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1 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto REAIS 1º BIMESTRE POSSE: art. 1196, CC CONCEITO: considera-se possuidor todo aquele que tem, de fato, o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade (pelo menos um dos itens do art. 1228). 1. USAR; 2. GOZAR/FRUIR – obter vantagem econômica; 3. DISPOR – modificar/destruir; 4. REAVER; Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. TEORIAS: 1. OBJETIVA (Hering) – possuidor é quem está fisicamente com a coisa (“corpus”); 2. SUBJETIVA (Savigny) – estar com a coisa e se sentir possuidor (“corpus” + “aninumus”); CLASSIFICAÇÃO: cria uma ficção jurídica que visa garantir direitos possessórios, mesmo a quem não está com a coisa. 1. POSSE DIRETA E INDIRETA (art. 1197) a. Possuidor direito – aquele que recebe a coisa por conta de um contrato; b. Possuidor indireto – entrega a coisa, temporariamente, ao possuidor direto; Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. 2. POSSE OBJETIVA E SUBJETIVA a. Objetiva (art. 1200) i. Justa – sem uso de violência; ii. Injusta 1. Violenta – uso da força; 2. Precária – desrespeito a um contrato; 3. Clandestina – forma oculta, sem a ciência do desapossado; As aquisições violentas e clandestinas permitem contagem de usucapião. Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária. b. Subjetiva – distingue o meio que se adquiriu (existência ou não de vícios) i. Má-fé – sabe-se da existência de vícios; ii. Boa-fé – desconhece-se a existência de vícios; Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção. Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente. 3. POSSE NOVA E VELHA a. Velha – adquirida a mais de um ano e um dia; b. Nova – aquela adquirida a menos de um ano e um dia; nestas ações possessórias se permite o deferimento de liminares; 4. PRÓ-DIVISO E PRÓ-INDIVISO a. Pró-diviso – exercida sobre coisa divisa; pode ser dividida sem a perda da essência da coisa principal. Exemplo: terreno (salvo exceções por causa do tamanho). b. Pró-indiviso – exercida sobre coisa indivisa; a coisa não pode ser dividida por se perder a essência da coisa principal. 2 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto Exemplo: cachorro. É possível vender a coisa para dividir o dinheiro. i. Parte ideal – pedaço da coisa comum que não é fisicamente identificado, correspondendo apenas a uma quota matemática do todo. ii. Fração ideal – pedaço fisicamente identificado da coisa comum; Na composse, o tratamento jurídico é distinto quando há partes ideias, de quando há frações ideais. 5. “AD INTERDICTA” E “AD USO CAPIONEM” a. “Ad Interdicta” – é aquela exercida em decorrência de um contrato condicionado e temporário de sessão da posse; contrato, usufruto, superfície b. “Ad uso Capionem” – aquela que não é “ad interdicta”, permitindo a contagem do prazo para o fim da usucapião. Invasores, compra de imóvel sem mudança do registro, contrato de gaveta EFEITOS DA POSSE – art. 1214 até 1228 1. AÇÕES POSSESSÓRIAS TÍPICAS: a. Reintegração – para os casos de esbulho (ato de 3º que impede o exercício da posse pelo legítimo titular); b. Manutenção – nos casos de turbação (ato de 3º que atrapalha o exercício da posse do legítimo titular); c. Interdito proibitório – pede-se ajuda jurisdicional contra séria ameaça de esbulho ou turbação; Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. § 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. § 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa. 2. FRUTOS – são coisas que nascem de outras coisas e que se reproduzem frequentemente e também se destacam tendo essência individualizada da coisa principal. Pertencem ao possuidor de boa-fé. a. Naturais – ressurgem independentemente de ação humana; b. Industriais – dependem de ação humana; c. Civis – quando se trata de renda; O possuidor de má-fé não tem direito aos frutos, fazendo jus apenas as despesas de produção e custeio; Possuidor de boa e má-fé dever ter as despesas restituídas caso, ao fim do contrato com o proprietário ainda existam frutos pendentes. Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos. Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação. Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que são separados; os civis reputam-se percebidos dia por dia. Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio. 3. BEM FEITORIAS – acréscimos na coisa tida como principal. a. Necessárias – manutenção da coisa; b. Úteis – melhoram ou valorizam a coisa principal de acordo com sua finalidade; c. Voluptuárias – fim estético; embelezamento; O possuidor de boa-fé tem direito a indenização por bem feitorias necessárias e úteis que realizar na coisa, assim como tem direito de retenção da coisa até receber a sua indenização e o direito de retirar as bem feitorias voluptuárias que não forem indenizadas, sem deteriorar a coisa principal. O possuidor de má-fé só recebe indenização pelas bem feitorias necessárias. 3 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias. Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem. Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual. 4. PERDA OU DETERIORAÇÃO DA COISA – caracteriza-se quando uma coisa, por qualquer motivo, deixa de servir a sua finalidade essencial. a. Possuidor de boa-fé – tem responsabilidadesubjetiva, ou seja, só responde se agiu com culpa (dolo + culpa: imprudência, imperícia e negligência); b. Possuidor de má-fé – tem responsabilidade objetiva, respondendo independentemente de culpa. A única exceção ocorre quando o possuidor de má-fé pode comprovar que os danos ocorreram do mesmo modo com os bens na mão do proprietário; Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa. Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante. AQUISIÇÃO E PERDA 1. AQUISIÇÃO: a. Originária – não guarda vínculo com eventuais históricos anteriores de posse (quem adquire desta forma não tem responsabilidade pelo passado da coisa); ocorre por meio da ocupação ou apreensão da coisa; b. Derivada – representa o fato de que a posse foi recebida por outro possuidor, nas hipóteses de contratos (singular) ou sucessão hereditária (universal); Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. Art. 1.205. A posse pode ser adquirida: I - Pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; II - Por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres. Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais. Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. Art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas móveis que nele estiverem. 2. PERDA: a. Abandono – caracteriza-se por atos notórios do desejo de não mais possuir uma coisa; o abandono de coisa imóvel não caracteriza perda da propriedade. b. Colocação fora do comércio – a coisa é tornada ilegal (ex: produtos químicos, remédios); c. Destruição da coisa – encerra-se a relação obrigacional (torna-se impossível); Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196. Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido. PROPRIEDADE: CONCEITO – direito concedido a todo aquele que, por alguma razão, pode exercer os poderes de usar, fruir, gozar, dispor e reaver uma coisa (art. 1228). A propriedade é possível sobre uma coisa móvel e imóvel, bem como sobre coisas incorpóreas (direito autoral). 1. DOMÍNIO – quando alguém tem sobre a coisa todos os direitos de propriedade, mas não tem registro/título; 2. PROPRIEDADE – direitos do art. 1228 + registro; 3. POSSE – alguns direitos da propriedade; Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. 4 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las. Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais. CARACTERISTICAS: 1. COMPLEXIDADE – a propriedade é um direito complexo, tendo em vista que seu exercício pode ocorrer em uma variedade de contextos de usar, fruir, dispor e reaver a coisa de quem injustamente a possui. Pode ser exercida de forma plena ou parcial, dependendo da sessão ou não da parcela de seus poderes a terceiros. A propriedade resolúvel corresponde àquela que depende da realização de alguma condição para tornar-se plena. Exemplos: alienação fiduciária, compromisso de compra e venda, cláusula resolutiva, cláusula de retrovenda, doação com encargos... Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário. 2. PERPETUIDADE – em regra, a propriedade é um direito perpétuo, ou seja, a propriedade não tem prazo, o proprietário permanece como tal independente do curso do tempo, transmitindo-se a herdeiros. 3. EXCLUSIVIDADE – o direito de propriedade pode ser exercido de forma exclusiva por seu titular, sem que exista a obrigação de compartilhá-lo com outras pessoas. 4. ABSOLUTISMO – a propriedade é um direito absoluto, que não deve sofrer restrições por parte do Poder Público, salvo em situações excepcionais de interesse social (função social). FORMA DE AQUISIÇÃO: 1. REGISTRO DE IMÓVEIS: o Registro de Imóveis é o Órgão Público (cartório) responsável pelo arquivamento das matrículas imobiliárias, cada imóvel possui uma matrícula. a. As informações do cartório do Registro de Imóveis são públicas, podendo ser consultadas por qualquer interessado particular ou público; b. Qualquer contrato de envolva imóvel, somente adquire eficácia “erga omnes” quando registrado na matrícula imobiliária; c. Quando o valor do bem for superior a 30 salários mínimos, é necessária escritura pública; d. O sistema jurídico reconhece validade a instrumentos particulares não publicitados na Matrícula Imobiliária. Assim, eventualmente, o bem de família, compromissos de compra e venda, servidão, direito de preferência, entre outros, podem vir a ser reconhecidos os seus efeitos pelo judiciário mesmo quando por “contratos de gaveta”; 2. USUCAPIÃO – forma de aquisição de propriedade com base na posse. Espécie de prescrição aquisitiva que tem como consequências a perda do direito de propriedade do proprietário relapso, com a consequente aquisição do possuidor usucapiente. Ou seja, é uma forma de punição do proprietário relapso que não utiliza, beneficiando o possuidor que faz uso útil. a. Requisitos: i. Posse “ad usucapionem” – possui “animus domini” (desejo legalmente possível de se sentir dono); ii. Posse incontestável – contestação pode ser feita judicial ou extrajudicialmente e ela interrompe a contagem de tempo aquisitivo; a. Continua – deve ser exercida sem interrupções; b. Tempo – em regra, 15 anos de forma continua e incontestada; b. Formas de usucapião: i. Usucapião Extraordinária (art. 1238) – 15 anos, e não possui requisitos adicionais; 5 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. ii. Usucapião Extraordinária Reduzida (art. 1238, p.ú.) – 10 anos, desde que seja com a finalidade de moradia ou que esteja gerando investimentos produtivos; Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. iii. Usucapião Rural (art. 1239) – 5 anos, desde que seja para moradia e trabalho, o terreno seja superior a 50 hectares e não tenha outro terreno;art. 191, CF Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. iv. Usucapião Urbana (art. 1240) – 5 anos, desde que o terreno tenha 250 metros quadrados, não tenha outro terreno e seja para morar; art. 183, CF Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1o O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2o O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez v. Usucapião Urbana Residencial Familiar/Entre Cônjuges (art. 1240-A) – 2 anos, nas mesmas hipóteses da Usucapião Urbana, além da necessidade de haver um casal e o abandono do terreno por uma das partes; Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade dívida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1o O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. vi. Usucapião Ordinária (art. 1242) – 10 anos, desde que tenha justo título e boa-fé; Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. vii. Usucapião Ordinária Reduzida/Tabular (art. 1242, p.ú.) – 5 anos, com justo título (registro de imóveis) e o registro tenha sido cancelado. Uso para moradia; Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico. viii. Usucapião Coletiva (art. 10, Estatuto das Cidades) – 5 anos, com o terreno menor de 250 metros quadrados e visando a coletividade; Art. 10. As áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. § 1o O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas. § 2o A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis. § 3o Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais diferenciadas. § 4o O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio. 6 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto § 5o As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão tomadas por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também os demais, discordantes ou ausentes. 2º BIMESTRE PROPRIEDADE: FORMA DE AQUISIÇÃO: 3. ACESSÕES NATURAIS – A acessão natural é o acréscimo de áreas em imóveis à margem de rios em decorrência da sua movimentação natural. É importante que o rio seja particular, o que significa não ser público (rio público: rio navegável, rio de divisa ou fronteira e por fim, rio com norma definido como de interesse público). a. Hipóteses de acessões naturais: i. Formação de ilhas: Caso surja uma ilha no meio do rio, os proprietários poderão ter a aquisição do desta ilha. Art. 1.249. As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares pertencem aos proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguintes: I - As que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais; II - Aas que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado; III - As que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram. ii. Aluvião: Corresponde ao acréscimo lento e gradual paulatino de áreas em imóveis marginais pela movimentação natural das aguas, tanto por sedimentação (aluvião própria) quanto pelo deslocamento gradual do álveo (aluvião imprópria). Conforme o tempo, vai se deslocando, podendo o terreno ficar maior por conta disto, ou seja, o rio se movimenta para outro lugar. Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização. Parágrafo único. O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem. iii. Avulsão: É o movimento brusco, repentino, violento do curso da água movimentando materiais do leito (álveo) de um imóvel para outro. Acarreta uma solução em três etapas: 1. O proprietário que recebeu o material pode ficar com ele desde que indenize quem perdeu se este reclamar no prazo de um ano. 2. Se o proprietário que recebeu o material não quiser pagar a indenização deve permitir que o que perdeu retire seu material no prazo de um ano. 3. Se quem perdeu o material não reclamar indenização ou não retirar seu material deixa-se tudo como a natureza modificou. Art. 1.251. Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver reclamado. Parágrafo único. Recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que se juntou a porção de terra deverá aquiescer a que se remova a parte acrescida. iv. Álveo Abandonado: É o leito seco de um rio tanto porque a agua deixou de correr quanto pela abertura de um novo braço de rio. Tem dever de indenização prevista em lei. Art. 1.252. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo. 7 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto 4. ACESSÕES ARTIFICIAIS: Conhecidas também como industriais, verticais ou humanas. Os artigos seguintes(1.253 a 1.259) tratam de confusão patrimonial (sementes, plantas, construções de uma pessoa em solo de outra pessoa). a. Regras gerais: i. O código vai sempre evitar o enriquecimento sem causa; ii. O código vai privilegiar a coisa principal à coisa secundária. iii. O código vai sempre beneficiar quem agiu de boa-fé (invasor de boa- fé). Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário. b. Hipóteses de acessões artificiais: i. Semeadura/plantação/construções (SCP) com material alheio em solo próprio – o dono do solo adquire a propriedade das matérias primas mediante indenização do dono destas. Porém se agiu de má-fé, responde por perdas e danos. Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé. ii. Semeadura/plantação/construções (SPC) com material próprio em solo/terreno alheio – perdem-se as SPC para o dono do solo que deve indenizar o semeador/plantador/construtor de boa-fé. Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização. Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo. Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões. Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua. iii. Semeadura/plantação/construção (SPC) com material alheio em solo alheio; Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de não pertencerem as sementes, plantas ou materiais a quem de boa-fé os empregou em solo alheio. Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou construtor. iv. Construção com invasão de solo alheio 1. Quando a invasão corresponde até 5% do solo a. Boa-fé: Desapropriação privada. b. Má-fé: Desapropriação privada. Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente. Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção. 2. Quando a invasão corresponder mais de 5% do solo a. Boa-fé: Desapropriação privada. b. Má-fé: Não permite desapropriação privada. Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro. 8 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto FORMAS DE AQUISIÇÃO DE PROPRIEDADE MÓVEL: 1. TRADIÇÃO – É a forma por excelência de aquisição da propriedade móvel mesmo quando existirem registros administrativos para certos bens, tais como, veículos e armas. A tradição é a entrega da coisa com a intenção de transmitir direitos. No caso da propriedade móvel, a tradição deve decorrer de um negócio jurídico válido, que tenha pôr fim a mudança do domínio. Ex: Caso se “A” vier a transferir o carro mediante a tradição e “B” prometer pagar semana que vem e não paga, somente pela VIA PROCESSUAL poderá reaver o direito de ter o carro de volta. A tradição pode ser real quando ocorre de fato. A tradição pode ser simbólica quando substituída por um ato diverso da entrega real da coisa. A tradição pode ser ficta quando efetivada mediante clausula contratual (em algumas situações as partes não querem ou não podem realizar a tradição de outro modo). Ex.: da tradição ficta: Constituto possessório – No constituto o proprietário da coisa torna-se possuidor mediante previsão contratual, por exemplo, no contexto da alienação fiduciária (financiamento) Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico. Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono. § 1o Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade, considera-se realizada a transferência desde o momento em que ocorreu a tradição. § 2o Não transfere a propriedade a tradição, quando tiver por título um negócio jurídico nulo. 2. USUCAPIÃO MÓVEL – existem dois contextos de usucapião de propriedade móvel: a. Ordinário com prazo de três anos exigindo justo título e boa-fé. Art. 1.260. Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente durante três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade. b. Extraordinário com prazo de cinco anos independentemente de justo título e boa-fé. Art. 1.261. Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá usucapião, independentemente de título ou boa-fé. Art. 1.262. Aplica-se à usucapião das coisas móveis o disposto nos arts. 1.243 e 1.244. 3. OCUPAÇÃO – A ocupação de coisa móvel sem dono ou abandonada torna o ocupante seu proprietário. Coisa sem dono é aquela que nunca o teve ou aquela que foi renunciada. Coisa abandonada é aquela que foi deixada pelo antigo titular com a intenção de abdicar desse direito. OBS: Coisas perdidas, nos termos do art. 1.233 ss não podem ser ocupadas. Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente. Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la. Parágrafo único. Na determinação do montante da recompensa, considerar-se-á o esforço desenvolvido pelo descobridor para encontrar o dono, ou o legítimo possuidor, as possibilidades que teria este de encontrar a coisa e a situação econômica de ambos.Art. 1.235. O descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou possuidor legítimo, quando tiver procedido com dolo. Art. 1.236. A autoridade competente dará conhecimento da descoberta através da imprensa e outros meios de informação, somente expedindo editais se o seu valor os comportar. Art. 1.237. Decorridos sessenta dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do edital, não se apresentando quem comprove a propriedade sobre a coisa, será esta vendida em hasta pública e, deduzidas do preço as despesas, mais a recompensa do descobridor, pertencerá o remanescente ao Município em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido. 9 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto Parágrafo único. Sendo de diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa em favor de quem a achou. 4. ACHADO DE TESOURO – Tesouro é coisa antiga, escondida cujo proprietário não possa ser localizado. O descobridor de um tesouro quando autorizado pelo dono do imóvel da descoberta partilha com este o achado, caso não autorizado perde para o dono do imóvel a descoberta. Art. 1.264. O depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória, será dividido por igual entre o proprietário do prédio e o que achar o tesouro casualmente. Art. 1.265. O tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio, se for achado por ele, ou em pesquisa que ordenou, ou por terceiro não autorizado. Art. 1.266. Achando-se em terreno aforado, o tesouro será dividido por igual entre o descobridor e o enfiteuta, ou será deste por inteiro quando ele mesmo seja o descobridor. 5. ESPECIFICAÇÃO – É a transformação pelo especificador de matéria prima de outra pessoa criando coisa de espécie nova que não pode ser desfeita. É um contexto de confusão patrimonial. O código civil favorece o especificador concedendo-lhe o direito de ficar com a coisa especificada mediante indenização do dono da matéria prima. Art. 1.269. Aquele que, trabalhando em matéria-prima em parte alheia, obtiver espécie nova, desta será proprietário, se não se puder restituir à forma anterior. Art. 1.270. Se toda a matéria for alheia, e não se puder reduzir à forma precedente, será do especificador de boa-fé a espécie nova. § 1o Sendo praticável a redução, ou quando impraticável, se a espécie nova se obteve de má-fé, pertencerá ao dono da matéria-prima. § 2o Em qualquer caso, inclusive o da pintura em relação à tela, da escultura, escritura e outro qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, a espécie nova será do especificador, se o seu valor exceder consideravelmente o da matéria-prima. Art. 1.271. Aos prejudicados, nas hipóteses dos arts. 1.269 e 1.270, se ressarcirá o dano que sofrerem, menos ao especificador de má-fé, no caso do § 1o do artigo antecedente, quando irredutível a especificação. 6. CONFUSÃO PATRIMONIAL DECORRERNTES DA MISTURA OU UNIÃO DE COISA DE PROPRIETARIOS DIFERENTES – confusão Patrimonial; mistura ou união de coisas de proprietários diferentes. A confusão corresponde à mistura de coisas liquidas de proprietários diferentes. A comissão corresponde à mistura de coisas solidas de proprietários diferentes. A adjunção é a união de coisas solidas de proprietários diferentes. O código civil resolve estes contextos em três etapas: a. A coisa toda misturada ou adjuntada pertence aos donos das matérias originais em condomínio na proporção do valor de cada uma. b. Se uma das coisas misturadas ou adjuntadas puder ser tida como principal frente a outra, o dono daquela será o dono de tudo mediante indenização do dono desta. c. Se um dos proprietários das coisas misturadas ou adjuntadas for o responsável pelo problema o outro pode decidir se fica com tudo indenizando o causador ou se deixa tudo com o causador, sendo ele indenizado. Art. 1.272. As coisas pertencentes a diversos donos, confundidas, misturadas ou adjuntadas sem o consentimento deles, continuam a pertencer-lhes, sendo possível separá-las sem deterioração. § 1o Não sendo possível a separação das coisas, ou exigindo dispêndio excessivo, subsiste indiviso o todo, cabendo a cada um dos donos quinhão proporcional ao valor da coisa com que entrou para a mistura ou agregado. § 2o Se uma das coisas puder considerar-se principal, o dono sê-lo-á do todo, indenizando os outros. Art. 1.273. Se a confusão, comissão ou adjunção se operou de má-fé, à outra parte caberá escolher entre adquirir a propriedade do todo, pagando o que não for seu, abatida a indenização que lhe for devida, ou renunciar ao que lhe pertencer, caso em que será indenizado. Art. 1.274. Se da união de matérias de natureza diversa se formar espécie nova, à confusão, comissão ou adjunção aplicam-se as normas dos arts. 1.272 e 1.273. PERDA DA PROPRIEDADE: Perde-se a propriedade basicamente nos mesmos contextos em que alguém adquire o direito de propriedade. 10 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto 1. ALIENAÇÃO – é a transmissão causa mortis ou inter vivos, gratuita ou onerosa a outra pessoa. 2. RENÚNCIA – é a manifestação expressa do desejo de não mais querer uma coisa; no caso dos imóveis, exige escritura pública. 3. ABANDONO – é o ato que permite presumir o desejo de não mais querer uma coisa; não acarreta a perda da propriedade imóvel. 4. PERECIMENTO – ocorre quando uma coisa é perdida e não mais localizada ou quando é destruída. 5. DESAPROPRIAÇÃO: quando o Poder Público decide tomar a coisa para si por entende-la de utilidade pública; há indenização. Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade: I - Por alienação; II - Pela renúncia; III - Por abandono; IV - Por perecimento da coisa; V - Por desapropriação. Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis. Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições. § 1o O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize. § 2o Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo, quando, cessados os atos de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais. DIREITO DE VIZINHANÇA: A lei no Direito de Vizinhança busca regulamentar regras mínimas de convívio entre vizinhos. O Direito de Vizinhança relativiza o exercício absoluto do direito de propriedade em benefício do coletivo. Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha. USO ANORMAL DA PROPRIEDADE: É aquele que perturba a saúde, o sossego ou a segurança da vizinhança. O Código Civil permite que todo vizinho possa reclamar judicialmente em caso de perturbações dessa espécie buscando uma atitude judicial. O judiciário tem o poder de intervir paralisando, modificando e impondo indenizações e multas contra o perturbador particular. No caso do perturbador público, o judiciário não pode paralisar atividades. Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciaisà segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha. Parágrafo único. Proíbem-se as interferências considerando-se a natureza da utilização, a localização do prédio, atendidas as normas que distribuem as edificações em zonas, e os limites ordinários de tolerância dos moradores da vizinhança. Art. 1.278. O direito a que se refere o artigo antecedente não prevalece quando as interferências forem justificadas por interesse público, caso em que o proprietário ou o possuidor, causador delas, pagará ao vizinho indenização cabal. Art. 1.279. Ainda que por decisão judicial devam ser toleradas as interferências, poderá o vizinho exigir a sua redução, ou eliminação, quando estas se tornarem possíveis. Art. 1.280. O proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio vizinho a demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como que lhe preste caução pelo dano iminente. Art. 1.281. O proprietário ou o possuidor de um prédio, em que alguém tenha direito de fazer obras, pode, no caso de dano iminente, exigir do autor delas as necessárias garantias contra o prejuízo eventual. ÁRVORES LIMITROFES: As árvores que nascem em divisas de imóveis são copropriedade dos donos vizinhos, exigindo que entrem em acordo quanto a qualquer ato a elas referente. Em resumo, são condomínio forçado. 1. ÁRVORES – As árvores que nascem num imóvel, pertencem ao dono deste. 11 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto 2. RAÍZES – As raízes e galhos que crescem para o imóvel vizinho podem ser por este cortado no alinhamento da divisa. 3. FRUTOS – Os frutos da arvore pertencem, enquanto pendentes, ao dono da arvore, caídos passam a pertencer ao dono do imóvel onde caíram. Os frutos caídos em área pública continuam a pertencer ao dono da arvore. Art. 1.282. A árvore, cujo tronco estiver na linha divisória, presume-se pertencer em comum aos donos dos prédios confinantes. Art. 1.283. As raízes e os ramos de árvore, que ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical divisório, pelo proprietário do terreno invadido. Art. 1.284. Os frutos caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se este for de propriedade particular. PASSAGEM FORÇADA: Todo imóvel enclausurado, tem o direito de obter, judicialmente, acesso a via pública, estabelecido judicialmente por onde for mais fácil, mediante indenização dos afetados. O Código Civil, a partir de sua vigência, não permite a subdivisão de lotes deixando partes enclausuradas. 1. SERVIDÃO: acordo de passagem entre as partes. 2. PASSAGEM FORÇADA: conseguido judicialmente uma passagem. Art. 1.285. O dono do prédio que não tiver acesso à via pública, nascente ou porto, pode, mediante pagamento de indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo será judicialmente fixado, se necessário. § 1o Sofrerá o constrangimento o vizinho cujo imóvel mais natural e facilmente se prestar à passagem. § 2o Se ocorrer alienação parcial do prédio, de modo que uma das partes perca o acesso à via pública, nascente ou porto, o proprietário da outra deve tolerar a passagem. § 3o Aplica-se o disposto no parágrafo antecedente ainda quando, antes da alienação, existia passagem através de imóvel vizinho, não estando o proprietário deste constrangido, depois, a dar uma outra. PASSAGEM DE CABOS E TUBULAÇÕES: Todo proprietário é obrigado a permitir a passagem de cabos e tubulações de serviços públicos quando necessário para atender a vizinhança. O proprietário atingido deve ser indenizado pelo beneficiado. Após a indenização, pode o atingido mudar a passagem de lugar arcando com os custos da mudança. Art. 1.286. Mediante recebimento de indenização que atenda, também, à desvalorização da área remanescente, o proprietário é obrigado a tolerar a passagem, através de seu imóvel, de cabos, tubulações e outros condutos subterrâneos de serviços de utilidade pública, em proveito de proprietários vizinhos, quando de outro modo for impossível ou excessivamente onerosa. Parágrafo único. O proprietário prejudicado pode exigir que a instalação seja feita de modo menos gravoso ao prédio onerado, bem como, depois, seja removida, à sua custa, para outro local do imóvel. Art. 1.287. Se as instalações oferecerem grave risco, será facultado ao proprietário do prédio onerado exigir a realização de obras de segurança. ÁGUAS: O Código Civil permite que todo proprietário faça uso da agua que passa por seu imóvel no limite “normal”, não se permite, entretanto, a alteração dos cursos da agua prejudicando a vizinhança. O proprietário que causar danos por eles responderá. Art. 1.288. O dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado a receber as águas que correm naturalmente do superior, não podendo realizar obras que embaracem o seu fluxo; porém a condição natural e anterior do prédio inferior não pode ser agravada por obras feitas pelo dono ou possuidor do prédio superior. Art. 1.289. Quando as águas, artificialmente levadas ao prédio superior, ou aí colhidas, correrem dele para o inferior, poderá o dono deste reclamar que se desviem, ou se lhe indenize o prejuízo que sofrer. Parágrafo único. Da indenização será deduzido o valor do benefício obtido. Art. 1.290. O proprietário de nascente, ou do solo onde caem águas pluviais, satisfeitas as necessidades de seu consumo, não pode impedir, ou desviar o curso natural das águas remanescentes pelos prédios inferiores. Art. 1.291. O possuidor do imóvel superior não poderá poluir as águas indispensáveis às primeiras necessidades da vida dos possuidores dos imóveis inferiores; as demais, que poluir, deverá recuperar, ressarcindo os danos que estes sofrerem, se não for possível a recuperação ou o desvio do curso artificial das águas. Art. 1.292. O proprietário tem direito de construir barragens, açudes, ou outras obras para represamento de água em seu prédio; se as águas represadas invadirem prédio alheio, será o seu proprietário indenizado pelo dano sofrido, deduzido o valor do benefício obtido. Art. 1.293. É permitido a quem quer que seja, mediante prévia indenização aos proprietários prejudicados, construir canais, através de prédios alheios, para receber as águas a que tenha direito, indispensáveis às primeiras necessidades da vida, e, desde que não cause prejuízo considerável à 12 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto agricultura e à indústria, bem como para o escoamento de águas supérfluas ou acumuladas, ou a drenagem de terrenos. § 1o Ao proprietário prejudicado, em tal caso, também assiste direito a ressarcimento pelos danos que de futuro lhe advenham da infiltração ou irrupção das águas, bem como da deterioração das obras destinadas a canalizá-las. § 2o O proprietário prejudicado poderá exigir que seja subterrânea a canalização que atravessa áreas edificadas, pátios, hortas, jardins ou quintais. § 3o O aqueduto será construído de maneira que cause o menor prejuízo aos proprietários dos imóveis vizinhos, e a expensas do seu dono, a quem incumbem também as despesas de conservação. Art. 1.294. Aplica-se ao direito de aqueduto o disposto nos arts. 1.286 e 1.287. Art. 1.295. O aqueduto não impedirá que os proprietários cerquem os imóveis e construam sobre ele, sem prejuízo para a sua segurança e conservação; os proprietários dos imóveis poderão usar das águas do aqueduto para as primeiras necessidades da vida. Art. 1.296. Havendo no aqueduto águas supérfluas, outros poderão canalizá-las, para os fins previstos no art. 1.293, mediante pagamento de indenização aos proprietários prejudicados e ao dono do aqueduto, de importânciaequivalente às despesas que então seriam necessárias para a condução das águas até o ponto de derivação. Parágrafo único. Têm preferência os proprietários dos imóveis atravessados pelo aqueduto. DIREITO DE TAPAGEM: Todo proprietário tem o direito de delimitar o seu imóvel de acordo com os costumes e normas locais, dividindo os custos com os proprietários vizinhos. Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas. § 1o Os intervalos, muros, cercas e os tapumes divisórios, tais como sebes vivas, cercas de arame ou de madeira, valas ou banquetas, presumem-se, até prova em contrário, pertencer a ambos os proprietários confinantes, sendo estes obrigados, de conformidade com os costumes da localidade, a concorrer, em partes iguais, para as despesas de sua construção e conservação. § 2o As sebes vivas, as árvores, ou plantas quaisquer, que servem de marco divisório, só podem ser cortadas, ou arrancadas, de comum acordo entre proprietários. § 3o A construção de tapumes especiais para impedir a passagem de animais de pequeno porte, ou para outro fim, pode ser exigida de quem provocou a necessidade deles, pelo proprietário, que não está obrigado a concorrer para as despesas. Art. 1.298. Sendo confusos, os limites, em falta de outro meio, se determinarão de conformidade com a posse justa; e, não se achando ela provada, o terreno contestado se dividirá por partes iguais entre os prédios, ou, não sendo possível a divisão cômoda, se adjudicará a um deles, mediante indenização ao outro. DIREITO DE CONSTRUIR: O Código Civil estabeleceu regras básicas do direito de se construir em imóvel próprio normas locais especialmente as Municipais costumam restringir de maneiro muito mais detalhada o direito de construir; Art. 1.299. O proprietário pode levantar em seu terreno as construções que lhe aprouver, salvo o direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos. Art. 1.300. O proprietário construirá de maneira que o seu prédio não despeje águas, diretamente, sobre o prédio vizinho. Art. 1.301. É defeso abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou varanda, a menos de metro e meio do terreno vizinho. § 1º As janelas cuja visão não incida sobre a linha divisória, bem como as perpendiculares, não poderão ser abertas a menos de setenta e cinco centímetros. § 2º As disposições deste artigo não abrangem as aberturas para luz ou ventilação, não maiores de dez centímetros de largura sobre vinte de comprimento e construídas a mais de dois metros de altura de cada piso. Art. 1.302. O proprietário pode, no lapso de ano e dia após a conclusão da obra, exigir que se desfaça janela, sacada, terraço ou goteira sobre o seu prédio; escoado o prazo, não poderá, por sua vez, edificar sem atender ao disposto no artigo antecedente, nem impedir, ou dificultar, o escoamento das águas da goteira, com prejuízo para o prédio vizinho. Parágrafo único. Em se tratando de vãos, ou aberturas para luz, seja qual for a quantidade, altura e disposição, o vizinho poderá, a todo tempo, levantar a sua edificação, ou contramuro, ainda que lhes vede a claridade. Art. 1.303. Na zona rural, não será permitido levantar edificações a menos de três metros do terreno vizinho. Art. 1.304. Nas cidades, vilas e povoados cuja edificação estiver adstrita a alinhamento, o dono de um terreno pode nele edificar, madeirando na parede divisória do prédio contíguo, se ela suportar a nova construção; mas terá de embolsar ao vizinho metade do valor da parede e do chão correspondentes. Art. 1.305. O confinante, que primeiro construir, pode assentar a parede divisória até meia espessura no terreno contíguo, sem perder por isso o direito a haver meio valor dela se o vizinho a travejar, caso em que o primeiro fixará a largura e a profundidade do alicerce. Parágrafo único. Se a parede divisória pertencer a um dos vizinhos, e não tiver capacidade para ser travejada pelo outro, não poderá este fazer-lhe alicerce ao pé sem prestar caução àquele, pelo risco a que expõe a construção anterior. Art. 1.306. O condômino da parede-meia pode utilizá-la até ao meio da espessura, não pondo em risco a segurança ou a separação dos dois prédios, e avisando previamente o outro condômino das obras 13 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto que ali tenciona fazer; não pode sem consentimento do outro, fazer, na parede-meia, armários, ou obras semelhantes, correspondendo a outras, da mesma natureza, já feitas do lado oposto. Art. 1.307. Qualquer dos confinantes pode altear a parede divisória, se necessário reconstruindo-a, para suportar o alteamento; arcará com todas as despesas, inclusive de conservação, ou com metade, se o vizinho adquirir meação também na parte aumentada. Art. 1.308. Não é lícito encostar à parede divisória chaminés, fogões, fornos ou quaisquer aparelhos ou depósitos suscetíveis de produzir infiltrações ou interferências prejudiciais ao vizinho. Parágrafo único. A disposição anterior não abrange as chaminés ordinárias e os fogões de cozinha. Art. 1.309. São proibidas construções capazes de poluir, ou inutilizar, para uso ordinário, a água do poço, ou nascente alheia, a elas preexistentes. Art. 1.310. Não é permitido fazer escavações ou quaisquer obras que tirem ao poço ou à nascente de outrem a água indispensável às suas necessidades normais. Art. 1.311. Não é permitida a execução de qualquer obra ou serviço suscetível de provocar desmoronamento ou deslocação de terra, ou que comprometa a segurança do prédio vizinho, senão após haverem sido feitas as obras acautelatórias. Parágrafo único. O proprietário do prédio vizinho tem direito a ressarcimento pelos prejuízos que sofrer, não obstante haverem sido realizadas as obras acautelatórias. Art. 1.312. Todo aquele que violar as proibições estabelecidas nesta Seção é obrigado a demolir as construções feitas, respondendo por perdas e danos. Art. 1.313. O proprietário ou ocupante do imóvel é obrigado a tolerar que o vizinho entre no prédio, mediante prévio aviso, para: I - Dele temporariamente usar, quando indispensável à reparação, construção, reconstrução ou limpeza de sua casa ou do muro divisório; II - Apoderar-se de coisas suas, inclusive animais que aí se encontrem casualmente. § 1º O disposto neste artigo aplica-se aos casos de limpeza ou reparação de esgotos, goteiras, aparelhos higiênicos, poços e nascentes e ao aparo de cerca viva. § 2º Na hipótese do inciso II, uma vez entregues as coisas buscadas pelo vizinho, poderá ser impedida a sua entrada no imóvel. § 3º Se do exercício do direito assegurado neste artigo provier dano, terá o prejudicado direito a ressarcimento. DO CONDOMÍNIO: ESPÉCIES: 1. GERAL: Corresponde a todo e qualquer contexto em que duas ou mais pessoas sejam coproprietárias de um único bem. Podem ser de frações ou de parte ideal (EXEMPLO: três irmãos compram um imóvel). 2. EDILÍCIO: Espécie em que cada coproprietário é dono de frações e de partes ideais da coisa comum. As frações correspondem a pedaços identificados, de uso exclusivo, enquanto, partes são pedaços meramente matemáticos de áreas de uso comum (EXEMPLO: prédio, condomínios de casas). REGRAS DO CONDOMINIO GERAL: 1. A administração do condomínio geral ocorre por deliberações dos coproprietários e por maioria de cotas. 2. Impasses decorrentes de empates nas deliberações devem ser decididos no Judiciário. 3. Os frutos e as despesas da coisa comum devem ser divididos na proporção das cotas. 4. Todo coproprietáriotem o direito de exigir a divisão ou a alienação da coisa comum para desfazer o estado condominial. 5. É possível aos coproprietários convencionar indivisibilidade da coisa comum, o prazo, entretanto, não pode exceder 5 anos (renováveis), entretanto graves razoes permitem a divisão ou alienação antes do prazo convencionado. REGRAS GERAIS DO CONDOMINIO EDILICIO: 1. Tem personalidade jurídica, o que significa que pode obter CNPJ e realizar negócios jurídicos (contratos, compras, conta bancaria, contratação de funcionários, ser sujeito ativo/passivo do processo) em nome do condomínio. 2. O sindico é o representante da pessoa jurídica do condomínio edilício, deve ser escolhido em assembleia nos termos da convenção condominial pelo prazo máximo de dois anos. Os poderes do sindico estão adstritos à lei e a convenção condominial cuja minuta, deve estar registrada na matricula do terreno antes da alienação, na planta ou acabada, da primeira unidade. 3. A modificação da convenção condominial exige a anuência/voto de dois terços dos condôminos. Há dois assuntos que exigem unanimidade: a finalidade do condomínio 14 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto edilício (residencial – mudar para comercial ou vice-versa) e a unidade do condomínio edilício também exige unanimidade – a unidade corresponde a distribuição das áreas comuns entre os proprietários, portanto, qualquer aumento ou diminuição das áreas comuns que exigiram a modificação das matriculas de todas as unidades deve ser aprovada por todos os condôminos. OBRAS NO CONDOMINIO EDILICIO: 1. A realização de obras voluptuárias (estética) de condomínio edilício depende da aprovação de 2/3 dos condôminos. (Art. 1.341, I) 2. As obras de natureza útil (melhora) devem ter aprovação da maioria dos proprietários. (Art. 1.341, II) 3. As obras necessárias (manutenção) podem ser realizadas por qualquer morador que poderá cobrar os gastos do condomínio, ou seja, não precisa de assembleia e da aprovação do sindico. Se a obra necessária exigir despesa elevada qualquer morador pode promover o que for urgente convocando assembleia para deliberar a respeito das próximas providencias. Art. 1.341. A realização de obras no condomínio depende: I - Se voluptuárias, de voto de dois terços dos condôminos; II - Se úteis, de voto da maioria dos condôminos. § 1o As obras ou reparações necessárias podem ser realizadas, independentemente de autorização, pelo síndico, ou, em caso de omissão ou impedimento deste, por qualquer condômino. § 2o Se as obras ou reparos necessários forem urgentes e importarem em despesas excessivas, determinada sua realização, o síndico ou o condômino que tomou a iniciativa delas dará ciência à assembleia, que deverá ser convocada imediatamente. § 3o Não sendo urgentes, as obras ou reparos necessários, que importarem em despesas excessivas, somente poderão ser efetuadas após autorização da assembleia, especialmente convocada pelo síndico, ou, em caso de omissão ou impedimento deste, por qualquer dos condôminos. § 4o O condômino que realizar obras ou reparos necessários será reembolsado das despesas que efetuar, não tendo direito à restituição das que fizer com obras ou reparos de outra natureza, embora de interesse comum. Art. 1.342. A realização de obras, em partes comuns, em acréscimo às já existentes, a fim de lhes facilitar ou aumentar a utilização, depende da aprovação de dois terços dos votos dos condôminos, não sendo permitidas construções, nas partes comuns, suscetíveis de prejudicar a utilização, por qualquer dos condôminos, das partes próprias, ou comuns. Art. 1.343. A construção de outro pavimento, ou, no solo comum, de outro edifício, destinado a conter novas unidades imobiliárias, depende da aprovação da unanimidade dos condôminos. Art. 1.344. Ao proprietário do terraço de cobertura incumbem as despesas da sua conservação, de modo que não haja danos às unidades imobiliárias inferiores. Art. 1.345. O adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios. Art. 1.346. É obrigatório o seguro de toda a edificação contra o risco de incêndio ou destruição, total ou parcial. MULTAS NO CONDOMINIO EDILICIO (Art. 1.336 e 1337): Obrigações que deve ser cumprida por todos os condôminos; 1. Pagamento da taxa condominial. 2. Respeitar a finalidade do condomínio edilício. 3. Não realizar obras em desacordo com a legislação ou que possam comprometer a segurança do condomínio edilício. 4. Não perturbar saúde, sossego e segurança do condomínio edilício. Art. 1.336. São deveres do condômino: I - Contribuir para as despesas do condomínio na proporção das suas frações ideais, salvo disposição em contrário na convenção; II - Não realizar obras que comprometam a segurança da edificação; III - Não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas; IV - Dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação, e não as utilizar de maneira prejudicial ao sossego, salubridade e segurança dos possuidores, ou aos bons costumes. § 1o O condômino que não pagar a sua contribuição ficará sujeito aos juros moratórios convencionados ou, não sendo previstos, os de um por cento ao mês e multa de até dois por cento sobre o débito. § 2o O condômino, que não cumprir qualquer dos deveres estabelecidos nos incisos II a IV, pagará a multa prevista no ato constitutivo ou na convenção, não podendo ela ser superior a cinco vezes o valor de suas contribuições mensais, independentemente das perdas e danos que se apurarem; não havendo disposição expressa, caberá à assembleia geral, por dois terços no mínimo dos condôminos restantes, deliberar sobre a cobrança da multa. 15 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto Art. 1337. O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente com os seus deveres perante o condomínio poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos restantes, ser constrangido a pagar multa correspondente até ao quíntuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, conforme a gravidade das faltas e a reiteração, independentemente das perdas e danos que se apurem. Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu reiterado comportamento antissocial, gerar incompatibilidade de convivência com os demais condôminos ou possuidores, poderá ser constrangido a pagar multa correspondente ao décuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, até ulterior deliberação da assembleia. CONTRATOS REAIS: Os contratos reais estão previstos no artigo 1.225 correspondendo a um rol típico de negócios jurídicos que tem efeitos reais. O detalhamento de suas regras está nos artigos 1.369 a 1.510. Art. 1.225. São direitos reais: I - A propriedade; II - A superfície; III - As servidões; IV - O usufruto; V - O uso; VI - A habitação; VII - O direito do promitente comprador do imóvel; VIII - O penhor; IX - A hipoteca; X - A anticrese. XI - A concessão de uso especial para fins de moradia XII - A concessão de direito real de uso. XIII - A laje. Os contratos são divididos em dois grupos: 1. Gozo/fruição – a superfície; a servidão; o usufruto; o uso e a habitação; 2. Garantias reais – hipoteca; penhor; anticrese e de alienação/propriedade fiduciária. GOZO/FRUIÇÃO: 1. USUFRUTO (Art. 1.390 ss.) – é um contrato que permite ao proprietário de coisa móvel ou imóvel transferir a uma pessoa beneficiada os poderes de usar e fruir coisa sua de forma gratuita ou onerosa condicionada ou incondicionada, mas sempre em caráter pessoal. Por essa razão, o usufruto será no máximo vitalício. a. Os sujeitos do usufruto sãochamados de usufrutuário (beneficiado) e nu proprietário (proprietário). b. O usufruto sobre coisas imóveis exige escritura pública e sobre coisas móveis exige-se publicidade para garantir efeitos erga omnes. Art. 1.390. O usufruto pode recair em um ou mais bens, móveis ou imóveis, em um patrimônio inteiro, ou parte deste, abrangendo-lhe, no todo ou em parte, os frutos e utilidades. Art. 1.391. O usufruto de imóveis, quando não resulte de usucapião, constituir-se-á mediante registro no Cartório de Registro de Imóveis. Art. 1.392. Salvo disposição em contrário, o usufruto estende-se aos acessórios da coisa e seus acrescidos. § 1º Se, entre os acessórios e os acrescidos, houver coisas consumíveis, terá o usufrutuário o dever de restituir, findo o usufruto, as que ainda houver e, das outras, o equivalente em gênero, qualidade e quantidade, ou, não sendo possível, o seu valor, estimado ao tempo da restituição. § 2º Se há no prédio em que recai o usufruto florestas ou os recursos minerais a que se refere o art. 1.230, devem o dono e o usufrutuário prefixar-lhe a extensão do gozo e a maneira de exploração. § 3º Se o usufruto recai sobre universalidade ou quota-parte de bens, o usufrutuário tem direito à parte do tesouro achado por outrem, e ao preço pago pelo vizinho do prédio usufruído, para obter meação em parede, cerca, muro, vala ou valado. Art. 1.393. Não se pode transferir o usufruto por alienação; mas o seu exercício pode ceder-se por título gratuito ou oneroso. 2. USO (Art. 1412 e 1.413) – O direito de uso é igual ao usufruto, mas sem a fruição, inclusive regrado subsidiariamente pelo usufruto. Art. 1.412. O usuário usará da coisa e perceberá os seus frutos, quanto o exigirem as necessidades suas e de sua família. § 1o Avaliar-se-ão as necessidades pessoais do usuário conforme a sua condição social e o lugar onde viver. § 2o As necessidades da família do usuário compreendem as de seu cônjuge, dos filhos solteiros e das pessoas de seu serviço doméstico. Art. 1.413. São aplicáveis ao uso, no que não for contrário à sua natureza, as disposições relativas ao usufruto. 3. HABITAÇÃO (Art. 1.414 ss.) – A habitação é ainda mais limitada que o uso se restringindo à cessão gratuita de coisa imóvel para moradia. 16 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto Art. 1.414. Quando o uso consistir no direito de habitar gratuitamente casa alheia, o titular deste direito não a pode alugar, nem emprestar, mas simplesmente ocupá-la com sua família. Art. 1.415. Se o direito real de habitação for conferido a mais de uma pessoa, qualquer delas que sozinha habite a casa não terá de pagar aluguel à outra, ou às outras, mas não as pode inibir de exercerem, querendo, o direito, que também lhes compete, de habitá-la. Art. 1.416. São aplicáveis à habitação, no que não for contrário à sua natureza, as disposições relativas ao usufruto. a. Habitação legal: Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único daquela natureza a inventariar. 4. SERVIDÃO (Art. 1.378 ss.) – É um direito imobiliário que envolve sempre dois ou mais imóveis sendo um denominado serviente e os demais dominantes. Serviente é um imóvel concede alguma vantagem ao imóvel dominante. Essa vantagem é relacionada, normalmente, com a passagem de algo (mais comum). Não pode ser confundido o conceito de servidão no Direito Civil que é convencional com a passagem forçada, nem com a servidão administrativa que são impostas nos termos da lei. A servidão pode ser gratuita ou onerosa e por prazo determinado ou indeterminado. Na sua regra geral, é perpetua. Art. 1.378. A servidão proporciona utilidade para o prédio dominante, e grava o prédio serviente, que pertence a diverso dono, e constitui-se mediante declaração expressa dos proprietários, ou por testamento, e subsequente registro no Cartório de Registro de Imóveis. a. Usucapião de servidão - É possível usucapir servidão desde que concedida e exercida por 10 ou 20 anos nos termos do artigo 1.379/CC com o fim de formalizá-la. Só é possível usucapir a servidão continua e aparente ou a servidão descontinua materializada por obras visíveis a qualquer terceiro. Servidão continua é aquela que se realiza independente de ação humana (passagem de água/tubulação). Art. 1.379. O exercício incontestado e contínuo de uma servidão aparente, por dez anos, nos termos do art. 1.242, autoriza o interessado a registrá-la em seu nome no Registro de Imóveis, valendo-lhe como título a sentença que julgar consumado a usucapião. Parágrafo único. Se o possuidor não tiver título, o prazo da usucapião será de vinte anos. 5. SUPERFICIE (Art. 1.369 a 1.377) – O contrato de superfície permite que o proprietário confira ao superficiário no prazo determinado no Direito Civil os poderes de usar e fruir imóvel seu bem como vincular a realização de benfeitorias ou acessões que serão obrigação do superficiário. O Direito de Superfície pode ser alienado a terceiros sem a necessidade da anuência do proprietário cabendo-lhe apenas direito de preferência. Art. 1.369. O proprietário pode conceder a outrem o direito de construir ou de plantar em seu terreno, por tempo determinado, mediante escritura pública devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único. O direito de superfície não autoriza obra no subsolo, salvo se for inerente ao objeto da concessão. Art. 1.370. A concessão da superfície será gratuita ou onerosa; se onerosa, estipularão as partes se o pagamento será feito de uma só vez, ou parceladamente. Art. 1.371. O superficiário responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre o imóvel. Art. 1.372. O direito de superfície pode transferir-se a terceiros e, por morte do superficiário, aos seus herdeiros. Parágrafo único. Não poderá ser estipulado pela concedente, a nenhum título, qualquer pagamento pela transferência. Art. 1.373. Em caso de alienação do imóvel ou do direito de superfície, o superficiário ou o proprietário tem direito de preferência, em igualdade de condições. Art. 1.374. Antes do termo final, resolver-se-á a concessão se o superficiário der ao terreno destinação diversa daquela para que foi concedida. Art. 1.375. Extinta a concessão, o proprietário passará a ter a propriedade plena sobre o terreno, construção ou plantação, independentemente de indenização, se as partes não houverem estipulado o contrário. Art. 1.376. No caso de extinção do direito de superfície em consequência de desapropriação, a indenização cabe ao proprietário e ao superficiário, no valor correspondente ao direito real de cada um. Art. 1.377. O direito de superfície, constituído por pessoa jurídica de direito público interno, rege-se por este Código, no que não for diversamente disciplinado em lei especial. 17 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Civil – Reais – Prof. Luis Eduardo Munõz Sotto GARANTIAS REAIS: Os contratos de garantias têm por finalidade de forma acessória garantir com uma coisa alguma obrigação principal. As garantias reais, portanto, são contratos acessórios que dão mais certeza a um negócio principal. 1. A HIPOTECA corresponde a vinculação de uma coisa imóvel. 2. O PENHOR vincula coisas móveis. 3. A ANTICRESE coisas imóveis. 4. A ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA coisas móveis ou imóveis. As garantias reais não permitem o chamado pacto comissório que corresponde a clausula que simplesmente deixa a coisa para o credor em caso de inadimplemento da obrigação principal, isso porque em caso da execução da garantia o credor deve tomar a coisae leva-la a hasta publica vendendo-a sob avaliação e supervisão de agentes público, com o montante arrecadado tenta-se quitar a dívida principal e, sobrando restitui-se ao devedor e faltando prossegue-se com a execução. A única exceção é a anticrese que em caso de execução transfere a posse do bem imóvel ao credor para que ele vá usando e fruindo e se pagando até quitar a dívida devolvendo então o bem ao ex- devedor. O penhor pode ser de várias espécies, em algumas a coisa dada em garantia fica com o credor (penhor comum) em outras, a coisa fica com o devedor (penhor especial). O credor é chamado de credor pignoratício e a coisa é chamada de coisa empenhada. Na alienação fiduciária o bem dado em garantia móvel ou imóvel fica com sua propriedade fiduciária compartilhada entre o adquirente, o devedor e o alienante credor. Isso decorre da ficção jurídica de que o devedor fiduciário deu o bem ao credor fiduciário que a devolveu ao devedor.
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