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Fundamentos Metodológicos do Ensino de Artes e Música Mediação cultural Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Solange Utuari Revisão Textual: Profa. Dra. Patrícia Silvestre Leite Di Iório 5 • Conceito de mediação cultural • A experiência estética • Cultura visual Conhecer os caminhos e discussões contemporâneas do ensino de arte é fundamental para a formação de pedagogos que em sua trajetória profissional poderá exercer tanto ações em sala de aula como em formação de outros educadores, neste sentido, nosso estudo é extremamente relevante. Quanto às atividades propostas na unidade, é importante que você realize todas com afinco e determinação. Teste seus conhecimentos respondendo as questões sugeridas, observe o que você já sabe e o que precisa ainda saber e amplie seus conhecimentos lendo o material básico e complementar. Para ampliar nossos conhecimentos sobre esta área de ensino e aprendizagem, vamos refletir sobre o papel do professor como mediador cultural no processo de educação artística e estética da criança e também contemplar uma nova proposta para ensino de arte conhecida como Os territórios de arte e cultura. Nesta unidade, você encontrará a indicação de leitura de vários textos. Alguns são textos básicos para que você fundamente a produção nas atividades indicadas nesta unidade e outros são para ampliar seu repertório cultural e didático. Para melhor organizar e orientar seu estudo, nomearemos os textos como leitura básica e leitura complementar. A leitura básica é obrigatória e a complementar opcional para quem quer conhecer mais. Mediação cultural • Cultura gestual e sonora • Abordagens no ensino de arte: Métodos de leituras de imagens • Os territórios de arte e cultura: origens, fundamentos e proposições 6 Unidade: Mediação cultural Contextualização Para o momento de contextualização, sugerimos a leitura de dois capítulos do livro MARTINS, M. C.; PICOSQUE, G. Teoria e Prática do Ensino de Arte: a língua do mundo. São Paulo: FTD, 2010. Estas leituras são básicas e fundamentam os temas estudados nesta unidade. O capítulo com o título Produção e leitura em arte (p.44 a 81) irá fundamentar seus estudos sobre o tema mediação cultural, foco desta unidade. O capítulo Pra início de uma outra conversa (p. 182 a 206) pode ampliar seus saberes culturais e didáticos sobre a proposta dos territórios de arte e cultura, uma nova filosofia do ensino de arte que vem tomando espaço no cenário contemporâneo da educação. Estas são leituras básicas. Como leituras complementares você pode ler os textos: • GENTILE, Paola. Um mundo de imagens para ler. Revista Nova Escola. Publicado em Abril 2003. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/1018/um-mundo-de- imagens-para-ler>Acesso em: 20 de maio de 2013. • OTT, Robert William. Ensinando critica nos museu. In; BARBOSA, Ana Mae. Arte educação: leitura de subsolo. Cortez, 2000. É importante que você fique atento as propostas do ensino de arte, conhecendo várias metodologias e fundamentos. Você poderá, no futuro, ter autonomia na escolha dos caminhos a serem seguidos por você no ensino de arte. 7 Conceito de mediação cultural A mediação cultural pode ser o espaço da conversação, da troca, do olhar estendido pelo olhar de outros que não elimina o do sujeito leitor, seja ele quem for... (Mirian Celeste Martins) Nas duas primeiras unidades da nossa disciplina, estudamos sobre como o ensino de arte vem sido tratado na escola. Ao ver as várias metodologias que compõem a história do ensino de arte, podemos perceber que houve muita discussão e inovação nos últimos trinta 30 anos, uma destas inovações aconteceu no campo da mediação cultural. A mediação cultural é um campo metodológico do ensino de arte. Inicialmente esta proposta foi pensada para dentro dos espaços de museus, mas como o museu e os serviços prestados por estas instituições também mudaram no decorrer dos tempos, o diálogo entre escola e museu tem sido cada vez mais estreitado. Dessa forma, há, atualmente, muitos museus que oferecem formação para professores no campo da mediação cultural. Assim, hoje, vemos os antigos monitores de museu, que agora são chamados de educadores ou mediadores, tendo melhores formações e apresentando novas propostas no atendimento ao público com a preocupação de estabelecer uma relação de ação mediadora para que as pessoas que visitam os museus possam aproveitar melhor estes momentos de apreciação artística. Mas o que é mediação cultural? Vimos anteriormente, que para que as crianças e jovens possam criar e compreender a arte é preciso ter repertório. Desta forma, é preciso nutrir, alimentar este repertório com a arte. A Nutrição Estética (MARTINS, 2001, p. 3) alimenta a percepção sobre o mundo para que a criança formule hipóteses e amplie seu repertório cultural. Neste sentido, o momento de Nutrição Estética possibilita o contato com obras de arte, imagens da natureza e do cotidiano, percepção de sons, 8 Unidade: Mediação cultural músicas, conhecimento do seu corpo e do outro, além de mostrar as produções artísticas em diversas linguagens. Diferentes jeitos de ver, ouvir e sentir a arte, modos múltiplos de expressar leituras de mundo que se tornam também um meio para alfabetização visual, corporal e sonora. A mediação cultural propõe que o educador se preocupe em como apresentar as produções artísticas para as crianças e jovens, investiga como a arte afeta as pessoas e estimula o educador a ser um mediador entre a arte e o público (seus alunos). Para Pensar Há muitas maneiras de apresentar uma obra artística e a forma como cada professor cria situações de aprendizagens e percursos de percepção e nutrição estética, poderá fazer muita diferença sobre os encontros significativos com a arte. O conhecimento pela apreciação de obras de arte sejam elas pintura, escultura, músicas ou espetáculos de dança e teatro, podem compor memórias culturais que serão essenciais no momento da criação e também na formação do cidadão. Artistas sempre procuram saber sobre os assuntos que abordam em suas obras, com a criança não é diferente, é importante nutrir seu olhar e mente. Outra mudança bastante significativa nas aulas de arte foi a presença de imagens. Antes dos anos oitenta eram raros, no Brasil, relatos de educadores que trabalhavam com leituras de imagens em sala de aula. Com os estudos desenvolvidos pela professora Ana Mae Barbosa no final dos anos de 1980, que ficou conhecido como abordagem triangular do ensino de arte, a imagem ficou cada vez mais presente nas aulas de arte, porque esta proposta metodológica previa três momentos de aprendizagem: a leitura de obras de arte, o fazer artístico e a contextualização (não necessariamente nesta mesma ordem). Como um dos momentos de aprendizagem era a leitura de obras de arte, principalmente pinturas e esculturas, os educadores começaram a se interessar em conhecer melhor como era o processo de ler imagens com crianças e jovens no espaço da sala de aula. Este interesse se deu em meio a muitas publicações de teóricos que também apontaram para importância do tema e pela formação de educadores neste sentido. Ainda, há muito a ser investigado, porque esta área é nova e carece de mais publicações, porém temos alguns caminhos metodológicos já traçados. Alguns dos métodos de leitura de imagem divulgados no Brasil são propostas já desenvolvidas por educadores de outros países, como o caso do norte americano Robert Willian Ott que desenvolveu um sistema de apreciação da arte em propostas com várias etapas. Esta proposta chegou ao nosso país na década de 1990, no entanto muitos professores de arte ainda utilizam este sistema para fazer mediações entre a arte e o público em museus e na sala de aula. O livro Arte educação:leitura de subsolo traz uma coletânea de textos organizados por Ana Mae Barbosa a partir de um simpósio internacional de arte educação ocorrido na Universidade de São Paulo (USP) na década de 1990. Robert Wilian Ott, em seu texto Ensinando crítica nos museus (presente no livro citado acima) escreve sobre a importância do ensino de arte a partir de imagens, principalmente em visitas a museus defendo que “o poderoso impacto da obra torna a educação no museu uma experiência única” (OTT, 1997, p. 112). O autor segue em seu texto dizendo: 9 Ensinar a crítica nos museus possibilita uma educação artística que auxilia os alunos no desenvolvimento, aprendizagem, percepção e compreensão da arte como expressão das mais profundas crenças e dos mais caros valores da civilização. A arte, ensinada no contexto das coleções dos museus, reflete os valores estéticos intrínsecos da obra de arte e as preferências cognitivas dos alunos que estão nesse processo de aprendizagem, mas arte nos museus também reflete as condições culturais da sociedade. (OTT, 1997, p. 112.). Compreender a concepção de aprender arte por meio de leituras de obras de arte tem como objetivo refletir sobre as ideias e as aspirações de uma civilização. Neste sentido, a participação do aluno deve ser ativa e não passiva. O educador deve saber como apresentar as imagens, como planejar uma visita ao museu e como aproveitar esta experiência com seus alunos. A experiência estética Viver a experiência, como respirar, é um ritmo de absorções e expulsões. Sua sucessão é pontuada e transformada em um ritmo pela experiência de intervalos, períodos. Em uma fase é cessada, em uma outra é inicial e preparatória. (JOHN DEWEY, 2010) O que o teórico John Dewey, na citação acima, expressa é que ao viver uma experiência, esta acontece aos poucos e em graus de profundidade. Neste sentido, ele diz que uma experiência acontece em camadas. Quando atingimos uma camada mais profunda na nossa vivência podemos dizer que vivemos uma experiência estética. Uma experiência estética é algo significativo, marcante e pode influenciar nossa visão de mundo e escolhas. Quem não se lembra de uma cena de um filme, uma pintura, ou desenhos que vimos na nossa infância que marcaram nossa história. Também uma música, um perfume, uma imagem pode nos fazer viajar a tempos passados. Este é o poder da experiência estética, o encontro com a beleza ou com a estranheza que nos marca para sempre. Compreender essas questões é importante para nossa formação como seres humanos sensíveis e inteligentes. Mas para vivenciar experiências estéticas é preciso estar disponível à poesia, estar aberto a sentir. Às vezes, temos a intenção de entrar neste estado mais sensível, Joshstaiger - Flickr.com 10 Unidade: Mediação cultural em outras situações estamos distraídos e de repente nos vemos chorando em função de uma cena de um filme, nos emocionamos ao lembrar de algo ao ouvir uma música e talvez até a nos revoltar ao saber de uma história de injustiças, ou ainda levar um susto ao ver uma cena de horror, seja real ou na ficção de um filme de cinema. Trocando Ideias A experiência estética só acontece quando estamos em estado de estesia, seja por intenção ou por distração. Esta vivência envolve a cognição, a emoção e a memória. Segundo a definição de Duarte Jr (2001) a palavra estesia é a oposição da palavra “anestesia” – a impossibilidade ou a incapacidade de sentir –, por outro lado a estesia é, assim como a palavra “estética”, originada do grego aisthesis, que significa basicamente a capacidade sensível do ser humano para perceber e organizar os estímulos que lhe alcançam o corpo. Podemos ter experiências estéticas em encontros com a arte tanto dentro de instituições culturais como museus e galerias ou educacionais como escolas, como do lado de fora destes locais. A formação cultural de crianças e jovens não está restrita apenas ao ambiente escolar. Praças, ruas, museus, teatros, cinemas, centros de cultura, espaços midiáticos e espaços virtuais são locais que hospedam e oferecem formas simbólicas geradoras da experiência estética, artística e cultural. Nesse contexto, o professor se vê diante do desafio de criar encontros entre os alunos e as produções culturais que possam produzir significados para os estudantes e talvez provoquem experiências estéticas. É possível desenvolver processos educativos em que o professor é também um dinamizador cultural. O educador muitas vezes é o primeiro mediador entre arte e os alunos. É aquele que apresenta aos alunos o mundo da arte. E sendo um provocador de encontros, é também um provocador de experiências estéticas. O educador na ação mediadora propõem ligações e diálogos entre os assuntos e contextos das produções artísticas e as demandas e necessidades do processo educativo. Tem a intenção de estabelecer mediação cultural sem impor uma determinada “verdade” a respeito da obra(s) de arte. Morguefile 11 Veja o que alguns teóricos dizem sobre a experiência estética: A experiência estética dá-se no âmbito da sensibilidade. Além de o profundo prazer, ela nos transmite um sentimento de expressão de vida e ao mesmo tempo desencadeia a compreensão de certas verdades sobre o mundo e sobre nós. (OSTROWER, 1990, p. 217). (...) descobrir as possibilidades educativas da experiência estética e, mais concretamente, da artística, é analisar como se desenvolve a personalidade humana e sob quais condições (QUINTÁS, 1993, p. 14 - 15). A experiência, neste sentido vital, define-se pelas situações e episódios a que nos referimos espontaneamente como “experiências reais” – aquelas coisas de que dizemos, ao recordá-las: “isso é que foi experiência”. (JOHN DEWEY, 2010, p. 110; 139) A arte está sujeita a uma atribuição de significados, pois não só expressa o que o artista tem em sua “mente” no momento em que está realizando a obra, mas inclui a interpretação do espectador, que também contribui para dar sentido à expressão estética. (HERNANDEZ, 2000, p. 114). Cultura visual A arte é uma forma de conhecer e representar o mundo. A educação organiza o conhecimento privado em relação às formas públicas de representar o mundo. Isto significa que, por meio da arte na educação, pode ser possível aliar duas formas de representar o mundo, ou um conglomerado de representações complexas e de difícil articulação. Implica, por isso, a necessidade de organizar uma aproximação entre os nexos de educação e de arte. (HERNANDEZ, 2000, p. 129) Nosso mundo vem se transformando com grande velocidade. Uma das transformações mais radicais foi, sem dúvida, o mundo visual. Imagens invadem o olhar do ser humano desde muito cedo, televisão, revistas, vitrines, cinema, livros infantis, computadores, oferecem a criança e aos jovens um mundo sedutor de imagens. Hoje em plena era da informação na velocidade da vida contemporânea, muitas imagens nos chegam por meio das Tecnologias da Informação e Comunicação. Nossa vida é tomada por imagens fixas e móveis. Joe Shlabotnik - Flickr.com 12 Unidade: Mediação cultural Ideias Chave Imagens para deleitar, emocionar, consumir, que nos dizem sobre o que vestir, comer, pensar... A educação contemporânea tem se preocupado com a questão da alfabetização visual, que pode preparar a criança para este mundo visual de maneira mais crítica e consciente. A preocupação com a educação do olhar por meio da leitura de imagens começou na década de 1970 com a explosão dos sistemas audiovisuais de comunicação em massa. Muitas pesquisas desde então estão abordando como interpretamos imagens. O estudo da Cultura Visual (2000), proposto por Fernando Hernández também desencadeou vários estudos sobre o ensino de arte e ainda influencia diversos núcleos de pesquisa em universidades brasileiras. A ideiade cultura visual é interdisciplinar e busca referenciais da arte, da arquitetura, da história, da mediação cultural, da psicologia, da antropologia e não se organiza a partir de nomes de peças, fatos e sujeitos (elementos caros à história da arte), mas em relação a seus significados culturais. O autor defende uma abordagem da arte que considere “a arte e a cultura como mediadores de significados”, em que o “significado pode ser interpretado e construído” e as imagens podem “informar àqueles que as vêem sobre eles mesmos e sobre temas relevantes no mundo” (HERNÁNDEZ, 2000, p. 54). Na formação da criança e do jovem a preocupação é com a percepção visual dos elementos de linguagem (linha, forma, cor, plano e superfície) e com os conteúdos (temas e ideias), no estudo integrado entre forma e conteúdo, além de investigar como essas imagens nos afetam. No início, este estudo estava mais pautado no formalismo dos elementos visuais e nas tendências da psicologia nas luzes da teoria da Gestalt, e semiótica. Hoje, a preocupação é também com a experiência estética, ou seja, como as imagens que encontramos nos afeta e marca nossa existência a ponto de não nos esquecermos deste encontro. Neste sentido, ler imagens não é um aspecto importante apenas para a educação em arte, mas uma questão fundamental na formação intelectual e integral do ser humano. Apresentar imagens requer técnica e poética, condições tão importantes na formação de um professor quanto saber aspectos teóricos, história da arte, fundamentos de linguagem e procedimentos que envolvem a criação artística. Tem que se querer compartilhar emoções e saberes e desta forma despertar a fruição e provocar experiências estéticas. A educação contemporânea tem se preocupado com a questão da alfabetização visual, que pode preparar a criança para este mundo visual de maneira mais crítica e consciente. A arte pode ensinar ao público a ser crítico, porque a arte ensina a decodificar e codificar linguagens, processos importantes na formação de seres que se comunicam. 13 Cultura gestual e sonora Da mesma maneira que estamos cercados de imagens, também temos no dia a dia o contato com gestos e sons. Aprender música é um processo contínuo de construção que envolve perceber, sentir, experimentar, imitar, criar e refletir. Vivenciar, por meio dos conteúdos específicos, diferentes maneiras de fazer música, tais como a construção de instrumentos, apreciação de diferentes sons e estilos musicais, execução de jogos de improvisação, criação de músicas e canções entre outros. Discutir a realidade musical nas escolas e nas famílias: o quê se ouve? Por que se ouve? Por que é importante a música na escola? Também são ações mediadoras. Vivemos em mundo extremamente barulhento, ouvimos tantas coisas que às vezes nosso ouvido por estar adormecido ou acostumado ao barulho. Na mediação cultural, o educador cria situações de aprendizagem para que as crianças e jovens possam aprender a ouvir. Despertar a audição sensível. O nosso corpo também é um material expressivo e comunicativo, neste sentido, discutir com as crianças como nos comunicamos na linguagem corporal (não verbal) também é uma maneira de trabalhar com a mediação cultural. Mas como a mediação cultural tem como princípios básicos a ampliação de repertório dos alunos é fundamental promover encontros com as linguagens da dança, teatro e música. Neste sentido, o professor pode ser também ser um dinamizador cultural com estas expressões de arte. Explore Você pode conhecer mais sobre a mediação cultural lendo: comunicação. Mediação cultural: expan- dindo conceitos entre territórios de Arte & cultura. Disponível em: https://goo.gl/BtufNb. Acesso em 10 de junho de 2013. Explore Abordagens no ensino de arte: Métodos de leituras de imagens Para a leitura das imagens, existem diferentes métodos e propostas que podemos nos basear, mas é importante dizer que não há regras rígidas no uso destes métodos porque a obra de arte é aberta, ou seja, cada pessoa ao olhar para um obra de arte visual, ou ouvir uma música, por exemplo, sente e interpreta de maneira bem pessoal, a partir de suas experiências anteriores. Assim, uma pessoa pode se emocionar ao assistir um filme, ver uma pintura ou ouvir uma música, enquanto outra pessoa pode não ter nenhuma reação. Cada um olha, ouve e sente com os olhos, ouvidos e pele que tem. Morguefile 14 Unidade: Mediação cultural Para Pensar Vimos que a experiência estética é única e especial para cada pessoa. A arte pode provocar experiências estéticas, mas como apresentar imagens as crianças? O sistema do professor Robert W. Ott estrutura o contato dos indivíduos com as obras de arte, garantindo a qualidade do processo de sua leitura e é um método inspirado em estudos de autores como John Dewey, Thomas Munro e Edmund Feldman e a partir de sua própria experiência com os alunos. Como exemplo, vamos apresentar o roteiro criado pelo pesquisador norte-americano Robert William Ott. Você pode ampliar seus saberes sobre esta proposta lendo o texto de Robert William Ott (1997) e também de Paola Gentile (2003). Este pesquisador criou ume roteiro para trabalhar com a ideia do “olhar pensante” sobre obras de arte em cinco categorias de leitura que também podem ser chamas de etapas ou momentos: descrevendo, analisando, interpretando, fundamentando e revelando. Criamos um exercício para que você compreenda melhor esta proposta, mas é apenas um exemplo. Observe atentamente todos os detalhes da imagem: Mona Lisa de Leonardo Da Vinci criada em cerca de 1503-1506. Mona_Lisa,_by_Leonardo_da_Vinci,_from_C2RMF_retouched Explore Disponível em: https://goo.gl/rAzV7z. Explore 15 Descrever: neste primeiro momento Ott propõem que o leitor faça uma descrição daquilo que vê. Neste sentido, o mediador faz perguntas do tipo: o que você vê na imagem? O que é possível perceber inicialmente? É o momento de acolher a obra de arte, de aproveitar tudo que a obra nos oferece, no caso de leitura com alunos, proponha que as crianças olhem com atenção. Mostre a imagem e dê um tempo para que a criança a observe cuidadosamente, que a acolha. Solicite para que as crianças descrevam o que veem. A partir desse exercício de ver, elas poderão posteriormente identificar e interpretar os detalhes visuais. Analisar: para analisar Ott propõem que o observador fique atendo aos elementos de linguagem como cores, linhas, formas, efeitos de profundidade. Também nos chama a atenção para como a obra foi feita entre outros aspectos. É hora de perceber os detalhes. As perguntas feitas pelo professor devem ter por objetivo estimular o aluno a prestar atenção na linguagem visual, com seus elementos, texturas, dimensões, materiais, suportes e técnicas, cores, formas entre outros aspectos de construção da linguagem. Observe a idade e fase das crianças e crie perguntas do tipo: que cores o artista usou? Como são linhas e formas? Podemos perceber planos nesta pintura? Como são? Que material o artista usou? Interpretar: na interpretação como dizemos cada um pode colocar o que acha sobre esta imagem. A obra é aberta e cada um sente e pensa diferente do outro. No caso de uma turma de alunos, a partir das ideias apresentadas, o professor poderá aproveitá-las para as diversas possibilidades pedagógicas que estiver trabalhando em sala de aula. Todos devem ter espaço para expressar as próprias interpretações, bem como sentimentos e emoções. Mostre outras manifestações visuais que tratem do mesmo tema e estimule-os a fazer comparações (cores, formas, linhas, texturas, organização espacial, etc.). Explore a memória das crianças e seus conhecimentos sobre o que estão vendo. Faça perguntas do tipo: O que vocês acham que o artista estava pensando quando fez esta imagem?O que ela transmite para você? Um sentimento, emoção ou lembranças? Quem será que era esta mulher? Uma pessoa real que existiu na época ou uma mulher que só existiu na imaginação do artista? Um dos pontos mais comentados sobre esta imagem é o sorriso, o que vocês pensam sobre isto? Fundamentar: neste momento, podemos apresentar ou pesquisar mais detalhes sobre a obra e sobre quem a fez. Repare que nas etapas anteriores nós propusemos apenas perguntas, sem a preocupação de explicar a obra. Se o professor se adianta explicando muito a obra os alunos não tem espaço para terem suas próprias opiniões. Assim, nas etapas anteriores é importante fazer perguntas para provocar o olhar dos alunos e não explicar a obra. Levantadas as questões que demarcarão o trabalho, traga mais informações sobre a obra, evite acentuar a história pessoal do artista, o importante é explorar processos de criação, leituras de mundo entre outras possibilidades, se os alunos já forem alfabetizados solicite pesquisas sobre o artista e a obra, ou mesmo a relação com outras áreas do conhecimento em uma proposta do método multipropósito e conexões transdisciplinares. Podem-se pedir pesquisas sobre os aspectos que provocam curiosidade sobre a obra, o autor, o processo de criação, a época etc. De acordo com a faixa etária, os interesses e os níveis de conhecimento da classe ofereçam textos de diversas áreas do conhecimento ou proponha pesquisas em sites. Esta imagem tem uma relação com a matemática, porque Leonardo da Vinci usou a divisão da proporção áurea para fazer a composição da pintura, pesquise mais sobre isto e estimule os alunos a também pesquisarem. 16 Unidade: Mediação cultural Revelar: esta etapa é de escolha do educador. Não é necessário realizar produções sempre que mostrar imagens, mas com o olhar nutrido as crianças podem expressar suas interpretações sobre as ideias expressas na leitura. Não indicamos releituras com crianças na educação infantil e fundamental I. Você, professor, poderá criar situações de aprendizagens e projetos em que as crianças tenham espaço para expressar suas poéticas e conhecimentos sobre os aspectos técnicos e conceituais da arte. Explore linguagens e materialidades de acordo com seus objetivos. No caso desta imagem, trata-se de um retrato, assim como sugestão os alunos podem fazer retratos de pessoas que eles conhecem, pode ser seus familiares, amigos da turma e outras possibilidades. Mas evite fazer releituras! A releitura fica muito presa à poética do artista e não explora a poética do aluno, nosso objeto primordial é sempre explorar o processo de criação e a poética dos alunos. O artista e sua obra funcionam como nutrição estética. Como sugestão para ampliar seus saberes escolha uma obra imagem e crie seu próprio roteiro de perguntas e propostas de leituras de imagens. Os territórios de arte e cultura: origens, fundamentos e proposições Não será este o sentido da educação estética? Os territórios de arte de arte & cultura, instigando o pensamento rizomático, não seriam nutrição estética para ir além das obras de arte conhecidas e das biografias dos artistas? Na ampliação de horizontes, cabe ao leitor a resposta: Afinal, arte, só na aula de arte? (Martins, 2011) A partir da leitura dos textos indicados como estudo básico para esta unidade podemos perceber que hoje o professor precisa além de saber arte, precisa também saber ensinar arte. Neste sentido o professor é um mediador cultural. Mas o que é ser um mediador cultural? Vamos conhecer um pouco mais sobre essas questões? Já estudamos em outras unidades alguns métodos de ensino de arte. Na proposta de ensinar pelos Territórios da Arte e Cultura, proposição criada pelas educadoras Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque (2010), o ensino de arte é explorado a partir das suas potencialidades, não se trata de um método e sim de campos conceituais para desenvolver o ensino de arte. Os Territórios de Arte e Cultura são marcados pela ideia de currículo-mapa, em que o professor traça percursos, escolhe caminhos e é autor de seu próprio trabalho. Nessa proposição, o pensamento rizomático oferece uma possibilidade de criar projetos em ensino de Arte que ampliem visões e percepções sobre como conhecer a arte por diversas vias. Considerando os fundamentos dos filósofos Deleuze e Guattari (1995), a proposta é pensar em currículo-mapa que “germina” em forma de rizomas. O rizoma é um termo utilizado na Biologia para nomear tipos de raízes que não possuam um bulbo central e crescem na direção em que buscam nutrientes. Os rizomas desenvolvem raízes e caules em seus nós. 17 São plantas que armazenam energias e, em alguns casos, crescem em situações adversas. Essa imagem inspirou os filósofos citados a refletirem sobre a ideia de que nosso pensamento também poderia se desenvolver dessa forma, fazendo conexões e criando outras ideias que vão além da ideia inicial e da ordem preestabelecida, como um pensamento em constante estado de invenção. Pensando sobre este prisma dos territórios da arte e cultura é possível o educador escolher qual o foco do trabalho que pode abraçar as seguintes proposições de estudos: • Linguagens artísticas: explora o campo das linguagens artísticas e como são produzidas, em suas características, história e poética. São linguagens artísticas: as artes visuais (cinema, pintura, desenho, gravura, instalação, outras), música (clássica, rock, forró, entre outras), teatro (monólogos, de bonecos, de sombras, entre outros), dança (de rua, clássica, jazz, samba e outros). • Forma e conteúdo: observa como a arte é constituída em seus elementos de linguagem como, por exemplo, nas artes visuais temos linhas, cores, formas, espaço, superfície, no caso da música, as notas, intervalos, pulsação, intensidade do som, timbre entre outros aspectos da linguagem. Também estuda os temas abordados nas obras artísticas, temas sociais, vida privada, coletiva, leituras de mundo entre outros temas e assuntos que proclamam as ideias dos artistas expressas em suas obras. • Processo de criação: procura compreender como criamos e como podemos incentivar nossos alunos a criar. Explora o universo da mente criadora, observando quando estamos imersos na perseguição de ideias, experimentando materiais e instrumentos para dar vida a nossa visão de mundo por meio de uma linguagem artística. • Patrimônio Cultural: analisa a produção artística de diferentes tempos e procura cultivar o espírito de pertencimento, de conversação e valorização da nossa cultura local e universal. Propõe refletir sobre o valor dos bens materiais (obras de arte, prédios históricos, outros) e simbólicos culturais (cantos, contos e lendas, entre outros). • Materialidades: estuda e investiga as possibilidades e potencialidades das matérias que constitui as obras de arte. Como por exemplo, as tintas, suportes, ferramentas e outros dependendo da linguagem e intenção poética do artista e dos alunos no fazer artístico. • Conexões transdisciplinares: estabelece relações entre a arte e outras áreas do saber como, por exemplo, arte e matemática, arte e historia arte e ciências da natureza e os temas transversais como pluralidade cultural, saúde, ética, cidadania, entre outras possibilidades. • Saberes estéticos e culturais: estuda história da arte ampliando o olhar também para outros aspectos da produção artística, como, por exemplo, o estudo da estética, da filosofia da arte, da história da sociedade, dos contextos políticos e culturais em que cada obra artística é criada. • Mediação cultural: dentre esses os Territórios de Arte e Cultura apresentados acima. A Mediação Cultural é uma área que discute as metodologias de leitura de imagens, sons e gestos com foco nas produções artísticas. Se preocupa em saber entre outras questões: como foi nosso primeiro contato com obrasartísticas? Que obra artística 18 Unidade: Mediação cultural marca nossa história de vida? Uma pintura, música, cena de filme ou outra? A escola foi responsável pelo meu primeiro encontro com obras de arte? Ou foi por meio dos meus familiares? Qual o papel da escola na formação cultural e educação estética de nossas crianças? Hoje, eu frequento museus e ou espaços culturais? A escola influenciou minha vida cultual atual? Diante dessas questões, podemos refletir sobre a importância da Mediação Cultural na escola. Sobre o valor em inserir as crianças na alfabetização visual, música ou cênica estimulando e ampliando visões de mundo por meio da leitura de obras de arte. Transformando as crianças em pessoas que vivem seu mundo cultural em pleno exercício de cidadania. Explore Você pode conhecer mais sobre os territórios lendo o texto: Proposta Curricular do Estado de São Pau- lo/ARTE https://goo.gl/C6tXcN. Acesso em 10 de junho de 2013. Explore 19 Material Complementar Há vários materiais e sites que você pode visitar e ampliar seus saberes. Pesquise e leia os materiais disponíveis em: MARTINS, Mirian Celeste e PICOSQUE, Gisa. A aventura de planar numa DVDteca. Instituto Arte na escola. Disponível em: https://goo.gl/Tbtydb. Acesso em 20 de maio de 2013. Veja também os materiais com roteiros, proposições e metodologias de leituras de imagens: ARTEBR NO ARTE NA ESCOLA. Disponível em: < http://artenaescola.org.br/artebr/ >. Acesso em 15 de junho de 2013. VIAJANDO COM ECKHOUT. Disponível em: <http://artenaescola.org.br/eckhout/>. Acesso em: 20 de maio de 2013. ECO ART. Disponível em: <http://artenaescola.org.br/ecoart/>. Acesso em: 20 de maio de 2013. Estes são exemplos de materiais que podem ampliar sua visão sobre a produção artística e a mediação cultural. 20 Unidade: Mediação cultural Referências BARBOSA, A. M. Arte-educação: leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 2010. DEWEY, J. Arte como experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010. DUARTE JÚNIOR, J. F. O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível. Curitiba: Criar, 2001. GENTILE, P. Um mundo de imagens para ler. Revista Nova Escola. Publicado em abril 2003. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/arte/fundamentos/mundo-imagens- ler-426380.shtml>Acesso em: 20 de maio de 2013. HERNÁNDEZ, F. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. QUINTÁS, A. L. Estética. Petrópolis, Vozes, 1993. MANGUEL, A. Lendo imagens. São Paulo: Companhia das letras, 2001. MARTINS, M. C. PICOSQUE, G. GUERRA, M. T. Teoria e prática do ensino de arte: a língua do mundo. São Paulo: FTD, 2010. ________ A aventura de planar numa DVDteca. Instituto Arte na escola. Disponível em:< http://artenaescola.org.br/sala-de-leitura/artigos/artigo.php?id=69345>. Acesso em: 20 de maio de 2013. _______________Didática do ensino de arte : a língua do mundo. São Paulo: FTD, 1998. _________ Sistema de ensino da rede de escolas ACF. São Paulo: Sefran(ACF) 2007). ________________Arte, só na aula de arte? Educação, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 311-316, set./dez. 2011. Disponível em:< http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/ viewFile/9516/6779>. Acesso em: 20 de maio de 2013. OSTROWER, F. Criatividade e processo de criação. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 2007 _________Universos da arte. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1991. _________Acasos e Criação Artística. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1990. OTT, R. W. Ensinando crítica nos museus. In: BARBOSA, A. M. Arte-educação: leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 1997. SÃO PAULO. SEESP. Proposta Curricular do Estado de São Paulo/ARTE. Disponível em: http://www.rededosaber.sp.gov.br/portais/Portals/18/arquivos/Prop_ART_COMP_red_ md_15_01_2010.pdf>. Acesso em 10 de junho de 2013. 21 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000