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3 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE BOAS PRÁTICAS PARA MANIPULADORES DE ALIMENTOS 4 Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação CURSO DE BOAS PRÁTICAS PARA MANIPULADORES DE ALIMENTOS MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 5 SUMÁRIO MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO 2 CONTAMINAÇÃO DOS ALIMENTOS 2.1 FONTES 2.2 TIPOS 2.3 PREVENÇÃO 2.3.1 Contaminantes Físicos 2.3.2 Contaminantes Químicos 2.3.3 Contaminantes Biológicos 3 MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 3.1 CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS 3.1.1 Bactéria 3.1.2 Fungos 3.1.3 Vírus 3.1.4 Parasitos 3.1.5 Rickettsias e príons MÓDULO II 4 MICRO-ORGANISMOS PATOGÊNICOS E NÃO PATOGÊNICOS 5 DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS 5.1 CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS ALIMENTARES 5.1.1 Doenças Infecciosas 5.1.2 Doenças Toxigênicas (Toxinoses) 5.1.3 Toxinfecção Alimentar 5.1.4 Doenças Tóxicas 5.2 DOENÇAS BACTERIANAS DE ORIGEM ALIMENTAR 5.2.1 Bacillus cereus 6 5.2.2 Clostridium botulinum 5.2.3 Clostridium perfringens 5.2.4 Salmonella spp 5.2.5 Staphylococcus aureus 5.2.6 Listeria monocytogenes 5.2.7 Campylobacter 5.2.8 Shigelose ou Disenteria Basilar 5.2.9 Escherichia coli Patogênica 5.2.10 Vibrio 5.3 DOENÇAS PARASITÁRIAS DE ORIGEM ALIMENTAR 5.4 DOENÇAS VÍRICAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS MÓDULO III 6 MANIPULAÇÃO HIGIÊNICA DOS ALIMENTOS 6.1 REQUISITOS HIGIÊNICO-SANITÁRIOS PARA EDIFICAÇÕES, INSTALAÇÕES, EQUIPAMENTOS, MÓVEIS E UTENSÍLIOS 6.2 DESENHO DOS AMBIENTES DE MANIPULAÇÃO E PREPARO DE ALIMENTOS 6.3 ABASTECIMENTO DE ÁGUA 6.4 PROCESSO DE HIGIENIZAÇÃO AMBIENTAL 6.5 HIGIENE E SAÚDE DOS MANIPULADORES DE ALIMENTOS 6.5.1 Higiene Pessoal 6.5.1.1 Estética e asseio 6.5.1.2 Uniformização 6.5.1.3 Assepsia das mãos 6.5.1.3.1 Frequência 6.5.1.3.2 Metodologia para lavagem e desinfecção de mãos 6.5.1.4 Outros cuidados nas áreas de preparo de alimentos 6.5.2 Saúde dos Manipuladores de Alimentos 6.6 CONTROLE DE MATÉRIAS-PRIMAS 6.6.1 Recebimento e Armazenamento 6.6.1.1 Recebimento de produtos 7 6.6.1.2 Armazenamento de produtos 6.6.1.3 Disposição e controle no armazenamento 6.7 CONTROLE INTEGRADO DE VETORES E PRAGAS URBANAS 6.7.1 Controle de Insetos 6.7.1.1 Baratas 6.7.1.2 Formigas 6.7.1.3 Moscas 6.7.2 Ações Preventivas 6.7.3 Tratamento 6.7.3.1 Armadilhas 6.7.3.2 Pulverização 6.7.3.3 Pincelamento 6.7.3.4 Injeção 6.7.4 Roedores 6.7.4.1 Ações preventivas 6.7.4.2 Tratamento 6.7.4.2.1 Armadilhas 6.7.4.2.2 Iscagem 6.8 HIGIENIZAÇÃO DO RESERVATÓRIO DE ÁGUA MÓDULO IV 7 PROCESSOS DE HIGIENIZAÇÃO EM ÁREAS DE MANIPULAÇÃO E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS 7.1 ORIGEM DA CONTAMINAÇÃO DOS ALIMENTOS 7.2 HIGIENIZAÇÃO EM ÁREAS DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS 7.2.1 Reações Químicas para Remoção de Resíduos 7.2.1.1 Resíduos orgânicos 7.2.1.2 Resíduos minerais 7.2.2 Natureza das Superfícies a Serem Higienizadas 7.2.3 Métodos de Higienização 7.2.3.1 Higienização manual 7.2.3.2 Higienização por espuma 8 7.2.3.3 Higienização por imersão 7.2.3.4 Higienização por meio de equipamentos aspersores (spray) 7.2.3.5 Higienização por nebulização ou atomização 7.2.3.6 Método de limpeza CIP (clean-in-place) 7.3 DETERGENTES UTILIZADOS EM ÁREAS DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS 7.3.1 Tipos de Detergentes 7.3.1.1 Alcalinos 7.3.1.2 Ácidos 7.3.1.3 Tensoativos 7.4 SANIFICANTES UTILIZADOS EM ÁREAS DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS 7.4.1 Principais Agentes Sanificantes 7.4.1.1 Agentes físicos 7.4.1.2 Sanificantes químicos 7.4.1.2.1 Compostos clorados 7.4.1.2.2 Compostos quaternário de amônio 7.4.1.2.3 Outros sanificantes utilizados na indústria de alimentos 8 LEGISLAÇÃO SANITÁRIA PARA AS BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 9 MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO A higiene dos alimentos ao longo da cadeia alimentar é uma medida que assegura a sua inocuidade. As boas práticas de manipulação e produção de alimentos são um conjunto de ações que devem ser levadas em consideração pelos manipuladores nos serviços de alimentação, fábricas e todas as empresas que de uma forma ou de outra manuseiam, armazenam ou distribuem alimentos, a fim de manter a qualidade e inocuidade dos mesmos. As boas práticas de fabricação de alimentos (BPF) e os procedimentos padrão de higiene operacional (PPHO) ou simplesmente procedimentos operacionais padronizados (POP’s), são sistemas necessários para a implantação do sistema de análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC). Estes, em conjunto, formam a base de sustentação para o programa de gestão da qualidade e segurança de alimentos de uma empresa. O objetivo principal das Boas Práticas de Fabricação (BPF) é garantir a segurança dos alimentos. Estas normas de BPF são necessárias para controlar as possíveis fontes de contaminação e para que o produto seja inócuo à saúde do consumidor e ainda atenda ao padrão de identidade e qualidade. O crescente número e a gravidade de doenças transmitidas por alimentos, em nível mundial, têm despertado o interesse do público em relação à segurança alimentar. O alimento dito seguro pode ser definido de várias maneiras, dependendo de quem o defina, por exemplo: para um leigo, alimento seguro poderia significar risco zero, já para um especialista no assunto, poderia ser a utilização de um risco aceitável, já que risco zero, tecnicamente, é impraticável em função da quantidade de produtos alimentícios disponíveis, a complexidade da cadeia de distribuição e a natureza humana. Além disso, os riscos de propagação de doenças transmitidas por alimentos (DTA’s) devem ser reduzidos ao máximo durante a sua produção, para que se torne um risco aceitável. A dificuldade em produzir um alimento 10 seguro baseia-se no fato de que a população consumidora de alimentos é bastante diversificada, com vários graus de sensibilidade e estilos de vida. A pressão dos consumidores se volta para a obtenção de maior quantidade de alimentos frescos e minimamente processados, sem utilização de conservantes e aditivos químicos, senão os do próprio alimento. 2 CONTAMINAÇÃO DOS ALIMENTOS Contaminante é todo material, objeto, substância ou elemento presente em um alimento e que não faça parte de sua composição. 2.1 FONTES Os micro-organismos patogênicos estão presentes em uma infinidade de ambientes e superfícies. As fontes de contaminação dos alimentos são variadas, sendo as principais: a) Solo e água: estas duas formas são consideradas em conjunto, já que muitos dos micro-organismos presentes possuem várias características em comum. Os agentes do solo podem contaminar o ar, por meio do vento, e posteriormente chegar até os mananciais hídricos por meio das chuvas. A própria água da chuva pode remover micro-organismos do solo e transferi-los aos corpos hídricos. De outro lado, os agentes podem sertransferidos, por meio das chuvas para o solo. Este ciclo faz com que os micro-organismos do solo e da água sejam praticamente os mesmos. Entretanto, certos agentes aquáticos são incapazes de sobreviver no solo, como as Alteromonas sp., que necessitam da salinidade da água do mar para sua sobrevivência e multiplicação. b) Plantas: somente alguns micro-organismos presentes no solo e na água 11 conseguem sobreviver e multiplicar na superfície de plantas. Para tanto, é necessário que possuam um mecanismo de adesão à superfície das plantas para obtenção dos nutrientes necessários. Determinados micro- organismos são fitopatogênicos, ou seja, causadores de doenças em plantas, entre os quais se destacam os Corynebacterium, Xanthomonas, Pseudomonas e certos fungos. c) Ar e pó: teoricamente todos os micro-organismos podem ser encontrados tanto no ar quanto no pó, entretanto, os que melhor se adaptam e por isso frequentemente são encontrados são as bactérias gram-positivas e os fungos. d) Ração animal: constitui-se em considerável fonte de contaminação de Salmonella para aves e outros animais. A Listeria monocytogenes destaca-se como contaminante de silagens e uma fonte de contaminação para os animais e produtos obtidos a partir deles. e) Trato intestinal do homem e de animais: o conteúdo intestinal é rico em quantidade e diversidade de micro-organismos, sendo a principal fonte de contaminação dos alimentos por espécies enteropatogênicas, tais como Escherichia coli, Salmonella, Campylobacter, Shigella, entre outras. f) Pele e couro dos animais: importante fonte de contaminação para o leite quando este é obtido sem os cuidados higiênicos necessários. O leite é frequentemente contaminado pela microbiota do úbere, pele e cauda das fêmeas. g) Utensílios: bandejas, recipientes, facas, equipamentos, placas de corte, superfícies de contato desempenham importante papel na contaminação dos alimentos. Limpezas precárias acompanhadas de desinfecções inadequadas resultam na transmissão de micro-organismos de um alimento a outro (contaminação cruzada) e ainda levam à formação dos biofilmes microbianos. h) Manipuladores de alimentos: sem dúvidas é um dos mais importantes, senão o mais importante disseminador de doenças transmitidas por alimentos. A microbiota presente nas mãos, pele e roupas dos manipuladores pode ter origem no solo, água, poeira e outros 12 ambientes. A microbiota da boca, fossas nasais, pele e do trato gastrintestinal podem contaminar os alimentos quando os manipuladores não observam e cumprem regras básicas de higiene para manipulação dos alimentos. 2.2 TIPOS Os contaminantes alimentares são classificados em biológicos, químicos e físicos. a) Contaminantes físicos: vidros, metais, madeira ou qualquer tipo de material palpável ou objeto que possam causar dano ao consumidor. b) Contaminantes químicos: toxinas naturais (toxinas paralisantes, neurotóxicas, amnésicas e diarreicas, ciguatoxinas), toxinas microbianas (toxinas e micotoxinas), metabólitos tóxicos de origem microbiana (histaminas e tetrodotoxinas), contaminantes inorgânicos tóxicos, anabolizantes, antibióticos, herbicidas, pesticidas, aditivos e coadjuvantes alimentares tóxicos, tintas, lubrificantes, desinfetantes e produtos químicos de limpeza, desinfetantes, etc. c) Contaminantes biológicos: bactérias, vírus, parasitos patogênicos e protozoários. 2.3 PREVENÇÃO Um alimento não pode configurar-se em um meio de transmissão de doenças ou um instrumento para causar danos a quem os consumir. Desta forma, medidas de controle preventivo devem ser observadas em todo o processo produtivo a fim de evitar que um alimento se transforme em um meio de disseminação de doenças ou danos ao consumidor. 13 2.3.1 Contaminantes Físicos São aqueles contaminantes de natureza física, representados por objetos ou matérias estranhas que são capazes de injuriar fisicamente um consumidor. Os contaminantes físicos, bem como os biológicos, são capazes de contaminar os alimentos em qualquer etapa de sua produção. É importante se ter em mente que qualquer substância estranha pode se constituir em um perigo à saúde se for capaz de produzir dano ao consumidor. Isso é de fundamental importância para os alimentos produzidos para crianças, quando pequenos pedaços de papel, provenientes dos envoltórios da embalagem, podem significar risco de vida. Os tipos comumente associados a contaminantes físicos em alimentos são: a) Metais: podem ser introduzidos nos alimentos a partir das matérias- primas, durante o processo produtivo e de embalagem, podendo ocasionar ferimentos. Este tipo de ocorrência pode ser prevenido por meio de uma adequada manutenção preventiva dos equipamentos, considerando as corrosões, pintura danificada, partes soltas ou frouxas a fim de evitar sua queda nos produtos. Uma prática que se verifica com certa frequência é o uso de grampeadores (grampos metálicos) para fechamento das embalagens. Este procedimento deve ser evitado. b) Vidros: bastante perigosos, já que podem causar cortes na boca dos consumidores e se engolidos causam sérias consequências. O vidro pode estar presente nas matérias-primas, como um contaminante proveniente de um ponto de produção ou a partir da embalagem delas. Em restaurantes, rotisserias e áreas de produção, às vezes, é comum o uso de conservas acondicionadas em vidros. Uma forma de prevenção é manter estes recipientes fora dos locais de manipulação ou distantes 14 das mesas de manipulação de alimentos. Outro cuidado preventivo de suma importância para coibir este tipo de contaminação é o uso de dispositivos de proteção contra explosões e quedas acidentais nas luminárias das áreas de produção e expositores de alimentos. c) Madeiras: fragmentos de madeira podem constituir um perigo ao consumidor, sendo causa de corte na língua e garganta e até perfurações. A prevenção deste contaminante pode ser efetivada evitando-se a entrada de caixas e pallets de madeira em áreas de produção de alimentos, bem como evitar o uso de utensílios de madeira, tais como colheres de pau, rolos de massa, tábuas de corte e palitos nas preparações culinárias. d) Pedras: matérias-primas de origem vegetal comumente são contaminadas por pedras, principalmente o feijão, podendo ocasionar danos ao consumidor. Seleção adequada de fornecedores e matérias- primas pode ser uma maneira de prevenção a este tipo de ocorrência, bem como evitar manutenções prediais como quebra de paredes, durante os trabalhos produtivos na área de manipulação de alimentos. e) Plásticos: fragmentos de plástico, rígido ou flexível, liberados por utensílios ou superfícies de trabalho podem ser perigosos aos consumidores. O treinamento de funcionários para o uso adequado de utensílios e a substituição deles quando danificados são medidas de controle para evitar este tipo de contaminante nos alimentos. f) Cabelo: o principal dano físico ocasionado por um fio de cabelo no alimento é emocional, já que são carreadores de micro-organismos patogênicos aos alimentos. A principal forma de prevenir a ocorrência deste tipo de contaminante nos alimentos é a obediência às normas e cuidados higiênicos de manipulação, ou seja, uso adequado de dispositivos de proteção nos cabelos (redes, lenço, touca, boné), cabelos curtos e devidamente protegidos. 15 g) Pragas (insetos): além de carreadores de toda sorte de micro- organismos patogênicos, podem ser vetores de contaminação químicapor intermédio das iscas tóxicas utilizadas para seu controle. São também considerados perigos físicos que podem ocasionar danos emocionais. Como medida preventiva à sua ocorrência em locais de produção ou manipulação de alimentos é a manutenção de um programa eficaz de controle e combate às pragas. 2.3.2 Contaminantes Químicos Dentro deste grupo de contaminantes de alimentos estão os resíduos de substâncias químicas ou de produtos oriundos da degradação do próprio alimento ou metabólitos tóxicos em níveis inaceitáveis nos produtos. Sua ocorrência pode se dar em qualquer momento do processo produtivo, desde a matéria-prima até o consumo final. Os efeitos causados pelos contaminantes químicos podem ser crônicos (longo prazo), tais como os produzidos por produtos carcinogênicos, cumulativos (ocasionados pelas micotoxinas que podem se acumular durante muito tempo no organismo até desencadear uma doença), e podem ser agudos (curto prazo), tais como os produzidos por substâncias alergênicas presentes nos alimentos. Dentre os perigos químicos estão: a) Toxinas naturais i. Toxinas de cogumelo: cogumelos venenosos podem causar toxinoses e até fatalidades. Alguns cogumelos que apresentam a muscarina (principal agente etiológico) como a Clavaria rivulosa e a Amanita muscaria que produzem 16 uma neurotoxina responsável pela toxinose. A principal medida de controle é a seleção de fornecedores, uma vez que a secagem e o cozimento não destroem as toxinas. FIGURA 1 - COGUMELO AMANITA MUSCARIA FONTE: Tortora, G. J. et al., 2000. ii. Toxinas marinhas: associadas a inúmeras síndromes, onde destacamos a Ciguatera (ciguatoxinas provenientes de microalgas que ficam acumuladas na carne de peixe) e os envenenamentos por toxinas paralisantes, diarreica, neurotóxica e amnésica, todas produzidas por algas, principalmente do grupo das dinoflageladas. Estas síndromes relacionam-se ao consumo de peixes (barracuda), especialmente aqueles capturados na região do Caribe (Ciguatera) e de frutos do mar nas demais síndromes. Peixes do tipo baiacu estão associados à ocorrência da toxina tetrodotoxina produzidas por alguns grupos bacterianos (Vibrio sp, Shewanella sp, 17 Pseudomonas sp e Alteromonas sp) e que ocasionam parestesia oral e geral (náusea, vômito, diarreia, paralisia muscular e respiratória) em um período que pode variar de 10 minutos até quatro horas após a ingestão do peixe. A morte pode ocorrer dentro das seis horas posteriores à intoxicação. Como medida de prevenção está o treinamento dos manipuladores para a correta evisceração e adoção de procedimentos adequados para esta operação. b) Metabólitos tóxicos de origem microbiana i. Tiramina: esta amina é produzida pela conversão da tirosina em presença de tirosina descarboxilase produzida por algumas bactérias deteriorantes. A intoxicação é resultado da ingestão de queijos, creme de leite e outros produtos lácteos ricos em tirosina. Os sintomas desta toxinose aparecem 10 minutos a duas horas após a ingestão do alimento contaminado, podendo ser a causa de alguns acidentes vasculares cerebrais. Como medida de controle, a manutenção dos alimentos em temperaturas abaixo de 4ºC é a mais recomendada. ii. Histamina: esta intoxicação resultante do consumo de peixes da família Scombridae com altos níveis de histamina. Esta amina tóxica tipo histamina é produzida pela conversão da histidina na presença da histidina desidrogenase de algumas bactérias deteriorantes (Hafnia, Morganella morgani, Klebsiella) em peixes como cavala, atum e bonito. Esta amina é termorresistente, ou seja, suporta temperaturas superiores a 100ºC. Como prevenção desta ocorrência, a principal medida é armazenar o alimento abaixo de 4ºC. iii. Micotoxinas: são metabólitos tóxicos produzidos pelos bolores associados às síndromes crônicas de 18 carcinogênese e de imunossupressão. As principais micotoxinas em alimentos são as aflatoxinas, as patulinas e as ocratoxinas. c) Outras substâncias químicas i. Produtos de higienização: é um dos contaminantes mais comuns em qualquer planta de produção de alimentos, já que resíduos podem aparecer em equipamentos, utensílios, superfícies de contato precariamente enxaguados ou por respingos durante o processo de limpeza em áreas próximas. Como medida de controle para a ocorrência deste tipo de contaminação nos alimentos está a utilização de produtos não tóxicos (quando possível), treinamento dos funcionários, estocagem de produtos de limpeza distantes dos locais onde se manipulam ou produzem alimentos. ii. Produtos químicos desinfetantes: são produtos químicos utilizados para o controle e eliminação de pragas. Entre os quais temos os fungicidas, herbicidas, inseticidas, repelentes de aves e animais, conservantes de madeira, raticidas, entre outros. Para prevenção de contaminação aos alimentos, a principal delas está no fato da não utilização de produtos químicos praguicidas no interior de áreas de produção ou manipulação de alimentos e quando for estritamente necessário o seu uso, ter o cuidado de proteger os alimentos e antes da manipulação ou produção na área fazer acurado processo de higienização ambiental. iii. Aditivos químicos: utilizados para produção de alimentos seguros e higiênicos e também como coadjuvantes para melhorar o aspecto de alimentos nutritivos, mas pouco atrativos, podem também ser benéficos no caso das 19 vitaminas, mas podem representar um perigo dependendo da quantidade utilizada, como no caso dos nitritos. Como medida de controle está a seleção de fornecedores que usem aditivos permitidos pela legislação e respeitem os limites de uso estabelecidos. 2.3.3 Contaminantes Biológicos Fazem parte dos perigos ou contaminantes biológicos as bactérias patogênicas, os vírus, parasitos patogênicos e protozoários. a) Bactérias patogênicas As bactérias patogênicas e/ou suas toxinas são as causadoras da maioria dos surtos e casos de doenças transmitidas por alimentos notificados. Nos alimentos crus, estes micro-organismos são encontrados com facilidade, sendo importante atentar para os cuidados higiênicos necessários para sua manipulação, pois a estocagem, transporte ou manutenção em temperaturas inadequadas irá propiciar o aumento na carga microbiana existente nestes alimentos. Já os produtos processados, ou seja, que sofreram o processo de cocção ou higienização podem ser recontaminados se não forem obedecidas as regras básicas de manipulação higiênica, a fim de evitar-se a contaminação cruzada. b) Vírus Os principais vírus transmitidos por alimentos são o vírus Norwalk, o Rotavírus e o da hepatite A. Diferentemente das bactérias, os vírus são parasitos intracelulares obrigatórios, ou seja, não se multiplicam nos alimentos. Os vírus entéricos (Norwalk e Rotavírus), bem como o da hepatite podem ser veiculados por meio da água e dos alimentos. 20 c) Parasitos patogênicos e protozoários Geralmente são hospedeiros específicos que podem incluir em seu ciclo de vida os seres humanos. Infecções parasitárias são frequentemente associadas com o consumo de carnes mal passadas, pescados crus, vegetais crus ou alimentos já processados que foram recontaminados (contaminação cruzada). Quanto aos protozoários, os veiculados por alimentos e água são: Cryptosporidium parvum, Entamoeba histolytica e Giardia intestinalis.Oocistos de Cryptosporidium contaminam águas de rios e lagos e de Entamoeba e Giardia geralmente contaminam vegetais (frutas e verduras) e água. 3 MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS Os micro-organismos habitam quase todos os nichos da Terra, inclusive no nosso suprimento alimentar. A quantidade e a qualidade do alimento que ingerimos são afetadas por agentes de muitas espécies. Alguns decompõem alimentos, causando deterioração; outros são empregados em processos de fabricação de determinados alimentos, como pães, vinhos, queijos. A célula é a unidade fundamental dos seres vivos, podendo se originar de uma preexistente ou, no caso da reprodução assexuada, por meio de troca de material nuclear entre duas células. Os seres vivos podem ser classificados como unicelulares, que apresentam uma organização mais simples, sendo constituído de uma única célula; e multicelulares, que embora se originem de uma única célula, são formados no estágio maduro de muitas células permanentemente unidas umas às outras de uma forma característica. A organização unicelular é comum, mas não universal nos micro- organismos, ocorrendo em bactérias, parasitos, algas e em alguns fungos. Entretanto, a estrutura celular não é observada entre os vírus, rickettsias e 21 príons. 3.1 CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS Ao que interessa à Microbiologia de Alimentos, as bactérias, fungos, protozoários e os vírus merecem destaque por serem responsáveis pelos processos de deterioração dos alimentos, por participarem em processos de fabricação de alimentos ou por serem causadores de toxinfecções alimentares. 3.1.1 Bactérias São micro-organismos unicelulares amplamente distribuídos na natureza, sendo responsáveis por doenças no homem, animais e plantas e pela deterioração e decomposição de alimentos e materiais diversos. Porém, são extremamente úteis à vida do homem, já que participam da flora normal do homem, na produção de alimentos, na agricultura (fixadores de nitrogênio) e na produção de medicamentos. As bactérias apresentam tamanhos que variam entre 0,5 a 10 micra de comprimento, sendo vistas apenas ao microscópio. Apresentam formas variadas, desde pequenos cocos isolados até cachos ou cadeias de cocos, em forma de bastonetes ou espirais. 22 FIGURA 2 - MORFOLOGIA BACTERIANA FONTE: Programa Alimentos Seguros, 2000. As bactérias se reproduzem de forma assexuada por um processo denominado de fissão binária, bipartição ou cissiparidade, ou seja, conforme mostra a figura 3, uma célula bacteriana dá origem a duas células, estas a quatro e assim sucessivamente em processo exponencial. O tempo de geração em condições ótimas varia de 15 a 20 minutos, geralmente. 23 FIGURA 3 - PROCESSO DE REPRODUÇÃO BACTERIANA FONTE: Programa Alimentos Seguros, 2000. 3.1.2 Fungos Estes organismos pertencentes ao Reino Fungi podem existir como uma célula única ou formando um corpo multicelular chamado micélio, constituído de filamentos denominados hifas. Os fungos estão divididos em bolores e leveduras. Os bolores são os fungos filamentosos que se encontram amplamente distribuídos na natureza (solo, ar, água, animais, superfícies de vegetais). Geralmente estão presentes em maiores quantidades nas frutas, por meio dos quais ocasionam doenças. Nos alimentos, os bolores provocam deteriorações (emboloramentos) e produção de micotoxinas, entretanto são úteis para a produção de alguns alimentos como queijos e medicamentos como a penicilina. 24 Os bolores são bem maiores que as bactérias (mais de 100 micra). O talo é a menor porção capaz de exercer todas as atividades vitais. Quando se desenvolvem formam as hifas (filamentos), que compõem os micélios que irão originar os esporos, após um estágio de desenvolvimento. O micélio é a parte visível do bolor. FIGURA 4 - FUNGO FILAMENTOSO FONTE: Disponível em: <http://commtechlab.msu.edu/sites/dlc- me/zoo/microbes/penicilium.html>. Acesso em: 11 jan. 1999. Os bolores multiplicam-se através do desenvolvimento do micélio, que evolui para a produção de esporos não sexuados. Os bolores multiplicam-se mais lentamente que as bactérias, em média levam mais de três horas para dobrar sua massa celular. Micélio Hifas Esporos 25 FIGURA 5 - MULTIPLICAÇÃO DOS BOLORES FONTE: Curso DTA’s – MAPA. Ditatus, 2009. As leveduras são fungos unicelulares, popularmente conhecidos como fermentos. Estão amplamente distribuídos na natureza (água, solo, plantas, ar e nos animais), sendo frequentemente encontrados em maior número em frutas e verduras. São utilizados na produção de bebidas, pães e outros produtos fermentados. Seu tamanho pode variar de dois a 20 micra, até 100 micra de comprimento e se multiplicam assexuadamente, por meio da formação de brotos ou gemas. A célula-mãe pode originar até 20 a 25 células-filhas. 26 FIGURA 6 - MULTIPLICAÇÃO DAS LEVEDURAS FONTE: Elementos de Apoio para Implantação do APPCC – SENAI, 2000. 3.1.3 Vírus Os vírus são micro-organismos que medem em média 0,1 micra, observado apenas em microscópio eletrônico. Não possuem estrutura celular como os demais agentes, sendo constituídos de ácido nucleico (DNA ou RNA), circundado por uma camada proteica, sendo incapazes de produzir sua energia (ATP), daí a necessidade de utilização da maquinaria de uma célula viva para se replicar. Os vírus podem causar problemas na fabricação de produtos alimentícios, tais como os iogurtes e queijos, pois por meio dos bacteriófagos destroem as células starter. 27 FIGURA 7 - BATERIÓFAGO T FONTE: Tortora, G. J. et al Microbiologia, 2000. 3.1.4 Parasitos Entre os parasitos encontram-se principalmente os protozoários e os helmintos. Os protozoários são seres unicelulares eucarióticos, sem parede celular, microscópicos e com tamanho variado, e heterotróficos quanto ao tipo de alimentação. Os helmintos são organismos multicelulares, cuja forma infectante pode ou não ser microscópica. Os helmintos podem alcançar dimensões significativas e produzem ovos e outras formas infectantes (cisticercos – Taenia solium), durante seu ciclo biológico. Alguns parasitos são transmitidos pelos alimentos, sendo as vias de transmissão e as formas de controle similares aos das bactérias e vírus. Como esses últimos, os parasitos não se multiplicam nos alimentos. 28 FIGURA 8 - Toxoplasma gondii, Entamoeba histolytica FONTE: Tortora, G. J.et al. Microbiologia, 2000. 3.1.5 Rickettsias e Príons São de ocorrência rara. As rickettsias, apesar de apresentarem uma estrutura celular, são incapazes de produzir ATP, por isso também são parasitos intracelulares obrigatórios. Os príons apresentam estrutura proteica capaz de se multiplicar no organismo hospedeiro, interferindo com o impulso nervoso. É um dos agentes da BSE (encefalomielite espongiforme bovina), conhecida como mal da vaca louca. O príon é transmissível pela carne, sendo termorresistente e o seu controle feito obrigatoriamente na produção animal. FIGURA 9 – PRÍON FONTE: Tortora, G. J. et al. Microbiologia, 2000. 29 ------------FIMDO MÓDULO I------------- 29 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE BOAS PRÁTICAS PARA MANIPULADORES DE ALIMENTOS 30 Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação CURSO DE BOAS PRÁTICAS PARA MANIPULADORES DE ALIMENTOS MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 31 MÓDULO II 4 MICRO-ORGANISMOS PATOGÊNICOS E NÃO PATOGÊNICOS Os alimentos destinados ao consumo da população, desde os vegetais às mais refinadas e finas iguarias de origem animal, apresentam algum tipo de contaminação microbiana. Os micro-organismos presentes nos alimentos podem ser patogênicos e não patogênicos. Os patogênicos são aqueles que não causam alterações nos alimentos, mas podem causar doenças em quem os consumir. São os micro-organismos responsáveis pelas DTA’s (doenças transmitidas por alimentos). Já os micro-organismos não patogênicos são aqueles que alteram as características normais dos alimentos, quer deteriorando-os (estragando-os) ou transformando-os beneficamente em alimentos elaborados. Dentre os deterioradores estão àqueles causadores de mofos, alteração de cor, amolecimento, entre outras modificações, e entre os benéficos estão os que participam do processo de fabricação de muitos alimentos como leites, queijos, vinhos, etc. 5 DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS As doenças de origem alimentar são síndromes que afetam o consumidor. São caracterizadas pelo desenvolvimento de sintomas clínicos gastrintestinais, relacionados com o período de incubação, quando causadas por agentes que desencadeiam doenças agudas. É muito comum as pessoas incriminarem os alimentos que acabaram de consumir como causadores dos distúrbios gastrintestinais que venham a apresentar. Considerando o fato de que, em condições normais, um indivíduo alimenta-se várias vezes ao dia, qualquer doença ocorre sempre após alguma refeição. 32 Entretanto, antes que determinado alimento possa ser incriminado como o causador de algum problema gastrintestinal, vários fatores devem ser considerados. De acordo com o Center for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, define-se surto de doença de origem alimentar a ocorrência de dois ou mais casos de doença associados a um único alimento. A identificação de um surto de doença de origem alimentar é realizada por meio de um inquérito epidemiológico, conduzido entre aqueles indivíduos que tenham e que não tenham consumido os alimentos suspeitos, que tenham ou não apresentado os sintomas característicos e também por intermédio de exames laboratoriais em amostras clínicas e dos alimentos suspeitos. É necessário considerar também que nem todos os indivíduos que consomem um alimento contaminado por um agente patogênico apresentam a mesma sintomatologia, bem como considerar que nem todo o alimento que contém um micro-organismo patogênico irá necessariamente causar uma doença se for consumido. O período de incubação, a gravidade e a duração da doença podem ser diferentes, em função da idade, do estado nutricional, da sensibilidade individual e da quantidade de alimento ingerido. 5.1 CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS ALIMENTARES As doenças alimentares podem ser classificadas de acordo com o agente e os sintomas apresentados. 5.1.1 Doenças Infecciosas São causadas por agentes bacterianos, virais e parasitários que têm a capacidade de causar infecções. Estes micro-organismos aderem à mucosa do intestino humano e proliferam, colonizando-o. A seguir pode ocorrer a invasão da mucosa e penetração nos tecidos. São exemplos de micro-organismos 33 causadores de infecções alimentares: Salmonella, Shigella, Yersinia enterocolitica, entre outras. 5.1.2 Doenças Toxinogênicas (Toxinoses) São as doenças causadas por toxinas microbianas (bacterianas), pré- formadas no alimento. Neste caso, a bactéria presente no alimento produz toxinas que ao serem ingeridas desencadeiam o quadro sintomático de intoxicação alimentar no indivíduo. São exemplos de micro-organismos causadores de intoxicações alimentares (toxinoses): Clostridium botulinum, Staphylococcus aureus, Bacillus cereus, entre outros. 5.1.3 Toxinfecção Alimentar É a doença alimentar decorrente da liberação de toxina “in vivo”, sem a colonização pelo micro-organismo produtor. O micro-organismo é ingerido no alimento e no interior do organismo irá produzir a toxina responsável pelo desencadeamento dos sintomas característico da síndrome. São exemplos de micro-organismos causadores de toxinfecções alimentares: Clostridium perfringens, Bacillus cereus (síndrome diarreica), entre outros. 5.1.4 Doenças Tóxicas São síndromes que têm como agente uma toxina ou uma substância química. A presença das substâncias químicas tóxicas, como os pesticidas em alimentos vegetais, alguns desinfetantes em alimentos processados podem causar doenças tóxicas em quem os consumir. 34 5.2 DOENÇAS BACTERIANAS DE ORIGEM ALIMENTAR 5.2.1 Bacillus Cereus Micro-organismo causador de toxinfecções e intoxicações alimentares é um bacilo gram-positivo, aeróbio facultativo, formador de esporos e produtor de uma exoenterotoxina. O B. cereus multiplica-se bem entre 10°C a 48°C, com um ponto ótimo de crescimento entre 28°C a 35°C. A atividade de água mínima necessária para sua multiplicação é 0,95, e pH na faixa de 4,9 a 9,3 é propícia ao seu desenvolvimento. O agente encontra-se amplamente distribuído na natureza. É isolada com relativa frequência do solo, pó, água, sedimentos, vegetais e pelos dos animais. A intoxicação por B. cereus apresenta distribuição mundial. A contaminação inicial dos alimentos dá-se por meio dos esporos; nos alimentos preparados ou nas sobras alimentares, mantidas entre 10°C a 50°C, há germinação e posterior multiplicação bacteriana. A toxinfecção ocorre por ingestão de alimentos contendo células vegetativas de B. cereus, as quais no intestino do homem irão produzir a enterotoxina responsável pelo quadro diarreico. A toxina emética é produzida durante a fase estacionária de multiplicação no alimento. O B. cereus apresenta duas síndromes: a diarreica e a emética. Os alimentos envolvidos na síndrome diarreica incluem produtos cárneos, hortaliças, leite e derivados, cremes, sopas e molhos. Já na síndrome emética, os alimentos comumente envolvidos são os amiláceos e cereias, principalmente o arroz. Este alimento preparado em grandes quantidades, contendo os esporos termorresistentes do agente, os quais sobrevivem à pré-cocção e germinam, multiplicando-se e produzem toxina emética durante o tempo de reserva ou armazenamento, se mantidos em temperaturas entre 10°C a 50°C. O reaquecimento posterior não é capaz de destruir a toxina produzida. 35 A síndrome diarreica é caracterizada por dor abdominal e diarreia (raramente vômitos). O período de incubação é de 4-16 horas e os sintomas duram cerca de 12 a 24 horas. A síndrome eméticaé caracterizada por um ataque agudo de náusea e vômito, assim como mal-estar geral. Diarreia não é comum e o período de incubação é de uma a cinco horas. As principais medidas de controle apoiam-se no tratamento térmico dos alimentos no preparo e, sobretudo, na armazenagem. Assim, o resfriamento deve ser rápido, evitando-se o armazenamento de grandes blocos de alimento, e a manutenção deve se dar abaixo de 4°C ou, se a conservação for pelo calor, a temperatura deve ser mantida acima dos 60°C. O reaquecimento deve dar-se acima dos 72°C. 5.2.2 Clostridium Botulinum O botulismo é uma intoxicação alimentar provocada pelo Clostridium botulinum, de extrema gravidade, de evolução aguda, caracterizada por distúrbios digestivos e neurológicos, consequente à ingestão de diversos tipos de alimentos, embutidos ou enlatados, de origem animal ou vegetal, insuficientemente esterilizados ou conservados em substratos com pH superior a 4,6. Nestes alimentos existem condições adequadas para o agente produzir uma potente neurotoxina, capaz de levar os intoxicados ao óbito. O termo botulismo, utilizado para designar a toxinose provocada pelo C. botulinum, provém de botulus (salsicha em latim), devido ao envolvimento deste alimento nos primeiros casos de botulismo cientificamente comprovados, ocorridos na Europa Central no final do século XIX. São bacilos gram-positivos, com flagelos peritríquios e formadores de esporos. Existem oito tipos de C. botulinum, classificados como A, B, Ca, Cb, D, E, F e G, com base na especificidade antigênica de suas toxinas. Os tipos A, B, E e F são causadores de botulismo no homem. Os tipos patogênicos para os animais são basicamente os tipos Ca, Cb e D, embora os tipos A, B e E possam também estar envolvidos em episódios nos animais. Com o tipo G, não 36 houve registros de surtos em animais; experimentalmente, produz intoxicação fatal em camundongos. As células vegetativas de todos os tipos de C. botulinum são destruídas rapidamente pelas temperaturas de pasteurização e de cocção culinária. A termorresistência dos esporos possibilita sua sobrevivência em temperaturas normais de tratamento térmico e, por serem anaeróbios, se desenvolvem em condições de anaerobiose, comum em embalagens a vácuo ou com atmosfera modificada. As toxinas botulínicas são as mais ativas que se conhece, podendo determinar a morte mesmo em ínfimas quantidades, 0,1 mg a 1,0 mg. Estas toxinas são termolábeis e a temperatura necessária para sua destruição depende do tipo considerado, de modo geral, a 80°C a destruição ocorre em 30 minutos e a 100°C são necessários três minutos. Na natureza os principais reservatórios do agente são os mamíferos, aves e os peixes. A contaminação dos alimentos se dá por meio das fezes de animais, contato com o solo contaminado ou mesmo água utilizada para sua higienização ou preparo. Os produtos de origem animal têm sido envolvidos com relativa frequência em surtos de botulismo, com destaque para os embutidos, tais como as salsichas, salames, presuntos e patês, enlatados, leite e derivados, bem como produtos fermentados são passíveis de provocar a intoxicação. O mesmo sucede com os peixes em conservas ou defumados, e produtos vegetais como palmito, espinafre, aspargos, cogumelos, milho, entre outros. As conservas caseiras ou artesanais constituem o maior risco para o homem, em função dos procedimentos inadequados para sua preparação. O espectro de alimentos passíveis de causar a intoxicação botulínica é grande, por isso, qualquer pessoa, independente da idade e do estado de saúde prévio à ingestão de um produto contaminado, está exposto ao risco da doença. O botulismo infantil ocorre em crianças até 12 meses de idade, às expensas da ingestão de esporos de Clostridium botulinum, os quais germinam dando origem às células vegetativas que produzem a toxina, enquanto colonizam o trato digestivo. Isto se deve ao fato da microflora intestinal das crianças não ser capaz de impedir a colonização da bactéria. O mel tem sido o alimento mais implicado em casos de botulismo infantil. 37 O controle do C. botulinum pode ser realizado evitando que os esporos germinem e ocorra a proliferação das formas vegetativas com consequente produção de toxina. Evitar o consumo de conservas caseiras ou produtos artesanais onde a embalagem seja feita em ausência de oxigênio. São eficientes para o controle do C. botulinum a autoclavagem de enlatados, cocção prolongada de conservas, a cura dos alimentos com sal, a adição de acidificantes e a refrigeração abaixo dos 4°C. 5.2.3 Clostridium Perfringens É um bacilo gram-positivo, anaeróbio (microaerófilo) e formador de esporos. Apresenta cinco tipos, de A a E, classificados de acordo com as exotoxinas produzidas. Os tipos A, C e D são patogênicos para humanos, enquanto que os animais são susceptíveis aos tipos B, C, D e E, e possivelmente também ao tipo A. Uma das características mais importantes do C. perfringens é sua capacidade de multiplicação em altas temperaturas, situando-se a ideal entre 40°C a 45°C. As enterotoxinas A e C do C. perfringens são as responsáveis pelo quadro agudo de diarreia, característico das toxinfecções clostridianas. O tipo C é responsável pela enterite necrótica, doença grave e geralmente fatal, mas de ocorrência rara. A dose infectante para que o C. perfringens possa causar a infecção alimentar em humanos é de 106 bactérias por grama ou a fração ingerida do alimento contaminado deve conter uma quantidade superior a 108 células vegetativas. O C. perfringens está amplamente distribuído na natureza, podendo estar no solo, água e locais passíveis de contaminação fecal humana ou animal em função de sua ocorrência frequente no intestino humano e de animais. Os alimentos frequentemente envolvidos em surtos de C. perfringens são os produtos cárneos, aves e molhos de carne onde o agente se multiplicou. Embutidos, conservas de peixes, patês, queijos fermentados e ostras, também oferecem boas condições para o desenvolvimento do agente. 38 A população em geral está exposta ao risco da infecção, mas principalmente aquelas pessoas que utilizam serviços de alimentação coletiva em cantinas de escolas e refeitórios de hospitais, indústrias e de instalações correcionais, entre outros. Os jovens e os idosos são as vítimas mais frequentes da infecção alimentar clostridiana. O período de incubação do C. perfringens varia de 8 a 24 horas, em média 12 horas. O quadro clínico inicia bruscamente com intensas cólicas abdominais e diarreia aquosa. A infecção clostridiana está intimamente associada ao consumo de produtos cárneos cozidos que foram resfriados lentamente ou armazenados sob temperaturas inadequadas e consumidos, posteriormente, sem reaquecimento suficiente para destruir as células vegetativas desenvolvidas. Assim, pode-se controlar a ocorrência de infecções por Clostridium perfringens resfriando rapidamente os alimentos cozidos, reaquecendo-os, principalmente cárneos, em temperaturas acima de 70°C e os alimentos refrigerados devem ser conservados em temperatura abaixo de 4°C. 5.2.4 Salmonella spp Pertencente à família Enterobacteriaceae, o gênero Salmonella é constituído de duas espécies: Salmonella Enteritidis com seis subespécies e Salmonella bongori. São bacilos gram-negativos, não produtores de esporos, anaeróbios facultativos, com pH ótimo para multiplicação em torno de 7,0 e temperatura em torno de 35°C a 37°C. As infecções causadas por Salmonella são consideradas universalmente como as mais importantescausas de doenças transmitidas por alimentos As Salmonellas localizam-se primordialmente no trato gastrintestinal das aves em geral, de mamíferos domésticos e silvestres, bem como de répteis, sem provocar na maioria das espécies hospedeiras, manifestação de sintomas. A transmissão dá-se por meio de um ciclo de infecção entre o homem e os animais pelas fezes, água e alimentos, principalmente os de 39 origem animal, bem como os vegetais irrigados com água contaminadas por esgotos, ou diretamente com matéria fecal utilizada como fertilizante. Os alimentos envolvidos em surtos de salmoneloses são todos aqueles com altos teores de umidade e proteína. Produtos lácteos (leite e queijos cremosos), ovos (pudins, gemadas, licores de ovos e maioneses), carnes e produtos derivados (de bovinos, de suínos e de aves), além de peixes, camarões, pernas de rã, levedura de cerveja, coco, molhos e temperos para saladas, misturas para bolos, sobremesas recheadas com cremes, gelatina em pó, manteiga de amendoim, cacau, chocolate e, inclusive, suco de laranja não pasteurizado. Os apreciadores de alimentos crus ou insuficientemente cozidos, principalmente à base de carnes e ovos são os mais expostos. As infecções por Salmonella começam na mucosa do intestino delgado e do cólon. A bactéria atravessa a camada epitelial intestinal, alcançam a lâmina própria e desenvolve-se. As Salmonellas são fagocitadas pelos monócitos e macrófagos, resultando uma resposta inflamatória, decorrente da hiperatividade do sistema retículo-endotelial. A resposta inflamatória está relacionada também com a liberação de prostaglandinas, que são estimuladores de adenilciclase, ocasionando um aumento na secreção de água e eletrólitos, provocando diarreia aquosa. O período de incubação médio é de 18 horas, embora em média ocorra em 12 a 36 horas. Os sintomas da manifestação clínica aguda são cólicas abdominais, náuseas, vômitos, diarreia, calafrios, febre e cefaleia. O quadro clínico pode persistir por um a dois dias, sendo que a recuperação se dá após três dias do início da infecção. O controle da infecção por Salmonella é dado pelo tratamento de efluentes e dejetos de origem animal, pasteurização do leite, higiene do abate, manipulação higiênica dos alimentos, conservação e cocção em temperaturas adequadas. 40 5.2.5 Staphylococcus Aureus São cocos gram-positivos, pertencentes à família Micrococaceae, anaeróbios facultativos, com maior crescimento sob condições aeróbias. São mesófilos, com temperatura ótima de crescimento na faixa de 7°C a 48°C, sendo a ideal entre 40°C a 45°C, tolerantes a concentrações de 10% a 20% de cloreto de sódio e a nitratos, o que torna os alimentos curados veículos potenciais das mesmas. Apesar do alto grau de virulência, o S. aureus está intimamente associado com o homem. A bactéria está presente na maioria dos ambientes frequentados pelos seres humanos e é facilmente isolada de fômites, motivo pelo qual o homem é um dos principais reservatórios do agente na natureza. Este agente apresenta distribuição mundial, estimando-se que 20% a 60% da população humana possa ser portadora da bactéria, sem apresentar qualquer tipo de sintomas. Desta forma, os portadores humanos, mesmo sem apresentar qualquer manifestação clínica representam grupo de risco quando lidam com alimentos, já que podem contaminá-los por meio das mãos e das secreções oronasais. O Staphylococcus aureus causa intoxicação por meio de sua enterotoxina pré-formada no alimento, portanto, o agente causal não é a bactéria por si só, mas várias enterotoxinas desta bactéria (A, B, C1, C2, C3, D, E). A transmissão se dá pela ingestão de alimentos inicialmente contaminados pela bactéria, submetidos a temperaturas de cocção insuficientes para provocar sua destruição e depois mantidos a temperaturas inadequadas para conservação. Nestas condições há multiplicação bacteriana e produção de enterotoxina. Todos os alimentos que requerem considerável manipulação durante o seu preparo e cuja temperatura de conservação é inadequada, como acontece, por exemplo, com saladas e recheios de sanduíches, são passíveis de causar a intoxicação. Uma vez que a bactéria está presente no ambiente, nos animais e no próprio homem, não há um grupo de risco em particular. 41 O período médio de incubação é de duas a quatro horas, podendo ser de 30 minutos a oito horas, quando então começam os sintomas de forma rápida e de natureza aguda. Os principais sintomas são náuseas, vômitos, câimbras abdominais geralmente bem dolorosas, diarreia e sudorese. O treinamento de manipuladores em boas práticas de manipulação e preparação de alimentos é um dos principais procedimentos para prevenção da contaminação de alimentos, além das medidas de higiene pessoal, utensílios e instalações. Quanto à conservação dos alimentos deve evitar-se a manutenção dos mesmos em temperaturas compreendidas no intervalo de 7°C a 60°C, a fim de evitar o desenvolvimento e produção da enterotoxina nos alimentos. 5.2.6 Listeria Monocytogenes É um bacilo gram-positivo, anaeróbio facultativo, não formador de esporos, que se multiplica em temperaturas na faixa de 2,5°C a 44°C e resiste a repetidos processos de congelamento e descongelamento. A dose infectante desta bactéria não está determinada, mas sabe-se que varia com a cepa e a susceptibilidade do indivíduo, sobretudo o estado imune anterior à infecção. Em casos de infecção por meio do leite, considera-se que é necessária a ingestão de uma quantidade ligeiramente superior a 1.000 células do agente para que haja a invasão do epitélio gastrointestinal. As Listerias estão disseminadas na natureza, podendo ser encontradas no ambiente em uma ampla variedade de habitats, tais como: solo, vegetação, sedimentos marinhos e água, durante muito tempo foi conhecida apenas como patógeno de animais e posteriormente foi descrita causando listeriose em humanos. Recentemente, devido aos inúmeros surtos envolvendo o consumo de alimentos contaminados por L. monocytogenes, ficou comprovado que a via de contaminação é por ingestão de alimentos contaminados, entre os quais se destacam os produtos lácteos (leite cru ou pasteurizado, sorvetes e queijos), produtos cárneos crus ou termoprocessados de diversas origens (bovina, ovina, caprina, suína e de aves), peixes crus ou defumados e embutidos. Vale 42 destacar que a bactéria também pode ser eliminada no leite dos animais infectados. O período de incubação é muito variável, desde um dia até três semanas, embora se considere a possibilidade de ser de alguns meses. Na forma gastrintestinal, acredita-se que este período seja superior a doze horas. É importante considerar que a maioria das pessoas em boas condições de saúde, sobretudo em relação ao estado imune, quando expostas ao agente, provavelmente não desenvolvem sintomas da infecção. Na verdade, a expressão mais comum da doença são as complicações. Nas gestantes podem ocorrer abortos espontâneos no segundo ou terceiro trimestre da gravidez, morte neonatal ou nascimento de crianças gravemente doentes, devido à infecção intrauterina e da cérvix. Nos demais indivíduos da população, a listeriose manifesta-se por meio de meningite, encefalite e septicemia. O início deste quadro é geralmente precedido por sintomas semelhantes aos da gripe, incluindo febre persistente. Sinais gastrintestinais caracterizados por náuseas, vômitos e diarreia podem preceder as formas mais graves da doença ou podem ser as únicas manifestações da listeriose.Para o controle da listeriose leva-se em consideração a adoção de boas práticas de higiene e segurança dos alimentos. Higiene na manipulação de alimentos, conservação em temperatura abaixo de 4°C ou acima de 60°C, higiene na ordenha, armazenamento e transporte do leite. 5.2.7 Campylobacter A campylobacteriose é considerada uma das doenças emergentes de origem alimentar, sendo uma das mais comuns e importantes causas de doenças diarreicas em humanos. Está associada ao consumo de leite cru ou insuficientemente pasteurizado, sendo também um patógeno encontrado com relativa frequência como contaminante de carcaças e retalhos de aves. 43 É uma bactéria zoonótica, com muitos animais servindo de reservatório (encontra-se amplamente distribuída no trato intestinal de coelhos, roedores, carneiros, cavalos, bovinos, suínos, aves como pássaros selvagens e galinhas e animais domésticos de sangue quente). O gênero Campylobacter compreende inúmeras bactérias patogênicas para o homem, sendo a mais importante delas o Campylobacter jejuni, isolado com frequência de pessoas com quadros de gastroenterites. A dose infectante de C. jejuni é variável, dependendo do grau de higidez dos acometidos, da susceptibilidade individual, da virulência da cepa e do tipo de alimento veiculador do agente. De modo geral, acredita-se que a ingestão de 500 a 800 células bacterianas no leite seja suficiente para causar a doença. A infecção por C. jejuni pode manifestar-se de diversas formas, sendo a enterocolite a mais comum. O período de incubação varia normalmente de dois a cinco dias, podendo se estender até 10 dias. A doença caracteriza-se por diarreia acompanhada de febre baixa e dores abdominais. Em alguns casos a febre pode ser alta e as fezes podem conter sangue, leucócitos e muco. Vômitos são raros. A bactéria adere à mucosa da porção terminal do intestino delgado, íleo, próximo a junção com o cólon, multiplica-se e produz uma enterotoxina citotóxica, provocando diarreia aquosa profusa semelhante à da cólera; quando a invasão ocorre ao nível do intestino grosso, cólon e reto, a diarreia pode ser sanguinolenta. O leite cru ou insuficientemente pasteurizado é o alimento apontado com mais frequência como responsável por surtos de campilobacteriose. A contaminação do leite pode ser de origem fecal, devido a problemas de higiene na ordenha ou proveniente de mastite ocasionada pelo agente. O animal infectado pode produzir leite contaminado até por 12 semanas. As carnes de aves, principalmente as comercializadas em retalhos, ocupam lugar de importância em saúde pública, na transmissão da doença, já que se estima em 100% o nível de contaminação destas matérias-primas, o qual é muito superior ao das carnes vermelhas, embora haja relatos da presença do agente em carne crua moída (hambúrguer). 44 As gemas de ovos e as carnes em geral propiciam melhores condições de sobrevivência para a bactéria do que leite e derivados. Todas as espécies do agente desenvolvem-se bem a 37°C, sendo a ótima entre 42°C a 43°C. São bacilos gram-negativos não esporogênicos, espiralados e muito finos e compridos, de rápida mobilidade. Qualquer indivíduo pode contrair a campilobacteriose, entretanto as crianças com menos de quatro anos de idade, jovens entre 15 a 24 anos de idade, idosos e imunocomprometidos são mais susceptíveis à infecção. Os manipuladores de alimentos constituem grupo de risco, pois podem infectar-se durante as operações de corte de carnes e levar as mãos (contaminadas) à boca. Os sintomas são semelhantes aos da gripe e duram mais ou menos um dia, caracterizando-se por febre, cefaleia, mal-estar e dores musculares. Na sequência aparece diarreia aquosa ou mucosa, podendo conter sangue, cólicas e raramente vômitos. A primeira medida de controle do agente é o controle de qualidade da água de abastecimento, principalmente daquela que será utilizada no preparo de alimentos. As boas práticas de higiene e manipulação de alimentos são fundamentais, representadas por assepsia de mãos, uso de utensílios e superfícies de corte higienizadas, equipamentos higienizados, entre outras medidas. O consumo de alimentos crus, incluindo carnes, ovos e leite deve ser evitado. 5.2.8 Shigelose ou Disenteria Bacilar As bactérias do gênero Shigella são bacilos gram-positivos, não formadores de esporos, pertencentes à família Enterobacteriaceae, com temperatura ótima de crescimento em torno de 37°C. O gênero é constituído de quatro espécies restritas à espécie humana, com raríssimos casos em outras espécies animais, exceto primatas não humanos, designadas: Shigella dysenteriae, Shigella flexneri, Shigella boydii e Shigella sonnei. Este agente 45 pode manifestar-se por meio de formas assintomáticas ou subclínicas, até formas severas e tóxicas conhecidas como disenteria bacilar clássica. Estas bactérias são causa de doenças diarreicas no homem resultantes de uma inflamação aguda do trato intestinal. As Shigellas estão altamente adaptadas ao homem, o qual constitui seu principal reservatório na natureza. Os primatas não humanos, macacos e chimpanzés constituem exceção entre as espécies animais, podendo padecer da infecção e ser reservatório do micro-organismo. Estas bactérias são geralmente encontradas em águas poluídas com fezes humanas. A transmissão ocorre primariamente pessoa a pessoa, pela via oral-fecal, por meio da contaminação da água e dos alimentos. O período de incubação da doença é de um a sete dias, geralmente inferior a quatro dias, persistindo geralmente por três a 14 dias. O número de micro-organismos necessários para causar a infecção em adultos é de 10 a 100. Os sintomas variam muito em intensidade, desde uma infecção assintomática ou fraca sem febre, até uma disenteria fulminante, caracterizada por fezes mucossanguinolentas, com o paciente apresentando diarreia, desidratação, tenesmos, toxemia e até convulsões em crianças com menos de quatro anos de idade. As células de Shigella, além de aderir às células epiteliais da mucosa do intestino grosso, atuam invadindo e multiplicando-se no interior dessas células, destruindo-as durante o processo. Shigella dysenteriae produz uma toxina – toxina shiga – que apresenta várias atividades tóxicas, embora possa contribuir, de alguma forma, para danificar a mucosa intestinal, seu papel principal parece relacionar-se à síndrome urêmica hemolítica (HUS) decorrente da complicação da shigelose. Nesta síndrome ocorre a falência renal que algumas vezes se desenvolve em crianças, poucos dias após um ataque de disenteria, podendo ser fatal. As medidas de controle do agente incluem evitar a contaminação da água de abastecimento com dejetos humanos, higiene pessoal, principalmente dos doentes ou portadores da shigelose, boas práticas de higiene durante a manipulação ou processamento de alimentos. 46 5.2.9 Escherichia Coli Patogênica As E. coli fazem parte da família Enterobacteriaceae, sendo a espécie predominante entre os diversos micro-organismos anaeróbios facultativos que fazem parte da microbiota intestinal dos animais de sangue quente. São bacilos gram-negativos, não esporulados, capazes de fermentar a lactose com produção de gás a 37°C ou a 45°C. A presença de E. coli em um alimento deve ser avaliada de duas maneiras: inicialmente, a E. coli por ser uma Enterobactéria. Uma vez detectada no alimento indica que este alimento foi contaminado com matéria de origem fecal e, portanto, apresenta condições higiênico-sanitárias insatisfatórias.Outro aspecto a ser considerado é que diversas linhagens de E. coli são comprovadamente patogênicas para o homem e para os animais, apesar da maioria das cepas não ser. As doses infectantes de E. coli que permitem a colonização do micro- organismo ao nível das células intestinais dos indivíduos infectados e a consequente produção de toxina variam de acordo com o tipo de cepa considerada e com a idade do indivíduo exposto, bem como de seu estado imune. Desta forma, admite-se que no caso da cepa enteropatogênica a dose necessária para causar a infecção em crianças menores que cinco anos é muito pequena, enquanto que para adultos é superior a um milhão de células. Nas infecções entero-hemorrágicas e enteroinvasivas a dose infectante é de apenas 10 células, semelhante ao que acontece com a shigelose. Por outro lado, para haver a manifestação clínica da forma enterotoxigênica estima-se que haja necessidade de ingestão 100 milhões a 10 bilhões de bactérias. Com base nos fatores de virulência, manifestações clínicas e epidemiológicas, as linhagens de E. coli consideradas patogênicas atualmente são agrupadas em cinco classes: a) EPEC (E. coli enteropatogênica clássica) – acomete recém-nascidos e lactentes 47 b) EIEC (E. coli enteroinvasiva) – acomete jovens e adultos c) ETEC (E. coli enterotoxigênica) – provoca diarreia infantil e a diarreia dos viajantes d) EHEC (E. coli entero-hemorrágica) – acomete crianças e idosos e) EAggEC (E. coli enteroagregativa) – quadros agudos de diarreia persistente Dentre as inúmeras cepas enterovirulentas do micro-organismo, a que constitui maior preocupação para as autoridades de saúde é a Escherichia coli O157:H7, responsável pela forma entero-hemorrágica da infecção, tendo sido identificada em 1982, associada com surtos de colite hemorrágica. As principais vias de transmissão são os alimentos de origem animal e vegetal, principalmente quando consumidos crus ou insuficientemente cozidos, além de água não tratada. A água contaminada com despejos de esgoto é uma das principais vias de transmissão do agente na natureza. Por outro lado, qualquer alimento exposto à contaminação fecal, seja por meio da água de preparo contaminada ou dos manipuladores infectados, é capaz de veicular a E. coli. A carne bovina moída (hambúrguer) é a maior responsável pela ocorrência de surtos de E. coli, sobretudo quando consumida crua ou insuficientemente cozida, sendo também a causa mais comum das infecções entero-hemorrágicas e enteroinvasivas. A carne de aves, principalmente a de frangos, tem sido apontada como causa de surtos de toxinfecção alimentar, principalmente a enteropatogênica. Os produtos lácteos, principalmente o leite cru, e em menor extensão os queijos, são vias de transmissão importantes para o patógeno. Todas as pessoas estão expostas ao risco da infecção, principalmente aquelas que têm por hábito consumir carnes bovinas e de aves cruas ou mal passadas, assim como leite e sucos de frutas não pasteurizados. Os sinais e os sintomas das infecções causadas por E. coli dependem da cepa, e sua virulência e patogenicidade, bem como da idade e do estado imunológico do paciente. A EPEC, com período de incubação médio de 36 horas, é caracterizada por diarreia aquosa com grande quantidade de muco, náuseas, 48 dores abdominais, vômitos, cefaleia, febre e arrepios. A ETEC, com período de incubação médio de 26 horas, é caracterizada por sintomas como diarreia aquosa, febrícola, cólicas abdominais, mal-estar e náuseas. Nas infecções entero-hemorrágicas, a manifestação dos primeiros sintomas dá-se em geral quatro dias após a ingestão do alimento contaminado, mas pode variar de três a nove dias. O quadro de colite hemorrágica caracteriza-se por diarreia sanguinolenta profusa. Dor abdominal intensa e vômitos, na ausência de quadro febril. A síndrome urêmica hemolítica (SUH) apresenta pródromos com diarreia sanguinolenta, evoluindo para nefropatia aguda, provocando convulsões, conduzindo ao come e morte. A púrpura trombocitopênica trombótica é similar ao SUH, caracterizando-se por febre e alterações do sistema nervoso central. Os pacientes que conseguem superar a doença recuperam-se em dois a nove dias. Na EIEC, o período médio de incubação é de apenas 11 horas, sendo caracterizada por sintomas de diarreia profusa ou disenteria, cólicas abdominais, arrepios, febre, cefaleia e mialgia. A recuperação é lenta, podendo demorar algumas semanas. A prevenção e o controle passam obrigatoriamente pela higiene de abate e da ordenha, conservação das matérias-primas e produtos preparados abaixo de 7°C, pasteurização do leite e sucos de frutas e pela adoção das boas práticas para manipulação e preparação dos alimentos. 5.2.10 Vibrio O gênero Vibrio pertence à família Vibrionaceae, com seus membros sendo caracterizados como bacilos gram-negativos, retos ou curvos e móveis, não formador de esporos. Contêm várias espécies, algumas delas causadoras de doenças no homem, sendo a cólera a mais importante por ser endêmica em várias partes do mundo. A cólera é causada pelo Vibrio cholerae. Outras espécies patogênicas no gênero Vibrio são Vibrio parahaemolyticus e Vibrio vulnificus. 49 O Vibrio parahaemolyticus é um micro-organismo causador de gastrenterite no homem. Seu habitat é o ambiente marinho, razão pela qual pode ser veiculado por pescados e produtos do mar provenientes de águas contaminadas com esse micro-organismo. A gastrenterite por V. parahaemolyticus apresenta diarreia, cãibras abdominais, dor de cabeça, febre baixa e calafrios. Em casos mais graves ocorre disenteria com fezes mucoides e sanguinolentas e nos episódios severos a hospitalização é necessária. Nesses casos, faz-se tratamento com antibióticos (tetraciclina) e a reposição dos líquidos. O Vibrio vulnificus é um micro-organismo halofílico, causador de infecções em feridas, gastroenterite e uma síndrome grave conhecida por septicemia primária. É encontrado no ambiente marinho, associado a várias espécies marinhas, como plâncton, crustáceos (ostras, mariscos, caranguejos) e moluscos. As infecções em feridas por V. vulnificus ocorrem por meio da contaminação de feridas abertas com água do mar contendo esse micro- organismo ou por meio de lesões na pele causadas por corais ou peixes, seguido de contaminação com o micro-organismo. Nas infecções de feridas ocorrem lesões, vesículas e necrose do tecido subcutâneo, podendo ser necessária a amputação do membro afetado. A gastroenterite é provocada pela ingestão de V. vulnificus, resultando em sintomas diferentes das gastroenterites comuns, prevalecendo a febre, calafrios, náuseas e hipotensão. A septicemia primária é consequência da ingestão do patógeno por indivíduos que apresentam certas doenças crônicas, como doenças hepáticas (cirroses), diabetes, leucemia, carcinomas pulmonares, AIDS e asma. Nesses casos, o índice de mortalidade é muito alto (>50%). Apenas o isolamento e identificação do micro-organismo nas fezes diarreicas, feridas infectadas ou sangue garantem o diagnóstico correto. O isolamento do micro-organismo da água ou dos alimentos suspeitos também auxilia no diagnóstico. Geralmente, as diarreias causadas por V. parahaemolyticus e V. vulnificus são autolimitantes, ou seja, cessam sem nenhum tratamento com medicamentos. Entretanto, nos casos mais graves, a hospitalização e antibioticoterapia podem ser necessárias. 50 Tanto V. parahaemolyticus como V. vulnificus são veiculados por água do mar e alimentos marinhos, entre os quais se incluemas ostras, mariscos, mexilhões e também peixes. Assim, para prevenir a ocorrência dessas doenças, deve-se evitar o consumo de produtos marinhos crus ou insuficientemente cozidos, especialmente durante os meses quentes do ano, quando a sobrevivência desses micro-organismos na água é maior. A prevenção da infecção de feridas por V. vulnificus é mais difícil, já que mesmo indivíduos saudáveis podem adquirir essa doença. O Vibrio cholerae é um micro-organismo em forma de bastão curto ou curvo, gram-negativo, não formador de esporos. Pertence ao gênero Vibrio, sendo o agente causador da cólera. Distribuído no meio ambiente, principalmente nos reservatórios aquáticos (mares e rios). A cólera caracteriza- se pela diarreia, cuja intensidade pode variar entre moderada até muito severa. Ocorrem também cólicas abdominais, náuseas e vômitos. A diarreia moderada é aquosa e profusa. A diarreia severa pode representar perda de até um litro de fezes aquosas por hora (água de arroz), levando à perda rápida de líquidos, desidratação, colapso circulatório e morte. Deve-se notar, no entanto, que nem todas as pessoas infectadas apresentam os sintomas típicos da cólera. O início dos sintomas é abrupto, com um período de incubação que pode variar entre seis horas a cinco dias. A cólera é a síndrome causada pela ingestão de bactérias viáveis de Vibrio cholerae, que aderem à parede do intestino delgado e produzem a enterotoxina colérica. A enterotoxina altera o equilíbrio eletrolítico da mucosa intestinal do homem, causando uma diarreia aquosa, que pode ser muito intensa e levar a morte, se não tratada. A prevenção das epidemias de cólera baseia-se na infraestrutura de saneamento básico adequado, além de utilização de práticas adequadas de higiene pessoal. A enterotoxina colérica é facilmente destruída pelo aquecimento, assim a cocção adequada dos alimentos, principalmente alimentos marinhos, e tratamento da água, previnem a doença. 51 5.3 DOENÇAS PARASITÁRIAS DE ORIGEM ALIMENTAR Parasitos são, geralmente, hospedeiros específicos, podendo incluir os seres humanos no seu ciclo de vida. Infecções parasitárias estão frequentemente associadas ao consumo de carnes mal cozidas, pescados crus, vegetais crus (saladas) ou de alimentos prontos para consumo recontaminados (contaminação cruzada). Dentre os protozoários mais importantes em medicina humana, geralmente veiculados por alimentos e água, estão o Cryptosporidium parvum, Toxoplasma gondii, Giardia lamblia e Entamoeba histolytica. Os protozoários ocupam lugar de destaque em saúde pública como causadores de quadros infecciosos, principalmente em indivíduos imunocomprometidos, embora todos os seres humanos sejam susceptíveis às infecções por eles determinadas. 52 Agente etiológico Nome da doença Vias de transmissão Sintomas Controle Giardia lamblia Giardíase Ingestão de cistos maduros em água contaminada com dejetos humanos, em alguns alimentos (verduras e frutas mal lavadas), via fecal- oral Diarreia (sintoma característico), Cólicas abdominais, Náuseas, vômitos e, Febre Boas práticas de higiene, Fervura da água Entamoeba hystolitica Amebíase Oral/fecal, por meio da água, manipuladores de alimentos e alimentos contaminados Fezes soltas com muco e sangue (sem febre), Dor abdominal, Febre, Diarreia severa e Vômitos. Boas práticas de higiene Cryptosporidium parvum Criptosporidiose oral/fecal (+ comum), Por meio de alimentos (- frequente), Por meio do leite, Água potável (+ frequente) Diarreia (às vezes com muco, mas raramente com sangue), Dores abdominais, Náuseas, vômitos e, Febre < 39ºC Boas práticas de higiene, Evitar ingestão de água de fontes naturais desconhecidas, Fervura da água. Toxoplasma gondii Toxoplasmose Alimentos de origem animal, principalmente carnes e leite crus Carne suína e ovina mal passadas, Leite cru de cabra. Febre, Fadiga, Mialgia, Cefaleia, Dor ao nível da faringe. Cysticercus bovis, Cysticercus celulosae Cisticercose Água, Solo, Alimentos (carnes e vegetais crus) Dor abdominal, Anorexia, Entre outras manifestações gastrointestinais Inspeção de carnes em matadouros frigoríficos FONTE: Adaptado de Elementos de Apoio para as Boas Práticas e Sistema APPCC, SENAI (2000). 53 5.4 DOENÇAS VÍRICAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS Os vírus entéricos podem ser de origem alimentar, aquática ou transmitidos aos alimentos por contato humano ou animal. Os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios, ou seja, não conseguem se multiplicar fora de uma célula hospedeira. Tipo de DTA Hepatite A Vírus Norwalk Rotavírus Tipo de doença Infecção Infecção Infecção Sintomas Afecção leve ou ausência de sintomas, febre, fadiga, desconforto geral, cefaleia, perda de apetite, náuseas, vômitos, desconforto abdominal e icterícia. Náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarreia, cefaleia e febre leve. Vômitos e diarreia, dor abdominal e febre leve. Incubação 10 a 15 dias 1 a 2 dias 1 a 3 dias Alimentos envolvidos Água, gelo, mariscos, frios, sanduíches, frutas, sucos de frutas, entre outros. Água, mariscos e frutos do mar, hortaliças cruas, frutas frescas e saladas e água contaminada. Água e gelo, alimentos crus e prontos para consumo, tais como: saladas, frutas e água contaminada. Duração 1 a 2 semanas 1 a 3 dias 4 a 8 dias Controle Evitar contaminação cruzada pelas mãos dos manipuladores, adquirir mariscos de fontes aprovadas. Cozinhar bem os alimentos, evitar contaminação cruzada, adquirir mariscos de fontes aprovadas. Cozinhar bem os alimentos, evitar contaminação cruzada, adquirir mariscos de fontes aprovadas. Fonte Trato gastrintestinal e urinário de seres humanos e água contaminada. Trato gastrintestinal humano e água contaminada. Trato gastrintestinal humano e água contaminada. FONTE: Adaptado de Elementos de Apoio para as Boas Práticas e Sistema APPCC, SENAI (2000); Doenças Transmitidas por Alimentos – Diadatus/MAPA (2009). 54 ----------------------FIM DO MÓDULO II--------------------- 54 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE BOAS PRÁTICAS PARA MANIPULADORES DE ALIMENTOS 55 Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação CURSO DE BOAS PRÁTICAS PARA MANIPULADORES DE ALIMENTOS MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 56 MÓDULO III 6 MANIPULAÇÃO HIGIÊNICA DOS ALIMENTOS As enfermidades causadas por alimentos contaminados constituem um dos problemas sanitários mais difundidos no mundo. A manipulação higiênica de alimentos começa pela adoção
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