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Curso de Primeiros Socorros em Equinos REALIZAÇÃO: Professores: Prof. André Lang - Médico Veterinário CRMV-7422 Mestre em Medicina Veterinária Doutorando em Medicina Veterinária (UFV) Especialista em Clínica e Cirurgia de Grandes Animais José Joffre Martins Bayeux - Médico Veterinário CRMV- 8767 JJVet - Clínica de Equinos VIÇOSA-MG 2009 2 Índice 1 – Introdução .............................................................................................................3 2 – Instalações corretas para evitar acidentes e doenças ..........................................3 3 – Atendimento emergencial ................................................................................... 10 4 – Farmácia Veterinária .......................................................................................... 17 5 – Administração de medicamentos na medicina veterinária ................................. 19 6 – Cólica eqüina: causas, tratamento e prevenção ................................................ 27 7 – Hemorragias ....................................................................................................... 39 8 – Doenças musculares .......................................................................................... 43 9 – Doenças respiratórias ........................................................................................ 52 10 – Exame Físico ................................................................................................... 53 11 – Trato respiratório inferior .................................................................................. 59 12 – Vacinação ......................................................................................................... 68 13 – Neonato: cuidados necessários com os potros recém-nascidos ..................... 71 14 – Acidentes ofídicos em equinos ......................................................................... 77 15 – Fraturas de membros locomotores – Como agir? ............................................ 83 16 – Principais patologias do sistema nervoso eqüino ............................................. 87 3 1 - Introdução Os primeiros socorros constituem-se no primeiro atendimento prestado ao animal em situações de acidentes ou infortúnios, por um socorrista, no local do acidente. A função importante do socorrista é a de manter o animal vivo até a chegada do socorro adequado, bem como não ocasionar outras lesões ou agravar as já existentes. Assim, pretendemos deste modo criar um "Manual de Primeiros Socorros" que deve de preferência ser colocado de forma visível junto das farmácias de primeiros socorros, normalmente existentes nos haras, ranchos e hípicas. Sempre que há um acidente, existe uma série de passos que podem ser dados no sentido de MELHORAR e de NÃO AGRAVAR o estado da vítima. 2 - Instalações corretas para evitar acidentes e doenças 2.1 – Microclima das Baias O cavalo, se adaptado, tolera variações relativamente grandes de temperatura. Os valores ótimos em animais adaptados dependem da região que estão, mas geralmente entre 0 e 15o C. A temperatura no inverno ou durante a noite não precisa ser mantida constante, variações paralelas com a da temperatura ambiente são vantajosas. Assim os mecanismos de termorregulação dos animais são treinados, pois são bastante exigidos na mudança constante de dentro para fora do estábulo e vice-versa. Além disso, o perigo da formação de correntes de ar (> 0,2 no inverno, no verão >0,5m/seg) é tanto menor quanto mais discreta for a diferença entre a temperatura interna (estábulo) e a externa. Temperaturas abaixo do ponto de congelação devem ser evitadas porque podem levar a problemas técnicos (congelamento do bebedouro) e eventualmente a um maior gasto de ração. Nas variações de temperaturas toleradas, a umidade relativa no estábulo acompanha a externa. No entanto se o ar não circular suficientemente, se satura com água porque os animais de tamanho médio perdem de 5-7 litros de água através da pele e do aparelho respiratório. Sem ventilação adequada o valor ótimo de 60-65% é facilmente ultrapassado. Umidade relativa alta (>80%) é inconveniente em temperaturas altas e baixas. 4 Em combinação com temperaturas altas a termorregulação (evaporação) é dificultada; nas temperaturas baixas se favorece a condensação de umidade nas paredes. Além da temperatura e da umidade, as condensações de gás e de pó, também têm que ser observadas. O teor de CO2 no ar do estábulo (por cavalo se produz cerca de 150 l de CO2 por hora) não deveria ultrapassar 0,2% e o do amoníaco não exceder 5-10 mg/l. Danos são esperados com >30mg NH3/l e mais de 0,05% H2S. No estábulo se calcula 0,4-0,8 mg pó/m3. Após a refeição este valor pode subir a 2,5 mg/m3. O pó não contém somente partículas dos alimentos de pequeno diâmetro, mas também concentra microrganismos (inclusive endotoxinas), assim como pragas de alimentos, principalmente ácaros. A inalação de pó contaminado sempre é indesejada, principalmente em animais com afecções da vias respiratórias. Para regulação de temperatura, umidade e concentração de gás em estábulos pequenos, os meios são simples (janelas, portas com abertura da parte superior). Em estábulos maiores, sistemas de ventilação e ventiladores podem se fazer necessários. Teores em NH3 e H2S podem ser diminuídos por uma boa cama (veja adiante) e uma nutrição protéica de acordo com a necessidade. 2.2 Tipo e Tamanho O tipo, acessórios e tamanho do estábulo se orienta segundo as condições climáticas, raça do cavalo e utilização do animal. Esses estábulos deveriam proteger do vento, precipitações, e de maneira limitada também de variações de temperatura muito intensas de temperatura. Segundo a forma de estabulação se diferenciam em estábulos livres, restritos em compartimentos (baias) e de corrente. Estábulos de circulação livres podem ser totalmente internos ou ter uma parte externa. Não são somente apropriados para raças extensivas ou criação de potros, mas também para populações de cavalos de montaria. Este tipo de estabulação permite a formação de grupos e com isso maior contato social e movimentação. Para cavalos de passeio ou de hipismo sua necessidade diária em movimentação também é garantida com o passeio obrigatório. O estábulo de circulação livre deveria ter pelo menos 10m2 por animal (raça grande). O espaço é dividido em uma área para repouso (com cama) e uma área de superfície firme sem cama em frente de manjedouras (de preferência beirando as paredes longitudinais). Uma evolução dos estábulos de movimentação livre interna são os que contam com uma 5 área de circulação externa. Ela engloba um abrigo contra chuva e vento e uma área de movimentação. O estábulo aberto ou o abrigo se divide em área de repouso (por animal de raça grande cerca de 8m2) e área de alimentação. A área de circulação é dimensionada em 30m2 por animal. Com um número maior de animais é possível uma movimentação ativa numa área de 300m2. O arraçoamento individual na estabulação em grupo fica dificultado. Se alguns animais são afastados do cocho por haver animais muito gulosos no grupo e competição ou quando existem animais subdesenvolvidos num grupo de potros, todos os animais têm que ser amarrados durante a alimentação em locais individuais. Estes têm que ser separados por paredes divisórias, se os animais recebem seu concentrado em baldes que são colocados de maneira similar ao saco de manjedoura. O animal de maiornível hierárquico tem que ser servido primeiro e dele a manjedoura tem que ser retirada por último. Volumoso pode ser servido em cochos atrás de grades com um espaçamento de 20- 25 cm através dos quais os animais têm que manobras suas cabeças com cuidado, ou em manjedouras redondas que oferecem um maior espaço e melhor possibilidade para esquivar-se. O arraçoamento individual para animais mantidos em grupos é difícil e trabalhoso. Mas também neste caso a tecnologia proporciona facilidades. Para grupos pequenos (até 5 animais) criou-se um sistema que através uma chave eletromagnética (fixada no cabresto do animal) garante a cada animal o acesso a sua própria manjedoura. Através de um emissor preso ao cabresto cada animal pode requisitar a quantidade prevista de alimentos (em pequenas porções individuais) no cocho. Com este sistema um controle exato da quantidade de alimento consumido é possível de ser feito. Para o dimensionamento e configuração dos currais. O estábulo individual ou baia é mais usado para animais de criação e equitação; o estábulo de corrente para animais de tração e também para animais de equitação (Policia Militar). A baia oferece uma possibilidade modesta para movimentação e tem vantagens evidentes para animais que não são movimentados regularmente ou de maneira insuficiente. Neste tipo de estábulo os edemas e inchaços dos membros são menos freqüentes. A baia deve ser grande, de maneira que os animais possas se virar, deitar e rolar comodamente. As dimensões se orientam segundo o tamanho e a utilização do animal. Como regra geral para cavalos de equitação: área mínima (em m2) = [altura de cernelha (m) x 2]2. Numa altura de cernelha de 1,60m é necessária uma área de 10,2m2. As medidas usuais para baias são de 3,2 x 3,5m (11,2m2). Para animais em reprodução também 4 x 4m (16m2). 6 A medida mais estreita deveria ser no mínimo 1,5 vezes maior que a cernelha, e a porta de no mínimo 1,20m. Boxes externos são servidos por um corredor externo coberto. Através de portas divididas os animais têm contato com o mundo exterior pela abertura da parte superior. Os boxes externos são especialmente apropriados para animais com enfermidades crônicas das vias respiratórias. O estábulo de corrente necessita de menos espaço por animal. Um comprimento de 3,00 – 5,50 e uma largura de 1,75m são suficientes. De uma baia podem ser feitos cerca de dois estábulos de corrente. Este tipo de estábulo hoje em dia se justifica para animais que são movimentados diariamente durante várias horas. As baias normalmente são divididas por paredes de madeira ou blocos, cuja altura normalmente atinge 1,35 a 1,5 vezes a altura da cernelha. Na parte superior das divisórias se aconselha o uso de grades de maneira que os animais possam observar os arredores. Nos estábulos de corrente os espaços individuais são separados por toras de flanqueamento que para animais de tamanho médio devem ser de uma altura de 0,90m. Como piso se utiliza nas baias a terra sobre uma camada de cascalho ou piso cimentado, já em estábulos de corrente os paralelepípedos ou cimento. As paredes externas e a cobertura (laje) devem ser feitas de tal maneira que possam absorver e eliminar quantidades limitadas de umidade. Desta maneira se reduz a formação da água de condensação que entre outras coisas pode favorecer a migração de larvas parasitárias. As paredes de barro e palha utilizadas antigamente satisfaziam esse critério, enquanto que paredes azulejadas que são de difícil limpeza não satisfazem neste sentido. O estábulo para equinos tem que ser claro. Como tamanho mínimo para área da janela se calcula 1/15 da área de piso do estábulo. A intensidade de iluminação tem que ser prevista com no mínimo 40, melhor 100 Lux/m2. Principalmente em éguas de criação cujo ciclo sexual é influenciado pelo fotoperíodo, uma iluminação adequada é indispensável. As janelas têm que permitir uma abertura de maneira que uma troca de ar não seja impedida. 2.3 – Cama A cama deve absorver ou fixar as excreções do eqüino, criar um isolamento térmico adicional, além de proteger de agressões mecânicas. Como o bem estar do eqüino depende em boa parte de uma base seca, macia e limpa, a manutenção de animais em estábulos sem cama só é promissora em condições muito especiais. Como cama pode-se utilizar palha, serragem e maravalha. Palha fresca (trigo-centeio) picada em pedaços de 5-10 cm pode satisfazer os requisitos da melhor maneira. 7 Desvantagem é a grande quantidade de palha necessária para manter a cama seca, assim como a ingestão de palha que pode levar a uma reinfestação com parasitas e em casos com palha de má qualidade também a distúrbios digestivos. Quantidades de 5-6Kg de palha por animal só são suficientes se o animal se movimenta várias horas por dia fora do estábulo, se não até 10Kg se fazem necessários. 2.4 – Cochos e Bebedouros Os cochos devem ser grande o suficiente (aproximadamente 50l, para que o alimento possa ser distribuído numa camada fina, de maneira a impedir uma ingestão excessivamente rápida do alimento. Cochos de 75 cm de comprimento e 35 cm de largura se mostram úteis. Deveriam ter uma profundidade de 20 cm e ter um rebordo na beirada superior para que a comida não pudesse ser empurrada ou soprada para fora do cocho. A beira em contato com o animal deve ser feita de tal maneira que durante a alimentação não ocorra uma angulação entre pescoço e cabeça (dificuldade de deglutição). Através de ondulações transversais de 304 cm de altura a ingestão d alimento pode ser retarda um pouco mais. Os cochos podem ser fabricados de barro, pedra, metal ou matéria plástica. Como características decisivas para um cocho ideal estão a dificuldade para promover ferimentos, boa possibilidade de limpeza, fácil conservação e ausência de cheiro próprio. Estas exigências são satisfeitas normalmente por material pétreo. Cochos de madeira não são tão apropriados porque acabam sendo roídos e nas frestas podem se acumular restos de comida levando a uma fermentação. O cheiro da fermentação acaba inibindo eventualmente a ingestão de alimento. Para facilitar a colocação do alimento existem diversas soluções: cochos giratórios ou escamoteáveis que podem ser servidos externamente, ou fendas que permitem atingir o cocho pelo corredor de alimentação. A altura da fenda não deve ser superior a 20 cm para que o animal não venha a se prender e machucar. Para a altura do cocho duas exigências opostas tem que ser colocadas em harmonia: 1) a ingestão de alimento deve ocorrer em condições fisiológicas. 2) a contaminação deve ser a menor possível. Em condições naturais (pastos), os animais apreendem o alimento do solo com postura relaxada na cabeça e no pescoço. Cochos nas proximidades do solo não são possíveis, porque os cavalos na ingestão de alimentos forçam em direção cranial e pisoteiam o cocho com as mãos, além do perigo de contaminar o alimento com cama e fezes. Cochos altos podem evitar este tipo de inconveniente, mas levam a uma postura pouco fisiológica durante 8 a ingestão de alimento e em determinadas condições até mesmo à lordose. Como solução se oferecem cochos de uma altura de 50-60 cm. Neles ainda existe o perigo de que os cavalos pisem com os membros anteriores, principalmente em boxes de paredes divisórias altas não permitem vista um pouco mais livre. Os cochos podem ser feitos do lado do corredor ou na parede oposta. Como os cavalos normalmente ficam parados com a cabeça virada para o corredor no primeiro caso se teria um menor risco de contaminação, e os animais podem ser servidos diretamente do corredor. Nos estábulos de corrente,os cochos normalmente são fixos na parede, porém com uma distância prudente para que os animais não se machuquem. Um risco também existe em cochos triangulares que de outra maneira economizam espaço. Para cavalos individualmente, como também para grupos, existem mecanismos disponíveis com os quais o concentrado pode ser oferecido em pequenas porções em freqüentes refeições. Em plantéis maiores a alimentação simultânea de todos os animais evita a intranqüilidade e nervosismo dos indivíduos servidos mais tardiamente. Os bebedouros nos estábulos de corrente tem que ser colocados próximos da manjedoura. Na baia, no entanto, a título de dificultar a ingestão freqüente de água durante a alimentação e evitar a contaminação da água por restos de comida que ficam presos no focinho se recomenda colocar os bebedouros na parede oposta e com deslocamento lateral (menor risco de uma contaminação com fezes). O bebedouro a cerca de 60 cm de altura pode ser protegido de coice ou pressão por uma grade de ferro. Bebedouro automático sem tampa tem se mostrado o mais adequado para os equinos. O volumoso pode ser oferecido em grades, redes ou no próprio piso. As grades acima dos comedouros utilizadas antigamente não são tão convenientes. Além do perigo de poder favorecer uma lordose, causam uma poeira desnecessária tanto na hora do preenchimento como na hora do consumo. Pós de partículas de alimento podem provocar irritação da conjuntiva ocular ou da mucosa das vias respiratórias. Se as grades são utilizadas devem ser fixas o mais baixo possível e lateralmente ao cocho. 9 TABELA 1 – Áreas de armazenamento para feno (aproximadamente 12 dt) e palha (aproximadamente 15 dt) por cavalo (500 kg P.V.) e semestre, inclusive com 25% de espaço vago. Forma de armazenamento Feno M3 Densidade Dt/m3 Palha m3 Densidade Dt/m3 Solto Fardos empilhados 20 8 0,75 1,8 38 19 0,5 1,0 Até um espaçamento de 6-8 cm ainda há o perigo que os animais de casco pequeno possam ficar presos entre as barras. A alimentação no chão é de menor risco e por motivos higiênicos é feito preferencialmente a partir do corredor ao qual os animais têm acesso através das barras verticais bem espaçadas. Na alimentação direta no piso do box, o risco para contaminação e desperdício é muito grande. A alimentação de feno em redes não se impôs no meio, pela exigência em trabalho ser grande e os animais roerem as redes com certa facilidade. 2.4 – Local para armazenamento de alimentos Volumoso e palha para cama são mais baratos na época da colheita, de maneira que se existe espaço disponível pode ser comprado e armazenado. Para o armazenamento de feno e palha para meio ano são necessárias as áreas mencionadas na tabela 1. Com os custos dos meios de transportes atuais o armazenamento em nível é mais barato. Alimento concentrado para haras pequenos deve ser comprado em pequenas porções (para cobrir 2-4 semanas), ensacado e guardado em caixas com boa vedação que ficam na parte externa do estábulo. O fechamento adequado previne a entrada de umidade e a abertura por animais que se soltam durante a noite. Para plantéis maiores (mais de 20 animais) o concentrado é armazenado em silos de preferência dentro de uma construção para que seja protegido de uma variação de temperatura muito intensa. A densidade para aveia varia entre 4,5-6 dt/m3, para ração peletizada entre 6-6,5 dt/m3. Por cavalo mensalmente devem ser previstos cerca de 0,2 m3 de silo. Além dos silos fixos macro-sacos, de fibra sintética que são pendurados s mostram extremamente úteis (sem formação de água de condensação). 10 2.5 – Curral e Pátios Se os cavalos não têm a possibilidade de pastorear ou não têm possibilidade de movimentação adequada, currais e pátios são necessários de no mínimo 3 x 4 m ou melhor de 10 x 30 m. Em pisos pouco permeáveis se coloca inicialmente um dreno (distância 5-7 m, 30 cm profundidade). Sobre este se coloca uma camada de brita ou cascalho (15-20 cm em seguida uma malha de plástico que permita a penetração de água mas não de areia e para o pisoteio se coloca uma camada de areia grossa (0,2-3 mm de granulação), misturada eventualmente com maravalha de 15 cm de espessura. Se os animais ficam constantemente num substrato duro no estábulo a areia fofa é mais indicada do que um pátio cimentado. Os “paddocks” têm que ser mantidos livres de vegetação porque com ingestão de gramíneas nestas áreas se ingerem quantidades consideráveis de areia. 3 – Atendimento Emergencial 3.1 – Educação Correta para o atendimento inicial Todos os proprietários de cavalos estão sujeitos a passarem por situações de emergência médica, por isso é vital conhecer as atitudes que podem predispor os animais e tratadores a acidentes como cortes, contusões e abrasões graves. A manutenção do local aonde os animais transitam bem como as baias devem sempre estar livre de materiais que possivelmente ocasionaram lesões perfuro-cortantes. As lacerações são provavelmente as emergências mais comuns, além das cólicas, complicações com os potros, laminite aguda e outras ocorrências. Desta forma, os proprietários precisam saber como reconhecer e agir diante das emergências, adotando a ação apropriada até a chegada do veterinário. · Reconhecendo sinais das situações de emergência Quando o animal está sangrando é óbvio que há um problema. Porém, existem casos em que os sinais são inaparentes e podem surgir dúvidas. 11 Os sinais vitais são os indicativos do estado do seu cavalo, e, portanto, é importante conhecer os padrões normais do seu cavalo, anotando a temperatura, freqüência cardíaca, respiratória e conhecendo os padrões de comportamento. · O que é normal? Estes valores padrão podem variar de animal para animal, o que reforça a importância de cada proprietário anotar os valores individuais e deixar estas anotações em local de fácil acesso. Os valores normais dos sinais vitais dos cavalos podem apresentar a seguinte variação: - Freqüência cardíaca: de 28 a 40 batimentos por minuto - Freqüência respiratória: 12 a 16 movimentos por minuto - Temperatura retal: 36,58ºC a 38,5ºC (adultos) e 38,7ºC a 39,2ºC (potros) - Tempo de preenchimento capilar: 02 seg. Caso a temperatura exceda 40.5oC, contate seu veterinário imediatamente. Temperaturas abaixo de 36oC também indicam sérias desordens funcionais. Outras observações devem ser feitas: - Hidratação (prega do pescoço); - Coloração das mucosas gengival, conjuntiva ocular e vulvar deve ser rosada (vermelho brilhante, rosa pálido a branco ou a presença de pontos vermelhos são indicativos de problemas); - Coloração, consistência e volume de fezes e urina; - Sinais de desconforto, angústia, ansiedade, letargia, depressão, perda de apetite e/ou ausência de sons intestinais; - Movimentação da cabeça, relutância ao andar, posição estranha, dor, resistência para levantar-se; - Sangramentos e suor intenso; 3.2 - A importância da observação dos sinais vitais do seu cavalo: Como saber se o seu cavalo está doente? Qual a gravidade da doença? 12 O principal sinal de que o seu animal está com problema é a alteração do comportamento, e uma vez constatada a doença, os sinais vitais podem fornecer informações a respeito da causa e severidade. O monitoramento da temperatura, freqüências respiratória e de pulso não são apenas importantes para o diagnóstico, mas também para o monitoramento da recuperação ou piora da situação do cavalo. Portanto, estesvalores podem ajudar nas seguintes situações: 1. Estou diante de uma emergência? 2. Está melhorando ou piorando? 3. Devo chamar o veterinário? - Instruções para a obtenção dos sinais vitais: · Temperatura A temperatura do cavalo é resultado de dois fatores, sua produção e sua perda de calor, e a temperatura de um cavalo sadio pode variar em até 3ºC dependendo das condições. Animais submetidos a exercícios extenuantes podem apresentar aumento de temperatura que pode demorar até 4 horas para se restabelecer. Portanto, quando for medir a temperatura do seu cavalo considere se ele foi submetido ao exercício. O melhor momento para medir a temperatura é no período da manhã, após a noite de descanso. A temperatura de repouso deve ser de 36.5ºC a 38.5ºC e você deve sacudir o termômetro antes de introduzi-lo no reto do animal, pois isso garante que o termômetro estará marcando a temperatura mais baixa possível. A contenção do animal é muito importante para neste momento, você deve estar posicionado do mesmo lado de quem está segurando o animal e o seu corpo deve estar na região do tórax do animal. · Freqüência de pulso arterial Apesar de dois ou mais sons serem formados durante cada batimento cardíaco, o pulso arterial é único para cada contração cardíaca. 13 A freqüência de pulso deve ser medida no animal em repouso, pois há influencia do exercício ou excitação do animal. E assim como os demais sinais vitais, também apresentam variações individuais de acordo com a idade e função do animal. Dores, febre e mudanças na pressão sangüínea são exemplos de fatores que alteram os batimentos cardíacos. Aferir o pulso é fácil e rápido, apenas colocamos o dedo indicador levemente sobre a artéria que segue pelo ramo interno da mandíbula, e avaliamos em um minuto a quantidade de pulsos. A aferição do pulso na região da quartela (artérias digitais) pode auxiliar em casos de laminite ou lesões em um dos cascos, pois, o membro afetado estará com uma freqüência e intensidade (pulso “cheio”) maior do que os outros membros normais. · Freqüência Respiratória Este sinal vital talvez seja o mais fácil de ser notado, pois pode ser medido apenas pela observação do movimento do tórax ou das narinas, durante cada inspiração e expiração. 12 a 16 mpm. · Coloração das mucosas Normalmente a coloração da gengiva do cavalo é levemente mais pálida que a gengiva humana, e a observação da coloração da mucosa pode ajudar a estabelecer as condições da circulação periférica ou mesmo refletir a condição geral do sistema circulatório. A palidez pode apontar para casos de febre, dor, anemia e perda de sangue, e as colorações mais vermelhas, azuladas ou mais escuras podem ser conseqüência de casos de endotoxemia bacteriana, choque tóxico, choque cardiovascular ou envenenamento (picada de cobra, erva de rato,...). · Esclera O branco dos olhos representa a esclera. Os vasos nesta região são facilmente visualizados e tornam-se dilatados antes mesmo de qualquer alteração de coloração de mucosa, em casos de endotoxemia ou septicemia. 14 Estes vasos também ficam dilatados em casos de inflamação local, mas neste caso apenas um dos olhos estará acometido, normalmente. Devido à cor branca da esclera, qualquer pigmento presente é facilmente observado, e os pigmentos mais freqüentemente observados são os pigmentos biliares, que proporcionam uma coloração amarelada (conhecida como icterícia). A icterícia pode ser causada por doenças hepáticas, jejum prolongado ou doença em que haja hemólise, como no caso de animais infectados por Babesia sp, por exemplo. · Plano de ação Mantenha o número do seu veterinário sempre próximo ao telefone, e consulte-o com antecedência a respeito de qual profissional chamar caso não consiga contatá-lo. O kit de primeiros socorros deve ser mantido em local limpo, seco e de fácil acesso, e sua composição básica segue abaixo: - Analgésicos, antiinflamatórios; - Seringas, agulhas e cateteres; - Termômetro; - Algodão; - Gaze - Esparadrapo; - Ataduras; - Anti-sépticos a base de iodopovidona a 1%; - Líquido de Dakin; - Caixas de soro (ringer simples, ringer lactato, fisiológico e glicose 5%); - Material para contenção (peia, cachimbo, cordas); · Cuidados com as feridas de emergência As atitudes iniciais podem prevenir maiores danos e otimizar a cicatrização. Contenha e acalme o animal para prevenir maiores lesões, leve-o para outro local que lhe seja familiar, caso isso seja possível sem causar mais sofrimento. Fornecer feno pode ser uma boa distração. 15 A ajuda de mais de uma pessoa é essencial par promover a contenção necessária, pois você não poderá ajudar seu cavalo se também for ferido. Avalie a localização, a profundidade e severidade da ferida. Ligue para seu veterinário para solicitar recomendações a qualquer hora nas seguintes situações: - Sangramento excessivo; - Ferimentos que ultrapassem toda a espessura da pele; - Feridas próximas às articulações; - Perfurações; - Feridas severamente contaminadas (ferro enferrujado, por exemplo). Consulte seu veterinário antes de tentar limpar ou retirar objetos perfurantes, pois você pode causar hemorragias incontroláveis ou maiores danos à ferida. Antes disso, utilize apenas compressa e água fria. O sangramento pode ser estancado com um pano limpo (estéril) e nunca utilize algodão. Medicações devem ser especificadas pelo médico veterinário, pois caso o animal tenha sofrido sangramento severo, a administração de certas drogas podem colocar a vida do seu animal em risco. Lesões oculares devem, obrigatoriamente, esperar por atendimento veterinário. Em caso de animal com objeto pontiagudo ou cortante alojado na sola, primeiramente deve-se limpar o casco. Consulte seu veterinário antes de remover o objeto, para que ele não se torne mais profundo. Assim que for feita a remoção, aplique solução anti-séptica (iodopovidona a 1%) e faça uma bandagem que previna o contato da região diretamente com o solo, para evitar mais contaminação. Todos os cavalos que sofreram lacerações ou perfurações devem ser vacinados contra o tétano. · Outras emergências Existem muitos tipos de emergências, desde traumas a paralisias, fraturas a picada de cobra (acidentes ofídicos), complicações com os potros a cólicas. Entretanto, independente da situação, é importante lembrar-se das seguintes orientações: 16 1. Mantenha-se calmo; 2. Mantenha seu cavalo o mais calmo possível; 3. Leve seu cavalo para uma área segura, onde haja menores riscos de ferimentos; 4. No caso de uma síndrome cólica a simples ação de caminhar com o animal já é de grande ajuda para a manutenção da dor. Trotar e galopar poderá aumentar ainda mais a freqüência cardíaca e gerar prejuízos maiores ao estado do animal; 5. Chame alguém para ajudá-lo a conter o animal, ligue para o veterinário, pegue o kit de primeiros socorros – Mantenha os telefones atualizados; 6. Esteja preparado para fornecer informações precisas sobre as condições do animal para facilitar o trabalho do veterinário; 7. Escute as orientações atentamente e não utilize drogas, especialmente tranqüilizantes ou sedativos, a não ser sob orientação específica do seu veterinário. 8. O uso de analgésicos em síndromes cólicas sem a aferição inicial dos parâmetros ou a prévia consulta ao seu veterinário poderá causar danos à avaliação clínica do veterinário. 9. Nunca aplique diurético quando o animal apresentar-se com sintomasde síndrome cólica!!! A posição adotada pelo animal em situações de dor abdominal muita das vezes é a mesma adotada para urinar, ou seja estica o corpo e fica “estacado”, isto não significa que o animal “quer urinar e não consegue” como é bastante difundido. Apenas a dor gerada pela síndrome cólica o faz adotar posições diferentes e até estranhas (senta sobre os posteriores, por exemplo). 10. O uso de antibióticos deve ser rigorosamente indicado e prescrito pelo veterinário. O uso irregular de certos grupos fármacos poderá agravar o quadro. 4 – Farmácia Veterinária O acondicionamento dos medicamentos deve ser feito com muita atenção, pois, no corre– corre, eles podem ser confundidos uns com os outros, principalmente se a pessoa que está prestando socorro ao animal, não tem formação veterinária. A melhor solução nesse caso é dividir os remédios e suprimentos, em duas categorias: um de primeiro – socorros, contendo material básico como tesoura, ataduras, álcool, etc., que pode ser usado por qualquer pessoa que tenha experiência com os cavalos; e um de uso veterinário; contendo medicamentos controlados, cuja administração deve ser 17 orientada por um profissional. O primeiro deve ficar a disposição também dos tratadores, enquanto o segundo deve ser restrito ao veterinário e, por tanto, ficar longe dos olhos e mãos dos demais. Esses produtos podem ficar no mesmo armário, com tanto que ocupem outro compartimento, de preferência protegido com chave. Ter os medicamentos e suprimentos certos e organizá-los adequadamente, além de agilizar os primeiros – socorros do animal, diminuindo, por tanto, os riscos de contaminação e agravamento do quadro, contribui para o uso do produto adequado aquela circunstância. Uma dica útil para diminuir ainda mais a incidência de erros de medicação, é colocar etiquetas nos remédios indicando sua função, modo de usar, contra – indicações e efeitos colaterais. As etiquetas também podem servir para alertar o leigo a não utilizar determinado produto sem orientação veterinária. Outra precaução é deixar na frente os produtos mais usados e, no fundo aqueles que serão utilizados esporadicamente. Não basta ter um arsenal de produtos na cocheira se eles são de baixa qualidade ou não são específicos para o uso que foi designado. Você pode achar, por exemplo, que tendo um termômetro humano por perto, está pronto para detectar com segurança um quadro febril de seu cavalo, mas não se dá conta que se esse termômetro escapar das mãos de quem está medindo a temperatura e se alojar no reto do animal, você estará causando um problema muito mais grave que a alteração de temperatura. O termômetro veterinário pode custar um pouco mais caro, mais em compensação é especialmente projetado para animais de grande porte. Bem maior que o convencional, ele possui uma corda de segurança que fica do lado de fora, caso o objeto entre no ânus do animal. Alguns remédios são mais perecíveis que os outros, ou seja, estragam com mais facilidade, portanto, para evitar que eles cheguem até os cavalos, é importante que se faça uma checagem periódica dos prazos de validade contidos na embalagem e se descarte tudo o que estiver vencido. Um medicamento vencido pode ter reações adversas, ele tanto pode ser inócuo, não surtindo, portanto, efeito algum, como pode atuar como um desencadeador de alergias e outros efeitos colaterais. Os dois casos são igualmente preocupantes, o primeiro porque o criador terá a sensação de estar cuidando do problema enquanto o quadro pode estar gradualmente se agravando e o segundo porque não se pode prever as desastrosas conseqüências da administração uma droga imprópria para o uso. A parte mais importante do processo é a responsabilidade e ela deve estar presente em todas as etapas da organização de uma farmácia caseira. Sempre que você pensar em descuidar, lembre-se que, apesar da estrutura física imponente, o cavalo é um ser frágil e precisa de cuidado e atenção em período integral, como um filho, para o qual, com certeza, você nunca daria um remédio de qualidade inferior, errado ou vencido. 18 4.1 - Conteúdo da Farmácia > PRODUTOS BÁSICOS - Para Curativos: Dois rolos grande de algodão hidrófilo (absorve água) Um pacote de Gaze Um litro de álcool tópico Um litro de iodopovidona tópico (PVP iodo), para pequenos ferimentos Um litro de líquido de Dakin Um rolo de esparadrapo grande Dois pacotes de ataduras (12cm) Pomadas diversas - Para os Olhos: Um litro de soro fisiológico tópico Um litro de soro fisiológico estéril (injetável) Pomadas oftálmicas - Para Tratamento: Antiinflamatórios Analgésicos Antitóxicos Laxativos Soros > MATERIAL DE APOIO Seringas e agulhas descartáveis 5, 10 ,20 ml – 40x8, 40x9, 40x10, 40x12, 40x16 (muitas) Equipos para soro Cateter no mínimo uns 5 Nº16 Um termômetro veterinário Uma cx. de luvas descartáveis Tesoura (c/ uma ponta romba e outra fina) 19 > PRODUTOS DE USO DO VETERINÁRIO Os medicamentos a seguir são para situações de emergência e só devem ser utilizados com a orientação do veterinário. Lembre-se de que vacinas e soros devem ser mantidos sob refrigeração. Tranqüilizantes Soros Anti-Tetânico e vacinas Carrapaticidas Anestésicos locais Sedativos Antibióticos 5 - Administração de medicamentos na medicina veterinária 5.1 - Introdução O propósito deste tópico é o de agir como uma referência para ajudar o aluno das técnicas de administração de medicamentos. Este tópico não pretende encorajar o uso ou indicações de medicações pelos proprietários, aliás, sou veemente contra tal atitude. Existem várias situações em que o uso indiscriminado de medicamentos prejudique o animal, isto quando não o levam à morte, acompanhei inúmeros casos de óbitos em animais em que seu dono não "fez por mal" ou "foi pensando no melhor". Outro ponto importante deve-se a médicos humanos aplicando drogas em cavalos, a ação e toxicidade de muitas drogas humanas podem ser totalmente diferentes em cavalos ou em outros animais, desse modo não se deve deixar que o falso senso de segurança obtido em sua especialidade faça com que medique seus animais. Sabendo disto, a credibilidade e cobrança de responsabilidade de uma prescrição médica veterinária serão exacerbadas, assim sendo a terapia deverá ser a mais apropriada diminuindo os efeitos adversos das drogas sobre o animal e potencializando seus benefícios. A administração das drogas deve seguir um protocolo bem definido para que nunca ocorram "enganos" ou "mal entendidos". A diferença entre dose terapêutica e uma dose tóxica pode ser relativamente pequena, então preste muita atenção a números, pontos decimais e todos os detalhes pertinentes a dosificação. Sempre tenha certeza que as embalagens estão claramente rotuladas e que você saiba as dosagens, freqüência e tempo 20 de tratamento. Esteja seguro que os medicamentos prescritos estejam armazenados separadamente, de forma que outras substâncias não sejam administradas acidentalmente. Também se devem levar em conta quantas pessoas administrarão a medicação, instituindo horários claros de forma que dosagens dobradas não sejam aplicadas. No caso de um animal estar em tratamento, estipule um registro de administração da medicação com um controle diário (inclusive com o tempo, dose e um lugar para a marcação das doses administradas) e deixe em um lugar bem visível. Lembre-se: Confirme, Confirme, sempre Confirme!! O cálculo das dosagens está relacionado como a causa mais comum em desastresterapêuticos sistema métrico varia em medicamentos importados e nacionais e isto pode confundir a muito de nós. As unidades mais comuns, em muitos medicamentos para equinos, são o miligrama (mg) e o mililitro (ml). Uma droga líquida terá, muitas das vezes, a concentração informada em miligramas / mililitros (mg/ml). O miligrama é 1/1000 de um grama e o mililitro é 1/1000 de um litro. Se você quer relacionar estas medidas para o sistema usado nos USA por exemplo, deverá saber que 30,1 gramas são iguais a 1 (uma) Onça e que 1 (um ) litro é igual a 0,946 quarto. Outra unidade que freqüentemente confunde as pessoas é o "CC" , abreviação de centímetro cúbico e é a mesma unidade de volume de 1 (um) mililitro: 1ml = 1 cc. Sempre diga aos proprietários para seguirem as instruções prescritas e ter muito cuidado durante o preparo e administração. Muitas drogas podem ser potencializadas quando conjugadas em uma mesma seringa ou mesmo a dose quantificada erroneamente em seringas com a identificação de "CCs" apagada, podendo levar a uma over-dose, portanto sempre esclareça bem o modo de aplicação e verifique os meios de aplicação. Lembre-se, Confirme!!! Induza o proprietário a consulta-lo sempre que a dúvida surgir, faça-o entender que ele está jogando com a vida de um animal. A causa mais comum de falhas terapêuticas em medicina humana e veterinária, está no fracasso da atitude da pessoa responsável pela administração, que não aplica a dose adequada, na freqüência indicada para o tempo total de tratamento! Verifique sobras ou os frascos pela metade na farmácia do cliente!!! Uma correta explanação sobre a dose/freqüência/tempo de tratamento deverá ser feita para que não ocorram surpresas.... Mesmo que o intervalo entre as aplicações seja de 6 horas, explique que há razões importantes para que determinadas drogas seja dada quatro vezes ao dia ao invés de três. 21 Caso o proprietário não tenha disponibilidade para tal fato, explique que a administração de outras drogas em intervalos maiores pode ser indicada, sendo tais drogas muitas vezes menos efetivas. 5.2 - Medicamentos O proprietário deve ter em mente que uso indiscriminado de medicamentos causa vários danos ao animal e administração deve ser levada a sério. Poderia ser mais maleável, mas sou da opinião que nenhum medicamento deveria ser administrado sem uma consulta prévia ao veterinário. Todas as drogas têm um potencial tóxico se usada de forma indiscriminada, há também drogas que têm efeito tóxico em doses terapêuticas se fatores predisponentes existirem e mesmo reações adversas, as quais apenas um veterinário está apto a percebê-las precocemente e dirimilas (vacinas, por exemplo). Muitas instituições, haras, fazendas de criação, etc.. Estão administrando vacinas por conta própria, esclareça ao proprietário que além desta responsabilidade vacinal, ele também deve ter a responsabilidade de aprender sobre o que pode acontecer se algo der errado. Pode ser que apenas 1 em 100.000 animais tenha algum tipo de choque anafilático, mas uma coisa é certa: Apenas o veterinário saberá dar a melhor solução, então discuta com estes proprietários e mostre os riscos desta prática. A utilização de antibióticos também deve ser analisada, o seu uso indiscriminado ou uso impróprio é um sério problema tanto para os animais quanto para as pessoas. O número de bactérias resistentes aos antibióticos está crescendo a uma taxa alarmante! O aparecimento de cepas altamente resistentes é assustador e em muitos casos estão relacionados a um julgamento equivocado quanto da sua indicação. Se uma terapia antibiótica for instituída, assegure que: 1) A indicação é realmente necessária; 2) Se a indicação é realmente necessária, o tipo e as associações apropriadas são selecionadas; 3) Se a indicação é realmente necessária, avalie a via de administração, a dose, a freqüência e o tempo de tratamento. 22 5.3 – Administração Oral Existem vários medicamentos que são formulados para administração oral, seja em tabletes, líquidos, comprimidos que devem ser masserados ou cápsulas que devem ser dissolvidas. Deve-se informar os cuidados que o responsável pela preparação e administração tem a seguir, para que nem o medicamento , nem o operador se contaminem. Algumas drogas líquidas como o Regumate®, um poderoso hormônio usado em patologias reprodutivas, apresentam alta absorção cutânea, obrigando ao aplicador o uso de luvas e/ou lavar as mãos após a administração. Os tabletes e comprimidos masserados podem ser misturados a melaço ou outras substâncias palatáveis para facilitar a administração, embora muitos animais não necessitem de qualquer método especial para a ingestão, apenas a mistura à ração. A maioria dos vermífugos e alguns antiinflamatórios têm apresentação em seringas dosadoras, as quais tem um meio quantificador pelo peso através de um anel limitador no êmbolo. Informe sobre os perigos de uma sobre-dose causada pelo deslize deste anel ou de um erro na visualização do peso descrito no êmbolo. Para a administração oral destas diversas apresentações, você poderá fornecer ao seu cliente uma seringa de plástico de 60 ml e adverti-lo sobre o seu uso: segurar firmemente no chanfro do animal, lateralmente introduzir suavemente a seringa em cima do meio da língua e aí descarregar seu conteúdo, uma vez o conteúdo dentro da boca, pode ser necessário segurar a cabeça ligeiramente elevada usando o cabresto ou uma mão debaixo da mandíbula até sua deglutição, caso contrário, poderá ocorrer a perda do produto. 5.4 – Injetáveis Novamente repito que o uso de medicações pelo proprietário deve ser o mais restrito possível, devendo ser totalmente prescrita e acompanhada por um médico veterinário. O cuidado inicial para aplicações de medicação injetável é sem dúvida um boa contenção. Você sempre deve frisar bem, que uma pessoa qualificada deve conter o animal para que o responsável pela aplicação possa efetuá-la com segurança e tranqüilidade. Informe quando da utilização de "pitos", "mão de amigo" e outros meios de contenção física, relate à pessoa que esta segurando a importância de segurar o animal sempre do mesmo lado da pessoa que esta executando a aplicação, evitando assim que o animal escoiceie ou mesmo consiga "prensar" contra a parede os manipuladores A segunda preocupação é quanto a assepsia. Deve ser dito que pincelando a pele com 23 álcool iodado não esteriliza a pele, mas ajuda a reduzir ou diluir o número de bactérias na região. Se o animal estiver solto e coberto por lama ou existir fezes secas na crina ou na região da aplicação, o animal deverá ser lavado antes de qualquer aplicação. - Intramuscular Vacinas, antibióticos, alguns antiinflamatórios e vários outros medicamentos são administrados por via intramuscular. Tenha muito cuidado durante a prescrição, seja claro e objetivo para evitar erros durante a aplicação. Medicamentos como a fenilbutazona , causam uma irritação grande se aplicada via intramuscular. As principais área de aplicação localizam-se na tábua pescoço e na musculatura glútea. A região do pescoço é a mais indicada, pois em caso de contaminação ( não sendo rara de ocorrer), a drenagem do abcesso é facilitada. Evite injetar mais de 20 ml em um ponto de aplicação e sugira para que seja feito um rodízio dos pontos de aplicação em casos de tratamentos longos, diminuindo o risco de inflamações. A instrução que deve ser passada ao responsável pela administração, inicia-se com a contenção e assepsia e a partir disto demonstra-se a técnica propriamente dita. Geralmente o aplicador retiraa agulha da seringa e com um movimento rápido a introduz na musculatura, isto evita que a seringa caia se o animal reagir a picada, depois desta reação a seringa deverá ser conectada a agulha. Uma manobra importante neste momento, é a de puxar o êmbolo para observar a presença de sangue na seringa. Estas áreas têm vários vasos sangüíneos e existe a possibilidade de acertá-los durante a aplicação. Algumas drogas não devem ser injetadas na corrente sangüínea ( penicilina procaína por exemplo), por isso deve-se enfatizar esta prática para evitar tal acontecimento. - Intravenoso As aplicações intravenosas devem ser restritas à pessoas treinadas e acostumadas com o preparo deste tipo de medicação, caso estes requisitos não sejam satisfeitos, desaconselho a indicação intravenosa, principalmente por estas razões: 1. O principal local para a injeção intravenosa é na calha da veia jugular, logo abaixo ou lateralmente ao pescoço, sendo assim, local muito próximo a artéria carótida ( localiza-se logo abaixo a veia jugular, a menos de um centímetro). Uma aplicação na carótida pode 24 gerar , dependendo da droga usada e volume aplicado, desde pequenas reações à reações anafiláticas mortais. Por este motivo apenas indique uma droga intravenosa à aqueles proprietários que possuam experiência para tanto! 2. A habilidade do aplicador deverá ser avaliada, mesmo que informe que saiba a técnica, Confirme! Drogas injetadas fora do lúmem da jugular podem levar a uma necrose do tecido circundante e fibrose da veia. A fenilbutazona, por exemplo, causa sérios danos se for aplicada fora da veia ou intramuscular. Caso o animal precise de uma medicação exclusivamente intravenosa para um tratamento longo e você avalie a incapacidade técnica do pessoal envolvido, o veterinário poderá instalar um catéter intravenoso (suturado ou colado) e trocá-lo a cada 3 - 4 dias (em média) e o proprietário executar as aplicações, instruído da técnica asséptica e da manutenção do catéter (uso de anticoagulantes). - Subcutâneo Aplicações subcutâneas podem ser indicadas e o proprietário deve seguir todas as técnicas exemplificadas até aqui. O local mais comum para este tipo de aplicação é a tábua do pescoço, podendo ocorrer reações dolorosas, assim sendo, os métodos de contenção também devem ser observados. 5.5 – Medicamentos Oculares A instilação de medicamentos oculares pode ser complicada para proprietários novatos e sem experiência. Faça com que o aplicador siga as orientações com precisão e cautela. A contenção deverá ser feita por uma pessoa experiente para que a instilação seja facilitada. Institua regras para que nada saia dos padrões, demonstre que a organização do estoque das medicações é de fundamental importância. Verifique se todos os medicamentos prescritos estão em ordem e que os tubos estejam limpos e secos, às vezes você tem apenas uma oportunidade para a aplicação, se o tubo cair... Determine ao proprietário regras de higiene e assepsia, tanto de suas mãos quanto ao redor dos olhos do animal, com gaze embebida em solução fisiológica 0,9%.Geralmente resíduos de pomadas podem se acumular em baixo dos olhos e deixar esta região com acúmulo de impurezas. 25 Este processo pode ajudar a acalmar animais apreensivos, sendo de grande valia em casos de animais arredios. A técnica mais comum de aplicação consiste em colocar o indicador na pálpebra superior e o polegar na pálpebra inferior. O polegar imprime um deslizamento da pálpebra inferior , fazendo sua everção, e a pomada oftálmica é depositada ( normalmente um centímetro de pomada) sobre a superfície da pálpebra inferior. É muito importante não encostar o bico do frasco aplicador no olho do animal, para isto, a mão que segura o tubo deve ser a mesma que se apóia sobre o animal, caso ocorra uma agitação o tubo não encostará-se ao olho. A aplicação de produtos em gotas requer uma destreza maior. A pessoa responsável pela contenção do animal deverá inclinar sua cabeça sobre um ângulo de 45º, para que a outra instile o produto. Repasse todas as instruções para que não ocorram erros ou mesmo a falta da aplicação das medicações, lembre-se, a causa mais comum de fracassos em tratamentos relaciona-se com a incomplacência do proprietário a respeito das prescrições (dose, freqüência e tempo de tratamento). 5.6 - Condutas irresponsáveis Muitos proprietários, peões, práticos ou mesmo curiosos, julgando ter experiência na criação e manutenção de cavalos aterrorizam a prática médica veterinária. Quantos de nós já não ouvimos falar em castradores, sangradores e curandeiros? Para exemplificar tomemos um caso comum de castração efetuada por um prático: ü Contenção do animal: cordas e peias, derrubando o animal muitas das vezes em lugares sem condições para tal, sem ater-se aos riscos dos traumas causados pela queda. ü Anestesia: A grande maioria - nenhuma. Casos esporádicos, anestesia local inadequada. ü Assepsia: Quando muito, o animal é lavado com água e sabão. 26 ü Ato "cirúrgico": Canivete "afiado" e ferro quente para cauterização Essa prática é cobrada e praticada por vários "práticos", ocasionando além de um ato contra os direitos dos animais, infecções de difícil tratamento, ocasionando custos mais elevados do que se o proprietário procurasse um veterinário para tal ato cirúrgico. Abaixo estão relacionados alguns absurdos que coletei durante 7 anos de clínica e seus efeitos deletérios... : ü Tétano: Pólvora na espinha dorsal e acender - óbito, crueldade, caso de Polícia. ü Aguamento (laminite): Sangria efetuada com antena de carro na jugular, corte das artérias do casco - Flebite severa , queda dos cascos. ü Cólica ("várias condutas...."): 1. ovos cozidos, fumo de corda e cebolas no reto do animal, lavagem com mangueira no reto, palpação retal - Ruptura retal 2. Garrafadas - a base de refrigerantes, cervejas, solventes e ervas milagrosas ingeridas ou aspiradas - pneumonias e/ou rupturas gástricas 3. Administração de analgésicos em altas doses - intoxicações, rupturas gástricas, ... ü "Limpar e afinar" o sangue: sangrias e medicações a base de adrenalina - choque anafilático, enfarto, infecções,... ü Tosse: Aspiração de fumaça de uma fogueira de eucalipto e gasolina em baia fechada - irritação local até pneumonia ü Ferimentos : Banha de porco - infecção ü Ectoparasitas (pulgas, carrapatos, bernes, ...) : óleo queimado - dermatites, queimaduras ü Aumento de performance : drogas vasoativas - enfarto ü Miosites ( após trabalho intenso) - sangria, incisão profunda no céu da boca e na base da cauda - infecções nos locais incisados e miosite sem tratamento... ü Desidratação - de um a dois litros de soro (comprados na farmácia) - doses aquém do necessário - óbito ü Castrações : Atos efetuados por pessoas incapacitadas - infecções( funiculites, peritonites, tétano,...), fraturas, stress (causado principalmente pela dor) 27 Além destes existem muito mais "causos", mas estes já ilustram o sofrimento causado por práticos e curiosos aos animais, devendo ser denunciados para por um fim nesta prática. Não sou contra pessoas que mantém uma experiência adquirida com os anos de prática, mas sou radicalmente contra os indivíduos que agem sem escrúpulos, medicando, clinicando e efetuando atos cirúrgicos competentes apenas a Médicos Veterinários. A Medicina Veterinária visa o bem estar do seu animal e para isso as Universidades formam profissionais capacitados através de 5 anos de estudo e vários estágios em diversasdisciplinas para a compreensão total do animal, pense!!! Não há possibilidade de uma pessoa por mais experiência que tenha, ter conhecimentos técnicos para tais atitudes. O proprietário tem todo o direito de discordar de um profissional, procure outro e consulte uma segunda opinião, mas não entre nas conversas do - "deixa comigo, já vi muito disso, te cobro baratinho, se não ficar bom depois agente chama um veterinário....- será pior para o seu animal. 6 – Cólica Equina: Causas, tratamento e prevenção A síndrome cólica é um termo geral usado para descrever qualquer condição que envolva dor na região abdominal do cavalo. A cólica pode resultar de problemas que afetam a área gastrintestinal e órgãos abdominais (p.e. o fígado, baço, ou rins). A cólica envolvendo a área de gastrintestinal pode ser separada em quatro segmentos principais: 1. Estômago; 2. Intestino delgado; 3. Intestino grosso e o 4. Cólon menor / reto. O foco deste tópico será nas causas, tratamentos, e prevenção das cólicas originárias nas áreas de gastrintestinais. Sinais Há uma grande variedade de sinais clínicos facilmente observáveis desde uma dor moderada a uma mais severa, entre eles podemos citar: Olhar incessantemente para os flancos, rolar na baia, sudorese intensa, cavar o chão, deitar e levantar diversas vezes, 28 assumir posições anômalas (como a posição de urinar, sentar sobre os posteriores como “cachorro sentado”, deitar de barriga pra cima), inapetência, apatia, febre, etc. O grau de dor e a resposta do animal aos analgésicos são dois dos critérios que podem determinar a severidade de uma cólica (cuidado nunca apliquem analgésicos sem o consentimento do veterinário!!! Esta ação poderá promover uma mudança do estado clínico e alterar o exame inicial) . Os problemas que afetam o intestino delgado são tipicamente evidentes por uma história mais aguda de dor, com progressos rápidos e muito dolorosos, os problemas envolvendo o cólon maior (exceto uma grandes torções de cólon) ou cólon menor / reto manifestam um histórico prolongado com uma progressão mais lenta. Avaliação clínica O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico, dependendo da severidade dos resultados dos sinais clínicos e exames complementares. Os sinais clínicos que auxiliam na avaliação da severidade da cólica de um cavalo incluem: Avaliação da dor (moderada, severa). Temperatura, Freqüência cardíaca e respiratória, Tempo de preenchimento capilar (TPC), Coloração de membrana mucosa (oral, ocular, vaginal), Auscultação intestinal. Diagnósticos veterinários importantes incluem: Exame retal, Sondagem nasogástrica com a avaliação do refluxo (cor, pH, odor, quantidade), Resposta a tratamento com analgésicos. Procedimentos diagnóstico adicionais incluem: Abdominocentese (coleta de fluido abdominal que cerca o intestinos). Ultrassonografia, 29 Gastroscopia, Radiografias. Podem ser necessários exames de sangue para avaliar o quadro geral do animal (hidratação, infecções, anemia, etc). A decisão do tratamento clínico ou cirúrgico é embasada nos dados clínicos e complementares, avaliados pelo veterinário. Nem sempre esta escolha é clara e fácil, pois existem diversas patologias com sinais clínicos iniciais muito parecidos e que apenas se diferenciam com a evolução do quadro.Um animal apresentando dores incontroláveis e progressivas (mesmo com uso de analgésicos e sedativos), refluxo gástrico constante, distensão ou ectopia intestinal no exame retal, freqüência cardíaca e respiratória alta, abdominocentese anormal, coloração de mucosas indicando congestão e TPC acima de 2’’ pode ser um grande candidato a uma resolução cirúrgica. A importância no tempo ocorrido entre a apresentação destes sinais e a atuação do veterinário poderá ser crucial para a vida de seu animal. Como regra geral, uma síndrome cólica devidamente diagnosticada e iniciada a terapia em um período compreendido entre 1 a 3 horas oferece um bom prognóstico (cirúrgico ou clínico), diferenciando de atendimentos com mais de 6 horas. O atendimento rápido e eficaz visa diminuir as lesões nas mucosas intestinais, manter hígido o animal em caso de resoluções cirúrgicas e adequar um prognóstico bom ao final do tratamento. O erro mais comum em atendimentos é a utilização de diuréticos em síndromes cólicas por práticos ou leigos. As chamadas “Cólicas de Rim” são implicadas erroneamente na grande maioria desta patologia. Cavalos com lesões renais apresentam sinais clínicos distintos de cólicas gastrintestinais, sendo mais severas e muitos raras. A posição álgica (dor) assumida por um grande número de animais é a mesma posição de urinar, ou seja, com os anteriores e posteriores distendidos em forma de cavalete. Esta posição infelizmente faz com que leigos apliquem diuréticos para “facilitar a micção”, pois “o animal esta com dificuldade de urinar”, este quadro além de incorreto torna-se perigoso em casos de cólicas severas. Alguns leitores que já presenciaram tal fato talvez afirmem: - Mas melhorou!!! Após urinar.... Felizmente a grande maioria das síndromes cólicas são distensões gasosas no intestino delgado, ceco ou cólon maior, as quais, apenas caminhando o animal para flatular, já se tem à resolução do caso, porém...., coincide com a aplicação do diurético...., ou pior, de garrafadas orais ou nasais (coca-cola + ervas). 30 Outro erro muito comum é a “lavagem retal” com mangueira, aonde o leigo pensa que retirando <5% de fezes da ampola retal facilitará a expulsão de fezes em 40 metros de intestinais. O dano à mucosa do reto, na grande maioria dos casos é irreversível e gera a eutanásia humanitária. Ø Segmentos: 1. Estômago As causas mais comuns de cólica envolvendo o estômago estão associadas a úlceras e distensões gástricas causadas por erros de manejo alimentar ou estresse. O câncer e os pólipos são causas menos comuns de cólica no estômago. Uma grande quantidade de grãos ou de volumoso (fenado ou não) administrados a cavalos de uma só vez (independente da idade, raça, esporte, etc) podem causar uma distensão gástrica, de ocorrências abruptas, provocando dor severa, aumento da freqüência cardíaca e causando sudorese. A estase do alimento no estômago gera mais fermentação e conseqüentemente mais dilatação. A anatomia do órgão e a fisiologia eqüina não permitem que o animal expulse este conteúdo através da emese, acarretando em casos sem tratamento veterinário, a ruptura deste órgão e morte do animal. As úlceras gástricas são mais comuns em potros e cavalos jovens do que em cavalos mais velhos. Os sintomas mais comuns de úlcera gástrica são o ranger de dentes, salivação excessiva, cólicas intermitentes (freqüentemente depois de comer), emagrecimento e apetite caprichoso. - Tratamento O ajuste no manejo alimentar, ou seja, qualidade X quantidade / 3 a 4 vezes ao dia, já surte um bom efeito profilático e curativo. 31 Quando a distensão gástrica está diagnosticada, o veterinário através da sondagem nasogástrica, faz a retirada do alimento com água e termina com manutenção desta mucosa através de medicamentos protetores. O uso ou não de analgésicos dependerá da avaliação clínica do animal. Este tipo de afecção é responsável por mais de 70% das síndromes cólicas com intervenção veterinária. No caso de gastrites ou úlceras gástricas o tratamento inicia-se no manejo alimentar e como coadjuvante o uso de antiácidos orais (pós ou pastas) ou injetáveis. Quaisquer antiinflamatórioscomo fenilbutazona, diclofenacos, fluxinim meglumine ou ketoprofeno devem ser evitados, pois contribuem na ulceração gástrica. 2. Intestino Delgado O intestino delgado pode ser afetado por numerosas condições que podem causar a síndrome cólica. Será mais fácil se dividirmos estas condições em três grupos: a) Obstrução Causas: • Impactação verminótica por Ascarídeos (lombrigas redondas em cavalos jovens). • Impactação alimentar. • Corpo estranho (enterólitos). • Constrição. • Abscesso Abdominal. •. Tumores b) Estrangulamento (circulação sanguínea intestinal comprometida). Causas: • Torção intestinal. • Encarceramento de intestinos em estruturas abdominais. • hérnia de diafragmática (deslocamento traumático de intestinos no tórax). • hérnia de Inguinal (garanhões ou cavalos recentemente castrado). • hérnia Umbilical (potros e cavalos jovens). • Lipoma (tumor células adiposas em cavalos idosos). 32 c) Ileus (intestino sem motilidade): Causa comum: infecção do intestino delgado (enterites). - Tratamento Tratamento da maioria das obstruções ou estrangulamentos intestinais requer intervenção cirúrgica imediata. Estas cólicas normalmente progridem e a condição de cavalo deteriora rapidamente.Se a intervenção cirúrgica é uma opção, a manutenção da sonda nasogástrica é essencial para a sobrevivência do cavalo. Se não houver a descompressão do estômago este romperá. Uma vez o estômago rompido, a eutanásia é a única opção humanitária. Algumas impactações alimentares do intestino delgado podem ser tratadas clinicamente com laxantes, fluidos intravenosos, e analgésicos. O prognóstico dependerá da severidade da patologia intestinal e o grau de deterioração sistêmica. As infecções intestinais ou enterites demandam um tratamento clínico agressivo, às vezes mais oneroso que um ato cirúrgico e com prognóstico reservado. A infecção intestinal é uma patologia grave e demanda um acompanhamento veterinário hospitalar, pois o animal deve ser avaliado 24hs por dia, pois necessitam de uma descompressão de regular estômago pela alta quantidade de refluxo produzida pelos intestinos (sonda nasogástrica), drogas antiinflamatórias e antibióticoterapia potente, já que alguns tipos bacterianos isolados de cavalos adultos com enterite são Salmonela sp. e Clostridium sp. e uma fluidoterapia constante (de 50 0 150 litros de soluções poliônicas /Dia). Alguns animais chegam a receber transfusões de protoplasma para combater perdas protéicas e evitar a absorção de toxinas nos segmentos de intestino afetados. O prognóstico destes cavalos é variável e são em grande parte dependente na duração do refluxo e da homeostase sistêmica. Estes cavalos são propensos a laminites, então, deve-se dar um tratamento de apoio para evitar ou mesmo amenizar tal processo. 33 - Prevenção Infelizmente, não podemos prevenir crises intestinais, a única causa que pode ser prevenida é impactação verminótica através de vermifugações corretas e eficazes, principalmente em potros e cavalos jovens evitando grandes cargas de vermes mortos. Recomendo uma vermifugação inicial em potros com seis a oito semanas de idade e repetir a cada seis semanas até seis meses de idade. Neste momento, os potros podem ser incluídos no programa de vermifugação da fazenda que tipicamente envolve uma vermifugação a cada oito a doze semanas. Todas as éguas grávidas devem ser vermifugadas um mês antes de parir para diminuir a quantia de parasitas para os quais o potro é exposto. Todos os cavalos novos devem ser vermifugados na chegada ao haras, evitando contaminações nos pastos. 3 - Intestino grosso Desordens do intestino grosso podem ser divididas em quatro categorias: a) Obstrução. Causas: • Impactação alimentar. • Impactação por areia (Sablose). • Deslocamento de cólon (à esquerda ou à direita) • Enterolitiase (pedras) •. Tumores • Corpos Estranhos. b) Estrangulamento Causas: • Torção / vovulos intestinais e • Hérnia de diafragmática. 34 c) Alterações de Motilidade Causas: • Contrações excessivas dos intestinos ou acúmulo de gás. d) Inflamação Causas: • Infecção: A colite geralmente é acompanhada por bactérias : Salmonela ou Clostridium, Erlichia Risticii (febre do Potomac), e parasitas (grandes estrôngilos e pequenos estrôngilos encistados). •Toxinas: Toxemia em colites incluindo o uso excessivo de drogas antiinflamatórias, sobrecarga de grãos e metais pesados. - Tratamento A maioria das causas de colites, como também muitas impactações alimentares e/ou por areia podem ser tratadas clinicamente. O tratamento de colites é bem similar ao tratamento das enterites, havendo algumas variações dependendo do segmento atingido, alterando doses ou freqüências de analgésicos, fluidoterapia e laxativos. Quando a extensão do segmento atingido não permite o trânsito fecal ou há comprometimento circulatório, a resolução cirúrgica é preconizada. - Prevenção As impactações alimentares e as impactações por areia podem ser facilmente evitáveis com um manejo alimentar correto. O animal com um manejo alimentar a base de feno deve ter sempre uma boa fonte de água (20L a 40L) no cocho da baia, a dentição conferida anualmente, evitando desgaste incorretos ou mesmo corrigindo imperfeições para facilitar a mastigação e conseqüentemente a digestão. As impactações por areia (sablose) ocorrem em animais que mantém um pastoreio em terrenos arenosos ou mesmo que consomem feno ou capim picado sobre superfícies arenosas, evite esta prática e a sablose não ocorrerá. 35 Sempre proporcione ao cavalo uma dieta balanceada e acesso livre ao sal mineral para que o animal não adquira vícios redibitórios, como por exemplo, a coprofagia. 4 - Cólon menor / Reto As cólicas relacionadas à porção terminal da área intestinal normalmente são causadas por obstrução, estrangulamento, ou dano a mucosa. As lesões obstrutivas variam impactações alimentares, retenções de mecônio (potros recém-nascidos), tricobezoares (bolas de pelo), enterólitos (pedras), pólipos, câncer, alterações nervosas e prolapso. O estrangulamento do cólon terminal envolve prolapsos severos (reto que protrai o ânus) e raramente lipomas (tumores de células adiposas em cavalos mais velhos). Os danos comuns no reto incluem: Uma ferida retal causada por palpação, cobertura mal executada pelo garanhão ou mesmo uma laceração retrovaginal causada por acidentes no momento do parto. - Tratamento Obstruções do cólon terminal podem ser solucionadas com laxantes, enemas, fluidos intravenosos, e analgésicos. Uma deficiência orgânica nervosa que conduz a impactações periódicas pode ser crônica e necessitar de uma evacuação manual diária do reto com enemas e uma dieta laxativa. As lesões requerem correção cirúrgica. - Prevenção Podemos seguir as mesmas ações já citadas. Em potros recém-nascidos a retenção de mecônio poderá demandar o uso de enemas. O risco de doenças de cunho nervoso afetando o terço distal do cólon menor é diretamente ligado ao aparecimento de Herpes vírus ou Rinopneumonite, ou mesmo Mieloencefalite protozoária (MEPE), sendo a prevenção executada através de vacinações (apenas para herpes vírus). A palpação deve ser executada apenas por veterinários e o parto deve ser assistido para evitar lacerações retrovaginais.36 Conclusão A área gastrintestinal eqüina é propensa a uma grande variedade de desordens diferentes que podem resultar em cólica. Algumas causas de cólica podem ser evitadas com a administração de medidas práticas, tais como: · Promover um ambiente o mais natural possível natural (como um pasto). · Promover uma dieta balanceada. · Promover acesso irrestrito à água limpa. · Manter o cavalo em excelente forma física. · Realizar vermifugações regulares. · Realizar uma manutenção dentária anual. · Realizar transições alimentares graduais. · Não colocar fenos e rações diretamente no chão. · Use só a quantia prescrita de uma droga para controlar dor e inflamações. Infelizmente, há muitas outras causas de cólicas que não podem ser prevenidas, mas podem ser tratadas prosperamente. A chave de tratar uma cólica é descoberta precoce e a intervenção rápida do veterinário. NUNCA UTILIZE O “ACHOMETRO” o custo benefício de um atendimento veterinário pode ser resumido em vida X morte do seu animal, evite os “curandeiros ou práticos”, uma sondagem nasogástrica mal efetuada poderá levar seu animal a óbito. 37 Anatomia 38 4.4 esôfago 4.5 estomago 4.6 intestino delgado 4.7 e 5 colo maior (Intestino grosso) 4.8 colon menor 39 7 - Hemorragias Hemorragia ou sangramento significa a mesma coisa, isto é, sangue que escapa de artérias, veias ou vasos capilares. A hemorragia pode ser definida como a perda do volume sangüíneo circulante. O sangramento pode ser interno ou externo e em ambos os casos é perigoso. Breve revisão do Sistema Circulatório: Coração: órgão muscular oco do tamanho de ½ bola de futebol. Localiza-se na cavidade torácica, por detrás do osso esterno e entre os pulmões. O coração é dividido em dois lados. A parte esquerda recebe sangue oxigenado proveniente dos pulmões e o bombeia para todo o corpo. A parte direita recebe o sangue proveniente do corpo e o bombeia para os pulmões para que volte a oxigenar-se. Cada uma das metades subdivide-se em uma cavidade superior (átrios direito e esquerdo) e uma cavidade inferior (ventrículos direito e esquerdo). O sangue passa dos átrios para os ventrículos através de válvulas que evitam o retorno do sangue (válvulas mitral e tricúspede). O coração funciona como uma verdadeira bomba que aspira e impulsiona o sangue constantemente. Artérias: Transportam o sangue oxigenado e nutrientes. São de diferentes diâmetros, algumas calibrosas (aorta), outras medianas (radial) e, também pequenas (artérias dos cascos). São os vasos que saem do coração. Veias: Recolhem o sangue sem oxigênio e resíduos dos vasos capilares e células do corpo. Não tem tanta pressão como as artérias. Conduzem o sangue venoso de retorno para o coração. Capilares: Cada artéria se divide em novas artérias mais e mais finas, formando finalmente 40 os vasos capilares. Através de suas finíssimas paredes o oxigênio, o dióxido de carbono e outras substâncias são trocadas entre as células do corpo e o sangue. Sangue: Líquido vermelho, viscoso, composto por plasma, células vermelhas (hemácias), células brancas (leucócitos), e plaquetas. O plasma (parte líquida) transporta as células e nutrientes para todos os tecidos. Também conduz os produtos de degradação para os órgãos excretores. As células vermelhas fornecem cor ao sangue e transportam oxigênio. As células brancas atuam na defesa do organismo contra as infecções. As plaquetas são essenciais para a formação de coágulos sangüíneos, necessários para estancar as hemorragias. 7.1 – Tipos de Hemorragias · Arterial: Hemorragia que faz jorrar sangue pulsátil e de cor vermelho vivo. · Venosa: Hemorragia onde o sangue sai lento e contínuo, com cor vermelho escuro. · Capilar: O sangue sai lentamente dos vasos menores, na cor similar ao sangue venoso/arterial. > HEMORRAGIAS EXTERNAS: São aquelas que podem ser vistas a partir de uma ferida aberta. Sinais e Sintomas: · Agitação · Palidez de mucosas · Sudorese intensa · Pele fria e úmida · Pulso acelerado (acima de 60 bpm) · Hipotensão – extremidades frias · Sede · Fraqueza > HEMORRAGIAS INTERNAS: 41 Geralmente não são visíveis, porém podem ser bastante graves, pois podem provocar choque e levar o cavalo à morte. Exemplo: Fratura fechada de um fêmur, laceração de um órgão maciço como o fígado ou baço, etc. Sinais e Sintomas: · Idênticos a hemorragia externa. · O cavalo poderá tossir sangue, sangrar pelo nariz, ouvidos, boca, reto ou órgãos genitais. Ø AS 3 TÉCNICAS DE CONTROLE DE HEMORRAGIAS EXTERNAS: - TÉCNICA DE COMPRESSÃO DIRETA Controle a hemorragia fazendo uma compressão direta sobre a ferida que sangra com sua mão (protegida por luva descartável), ou ainda, com a ajuda de um pano limpo ou gaze esterilizada, para prevenir a infecção. - TÉCNICA DA ELEVAÇÃO Mantenha a região que sangra em uma posição mais elevada que o resto do corpo, pois este procedimento contribuirá para diminuir o fluxo de sangue circulante e, conseqüentemente, o sangramento. - TÉCNICA DA COMPRESSÃO SOBRE OS PONTOS ARTERIAIS Caso a hemorragia for muito intensa e você não conseguir fazer parar a saída do sangue, tente controlar o sangramento pressionando diretamente sobre as artérias principais que nutrem de sangue o local lesionado. Observação: Controle as possíveis hemorragias através das técnicas de compressão direta, elevação e pressão sobre os pontos arteriais. Segundo as mais recentes orientações, devemos ressaltar que o torniquete é uma técnica em abandono e os socorristas devem ser desencorajados ao seu uso. Infelizmente, essa técnica ainda está muito firmemente 42 arraigada a cultura brasileira. No entanto, tal utilização é tão excepcional e seus riscos tamanhos, que o ensino dessa manobra deve ser eliminado. A não utilização da técnica do torniquete pode ser explicada através de uma comparação simples, imaginemos que um jardineiro deseje regar umas flores e para isso utilize uma mangueira de jardim. No momento em que vai molhar as flores, a mangueira por qualquer motivo, se rompe e a água começa a escapar pelo furo e a faltar na ponta da mangueira, impedindo o jardineiro de continuar sua tarefa de molhar as flores. Caso o jardineiro pressione a mangueira antes do furo, a água pára de escapar, mas também não sai pelo bico da torneira na ponta da mangueira. Se o jardineiro pressiona depois do furo, o vazamento acaba aumentando. Então, o jardineiro resolve pressionar diretamente sobre o furo e resolve a situação, pois além de evitar o vazamento, a água volta a sair livremente na ponta da mangueira e ele pode regar as plantas sem problema. É isso aí, agora é só pensar que a mangueira é um vaso sanguíneo, a água é o sangue, o furo é um ferimento e as flores representam uma parte do corpo que necessita do sangue para viver (receber oxigênio, alimentos e eliminar resíduos). O emprego do torniquete, apesar de fazer cessar o sangramento, impede a circulação na parte mais distal da extremidade onde é aplicado e também possibilita o acúmulo de toxinas nessa região, por esse motivo, NÃO deve ser utilizado. Nos casos graves, sugerimos o emprego das três técnicas anteriores (compressão direta,