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Participação Popular na Independência da Bahia

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Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS 
Departamento de Ciências Humanas e Filosofia – DCHF
Docente: Zeneide Rios
Discente: Patrícia Moura 
Semestre:III
Produção de texto proposta pela disciplina de Bahia
	
Durante muito tempo a historiografia brasileira colocou o processo de independência da Bahia como composto majoritariamente pela força da elite, deixando a margem negros, brancos pobres, escravos, indígenas e libertos. Porém, alguns estudos mais recentes em torno desse tema vem desconstruindo tal perspectiva colocando esses grupos enquanto sujeitos do processo e atribuindo sentido as suas práticas. Partindo desse pressuposto o presente texto vai analisar a contribuição da participação popular na independência da Bahia a partir da conjuração baiana e no ingresso desses povos no exército pacificador; momentos de extrema relevância para se pensar a importância ambos nesse período. Com base nesses eventos será abordado quem eram esses povos, quais estratégias usavam para reivindicar seus direitos, em meio a que condições se articulavam.
Antes de iniciar a discussão propriamente dita é de suma importância que se aborde de que forma esse processo de independência foi abordado pela historiografia durante muito tempo. Pois bem, a independência era vista como um acontecimento que teve como agentes principais pessoas da elite, gerando assim um grande equívoco, pois, acaba esquecendo que esse movimento ocorreu de formas diversas em várias localidades do território colonial envolvendo grupos distintos o que o torna um movimento extremamente dinâmico e que por isso deve ser analisado de forma especifica em cada região. É nesse sentido que destacarei a província colonial da Bahia como palco onde ocorreu os mais importantes acontecimentos que contribuíram para emancipação da colônia.
A participação popular no processo pela autonomia brasileira foi extremamente importante, pois foi a partir daí que essas camadas mais pobres e excluídas historicamente começaram a contestar a sociedade que viviam. O autor Ubiratan Castro de Araújo quando escreve “A política dos homens de cor no tempo da independência”, vai justamente analisar “o movimento político no qual homens negros e pobres manifestaram seu descontentamento contra a monarquia portuguesa e a sociedade escravista em 1798.” (ARAÚJO, 2004, pp 253).
Partindo das considerações de Araújo, para analisar o episódio da revolta dos alfaiates conhecer o contexto no qual se deu o movimento é imprescindível para o seu entendimento. Ocorrido em Salvador no ano de 1798, período em que ocorria outras revoltas na américa portuguesa e na Europa, salvador encontrava-se muito populosa, constituída por portugueses, homens brancos naturais da terra, escravos, libertos, grandes proprietários de terra, entre outros grupos. As condições nas quais viviam a população muita das vezes não eram boas principalmente os mais pobres. Nesse cenário os cargos mais altos e de maior prestígio estavam destinados aos funcionários do rei excluindo os demais grupos de participarem da vida política da colônia. Essa situação a longo prazo acabou por gerar um sentimento de descontentamento na população nativa o que levou os mesmos a se levantarem contra a monarquia.
Apesar de terem sido fortemente reprimidos esse episódio foi vital para descontruir o mito da incapacidade dos negros e demais grupos enquanto sujeitos políticos, mostrando que esse povo conseguia organizar-se e tinham em mente que essas revoltas podiam abalar e por fim no poder monárquico. Por isso a participação de ambos deixou evidente que os mesmos buscava mudanças em sua cultura e para além disso almejava uma sociedade mais democrática por meio da luta.
Estudos que abordem com mais detalhamento a participação do populares na guerra de independência é algo ainda de certa forma reduzido, e os documentos existentes trazem essas participações muitas vezes a partir do olhar europeu. Nesse sentido o trabalho do autor Hendrik Kraay constitui-se como uma grande contribuição para se investigar tal atuação. Em seu artigo sobre o recrutamento de escravos na Bahia durante o processo de independência o autor vai mostrar que esse recrutamento “fora um esforço improvisado, que não foi ordenado nem regulado por decreto”. Com isso podemos entender que esse recrutamento improvisado estava ligado a necessidade que se tinha de formar um exército para lutar na guerras pelas independências das colônias e para além disso esse recrutamento era uma espécie de possibilidade de fuga para aqueles que desejavam se livrar dos abusos de seus senhores, assim como também foi muito utilizado pelos não brancos como estratégia para evadir do serviço militar.
Se tratando do recrutamento em uma sociedade escravista deve-se ter em mente que o mesmo se deparou com a resistência de muitos senhores em liberar seus escravos para compor essa forca militar, pois estes alegavam o direito à propriedade e temiam que esses escravos após entrarem em contato com os ideais de guerra se levantassem contra eles. Dessa forma tanto o sistema escravista e a relutância dos senhores se constituíram um empecilho para a formação do exército brasileiro na medida que a escravidão era a base da sociedade e mesmo quando aceitaram o recrutamento de seus escravos os senhores não tinham a intenção em liberta-los como recompensa por ter participado da guerra pois isso levaria a diminuição da mão de obra.
Outra questão importante colocada por Kraay é o que estimulavam os escravos a se alistarem, dentre elas estava a esperança de destacamento na sociedade em que viviam e a possibilidade de liberdade. Tanto é que quando esses escravos iam para as regiões de guerra, muitos aproveitavam para fugir para procurarem uma nova oportunidade de encaminhar suas vidas. Sendo assim esses homens não brancos procuravam no exército uma fuga da condição de cativo e tal feito pode ser compreendido como possíveis estratégias que esses indivíduos traçavam como uma forma de uma vida melhor diante das limitações impostas pela sociedade.
Apesar de todos os impasses a que esses povos foram submetidos devemos levar em consideração sempre que nos debruçarmos a estudar o protagonismo desses sujeitos nos processos de luta pela independência que ambos ao contrário do que foi colocado para nos por muito tempo de forma errônea o quão necessário é entender que as relações entre esses sujeitos e a sociedade colonial nunca foi passiva e que eles viam nas lutas e também na independência meios para conquistar a liberdade e que os mesmos empreendiam variadas estratégias como forma de enfrentamento, resistência. 
Referencia:
KRAAY, Hendrik. Em outra coisa não falavam os pardos, cabras, e crioulos: o "recrutamento" de escravos na guerra da Independência na Bahia. Revista brasileira de História 2002, vol.22, n.43, pp.109-126.
ARAÚJO, Ubiratan Castro de. A política dos homens de cor no tempo da independência. Recife: CLIO/UFPE, 2001.

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