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Para se ter uma ideia de tamanha evolução das relações de trabalho, a historiografia não deixa mentir que o Brasil passou quase quatro séculos vivendo o escravismo. Aqui, como no resto do mundo onde existiram, os escravos eram seres humanos “coisificados”, relegados à “condição de nada”, sem qualquer direito assegurado perante os demais e ao Estado. Consistiam, pois, somente em mercadorias usadas em favor de seus senhores, que os vendiam e compravam como se fossem um objeto qualquer. 
                         Até atingir os contornos dignos de um Estado Democrático de Direito, o trabalho sofreu modificações profundas, vez que hoje amplas legislações trabalhistas, no Brasil e no mundo, asseguram direitos à classe operária. Ademais, no Brasil, o Direito laboral evoluiu no sentido de estabelecer a igualdade substancial da classe trabalhadora perante o restante da sociedade.
tem-se um marco no momento da abolição da escravatura, que define a possibilidade ou não do surgimento de um Direito Laboral, haja vista que anteriormente, não tínhamos trabalhadores livres em número bastante para exigir tutela jurídica em seu ofício.
                        Logo se pode dividir a história do direito trabalhista brasileiro em três fases distintas: a primeira, que vai da independência até a abolição da escravatura, período em que, como já supracitado, não houve a possibilidade prática de surgimento do direito laboral haja vista a falta de material humano proletário. Nesta fase, deve-se destacar a existência de uma incipiente massa de trabalhadores livres, trabalhadores estes que infelizmente não encontravam trabalho tão facilmente em uma sociedade tão patriarcal. Somente esse quadro começando a mudar, quando da entrada maciça de imigrantes europeus com fins a trabalhar nas fazendas de café, produto este que o Brasil produzia em larga escala na época.
                        A Segunda vai da abolição até 1930. Nessa fase, têm-se manifestações esparsas e desconexas, tendo como exceção a greve geral de 1917, a qual angariou milhares de trabalhadores inspirados principalmente nos ideais anarco-sindicalistas trazidos por imigrantes europeus que vieram lavorar no café brasileiro. Além de claro, como já citado anteriormente, a questão da abolição.
                        A última fase, que vai desde os anos 30 até os dias atuais, é marcada pela intervenção massiça do Estado no espeque de tutelar com maior vigor os direitos em tela. Tutela essa, baseada no corporativismo italiano, que tem interesses que vão além da simples defesa dos direitos laborais, e transpassam a motivos de manutenção de status quo, apaziguamento da classe operária, dirigismo sindical, entre outros maniqueísmos de dirigentes autoritários.
                        Nessa fase destaca-se com o devido louvor, além da concretização da Justiça do Trabalho, a criação da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT – que compilou e generalizou leis, as quais antes encontravam-se esparsas e dirigidas às classes de trabalhadores específicas. Para se falar na CLT é importante se fazer uma retrospectiva à Revolução de Trinta, que pôs fim ao governo das oligarquias no Brasil e levou Getúlio Vargas à presidência brasileira.
                        É fato que todo livro de História, que trate da Era Vargas, mencione que o seu governo refletia um Estado compromissado com a intervenção forte na economia e com leis trabalhistas que visassem o bem-estar do operário urbano. Todavia, é possível se fazer uma crítica à esse segundo compromisso.
                        Durante o governo provisório imposto pela Revolução de Trinta, foi promulgado o Decreto 19.770 de 19/03/1931, cujo art.10 revela:
Além do que dispõe o art. 7º, é facultado aos sindicatos de patrões, de empregados e de operários celebrar, entre si, acordos e convenções para defesa e garantia de interesses recíprocos, devendo ser tais acordos e convenções, antes de sua execução, ratificados pelo Ministério Público, Indústria e Comércio (Santos, 2000, p.192).
Isso reflete a inserção da negociação coletiva como elemento de resolução de conflitos do trabalho de cunho coletivo. Assim, o Estado passa a supervisionar de perto as relações trabalhistas.
                        Visando o controle da classe operária, o novo governo obrigou os sindicatos a se submeterem ao Ministério Público, que dava autorização de funcionamento somente para sindicatos cuja diretoria fosse aprovada pelo governo – o imposto para a manutenção do sindicato só era garantido àqueles autorizados; além disso, o governo reprimia as manifestações operárias legítimas, deportava estrangeiros, prendia líderes de sindicatos que queriam manter sua autonomia e detinha o poder de fechá-los. Fica-se claro que nas negociações entre patrões e empregados conduzidas pelo Ministério Público prevaleciam as decisões que interessavam mais ao capital que ao trabalho; reflexo do Estado Novo e de seu caráter corporativista e autoritário.
                        Para enfraquecer a luta operária se tornou lei federal o dia de descanso semanal, a jornada de trabalho de 8 horas, férias anuais remuneradas e a proibição do trabalho dos menores de 14 anos. Embora conquistas vistas hoje, na época mal saíram do papel, uma vez que os operários não podiam fazer greves ou manifestações. Essa política atingiu o seu auge com o estabelecimento do salário mínimo e a criação da CLT. A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), embora configurasse uma compilação das leis trabalhistas aprovadas desde o início do século XX, foi apresentada à nação como o resultado do esforço de Vargas em prol das classes trabalhadoras; na realidade, Vargas retira do movimento operário a sua capacidade de mobilização ao consolidar a CLT.
                        Essa atuação intervencionista do Estado, diante das questões coletivas e das individuais resultante do trabalho diário, manteve-se basicamente a mesma por muito tempo. Uma mudança veio a ocorrer em vigência da Constituição de 1946 – momento de democratização do governo – transformando a Justiça do Trabalho (criada oficialmente em 1943) em órgão do Poder Judiciário.
                        
A primeira lei trabalhista é de 1903, qual seja, a Lei dos Sindicatos Rurais. Não podemos esquecer, portanto, que até a década de 50 o Brasil era iminentemente rural. Em 1907, temos a Lei dos Sindicatos Urbanos. No período de 1907 a 1917 há uma intensa luta operária, inclusive, a primeira greve geral no Brasil ocorre neste período.
Em 1917, o mundo se encanta com a Revolução Russa, e no Brasil, acontece um fenômeno que nunca mais deixou de ocorrer. Os trabalhadores envolvem-se com a política, até como uma forma de conquistar direitos, tanto que o partido comunista é fundado no país com a ajuda dos trabalhadores.
 No intuito de regulamentar a organização do trabalho no Brasil, destaca-se nesse período a criação do Departamento Nacional do Trabalho, por meio do Decreto nº 3.550, de 16 de outubro de 1918.
Em 1922, por meio da Lei Estadual nº 1.869, foi criado em São Paulo o Tribunal Rural, órgão composto por um Juiz de Direito e dois árbitros que eleitos pelas partes que geravam a demanda. Contudo, essa incipiente experiência não prosperou por conta da falta de parcialidade na atuação dos árbitros e de igual modo pela dificuldade de indicação de um representante pelo trabalhador, cabe, porém, o registro desse rudimentar desenvolvimento da Justiça do Trabalho.
Não se pode negar que o fim da Primeira Guerra Mundial influenciou o Brasil; após o Tratado de Versalhes foi criada a Organização Internacional do Trabalho - OIT, o qual estabelecia regras protetivas aos trabalhadores e deviam ser observadas pelos países signatários. 
Em 1923 foi criado o Conselho Nacional do Trabalho com o objetivo de fiscalizar e assegurar o cumprimento das regras impostas pela OIT.
Também nesse ano, temos a principal lei trabalhista do período, que é a Lei Eloy Chaves. Essa lei só se aplicava aos ferroviários, pois as ferrovias eram de empresas inglesas, e consequentementetraziam muitos trabalhadores ingleses, porquanto ficava muito dúbio que apenas os trabalhadores ingleses da mesma ferrovia tivessem direitos e os trabalhadores brasileiros não.
Em 1930, Getúlio Vargas assume o poder numa revolução, e devido à instabilidade, sempre há risco de uma contrarrevolução. Por isso, Getúlio se aproxima dos menos favorecidos (mulheres e trabalhadores).
Logo que assume, Getúlio cria um ministério do Trabalho, cujo primeiro ministro foi Lindolfo Collor. Começando assim, a editar leis trabalhistas (esparsas), criando a CTPS, o salário mínimo, fixou jornadas de trabalho, seduzindo aqueles trabalhadores que passaram a ter direitos.
Em relação aos sindicatos, Getúlio cria a chamada Carta Sindical, que era uma autorização de funcionamento para o sindicato. Apenas os que detinham a Carta poderiam funcionar, ou seja, aqueles que estivessem afinados com Getúlio. 
Na era getulista não se admitia a greve, que era considerado um ato antissocial. Se houvesse greve em determinado sindicato, Getúlio cassava a Carta Sindical.
Getúlio criou o imposto sindical, conhecido hoje como contribuição sindical. Criou um cargo político no Estado, ou seja, era a figura do vogal, criada em 1932, que era conhecido como o juiz classista (classe patronal; classe operária). Era um juiz auxiliar na justiça do trabalho, que só foi extinto em 2000.
A primeira Constituição a tratar do Direito Trabalhista foi a de 1934, a qual garantia, entre outras, a liberdade sindical, isonomia salarial, salário mínimo, jornada de oito horas de trabalho, proteção do trabalho das mulheres e menores, repouso semanal e férias anuais remuneradas.
Em 1º de maio de 1943, data em que Getúlio parou o Rio de Janeiro. Foi uma grande festa, em que foi promulgada a CLT. Ou seja, em 1º de maio de 1943 já era o dia do trabalho. No entanto, a CLT não estava pronta, só sendo publicada 3 meses depois.
A CLT foi elaborada por uma comissão de juristas, presidida por Oscar Saraiva, R. Monteiro, Durval Lacerda, Segadas Viana e o Prof. Arnaldo Sussekind. A CLT é um decreto lei, pois não foi votada ou aprovada no Congresso, foi baixada pelo presidente.
Outra característica importante, é que ela não é um código, mas uma consolidação, que vem com o intuito de consolidar um sistema jurídico dispare, consolidar leis esparsas. A ideia era de que, posteriormente, viesse um Código do Trabalho, mas Getúlio saiu do poder e o Código não foi promulgado. Não há um consenso entra capital e trabalho, por isso, três grandes projetos de lei do Código foram barrados.
A CLT é um diploma que vai contemplar todas as facetas das questões laborais. Temos na CLT a parte de direitos individuais, outra destinada ao direito coletivo, direito processual do trabalho, fiscalização do trabalho pelo MP. De um modo geral, estes são os nortes da CLT, que contém normas do direito material e direito processual.
Em 1945, Getúlio sai do poder, mas até 1970, o Brasil viveu uma fase de crescimento do direito do trabalho individual, em que o direito individual se expande com diversas leis (descanso individual, 13º etc.). No entanto, durante o regime militar os sindicatos sofrem bastante e os direitos trabalhistas são reprimidos, as Cartas Sindicais da maioria são cassadas e os sindicatos fechados. Não foi uma boa estratégia e rapidamente isso foi percebido, pois o sindicato passou a funcionar na clandestinidade, pelo que o regime militar adotou outra estratégia: prender os diretores e presidentes para colocar diretores simpatizantes do regime.
Em 1969 os metalúrgicos de Osasco fazem uma grande greve, que foi reprimida com muita violência, pois os trabalhadores resistiram a greve, houve desaparecimentos. Isso gera uma contrarreação, que é a união dos metalúrgicos do ABC – o fortalecimento dos sindicatos fomenta novas greves - e isso que desencadeia as grandes 6 greves da segunda década de 1970. Em 1979 temos as leis de anistia, lideranças trabalhistas, greves na segunda década de 1970 etc.
Quando o direito do trabalho surge no século XIX, fica conhecido como legislação industrial. Isto porque, o direito do trabalho surge no meio da regulamentação da atividade industrial. As primeiras regras trabalhistas surgem entre a regulamentação da atividade industrial. Quando o direito do trabalho começa a ter vida própria, passa a ser conhecido como direito operário.
No século XX há o chamado direito corporativista, que tem sua principal referência na Carta Del Lavoro (1927), de Benedito Mussolini. Getúlio Vargas se inspira no modelo de Mussolini. Muito embora tenham querido apagar Mussolini da história da Itália após a II Guerra, aqui no Brasil, Mussolini ainda está presente no ordenamento jurídico. Outra expressão famosa é “direito social”. O principal direito social da época era o direito do trabalho, porquanto direito do trabalho e direito social se confundiam. A expressão atual direito do trabalho só se consagra a partir de 1950. No Brasil, a evolução não foi muito diferente, só ocorreu de maneira mais tardia. No Brasil, utilizou-se a expressão direito social por muitos anos, mais ou menos até a década de 60.
Na Carta Magna de 1988, a atual, tem-se uma grande tutela não só de direitos trabalhistas, que são considerados sociais, mas também de direitos fundamentais da pessoa humana. Vale a ressalva que, no que tange ao trabalho, a CF versa em seu art. 193 que a ordem social tem como primado o trabalho e, como objetivos, o bem-estar e justiça sociais. Ademais, lembra que a Constituição Brasileira, no que tange à proteção da pessoa humana, é bastante avançada nesta tutela específica.
 a Constituição de 1988 ampliou de maneira bastante significativa os direitos dos empregados, valorizando o trabalho humano ao inseri-lo em um dos princípios fundamentais, tratando de maneira isonômica os empregados urbanos e rurais, bem como os demais empregados e trabalhadores. No entanto, outras modalidade profissionais, como os autônomos, não foram abrangidos pela nova constituição, deixando-os por um longo período esquecidos. Tal condição foi alterada pela Emenda Constitucional nº. 45 que modificou profundamente a competência da Justiça do Trabalho como um meio de corrigir falhas e atualizar o sistema jurídico trabalhista, em especial o artigo 114, inciso I, o qual ampliou a competência antes limitada às relações de emprego, passando a alcançar todas as relações resultantes das relações de trabalho de maneira ampla. Essa modificação da Justiça do Trabalho possibilitou a adaptação do ramo justrabalhista às necessidades do trabalho contemporâneo, firmando-se em um verdadeiro resgate do papel histórico do Direito do Trabalho.
Embora considerável os avanços alcançados pela Constituição Cidadã, não é possível negar que problemas antigos foram preservados, a preservação de mecanismos antidemocráticos e autoritários, os quais claramente confrontavam os preceitos democráticos; conflitos esses que se arrastaram e questionaram, inclusive, a direção e existência do Direito Individual do Trabalho ocorrido na década de 1990.
Passadas duas décadas da instituição da Constituição de 1988, o sistema justrabalhista se fortaleceu e se estabeleceu frente ao crescente número de trabalhadores regidos por seus princípios e normas.
Por fim, vale lembrar que durante o transcurso de suas sete décadas de existência, a Justiça do Trabalho sofreu importantes transformações, dentre as quais a expansão da Justiça do Trabalho, consistente na extraordinária elevação do número de seus órgãos, a extinção da representação classista em todos os órgãos da Justiça do Trabalho, operada pela Emenda Constitucional nº 24, de 9 de dezembro de 1999, e a ampliação da sua competência, começando pela extensão desta às ações decorrentes de acidentes do trabalho, que foi pacificada pela Emenda Constitucional nº 45, a qual também modificou sensivelmente a competência da Justiça do Trabalho ao alargar a abrangência do inciso I do art. 114, todas as ações oriundas das relações de trabalho; sendo assim, notável que nestes setenta anos de existência,mesmo com as deficiências que ainda apresenta e a constante necessidade de aperfeiçoamento, a Justiça do Trabalho cresceu, expandiu-se e disseminou-se por todo o território brasileiro.
BIBLIOGRAFIA:
BARROS, Alice Monteiro. Curso de direito do trabalho. 2. Ed. São Paulo: LTr, 2006.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 10. Ed. São Paulo: LTR, 2013.
SILVA NETO, Manoel Jorge e. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2006.
http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,historia-do-direito-do-trabalho-no-brasil
https://jeffersoncosta.jusbrasil.com.br/artigos/194061399/breve-historico-do-direito-do-trabalho-brasileiro

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