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Peça defesa Preliminar


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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ, DE DIREITO DA___ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE CAMÉLIA/ESTADO DO PARANÁ.
JULIA, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portadora da cédula de identidade RG nº........... e do CPF nº........., residente na rua..........., nº........, bairro.......e domiciliada na cidade de Cascavel/PR, e-mail............., por seu advogado devidamente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil Secção/UF, sob nº......, com endereço profissional na rua......, nº......, bairro...., na cidade de....../estado......, vem respeitosamente perante Vossa Excelência apresentar
DEFESA PRELIMINAR
Nos termos do artigo 514 do Código de Processo Penal, em face da denúncia oferecida pelo Ministério Público, nos termos seguintes:
I – DOS FATOS
Imputa-lhe a acusação que, no dia 25 de julho de 1999, a acusada deu à luz a um bebe. Tendo ocultado sua gravidez. A mesma abandonou a criança em um saco plástico de lixo em um rio, na cidade de Camélia.
Realizado exame pericial na acusada, foi constatado que a mesma se encontrava em estado puerperal.
Não foi realizado exame de necropsia no bebe.
O documento de identidade da acusada foi anexado aos autos, comprovando que a mesma nascida em 21/01/1984, na data do delito era menor de idade.
A acusada foi denunciada pela prática do crime de infanticídio, artigo 123 do Código Penal. O magistrado em 08/2006, recebeu parcialmente a denúncia, alterando a classificação para o artigo 121, § 2º, II do Código penal.
Houve recurso por parte da acusação. No dia 04/04/2007, foi publicado Acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, que anunciava o provimento do recurso, imputando a acusada o crime de infanticídio.
Os autos retornaram a Vara de Origem.
II- DAS PRELIMINARES
Da Ilegitimidade da Parte
Conforme documento de identidade anexa aos autos, a acusada nasceu em 21/01/1984 e a consumação do crime se deu em 25/07/1999, ou seja, a acusada tinha 15 anos de idade, portanto menor de idade.
O sistema jurídico que prevê a responsabilização do jovem menor de 18 anos é a Lei 8.060/90, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) o qual determina, dentre outras coisas, que o menor fica sujeito às medidas de assistência, proteção e vigilância nele previstas.
Diante disso, tem-se que o indivíduo maior de 18 anos que comete um crime, será responsabilizado nos termos da lei penal vigente. Por outro lado, a pessoa menor de 18 anos de idade que for autora de fato tipificado como crime terá sua responsabilidade apurada com base em lei especial, qual seja, Lei 8.069/90 que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sendo, portanto, tratada fora do sistema formal da Justiça Penal.
Desta feita requer seja acolhida, consoante o artigo 395, II do Código Penal, a ilegitimidade de parte por ser a acusada menor de idade na data dos fatos.
Da Ausência de Laudo de Necropsia
Conforme se desprende dos autos, a vítima foi sepultada sem ter sido submetida a exame de necropsia.
Ocorre que, a confissão jamais deve ser usada para suprir o laudo pericial por expressa vedação legal insculpida no art. 158 do CPP, em vista das vastas possibilidades que podem levar uma pessoa a confessar falsa ou erroneamente, colocando em xeque a segurança que demanda o processo penal.
Insta frisar que, conforme preceitua o art. 184 do CPP, “Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade”.
A falta de exame de necropsia acarreta, indene de dúvida, o cerceamento da defesa, quando não se propicia às partes nova manifestação acerca de prova indispensável à caracterização da materialidade de ato infracional equivalente ao homicídio. 
Em se tratando de violação de princípios constitucionalmente previstos, quais sejam, o devido processo legal (artigo 5º, inciso LIV) e a ampla defesa (artigo 5º, incisos LIV e LV), haverá nulidade absoluta.
"Nulidade absoluta: nesse caso, a formalidade violada não está estabelecida simplesmente em lei, havendo ofensa direta ao Texto Constitucional, mais precisamente aos princípios constitucionais do devido processo legal (ampla defesa, contraditório, publicidade, motivação das decisões judiciais, juiz natural, etc.). (...) As exigências são estabelecidas muito mais no interesse da ordem pública do que propriamente no das partes, e, por esta razão, o prejuízo é presumido e sempre ocorre" (FERNANDO CAPEZ. Curso de Processo Penal. 13ª Edição. 2006. págs. 683/684)
III – DO MÉRITO
O art. 123 do Código Penal Brasileiro Atual conceitua infanticidium o ato de “matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após”. A pena cominada para o delito é de detenção de dois a seis anos.
A acusada, aos tempos do fato, estava inteiramente incapaz de conhecer o caráter ilícito ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
As alucinações e delírios, que na verdade configuram apreciações distorcidas da realidade, são suficientes para afastar a imputabilidade da agente e, por conseguinte, o reconhecimento da sua inimputabilidade.
Para que um ato seja considerado crime, é preciso que seja uma violação imputável, dolosa ou culposa da lei penal ou de um direito protegido por lei penal. É indispensável que a ação seja dolosa ou culposa, isto é, que tenha havido uma vontade livre e consciente de exercer a conduta delitiva. Contudo, como podemos imputar um ato criminoso ao agente que não demonstrava uma vontade livre e consciente na hora do cometimento do crime por estar alienado, passando por um transtorno psíquico grave?
Mais especificamente, como podem imputar uma conduta criminosa à mulher sem, ao menos, analisar os fatores psicossociais, determinando após a presença ou ausência do estado puerperal sob o prisma da psicanálise?
O que se pretende apresentar é que, baseando-se na psicanálise, podemos ficar cientes dos distúrbios psíquicos a que a acusada enfrentou quando tirou a vida de seu próprio filho e que a mesma agiu sob a influência do estado puerperal inconsciente de seus atos, não cometendo, portanto, o crime de infanticídio previsto. A agente é inimputável e o ato por ela cometido deve ser enquadrado em excludente de criminalidade.
Ante o exposto, considerando as preliminares de ilegitimidade de parte e nulidade processual, assim como no mérito a inimputabilidade da agente, REQUER a absolvição da acusada, nos termos do artigo 397, do CPP.
Pede Deferimento
Data/local
OAB/UF