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VALLADARES, A. C. A. Possibilidades de avaliação em Arteterapia: o que se deve buscar, o que se deve olhar? In: Ormezzano, G. (Org.). Questões de Arteterapia. 2.ed. Passo Fundo, RS: UPF, 2005. p.15-32. ISBN: 85-751-5310-2. Possibilidades de avaliação em arteterapia: o que se deve buscar, o que se deve olhar?* Ana Cláudia Afonso Valladares2 Considerações Iniciais A arteterapia é uma prática terapêutica que objetiva resgatar não só a dimensão integral do homem, mas também seus processos de autoconhecimento e de transformação pessoal. Almeja, ainda, resgatar a produção de imagens, a autonomia criativa, o desenvolvimento da comunicação, a valorização da subjetividade, a liberdade de expressão, o reconciliar de problemas emocionais e a sua função catártica (Valladares, 2000/2001; 2001; 2004; Valladares & Carvalho, 2005). Na arteterapia tem-se o encontro de linguagens artísticas diversificadas, porém seu enfoque volta-se para o processo expressivo-criativo produzido e para a linguagem artística específica; assim, o importante nas experiências são as atividades desenvolvidas e o produto artístico, sendo este concretizado como o processo de integração relacional dos sujeitos com o objeto, com a comunicação e a interação do pensar-sentir-fazer (Reisin, 2005). A arte por evocar uma linguagem primária e pré-verbal versátil e, ao mesmo tempo, flexível, possibilita a expressão do paciente isenta da censura verbal. Mas no caso da arteterapia, esta relaciona os produtos das expressões artísticas com seus conteúdos simbólicos específicos, sem lógica e atemporais, em uma linguagem consciente. Por conseguinte, esta terapia torna possível a comunicação do mundo inconsciente com a realidade externa e consciente do cliente. Várias abordagens terapêuticas compõem o processo da arteterapia, dentre as quais destaca-se a Psicologia Analítica. A arteterapia baseada na abordagem junguiana busca fornecer materiais expressivos diversos e adequados para a criação de símbolos presentes no universo imagético e singular de cada pessoa, universo que se traduz em produções simbólicas que retratam estruturas psíquicas internas do inconsciente pessoal e coletivo. No inconsciente coletivo encontram-se os conteúdos universais e os instintos, e este tipo de inconsciente resulta das experiências da humanidade na psique coletiva, segundo à hereditariedade. Já o inconsciente pessoal armazena as experiências reprimidas (ou não) da história da pessoa, desde seu nascimento. Os símbolos são * Pesquisa inserida no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Saúde Integral da FEN/UFG. 2 Arteterapeuta. Docente da Universidade Federal de Goiás (UFG) e Doutoranda pela Universidade de São Paulo (USP). E-mail: aclaudiaval@terra.com.br conteúdos do inconsciente que se configuram para a consciência e estes ao serem materializados levam à compreensão, transformação, estruturação e expansão de toda a personalidade do indivíduo que busca a criação artística (Urrutigaray, 2003; Philippini, 2004). Assim, Jung enxergava o valor das obras artísticas que continham símbolos do inconsciente, considerando-os úteis a ponto de atuarem como agentes de cura, porque os símbolos ao serem libertados permitem o fluir da energia. O paciente, na arteterapia, é instrumentalizado por materiais expressivos diversos e adequados a expressar e a comunicar seus símbolos da energia psíquica (sentimentos, emoções, sonhos, desejos, afetos, fantasias, conflitos) para o meio exterior, possibilitando revelações, reconhecimentos, resgates, reconstrução e transformação. Assim, nas expressões artísticas, os pacientes expõem a si mesmos, isto é, deixam aflorar todo seu contexto social, suas percepções sobre o mundo, sua identidade, afetividade, imaginação, enfim, seu mundo psíquico inconsciente (Hawkins, 2002; Driessnack, 2002). A análise das produções expressivas dos pacientes permitem registrar momentos afetivos vivenciados por eles, uma vez que as imagens dos objetos de arte têm um significado real para eles. O presente trabalho visa aprofundar, dentre as várias facetas da arteterapia, a elaboração de ferramentas eficazes e acessíveis à disposição do profissional que o auxiliarão na exploração metódica de avaliação em arteterapia, as quais poderão ser obtidas num processo de avaliação realizado antes e após o processo de arteterapia, bem como no decorrer das intervenções. Estas ferramentas têm a finalidade de explorar pontos focais que servem como guias para compreensão do conteúdo inconsciente expresso nas imagens e no comportamento do paciente. A avaliação deve considerar o paciente como um “todo” (comportamento-produção), e ainda juntar idéias, questões e direções possíveis a serem seguidas ao se lidar com o paciente, sempre levando em consideração sua história de vida, suas experiências e o significado da produção artística para ele. É importante a realização de duas avaliações (anterior e posterior ao processo arteterapêutico), pois estas permitirão acompanhar com bastante clareza o desenvolvimento e evolução da trajetória dos trabalhos e do comportamento do paciente. Assim, o propósito deste capítulo é apresentar instrumentos que servirão como ferramentas para a avaliação em arteterapia, instrumentos estes que poderão ser aplicados tanto no âmbito clínico como no institucional, os quais podem favorecer uma atuação preventiva, quando aplicados antes do processo arteterapêutico, bem como permitir uma linha de avaliação antes e ao final do processo. A avaliação antes das intervenções da arteterapia revela o estado da energia do paciente, isto é, se ela está fluindo ou se está bloqueada para, posteriormente, o arteterapeuta tentar acompanhar o caminho dela. A avaliação é importante, pois dá indicação ao arteterapeuta e ao paciente sobre quais áreas precisam de maior exploração ou atenção. Pain & Jarreau (2001) enfatizam que o arteterapeuta acompanha o processo do paciente, testemunha sua aventura e o ajuda a superar os obstáculos encontrados, dando-lhe oportunidades e sugerindo intervenções específicas. Assim, torna-se fundamental que o arteterapeuta tenha instrumentos padronizados e completos para poder acompanhar a energia do paciente, incluindo, sobretudo, uma análise comportamental do processo e da produção final. Instrumentos de Avaliação O processo de arteterapia abrange sucessivas etapas, como o contrato de trabalho, entrevista/avaliação, atendimento e alta. O contrato de trabalho objetiva determinar as condições de funcionamento do mesmo, tais como cronograma agendado com a pessoa; as modalidades de atendimento a serem trabalhadas e o esclarecimento de dúvidas sobre o processo em si. Depois desta fase, têm-se a entrevista e a avaliação do paciente, etapas que propiciam conhecer seu nível (estágio) de desenvolvimento e o seu comportamento (afetivo-cognitivo), elementos que determinarão suas formas de conduta, de comunicação, de socialização e suas habilidades. Para realizar estes procedimentos, utilizaram-se alguns instrumentos de avaliação já existentes, como o desenho-história de Trinca*, o Continuum das Terapias Expressivas (ETC**), o Teste do Desenho de Silver (SDT***), e outras técnicas de avaliação propostas neste capítulo. Posteriormente à entrevista e avaliação, tem-se o atendimento de arteterapia propriamente dito, que abordará as modalidades artísticas de acordo com as necessidades do paciente. Na alta, ou após um tempo de atendimento, sugere-se realizar outra avaliação semelhante à anterior ao processo arteterapêutico, a fim de compará-las para melhor acompanhar o indivíduo em sua jornada e avaliar a energia psíquica do seu caminho. A arteterapia é uma profissão ainda recente no país, por isso carece de instrumentos que a auxiliem e aorientem na realização de um diagnóstico eficaz que possibilite ao arteterapeuta medir o desempenho da pessoa que necessita de ajuda. Assim sendo, a investigação ora apresentada tem como objetivo propor que o arteterapeuta tenha ao seu alcance um instrumento que lhe permita visualizar a eficácia de sua atuação. Nesse sentido, a autora deste trabalho padronizou, em sua dissertação de mestrado, alguns instrumentos quantitativos e, além destes, elaborou um outro de ordem qualitativa, apresentado aqui pela primeira vez, o qual é complementar aos demais. A articulação dos instrumentos de avaliação, devido à sua complexidade, pode ser adequada às diversas categorias relevantes para observação do comportamento e das produções plásticas em diferentes contextos e sob enfoques diferenciados (quali ou quantitativos). Estes instrumentos podem se articular entre si, permitindo organizar e explicitar o que se observa, e oferecer elementos * TRINCA, W. (Org.) Formas de investigação clínica em psicologia. São Paulo: Vetor, 1997. 292p. ** LUSEBRINK, V. B. Imagética e expressão visual na terapia. São Paulo: Alquimy Art, 2003. 62p. *** ALLESSANDRINI, C. D. et al. O teste do desenho de Silver (SDT): como instrumento de diagnóstico em psicopedagogia. In: NOFFS, N. A. et al. A psicopedagogia em direção ao espaço transdisciplinar. São Paulo: Frôntis, 2000. p.145-163 para elaboração de um diagnóstico em arteterapia aplicável, inclusive em outros locais, como instituições diversas, e em faixas etárias diferentes. Na análise qualitativa, a obra é compreendida e passa tanto por uma análise da representação formal (estética, organização, composição: linhas, cores, tons, textura, formas) quanto contextual (idéia, sentimento, emoções), possibilitando o desenvolvimento de estudos simbólicos, amplificação da obra em questão e avaliação do processo. Para realização das avaliações é importante definir o tipo de acompanhamento (individual ou coletivo-grupal); se o trabalho artístico é livre ou dirigido; o título da obra produzida e a descrição da mesma. Para retratar a temática em questão, o paciente deverá estar munido de materiais apropriados e de boa qualidade, utilizar o tempo de forma livre, e não receber qualquer interferência para que possa executar as atividades em seu próprio ritmo. O arteterapeuta deverá, então, considerar todo o processo da construção da imagem e, especialmente, a avaliação do comportamento do paciente em relação ao profissional e ao material, além de proceder a uma análise minuciosa do produto final. Nesse sentido, o registro escrito e fotográfico das imagens, com prévia autorização da instituição e dos pacientes, facilitarão uma análise minuciosa posterior. Durante todo o processo de avaliação, o arteterapeuta deverá respeitar aspectos, como: condições do paciente (estado geral); idade cronológica; nível do estágio psicomotor; preferências individuais e ainda assegurar a segurança dos materiais utilizados. A realização de observação direta e participante, durante as avaliações, é muito importante para obtenção da avaliação do comportamento em seu contexto situacional. Sendo assim, o arteterapeuta deverá anotar o tempo aproximado de atendimento e avaliar se ocorrerão, após as intervenções de arteterapia, modificações significativas no processo evolutivo do comportamento e da produção do paciente. Na análise, é importante, que ele visualize o processo como um todo, isto é, seus aspectos gerais e essenciais, somente após deverá atentar para os detalhes. Os instrumentos sugeridos neste capítulo: - Ficha de Avaliação de Características de Comportamento dos Pacientes em relação ao Arteterapeuta, elaborado por Machado, Figueiredo e Selegato (1989) e adaptado por Valladares (2003). É utilizada para avaliação do comportamento do paciente; - Ficha de Avaliação de Características de Comportamento dos Pacientes em relação ao Material, elaborado por Machado, Figueiredo e Selegato (1989) e adaptado por Valladares (2003). É usada para avaliação do comportamento do paciente; - Roteiro de Avaliação Quantitativa da Produção simbólica, elaborado por Valladares (2003), adaptado de Dondis e usado para avaliação da produção artística; - Roteiro de Avaliação: Aspectos de Análise Qualitativa da Representação Plástica em Arteterapia, usado para avaliação da produção artística. Instrumentos 1 e 2 serão apresentados a seguir: Instrumentos de Avaliação em Arteterapia Nome: ................................................................................................................................................................. DN: ......./ ......./ .......... Idade: ................ anos .......... meses Sexo: ( ) F ( ) M Etnicidade: ( ) branca ( ) parda ( ) negra ( ) amarela Nível socioeconômico: ........................................................................................................................................ Naturalidade (Cidade, Estado): ............................................. Nacionalidade: ................................................. Filiação: ......................................................................... e ............................................................................... Grau de escolaridade: .................................................. Religião: ................................................................... Modalidade desenvolvida: ............................................... Trabalho nº/Total ........................... Tempo consumido para o trabalho: ............................. Título dado: ............................................................ Data: ....../ ....../ ......... Avaliação: ( ) Inicial ( ) Final 1) Ficha de Avaliação de Características de Comportamento dos Pacientes, em relação ao Arteterapeuta3: DESEMPENHO NÍVEL (A) Nível (A) +3 Tendênci a Para (A) +2 Leve tendênci a Para (A) +1 Não Pertence Nem (A) – Nem (B) 0 Leve tendênci a Para (B) -1 Tendênci a Para (B) -2 Nível (B) -3 DESEMPENHO NÍVEL (B) 1.A) Agressivo 1.B) Não agressivo 2.A) Provocativo 2.B) Tranqüilo 3.A) Desrespeitoso 3.B) Respeitoso 4.A) Desobediente 4.B) Obediente 5.A) Arredio 5.B) Comunicativo 6.A) Rebelde 6.B) Solícito 7.A) Tenso 7.B) Relaxado 8.A) Saliente 8.B) Tímido 9.A) Dependente 9.B) Independente 10.A) Explosivo 10.B) Controlado 3 Adaptação ao Modelo de Machado, Figueiredo e Selegato (1989) 2) Ficha de Avaliação de Características de Comportamento dos Pacientes, em relação ao Material4: DESEMPENHO NÍVEL (A) Nível (A) +3 Tendênc ia Para (A) +2 Leve tendênci a Para (A) +1 Não Pertence Nem (A) – Nem (B) 0 Leve tendênci a Para (B) -1 Tendênc ia Para (B) -2 Nível (B) -3 DESEMPENHO NÍVEL (B) 1.A) Inquieto 1.B) Sossegado 2.A) Impulsivo 2.B) Reflexivo 3.A) Desordeiro 3.B) Ordeiro 4.A) Vadio 4.B) Aplicado 5.A) Tenso 5.B) Relaxado 6.A) Saliente 6.B) Discreto 7.A) Apático 7.B) Dinâmico 8.A) Lento 8.B) Rápido 9.A) Desatento 9.B) Atento 10.A) Desinteressado 10.B) Interessado 11.A) Retraído11.B) Participativo 12.A) Confuso 12.B) Orientado 13.A) Não persistente 13.B) Persistente 14.A) Descuidado 14.B) Cuidadoso A autora deste trabalho propõe que o arteterapeuta utilize os testes projetivos e os dicionários de símbolos para auxiliá-lo na análise do simbolismo dos elementos vigentes, encontrados nos Roteiros para avaliação da Produção Simbólica - Modelos quantitativo e qualitativo (Cirlot, 1984; Di Leo, 1991; Fincher, 1991; Hammer, 1991; Lexikon, 1994; Ocampo et al., 1999; Campos, 2000; Retondo, 2000; Chevalier & Gheerbrant, 2003; Furth, 2004). 3) Roteiro para Avaliação Quantitativa da Produção Simbólica* DESEMPENHO NÍVEL (A) Nível (A) +2 Tendência Para (A) +1 Não Pertence Nem (A) – Nem (B) 0 Tendência Para (B) -1 Nível (B) -2 DESEMPENHO NÍVEL (B) 1.A) Variedade na Produção Plástica 1.B) Empobrecimento da Produção Plástica 2.A) Policromático 2.B) Monocromático 4 Adaptação ao Modelo de Machado, Figueiredo e Selegato (1989) * Modelo elaborado por Valladares (2003) adaptado de Dondis 3.A) Imagem Bem Configurada 3.B) Imagem Mal Configurada 4.A) Muito Criativo 4.B) Pouco Criativo 5.A) Simetria 5.B) Assimetria 6.A) Regularidade 6.B) Irregularidade 7.A) Complexidade 7.B) Simplicidade 8.A) Unidade 8.B) Fragmentação 9.A) Equilíbrio 9.B) Desequilíbrio 10.A) Atividade 10.B) Estático 11.A) Exatidão 11.B) Distorção 12.A) Profundidade 12.B) Planura Legenda: 1.a) Variedade na produção expressiva: quando existe uma diversidade produtiva nos trabalhos, pela variedade de elementos; 1.b) Empobrecimento da produção expressiva: quando os trabalhos não possuem diversidade ou variedade de elementos na sua produção. 2.a) Policromático: significa um trabalho apresentado uma diversidade cromática; 2.b) Monocromático: significa um trabalho apresentando apenas uma ou nenhuma cor. 3.a) Imagem bem configurada: reflete exatidão ou clareza das formas expressivas, demonstrando domínio sobre sua capacidade de expressar sua intenção; 3.b) Imagem mal configurada: reflete dificuldade em definir as formas ou omissão de elementos. 4.a) Muito criativo: demonstra independência, facilidade em elaborar um trabalho expressivo; 4.b) Pouco criativo: demonstra pouca originalidade, flexibilidade, fluência, elaboração e avaliação ao desenvolver os trabalhos. 5.a) Simetria: corresponde ao equilíbrio axial, a uma formulação visual resolvida, no qual cada unidade de um lado da linha central é rigorosamente repetida do outro lado; 5.b) Assimetria: é quando os elementos de um lado da linha central não se repetem do outro lado da obra. 6.a) Regularidade: constitui a uniformidade dos elementos e o desenvolvimento de uma seqüência ordenada por algum princípio ou método constante e invariável; 6.b) Irregularidade: constitui a ênfase no inesperado e no insólito e de certa forma caótico, sem se adequar a nenhum plano decifrável 7.a) Complexidade: eqüivale à riqueza de detalhes, caracterizada pela distinção de sexo e dos tipos de personagens, nas vestimentas e objetos, nas atividades e funções (convenções socioculturais) dos elementos, além da maior complexidade de justapor, congregar, encaixar, preencher, repartir, dividir, retirar, combinar, associar etc. Pode apresentar diferença de estilo; 7.b) Simplicidade: eqüivale a pobreza de detalhes. 8.a) Unidade: é uma forma de equilíbrio de elementos diversos de uma determinada totalidade percebida visualmente ou sua integração; 8.b) Fragmentação: é a decomposição dos elementos e unidade de um elemento em partes distintas, mas que se relacionam entre si apesar de manter um caráter individual. 9.a) Equilíbrio: sugere tamanho e proporção equilibrados ou distribuição harmoniosa de linhas, formas e cores, ou boa organização espacial entre o mesmo elemento ou a relação entre os elementos contemplados na obra; 9.b) Desequilíbrio: sugere que o elemento seja extravagante, ampliado, intensivo ou, ainda, muito abrandado, gerando desproporção do(s) elemento(s) visual(is). 10.a) Atividade: reflete movimento e ação, pela representação ou sugestão; 10.b) Estático: reflete rigidez dos elementos. 11.a) Exatidão: simboliza o objeto de acordo com sua aparência visual real; 11.b) Distorção: sugere adulteração, omissão, desvio ou desobediência nas proporções das imagens trabalhadas. 12. a) Profundidade: quando há presença de perspectiva e de suas leis, do efeito claro-escuro ou criação de planos, sobreposições e aparecimento da tridimensionalidade; 12. b) Planura: quando não há o efeito de luz e sombra. 4) Roteiro de Avaliação: Aspectos de Análise Qualitativa da Representação Plástica em Arteterapia 1. Comentários subjetivos do arteterapeuta: O que mais chama a atenção e o que é central no desenho; o que foi confeccionado de forma peculiar ou anormal; presença de obstáculos dentro da imagem; a subjetividade: que sentimentos o desenho transmite, a visão geral da imagem sob a visão do arteterapeuta, com a perspectiva de vida da criança; comparação do mundo real da pessoa com o que foi representado; tipo de efeito da imagem e a coerência do trabalho; resistência. 2. Descrição geral do trabalho: tipo de símbolo ou formas, configuração, organização, disposição, tipo de reprodução, estilo, coordenação, unidade, localização, tamanho, proporção, escala, coordenação, simetria e equilíbrio da imagem; utilização do espaço; integração e conecção das partes da imagem e dos elementos; reprodução da imagem e idade das figuras; variedade e repetição de elementos e números; presença de transparências, contraste e harmonia de escalas; perspectiva, transparência e tipo de ponto de vista; presença da linha representativa do solo ou chão (linha de base); presença de contraste e harmonia de escalas. 3. Criatividade: tipo de elaboração, composição, detalhes, conteúdo, diversidade ou variedade de elementos na produção; independência, originalidade, flexibilidade, fluência, elaboração, avaliação facilidade na elaboração e desenvolvimento do trabalho expressivo; tipo de desenho. 4. Cores: coloração interna e externa da imagem; tipos e quantidade de cores; predominância de cores; quantidade, saturação, tom e brilho; inclusão de cores quentes e frias, primárias, secundárias e terciárias; contraste e harmonia de cores e tons; disposição das cores; quantidade, saturação, tom e brilho; realismo das cores de acordo com o objeto. 5. Outras características do desenho: tipo, definição e qualidade do traçado; pressão e tipo de linha; presença de rasuras, encapsulação, extensões e palavras nos desenhos; tipo de preenchimento da imagem, direção e detalhes especiais; presença e tipo de textura, sombreamento e rasuras; realismo ou distorção da imagem; direção e tipos de formas; acabamento da figura e velocidade na realização do trabalho; descrição das partes do desenho e de detalhes inadequados, bizarros ou excessivos; movimentação; predominância do número de elementos/objetos; repetição de elementos/objetos; extensões e encapsulação dos elementos; características do desenho no verso do papel; significados e características de palavras, poemas e rabiscos nos trabalhos; tempo consumido. 6. Nível de desenvolvimento: adequado ou inadequado para a idade do paciente; aquém ou acima da idade. 7. Omissões ou Inclusões de elementos: modo de preenchimento da figura; inclusão ou omissão dos elementos. Figura humana: cabeça, olhos, nariz, boca, lábios, orelhas, cabelo, pescoço, rosto, corpo, tórax, cintura, quadril e nádegas, braços, ombros, cotovelos, mãos, dedos, unhas, pernas, joelhose pés. Casa: porta, janela, telha ou telhado, parede. Árvore: raízes, galhos, frutos, terra, tronco, copa, flor. 8. Figura Humana (expressão da integração da personalidade) - Descrição e detalhes da cabeça, olhos, pupilas, sobrancelhas e cílios, nariz, narinas, boca, lábios, orelhas, cabelo, barba e bigode, pescoço, rosto, corpo, tórax, seios, cintura, quadril e nádegas, braços, ombros, cotovelos, mãos, dedos, unhas, pernas, joelhos, pés, dentes, sexo, órgãos genitais, órgãos internos etc; idade e aparência dos personagens. - Expressão facial, nível de energia e distância interpessoal: contato visual, expressividade, expansão, posição, postura, coordenação, movimentação, nível de energia da imagem; distância interpessoal, flexibilidade, tensão da figura; inclinação do corpo, tipo de expressão; tamanho dos olhos, nariz e boca, tipo de ponto de vista. - Vestuário e Acessórios: inclusão, omissão ou ausência de elementos; tipo, quantidade, coloração e detalhes de roupa; figura nua ou mostrando alguma parte do corpo, uso de transparência, apropriação para a idade; presença e características de chapéu, colarinho, gravata, paletó, blusa, camisa, anéis, calça, saia, cinto, sapatos e meias. 9. Casa (representação do desenvolvimento do sujeito) Descrição e detalhes das paredes, portas, janelas, telhas ou telhado, chaminé, fumaça e acessórios (caminho, calçada, árvores, flores, nuvens, sombras, sol, torres, elevadores, detalhes degradantes, cercas); perspectivas e posição da casa; tipo de casa; descrição das partes da casa. 10. Árvore (representação da expressão da integração da personalidade) Descrição e detalhes (tamanho, largura, direção, contorno, superfície etc) das raízes, galhos ou ramos, folhas, frutos, terra, tronco, copa, flor, miolo; outros acessórios (enfeites, adornos, chão, paisagem, grades ou cercas, ninhos, colina, sombra, olhos na árvore, serpente envolvendo a árvore, sol, árvores dentro de potes ou vasos, formas impróprias); perspectivas e inclinação da árvore; tipo, tamanho, idade que lhe é atribuída; árvore representada como morta; descrição das partes da árvore. Considerações Finais Uma avaliação adequada do nível pessoal e maturacional (afetivos e cognitivos) em que se encontra um paciente ou grupo que faz arteterapia favorece o desenvolvimento de um trabalho mais focado às reais necessidades do paciente. Este instrumento busca conhecer as categorias do crescimento do paciente que são mais significativas no segmento evolutivo, as quais só poderão se concretizar se houver uma avaliação antes e uma outra após as intervenções de arteterapia. A compreensão do significado das obras artísticas dos pacientes deve se ater à totalidade das mesmas, isto é, os desenhos devem ser previamente analisados em seus aspectos individuais, quais sejam: tipo de cores, traçados e direções, entre outros, e ainda quanto à mudança comportamental, que abrange a integração do fazer artístico com as atividades, a relação dos sujeitos com os objetos, a comunicação e a interação do pensar-sentir-fazer do paciente. Este capítulo serve de guia para o arteterapeuta na sua prática, pois contém uma definição sistemática, detalhada e aprofundada da imagem produzida pelo paciente. Também fornece sugestões e auxilia na análise comportamental do mesmo, bem como ajuda a treinar a leitura do arteterapeuta no que ele deve observar. Portanto, o arteterapeuta ao conhecer o nível de energia e as reais necessidades do paciente poderá sugerir recursos e materiais mais adequados às intenções criativas de cada um, para que mudanças aconteçam. Enfim, acredita-se que este estudo venha auxiliar os profissionais da área, uma vez que pode ser amplamente disponibilizado nos contextos da saúde e da educação, seja no âmbito clínico ou no institucional, e aplicado em todas as faixas etárias, de modo individual ou coletivo, utilizando várias modalidades artísticas. Referências CAMPOS, D. M. S. O teste do desenho como instrumento de diagnóstico da personalidade. 33 ed. Petrópolis, RJ, Vozes, 2000. 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