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FUNCIONAMENTO DOS GRUPOS: ETAPAS NA VIDA DE UM GRUPO - Kurt Lewin Para entender um grupo na sua totalidade se faz necessário incluir a compreensão e a identificação das etapas de desenvolvimento na vida do grupo. Todo grupo passa por etapas em sua existência, que sinalizam as necessidades inerentes de um individuo num grupo. Vários autores abordaram estas fases, explicando suas características. Neste trabalho veremos estas etapas sob o enfoque de Kurt Lewin. Teórico que mais contribuiu tanto na teoria como na prática da psicologia social e organizacional. O poder da sua teoria esta baseada em “modelos” que precisam ser conceituadas e observadas em todos os processos de mudanças nas relações humanas. O modelo básico de todo processo de mudança segundo Lewin, esta inserida em três níveis: DESCONGELAMENTO – Caracteriza-se em informar, explicar e sensibilizar os indivíduos de um grupo a uma mudança de comportamento. Para que a mudança ocorra é necessário tirar o grupo de seu “equilíbrio quase estacionário” que se apóia num amplo campo de forças de impulsão e forças de contenção. As forças de contenção são as normais e as defesas psicológicas, sendo as mais difíceis de serem removidas (defesas). As forças de impulsão são as forças a favor das mudanças. O descongelamento se baseia em três processos: DESCONFIRMAÇÃO -É o começo da mudança, sua origem esta em alguma frustração de nossas expectativas que não foram confirmadas. A desconfirmação desperta o que chamamos de ansiedade de sobrevivência, ou seja, quando percebemos e sentimos que para satisfazermos nossas necessidades alcançamos nossas metas e ideais tem que haver uma mudança. Para isso, já devemos ter aceitado as nossas discordâncias como válidas e pertinentes. A partir daí entramos em contato com outro tipo de ansiedade que é a ansiedade de aprendizagem, que é quando admitimos tanto para nós como para os outros que algo esta errada, podendo originar a perda da afetividade, de auto-estima e talvez até de sua identidade. Esta é a força fundamental que proporciona diretamente a desconfirmação. É a partir deste procedimento que produz a mudança. A criação da segurança psicológica ou superação da ansiedade de aprendizagem é a chave para a administração da mudança efetiva, será a habilidade para equilibrar a quantidade de ameaça produzida pela desconfirmação com segurança psicológica suficiente para produzir informação que permitam aceitar o objetivo da mudança, sentindo a ansiedade de sobrevivência e motivado para mudar. MUDANÇA -É a fase do deslocamento das resistências e redução das tensões. Dá-se através da aceitação de novos valores, alguns autores denominam este processo de mudanças de cultura do individuo, outros de mudança de superego. Portanto, o objetivo só será atingido quando o novo conjunto de valores for livremente aceito e este corresponder ao superego dos indivíduos. Só assim ocorrerá aquelas mudanças de percepção social que constitui condição prévia para uma mudança de conduta. RECONGELAMENTO – Nesta fase há um novo estado de equilíbrio satisfatório para todos os membros do grupo. Cria-se um forte sentimento grupal. Há princípios de solidariedade grupal, que pertence compreender porque é possível atingir completa aceitação de fatos anteriormente rejeitados. A aceitação do novo sistema liga-se à aceitação de um grupo exposição de um determinado papel de uma fonte definida de autoridade com novas pontas de referencias. Nesta fase, para que se tenha êxito é fundamentais a aceitação dos novos fatos ou valores e a aceitação de alguns grupos ou papéis, e que esta atitude seja uma condição prévia. Kurt Lewin acredita que o meio influencia o indivíduo psicologicamente da mesma forma que o influencia fisicamente. Diz Lewin que a ação social é um fenômeno orientado pela percepção social, ou seja, “... pela posição em que nos percebemos a nós e aos outros no mundo”. Lewin ainda nos direciona a outra importante reflexão: “São fundamentalmente semelhantes os processos que governam a obtenção do normal e do anormal”. Esta afirmação merece atenção. Segundo Lewin, a origem do processo de educação de valores e condutas tende a levar em conta o paradigma vigente. Afirma que cientistas sociais concordam que as diferenças de conduta entre homens são adquiridas e não inatas, sendo o contexto onde o indivíduo está inserido o propulsor, o influenciador da educação ou aprendizagem do que é normal ou anormal. Ações com objetivo de promover educação ou reeducação de valores devem proporcionar, então, uma mudança de cultura, uma mudança do contexto atual. Trabalhar o indivíduo sem alterar o contexto, dificilmente gera mudança de conduta. O contexto inadequado atuará como força restritiva ao processo de aprendizagem. O indivíduo terá, para a eficácia da educação, que adquirir um novo sistema de hábitos e valores para conseguir internalizar o novo. Porém, mesmo quando a aprendizagem atinge os níveis cognitivos e de valores, ainda assim é necessário uma mudança no indivíduo no que tange a ação, a conduta, como nos ensina Lewin: “A reeducação corre com freqüência o perigo de atingir apenas o sistema oficial de valores, o nível de expressão verbal e não o de conduta; pode meramente provocar aumento da divergência entre o superego (a maneira como devo me sentir) e o ego (a maneira como de fato me sinto), e com isso suscitar no indivíduo uma consciência culposa. Tal discrepância conduz a um estado de grande tensão emocional, mas raramente a uma conduta correta. Pode adiar transgressões, mas tende a torná-las mais violentas quando ocorrem.” Todavia, vale lembrar que os obstáculos a serem superados nesse processo são obstáculos emocionais, diretamente ligados ao sistema de valores de cada um. Os indivíduos tendem a ter lealdade com os antigos valores e hostilidade com os novos, sejam de qual natureza for. Resumindo, Lewin apresenta o processo de educação de valores e condutas afetando internamente o indivíduo em três variáveis: Cognitivo - Fatos, conceitos, crenças – manifesto pelo discurso. Conduta – Ação motora, grau de controle sobre movimentos físicos e sociais - manifesta por meio de ações. Valores - Valência e valores, atrações e aversões, aprovação e desaprovação - podem ou não ser manifestos. Levando-se em conta as três variáveis que afetam o indivíduo para o processo de aprendizagem, vale a pena ressaltar que uma ou duas delas podem não ser suficientes. Assim, cada uma das formas de aprendizado tem as seguintes características: Estrutura Cognitiva – Embora os fatos tenham um forte apelo a nossa cultura cartesiana, Lewin prova que o saber pode facilmente ser deturpado por valores, ou seja, o indivíduo tende a ver apenas o que quer ver e pode facilmente deturpar sua percepção para evitar a mudança. A percepção, quando contaminada por valores, atribui conotação aos fatos. Existe a possibilidade de que a defasagem entre discurso e ação, vista tão freqüentemente nas organizações – onde se espera mudanças a partir de preleções, seja um comportamento típico de mudança não completa, que pode ser apenas repetição de um discurso, no qual a pessoa nem percebe que não mudou ou pode gerar sofrimento, como no caso do fumante que está ciente dos malefícios do cigarro, mas não consegue parar de fumar. Conduta / Motora – É possível um ser humano ser forçado a ter condutas que contrariam seus valores o que, portanto, não significa reeducação. Uma hipótese para a possibilidade de a conduta gerar mudança seria a sua associação imediata a um rótulo. Assim, no caso da conduta, a percepção influenciaria a mudança quando ela está atrelada a um rótulo.Valores / Afetivo - Os valores são passíveis de mudanças normalmente por meio de influência do grupo ou líder. Uma possível manifestação de valores divorciados da conduta e do discurso seriam as condutas mal feitas, isentas de motivação e que não dão certo, e discursos que não convencem. Percebe-se que o indivíduo não está inteiro na situação. “Só quando o novo conjunto de valores é livremente aceito, só quando corresponde ao superego do indivíduo, é que ocorrem aquelas mudanças de percepção social que, como vimos, constituem condição prévia para uma mudança de conduta e, portanto para um efeito duradouro.” Neste ponto, o que pode ser ressaltado, além da reafirmação dos conceitos de Kurt Lewin, é que talvez um importante fator no processo reeducativo, a exemplo do que ocorre em processos terapêuticos, é a importância de despertar o interesse nos indivíduos pelos novos modelos e padrões e que este deve optar pela mudança e pelo que lhe é novo de forma espontânea. Caso contrário, a mudança não será completa e o indivíduo não será nem o novo e nem o velho, mas algo intermediário, com grande comprometimento da atuação em seu novo papel. Discussão: 1) Qual a ideia central do texto? 2) Com base no texto, analise a afirmação de Lewin: “o que chamamos adaptação a uma situação nada mais é que ‘sintonização com uma atmosfera presente’.” 3) A reeducação, se mal empregada, pode gerar efeitos colaterais prejudiciais ao indivíduo ou grupo? Justifique.
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