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ESPELHO_CORRECAO_S5

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Direito Penal
SEÇÃO 5
ESPELHO DE CORREÇÃO
Seção 5
Direito Penal
Na prática!
Agora vamos à resolução comentada das Alegações Finais? 
As presentes Alegações Finais têm como fundamento o §30 do 
art. 403, ambos do CPP. Tal peça deve ser endereçada para o 
mesmo juiz ao qual a denúncia foi oferecida (Juiz de Direito da 
Vara Criminal da Comarca de Conceição do Agreste/CE).
Através de uma análise do enunciado desta Seção, percebemos 
que não há nenhuma questão preliminar a ser arguida. 
Já no mérito, existem 02 (duas) teses absolutórias a serem formuladas. 
A primeira, baseada no artigo 386, III do CPP, requer a absolvição 
do réu por atipicidade da conduta, em razão da preparação do 
fl agrante. Isso porque, nos termos da Súmula 145 do STF, c/c 
artigo 17 do Código Penal, não há crime quando a preparação 
do fl agrante torna impossível a sua consumação. Deste modo, 
não havendo crime, a conduta do Réu é atípica, devendo, pois, 
ser absolvido. 
Alternativamente, deve ser requerida a absolvição do Réu, nos 
termos do art. 386, IV do CPP, por restar provado que o Réu não 
concorreu para a infração penal, uma vez que a própria vítima, 
quando indagada pelo Juiz quanto à eventual participação do 
acusado na atividade delitiva, não só negou, como afi rmou 
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NPJ – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA VIRTUAL
DIREITO PENAL - ESPELHO DE CORREÇÃO - SEÇÃO 5
que a primeira vez que esteve com o Réu foi na Sessão em que 
ocorreram as prisões. Além disso, afi rmou ainda que jamais 
chegou a ter qualquer conversa com ele sobre qualquer assunto 
específi co. E, respondendo a uma pergunta feita pela Defesa 
respondeu não ter como afi rmar que “Zé da Farmácia” estivesse 
envolvido no crime de corrupção praticado pelos demais réus. 
Assim, inexistindo prova de autoria do crime de corrupção 
passiva por parte do Réu, não há como o mesmo ser condenado 
pelo crime.
Questão de ordem!
EXCELENTÍSSIMO SENHOR(A) JUIZ DE DIREITO DA VARA 
CRIMINAL DA COMARCA DE CONCEIÇÃO DO AGRESTE/CE. 
[10 linhas]
JOSÉ PERCIVAL DA SILVA, já qualifi cado nos autos em epígrafe, 
vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por intermédio 
de seu advogado infra-assinado, apresentar suas ALEGAÇOES 
FINAIS, por meio de memoriais, com fundamento no §30 do art. 
403 do CPP pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.
I- DOS FATOS
Segundo consta da inicial acusatória, os denunciados, sob a liderança 
do Acusado José Percival da Silva (“Zé da Farmácia”, Presidente 
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Direito Penal - Espelho de correção - Seção 5NPJ 
da Câmara dos Vereadores e liderança política do Município), se 
valendo da qualidade de Vereadores do Munícipio, associaram-se, 
em unidade de desígnios, com o fim específico de cometer crimes. 
E, dentro deste propósito, no dia 03 de fevereiro de 2018, na sede 
da Câmara dos Vereadores desta Comarca, durante uma reunião 
da Comissão de Finanças e Contratos da Câmara, teriam exigido 
do Sr. Paulo Matos, empresário sócio de uma empresa interessada 
em participar das contratações a serem realizadas pela Câmara de 
Vereadores, o pagamento de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para 
que sua empresa pudesse participar de um procedimento licitatório 
que estava agendado para o dia seguinte. 
Por este motivo, os réus foram denunciados pela suposta prática 
dos delitos previstos, artigos 288 e 317, na forma do art. 69, todos 
do Código Penal. Entretanto, a denúncia foi recebida apenas em 
relação ao crime do art. 317 do CP. Finalizada a fase de instrução, 
vieram os autos para apresentação das alegações finais. É um breve 
resumo dos fatos. 
II- DO MÉRITO: DA ABSOLVIÇÃO POR ATIPICIDADE DA CONDUTA 
DO RÉU – ARTIGO 386, inc. III DO CPP
 
Conforme se extrai dos autos, o Tribunal de Justiça do Estado do 
Ceará, de maneira unânime, concedeu ordem de Habeas Corpus 
em favor do Réu, relaxando sua prisão por concordar com a tese 
de que o flagrante foi preparado.
Flagrante preparado que ocorre quando há uma indução, um 
estímulo, uma participação fundamental das autoridades estatais 
para que a situação fática causadora da prisão exista. Isto é, quando 
o agente, por meio de uma cilada, uma encenação teatral, é impelido 
à prática de um delito por um agente provocador, normalmente 
um policial ou alguém sob sua orientação1. 
1 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 11 ed. São Paulo: Saraiva. 2014, p. 871.
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Direito Penal - Espelho de correção - Seção 5NPJ 
Por estar inteiramente sob o controle das autoridades que, 
inclusive, foram determinantes para a existência da situação fática, 
considera-se que o agente não possui qualquer chance de êxito 
em sua empreitada criminosa, já que em momento algum o bem 
jurídico tutelado é colocado em risco. Deste modo, aplica-se a 
regra do crime impossível prevista no art. 17 do Código Penal (CP): 
Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por 
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime
Súmula 145 STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia 
torna impossível a sua consumação.
Fonte: Elaborado pelo Autor com base no art. 17 do CP.
Prova disso é o comando existente na Súmula 145 do STF: 
Fonte: Elaborado pelo Autor com base no enunciado sumular 145 do STF. 
Desta forma, não havendo crime em razão da preparação do 
flagrante, não restam dúvidas de que a conduta do Réu é atípica, 
devendo, pois, ser absolvido, nos termos do artigo 386, III do CPP. 
III- DO MÉRITO: DA ABSOLVIÇÃO POR ESTAR PROVADO QUE 
O RÉU NÃO CONCORREU PARA A INFRAÇÃO PENAL – ARTIGO 
386, IV DO CPP
Alternativamente, requer-se a absolvição do Réu, nos termos do art. 
386, IV do CPP, por estar provado que o Réu não concorreu para a 
infração penal, uma vez que as provas dos autos demonstram, de 
forma inequívoca, a absoluta ausência de autoria por parte do réu 
na prática do delito em exame.
Isso se deve ao fato de que a vítima, quando questionada em juízo, 
afirmou que jamais tinha tido qualquer tipo de contato anterior 
com o Réu. Aliás, a primeira vez que o viu foi por ocasião da prisão 
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Direito Penal - Espelho de correção - Seção 5NPJ 
em flagrante. . Ao ser indagada pela defesa, a vítima ainda afirmou 
que não tinha elementos para confirmar se o réu estava ou não 
envolvido com o crime de corrupção passiva praticado pelos 
demais acusados.
Assim, não havendo prova de autoria do crime de corrupção passiva 
por parte do Réu, a única medida cabível neste caso é absolvê-lo, 
nos termos do art. 386, inc. IV, CPP.
IV. DOS PEDIDOS 
Por todo o exposto, requer seja o Réu absolvido por atipicidade 
da conduta, ou, alternativamente, por estar provado não ter ele 
concorrido para a infração penal. Isso tudo nos termos da súmula 
145 do STF e, alternativamente, conforme o art. 386, inc. IV do CPP, 
de acordo, respectivamente com os itens II e III, destas alegações.
Termos em que, 
 Pede e espera deferimento. 
(LOCAL), (05 de novembro de 2018).
[NOME COMPLETO DO ADVOGADO]
[OAB]
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Perguntas:
1- Por que a alegação fi nal é tida como a peça mais completa do 
processo penal?
2- É comum que a Defesa não exponha toda sua estratégia ao 
longo do processo?
3- Mas pode a Defesa deixar de alegar alguma tese em suas 
alegações fi nais para alegá-la posteriormente?
4- Existe mais de uma hipótese de condenação? E de absolvição? 
Resolução comentada
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