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Ministério da Educação Secretaria de Educação Média e Tecnológica Centro Federal de Educação Tecnológica de Rio Pomba – MG Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares Apostila – 2004 Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares i ÍNDICE 1. OBTENÇÃO, CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE DE LEITE HIGIÊNICO...............................................................1 1.1. OBTENÇÃO......................................................................................................................1 1.2. LEITE PURO E SÃO ...........................................................................................................1 1.3. INSTALAÇÕES..................................................................................................................2 1.4. VASILHAME .....................................................................................................................2 1.5. ASSEPSIA.........................................................................................................................2 1.6. ORDENHA ........................................................................................................................2 1.7. CONSERVAÇÃO ...............................................................................................................4 1.7.1. Especificações gerais para tanques comunitários.........................................................................................4 1.8. TRANSPORTE...................................................................................................................4 1.8.1. Carro com tanque isotérmico para coleta de leite a granel.....................................................................4 1.9. ACIDEZ ............................................................................................................................5 1.9.1. Acidez Natural e Acidez Desenvolvida.............................................................................................................5 1.10. RESFRIAMENTO ...............................................................................................................2 1.10.1. Equipamentos de Refrigeração..........................................................................................................................2 1.10.2. Os Tanques de Expansão: ...................................................................................................................................2 1.11. PASTEURIZAÇÃO..............................................................................................................3 1.12. ORDENHA MECÂNICA.......................................................................................................3 1.12.1. Vantagens..............................................................................................................................................................3 1.12.2. Desvantagens........................................................................................................................................................4 1.12.3. Linha de Ordenha.................................................................................................................................................4 2. CONSTITUINTES DO LEITE..............................................................................................................................................6 2.1. ÁGUA ...............................................................................................................................6 2.2. LACTOSE.........................................................................................................................6 2.3. PROTEÍNAS ......................................................................................................................7 2.4. GORDURAS......................................................................................................................7 2.5. SAIS MINERAIS ................................................................................................................7 2.6. VITAMINAS ......................................................................................................................8 3. PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS..............................................................................................................................9 3.1. COR.................................................................................................................................9 3.2. SABOR E ODOR ................................................................................................................9 3.3. DENSIDADE......................................................................................................................9 3.4. ACIDEZ ............................................................................................................................9 3.5. PH .................................................................................................................................10 3.6. PONTO DE EBULIÇÃO .....................................................................................................10 3.7. PONTO DE CONGELAMENTO ...........................................................................................10 4. ANÁLISE E SELEÇÃO DO LEITE....................................................................................................................................11 4.1. TESTE DO ALIZAROL......................................................................................................11 4.2. ANÁLISE DE ACIDEZ PELO MÉTODO DORNIC ...................................................................12 4.3. DETERMINAÇÃO DA MATÉRIA GORDA DO LEITE .............................................................13 4.4. DENSIDADE...............................................................................................................14 5. FALSIFICAÇÃO DO LEITE...............................................................................................................................................16 Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares ii 5.1. PESQUISA DE ALCALINOS ...............................................................................................16 5.2. PESQUISA DE FORMOL...................................................................................................16 5.3. PESQUISA DE AMIDO ......................................................................................................17 5.4. PESQUISA DE CLORETOS ................................................................................................17 5.5. PESQUISA DE AÇUCARES ................................................................................................17 5.6. PESQUISA DE PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO .......................................................................17 5.7. PESQUISAS DE HIPOCLORITOS.......................................................................................18 6. ESTABILIDADE TÉRMICA DO LEITE...........................................................................................................................19 6.1. ESTABILIDADE DAS PROTEÍNAS DO LEITE.....................................................................19 6.1.1. Proteínas..............................................................................................................................................................19 6.1.2. Estrutura das Proteínas....................................................................................................................................20 6.1.3. Proteínas do Leite ..............................................................................................................................................206.2. CONSTITUINTES .............................................................................................................22 6.2.1. Alterações da Proteína no Processamento....................................................................................................22 6.2.2. A Desnaturação ..................................................................................................................................................22 6.2.3. Alterações da Solubilidade ..............................................................................................................................23 6.2.4. Efeitos da pasteurização sobre as proteínas do leite ..................................................................................24 6.3. APLICAÇÕES TECNOLOÓGICAS .....................................................................................25 6.4. CONCLUSÃO ..................................................................................................................26 7. BENEFICIAMENTO DE LEITE..........................................................................................................................................27 7.1. FILTRAÇÃO E PASTEURIZAÇÃO ......................................................................................27 8. FABRICAÇÃO DE QUEIJOS ............................................................................................................................................30 8.1. QUEIJO ..........................................................................................................................30 8.2. COALHO ........................................................................................................................30 8.3. COAGULAÇÃO ...............................................................................................................31 8.4. TEMPERATURA DE COAGULAÇÃO...................................................................................31 8.5. ADIÇÃO DE COADJUVANTES DE COAGULAÇÃO ..............................................................31 8.6. ADIÇÃO DO COALHO .....................................................................................................32 8.7. PERÍODO DE COAGULAÇÃO............................................................................................32 8.8. PONTO DE CORTE ..........................................................................................................32 8.9. CORTE...........................................................................................................................32 8.10. AFINAMENTO DA MASSA................................................................................................33 8.11. DESCANSO....................................................................................................................33 8.12. MEXEDURA....................................................................................................................33 8.13. LAVAGEM OU DELACTOSAGEM DA MASSA ...................................................................34 8.14. AQUECIMENTO...............................................................................................................34 8.15. PONTO FINAL ................................................................................................................35 8.16. DESSORAGEM................................................................................................................35 8.17. PRÉ-PRENSAGEM ...........................................................................................................35 8.18. ENFORMAGEM ...............................................................................................................35 8.19. PRENSAGEM...................................................................................................................36 8.20. SALGA ...........................................................................................................................36 8.21. MATURAÇÃO.................................................................................................................37 8.22. FERMENTO LÁCTICO......................................................................................................38 8.22.1. Finalidade da utilização do fermento láctico ..............................................................................................38 8.22.2. Principais microorganismos empregados na elaboração de fermentos lácticos...................................40 9. QUEIJO MINAS FRESCAL...............................................................................................................................................41 Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares iii 10. QUEIJO MINAS PADRÃO............................................................................................................................................43 11. QUEIJO PRATO..............................................................................................................................................................45 12. MUSSARELA...................................................................................................................................................................48 13. QUEIJO PARMESÃO.....................................................................................................................................................51 14. RICOTA.............................................................................................................................................................................53 15. REQUEIJÃO .....................................................................................................................................................................56 16. QUEIJO FUNDIDO..........................................................................................................................................................58 17. FABRICAÇÃO DA MANTEIGA...................................................................................................................................60 17.1. OBTENÇÃO DO CREME ...................................................................................................61 17.2. PADRONIZAÇÃO E REDUÇÃO CREME..............................................................................61 17.3. PASTEURIZAÇÃO DO CREME...........................................................................................62 17.4. RESFRIAMENTO DO CREME............................................................................................62 17.5. MATURAÇÃO DO CREME ..............................................................................................63 17.6. BATEÇÃO DO CREME......................................................................................................63 17.7. SALGA DA MANTEIGA....................................................................................................63 17.8. MALAXAGEM.................................................................................................................63 17.9. MOLDAGEM E EMBALAGEM ...........................................................................................63 18. FABRICAÇÃO DE IOGURTE.......................................................................................................................................66 18.1. PROCEDIMENTOS...........................................................................................................66 19. FABRICAÇÃO DE DOCE DE LEITE...........................................................................................................................70 20. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................................................74Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 1 1. OBTENÇÃO, CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE DE LEITE HIGIÊNICO O leite é um alimento completo, constituindo-se uma importante fonte de nutrição humana. Estima-se que o leite possua aproximadamente 100.000 componentes distintos, sendo que até hoje somente foram identificados algo em torno de 87 constituintes. De um modo geral distinguimos sues componentes em seis grupos, que veremos adiante no Quadro 1. E por ser tão completo, também é um meio ideal e propício ao desenvolvimento de microorganismos fermentadores. Com o aumento do consumo surgiu a necessidade de aprimoramento das técnicas de higienização, obtenção, conservação e transporte do leite. Daí a importância de se estabelecer métodos de controle e produção que garantam a obtenção de um produto limpo e saudável. Estes métodos compreendem não somente a obtenção envolve desde o controle da saúde do animal até a entrega do produto final ao consumidor. Hoje, inclusive, já há a preocupação em se prever o uso que o consumidor possa a vir fazer do produto, e que este manuseio possa ser orientado para que se tenha maior segurança sobre as garantias estabelecidas entre o fabricante e o mercado consumidor. 1.1. OBTENÇÃO O leite deve provir de vacas sadias, ordenhadas em condições higiênicas por pessoas asseadas e isentas de doenças infecciosas. Deve ser recolhido em utensílios limpos e higienizados. 1.2. LEITE PURO E SÃO É o leite de bom sabor, que provém de vacas sadias, livre de impurezas e com baixa contagem de microorganismos, não patogênicos e sem (nenhum) patogênicos. O Regulamento Técnico de Produção, Identidade e Qualidade de Leite assim define: “Entende-se por leite, sem outra especificação, o produto oriundo da ordenha completa e ininterrupta, em condições de higiene, de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas. O leite de outros animais deve denominar-se segundo a espécie de que proceda”. “Entende-se por” “leite cru refrigerado”, o produto definido em 2.1.1, refrigerado e mantido abaixo das temperaturas constantes da tabela 2 do presente Regulamento Técnico, transportado em carro-tanque isotérmico da propriedade rural para um posto de refrigeração de leite ou estabelecimento industrial adequado, para ser processado e que não seja destinado diretamente ao consumidor final.”. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 2 1.3. INSTALAÇÕES Adequadas, sem corrente de ar, de fácil manutenção e limpeza, livre de resíduos fecais e alimentares. Condições Higiênico-Sanitárias Gerais para a Obtenção da Matéria -Prima: Deverão ser seguidos os preceitos contidos no "Regulamento Técnico sobre as Condições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos Elaboradores / Industrializadores de Alimentos, item 3: Dos Princípios Gerais Higiênico-Sanitários das Matérias-Primas para Alimentos Elaborados / Industrializados", aprovado pela Portaria no 368 / 97 - MA, de 04 de setembro de 1997, para os seguintes itens: · Localização e adequação dos currais à finalidade; · Condições gerais das edificações (área coberta, piso, paredes ou equivalentes), relativas à prevenção de contaminações; · Controle de pragas; · Água de abastecimento; · Eliminação de resíduos orgânicos; · Rotina de trabalho e procedimentos gerais de manipulação; · Equipamentos, vasilhame e utensílios; · Proteção contra a contaminação da matéria -prima; · Acondicionamento, refrigeração, estocagem e transporte. · Condições Higiênico-Sanitárias Específicas para a Obtenção da Matéria -Prima: 1.4. VASILHAME Próprio e sanificado antes e após o uso (solução de iodo a 0,1%). 1.5. ASSEPSIA · mãos do ordenhador. · úbere e tetos do animal. Com solução de iodo a 0,1%, devendo ser enxugados logo após com toalhas de papel descartável. 1.6. ORDENHA Somente devem ser ordenhadas vacas sadias, e por pessoas asseadas e isentas de qualquer doença infecciosa, previamente submetidas à limpeza e assepsia. O leite deve ser recolhido em utensílios limpos e livres de bactérias nocivas e matérias estranhas. Devem-se desprezar os primeiros jatos de leite, colhendo-os em uma “caneca-telada” (detecção de mamite). Isto porque microorganismos penetram no teto, causando o início de uma contaminação ou até de mamite. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 3 · animais com ferimentos no úbere e tetos devem ser ordenhados por último. · animais com suspeita de doença devem ser isolados, medicados e só reintegrados ao rebanho após o restabelecimento. Estes procedimentos devem ser orientados por um veterinário. Após a ordenha higienizar os tetos com solução de iodo a 0,1%, glicerinada. As tetas do animal a ser ordenhado devem sofrer prévia lavagem com água corrente, seguindo-se secagem com toalhas descartáveis e início imediato da ordenha, com descarte dos jatos iniciais de leite em caneca de fundo escuro ou em outro recipiente específico para essa finalidade. Em casos especiais, como os de alta prevalência de mamite causada por microrganismos do ambiente, pode-se adotar o sistema de desinfecção das tetas antes da ordenha, mediante técnica e produtos desinfetantes apropriados, adotando-se cuidados para evitar a transferência de resíduos desses produtos para o leite (secagem criteriosa das tetas antes da ordenha); Após a ordenha, desinfetar imediatamente as tetas com produtos apropriados. Os animais devem ser mantidos em pé, pelo tempo suficiente para que o esfíncter da teta volte a se fechar. Para isso, recomenda -se oferecer alimentação no cocho após a ordenha; O leite obtido deve ser filtrado em recipiente apropriado de aço inoxidável, náilon, alumínio ou plástico atóxico. 1 - Cisterna; 2 – Cisterna do teto; 3 – Canal do teto; 4 – Alvéolo. Célula Secretora de Leite Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 4 1.7. CONSERVAÇÃO O leite deverá ser conservado em tanques de expansão em aço inoxid ável com acabamento sanitário, devendo ainda estar resfriado a no máximo 4ºC em até duas horas após a ordenha. Mantido sob refrigeração por no máximo 48 horas após a ordenha até o momento do transporte, devendo chegar à plataforma da unidade de processamento à 7ºC; 1.7.1. ESPECIFICAÇÕES GERAIS PARA TANQUES COMUNITÁRIOS 1.7.1.1. Será admitido o uso coletivo de tanques de refrigeração a granel ("tanques comunitários"), por produtores de leite. A localização do equipamento deve ser estratégica, facilitando a entrega do leite de cada ordenha no local onde o mesmo estiver instalado. 1.7.1.2. O leite obtido por esses produtores deverá chegar ao local onde estiver localizado o tanque comunitário, no máximo até 60 (sessenta) minutos após cada ordenha. Não será permitido acumular, em determinada propriedade rural, a produção de mais de uma ordenha para enviá -la uma única vez por dia ao tanque comunitário. 1.7.1.3. Os latões devem ser higienizados logo após a entrega do leite, através do enxágüe com água corrente e a utilização de detergentes biodegradáveis e escovas apropriadas. 1.7.1.4. A capacidade máxima do tanque de refrigeração para uso coletivo deverá ser dimensionada de modo a propiciar condições mais adequadas de operacionalização do sistema, particularmente no que diz respeito aos processos de lavagem e santificação de latões e velocidade de refrigeração da matéria-prima. 1.8. TRANSPORTE O leite deverá ser transportado em caminhões com tanques isotérmicos em açosinoxidáveis, dotados de mangote flexível e bomba sanitários auto-aspirante, podendo ainda ser dotados de sistema de medição de vazão e sistema computadorizado para registro dos dados de coleta. “O processo de coleta de Leite Cru Refrigerado a Granel consiste em recolher o produto em caminhões com tanques isotérmicos construídos intername nte de aço inoxidável, através de mangote flexível e bomba sanitária, acionada pela energia elétrica da propriedade rural, pelo sistema de transmissão ou caixa de câmbio do próprio caminhão, diretamente do tanque de refrigeração por expansão direta...” 1.8.1. CARRO COM TANQUE ISOTÉRMICO PARA COLETA DE LEITE A GRANEL Além das especificações gerais dos carros-tanque, contidas no presente Regulamento, deverão ser observadas mais as seguintes: 1.8.1.1. A mangueira coletora deverá ser constituída de material atóxico, apresentar-se internamente lisa e fazer parte dos equipamentos do carro-tanque. No caso da coleta de diferentes tipos de leite, a propriedade produtora de leite tipo B deverá dispor de sua própria mangueira; Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 5 1.8.1.2. Deverá ser provido de caixa isotérmica de fácil higienização para transporte de amostras e local para guarda dos utensílios e aparelhos utilizados na coleta; 1.8.1.3. Deverá ser dotado de dispositivo para guarda e proteção da ponteira, da conexão e da régua de medição do volume de leite. 1.8.1.4. Deverá ser, obrigatoriamente, submetido à lavagem e higienização após cada descarregamento, juntamente com os seus componentes e acessórios. O transporte do leite deve ser feito o mais rápido possível, para que o mesmo seja tratado e industrializado, aumentando assim a sua vida útil (self life) e sua utilização na alimentação humana. Todos estes cuidados têm como objetivo garantir que o leite chegue à indústria em condições microbiológicas e físico-químicas adequadas ao processamento. Este último referencial, o físico-químico, é o mais utilizado para a seleção do leite, nele sendo avaliados aspectos tais como: · acidez · densidade · gordura · ponto de congelamento · sabor e odor · cor Destes o primeiro a ser analisado é a acidez. 1.9. ACIDEZ A acidez do leite é um referencial, um parâmetro de avaliação das condições de obtenção, conservação e transporte do leite. Logo após a ordenha o leite já apresenta caráter ácido, devido à presença de caseína, fosfatos, albumina, dióxido de carbono e citratos. Entretanto esta acidez comumente é expressa em valores percentuais de ácido láctico. 1.9.1. ACIDEZ NATURAL E ACIDEZ DESENVOLVIDA Chamamos de acidez natural àquela observada no momento em que o leite é ordenhado, podendo oscilar entre 0,13 a 0,17%. Acidez desenvolvida é aquela originada pela ação de microorganismos fermentadores do leite. Os valores médios padrão estão entre 0,14 a 0,15%. C1 2H2 2O1 1, H2O è 4 CH3 – CHOH - COOH Lactose Hidratada Ácido Lático Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 2 Fatores que influenciam o desenvolvimento microbiano É importante notar que existem vários fatores, intrínsecos ao leite, que influenciam e propiciam ou não o desenvolvimento microbiano e que, portanto, nem sempre podem ser controlados. O que reforça a necessidade de se implementar esforços e técnicas para minimizar a contaminação do leite. · Nutrientes · Umidade · Temperatura · pH · Disponibilidade de oxigênio 1.10. RESFRIAMENTO O abaixamento da temperatura é uma maneira rápida e eficiente para diminuir a atividade microbiana. 1.10.1. EQUIPAMENTOS DE REFRIGERAÇÃO 1.10.1.1. Ter capacidade mínima de armazenar a produção de acordo com a estratégia de coleta. 1.10.1.2. Ser dimensionado de modo tal que permita refrigerar o leite até temperatura igual ou inferior a 4ºC (quatro graus Celsius) no tempo máximo de 03 (três) horas após o término da ordenha, independentemente de sua capacidade; 1.10.1.3. O motor do resfriador deverá ser instalado em local arejado. 1.10.2. OS TANQUES DE EXPANSÃO: 1.10.2.1. Deverão ter a parede interna de aço inoxidável, bem como apresentar dupla parede para expansão de gás, o qual não poderá apresentar qualquer contato direto com o leite. 1.10.2.2. Deverão ser instalados a uma altura conveniente do piso, para facilitar as operações de descarga e limpeza. 1.10.2.3. Poderão ser dotados de passador com tela de aço inoxidável ou outro material adequado, com malha fina (0,15 a 0,20 mm de permeação), instalado na sua abertura e removível para higienização. Deverá ser provido de agitador em inox com 30 a 40 rotações por minuto e ser provido de termômetro e termostato. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 3 1.10.2.4. Recomenda-se que as tampas dos tanques de expansão possam se abrir completamente ou em duas bandeiras, visando melhores condições de limpeza e sanificação do equipamento. 1.10.2.5. Recomenda-se a utilização de equipamento de refrigeração com sistema automático de aspersão de água e de soluções com detergentes e sanificantes, do tipo "spray ball" ou similar. Os registros de saída dos tanques de expansão deverão ser do mesmo diâmetro das conexões das mangueiras utilizadas na transferência do leite para o carro-tanque, não sendo permitido o transvase intermediário em latões. 1.11. PASTEURIZAÇÃO A pasteurização é um método de tratamento do leite que equaliza tempo e temperatura visando, ao mesmo tempo, melhorar suas condições microbiológicas, aumentando sua vida útil e utilizações, e preservar ao máximo possível seus atributos nutricionais. A pasteurização elimina · a totalidade da flora patogênica. · a maioria da flora banal (resta ± 0,1%). “A qualidade do produto final depende, diretamente, da qualidade da matéria prima”. “Produto de boa qualidade vende melhor e com preço maior”. 1.12. ORDENHA MECÂNICA Os freqüentes aumentos nos custos de nos diversos setores de produção e industrialização, têm propiciado cada vez mais a implementação de sistemas mecanizados, pois estes possuem maior eficiência e produtividade. No setor de produção de leite a mecanização da ordenha veio suprir a carência de mão-de-obra especializada e seu crescente custo, com ganhos de produtividade e qualidade. 1.12.1. VANTAGENS · Ganho de tempo. · Diminui mão-de-obra e abre outras opções da mesma (mulher). · Melhor higiene. · Melhor rendimento por vaca (sucção = a do bezerro). · Fácil manejo Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 4 1.12.2. DESVANTAGENS · Alto custo de implantação (plantel que justifique, aparelhagem e instalações). · Possibilidade de não-adaptação de alguns animais. A implantação de um sistema de ordenha mecânica requer planejamento e preparação de mão-de-obra para seu manuseio e manutenção. Por ser um equipamento caro e sensível deve ser utilizado criteriosamente e, por se tratar de um sistema fechado, deve obedecer a uma rigorosa metodologia de limpeza e sanificação. Caso contrário poderão ocorrer constantes problemas de funcionamento do equipamento e contaminação do leite pelo próprio sistema. Também os animais devem ser submetidos a uma rigorosa higienização, para que não disseminem infecções entre os tetos de um mesmo animal ou para outros. A lavagem do úbere da vaca, além da limpeza, estimula adescida do leite. A seleção dos animais que serão submetidos à ordenha mecânica é necessária, devendo para isso ser observado o seguinte aspecto: · Idade do animal® Preferencialmente vacas de 1ª e 2ª cria. · Características ® Aptidão leiteira; Comportamento do animal. É bom lembrar que os custos de implantação da ordenha mecânica se estendem também à adequação das instalações, ou seja, a estrutura física do estábulo. 1.12.3. LINHA DE ORDENHA A linha de ordenha é outro ponto importante a ser observado. Tirando-se o leite em uma mesma seqüência todos os dias são possíveis evitar a propagação de doenças (mesmo estando garantida a higiene da ordenhadeira, úbere da vaca, ambiente e pessoal). 1.º - Vacas de 1ª cria ou mais novas. 2.º - Vacas que nunca tiveram mamite ou mastite . 3.º - Vacas portadoras de doenças no úbere (as que tiveram e depois as que ainda estão acometidas). Nos casos de infecções do úbere é aconselhável que se faça a ordenha manual. Alguns aspectos importantes sobre limpeza, higiene na ordenha e manuseio de equipamentos: · A higienização do equipamento deve ser feita antes e imediatamente após o uso do mesmo, devendo observar-se, para tanto, as instruções do fabricante; · Também as vacas, demais instalações e operador devem ser submetidos à higienização prévia e posterior; · Devem-se desprezar os primeiros jatos de leite, colhendo-os em um recipiente à parte; Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 5 · Alguns equipamentos de sistema em linha (espinha de peixe) podem ser limpos e higienizados mediante circulação de soluções de limpeza e desinfecção. Entretanto suas partes móveis devem ser desmontadas para que se proceda a uma higienização mais rigorosa; · Desconectam-se os copos e mangueiras enxaguando-os em seguida com água fria, para retirar os resíduos de leite; · Em seguida usa-se uma solução de detergente sem cheiro (conforme a indicação do fabricante) para retirar a gordura e os resíduos mais resistentes ao enxágüe; · Novo enxágüe (água quente ou fria, conforme a resistência do equipamento e indicação do fabricante); · Mergulha-se em solução anti-séptica (cloro, iodo ou quaternário de amônia); · Deixa-se em local fresco, arejado e limpo para secar; No momento do uso faz-se nova desinfecção, antes da montagem. Devendo, também, ser feita a assepsia da tubulação de vácuo (circulando-se uma solução alcalina quente e procedendo-se o enxágüe com água quente). Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 6 2. CONSTITUINTES DO LEITE O conhecimento da composição do leite é fundamental para que se possa determinar sua utilização no processo de industrialização e para se estabelecer sua qualidade e valor nutricional. Quadro 1 - A composição do leite Componentes % Água 87,3 Lactose 4,6 Proteínas (não assimiláveis) 3,8 Gorduras 3,6 Sais Minerais 0,7 2.1. ÁGUA Quantitativamente é o constituinte mais importante, no qual estão dissolvidos, dispersos ou emulsionados os outros componentes. Esta disposta como água livre e ligada a proteínas, lactose e sais. 2.2. LACTOSE É o glúcide característico do leite, sendo formado por glicose e galactose. É o principal constituinte sólido e também o menos variável. É pouco doce, pouco solúvel e passível de escurecimento mediante tratamentos térmicos. Pode ocasionar distúrbios digestivos quando mal digerida, problema este que pode ter origem congênita. Como alternativas de consumo podem ser utilizados leites fermentados, queijos e leite hidrolisado. C12H22O11, H2O è C6H12O6 + C6H12O6 Lactose Hidratada Glucose Galactose Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 7 2.3. PROTEÍNAS Estão dispostos como compostos nitrogenados protéicos (95%) e compostos nitrogenados não-proteicos (5%). Destes 95%CNP, 80% constitui o nitrogênio caseínico e 20% o nitrogênio não- caseínico. Sua composição e distribuição das frações protéicas são influenciadas por fatores como: · temperatura ambiente · doenças do animal · estágio de lactação · número de parições · raça · alimentação Enfim, todos estes, fatores que influenciam no metabolismo do animal. 2.4. GORDURAS Esta disposta em glóbulos envoltos por uma membrana lipoprotéica, sendo este o constituinte mais variável, em função de fatores como: · alimentação · raça · estação do ano · período de lactação 2.5. SAIS MINERAIS Associados às proteínas, conferem a elas maior estabilidade (o fosfato de cálcio participa da estrutura das micelas de caseína). Durante a pasteurização do leite ocorre insolubilização de sais de cálcio havendo, portanto, necessidade de reposição destes sais para o processamento de queijos. Entre os que se encontram em maiores teores estão: · Cloro, fósforo, potássio, sódio, cálcio e magnésio. . Entre os de menor teor: · ferro, alumínio, bromo, zinco e manganês. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 8 2.6. VITAMINAS Podem ser detectadas todas as vitaminas conhecidas, sendo que algumas se encontram associadas aos glóbulos de gordura (A, D, E K) e as outras dispersas na fase aquosa. Com exceção da vitamina K, que é sintetizada no sistema digestivo, a concentração das vitaminas lipossolúveis está relacionada à alimentação do gado. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 9 3. PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS 3.1. COR A coloração do leite está relacionada aos seus componentes da seguinte maneira: · A cor branca é resultante da dispersão da luz refletida pelas partículas coloidais de caseína, fosfato de cálcio e pelos glóbulos de gordura. · a cor amarelada é devida ao caroteno, pigmento lipossolúvel presente nos glóbulos de gordura. O desenvolvimento microbiano pode propiciar o aparecimento de colorações anormais. 3.2. SABOR E ODOR Quando obtido sob condições ideais, apresenta sabor pouco pronunciado, entre o doce e o salgado, sem acidez perceptível ao paladar ou sabor amargo. Entretanto o leite pode apresentar alterações de sabor e odor, que podem se apresentar mais pronunciados, devido a fatores como: · ambiente de ordenha; · alimentação (silagem, ração); · saúde animal (mamite). 3.3. DENSIDADE O leite normal apresenta densidade, à 15º C, entre 1028g/litro a 1034g/litro. Alterações nestes valores podem indicar tentativa de fraude, por adição de soluto ou solvente, misturas de ambos ou até desnate. 3.4. ACIDEZ Logo após a ordenha o leite já apresenta reação ácida a fenolftaleína, isto devido à presença de caseína, fosfatos, albumina, dióxido de carbono e citratos. A isto chamamos de acidez natural, que pode oscilar entre 0,13% e 0,17%, valoresestes expressos como ácido láctico. Entretanto o desenvolvimento microbiano pode elevar a acidez do leite através do desdobramento da lactose, para obtenção de energia, ocasionando a formação de ácido láctico e outros compostos de caráter ácido, ao que chamamos de acidez desenvolvida. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 10 3.5. PH O leite apresenta um pH médio de 6, 8, podendo apresentar variações conforme o período de lactação, infecções e desenvolvimento microbiano, alimentação e época do ano (que podem influenciar na composição do leite). O colostro, ao primeiro dia apresenta pH de 6,25 e ao terceiro dia 6,46. Leite mamitoso pode apresentar variações, que tendem ao alcalino, que podem atingir um pH de até 7,5. 3.6. PONTO DE EBULIÇÃO Entre 100º e 101º C, ao nível do mar. A adição de substâncias pode influenciar e alterar o ponto de ebulição. 3.7. PONTO DE CONGELAMENTO Pode variar entre -0,53º a -0,56ºH (Hortvet) ou -0,512° a -0,531°C (Celsius), valores estes que oscilam conforme a composição do leite e podem servir como referencial para detecção de fraudes. Conversão: °C = 0,9656 x °H °H = 1,0356 x °C Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 11 4. ANÁLISE E SELEÇÃO DO LEITE 4.1. TESTE DO ALIZAROL É um teste rápido, eficiente e simples de se fazer uma avaliação qualitativa do leite, podendo-se detectar variações da acidez do leite que vão do ácido ao alcalino. Nos casos em que se confirmam alterações para ácido ou alcalino é necessário, então a realização de testes quantitativos ou mais específicos. Essas variações podem se originar da fermentação bacteriana, que acidifica o leite ao desdobrar a lactose em ácido láctico e água, ou da adição de substâncias alcalinas (redutoras), o que ocasiona elevação do pH e constitui ato fraudulento. Por outro lado, o leite mamitoso também pode apresentar pH alcalino. MATERIAL NECESSÁRIO · 01 Erlemmeyer de 50 cc, becker, tubo de ensaio ou mesmo aparelhos próprios. · 02 Pipeta graduada de 10 cc, ou 1 pistola de alizarol. Reagente necessário · Solução alcoólica a 75º GL, pH 6, 8, de Alizarina vermelha (Alizarol). Processo · Toma-se no erlemmeyer, com o auxílio de pipeta, 2 cc de leite a ser testado. Em seguida, com o auxílio de outra pipeta, adiciona-se ao leite 2 cc do Alizarol e agita-se a mistura. Quadro 2 - Interpretação dos resultados Coloração Coagulação Interpretação róseo-salmão Não normal róseo-salmão Sim desequilíbrio salino amarela Não ácido amarela Sim muito ácido violeta Não alcalino/água violeta Sim alcalino/mamite No caso de leite com desequilíbrio salino, ao procedermos ao teste de acidez pelo método Dornic, verificaremos sua normalidade quanto ao grau de acidez. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 12 4.2. ANÁLISE DE ACIDEZ PELO MÉTODO DORNIC O leite normal apresenta-se ligeiramente ácido (pH 6,8) ao sair do úbere da vaca. Mas em função do desdobramento da lactose, pela ação dos microorganismos, em ácido láctico e água, o pH do meio tende a baixar, podendo chegar à coagulação do leite. Assim, faz-se necessário selecionar todo o leite para que não se tenham problemas por misturar leite ácido com leite normal. Para isso, Dornic idealizou um processo muito simples e bastante eficiente, o qual ficou conhecido com o seu nome: Método ou Processo Dornic. Material necessário · 01 Erlemmeyer de 125 cc. · 01 Acidímetro Dornic ou bureta. · 02 Pipetas graduadas de 10 cc. Reagentes necessários · Solução Dornic (solução de hidróxido de sódio - NaOH - N/9). · Solução alcoólica de Fenolftaleína a 1%. Processo · Toma-se no erlemmeyer, com o auxílio de uma pipeta, 10 cc de amostra do leite a ser analisado. Adiciona-se 3 a 5 gotas de solução de Fenolftaleína, agitando-se em seguida a mistura para homogeneizá-la. · Com o auxílio do Acidímetro Dornic (bureta ou pipeta graduada de 10 cc) goteja-se a solução Dornic, sob constante agitação, até o aparecimento e permanência de coloração ligeiramente rósea. Estando terminado o processo de titulação, procede-se à leitura da quantidade de solução Dornic gasta na reação. Interpretação dos Resultados · Cada 0,1 cc gasto da solução Dornic, corresponderá a 1º Dornic (ºD), que por sua vez corresponde a 0,1g de ácido láctico por litro de leite. · Assim, para um leite normal, que deve apresentar acidez entre 16º a 18ºD, serão gastos de 1,6 a 1,8 cc da referida solução. · 0,1 cc sol. Dornic gastos = 1ºD = 0,1g ác. láctico/litro de leite. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 13 4.3. DETERMINAÇÃO DA MATÉRIA GORDA DO LEITE Em média, o leite apresenta 3,6% de matéria gorda. Este percentual pode variar em função de fatores tais com: a raça do animal, o período de lactação e a alimentação. Por se apresentar interligada a outros componentes, a gordura fornece informações úteis sobre a integridade do leite. Dentre os vários processos utilizados para a determinação da matéria gorda do leite o mais comum é o Processo Butirométrico de Gerber. Este processo consiste na propriedade que tem o ácido sulfúrico (H2SO4) de dissolver a caseína sem atacar a matéria gorda, quando em concentração adequada. Material necessário · 01 Butirômetro de Gerber. · 01 Pipeta automática de 10 cc (bico-de-papagaio). · 01 Pipeta automática de 1 cc (bico-de-papagaio). · 01 Erlemmeyer de 500 cc (com rolha de adaptação para a pipeta automática). · 01 Erlemmeyer de 250 cc (com rolha de adaptação para a pipeta automática). · 01 Pipeta volumétrica de 11 cc. · 01 Centrífuga de 1200 rpm. Reagentes necessários · Ácido sulfúrico (H2SO4) D 1820-1825. · Álcool amílico D 815. Processo · Coloca-se no butirômetro de Gerber, com o auxílio da pipeta automática, 10 cc de Ácido sulfúrico (H2SO4) D 1820-1825. · Adiciona-se, lenta e progressivamente, com o auxílio da pipeta volumétrica, 11 cc da amostra do leite a ser analisado. Direcionando o fluxo do leite contra a parede de vidro do butirômetro, não contra o ácido sulfúrico. · Adiciona-se, com o auxílio da pipeta automática, 1 cc de álcool amílico, com a finalidade de clarear a separação da matéria gorda. · Limpa-se a “boca” do butirômetro, fechando-o em seguida com uma rolha de borracha. · Enrola-se o butirômetro em uma toalha, procedendo a seguir uma lenta agitação, através de inversões, até que a caseína seja completamente queimada pelo ácido sulfúrico. Atenção para o aquecimento resultante da reação. · Leva-se o butirômetro à centrífuga, a 1200 rpm, por 5 minutos. · Terminada a centrifugação, leva-se o butirômetro ao banho-maria por 3 a 5 minutos, a uma temperatura de 65º a 70º C. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 14 Interpretação dos Resultados · Retira-se e procede-se a leitura. Para tal, zeramos a coluna de gordura na escala do butirômetro com ajustes na rolha de borracha. A leitura é feita observando-se o menisco. Cada divisão da corresponde a 0,1% de matéria gorda. Se acaso for realizada uma só análise deve-se colocar, na centrífuga, no lado oposto ao do butirômetro com a amostra, um outro cheio de água para fazer o balanceamento da centrífuga. 4.4. DENSIDADE A densidade do leite é um ponto importante aser considerado na seleção do leite visto que a incidência de tentativas de fraude, por adição de solventes (água), solutos (sal, açúcar) e até mesmo mistura destes, é grande. É situada entre 1028g/litro e 1034g/litro à temperatura de 15º C. Material necessário · 01 proveta de 250 ml; · 01 termolactodensímetro. Processo · Transferir para a proveta 250 ml de amostra de leite; · introduzir cuidadosamente o termolactodensímetro · após a estabilização proceder à leitura da densidade e da temperatura e fazer a correção da densidade lida para densidade a 15º C, através da fórmula abaixo ou de tabela de correção. Formula: d15 = d lida + (T - 15) x K Onde: · d15: densidade corrigida para 15º C; · dlida: densidade lida no termolactodensímetro; · T: temperatura lida no termolactodensímetro; · K: fator de correção: ¾ K = 0,20 (temperatura até 25º C); ¾ K = 0,25 (temperatura entre 25,1º e 30,0º C); ¾ K = 0,30 (temperatura superior a 30,1º C). Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 15 Tabela de Correção de Densidade para a Temperatura de 15º C DENSIDADE LIDA 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 T 16 18.1 19.1 20.1 21.1 22.2 23.2 24.2 25.2 26.2 27.2 28.2 29.2 30.2 31.2 32.2 33.2 34.2 35.2 E 17 18.3 19.3 20.3 21.4 22.4 23.4 24.4 25.4 26.4 27.4 28.4 29.4 30.4 31.4 32.4 33.4 34.4 35.4 M 18 18.5 19.5 20.5 21.6 22.6 23.6 24.6 25.6 26.6 27.6 28.6 29.6 30.6 31.7 32.7 33.7 34.7 35.7 P 19 18.7 19.7 20.7 21.8 22.8 23.8 24.8 25.8 26.9 27.9 28.9 29.9 30.9 32.0 33.0 34.0 35.0 36.0 E 20 18.9 19.9 20.9 22.0 23.0 24.0 25.0 26.0 27.1 28.2 29.2 30.2 31.2 32.3 33.3 34.3 35.3 36.3 R 21 19.1 20.1 21.1 22.2 23.2 24.2 25.2 26.2 27.3 28.4 29.4 30.4 31.4 32.5 33.6 34.6 35.6 36.6 A 22 19.3 20.3 21.3 22.4 23.4 24.4 25.4 26.4 27.5 28.6 29.6 30.6 31.6 32.7 33.8 34.9 35.9 36.9 T 23 19.5 20.5 21.5 22.6 23.6 24.6 25.6 26.6 27.7 28.8 29.9 30.9 31.9 33.0 34.1 35.2 36.2 37.2 U 24 19.7 20.7 21.7 22.8 23.8 24.8 25.8 26.8 27.9 29.0 30.1 31.2 32.2 33.3 34.4 35.5 36.5 37.5 R 25 19.9 20.9 21.9 23.0 24.1 25.1 26.1 27.1 28.2 29.3 30.4 31.5 32.5 33.6 34.7 35.8 36.8 37.8 A 26 20.1 21.1 22.1 23.2 24.3 25.3 26.3 27.3 28.4 29.5 30.6 31.7 32.7 33.8 34.9 36.0 37.1 38.1 27 20.3 21.3 22.3 23.4 24.5 25.5 26.5 27.5 28.6 29.7 30.8 31.9 33.0 34.1 35.2 36.3 37.4 38.4 C 28 20.5 21.5 22.5 23.6 24.7 25.7 26.7 27.7 28.9 30.0 31.1 32.2 33.3 34.4 35.5 36.6 37.7 38.7 E 29 20.7 21.7 22.7 23.8 24.9 26.0 27.0 28.0 29.2 30.3 31.4 32.5 33.6 34.7 35.8 36.9 38.0 39.1 N 30 21.0 22.0 23.0 24.1 25.2 26.3 27.3 28.3 29.5 30.6 31.7 32.8 33.9 35.1 36.2 37.3 38.4 39.5 T 31 21.3 22.3 23.3 24.4 25.5 26.6 27.6 28.6 29.8 30.9 32.0 33.1 34.2 35.5 36.6 37.7 38.8 39.9 Í 32 21.6 22.6 23.6 24.7 25.8 26.9 27.9 28.9 30.1 31.2 32.3 33.4 34.5 35.9 37.0 38.1 39.2 40.3 G 33 21.9 22.9 23.9 25.0 26.1 27.2 28.2 29.2 30.4 31.5 32.6 33.7 34.8 36.3 37.4 38.5 39.6 40.7 R 34 22.2 23.2 24.2 25.3 26.4 27.5 28.5 29.5 30.7 31.8 32.9 34.1 35.2 36.7 37.8 38.9 40.0 41.1 A 35 22.5 23.5 24.5 25.6 26.7 27.8 28.8 29.8 31.0 32.1 33.2 34.5 35.6 37.1 38.2 39.3 40.4 41.5 D Tratando -se de leitura cuja temperatura seja superior a 35º C junte-se 0,3 para cada grau de temperatura quando a A densidade não exceder de 1028 e 0,4 de 1029 em diante. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 16 5. FALSIFICAÇÃO DO LEITE Existem pessoas que, por falta de escrúpulos (e educação), tentam fraudar o leite, causando prejuízos a quem compra e consome o leite. É por isso que o leite é submetido a uma bateria de testes, com os quais podem ser detectados estes problemas. É comum a adição de conservantes e redutores, tais como: · bicarbonato de sódio; · hidróxido de sódio (soda cáustica); · formol; · ácido bórico; · peróxido de hidrogênio (água oxigenada - peridrol*) · bicromato de potássio; · ácido salicílico e outros. Outros tentam aumentar o volume do leite adicionando água. Alguns água e sal, tentando corrigir a densidade. Para este mesmo fim também usam: · amido; · urina; · açúcar e outros. Mas estas fraudes podem perfeitamente ser detectadas em testes rápidos de laboratório. 5.1. PESQUISA DE ALCALINOS · 05 cc de amostra do leite; · 10 cc de álcool absoluto; Filtra-se o precipitado, e adiciona-se algumas gotas de ácido rosálico a 1%. · Reação Positiva ® aparecimento de cor vermelho-carmim. · Reação Negativa ® aparecimento de cor laranja. 5.2. PESQUISA DE FORMOL Adiciona-se ao ácido sulfúrico que será utilizado na análise de gordura, algumas gotas (± 5/litro) de solução de percloreto de ferro a 2% ou floroglucina. Procede-se a análise de gordura normalmente. · Reação Positiva ® abaixo da coluna de gordura apresenta coloração violácea. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 17 5.3. PESQUISA DE AMIDO · Pipetar, para um tubo de ensaio, 5ml de amostra de leite; · ferver em chama de lamparina ou bico de Bunsen; · resfriar em água corrente; · acrescentar 5 gotas de solução de lugol. · Reação positiva (presença de amiláceos) ® aparecimento de coloração azul. 5.4. PESQUISA DE CLORETOS Misturar em um tubo de ensaio: · 1 ml de leite; · 1 ml de nitrato de prata 10% (m/v); · 1 ml de cromato de potássio 5% (m/v) · Reação positiva (presença de cloretos) ® coloração amarela. 5.5. PESQUISA DE AÇUCARES Misturar em um tubo de ensaio: · 1 ml de leite; · 1 ml de ácido clorídrico p. a. · agitar até a dissolução; · deixar em banho-maria por 2 a 3 minutos. · Reação positiva (presença de açucares) ® coloração escura. 5.6. PESQUISA DE PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO Técnica 1 · Pipetar, para um tubo de ensaio, 5 ml de amostra de leite; · acrescentar 2 ml de ácido clorídrico p. a. e agitar; · acrescentar uma gota de formol e agitar; · aquecer em chama de lamparina ou bico de Bunsen. · Reação positiva ( presença de peróxido) ® coloração violácea. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 18 Técnica 2 (leite cru) Misturar em um tubo de ensaio: · 5 ml de amostra de leite; · 0,5 ml de guaiacol 1% (v/v) SR. · Reação positiva (presença de peróxido) ® coloração salmão. 5.7. PESQUISAS DE HIPOCLORITOS Misturar em um tubo de ensaio: · 1 ml de leite · 1 ml de iodeto de potássio 10% (m/v) SR. · Reação positiva (presença de hipocloritos) ® coloração alaranjada. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 19 6. ESTABILIDADE TÉRMICA DO LEITE APLICAÇÕES TECNOLÓGICAS A Estabilidade Térmica do Leite (ETL) constitui um importante capítulo da química e tecnologia do leite, em especial no estudo dos processos de tratamento térmico. Nele são abordadas questões relativas as aplicações específicas para estabilização do leite nos diferentes processos de tratamento térmico e acerca das aplicações no desenvolvimento e aprimoramento dos derivados lácteos. 6.1. ESTABILIDADE DAS PROTEÍNAS DO LEITE A estabilidade térmica do leite (ETL) pode ser definida pela relação entre a temperatura, o pH e o tempo necessário para originar coagulação visível (ALMEIDA, Maria Cecília Freitas). Por estar correlacionada a muitas variáveis da composição do leite (pH, equilíbrio salino, teor de uréia, estabilidade das micelasde caseína – fatores estes ligados às variáveis da composição do leite, período de lactação, alimentação, doenças do úbere entre outros) e aos fatores ambientais (tempo e temperatura), constitui um estudo complexo e enganoso. Antes, para melhor compreender a ETL, é importante conhecer a estrutura e o comportamento das proteínas no leite mediante as variáveis expostas. 6.1.1. PROTEÍNAS Proteínas são polímeros de alto peso molecular, formados por cadeias de aminoácidos, unidos entre si por ligações peptídicas. As propriedades de uma proteína são determinadas pelo número e espécie dos resíduos de aminoácidos, bem como pela seqüência desses compostos na molécula. Por serem macromoléculas muito complexas, as proteínas são compostos sem odor e sem sabor. Podem ser classificadas em três grupos principais: proteínas simples, conjugadas e derivadas, sendo que apenas os dois primeiros grupos são encontrados na natureza. Proteínas simples são aquelas das quais, por hidrólise, resultam aminoácidos como únicos produtos. Neste grupo temos como exemplos: albuminas, globulinas, glutelinas, prolaminas, protaminas, histonas e escleroproteínas. Proteínas conjugadas são mais complexas. Os compostos protéicos se encontram conjugados com substâncias de caráter não protéico, formando complexos mais ou menos estáveis (um grupo prostético ligado a compostos iônicos polares e não polares). Neste grupo podemos citar: cromoproteínas, lipoproteínas, nucleoproteínas, glicoproteínas (ou mucoproteínas), fosfoproteínas, metaloproteínas. Proteínas derivadas são compostos obtidos por meio de proteólise, pela ação de ácidos, bases ou enzimas. Neste grupo estão: proteínas derivadas primárias e proteínas derivadas secundárias. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 20 6.1.2. Estrutura das Proteínas Normalmente, os compostos protéicos existentes no organismo têm peso molecular de mesma ordem de grandeza, e tem formato esférico ou elipsóide. Para que uma proteína adquira e mantenha essas formas são necessárias muitas complexas interligações. A estrutura primária de uma proteína corresponde à seqüência dos aminoácidos da sua cadeia peptídica, desconsiderados outros tipos de ligações como interações causadas por forças de Van der Waals, ou ligações de hidrogênio. A estrutura secundária é resultante das dobras ou enrolamentos que a cadeia péptica sofre, sobre si mesma, adquirindo diferentes conformações. Entre estas conformações, as de menor energia livre, portanto as mais estáveis, são aquelas nas quais todos os grupos –NH das ligações peptídicas estão unidos aos grupos –C=O por ligações de hidrogênio. A estrutura terciária se refere às dobras e enrolamentos posteriores que as cadeias pépticas sofrem, resultando em uma estrutura mais complexa e compacta. Sua estabilização é atribuída a ligações covalentes (por exemplo: -S-S-, em proteínas ricas em aminoácidos contendo enxofre) e mesmo a ligações eletrovalentes causadas pela atração que exercem entre si, cadeias laterais carregadas positiva e negativamente. A estrutura quaternária é resultante da associação de duas cadeias peptídicas. Nela estão envolvidas as mesmas ligações das estruturas secundárias e terciárias, com exceção das ligações covalentes. A conformação tridimensional das proteínas não é alterada em meio aquoso ou em soluções diluídas de sais, propriedade esta muito importante, uma vez que as reações biológicas das proteínas se dão nesses meios. 6.1.3. PROTEÍNAS DO LEITE Estão dispostas como compostos nitrogenados protéicos (95%) e compostos nitrogenados não-proteicos (5%). Destes 95% CNP, 80% constitui o nitrogênio caseínico e 20% o nitrogênio não- caseínico. Sua composição e distribuição das frações protéicas são influenciadas por fatores como: · temperatura ambiente; · doenças do animal; · estágio de lactação; · número de parições; · raça; · alimentação. Enfim, todos estes, fatores que influenciam no metabolismo do animal. As caseínas constituem o principal grupo protéico do leite. São um grupo de fosfoproteínas específicas do leite, dispostas na forma de micelas com 20 a 300 nm de diâmetro. Precipitam por ação enzimática, calor e com acidificação a pH 4,6. O complexo caseínico é formado por submicelas com 10 a 20 nm de diâmetro, chamadas submicelas, contendo diferentes moléculas de caseínas unidas por Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 21 Lactose Sintetase interações hidrofóbicas e, principalmente, por fosfato de cálcio coloidal. Nesta categoria estão incluídos quatro tipos de cadeias polipeptídicas, designadas como aS1, aS2, b e k-caseínas, junto com alguns derivados originados da proteólise destas. A k-caseína possui regiões hidrofílicas que ficam orientadas para a parte externa da micela. As demais ficam voltadas para a parte hidrofóbica, sendo orientadas para o interior da micela. A estabilidade da micela de caseína está ligada a fatores tais como a concentração salina, o pH, a temperatura, enzimas, agentes desidratantes, oxidantes e redutores; indutores de pontes de hidrogênio, detergentes, fenol, etc. (Furtado, 1989) As soroproteínas apresentam um comportamento diferente das caseínas no que se refere à estabilidade, mantendo-se solúveis a pH 4,6 e nem sofrendo desestabilização por ação enzimática. Assim, ficam integradas ao soro após a precipitação do leite. Constituem um grupo bastante diversificado. Entretanto são desestabilizadas pelo calor. Possuem estrutura tridimensional compacta, de forma globular. Estão distribuídas como a-lactoalbumina, b -lactoglobulina, albumina de soro bovino (BSA), imunoglobulinas e peptídeos de baixo peso molecular, originados dos processos de hidrólise das caseínas. A a-lactoalbumina tem papel fundamental na biossíntese da lactose na célula secretora do leite, interagindo com a enzima galatosiltransferase, formando a enzima lactose sintetase, a qual catalisa a reação: Glicose + UDP-Galactose Lactose + UDP A b -lactoalbumina representa 50% do total das proteínas do soro. Ainda não tem função biológica estabelecida, mas suspeita-se que esteja envolvida no metabolismo do fósforo. A albumina do soro bovino (BSA) é um componente do soro sanguíneo e o aumento do teor deste componente no leite pode evidenciar um quadro de infecção mamária, fato este que ocasiona um aumento da permeabilidade do epitélio mamário, o que explica a variação. As imunoglobulinas são glicoproteínas que atuam como anticorpos durante a resposta imunológica do organismo frente ao antígeno. Estão entre as soroproteínas mais sensíveis ao calor. Outra parcela das proteínas do leite encontra-se associada à membrana do glóbulo de gordura. São de difícil estudo, pois apresentam forte interação entre si e com os lipídeos, além de muitas serem insolúveis (Furtado, 1989). Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 22 Concentração das proteínas no leite (tabela adaptada) 6.2. CONSTITUINTES Concentração no leite g/kg Porcentagem (% P/P) de Nitrogênio Protéico Proteína Total (NP) 33.0 100 Caseína Total (NC) 26.0 79.5 Soroproteínas (NSP) 6.3 19.3 Proteínas associadas à membrana do glóbulo de gordura 0.4 1.2 aS1-caseína 10.0 30.6 aS2-caseína 2.6 8.0 b-caseína 9.3 28.4 g-caseína 0.8 2.4 k-caseína 3.3 10.1 a-lactoalbumina 1.2 3.7 b-lactoglobulina 3.2 9.8 Albumina do soro bovino (BSA) 0.4 1.2 Imunoglobulinas 0.7 2.1 Outras (incluindo proteose-peptona) 0.8 2.4 WALSTRA & JENNESS 6.2.1. ALTERAÇÕES DA PROTEÍNA NO PROCESSAMENTODurante o processamento e armazenamento do alimento, podem ocorrer diversas reações degradativas. Isto pode resultar em perdas de funcionalidade e qualidade nutricional. Podem ocorrer ainda, alterações do flavor, desejáveis ou não. As alterações podem ocorrer mediante aquecimento na presença ou ausência de carboidratos, ph extremo e exposição a condições oxidativas. A maioria dos procedimentos comerciais, como desidratação e enlatamento, resulta em efeitos não-significativos na qualidade da proteína. Entretanto, existem exceções como condições em que o alimento é exposto a pH é elevado, aquecimento severo ou a lipídios oxidados. Em condições alcalinas, por exemplo, ocorre a racemização de aminoácidos e ligações cruzadas, com perda de qualidade nutricional e mudanças na funcionalidade. Em meio ácido, o triptofano (aminoácido essencial ao organismo, cristalino, que se pode considerar um derivado do indol) é rapidamente destruído, ainda mais à temperatura elevada. 6.2.2. A DESNATURAÇÃO A desnaturação é, normalmente, resultante da combinação de vários fatores, os quais rompem à conformação original da proteína. Do ponto de vista tecnológico, a desnaturação interfere em propriedades importantes da proteína. A proteína desnaturada é mais sensível à hidrólise pelas enzimas proteolíticas, aumentando sua digestibilidade e utilização. A estabilidade aumenta com a solvatação. Em proteínas globulares os aminoácidos hidrofóbicos localizam-se na parte interna dos glóbulos, enquanto os grupos hidrofílicos estão situados na parte externa e expostos ao solvente (água). Camadas de água ficam ligadas à superfície da proteína (0,2 a 0,5 g de água/ g de proteína). No caso da gelatina, esta proporção pode chegar à 99 vezes o peso da Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 23 proteína (colágeno desnaturado). Outro ponto importante é que a hidratação aumenta a estabilidade à desnaturação e à subseqüente precipitação. A proteína também pode reagir com os constituintes da fumaça, em processos de defumação, ocorrendo desnaturação. Isto ocorre geralmente na camada superficial, com formação de pontes metilênicas durante a reação com o formaldeído (constituinte da fumaça) com grupos amina das proteínas. 6.2.3. Alterações da Solubilidade A solubilidade das proteínas está ligada a três fatores principais: · grau de hidratação; · densidade e distribuição das cargas ao longo da cadeia; · presença de substâncias não-protéicas, como fosfatos, carboidratos e lipídeos. A insolubilidade completa das proteínas produz um precipitado, quando várias moléculas do poplipeptídeo se aproximam de tal forma que produzem agregados protéicos grandes o suficiente para serem visíveis. Isto ocorre quando o pH atinge o ponto isoelétrico (pI) da proteína. A combinação de sais, solvente e a temperatura podem ser manipuladas para alterar as propriedades solventes da água e, conseqüentemente, alterar a solubilidade da proteína. Concentração de distribuição de sais no leite Constituinte Concentração (mg/l) Solúvel (%) Coloidal (%) Cloreto 1200 100 0 Fosfato 750 43 57 Citrato 1750 93 6 Cálcio 1200 34 66 Fonte: Fox, 1991 O pH isoelétrico (pI) da proteína corresponde ao pH onde o número da suas cargas positivas e negativas se igualam. A maioria das proteínas tem ponto isoelétrico do lado ácido (carga positiva no pH fisiológico), devido ao maior número dos aminoácidos lisina (aminoácido natural, básico, que contém outro grupo amina, além daquele adjacente à carboxila, e que é essencial ao crescimento normal em crianças e à manutenção do equilíbrio nitrogenado no adulto - fórm.: C6H14N2O2) e arginina (Aminoácido natural cristalino, básico, essencial, que contém um grupo guanidina - fórm.: C6H14N4O2) em sua molécula. A distribuição de aminoácidos hidrofóbicos ou hidrofílicos na superfície da proteína determina a solubilidade em diferentes solventes (Araújo, 1995). O efeito do pH na dissociação de grupos funcionais da proteína altera as cargas e, portanto, a magnitude das forças atrativas e repulsivas. A dependência do pH é ilustrada no gráfico abaixo. O ponto mínimo da curva representa o ponto isoelétrico (predominam forças de atração). Com o aumento da dissociação dos grupos funcionais da proteína em ambos os lados do pI , ocorre a predominância de cargas repulsivas adjacentes e a capacidade de retenção de água aumenta. Neste caso, os valores máximos correspondem aos de pH 2,2 e 11, com os grupos funcionais completamente dissociados (Araújo, 1995). Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 24 Fen -Ser-Leu-His-Pro -Pro- 100 Met-Ala-Ile-Pro -Pro- 110 140 120 100 80 60 40 C R A (% ) 2 4 6 13 pH Influência do pH na CRA em carne Na fabricação de queijo, na precipitação da caseína com a adição de renina ao leite, ocorre hidrólise da ligação peptídica entre os aminoácidos Fen105 – Met106 da k-caseína, resultando em dois macropeptídeos: ácido e básico. A liberação do macropeptídeo hidrofílico (ácido) reduz as cargas da superfície e, conseqüentemente, aumenta as interações hidrofóbicas responsáveis pela coagulação (Araújo, 1995). Ação da renina sobre a caseína 6.2.4. EFEITOS DA PASTEURIZAÇÃO SOBRE AS PROTEÍNAS DO LEITE A pasteurização do leite do leite em sistema HTST (pasteurização rápida), onde o leite é aquecido a aproximadamente 72 a 74º C por 15 a 20 segundos, produz mudanças físico-químicas nas diferentes frações protéicas (ver tabela), afetando a distribuição do nitrogênio. (Furtado, 1989) Tabela – Distribuição do nitrogênio no leite cru, pasteurizado e fervido Distribuição percentual FRAÇÃO NITROGENADA Cru Pasteurizado Fervido N-Total 100,0 100,0 100,0 N-caseína 78,3 ± 0,5 80,1 ± 0,6 90,5 ± 1,9 NCN 21,7 ± 0,5 19,9 ± 0,6 9,5 ± 1,9 N-soroproteína 16,2 ± 0,9 14,3 ± 0,9 3,9 ± 1,8 N-Lg 8,4 ± 1,3 6,9 ± 1,2 0,2 ± 0,2 NPN 5,5 ± 0,7 5,6 ± 0,6 5,6 ± 0,6 Em:WOLFSCHOON-POMBO et ali (74) H2N HOOC Hidrofóbico Hidrofílico Renina Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 25 Dentre as alterações ocorridas podemos ressaltar as associações entre soroproteínas (a- lactoalbumina e b -lactoglobulina) e entre estas e as caseínas, em especial com a k-caseína. As soroproteínas, termicamente menos estáveis, sofrem desnaturação (desdobrando-se), ficando expostos os grupos funcionais internos, resultado das modificações ocorridas estruturas quaternária, terciária e secundária. Este aspecto pode ser explorado favoravelmente sob o ponto de vista tecnológico, levando-se em consideração a agregação destas às caseínas e o conseqüente aumento do tamanho das micelas. Contribuem ainda para a estabilidade destas e melhor hidratação. O calor promove a desidratação das proteínas e precipitação de fosfatos que têm a sua solubilidade reduzida com a elevação da temperatura, formando a pedra de leite nos trocadores de calor, além de dificultar a precipitação da caseína pela renina (enzima ativa na coagulação do leite e presente nas mucosas intestinais; quimosina). A pasteurização também provoca inativação de grupos enzimáticos e eliminação de efeitos tóxicos de várias proteínas (toxinas microbianas e inibidores enzimáticos naturais). Alguns efeitos da temperatura sobre a ETL: 80ºC · Desnaturação b-Lg; · Complexo b-Lg/k-CN 90º C · Estabilização do complexo. 100º C · Modificação da superfície micelar. >110ºC · Depende do pH. 140º C · Diminui a estabilidade durante a estocagem; · Proteases termoresistentes (psicotróficos) podem ocasionar coagulação doce durante a estocagem; · Formação incompleta dos complexos estabilizadores 6.3. APLICAÇÕES TECNOLÓGICAS O efeito do tratamento térmico a 90ºC, com estabilização do complexo protéico, é especialmente benéfico em produtos que serão expostos a condições críticas de estabilidade, tais como Leite UHT e Iogurte. Outrossim, em produtos precipitados, pode auxiliar no aumento do rendimento de fabricação, com a agregação das soroproteínas às caseínas. Além de melhorar a hidratação da mesma. Analisando a fabricação do requeijão, além do já citado ganho de rendimento, a melhoria da solubilidade protéica pode contribuir para a diminuição da utilização de sais fundentes, com notória economia de ingredientes. Há, ainda, melhoria da digestibilidade do grupo protéico e aumento da qualidade protéica uma vez que as soroproteínas apresentam valores em escala mais elevados nos quesitos citados. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 26 6.4. CONCLUSÃO O estudo da estabilidade térmica do leite (ETL) é sem dúvida relevante e requer aprofundamento. Os ganhos tecnológicos auferidos com a observação dos preceitos que regem a ETL, dos seus grupos protéicos, são muitos e precisam ser mais difundidos no meio laticinista, digo nas pequenas empresas. Com as transformações impostas pelos tempos modernos, estas necessitam cada vez mais se embasarem tecnologicamente. Com fundamentos e conceitos evoluídos e transcritos em práticas viáveis de fabricação, tecnológica e financeiramente. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 27 7. BENEFICIAMENTO DE LEITE Como sabemos, o leite constitui-se em excelente meio de cultura para microorganismos, devendo, portanto, ser resfriado e transportado o mais rápido possível até o posto de beneficiamento. Ao chegar no posto de beneficiamento, o leite passará por provas analíticas que visam avaliar as condições em que o mesmo se encontra, determinando assim o fim para o qual servirá na indústria. As análises realizadas mais comumente são: · teste do Alizarol; · acidez Dornic; · matéria gorda; · densidade; · detecção de água; · determinação do extrato seco; · conservadores e outros. Nas fábricas de queijos são realizados testes como a redutase e lactofermentação, que indicam de maneira rápida, mas não muito precisa, o índice de contaminação ou mesmo de higiene do leite. 7.1. FILTRAÇÃO E PASTEURIZAÇÃO Após ser classificado e considerado apto, o leite passará então pelo beneficiamento propriamente dito. · Posto de Resfriamento ® o leite é simplesmente recebido, selecionado e resfriado, até que seja transportado até a usina de beneficiamento e/ou uma fábrica. · Usina de Beneficiamento e Transformação ® o leite será efetivamente beneficiado - filtrado, clarificado, padronizado, pasteurizado e, até, homogeneizado - industrializado. Desta forma o leite passará pela “desnatadeira” (ou filtro-padronizadora- centrífuga) que faz a clarificação e a padronização da matéria gorda do leite. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 28 Em seguida passará pelo pasteurizador de placas, onde será submetido a uma temperatura de 72º a 75ºC/15 segundos (HTST), e será resfriado imediatamente à temperatura de 4ºC se for leite para envase, ou 32ºc para fabricação de queijos. Esquema de Funcionamento do Pasteurizador à Placas Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 29 Circuito de Pasteurização do leite Quadro 3 - Demonstrativo do Desenvolvimento Microbiano Temperatura do Nº de microorganismos/cm3 leite Tempo início > 10 min. > 30 min. > 60 min. > 120 min. L. Past. ± 37º C 1.000 2.000 8.000 64.000 4.096.000 L. Cru ± 37º C 10.000 20.000 80.000 640.000 40.960.000 Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 30 8. FABRICAÇÃO DE QUEIJOS 8.1. QUEIJO “Queijo é o produto obtido pela coagulação do leite, seguida de uma desidratação da coalhada, podendo ser fresco ou maturado”. (MUNCK e DUTRA, 1996). O queijo é um alimento de alto valor nutricional, visto que apresenta altos teores de proteínas, gorduras, sais minerais e vitaminas. É importante notar que seu valor nutritivo é comparável ao da carne, sendo que em alguns tipos de queijo chega mesmo a superá-la. É também excelente complementador da dieta alimentar infantil, uma vez que fornecem consideráveis teores de cálcio e fósforo, fundamentais na constituição dos ossos e dentição. Sua composição pode variar em função da composição do leite, tratamentos e aditivos que o leite pode receber e de acordo com o tipo de queijo, que pode apresentar significativas diferenças no teor de umidade. 8.2. COALHO É um composto de substâncias enzimáticas, extraído do quarto estômago (abomaso) de bovinos lactentes, ao qual podemos chamar de coalho de origem natural. Existem também coalhos adicionados de enzimas de origem suína, coalhos químicos ou artificiais, bacterianos e fúngicos. Recentemente foram lançados no mercado os coalhos genéticos, que apresentam enzimas similares às do coalho natural com maior grau de pureza, sendo produzidos por bactérias geneticamente modificadas. Pode ser encontrado sob a forma líquida ou em pó, o que não implica em diferenças quanto a sua utilização, modificando apenas sua dosagem, conservação e validade que são orientadas pelo fabricante. Normalmente, a dosagem recomendada pelo fabricante deve ser suficiente para coagular o leite em aproximadamente 45 minutos à temperatura de 32ºC, sendo que em caso de dúvida é recomendável fazer um teste para determinação da força do coalho. Este teste é relativamente simples e consiste em observar o tempo que 1g ou ml (ou medida, quando não se possui balança apropriada) do coalho gasta para coagular 1 litro de leite à temperatura de 32º C, fazendo-se após um cálculo, via regra de três, para ajustar o valor obtido para 100 litros de leite. É importante observar que, seja o coalho liquido ou em pó, a diluição do mesmo em água, isenta de contaminação ou cloro, favorece a boa distribuição e a formação de um coágulo uniforme. De um modo geral os coalhos comercializados no Brasil apresentam, entre coalhos líquidos e em pó, um “poder coagulante” que oscila entre 1:10. 000 a 1:100.000 (leia-se, por exemplo, neste segundo caso um para cem mil), ou seja, 1 litro ou kg de coalho deverá coagular de 10.000 a 100.000 litros de leite. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 31 Assim, dispondo de um coalho com poder coagulante igual a 1:80. 000, para coagular 100 litros de leite necessitaríamos de 1,25 g do referido. 1.000 g de coalho _______________ 80.000 litros de leite X g de coalho _______________ 100 litros de leite X = 1,25 g de coalho É importante observar as recomendações para conservação do coalho sugeridas pelo fabricante, caso contrário poderá haver um declínio do poder de coagulação, ou mesmo inutilizarão, do produto. De um modo geral, o coalho deveser mantido protegido de calor, umidade e luz. 8.3. COAGULAÇÃO “É a solidificação do leite devido à precipitação da caseína”. (MUNCK e DUTRA, 1996). Na indústria são integrados, para a coagulação do leite, coadjuvantes de coagulação (fermento láctico, ácido láctico e cloreto de cálcio), coagulante (coalho) e a temperatura, para que se consiga um coágulo de melhor uniformidade e consistência (semelhante à gelatina), propiciando um melhor rendimento na fabricação do queijo. 8.4. TEMPERATURA DE COAGULAÇÃO A temperatura de coagulação é um fator que influencia diretamente sobre a coagulação. Normalmente, para uma melhor equalização entre as propriedades do coalho e do fermento, são empregadas temperaturas entre 32º e 35º C. Quando associada apenas à acidez, que também tem influência direta, quanto maiores forem ambas mais facilmente o leite coagulará. Entretanto, quando adicionamos o coalho torna-se necessário limitá-la, isto porque temperaturas muito altas podem ocasionar desnaturação enzimática, neutralizando o efeito do mesmo. Em geral, não é recomendado ultrapassar, para coagulação, aos 42ºC. 8.5. ADIÇÃO DE COADJUVANTES DE COAGULAÇÃO Coadjuvantes de coagulação são os ingredientes que adicionamos ao leite, com o intuito de favorecer a coagulação, e que podem exercer influência direta ou indireta. São eles: · ácido láctico: normalmente comercializado em concentração de 85%, eleva, de forma controlada, a acidez do leite. Deve ser adicionado diluído de 30 a 50 vezes seu volume e sob constante agitação. · fermento láctico: eleva a acidez do leite, propicia a predominância de uma flora microrgânica desejável e que produz bom sabor e odor. Deve ser adicionado em uma proporção média de 1,0% a 1,5%, sob constante agitação. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 32 · cloreto de cálcio: serve para repor o cálcio insolubilizado na pasteurização, exercendo influência sobre a consistência do coágulo. Deve ser adicionado na proporção 40 a 50 ml (solução a 50% p/v) para cada 100 litros de leite pasteurizado, sob constante agitação. Eventualmente, conforme o tipo de queijo, poderão ser adicionados outros componentes ao leite, também antes da adição do coalho, os quais são úteis na caracterização ou composição do queijo em questão mas não podem ser classificados como coadjuvantes pois não influenciam na formação do coágulo (ex: corantes, compostos aromáticos, ervas, liofilizados de mofos, etc.). 8.6. ADIÇÃO DO COALHO Deve ser feita após o ajuste da temperatura e da adição dos coadjuvantes. Deve ser adicionado ao leite na dosagem recomendada pelo fabricante, com a necessária diluição, sob constante agitação que deve prosseguir por 1 ou 2 minutos para que haja uma boa distribuição do mesmo. 8.7. PERÍODO DE COAGULAÇÃO Deverá ocorrer sob repouso, em um período de 40 a 45 minutos a contar da adição do coalho. Pode variar para mais ou para menos, contudo é importante ressaltar que períodos muito prolongados podem propiciar a evolução de contaminações, indicando ainda declínio do poder coagulante quando utilizada a dose normal ou indicada pelo fabricante. 8.8. PONTO DE CORTE Normalmente ocorre entre os 40 e 45 minutos após a adição do coalho. É observado quando o leite adquire consistência semelhante à de gelatina, descolando-se da parede do tanque sem deixar resíduos ao ser pressionado com a mão. Pode ser determinado com o auxílio de faca ou espátula, introduzida em ângulo de 45º e inclinando-a de modo a levantar a massa lentamente, observando a sua resistência e formação de uma fenda em sentido longitudinal, com textura lisa e homogênea. 8.9. CORTE Deve ser feito com o auxílio de “liras” de aço inoxidável (com fios dispostos verticalmente e horizontalmente), formando pequenos cubos denominados de “grãos”, e tem por objetivo aumentar a superfície de dessoragem da massa, facilitando sua desidratação. O tipo e a consistência do queijo a ser fabricado determinará o tamanho dos grãos, que são classificados em uma escala de 1 a 4, respectivamente maior e menor. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 33 · grão 1 ® de 1,0 a 1,5 cm de aresta; · grão 2 ® de 0,75 a 1,0 cm de aresta (grão de milho); · grão 3 ® de 0,5 a 0,75 cm de aresta (grão de arroz); · grão 4 ® de 0,3 a 0,4 cm de aresta (grão de arroz quebrado). O coágulo estará apto ao corte quando: · ao ser pressionado com a palpa da mão, junto à parede do tanque de fabricação desprender-se do mesmo sem deixar resíduos de massa; · ao ser elevado, com o auxílio uma faca (espátula ou mesmo a mão), apresentando uma consistência semelhante à gelatina, partir em um só sentido, liberando em seguida um soro límpido e esverdeado. 8.10. AFINAMENTO DA MASSA Realizado cerca de 3 minutos após o corte da massa, com o auxílio de lira em aço inox, até a obtenção da granulação desejada. É importante salientar que a massa, neste momento, ainda apresenta pouca resistência mecânica, devendo-se atentar para a velocidade da operação, de modo que esta não exceda ao esforço estritamente necessário e não venha propiciar perdas de fragmentos de massa no soro. 8.11. DESCANSO O descanso da massa tem por objetivo permitir a formação de uma película porosa pela qual se dará o escoamento do soro e dar resistência ao cubo de massa (grão), permitindo que este seja manipulado. Deve ser realizado entre as etapas de fabricação e ao longo da mexedura da massa em intervalos com duração entre 3 a 5 minutos. 8.12. MEXEDURA É a agitação da coalhada após o corte, e tem por objetivo aumentar a dessoragem, não permitindo que os grãos voltem a se soldar. Deve ser intensificada gradativamente, pois os grãos tornam-se mais pesados à medida que o soro é expulso do seu interior, de modo a não provocar quebra excessiva da massa, o que pode acarretar substancial perda de massa no soro. Quando não é feito adequadamente o soro, que deve apresentar-se límpido e de coloração esverdeada, adquire aspecto opaco e coloração esbranquiçada. O tempo de duração da mexedura pode oscilar de 30 a 90 minutos, dependendo do tipo de queijo e sua consistência. Para queijos mais moles a duração, em geral, é menor, para queijos de maior consistência mais prolongada. Seve ser feita em movimentos sinuosos de modo a garantir a cobertura da área total do tanque de fabricação, evitando que a massa venha a embolar, voltando a se soldar, dificultando o processo de desidratação e comprometendo a uniformidade da mesma. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 34 8.13. LAVAGEM OU DELACTOSAGEM DA MASSA Processo no qual uma parcela do soro livre, referente a uma fração do total de leite trabalhado, é retirada do tanque de fabricação e substituída por outra de água, aquecida ou não, em menor volume. A diminuição do volume total de material presente no tanque facilita procedimentos de agitação. A intensidade de retirada de soro, o volume e a temperatura da água de aquecimento determinam o grau de lavagem da massa, bem como as alterações estruturais decorrentes destes procedimentos, fazendo que a massa possa tender a ser mais ácida quando pouco ou não lavada, ou mais elástica quando lavada, aumentando sua elasticidade quanto mais intenso for o processo. Isso se dá pela lavagem direta da massa, interferindo na acidez média da massa e pela diminuição da quantidade de soro, e conseqüentemente lactose, na fase intersticial da massa. Desta forma a atividade do fermento fica condicionadaà quantidade de lactose disponível na fase aquosa, o que limita o pH final da massa. A adição de água não deve ultrapassar a 20% do volume inicial de leite empregado na respectiva fabricação. Quando quente (75° a 80°C) intensifica a desidratação da massa. Quando fria atende apenas ao propósito de diminuição do teor médio de lactose na fase intersticial, com objetivo de limitar o pH da massa. O excesso de água na lavagem pode por esta razão inertizar a massa, pela falta de substrato. Deve ser utilizada sempre água tratada e previamente pasteurizada quando adicionada à frio (35° a 38°C). 8.14. AQUECIMENTO O aquecimento, quando feito no momento correto e em período de tempo adequado, favorece e complementa a dessoragem, entretanto não é um recurso utilizado em todos os tipos de queijo. Pode ser feito de forma direta, com adição de água a 80º C sempre de forma lenta e com distribuição uniforme, indireto com a injeção de vapor na “camisa” do tanque de fabricação ou combinada, primeiro direto e após indireto. Quanto mais consistente for o queijo, maior será a relação entre temperatura e tempo (1º C/1 minuto, 1º C/2 minutos). O aquecimento atua provocando uma retração da membrana que se forma em volta do grão, que pressiona o mesmo aumentando a expulsão de soro. Entretanto, esta retração também causa a diminuição dos poros por onde o soro escoa, daí a importância de se proceder ao aquecimento no momento e velocidade corretos. Em caso contrário pode acarretar a retenção de soro no interior da massa, efeito este certamente indesejável. Normalmente é realizado após 20 a 25 minutos do início da mexedura. Também é fator de caracterização da massa do queijo que pode ser classificado como de massa fresca (sem aquecimento), semicozida e cozida. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 35 8.15. PONTO FINAL A identificação do ponto da massa do queijo é um aspecto que envolve certa subjetividade, visto que demanda o desenvolvimento da sensibilidade de avaliação dos fatores que o evidenciam. Influencia no rendimento, caracterização e padronização do produto final. Caracteriza-se pelos seguintes comportamentos da massa: · quando os grãos depositam-se rapidamente no fundo do tanque, tendendo a se aglomerarem; · os grãos adquirem maior consistência, quinas arredondadas; · a massa apresenta bom escoamento de soro. Quando detectado o ponto, a mexedura é imediatamente paralisada, procedendo-se a seguir, conforme o tipo de queijo, a enformagem, dessoragem parcial, pré-prensagem ou dessoragem total seguida de trituração da massa. 8.16. DESSORAGEM Pode ser feita em meio a mexedura ou ao final. Tendo no primeiro caso a finalidade de lavar a massa, quando seguida de adição de água quente, tornando-a menos ácida, o que lhe confere maior mineralização e conseqüente elasticidade e para diminuição do volume no interior do tanque, permitindo uma agitação mais rápida. Pode chegar a 40% do volume inicial de leite utilizado na fabricação. 8.17. PRÉ-PRENSAGEM Tem por objetivo aglomerar a massa, facilitando seu fracionamento, a enformagem e a padronização do produto, no que se refere ao peso e a estrutura do produto (principalmente em relação à textura). Pode ser feito no próprio tanque de fabricação, com o auxílio de placas de pré-prensagem em aço inox e pesos revestidos em aço inox, ou em equipamento específico denominado drenoprensa, dotado de sistema pneumático. 8.18. ENFORMAGEM Pode ser feita imediatamente após o ponto, com a coleta direta da massa nas formas (Queijo Frescal), após a dessoragem, trituração ou pré-prensagem da massa. É importante frisar que não se deve esperar a massa esfriar para sua realização, caso contrário os grãos não se soldarão perfeitamente, descaracterizando, despadronizando o produto final, ou até inviabilizando o seu manuseio e comercialização. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 36 8.19. PRENSAGEM É realizada com o auxílio de formas específicas, normalmente, confeccionadas em polipropileno termoresistente, dotadas de tampas de mesmo material, com perfurações e tecido dessorador para escoamento de soro e sistema de encaixe para empilhamento em prensas verticais. Tem por finalidade garantir a soldagem dos grãos de massa, consolidando o bloco agora chamado queijo. O tecido dessorador poderá ser em tecido de algodão (morim), tecido misto de algodão e poliéster (“pele de ovo”) ou nylon. Além do escoamento de soro, a trama do tecido que fica impressa na superfície do queijo, contribui para a formação da casca do queijo, aumentando sua resistência. Devem ser higienizados e sanificados diariamente. 8.20. SALGA Pode ser feita a seco ou em salmoura, variando seu emprego conforme o tipo de queijo. · salga a seco ® utilizada em queijos de maior teor de umidade, consiste na simples aspersão de sal nas duas faces do queijo. Geralmente, para formas de queijo frescal com peso final de aproximadamente 0,8kg é aspergido em cada face algo em torno de 15 a 20 gramas de sal (uma colher das de sopa). · salga em salmoura ® utilizada em queijos de menor teor de umidade, é a que possui maior espectro de aplicação. Consiste na imersão dos queijos em uma solução salina a 20% de cloreto de sódio (NaCl), por um determinado tempo que é estipulado em função do peso do queijo, da temperatura da salmoura e do comportamento osmótico do sal na referida faixa centígrada. É recomendável que seja mantida sob refrigeração entre 10º a 12º C. Queijos menores permanecem menor tempo, e maior idem na recíproca. Contudo períodos muito prolongados podem não se justificar, visto que a maior absorção se dá nas primeiras horas. Em média são necessários 3 litros de salmoura para cada kg de queijo. A salmoura deve ser periodicamente corrigida (% de sal e acidez) e tratada (filtragem e pasteurização) para que tenha maior vida útil. A correção do teor de sal deve ser feita semanalmente (ou até diariamente, conforme o fluxo de utilização), contando-se, para sua determinação, com medidores de densidade específicos: · Areômetro de Balde, que expressa valores em escala de mesmo nome com a seguinte equivalência: 18 Baumé = 20% sal; · Areômetro Pesa Salmoura (*), que expressa em valores percentuais. (*) Esta denominação é simplesmente uma referência aos dizeres constantes no instrumento em questão, disponível no mercado. O Instrumento padrão é o Areômetro de Baumé. Assim, basta complementar a diferença percentual detectada, para que se atinja o padrão de 20%, com sal de boa qualidade. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 37 A correção da acidez da salmoura deve ser feita quando esta ultrapassar o padrão médio estabelecido, e podendo sua determinação ser feita pelo método Dornic. Deve ser mantida entre 15º a 30º D. A redução da acidez pode ser feita com a utilização de bicarbonato de sódio, ou outro redutor de boa qualidade, obedecendo à execução de um cálculo para determinação da quantidade estritamente necessária. Ex: Reduzir a acidez de um volume de 100 litros de salmoura com 40 ºD, para 18º D, utilizando-se para isto bicarbonato de sódio 80% puro. Considere que: · 84 g de bicarbonato de sódio 100% puro reduzem 90 g de ácido láctico. 40º D - 18º D = 22º D tenho a reduzir. 1º D _________________________ 0,1 g ác. láctico/litro 22º D _________________________ X g X = 2,2 g ác. láctico em 1 litro 1 litro de salmoura _____________ 2,2 g ác. láctico 100 litros de salmoura _____________ X gX = 220 g de ácido láctico a reduzir 90 g de ácido láctico ______________ 84 g bic. de sódio 100% puro 220 g de ácido láctico ______________ X g X = 205,33 @ 205 g de bicarbonato de sódio 100% puro 205 (g) x 100 (%) = X (g) x 80 (%)* X = 256, 25 @ 256 g de bicarbonato de sódio 80% puro. * pureza do bic. de sódio disponível. 8.21. MATURAÇÃO Tem por finalidade desenvolver sabor e aroma no produto, características estas resultantes da conciliação das propriedades físico-químicas conferidas ao produto no processo de obtenção da massa e do tipo e variedade do(s) microorganismo(s) adicionado(s) ao produto no transcurso da fabricação. Pode ser feita em diferentes níveis de temperatura, de acordo com o tipo de queijo, fase de maturação e disponibilidade de recursos. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 38 Também a umidade do ambiente é controlada de acordo com os mesmos quesitos mencionados acima. A maturação também confere ao produto melhor digestibilidade, o que acentua o valor nutritivo do produto, uma vez que as enzimas produzidas pelos microorganismos desdobram os componentes do produto em moléculas de menor tamanho, de fácil absorção pelo organismo, que por sua vez desprende menos energia para a digestão. Durante a maturação podem ocorrer problemas na formação da casca do queijo de origem física relativa ao ambiente ou de origem fermentativa, esta ultima causada por bactérias e fungos que podem infestar o queijo, causando defeitos de aspecto, sabor e aroma. Todavia, estes problemas podem ser prevenidos e até remediados com a adoção de cuidados periódicos (diários, semanais e mensais) e uma boa manutenção da sanidade do ambiente no qual o queijo será mantido durante o período de maturação. Pode ser feita tanto com o queijo exposto ao ambiente de maturação como embalado, acondicionado ou revestido de invólucro provisório. Finalmente a maturação confere diferenciação ao produto que adquire características próprias que podem ser controladas e regularizadas com a padronização dos procedimentos, não só de obtenção mas, de tratamento e manutenção do mesmo. 8.22. FERMENTO LÁCTICO É denominado fermento láctico a cultura de microorganismos úteis, e portanto desejáveis, para utilização na elaboração de derivados de leite. Normalmente são utilizadas na elaboração de queijos, bactérias de um só gênero e de duas espécies, Streptococcus lactis e Streptococcus cremoris, hoje denominadas Lactococcus lactis subsp lactis e Lactococcus lactis subsp cremoris. Estas culturas de microorganismos podem ser divididas, também, em grupos que se referem à faixa de temperatura na qual têm maior ocorrência e melhor se desenvolvem, aos quais chamamos: · termofílicos - desenvolvem-se em temperaturas mais elevadas; · mesofílicos - desenvolvem-se a médias temperaturas, compõem a maior gama de microorganismos; · psicrófilos - desenvolvem-se a baixas temperaturas; · psicotróficos – desenvolvem-se baixas e médias temperaturas, produzem enzimas (proteases) termoresistentes; · heterofermentadores - podem atuar em duas ou mais faixas de temperatura. De um modo geral, são empregados na elaboração de derivados de leite microorganismos mesofílicos, termofílicos e heterofermentadores. 8.22.1. FINALIDADE DA UTILIZAÇÃO DO FERMENTO LÁCTICO A pasteurização elimina tanto bactérias indesejáveis como desejáveis, algumas totalmente e outras parcialmente. Então o fermento láctico serve para repor e propiciar a predominância de uma flora bacteriana desejável, que produza bom sabor e aroma além de contribuir para o processo de obtenção da massa com a produção de ácido láctico. Entretanto, para se ter garantia desta predominância há que se ter extrema cautela e zelo no manuseio do fermento láctico. Atualmente as grandes empresas, e até algumas pequenas, vêm substituindo o tradicional fermento láctico, que requer manuseio e repicagens diárias para manutenção de seu exponencial de Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 39 proliferação, pelos fermentos DVS, que são liofilizados (fermentos em pó, desidratados à baixa temperatura, por meio da sublimação da fase aquosa, mediante exposição ao vácuo do fermento congelado) de grande concentração de bactérias, desenvolvidos para adição direta no tanque de fabricação. Este tipo de fermento, o DVS, elimina o processo de preparo e manuseio da cultura láctica, entretanto requer um período de pré-maturação do leite, devendo ser adicionado a este cerca de 30 minutos antes da adição do coalho, isto para que haja uma reativação das bactérias que antes se encontravam inertes. É bom observar, que mesmo nas fábricas que optaram pela manutenção do “fermento tradicional” tem se tornado prática comum ter em estoque algumas embalagens de fermento do tipo DVS como medida preventiva, pois em caso de contaminação não haveria tempo hábil para o preparo de nova cultura, isto sem considerar uma eventual reativação de um liofilizado. De um modo geral, o que motiva a manutenção do antigo sistema de repicagens de fermento nas pequenas indústrias é o tamanho das embalagens em que são comercializados os fermentos do tipo DVS, que são para um mínimo de volume de 500 litros de leite. Para contornar este problema deve ser feita uma diluição do conteúdo do invólucro em frascos com igual distribuição e diluição do liofilizado em questão. Ex. Partindo-se de uma embalagem de fermento DVS, “Alu-Foil” de 50U, para 500 litros de leite, distribuindo em diluições para partidas de fabricação de 100 litros de leite cada. · Diluir o conteúdo da embalagem de DVS em 500 ml de leite a 10º C (previamente tratado a 95ºC/15minutos); · bater em liquidificador, previamente sanificado, por 5 minutos; · aguardar alguns minutos até o abatimento da espuma formada; · distribuir o fermento, igualmente, em 5 frascos com tampa, limpos e esterilizados em água fervente; · tampar os frasco e armazená-los em freezer (a - 20º C) por até 15 dias. · cada frasco será suficiente para 100 litros de leite, devendo ser previamente descongelado em banho-maria ambiente e logo após adicionado ao leite em período que anteceda em 30 minutos a adição do coalho, da mesma forma que no procedimento original do produto. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 40 Esquema de diluição para fermento do tipo DVS DVS – “Alu-Foil” 50U/500litros Bater, distribuir nos frascos e congelar. Frascos com diluições. Copo do liquidificador 500 ml de leite 10º C 8.22.2. PRINCIPAIS MICROORGANISMOS EMPREGADOS NA ELABORAÇÃO DE FERMENTOS LÁCTICOS Antes Hoje Mesofílicos Streptococcus lactis Lactococcus lactis subsp lactis Streptococcus cremoris Lactococcus lactis subsp cremoris Heterofermentadores Streptococcus lactis var. diacetylactis Lactococcus lactis subsp lactis biovar diacetylactis Leuconostoc cremoris Termofílicos Streptococcus thermophilus Streptococcus thermophilus Lactobacillus bulgaricus Lactobacillus delbruecki subsp bulgaricus Lactobacillus helveticus Lactobacillus helveticus Propionibacterium shermani Propionibacterium freudenreichii subsp shermaniiFonte: MUNCK e DUTRA, 1996. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 41 9. QUEIJO MINAS FRESCAL O queijo Minas Frescal, devido ao seu baixo preço de comercialização, é um dos mais populares queijos do Brasil. Tal preço se viabiliza no seu alto rendimento de fabricação, que fica situado, em média, entre 6,0 e 6,5 litros de leite por kg de queijo. Sendo comercializado em formas que podem variar de 0,5 a 2,0 kg. Algumas fábricas, entretanto, buscam aumentar este rendimento consumindo abaixo de 6,0 litros de leite. Fato este que deve ser bem analisado, considerando-se as implicações que pode acarretar ao produto, tais como: diminuição da vida útil e baixa resistência mecânica (tendendo a deformar). Devido à simplicidade de sua fabricação muitos produtores de leite passaram a produzi-lo, obviamente com técnicas rudimentares e com leite cru, prática esta não recomendável e, pela legislação atual, só permitida a queijos com maturação superior a 60 dias, que não é o caso do queijo Minas Frescal. É um queijo de consistência mole, de coloração interna esbranquiçada, textura fechada com algumas olhaduras irregulares (mecânicas) e com sabor suave, podendo também apresentar-se ligeiramente ácido quando fabricado com fermento láctico. Composição Média Esperada Umidade.......................................... 55,0%-58,0% Gordura........................................... 17,0%-19,0% Sal................................................... 1,4%-1,6% pH (c/ fermento)............................ 5,0-5,3 pH (s/ fermento)............................ 6,1-6,3 Fonte: Furtado & Neto, 1994. Fluxograma de fabricação 1 - Leite pasteurizado e padronizado · 3,0 a 3,2% de matéria gorda 2 - Aferição da temperatura de coagulação · 32º a 34º C 3 - Adição de coadjuvantes de coagulação · cloreto de cálcio (sol. A 50% p/v), 40 a 50 ml/100 litros de leite. · ácido láctico (ind. 85% puro), 20 a 25 ml/100 litros de leite. 4 - Adição de coalho · quantidade suficiente para coagular o leite em 40 a 45 min. (conforme indicação do fabricante). 5 - Coagulação · 40 a 45 minutos. 6 - Corte · grão 1 (1,0 a 1,5 cm de aresta). 7 - Descanso · 3 a 5 minutos. 8 - Mexedura · lenta com progressão gradual, visando não deixar a massa embolar. · aproximadamente 25 minutos. 9 - Ponto · quando os grãos apresentarem quinas arredondadas e bom escoamento de soro. 10 - Dessoragem · eliminar a maior parte do soro. 11 - Enformagem · direta com viragens entre 10 e 20 minutos. 12 - Salga · a seco( 1,0% a 1,5% sobre o vol. de leite inicial), entre as viragens; · ou em salmoura (20% de sal, a 10º-12º C), no dia seguinte. 13 - Embalagem 14 - Expedição Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 42 Leite Pasteurizado / Padronizado - 3,2 a 3,4% Gb - 34 a 36°C Adição de Coadjuvantes CaC l2 Sol 50% - 40 a 50 ml / 100 litrosÁcido Lático Industrial 85% puro - 20 ml / 100 litros Adição do Coalho Coalho de origem bovina.Conforme indicação do fabricante. Coagulação 40 a 45 minutos Corte Grão 1 Repouso 3 minutos Mexedura Até o ponto Ponto Grãos de cosistência firme e uniforme, tendendo a ir ao fundo rapidamente, com bom escoamento de soro, aprox. 30 a 40 min. após o corte. Dessoragem Parcial Salga na Massa 0,8 kg / 100 litros. O sal é previamente dissolvido em água a 80°C. Enformagem Em formas de polipropileno termorresistente,sem dessorador. Resfriam. / Drenagem Em câmara fria 5 a 10°C, até o dia seguinte. Embalagem Sacos plásticos de polietileno Estocagem Em câmara fria 5 a 10°C. Expedição Fluxograma de Fabricação do Queijo Minas Frescal Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 43 10.QUEIJO MINAS PADRÃO Também conhecido como Minas Prensado ou Minas Curado, é talvez o mais típico e antigo queijo genuinamente brasileiro. Queijo maturado de casca fina e amarelada, apresenta textura interna amanteigada, de cor branco-creme, com presença de olhaduras irregulares (mecânicas) bem distribuídas e sabor ligeiramente ácido, sendo muito apreciado para acompanhar sobremesas e no café da manhã. Tem formato cilíndrico sendo comercializado com faixa de peso que oscila entre 0,8 a 1,2 kg. Seu rendimento de fabricação é de aproximadamente 8,0 a 8,5 litros de leite por kg de queijo. Composição Média Esperada Umidade........................................... 46,0%-49,0% Gordura............................................ 23,0%-25,0% Sal.................................................... 1,4%-1,6% pH.................................................... 5,0-5,2 Fonte: Furtado & Neto, 1994. Fluxograma de fabricação 1 - Leite pasteurizado e padronizado. · 3,2 a 3,4% de matéria gorda. 2 - Aferição da temperatura de coagulação · 32º a 34º C. 3 - Adição de coadjuvantes de coagulação. · cloreto de cálcio (sol. A 50% p/v), 40 a 50 ml/100 litros de leite. · fermento láctico mesofílico tipo “O” (S. lactis e S. cremoris). 4 - Adição de coalho · quantidade suficiente para coagular o leite em 40 a 45 min. (conforme indicação do fabricante). 5 - Coagulação · 40 a 45 minutos. 6 - Corte · grão 2 (0,75 a 1,0 cm de aresta). 7 - Descanso · 3 a 5 minutos. 8 - Mexedura · lenta com progressão gradual, visando não deixar a massa embolar. · é recomendável que se façam descansos durante a mexedura, a fim de se evitar a quebra excessiva dos grãos. 9 - Ponto · normalmente ocorre entre 40 a 50 minutos após o corte da massa, quando esta apresentar bom escoamento do soro. 10 - Dessoragem · total. 11 - Trituração da massa · manual. · tem por objetivo aumentar a dessoragem da massa e promover a formação de olhaduras mecânicas. 12 - Enformagem · imediatamente após a trituração, em formas com dessorador. 13 - 1ª Prensagem · 10 minutos, com pressão de 20 libras/pol2. 14 - 2ª Prensagem · 90 minutos, com pressão de 30 libras/pol2. 15 - Salga · em salmoura (20% de sal, 10º a 12º C), por 24 horas. 16 - Maturação · em câmara fria a 10º a 12º C, por 10 dias com viragens diárias. · após este período os queijos devem der lavados, deixados secar por 24 horas e embalados á vácuo em sacos plásticos termoencolhíveis, sendo maturados por mais 10 a 20 dias em câmara fria a 10º a 12º C. 17 - Embalagem · como mencionado acima, é feita na metade do período de maturação. 18 - Expedição Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 44 Leite Pasteurizado / Padronizado - 3,2 a 3,4% Gb - 32 a 34°C Adição de Coadjuvantes CaC l2 Sol 50% - 40 a 50 ml / 100 litros Fermento lático mesofílico tipo "O" St. lactis e cremoris 1,0 a 1,5% ou DVS R704 Adição do Coalho Coalho de origem bovina.Conforme indicação do fabricante. Coagulação 40 a 45 minutos Corte Grão 2 Repouso 3 minutos Mexedura Até o ponto Ponto Grãos de cosistência firme e uniforme, tendendo a ir ao fundo rapidamente, com bom escoamento de soro, aprox. 40 a 50 min. após o corte. Dessoragem Total Trituração da Massa Para aumentar a dessoragem e abaixar o ph, favorecendo a desmineralização da massa e a formação de olhaduras mecânicas. Enformagem Em formas de polipropileno termorresistente,com dessorador. Prensagem 1ª - 20 minutos; Viragem 2ª - 1h e 30 minutos; Viragem, no dia seguinte, após a fermentação 3ª - 10 minutos, sem o dessorador. Fermentação até o dia seguinte, pH 5,6 a 5,7. Salga Em salmoura 20%, acidez de 15 a 25°Dornic, 10 a 12°C, 10 a 14 horas para formas de aprox. 800g. Secagem Câmara fria 10 a 12°C, 80 a 85% URA,24 a 48 horas.Embalagem Á vácuo, em película plástica termoencolhível. Maturação Em câmara fria 10 a 12°C, por 20 a 30 dias. Estocagem Em câmara a 5 a 10°C Expedição Fluxograma de Fabricação do Queijo Minas Padrão Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 45 11.QUEIJO PRATO É um dos queijos mais difundidos e consumidos no Brasil, apresenta variações de forma, tamanho e demais características que conferem outras denominações, tais como: Cobocó, Estepe, Bola e Lanche. Queijo de massa lavada (mineralizada) e semicozida, o que lhe confere grande elasticidade, de fácil fatiamento, e um sabor suave muito apreciado pelo consumidor brasileiro em geral. Normalmente apresenta textura fechada, com presença de algumas regulares. Possui formato de paralelepípedo, sendo comercializado em formas de aproximadamente 1,8 kg. Variações de peso e forma, como supra citado, recebe outras denominações. Seu rendimento médio de fabricação é de 9,5 a 10,0 litros de leite por kg de queijo, entretanto pode diferir em suas variedades. Composição Média Esperada Umidade........................................... 42,0%-44,0% Gordura............................................ 26,0%-29,0% Sal.................................................... 1,6%-1,9% pH.................................................... 5,2-5,4 Fonte: Furtado & Neto, 1994. Fluxograma de fabricação 1 - Leite pasteurizado e padronizado. · 3,4% a 3,6% de matéria gorda. 2 - Aferição da temperatura de coagulação. · 32º a 34º C. 3 - Adição de coadjuvantes de coagulação e/ou aditivação. · cloreto de cálcio (sol. a 50% p/v), 40 a 50 ml/100 litros de leite. · fermento láctico mesofílico tipo “O” (S.lactis e S. cremoris), de 1,0% a 1,5 %. · corante vegetal de urucum, 8 a 12 ml/100 litros de leite. 4 - Adição do coalho. · quantidade suficiente para coagular o leite em 40 a 45 min. (conforme indicação do fabricante). 5 - Coagulação · 40 a 45 minutos. 6 - Corte · grão 3 (± 0,5 cm de aresta) 7 - Descanso · 3 a 5 minutos. 8 - 1ª Mexedura · lenta com progressão gradual, visando não deixar a massa embolar, com duração de 20 a 25 minutos. 9 - Descanso · 3 minutos. 10 - Dessoragem · 30% a 40% em relação ao volume de leite inicial. 11 - 2ª Mexedura · mais rápida, até o ponto (podem ser feitos descansos após o aquecimento). 12 - Aquecimento · deve ser iniciada assim que os grãos se soltarem uns dos outros, com água quente a 80º C, distribuída sob forma de chuveirinho, elevando a temperatura na razão de 1º C a cada minuto ( em média o volume de água quente empregado nesta operação é de 15% a 20% em relação ao volume inicial de leite), até a temperatura de 42º C. 13 - Ponto · ocorre aproximadamente entre 60 a 80 minutos após o corte. · os grãos apresentam bom escoamento de soro e quando comprimidos soltam-se uns dos outros com relativa facilidade. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 46 14 - Dessoragem · quase total, devendo permanecer o tanque quantidade suficiente para manter a massa imersa durante a pré-prensagem. 15 - Pré-prensagem · por 15 a 20 minutos, com pressão de 50 a 60 libras/pol2. 16 - Enformagem · em formas com dessoradores. 17 - 1ª Prensagem · 10 minutos, com 20 a 30 libras/pol 2. 18 - 2 ª Prensagem · 90 minutos, com 30 a 40 libras/pol 2. 19 - Salga · em salmoura (20% de sal, 10º a 12º C), por 24 horas. 20 - Embalagem · após a salga os queijos vão à câmara de secagem, 10º a 12ºC, por 24 horas. · são embalados em sacos plásticos termoencolhíveis. 21 - Maturação · são maturados embalados, por 30 dias, à temperatura de 10º a 12º C. 22 - Expedição Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 47 Leite Pasteurizado / Padronizado - 3,2 a 3,4% Gb - 32 a 34°C Adição de Ingredientes Coadjuvantes CaCl2 Sol 50% - 40 a 50 ml / 100 litros Corante vegetal de urucum - 8 a 12 ml / 100 litros Fermento lático mesofílico tipo "O" St. lactis e cremoris 1,0 a 1,5% ou DVS R704 Adição do Coalho Coalho de origem bovina.Conforme indicação do fabricante. Coagulação 40 a 45 minutos Corte Grão 3 Repouso 3 minutos Afinamento Até o grão 3. 1ª Mexedura 20 a 25 minutos. Dessoragem 30 a 40% em relação ao volume inicial de leite. 2ª Mexedura Até o ponto. Aquecimento Direto, com água a 80°C, max. 20% do volume inicial. Até 38°C, 1°C por minuto. 10 minutos de agitação. Até 42°C, 1°C por minutos. Ponto Grãos de consistência firme e uniforme, tendendo a ir ao fundo rapidamente, com bom escoamento de soro. Dessoragem Parcial. Pré-prensagem Com a massa imersa em soro, por 20 minutos com duasvezes o peso da massa. Dessoragem Total Enformagem Em formas de polipropileno termorresistente,com dessorador. Prensagem 1ª - 20 minutos; Viragem 2ª - 2horas; Viragem, no dia seguinte, após a fermentação 3ª - 10 minutos, sem o dessorador. Fermentação até o dia seguinte, pH 5,6 a 5,7. Salga Em salmoura 20%, acidez de 15 a 25°Dornic, 10 a 12°C, 10 a 14 horas para formas de aprox. 800g a 1kg. Secagem Câmara fria 10 a 12°C, 80 a 85% URA,24 a 48 horas. Embalagem Á vácuo, em película plástica termoencolhível. Maturação Em câmara fria 10 a 12°C, por 30 dias. Estocagem Em câmara a 5 a 10°C Expedição Fluxograma de Fabricação do Queijo Prato Lanche e Cobocó Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 48 12.MUSSARELA Também integrante do grupo dos queijos ditos da linha de combate de mercado (queijos de elaboração menos complexas, que estão situados na faixa de mercado de preços mais baixos e, portanto, mais concorrida - neste grupo também se incluem o queijo Minas Frescal, Padrão e do tipo Prato) sendo muito popular no mercado consumidor brasileiro. Apresenta variações regionais ou não, de consistência e forma que lhe confere diferentes denominações: bolinha ou “Brotinho”, Caccio- Cavalo ou cabacinha (queijo que na Itália é defumado), palito ou palmitinho, nozinho, trancinha e Provolone (que no Brasil é defumado, ao contrário do que é habitual na sua origem e na qual podemos identificar algumas diferenças em todo o processo de elaboração). Em sua origem italiana, a mussarela, era inicialmente fabricada a partir de leite de búfala, hoje, devido a crescente demanda, é fabricada á partir de leite de vaca. Muito consumida in-natura também possui amplo empregado culinário. Como características próprias podemos relacionar: massa de cor esbranquiçada, textura fechada, consistência firme e sabor ligeiramente ácido. É um queijo de massa filada, processo este que consiste na propriedade que a massa adquire quando, via fermentação, é acidificada até pH entre 4,9 e 5,3 e aquecida, de esticar-se, ficando assim enfileiradas suas cadeias protéicas, fato este responsável pela singular característica da massa dos queijos desta linha desfiarem-se em sentido longitudinal. A fabricação de mussarela com leite cru, no Brasil, é uma prática bastante difundida. Tal procedimento dificulta a padronização do produto, visto que não permite um controle pleno sobre os processos fermentativos, tão essenciais no processo de filagem da massa. Por outro lado, tal prática é pouco recomendável visto que a filagem não substitui a pasteurização, pois algumas bactérias patogênicas (ex: Staphilococcus aureus) sobrevivem ao processo. O rendimento médio situa-se entre 9,5 e 10,5 litros de leite, sendo necessário observar cuidados, para um melhor controle, desde a padronização do leite (que pode evitar excessivas perdas de gordura) até o processo de filagem. Composição Média Esperada Umidade...........................................43,0%-46,0% Gordura............................................ 22,0%-24,0% Sal.................................................... 1,6%-1,8% pH.................................................... 5,1-5,3 Fonte: Furtado & Neto, 1994. Fluxograma de fabricação 1 - Leite pasteurizado e padronizado. · 3,0% a 3,2% de matéria gorda. 2 - Aferição da temperatura de coagulação. · 32º a 34º C. 3 - Adição de coadjuvantes de coagulação · cloreto de cálcio (sol. a 50% p/v), 40 a 50 ml/100 litros de leite. · fermento láctico mesofílico tipo “O” (S.lactis e S. cremoris) ou termofílico (S. thermophilus e L. bulgaricus), de 1,0% a 1,5 %, com acidez entre 100ºD a 110ºD. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 49 4 - Adição do coalho · quantidade suficiente para coagular o leite em 40 a 45 min. (conforme indicação do fabricante). 5 - Coagulação · 40 a 45 minutos. 6 - Corte · grão 2 (± 0,75 a 1,00 cm de aresta) 7 - Descanso · 3 a 5 minutos. 8 - 1ª Mexedura · lenta com progressão gradual, visando não deixar a massa embolar, com duração de 20 a 25 minutos. 9 - Descanso · 3 minutos. 10 - Dessoragem · 20% em relação ao volume de leite inicial. 11 - 2ª Mexedura · mais rápida, até o ponto (podem ser feitos descansos após o aquecimento). 12 - Aquecimento · deve ser iniciado assim que os grãos se soltarem uns dos outros, com água quente a 80º C, distribuída sob forma de chuveirinho, elevando a temperatura na razão de 1º C a cada minuto ( em média o volume de água quente empregado nesta operação é de 15% a 20% em relação ao volume inicial de leite), até a temperatura de 42º C. 13 - Ponto · ocorre aproximadamente entre 40 a 50 minutos após o corte. 14 - Dessoragem · total, com retenção da massa em uma das extremidades do tanque, ou com a realização de uma pré -prensagem. 15 - Pré-prensagem · 10 a 15 minutos, com 2 a 3 vezes o peso da massa ou 20 a 30 libras/ pol 2 de pressão. 16 - Fermentação · sua duração está relacionada ao tipo de fermento, devendo ser observada a curva de acidez para que se tenha um melhor controle do ponto para filagem da massa, que deve ocorrer em pH entre 4,9 e 5,3 ou acidez do soro da massa de aproximadamente 60ºD a 70ºD; · outra forma de se detectar o referido ponto é testando-se a uma pequena amostra da massa, em água quente 65º C esta deve esticar-se, com facilidade, sem arrebentar-se. 17 - Filagem · após a detecção do ponto de filagem, em água a 80º C, devendo a massa atingir uma temperatura entre 58º a 65º C. · para melhor eficiência e uniformidade do aquecimento esta deve ser previamente fatiada. 18 - Moldagem · a massa após ser filada a massa é envolta em si mesma, formando-se uma cabaça a qual recebe o formato final de acordo com a variedade fabricada. 19 - Salga · em salmoura (20% de sal, 10º a 12º C), podendo permanecer de 2 a 24 horas, dependendo do peso e formato do queijo. 20 - Embalagem · após a salga são embalados em sacos plásticos termoencolhíveis. 21 - Expedição Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 50 Leite Pasteurizado / Padronizado - 3,0 a 3,2% Gb - 32 a 34°C Adição de Coadjuvantes CaCl2 Sol 50% - 40 a 50 ml / 100 litros Fermento lático mesofílico tipo "O" St. lactis e cremoris 1,0 a 1,5% ou DVS R704 Adição do Coalho Coalho de origem bovina.Conforme indicação do fabricante. Coagulação 40 a 45 minutos Corte Grão 3 Repouso 3 minutos Afinamento Até o grão 3. 1ª Mexedura 20 a 25 minutos. Dessoragem 30 a 40% em relação ao volume inicial de leite. 2ª Mexedura Até o ponto. Aquecimento Direto, com água a 80°C, max. 20% do volume inicial. Até 38°C, 1°C por minuto. 10 minutos de agitação. Até 42°C, 1°C por minutos. Ponto Grãos de cosistência firme e uniforme, tendendo a ir ao fundo rapidamente, com bom escoamento de soro. Dessoragem Parcial. Pré-prensagem Com a massa imersa em soro, por 20 minutos com duasvezes o peso da massa. Dessoragem Total Fermentação até o dia seguinte, pH 4,9 a 5,3, ou 65 a 70°D no soro. Fatiamento Fatias de 1 a 1,5 cm de espessura. Filagem Em água a 75 a 80°C.Massa com temperatura de 52 a 58°C. Moldagem Manual Enformagem Em formas de polipropileno termorresistente. Resfriamento À temperatura ambiente. Salga Em salmoura 20%, acidez de 15 a 25°Dornic, 10 a 12°C, 10 a 14 horas para formas de aprox. 800g a 1kg. 18 a 24 horas para formas de aprox. 3kg Secagem Câmara fria 10 a 12°C, 80 a 85% URA,24 a 48 horas. Embalagem Á vácuo, em película plástica termoencolhível. Estocagem Em câmara a 5 a 10°C Expedição Fluxograma de Fabricação do Queijo Mussarela Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 51 13.QUEIJO PARMESÃO O queijo tipo parmesão é originário da Itália, onde é denominada Grana - devido à textura granulosa de sua massa. É um queijo de massa cozida, semigordo, de consistência dura, sabor picante, com massa de coloração amarela-palha e crosta espessa. Pode apresentar algumas pequenas olhaduras (2 a 3 mm) bem distribuídas pela massa. De formato cilíndrico é comercializado, no Brasil, com variações de peso entre 3kg a 7kg. Devido ao seu baixo teor de umidade necessita de longo período de maturação, que pode estender-se até 3 anos. Entretanto, no Brasil, é maturado por um período médio de 6 meses. Composição Média Esperada Umidade........................................... 33,0%-37,0% Gordura............................................ 22,0%-24,0% Sal.................................................... 2,0% - 2,5% pH.................................................... 5,3-5,4 Fonte: Furtado & Neto, 1994. Fluxograma de fabricação 1 - Leite pasteurizado padronizado. · 3,0% a 3,4 % de matéria gorda. 2 - Aferição da temperatura de coagulação. · 32º a 34º C. 3 - Adição de coadjuvantes de coagulação · cloreto de cálcio (sol. a 50% p/v), 40 a 50 ml/100 litros de leite. · fermento termofílico (S. thermophilus , L. bulgaricus e L. helveticus), de 1,0% a 1,5 %, com acidez entre 120ºD a 140ºD, ou soro-fermento elaborado com o mesmo tipo de cultura. O ideal é que a quantidade de fermento ou soro-fermento seja suficiente para elevar a acidez do leite para 21ºD a 22ºD, podendo ser necessário aumentar a quantidade. 4 - Adição do coalho · quantidade suficiente para coagular o leite em 40 a 45 min. (conforme indicação do fabricante). Entretanto podemos encontrar na literatura recomendações para que esta quantidade seja suficiente para promover a coagulação entre 15 a 20 minutos, visando facilitar a obtenção de grãos pequenos. 5 - Coagulação · 40 a 45 minutos (ou 15 a 20min. - Itália). 6 - Corte · grão 4 (± 0,3 a 0,4 cm de aresta). 7 - Descanso · 3 a 5 minutos. 8 - 1ª Mexedura · lenta com progressão gradual, visando não deixar a massa embolar, com duração de 20 a 25 minutos. 9 - Descanso · 3 minutos. 10 - Dessoragem · 20% em relação ao volume de leite inicial. 11 - 2ª Mexedura · mais rápida, até o ponto (podem ser feitos descansos após o aquecimento). 12 - Aquecimento · 1º - deve ser iniciado assim que os grãos se soltarem uns dos outros, indireto (na camisa do tanque), elevando a temperatura na razão de 1ºC a cada 2 minutos, até a temperatura de 43ºC. · 2º - deve ser iniciado 10 a 15 minutos após o primeiro, na razão de 1ºC por minuto, até atingir 48º a 50ºC. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 52 13 - Ponto · ocorre aproximadamente entre 60 a 90 minutos após o corte. · os grãos apresentam-se soltos, ringindo quando mordidos (semelhante à borracha). 14 - Dessoragem · após a colocação da placa de pré-prensagem lateral, escoarparcialmente o soro, até o nível da massa; · adicionar 0,4% a 0,5% de sal, revolvendo a massa em meio ao soro para que haja uma boa distribuição do sal; · colocar a placa superior. 15 - Pré-prensagem · por 15 a 20 minutos, com 2 vezes o peso da massa ou 30 libras/ pol 2 de pressão; · após o início da pré-prensagem escoar o soro restante. 16 - Enformagem · em formas com dessoradores ou pano; 17 - Prensagem · 1ª - 20 a 30 minutos com 5 a 8 vezes o peso do queijo (4kg x 8= 32 x 2,2lb = 70lb/ pol2); · viragem; · 2ª - 60 minutos com 10 a 12 vezes o peso do queijo (4kg x 12 = 48 x 2,2 = 105lb/ pol 2); · viragem; · 3ª - até o dia seguinte com 15 a 18 vezes o peso do queijo (4kg x 18= 72 x 2,2 = 158lb/ pol2); · no dia seguinte realizar uma última prensagem, sem o dessorador ou pano, com peso ou pressão igual à 1ª prensagem, para minimizar eventuais marcas causadas por dobras ou costuras dos panos ou dessoradores; como medida de prevenção, é aconselhável embeber os panos e dessoradores em salmoura, antes de sua utilização e durante as viragens, para que a massa não agarre nos mesmos. 18 - Salga · para uma forma de 4 kg, 5 dias em salmoura a 20%, a 10º a 12 ºC, formas maiores o tempo aumenta em uma proporção equivalente (7 a 8 kg até 14 dias). 19 - Secagem · por 3 dias com salga a seco, entre as viragens diárias. 20 - Maturação · em câmara fria a 10º a 12ºC: por 6 meses com viragens a cada 3 dias nas primeiras semanas e 7 dias no restante do período; · ambiente: por 3 a 4 meses, com viragens diárias nas primeiras semanas e a cada 3 dias até o final; · como prevenção para mofos, no primeiro mês, a cada 10 dias passar álcool absoluto; · no restante do período, para prevenir ressecamento, passar um óleo vegetal de boa qualidade, 1 a 2 vezes ao mês; · estes tratamentos podem dispensados desde que se opte pela aplicação de resina plástica já no início da maturação, após a secagem. 21 - Embalagem · caso não se tenha optado pela resina o queijo poderá ser embalado, inteiro ou em cunhas, em sacos plásticos termoencolhíveis. 22 - Expedição Obs.: esta tecnologia não corresponde à original, italiana, tendo sido adaptada às condições do clima e qualidade do leite produzido em nossa região. Resulta, portanto, em um produto diferente do original, de sabor mais pronunciado e mais picante. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 53 14.RICOTA Também de origem italiana, é um queijo constituído basicamente por albumina e de lactoglobulina, que são os principais compostos protéicos do soro, isto porque não precipitam por ação enzimática e sim por ácido + calor. Pode ser comercializada fresca, prensada ou defumada. Quando fresca, possui curta vida útil, 7 dias. Já prensada e embalada a vácuo, e dependendo das condições de higienização e conservação, este prazo pode ultrapassar aos 30 dias. Por apresentar baixo teor calórico (açúcares e gorduras), composição conhecida e de certa forma restrita, alto valor nutritivo (proteínas) e alta digestibilidade é considerada um alimento dietético. Por ser insípida (sem sabor), tem larga aplicação na culinária pois, agrega valor nutritivo aos alimentos sem comprometer o sabor característico do mesmo. O rendimento médio para uma ricota fresca é de aproximadamente de 4,0 a 5,0 %, prensada de 1,8% a 2,0%. Entretanto, algumas fábricas, buscando melhorar este rendimento, adicionam leite desnatado. Tal procedimento descaracteriza a composição do produto, que passa a ter em sua composição a caseína e outras proteínas, embora dê maior consistência ao precipitado e aparente elevação do rendimento deve-se considerar que também aumenta o custo do produto, sendo recomendável confrontá-lo com o valor alcançado no mercado consumidor. Devendo, ainda, constar na embalagem que este produto contém outros ingredientes além da albumina e lactoglobulina. Composição Média Esperada para Ricota Fresca Umidade... 70,0%-73,0% Gordura............................................ 4,0%- 6,0% Sal.................................................... ___ pH.................................................... 4,9 - 5,3 Fonte: Furtado & Neto, 1994. Fluxograma de fabricação 1 - Soro fresco de queijo Minas ou qualquer outro que não contenha corante · soro fresco com acidez entre 10º a 12ºD, opcionalmente pode ser reduzida para 8ºD; · para se obter um produto de menor teor de matéria gorda pode-se desnatar o soro. 2 - Aquecimento do soro · em equipamento com relação de altura maior que largura, para maior concentração do precipitado e melhor facilidade e aproveitamento na coleta; · pode ser feito com vapor direto ou indireto, em tanque ou cuba de camisa dupla; · até 85ºC; · quando é feita, a adição de leite desnatado ocorre aos 65ºC. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 54 3 - Acidificação · quantidade suficiente para elevar a acidez para 16º a 19ºD; · com ácido láctico industrial 85% puro (80 a 100 ml/100 litros de soro) diluído em água 30 a 50 vezes seu volume para melhor distribuição e uniformidade da precipitação; · com soro ácido ou fermento láctico levar em consideração a acidez dos mesmos (ex: fermento com 100ºD são necessários ± 6 litros/ 100 litros de soro). É bom notar que quando acidificado com fermento láctico o produto final terá em sua composição a caseína e outras proteínas; · com ácido cítrico ou acético (com ác. cítrico, 500g /100 litros de soro); · deve ser feita sob constante agitação, a qual deve ser interrompida após o tempo estritamente necessário à distribuição do meio acidificante; 4 - Aquecimento · prosseguir o aquecimento até 90ºC, até afloramento dos primeiros flocos de precipitado. 5 - Repouso · 10 a 15 minutos para aglomeração e estabilização do precipitado. 6 - Coleta · com concha especial, de grande superfície e furação limitada; · a coleta deve ser feita cautelosamente, de modo a minimizar eventuais quebras do precipitado, que apresenta consistência frágil; · para melhor escoamento de soro é recomendável que a ricota seja colocada em recipiente ou forma com dessorador, permanecendo no mesmo até a embalagem ou sendo removido ainda quente para a embalagem quando for comercializada em potes plásticos; · em ambos os casos devem ser levados ao imediato resfriamento; Para obtenção de ricota prensada basta, após um bom escoamento do soro em um recipiente maior com dessorador, transferi-la ainda quentes para as formas com dessoradores e submeter à prensagem, com viragens, semelhante às realizadas no queijo minas padrão, podendo ainda permanecer sob pressão até o dia seguinte para obtenção de um produto de maior concentração. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 55 Soro Soro fresco de queijo, 10 a 12° Dornic Neutralização Bicarbonato de sódio q.s.p. reduzir a acidez para8° Dornic. Aquecimento Indireto, sob agitação, até 65°C. Adição de Leite Desnatado 10% em relação ao volume de soro. Aquecimento Indireto, sob agitação, até 85°C. Acidificação Sob agitação, com ácido lático industrial 80 ml / 100 litros, diluídos emágua 40 a 50 vezes o próprio volume. Aquecimento Indireto, em repouso, até 90 a 95°C. Floculação Estabil ização 10 a 15 minutos em repouso. Coleta Com escumadeira inox Emformagem Em formas de polipropileno termorresistente. Resfriamento e Drenagem Em câmara fria 10°C, por 24 horas. Embalagem Em sacos plásticos de polietileno. Estocagem Em câmara fria 5°C. Expedição Fluxograma de Fabricação de Ricota Leitee Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 56 15.REQUEIJÃO É um produto muito apreciado no mercado consumidor brasileiro, sendo também muito utilizado na culinária. Pode ser encontrado no comércio cremoso ou para corte, com algumas variações regionais no caso do segundo, que pode ser elaborado com adição de manteiga (tradicional ou de garrafa) em substituição ao creme de leite, apresentando assim coloração, sabor e aroma mais pronunciados. Também pela relativa simplicidade de elaboração, costuma ser fabricada, com técnicas rudimentares e sem aditivos, no meio rural para consumo doméstico e, às vezes, para comércio regional. Seu processo de fabricação consiste, basicamente, fusão da massa obtida da precipitação de leite desnatado, seguida da adição de sais fundentes para conferir maior estabilidade, a reincorporação da matéria gorda (creme ou manteiga), aferição do sabor (sal e acidez) e do teor de umidade. A massa pode ser obtida através da precipitação por adição de ácidos (láctico e cítrico), pela acidificação natural ou induzida (com adição de fermento) ou por ação enzimática (coalho), de leite cru ou pasteurizado. Entretanto a legislação atual não admite sua elaboração com leite cru, fundamentando- se na proibição da manipulação do leite cru dentro do ambiente industrial e no fato de na fabricação em tacho atmosférico a massa não atinge temperatura suficiente para garantir a isenção de contaminantes. Nas pequenas indústrias é mais comum à fabricação em equipamentos abertos (tachos atmosféricos a vapor), visto que os equipamentos fechados, que possuem mais recursos e permitem melhor controle do processo, são mais caros e, portanto, mais freqüentes nas grandes indústrias. Composição média esperada Corte Cremoso Umidade............................ 49,0% - 54,0% 57,0% - 60,0% Gordura............................ 24,0% - 27,0% 28,0% - 30,0% Sal.................................... . 1,0% - 1,5% 1,4% - 1,6% pH ...................................... 5,2 - 5,5 5,7 - 5,9 Fonte: Furtado & Neto, 1994. Em algumas regiões do nordeste brasileiro a concentração de sal pode alcançar valores entre 2,0% e 2,5%. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 57 Fluxograma de fabricação (em tacho aberto) 1 - Obtenção da massa · a partir de leite desnatado; · por acidificação induzida com adição de fermento láctico mesofílico (1,0% a 1,5%), em leite pasteurizado, deixando-o fermentar até o dia seguinte, 18 horas, (em regiões frias aquecer o leite a 35ºC); · ou por adição de ácido láctico (165ml/100litros de leite a 75ºC) ou cítrico, com precipitação imediata. 2 - Aquecimento · com vapor indireto, na camisa do tanque, a 45ºC. 3 - Corte · quando a coalhada apresentar boa consistência. 4 - Mexedura · lenta com progressão gradual, evoluindo de acordo com a consistência da massa, até que os grãos apresentem-se firmes e com bom escoamento de soro. 5 - Lavagem da massa com água. · em volume igual ao soro eliminado, em sucessivas vezes, até que esta apresente acidez entre 2º e 3º D; · escoar toda a água. 6 - Lavagem com leite desnatado · 10% a 15% do volume inicial de leite utilizado para obtenção da massa, acompanhado de aquecimento moderado, aguardando-se a incorporação que se evidencia com a dessoragem; · escoar todo o soro liberado. 7 - Aquecimento da massa · até filagem, com evolução posterior até 85º a 90ºC e manutenção até o ponto, sob constante agitação. 8 - Fusão · adicionar o sal (cloreto de sódio) na base de 200 a 300 g para cada 100 litros iniciais; · com adição de 1% a 3% citrato de sódio ou outro sal fundente em relação ao rendimento final estimado (ou 0,2% a 0,6% em relação ao volume de leite inicial), dissolvido em água quente, até que a massa não apresente grânulos. · durante o processo de fusão e aquecimento pode ser necessário adicionar água (quente) para ajustamento da consistência do produto e maior facilidade de distribuição dos ingredientes. 9 - Adição do creme · em quantidade suficiente para repor a matéria gorda extraída do leite inicialmente, 7 a 9 kg de creme 40% Gb, aquecido, aguardando sua incorporação. 10 - Ajustamento do ponto · com água até observação do ponto (40% a 43% de sólidos totais para requeijão cremoso ou 56% a 61% para o de corte). 11 - Embalagem · com o produto quente em copos de vidro ou potes plásticos, previamente limpos e sanificados, seguida inversão para prevenir entradas de ar durante o resfriamento, que deve ser feito em câmara fria o mais breve possível, até o dia seguinte. 12 - Expedição Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 58 16.QUEIJO FUNDIDO “O queijo fundido é o resultado da mistura balanceada de diversos tipos de queijo, adicionados ou não de água, creme, corantes, ingredientes de sabor e condimentos, e sais fundentes que sob agitação constante e calor, promove uma troca interna de íons transformando o paracaseinato de cálcio de hidratação instável, em paracaseinato de sódio, cuja solução é coloidal e estável”. (Tecnologia de Queijos - Múcio M. Furtado e João Pedro de M. L. Neto) Sua consistência varia em função de fatores como a umidade, a concentração de matéria gorda e o tipo de sal fundente empregado na fabricação, sendo classificado, desta forma, como em bloco ou cremoso. Em relação aos demais queijos, apresentam diferenças no que diz respeito às maiores opções de embalagem, estrutura mais estável, maior segurança quanto ao aspeto microbiológico já que a massa é submetida a altas temperaturas e, finalmente, melhor digestibilidade. Permite ainda melhor manipulação de sua estrutura e paladar. Água Calor Queijo (Paracaseinato de Cálcio) Agente seqüestrante de cálcio ¯ Ação mecânica Fusão ¯ Resfriamento ¯ Queijo Fundido (Paracaseinato de Sódio) Fonte: Furtado & Neto, 1994. É importante ressaltar que as propriedades de fusão, e re-fusão, estão relacionadas diretamente com a qualidade da matéria prima (composição, pH e grau de maturação do queijo), o tipo de sal fundente, a temperatura de fusão e a velocidade de agitação, tudo em função do tipo e das características do produto que se pretende obter. Em relação à matéria prima, queijo de estrutura mais elástica (ou mineralizada) apresentam maior facilidade de fusão que aqueles mais ácidos (de massa desmineralizada), sendo que fusão de ambos torna-se mais fácil com o avanço da maturação. De um modo geral são utilizadas misturas de Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 59 queijos que, balanceadas, permitem a utilização de diferentes tipos de queijos para a obtenção e caracterização do queijo fundido. A velocidade de agitação é outro ponto importante, quanto maior a agitação maior será a eficiência de troca térmica, o que facilita a fusão. A fusão ocorre aproximadamente 75º C, assim, o fato de se elevar a massa à temperaturas mais elevadas está relacionado, também, à prevenção de contaminações por microrganismos patogênicos. É bom lembrar que, quanto maior a temperatura mais cremoso deverá ser o produto final, fator este que não se desvincula, é claro, dos teores de umidade, gordura, tipo e grau de maturação do queijo, e do tipo de sal fundente empregado. Assim, para queijos fundidos em bloco são utilizadas temperaturas mais baixas (até 90º C), e para cremosos mais altas (110º a 145º C). Finalmente há que se considerar a consistência do produtoque se pretende obter em relação à matéria prima, o queijo, disponível para sua fabricação. Quanto mais maturado o queijo, mais cremoso tenderá a ser o produto final. A gordura e umidade devem ser balanceadas, e podem ser utilizadas como fatores eficientes para se regular a consistência final do produto, que pode ser adicionado ou não de água e creme para esse fim (quanto maior o teor de gordura menor a umidade, e vice-versa), dependendo das concentrações de ambas na matéria prima. Composição média esperada Corte Cremoso Umidade................................... . 45,0%-55,0% 58,0% - 62,0% Gordura no Extrato Seco... 45,0% 20,0%-60,0% Sa..................................... 1,0% - 1,5% 1,4% - 1,6% pH... 5,5 - 5,7 5,7 - 5,9 Fonte: Furtado & Neto, 1994. Fluxograma de fabricação (em tacho aberto) 1 - Seleção e preparo dos queijos · massa preparada exclusivamente para este fim · queijos que apresentem defeitos apenas de estrutura, e não de qualidade; · realizar a trituração e pesagem, e balanceamento da mistura de queijos. 2 - Pesagem dos ingredientes · sal fundente (citrato de sódio, ortofosfatos e polifosfatos de sódio), de 1% a 3%, dissolvido em água. · demais ingredientes, exceto a água, devem ser adicionados após a fusão. 3 - Aquecimento · conforme o tipo de queijo fundido desejado 4 - Adição do sal fundente · acompanhando gradualmente o aquecimento, em solução aquosa concentrada, até que se observe a completa fusão. 5 - Fusão · ocorre quando a massa não apresenta grumos, e sim uma textura lisa e uniforme. 6 - Adição de ingredientes · creme, condimentos e corantes, aguardando sua perfeita distribuição. 7 - Embalagem · em potes, copos ou caixas revestidas com filme plástico, conforme o tipo de produto. · copos e potes devem ser fechados prontamente e mantidos invertidos até o completo resfriamento, para prevenir a contaminação pelo ar. 8 - Resfriamento · em câmara fria a 5º C. 9 - Expedição · Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 60 17.FABRICAÇÃO DA MANTEIGA Manteiga é o produto obtido da bateção do creme de leite (fresco ou maturado), e que contém alto teor de matéria graxa, baixo teor de umidade, possuindo alto valor energético, podendo ser adicionada de sal ou não. Como todo produto alimentício sua qualidade final está condicionada a qualidade da matéria prima. Neste caso em dois seguimentos também correlacionados, o leite e o creme, sendo que este último está sujeito a tratamentos que podem apurar sua qualidade, eliminando contaminações (pasteurização), odores (vacreação, os odores são retirados por meio de vácuo) e desenvolvendo sabor e aroma agradáveis (maturação, com a adição de culturas lácticas aromáticas). Pode, ainda, ser classificada conforme o, qualidade da matéria prima, tratamentos, processo de obtenção e composição físico-química. Para isto são apreciados suas características organolépticas (sabor e aroma), propriedades físicas (corpo, textura e cor), químicas (% de gordura, umidade e sal) e acabamento da embalagem. Através de uma escala de valores pode ser classificada em quatro níveis, a saber: · Manteiga Extra - é a que apresenta melhor qualidade, proveniente dos melhores cremes pasteurizados, neutralizados ou não, maturados ou não, com ou sem sal e elaboradas racionalmente. De sabor suave, nítido e ligeiramente ácido. Corpo compacto, uniforme, de textura granulada e grão fino. Cor amarelo-palha e uniforme. Umidade e sal uniformemente distribuídos. Acabamento e embalagem inobjetáveis. · Manteiga de Primeira - apresenta as mesmas características de qualidade da anterior, existindo uma tolerância de diferença em relação à Extra por defeitos. Admitindo-se gosto de creme pasteurizado quase imperceptível, de neutralizador apenas perceptível, insipidez não muito pronunciada, grão um pouco grande, umidade e sal uniformes, cor ligeiramente débil ou intensa e bom acabamento de embalagem. · Manteiga de Segunda - admite-se defeitos tais como: sabor ácido, definido, de creme pasteurizado definido, insípido definido, de ervas definido, de neutralizador definido, ligeiramente metálico, ligeiramente cozido, a queijo pouco perceptível, a madeira pouco perceptível, de creme velho perceptível e amargo apenas pronunciado. Acabamento e embalagem aceitáveis · Manteiga de Terceira - sem classificação mínima, mas sem defeitos pronunciados que determinem sua condenação. Com defeitos de sabor e aroma não muito pronunciados, corpo compacto e pastoso, textura fraca e arenosa pela má distribuição de sal, alta umidade livre, cor pouco atraente e marmorizada, com pontos brancos ou amarelos. Com defeitos na apresentação da embalagem. (Fonte: Indústria da Manteiga - J. L. Mulvany) Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 61 17.1. OBTENÇÃO DO CREME Atualmente o creme é obtido através do desnate “mecânico”, por centrifugação do leite, do qual é obtido também o leite desnatado. Em equipamento próprio, denominado desnatadeira, ou até filtro-padronizadora-centrífuga, que aumenta o efeito da força da gravidade, acelerando o processo de separação da matéria gorda. Inicialmente, para a obtenção do creme o leite era deixado em repouso, em grandes tanques, por 24 horas, ao fim dos quais era coletado na superfície. Este processo é denominado “natural” e não é mais empregado nas indústrias pela sua baixa eficiência tecnológica. O desnate mecânico propicia a obtenção de creme de melhor qualidade física e microbiológica, visto que elimina sujidades de menor tamanho, não extraídas do leite por simples filtração, e inclusive eventuais células sangüíneas originárias de sangramentos do teto da vaca (ferimentos, sucção prolongada na ordenha mecânica e/ou mamite), de tamanho microscópico. Permite também a obtenção de creme de maior concentração, facilitando o transporte e otimizando a conservação. 17.2. PADRONIZAÇÃO E REDUÇÃO CREME A padronização do teor de matéria gorda do creme tem por finalidade ajustá-lo em ema faixa de concentração em que se observa melhor rendimento de fabricação (menores perdas de gordura no leitelho). A padronização da matéria gorda do creme pode ser feita com água de boa qualidade físico- química e microbiológica, ou leite desnatado, integral ou mesmo creme de maior ou menor concentração (para elevar ou abaixar o teor de gordura), levando-se em consideração uma análise prévia do creme para efetuação do cálculo de correção, que pode ser feito meio de fórmulas ou até mesmo por regra de três. Por razões econômicas e relativas a eficiência de controle microbiológico, a padronização com água é a mais utilizada e recomendável. Cremes estocados podem apresentar elevação de acidez, fazendo-se necessária a redução da acidez para 18ºD para que se possa proceder a pasteurização do mesmo. Para isto o creme deve passar por uma análise prévia de acidez, para que se possa determinar a quantidade exata de redutor. Para tanto, deve-se reservar um pouco da água calculada para a padronização, a fim de que se faça uma diluição do redutor, que deve ser adicionado lentamente sob constante agitação. Fórmulas para Padronização · Não considerando o volume final (para leite desnatado ou água): Volume (água ou LD) = quantidade de creme x % Gb do creme - quantidade de creme % Gb padrão · Sem aumento do volume final: Meio padronizador = quantidade de creme x (% Gb do creme - % Gb padrão)% de Gb creme - % Gb do padronizador Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 62 Formula para Redução da Acidez do Creme · Utilizando-se bicarbonato de sódio Vol. Creme x ºD a reduzir x 0,0933 = g bicarbonato de sódio É importante observar o % de pureza do reagente (bic. sódio), que normalmente é comercializado em concentrações entre 80% a 85%, sendo necessário novo cálculo para equalização desta diferença. g de bic. sódio x 100 = X (g bic. sódio necessários) x % de pureza do reagente (ex.: 80 ou 85%) 17.3. PASTEURIZAÇÃO DO CREME Tal qual a pasteurização do leite tem por finalidade eliminar microrganismos fermentadores indesejáveis. Favorece também a eliminação de substâncias voláteis propiciando a obtenção de um produto final de melhor qualidade e padronização. Existem dois processos de pasteurização: rápida e lenta. · Rápida - em pasteurizador de placas apropriado o tratamento do creme, temperatura oscilando entre 75º a 93º C/1 a 3 minutos. · Lenta - em maturador (cuba de parede dupla), 70ºC/30 minutos sob agitação moderada e constante. 17.4. RESFRIAMENTO DO CREME Deve ser feito imediatamente após a pasteurização, ajustando-se a temperatura conforme a destinação do creme. Tem por finalidade promover a cristalização dos glóbulos de gordura, facilitando a bateção do mesmo. Varia conforme a estação do ano (ou a temperatura média do ambiente), sendo que no verão a temperatura de bateção fica entre 9º a 10º C, no inverno entre 12º a 13º C. · Creme para bateção sem maturação: resfriar a 2º a 3º C abaixo da temperatura de bateção e manter por, no mínimo, 2 horas. · Creme para maturação: 18º a 21º, sendo resfriado para a temperatura de bateção logo após o período de maturação. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 63 17.5. MATURAÇÃO DO CREME Tem por finalidade desenvolver sabor e aroma no creme e, conseqüentemente no produto final. Também auxilia no processo de bateção, facilitando a liberação do leitelho e aumentando o rendimento de fabricação. É realizada mediante a adição de culturas lácticas mesofílicas, em proporções que podem oscilar entre 0,5% a 4,0% (conforme o exponencial de desenvolvimento da cultura) e com manutenção por 15 a 18 horas a temperaturas entre 18º a 21º C. Este período pode ser estipulado, também, em função da acidez do creme (35º a 37º D). 17.6. BATEÇÃO DO CREME A bateção é um processo físico, realizado sob condições controladas de tempo, temperatura, composição (concentração e acidez) e agitação, que visa romper a membrana lipoprotéica que envolve os glóbulos de gordura, propiciando a liberação e aglomeração da matéria graxa contida em seu interior, eliminando a maior parte das substâncias não gordurosas, que irão constituir o leitelho (soro da manteiga). A bateção é realizada em equipamento específico denominado batedeira, que pode ser adequado para dois diferentes processos de trabalho, contínuo e descontínuo, sendo que neste último o tempo de fabricação tem duração de aproximadamente 45 minutos. 17.7. SALGA DA MANTEIGA Deve ser utilizado sal refinado de boa qualidade, sem impurezas, e adicionado após a lavagem sob forma de pasta, que é obtida coma simples adição de água de forma moderada até que se atinja a referida consistência. 17.8. MALAXAGEM A malaxagem tem por finalidades conferir maior compactação à manteiga, melhorando o corpo e a textura do produto, expulsar o excesso de água e distribuí-la, e ao sal, com maior uniformidade. A manteiga é espremida por engrenagens cilíndricas até que adquira as qualidades necessárias e desejáveis. 17.9. MOLDAGEM E EMBALAGEM Podem ser realizadas manualmente, mecanicamente ou em sistema conjugado, acondicionando a manteiga em potes plásticos selados, latas ou moldada sob a forma de tabletes e envoltos em papel impermeável, todos devidamente limpos e sanificados. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 64 Composição Média Esperada Manteiga sem sal % Manteiga com sal % Matéria Gordura ................................................... . 83,75 81,75 Umidade ............................................................... 15,60 15,60 Proteína ................................................................. 0,25 0,25 Lactose .................................................................. 0,20 0,20 Sais Minerais ........................................................ 0,10 0,10 Sal Comum ........................................................... ______ 2,00 Acidez ................................................................... 0,10 0,10 Total 100,00 100,00 (Fonte: Indústria da Manteiga - J. L. Mulvany) Fluxograma de fabricação 1 - Obtenção do creme · através de desnate centrífugo de leite de boa qualidade. 2 - Padronização e correção do creme · 38% a 40% de matéria gorda; · aferir a acidez em 18ºD (max.) 3 - Pasteurização do creme · lenta, 65º a 68º C/30 minutos, sob agitação lenta e constante; · rápida, 75º a 93º C/1 a 3 minutos (em equip. próprio). 4 - Resfriamento · 9º a 10º C no verão, 12º a 13º C no inverno; · para bater creme não maturado, 2º a 3º abaixo da temperatura de bateção, permanecendo por 2 horas nesta temperatura antes da bateção, para melhor cristalização dos glóbulos de gordura; · para maturação do creme, 18º a 21º C para o período de maturação, que é iniciado com a imediata adição do fermento logo após a aferição da temperatura, sendo novamente resfriado após o período de maturação para a temperatura de bateção. 5 - Maturação · a 18º a 21ºC/15 a 18 horas, com adição 0,5% a 4,0% de fermento mesofílico. 6 - Bateção do creme · em equipamento próprio, com duração de aproximadamente 45 minutos. · a bateção é paralisada quando é observada a liberação do leitelho (soro da manteiga), e os grãos de manteiga apresentarem moderadamente aglomerados e com aspecto de “couve-flor”, com diâmetro médio de 2 a 3 mm. 7 - Desleitagem · é a retirada do leitelho. 8 - Lavagem · com água 7º a 12º C, ou 2º a 3º C abaixo da temperatura do leitelho. · em quantidade de água igual ao volume de leitelho retirado, repetindo- se até esta que se apresente límpida e cristalina. 9 - Salga · 1% a 3% de sal, adicionado de quantidade de água suficiente para que adquira consistência pastosa. 10 - Malaxagem · até que se observe boa compactação da manteiga e boa distribuição da água e do sal, sem a ocorrência de gotículas de água livre. 11 - Moldagem e embalagem · manual, mecânica ou conjugada; Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 65 · em potes, tabletes ou latas. 12 - Armazenamento · até 1 mês ® de 2º a 5º C; · de 1 a 2 meses ® 0º C; · de 2 a 6 meses ® - 5º a - 12º C. Creme de Leite Pasteurizado / Padronizado - 38 a 40% Gb. Adição de Cultura Latica Fermento lático mesofílico tipo "O" St. lactis e cremoris 1,0 a 1,5% ou DVS R704 Maturação 18 a 20°C, 16 a 20 horas, até 36°D de acidez. Resfriamento 7 a 8°C no verão, 9 a 10°C no inverno, com manutenção por um mínimo de 2 horas para cristalização dos glóbulos de gordura. Ajuste daTemperatura de Bateção 9 a 10°C no verão e 11 a 12°C no inverno. Bateção 40 a 45 minutos, até liberação do leitelho e grânulos com 2 a 3 mm de diãmetro. Lavagem Com água industrial clorada (5mg / litro) e pasteurizada, gelada a 7 a 9°C, por 3 a 5 vezes, até que se apresente límpida e cristalina. Drenagem 5 minutos Salga 1,5% de sal em relação ao rendimento previsto, emsoluçãoaquosa supersaturada. Malaxagem Até uniformização do sal, da fase aquosa e obtenção de de 14 a 16% de umidade. Embalagem Em potes plásticos previamente sanitizados em água clorada a 200mg / litro ou moldagem e embalagem em filme plástico de polietilino com caixa em papel cartão. Resfriamento Em câmara fria a 5°C. Estocagem Em câmara fria a 5°C. Expedição Fluxograma de Fabricação de Manteiga Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 66 18.FABRICAÇÃO DE IOGURTE O iogurte é um alimento de grande importância na dieta humana, visto que além de possuir os atributos nutricionais do leite ainda possui melhor digestibilidade e tem, ainda, valor medicinal, pois pode ser utilizado na recomposição e estabilização da flora intestinal. Sob este último aspecto, presta- se ainda como alternativa no consumo de lácteos para pessoas que tem problemas na digestão da lactose, que no produto é intensamente desdobrada pela ação dos microrganismos fermentadores. Ainda como produtos de similares atributos podemos citar os leites fermentados, nos quais são empregados microrganismos diferentes dos empregados no iogurte, que não chegam à precipitar o leite, e produzem sabor e aroma tão apreciáveis quanto os desenvolvidos no iogurte. Entretanto, apesar da aparente simplicidade de sua elaboração, é um produto que requer extremo cuidado na sua preparação visto que se trata de um produto no qual é estimulado o desenvolvimento de microrganismos, assim qualquer contaminação pode ser fatal ao produto ou ao consumidor. Sobretudo no manuseio das culturas ao nível de laboratório. São utilizados, normalmente, para composição das culturas microrganismos termofílicos que podem ser conjugados outros mesofílicos ou heterofermentativos na fabricação, mas não manipulados juntos em laboratório, para conferir características extras ao produto. Os microrganismos mais utilizados atualmente são Streptococcus thermophilus e Lactobacillus delbruecki subsp bulgaricus. Pode ser elaborado para consumo ao natural ou adicionado de polpas ou flavorizantes. 18.1. PROCEDIMENTOS Em laboratório: · pode-se utilizar na elaboração das culturas de laboratório leite desnatado de origem e qualidades conhecidas, isento de antibióticos, ou utilizar leite em pó, reconstituindo, ou mesmo para enriquecer o leite; · tratar o leite, já nos frascos (150 ml) e distribuídos em igual volume, a uma temperatura de 95º C/15 minutos; · resfriar em banho-maria a 43º a 45º C; · inocular a cultura, em ambiente asséptico (capela), tomando-se o cuidado de flambar os utensílios em chama de lamparina a álcool, na proporção de 1,0% a 1,5% (1,5 a 2,25 ml), com pipeta ou utensílio de fácil manuseio e higienização; · incubar em estufa, a 43º a 45º C/ 3 a 4 horas ou até formação do coágulo, cuidando-se para não ultrapassar o tempo e acidez (65º a 70º D) necessários, evitando a dessoragem; · resfriar imediatamente mantendo sobre refrigeração até o dia seguinte, quando alguns dos frascos poderão ser utilizados como novas culturas matrizes e as demais servirão ao preparo das culturas intermediárias, adotando-se os mesmos procedimentos e cuidados; · estas repicagens devem ser feitas todos os dias para que haja uma melhor manutenção do exponencial de desenvolvimento bacteriano (ou uma boa curva de acidez). É importante ressaltar que a pessoa que irá manusear a cultura deve, sempre, observar as boas práticas da higiene pessoal, trajar roupas limpas e adequadas (jaleco e gorro), procedendo antes do procedimento uma rigorosa higienização das mãos e do ambiente. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 67 Na indústria: · partindo-se de uma cultura intermediária, executando os mesmos procedimentos supracitados, preparar a cultura industrial ou o iogurte propriamente dito (quando a cultura intermediária for suficiente); · no preparo do iogurte industrial serão acrescentados ao leite, que deve ser padronizado no seu teor de gordura, os ingredientes extras, não empregados em laboratório, a fim de conferir- lhe melhor corpo e complementar a quantidade de açúcar necessária. Para aumentar o corpo do iogurte pode-se adicionar leite em pó, aumentando o extrato seco total do leite, na proporção de 0,5% a 1,0%, e açúcar, para também complementar o % necessário, na proporção de 4% a 6%, dissolvendo-os em vasilhame a parte e filtrando para eliminar possíveis impurezas físicas; · tratar, já no maturador, a temperatura de 95º C/15minutos e resfriar em seguida para 43º a 45º C; · adicionar a cultura e incubar, mantendo a temperatura, por 3 a 4 horas ou até acidez entre 65º a 70º D. · quebrar o coágulo, com agitação manual ou mecânica. · adicionar a polpa de fruta em uma proporção de 8% a 10% (conforme concentração de açúcar, aroma e cor da mesma ou indicação do fabricante), complementando se necessário com aromatizante e/ou corante; · resfriar para 17º C e envasar. · estocar em câmara fria a 5º a 10º C, até a expedição; · transportar em veículo refrigerado. Como já mencionado, é sempre importante a observação da higiene pessoal, dos utensílios e instalações. Esquema de Repicagem Frascos de igual conteúdo ao da cultura mãe Cultura mãe Culturas intermediárias Cultura para repicagem industrial (que segue o mesmo esquema) Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 68 Repicagem Industrial Ingredientes Cultura industrial ou intermediária Maturador Adicionados após a fermentação Adicionados antes do tratamento térmico (95º C/15 min.) Polpa, corante e aromatizante Adicionada após aferição da temperatura de incubação Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 69 Leite Pasteurizado / Integral, acidez 16º a 18°D. - 100 litros Adição de Ingredientes Açúcar - 11 kg Filtragem Tratamento Térmico 90° a 95°C/20 a 30 minutos. Resfriamento 43 a 45°C - Fermentação rápida - aprox. 4 a 7 h.36 a 38°C - Fermentação lenta - aprox. 10 a 14 h. Inoculação Fermento Termofílico (L. delbruekii subsp. bulgaricus e St. Thermophilus) DVS - Conf. indicação do fabricante ou Cultivo ativado 1 a 1,5%. Fermentação Até acidez 65 a 70°D. 43 a 45°C/4 a 7 h. 36 a 38°C/10 a 14 h. Quebra do Coágulo Com agitação mecânica, até textura lisa e uniforme. Resfriamento 22°C. Adiçao de Ingredientes Polpa de fruta - 3,5 kg. Corante - 50 a 70 ml. Aroma - 10 ml. Resfriamento 16 a 17°C. Envase e Rotulagem Em equipamento semi-automático.Garrafas plásticas (polietileno) de 200g ou 1000g. Resfriamento e Maturação Em câmara frigorífica a 5°C por 24 h. Estocagem 5°C. Expedição Fluxograma de Fabricação de Iogurte Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 70 19.FABRICAÇÃO DE DOCE DE LEITE A fabricação de doce de leite não tem implicações em grandes complexidades, e envolve, além de alguns detalhes técnicos básicos, principalmente uma boa elaboração e manutençãoda formulação. Tal simplicidade pode ser detectada nos doces de fabricação caseira de excelente qualidade e sabor, tão difundidos nas diversas regiões do Brasil. Entretanto, apesar da boa qualidade algumas vezes podemos notar uma deficiência tecnológica com relação ao fator rendimento, que adquire extrema importância quando o produto é destinado a comercialização. Na busca de uma equalização entre custo e qualidade a melhor alternativa é, certamente, a conciliação de uma formulação equilibrada, padronizada, e a adoção de métodos eficientes e seguros de trabalho, o que resultará em um produto de maior competitividade no mercado consumidor. Tal concepção é, sem dúvida, válida para qualquer segmento industrial. Dentro desta perspectiva podemos enfocar os seguintes pontos: · padrão do produto - envolve a padronização da matéria prima, a equalização dos ingredientes e as características finais desejadas. · conhecimento tecnológico: sobre o produto e o processo. · características do equipamento. Padrão do produto Inicialmente é preciso definir-se qual o tipo de produto a ser produzido com base na demanda do mercado, que pode ser mais ou menos exigente em relação a preço ou qualidade, além do tipo de produto preferido, neste caso o doce de leite: de corte (barra) ou pastoso. A seguir, com base nas características estabelecidas elabora-se a formulação e determina-se a qualidade dos ingredientes. Formulações para Doce de Leite Ingredientes Pastoso (kg/100kg de mistura) Barra (kg/100kg de mistura) Leite (*) ...................................................... 79,30 74,40 Açúcar ........................................................ 18,40 25,00 Glucose de Milho ....................................... 1,60 _____ Amido de Milho ......................................... 0,70 Total 100,00 100,00 Bicarbonato de Sódio (**) .................... ± 52 g ± 49 g (*) Tomando-se como base leite com 1,5% a 2,0% de Gb e 18º D de acidez. (**) Quantidade suficiente para reduzir a acidez para 12º D, com bicarbonato de sódio 85% puro. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 71 Conhecimento tecnológico É importante conhecer os fatores relativos ao próprio produto e ao processo que exercem influência sobre o produto final, de sabor, odor, textura, coloração, embalagem e conservação. Em relação ao produto o primeiro fator a ser considerado é a qualidade da matéria prima (o leite) e dos ingredientes (açúcar, amido, glucose, bicarbonato de sódio e lactase), onde devem ser apreciados além dos fatores organolépticos as propriedades físico-químicas (composição e pureza). · leite - é a matéria prima, não deve apresentar odores estranhos, fraudes ou elevação de acidez (quando alta demanda maior quantidade de redutor), devendo ainda ser parcialmente desnatado a fim de tornar o produto mais leve ao paladar, menos enjoativo. A lactose quando aquecida sobre uma caramelização (reação de Maillard), sendo responsável pela coloração típica do doce de leite. · açúcar - além de adoçar o produto é concentrador, já que aumenta o extrato seco da mistura, entretanto deve-se respeitar certos limites pois, se por um lado aumenta o rendimento em outra hipótese o excesso torna o produto por demais doce. · amido - auxilia no aumento do rendimento, entretanto a legislação atual prevê um percentual máximo de 0,5% do volume de leite, concentração esta que não deve ser ultrapassada também porque pode sobressair seu sabor no produto final. · glucose - utilizada somente para doce pastoso, pois inviabiliza a cristalização tornando o produto puxento quando batido, confere ao produto uma textura mais lisa e brilhante, é concentrador e ainda possui poder adoçante inferior ao da sacarose, o que contribui para tornar o produto mais palatável. · bicarbonato de sódio - serve para reduzir a acidez do leite (¯ 12º D), prevenindo uma eventual precipitação durante a coagulação, entretanto deve ser empregado somente na quantidade estritamente necessária pois influencia na coloração do produto final causando escurecimento, por isso o conhecimento da sua concentração (% de pureza) é de suma importância. · lactase - enzima que atua especificamente sobre lactose, desdobrando-a em glicose e galactose, prevenindo a cristalização do doce. Sobre o comportamento do produto durante a fabricação é preciso controlar o aquecimento para que a mistura não transborde causando prejuízos. O conteúdo do tacho de fabricação deve permanecer sob constante agitação durante todo o período de fabricação, inclusive após o ponto até o resfriamento para 65º a 70ºC, caso contrário pode ocorrer precipitação durante ou ao final da fabricação. O envase do doce, principalmente o pastoso, a 65º a 70ºC previne eventuais contaminações, ficando o produto sujeito apenas a fungos (caso haja entrada de ar na embalagem) e leveduras (que podem suportar pressão osmótica elevada, 70 Brix). No caso do doce pastoso este deve ser acondicionado em latas que devem ser cheias ao máximo, de modo a extrapolar ligeiramente a capacidade do recipiente, evitando-se a retenção de ar no momento do fechamento da embalagem. Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 72 CARACTERÍSTICAS DO EQUIPAMENTO Tacho em aço inox, atmosférico, com aquecimento em camisa de vapor (esta não deve ultrapassar em 1/3 a altura do tacho), com agitador mecânico com velocidade média de 70 a 80 rpm, tampa com espia, exaustor, manômetro, purgador, válvula de segurança, válvulas de escoamento inferior, lateral e de entrada lateral de água, e dispositivo para bascular com trava. Para maior eficiência de funcionamento do equipamento é recomendável não exceder em 30% a 33% de utilização da capacidade volumétrica total do tacho, o que implica em prolongamento do tempo de fabricação, acarretando maior consumo energético, e escurecimento do produto decorrente do tempo excessivo de aquecimento, que acentua a caramelização da lactose. Fluxograma de fabricação 1 - Padronização do leite · 1,5% a 2,0% de matéria gorda; · redução da acidez para 12º D. 2 - Pesagem dos ingredientes · ingredientes de acordo com o tipo de produto (barra ou pastoso). 3 - Dissolução dos ingredientes · o amido e a glucose devem ser dissolvidos separada e previamente, em recipientes à parte. 4 - Filtragem da mistura · a fim de eliminar impurezas físicas; · pode ser feita diretamente para o tacho de fabricação. 5 - Cocção · tempo médio de 90 minutos para obtenção do ponto. 6 - Ponto · 70º Brix para doce pastoso; · 86 a 90º Brix para doce em barra. 7 - Resfriamento · 65º a 70º C. · para o doce em barra, é seguido de bateção até o início da cristalização, que é, assim, induzida. 8 - Embalagem · em latas, potes ou bisnagas para o doce pastoso; · em formas forradas com folha plástica de boa qualidade. 9 - Expedição Leite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 73 Leite Pasteurizado / Padronizado - 3,4 a 3,6% de Gbacidez 16° a 18° Dornic. - 100 litros Adição de Ingredientes Açúcar - 18 kg Xarope de glucose de milho - 0,5 kg Amido de milho modificado - 0,2 kg Bicarbonato de sódio q.s.p. reduzir acidez para 12°D. Filtragem Cocção Em tacho atmosférico à vapor, até aproximadamente70° Brix. Ponto 70° Brix. Resfriamento 65° a 70°C. Embalagem Latas de folha de Flanders previamente sanitizadas em solução clorada a 200mg/litro. Resfriamento À temperatura ambiente. Estocagem À temperatura ambiente. Expedição Fluxograma de Fabricação de Doce de Leite PastosoLeite e Derivados Guia Prático Bruno Gaudereto Soares 74 20.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Júlio M. A. – QUÍMICA DE ALIMENTOS: TEORIA E PRÁTICA – Imprensa Universitária – Universidade Federal de Viçosa – MG – 1995. BOBBIO, Florinda O. e Paulo A. – INTRODUÇÃO À QUÍMICA DE ALIMENTOS – Livraria Varela – 2ª Edição – São Paulo – 1995. BOMTEMPO, José Silvério - APOSTILAS DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL – Escola Agrotécnica Federal de Barbacena - MG. CARVALHO, Itamar C. de – FATORES QUE AFETAM A ESTABILIDADE TÉRMICA DO LEITE – Revista do ILCT – 190 – Vol 32 – 1977. 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