanto a cadáver, se a subtração for com intuito de lucro haverá caso de furto, caso contrário, o crime será de subtração de cadáver, previsto no art. 211 do CP. Quem subtrair cadáver de faculdade de medicina com o fim de retirar o ouro existente na arcada dentaria incorrerá em crime de furto.
5. Objeto Jurídico: Tutela-se a posse e a propriedade.
6. Tipo objetivo
Subtrair significa retirar, pegar coisa alheia móvel, ou seja, qualquer objeto ou substância corpórea que tenha valor econômico e que possa ser removida, destacada ou deslocada de um lugar para o outro.
Coisa alheia para os juristas não é só a pertencente a outrem, mas também a que se acha legitimamente na posse de terceiro.
O tipo exige o ânimo do agente em assenhorar-se da coisa alheia. Doutrina e jurisprudência admitem o furto cometido por ladrão contra outro ladrão, reconhecendo, contudo, como sujeito passivo, o proprietário original da coisa.
7. Tipo Subjetivo
O tipo requer dois elementos subjetivos: o primeiro dolo do agente é genérico, a vontade livre e consciente de subtrair coisa alheia móvel. O segundo exige uma finalidade especial, o dolo específico, o fim de assenhorar-se da coisa em definitivo, contido na expressão "para si ou para outrem" (animus furandi)
O furto de uso, ou seja, a fruição da coisa momentaneamente sem efetivo prejuízo ao ofendido, com restituição da coisa no estado em que antes se encontrava não é contemplado pela norma penal em estudo. O furto de uso somente será reconhecido se não era exigível outra conduta do agente a não ser sacrificar direito alheio, como subtrair o veículo da vítima para socorrer o filho ao hospital, por exemplo.
Será excluído o dolo e, consequentemente, o fato será considerado atípico se o agente subtrair coisa alheia pensando ser própria (erro de tipo).
É pacifico na jurisprudência o reconhecimento do estado de necessidade em caso de furto famélico. É imperativo que a conduta do agente se realize com o único objetivo de saciar a fome, num estado de extrema penúria, não podendo esperar mais, por ser a situação insuportável e que somente por meio do ato ilícito consiga resolver o problema de falta de alimentação.
8. Consumação
Ocorre no momento em que o agente tem a posse tranquila da coisa, ainda que por pouco tempo. Consuma-se quando a coisa sai da esfera de disponibilidade e de proteção da vítima e ingressa na disponibilidade do sujeito ativo.
Para a jurisprudência do STF, para a consumação dos crimes de furto e de roubo basta a posse do bem em poder do agente, independentemente de vigilância da vítima ou posse tranquila, de modo que a fuga logo após o furto caracteriza a inversão da posse, e o furto está consumado mesmo havendo perseguição imediata e consequente retomada do objeto (teoria do amotio).
Sendo crime instantâneo, a consumação se verifica no exato instante em que o delito é cometido. O crime também restará consumado quando a coisa estiver ocultada, mesmo encontrando-se perto da vítima.
9. Tentativa
Crimematerial, exigindo assim o resultado naturalístico, a tentativa é perfeitamente admissível na hipótese de o agente não conseguir subtrair a coisa por circunstâncias alheias à sua vontade. Também caracteriza a tentativa na hipótese de ser perseguido pela polícia e preso logo após a subtração, pois a coisa não saiu da esfera de proteção e disponibilidade da vítima.
10. Furto e a desistência voluntária, arrependimento eficaz, arrependimento posterior e crime impossível
Diferentemente da tentativa em que a não consumação ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente, na desistência voluntária e no arrependimento eficaz (art. 15), a execução é interrompida pela própria vontade do agente (medo, remorso, baixa qualidade do objeto material, dor de barriga). Ocorre desistência voluntária, por exemplo, se A ingressa na residência de B, mas por qualquer motivo, desde que voluntário, desiste de prosseguir e foge sem nada levar. Responde por invasão de domicílio. Arrependimento é considerado eficaz se A subtrai um livro de B e antes de ter sua posse tranquila devolve o objeto. Sua conduta foi de encontro com à continuidade do processo de execução de uma típica iniciada.
Desistência voluntária e arrependimento eficaz
Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.
Arrependimento posterior
Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
O arrependimento posterior é uma causa especial de diminuição de pena e só tem aplicação nos crimes materiais, pois seu reconhecimento se verifica com a reparação do dano ou a restituição da coisa. O indivíduo que, voluntariamente, decorrido de alguns dias após o furto de um veículo, arrepende-se e comunica à vítima o local onde o mesmo se encontra será beneficiado por esta entidade criminal.
11. Repouso Noturno
É o período em que as pessoas descansam de acordo com os costumes de cada região do País, a vítima encontra-se mais vulnerável e por isso a pena será aumentada de um terço. Doutrina e jurisprudência são pacíficas ao admitirem sua aplicação apenas ao furto simples.
12. Furto de Pequeno Valor e Criminoso Primário
Se o criminoso é primário e é de pequeno valor a coisa furtada o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços ou aplicar somente a pena de multa. Primário é o sujeito que não é reincidente, isto é, aquele que mesmo cometendo outros crimes ainda não foi definitivamente condenando. Pequeno valor é aquele em que a coisa furtada não ultrapassa o valor equivalente ao salário mínimo vigente à época do fato criminoso.
13. O Privilégio e o Furto Qualificado
Segundo reiterada jurisprudência do STJ, não se aplica ao crime de furto qualificado o beneficio previsto no parágrafo 2º do art. 155 do CP, uma vez que a existência da qualificadora inibe a aplicação do privilégio, não obstante a primariedade e o pequeno valor ou pequeno prejuízo, em razão da flagrante incompatibilidade.
14. Furto de Energia Elétrica
Equipara-se a coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
Captar energia antes de sua passagem pelo aparelho medidor configura o delito, considerado permanente, possibilitando, assim, a prisão em flagrante do agente enquanto perdurar seu efeito. Se o agente, porém, alegrar o relógio de luz e passar a pagar metade da energia elétrica consumida, o crime será de estelionato.
A ligação clandestina para a utilização de TV por assinatura, conhecida como "gato", para nós, não pode se equiparada a furto de energia elétrica. O fato é ilícito, mas não chega a ser típico. A conduta deve ser apurada na esfera cível. A energia elétrica quando subtraída depois e armazenada, causa perda patrimonial, diferentemente do sinal de TV a cabo, em que sua utilização não gera dano, isto é, não há perda de energia de valor econômico, mas ausência de ganho por parte da empresa.
15. Furto Qualificado
A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
A violência aqui é empregada contra obstáculo que está impedindo a subtração da coisa.
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
Abuso de confiança é a quebra da fidelidade, do vínculo de amizade existente entre algumas pessoas. Emerge de uma condição particular de lealdade. É preciso gozar absolutamente de confiança para incidir na qualificadora.
Fraude é o ardil na prática do crime, o engodo, a mentira, o embuste, utilizados para facilitar a subtração da coisa. A conduta do agente nesta espécie de furto é no sentido de subtrair os bens da vítima iludindo-a momentaneamente, o delito é cometido sempre sobre a vigilância da vítima. A qualificadora também se aplica quando a vítima não tem capacidade de entender o caráter ilícito do fato, como o doente mental ou uma criança.
Difere do estelionato, pois neste a vítima é enganada, seu consentimento é viciado pelo erro. A própria vítima faz a entrega da vantagem ilícita ao agente. O sujeito, mediante fraude, cria no espírito da vítima um sentimento distorcido da realidade. No furto com fraude haverá sempre subtração como a ladra profissional que se finge de doméstica para furtar a casa que se empregou.
Escalada é a qualificadora que se caracteriza pelo ingresso no local pretendido por via anormal demandando um esforço incomum do agente para vencer o obstáculo existente, como numa residência subindo uma árvore ou um muro alto, ou ainda escavando um túnel etc.
Destreza é a habilidade manual do agente, por exemplo, o batedor de carteira.
III - com emprego de chave falsa;
Considera-se chave falsa todo e qualquer instrumento, com ou sem forma de chave como a gazua, moca, alfinete, arame etc. Capaz de abrir fechadura ou dispositivo análogo. Se a verdadeira chave encontra-se na fechadura haverá o furto simples, pois "porta fechada com chave na fechadura é porta aberta", mas se for conseguida ardilosamente para o cometimento do delito, como, por exemplo, subtraí-la da bolsa da vítima para depois adentrar sua residência, qualificadora será fraude.
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
A norma busca impedir a somatória de forças para o cometimento do crime, enfraquecendo, assim, a resistência do ofendido. Basta que apenas um dos agentes seja culpável. Desse modo, nada impede para a sua configuração a participação de inimputáveis.
16. Furto e o Concurso de Crimes: Ao furto nos demais crimes contra o patrimônio aplicam-se as regras do concurso material, formal e do crime continuado.
17. Parágrafo 5º do art. 155
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
Requer o tipo penal o elemento subjetivo especial (dolo específico), ou seja, deve o agente ter consciência de que está ultrapassando os limites de um Estado ou país com o objeto material. É necessário, portanto, para a consumação do delito, que o veículo tenha transportado as fronteiras do Estado ou do território nacional.
O crime de subtração de veículo que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior só se consuma após o seu exaurimento.
18. Concurso de Qualificadoras
Incidindo duas ou mais qualificadoras no furto o entendimento prevalente é de que apenas uma será aplicada, servindo aos demais como agravantes genéricas. Há, todavia, quem entenda que a pluralidade de qualificadoras interfere na dosagem da pena como circunstância judicial.
FURTO DE COISA COMUM
Art. 156. Subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtraçãode coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente.
1. Classificação Doutrinária
Crime próprio, de dano, material, não transeunte, instantâneo, comissivo ou omissão impróprio, unissubjetivo, plurissubsistente, de forma livre e admite tentativa.
2. Sujeito Ativo: É somente o condômino, coerdeiro ou sócio. Trata-se de crime próprio que se comunica em caso de concurso de pessoas.
3. Sujeito Passivo: Pode ser o condômino, o coerdeiro, o sócio, ou ainda um terceiro quem detém legitimamente a coisa
4. Objeto Material:
A conduta recai sobre a coisa subtraída. É o que incide, por exemplo, o proprietário de um apartamento que subtrai da área comum de um prédio um relógio de parede.
5. Objeto Jurídico: Tutela-se a propriedade ou a posse legítima.
6. Tipo Objetivo
A conduta consiste em subtrair, que tem o significado de retirar, pegar coisa comum de quem legitimamente a detém, isto é, a coisa que pertence não apenas ao agente, mas também a outras pessoas. Condômino é o proprietário que divide o domínio da mesma coisa com outras pessoas. Herdeiro é o sucessor que concorre a uma herança (patrimônio falecido que transmite aos herdeiros) deixada pelo de cujus. Sócio é o membro de uma sociedade (reunião de duas ou mais pessoas que mediante contrato se obriga, a combinar seus esforços ou bens para a consecução de fins comuns).
7. Tipo Subjetivo
É o elemento específico do tipo, dolo específico dos clássicos, consubstanciado na expressão para si ou para outrem, qual seja, a finalidade de assenhoraremos da coisa comum.
8. Consumação
Ocorre quando a coisa comum sai da esfera de proteção do sujeito passivo. Passa o agente a ter posse tranquila da coisa comum, ainda que por pouco tempo.
9. Tentativa
Quando a coisa comum não sai da esfera de disponibilidade do ofendido por circunstâncias alheias à vontade do condômino, herdeiro ou sócio.
10. Coisa Fungível
Não é punível a subtração de coisa fungível, cujo valor não excede a quota que tem direito o agente, coisa fungível é aquela que pode ser substituída por outra da mesma espécie, qualidade e quantidade. Trata-se de causa excludente de ilicitude. Por outro lado, haverá o delito em estudo se a coisa foi infungível, qual seja, a que não por ser substituída por outra.
11. Ação Penal
O crime é de ação pública condicionada. Somente se procede mediante representação do ofendido. Infração de menor potencial ofensivo sujeita as normas da Lei nº 9.099/1995.
ROUBO
Art. 157.
Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
§ 3º - Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além de multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.
1. Classificação Doutrinária
Crime comum, material, instantâneo, de forma livre, de dano, unissubjetivo, comissivo ou omissivo impróprio, plurissubsistente, complexo e admite tentativa.
2. Sujeito Ativo: Qualquer pessoa.
3. Sujeito Passivo
Pode ser qualquer pessoa, mas sendo crime que tem tutelados vários objetos jurídicos, nada impede o surgimento de dois ou mais ofendidos, como ocorre, por exemplo, com aquele que sofre violência e o outro que tem o bem subtraído durante a ação criminosa.
Em regra, porém, sujeito passivo é o titular do direito da propriedade ou da posse.
4. Objeto Material: A conduta criminosa recai sobre a pessoa e coisa alheia móvel.
5. Objeto Jurídico
A lei tutela o patrimônio (posse e propriedade), a vida, a integridade física, a saúde e a liberdade pessoal, daí ser considerado crime complexo em que são conjugados emprego de violência ou ameaça e a subtração patrimonial.
6. Tipo Objetivo
O tipo refere-se à subtração de coisa móvel alheia, mas é acrescido pelo emprego de violência, grave ameaça ou qualquer outro meio que reduza a possibilidade de resistência da vítima. A violência pode ser:
A) física (vis absoluta) que compreende as vias de fato, lesão corporal leve, grave ou morte (essas duas últimas qualificam o delito);
B) moral (vis compulsiva) que se constata em atemorizar ou amedrontar a vítima com ameaças, gestos ou simulações, como a de portar arma, por exemplo. A ameaça pode ser dirigida à vítima ou a terceiro;
C) imprópria é a que reduz a capacidade de resistir, como a superioridade física do agente, colocar droga na bebida da vítima, jogar areia nos seus olhos, hipnotizá-la, induzi-la a ingerir bebida alcoólica até a embriaguez etc.
O roubo difere do furto qualificado pelo rompimento de obstáculo porque neste a violência é exercida contra a coisa, naquele, contra a pessoa. Em outras palavras, roubo nada mais é que um furto cometido com violência ou grave ameaça contra a pessoa.
Objetos que estão presos ao corpo como brinco, corrente, relógio, pulseira etc., e que são arrancados pelo ladrão caracterizam o roubo. Quando soltos como boné, óculos, bolsa, celular etc., o crime é de furto.
Não se aplica no furto o princípio da insignificância, haja vista que a conduta do agente revela maior periculosidade e atinge não apenas o patrimônio do ofendido, mas também a sua integridade física, sua saúde e até sua vida em caso de latrocínio.
Institutos como o crime impossível, o roubo de uso, o pequeno valor da coisa, o estado de necessidade etc., que podem ser admitidos no furto não o são no roubo por tutelar outros bem jurídicos e não apenas o patrimônio do ofendido.
7. Tipo Subjetivo
O tipo requer dolo duplo: o primeiro, genérico, consistente na vontade livre e consciente de subtrair coisa móvel alheia mediante violência ou grave ameaça; o segundo, elemento subjetivo especial do tipo, exige que a subtração seja para o agente ou para terceiro. É o dolo específico dos clássicos contido na expressão "para si ou para outrem".
8. Consumação do roubo impróprio
Predomina na doutrina o entendimento de que o crime consuma-se quando o agente tem a posse tranquila da coisa, ainda que por pouco tempo ou quando a coisa subtraída sai da esfera de proteção, de disponibilidade da vítima. Também se diz consumado o delito quando a vítima não recupera os objetos subtraídos, mesmo em casos de prisão em flagrante. Restará consumado ainda quando a vítima permanece dominada pelo autor do roubo no interior do veículo, perdendo a disponibilidade do bem.
Na jurisprudência, porém, tem-se entendido como consumado o delito quando ocorre a subtração dos bens da vítima, mediante violência ou grave ameaça, ainda que, em seguida, o próprio ofendido detenha o agente e recupere a res.
9. Tentativa
No roubo próprio o entendimento é pacífico no sentido de sua admissibilidade. Ocorre quando o agente após o emprego de violência ou grave ameaça não consegue efetivar a subtração da coisa por circunstâncias alheias à sua vontade nem tem a posse tranquila da coisa, ainda que por breve tempo.
10. Roubo impróprio
É aquele em que o agente logo depois de subtraída a coisa emprega violência contra a pessoa ou grave ameaça a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
No roubo próprio a violência ou grave ameaça é praticada antes ou durante a subtração da coisa. No impróprio ela é cometida logo depois de subtraída a coisa para assegurar a impunidadedo crime ou a detenção da coisa.
Na hipótese de o agente ser surpreendido pela vítima em sua residência e abandonar o objeto material empregando violência para a fuga, o crime a ser reconhecido é o de tentativa de furto em concurso material com lesão corporal.
11. Tentativa de roubo impróprio
Entendemos não ser possível a tentativa de roubo impróprio. Ou o agente emprega a violência ou a grave ameaça, logo depois de subtraída a coisa e o crime se consuma, ou não subtrai a coisa, mas emprega violência para fugir e, então, o crime será de tentativa de furto em concurso material de lesão corporal.
E outra partem deve-se reconhecer o furto e não o roubo impróprio na ação do agente que após a subtração se desvencilha do ofendido que o agarra, sem contudo, ameaçá-lo ou agredi-lo e foge com a res.
12. Causas de aumento de pena
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
O fundamento da agravante reside no maior perigo que o emprego da arma envolve motivo pelo qual é indispensável que o instrumento usado pelo agente (arma própria ou imprópria), tenha idoneidade para ofender a incolumidade física.
Com o cancelamento da Súmula 174 do STJ que autorizava o aumento de pena quando o agente utilizava arma de brinquedo para cometer o crime, esta conduta passou a ser considerada uma grave ameaça relacionada ao roubo simples.
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
A doutrina prevalente assevera que não há necessidade de estarem todos os agentes presentes no local do crime, basta haver o concurso de duas ou mais pessoas.
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
A norma tutela aqueles que transportam valores. Qualquer tipo de valor como ouro, dinheiro, pedras preciosas etc. O agente deve saber que a vítima está a transportar valores, dolo direto, portanto.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior;
Para a consumação do delito é necessário que o veículo seja levado para outro Estado ou país, não havendo, assim, possibilidade de ocorrer tentativa. Ou leva e ingressa com o veículo em outro Estado ou país e o crime está consumado, ou não ingressa e o crime será de furto ou roubo conforme a circunstância.
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
objeto do agente, após o emprego da violência ou grave ameaça, é manter a vítima em seu poder e assim facilitar a subtração. A restrição de liberdade da vítima deve ser por tempo razoável, suficiente para que o agente consuma o delito sem ser descoberto pela polícia.
13. Pluralidade de causas de aumento de pena
Muito comum na prática a incidência de mais de uma majorante no roubo. Diverge a doutrina quanto à aplicação da pena. A primeira corrente entende que o juiz aplicará apenas uma majorante e a outra funcionará como circunstância judicial na fixação da pena-base. A segunda assevera que o número de majorantes deve ser proporcional ao número de causas presentes. Duas ou mais permitem ao juiz aumento a pena de dois quintos até a metade.
14. Qualificadoras do roubo
Se a violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de 7 a 15 anos, além de multa; se resulta morte, a reclusão é de 20 a 30 anos, sem prejuízo de multa. Trata-se de crime considerado qualificado pelo resultado em que as lesões graves ou morte podem advir de dolo ou culpa.
O tipo fala em violência que deve ser entendida como física e não moral, logo se a vítima num roubo, mediante grave ameaça, vier a morrer em virtude de uma parada cardíaca, o crime será de roubo em concurso material com homicídio e não de latrocínio.
15. Homicídio consumado e roubo consumado: Haverá latrocínio.
16. Homicídio tentado e roubo tentado: Haverá tentativa de latrocínio.
17. Tentativa de homicídio e roubo consumado: Haverá tentativa de latrocínio.
18. Homicídio consumado e roubo tentado
Haverá latrocínio. Doutrina e jurisprudência têm considerado consumado o latrocínio quando ocorre a morte da vítima, ainda que o agente não tenha logrado apossar-se da coisa que pretendia subtrair.
19. Roubo com pluralidade de vítimas
Doutrina e jurisprudência são unanimes em reconhecer o concurso formal quando o delito é cometido contra várias vítimas num mesmo contexto. Assim, lesionou o patrimônio de duas vítimas, aplica-se o concurso formal.
De outra parte, quando o agente mediante mais de uma ação ou omissão, praticar vários roubos (crimes considerados da mesma espécie) e pelas condições de tempo (nao pode ultrapassar 30 dias), lugar (devem ser próximos), maneira de execução (modus operandi) e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, poderá se reconhecer o crime continuado. Isto é uma ficção jurídica, pois há uma pluralidade de delitos, mãos legislador presume que eles constituem um só crime, apenas para efeito de sanção penal. Nesses casos, aplica-se a regra do art. 71, ou seja, dependendo das circunstâncias jurídicas, a pena de um só dos crimes poderá ser aumentada até o triplo.
EXTORSÃO
Art. 158.
Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, de 2009)
1. Classificação doutrinária
Crime comum, formal ou material, de forma livre, instantâneo, unissubjetivo, plurissubsistente, comissivo, doloso, de dano, complexo e admite tentativa.
2. Sujeito ativo: Qualquer pessoa
3. Sujeito passivo
Qualquer pessoa. É possível a existência de dois sujeitos passivos ao mesmo tempo; o que sofre a lesão patrimonial e o que sofre o constrangimento. A pessoa jurídica tambem pode ser sujeito passivo do crime.
4. Objeto material: A condita delitiva recai sobre a pessoa humana e a coisa móvel ou imóvel.
5. Objeto jurídico
Tutela-se não apenas a inviolabilidade do patrimônio, mas também a vida, a liberdade pessoal e a integridade física e psíquica da pessoa humana.
6. Tipo objetivo
A conduta consiste em constranger (obrigar, forcar, coagir), mediante violência (física: vias de fato ou lesão corporal) ou grave ameaça (moral: intimidação idônea explicita ou explicita que incute medo no ofendido) com o objetivo de obter para si ou para outrem indevida (injusta, ilícita) vantagem econômica (qualquer vantagem seja de coisa móvel ou imóvel).
Haverá constrangimento ilegal se a vantagem não for econômica e exercício arbitrário das próprias razoes se a vantagem for devida.
7. Tipo subjetivo
O tipo é composto de dolo duplo: o primeiro constituído pela vontade livre e consciente de constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, dolo genérico; o segundo exige o elemento subjetivo do tipo específico na expressão "com intuito de".
8. Consumação
Discute-se na doutrina se o crime de extorsão é formal ou material. Para os que o consideram formal, a consumação ocorre independentemente do resultado. Basta ser idôneo ao constrangimento imposto à vítima, sendo irrelevante a enfeitava obtenção da vantagem econômica indevida.
O comportamento da vítima nesse caso é fundamental para a consumação do delito. É a indispensabilidade da conduta do sujeito passivo para a consumação do crime, se o constrangimento for sério, idôneo o suficiente para ensejar a ação ou omissão da vítima em detrimento do seu patrimônio, perfaz-se o tipo penal do art. 168