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Prof. Márcio Vinícius Ferreira de Sousa SANTA TERESA – ES JULHO DE 2018 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO/Campus Santa Teresa 1 – INTRODUÇÃO • Enzimas são proteínas globulares e, como todas proteína, são heteropolímeros de 20 ≠ AA; algumas com grupo prostético (componente não proteico); • São macromoléculas: 5.000 a mais de 1.000.000 dáltons (equivalente a 1/12 massa de um átomo de C); • As extremidades: α-amino e outra α-carboxila; • Com exceção da Prolina , os AA apresentam um átomo de C ligado átomos (Carboxila + Amino + H); ESTRUTURA DOS AA Todos os 20 AA encontrados nas proteínas possuem um grupo carboxílico e um grupo amino ligados ao mesmo carbono (C-). A ≠ entre um AA e outro está na cadeia lateral, também chamada de radical (R). As propriedade de cada um dos 20 AA depende de sua cadeia lateral. Obs: Carga: Charged e Sem carga: Uncharged Estrutura 1ª: ligações peptídicas; Estrutura 2ª: cadeia peptídica organizada em α-hélice e estabilizada por pontes de H entre átomos de N e O; Estrutura 3ª: conformação tridimensional (cadeia de polipeptídeo) em solução, interações hidrofóbicas, pontes de H e ligações salinas; Estrutura 4ª: organização presentes nas proteínas compostas por mais de uma cadeia polipeptídica e descreve quantos e quais monômeros compõem a molécula. Ação catalítica: Para que seja exercida, os reagentes (chamados de substratos) devem ligar-se à molécula da enzima em uma região específica (sítio ativo), é esta forma definida que confere especificidade à catálise enzimática , isto é, uma molécula deve ter a forma adequada para acomodar-se no sítio ativo e os grupos químicos capazes de estabelecer ligações com os grupos R ali presentes. Influência do meio sobre a atividade enzimática: a estrutura e forma do sítio ativo são uma decorrência da estrutura tridimensional da enzima e podem ser afetadas pelo pH e temperatura que provocam mudança na sua conformação. pH: maioria da enzimas apresentam um valor de pH para qual sua atividade é máxima, e a velocidade de reação diminui à medida que o pH se afasta desse valor ótimo; Temperatura: cinética da reação entendida em 2 fases: a) temperatura aumento da velocidade de reação; b) temperaturas levam a desnaturação da enzima, perda de sua estrutura catalítica. 2 – CLASSIFICAÇAO E NOMENCLATURA De acordo com EC (Enzyme Comission), as enzimas são divididas em 6 grupos, de acordo com as reações que catalizam. 3 – ENZIMAS NA TECNOLOGIA DE ALIMENTOS A obtensão de enzimas para as diversas finalidades poderá ser feita a partir de MO’s, vegetais superiores ou animais. Muitas enzimas são indesejáveis como a Polifenoloxidase (escurecimento) e são inativadas pelo calor (tratamento: Blanching = Branqueamento) e desejáveis como a Pectinesterase (remoção de grupos metoxílicos da pectina) + Poligalacturonase (ligações glicosídicas da pectina), utilizado para facilitar a filtração em sucos e proporciona uma maior extração da matéria corante e dos compostos químicos em geral (sucos e vinho). A atuação enzimática na elaboração de alimentos representa uma das maiores conquistas da indústria de produtos alimentícios, oferecendo as seguintes vantagens: Aumento da qualidade e estabilidade de produtos alimentícios; Obtenção de produtos derivados e sintéticos; Estabelece e exalta o sabor de alimentos; Catalisa reações sem produzir efeitos secundários; Constituinte natural, desprovido de toxicidade; Exerce atividade em temperaturas e pH moderados; Exerce o controle de velocidade das reações, com adequado pH,temperatura e número de enzimas; Pode ser inativada, quando a reação atinge o ponto requerido; Permite maior velocidade dos processos de extração. 3.1 Amilases Enzimas que atuam (hidrólise) ligações α-1,4 (amilose); α-1,4 e α-1,6 (amilopectina) dos polímeros (amido e glicogênio), transformando-os em moléculas com menor peso molecular. Entre as mais importantes estão: α e β-amilases, ocorrendo uma diminuição da viscosidade. Frequentemente são utilizados em panificação; cervejaria; fermentação alcoólica. α-amilase ataca ligações ao acaso, β-amilase hidrolisa o amido e a glicoamilase utilizada para produzir xaropes de alto teor de frutose. Produzem a hidrólise da sacarose, transformando-a em glicose e frutose (açúcares redutores). São constituídas de dois tipos de enzimas: β-frutofuranosidase e α- glicosidase, que hidrolisam as ligações glicosídicas da sacarose, em posições distintas. A α-glicosidase hidrolisa a união entre o oxigênio e o carbono 1 da glicose e a β-frutofuranosidase a ligação entre o carbono 2 do extremo da frutose. 3.2 Invertases ou Sacarases As principais ações e utilizações das invertases são: Fabricação de açúcar invertido; Elaboração de biscoitos, caramelos e chocolates; Produção de mel de sacarose Obtenção de xarope de sacarose (evitando a caramelização); Recheio de bombons; Elaboração de produtos de confeitaria; Impedir a cristalização de açúcar em sorvetes; Produção de sobremesas geladas; Fabricação de licores. 3.3 Lactase Provocam a hidrólise de lactose, transformando-a em glicose e galactose, que são açúcares com maior valor edulcorante e mais rápida assimilação. Suas principais ações são: Elaboração de produtos lácteos; Produção de cremes, visando a não formação de cristais de lactose; Hidrólise da lactose do soro, resultando açúcares de maior valor edulcorante e de solubilidade. 3.4 Pectinases Originadas principalmente de microrganismos e substâncias vegetais, as enzimas pécticas podem ser divididas em três tipos principais de enzimas: pectinesterase (PE), poligalacturonase (PG) e pectina- transeliminase. Estas têm grande utilização industrial nos processos de filtração e clarificação de sucos de frutas, proporciona uma maior extração da matéria corante e dos compostos químicos em geral (sucos e vinho) e na produção de pectinas de baixa metoxilação. Fonte: LOURENS e PELLERIN (2000) Ficha Técnica da Enzima: 3.5 Proteases Degrada proteínas, produzindo polipeptídeos, peptídeos e aminoácidos,desdobrando ainda amidas e ésteres de aminoácidos. As proteases são de origem vegetal, animal e microbiana. As proteases vegetais são: papaína (extraída do mamoeiro); bromelina (extraída de plantas da família Bromeliaceae) e a ficina (extraída da seiva das figueiras). As proteases animais são: pepsina, tripsina e coalho (renina animal ou quimosina). As proteases microbiana têm ação similar à da quimosina. Principais ações e utilizações: Amaciamento de carnes de segunda; Maturação do glúten; Melhora no sabor, volume, textura e forma dos pães; Maior expansão e elasticidade da massa; Menor período de amassamento da massa; Maior capacidade de conservação; Clareamento da cerveja e estabilidade da espuma. 3.6 Glucose-oxidase Catalisa a oxidação da glicose em ácido glicônico com a formação de peróxido de hidrogênio (água oxigenada). A origem da glicose oxidase é microbiana, envolvendo principalmente fungos como Aspergillus niger. Comumente, a glicose oxidase atua junto a catalase sendo o produto final da reação ácido glicônico, água e oxigênio. Comercialmente, esta enzima é utilizada na remoção de traços de glicose e de oxigênio, pois a remoção da glicose é desejável, como no caso da albumina (ovo) e ovo desidratado. A presença de oxigênio em quantidades pequenas poderá ocasionar modificações de cor e sabor. 3.7 Catalase e Peroxidase São enzimas que catalisamreações do tipo: Catalase: 2 H2O2 2 H2O + O2 Peroxidase: AH + H2O2 AOH + H2O Em que AH pode ser um fenol, ácido ascórbico. Esta enzima é utilizada como indicação de blanching em muitos produtos, principalmente vegetais a serem congelados. 3.8 Polifenoloxidases (PPOs) São enzimas responsáveis pelo escurecimento enzimático em muitos produtos por exposição de sua estrutura ao ar ambiente. A ação desta enzima em várias frutas e hortaliças in natura acarreta perdas econômicas consideráveis, além da diminuição da qualidade nutritiva, alterações de sabor e aparência. Reações de escurecimento pode ocorrer no tecido vegetal intacto frutas e vegetais, como, por exemplo, em situações de inibição da respiração durante o armazenamento em atmosfera controlada, uso de embalagem imprópria, deficiência de ácido ascórbico no tecido vegetal, armazenamento a frio e radiação ionizante. O escurecimento é iniciado pela oxidação enzimática de compostos fenólicos pelas PPOs. O produto inicial da oxidação é a Quinona, que se condensa rapidamente, formando pigmentos escuros insolúveis (Melanina), ou reage não enzimaticamente com outros fenólicos, AA e proteínas, formando também Melaninas. Embora indesejável na maioria dos casos, por causar alteração na cor, perda de nutrientes e formação de sabor indesejável, o escurecimento em chá, café cacau e ameixa seca é desejável. 3.8.1 Métodos de controle do escurecimento enzimático: De modo geral, o controle do escurecimento enzimático é limitado a remoção de oxigênio ou inibição da enzima pelo emprego da temperatura ou aplicação de agentes químicos. Como por exemplos: i) emprego da temperatura (frio, calor); ii) agentes químicos (sulfitos, ácidos e cloreto de sódio); e iii) remoção de oxigênio. i) Emprego de temperatura (frio): A aplicação de temperatura de refrigeração (1 a 8 °C) e congelamento (-18 ~ -20 °C), diminuem a intensidade da atividade enzimática, ou seja, quanto mais baixa for a temperatura, mais lentamente ocorre a reação enzimática. É a aplicação de calor por um determinado tempo (blanching: 70 a 100 °C, tempo de 1 a 5 minutos) para inativação da enzima (desnaturação proteica), a utilização do calor apresenta algumas desvantagens: alterações indesejáveis nas propriedades organolépticas, químicas e físicas dos alimentos. i) Emprego de temperatura (calor): O dióxido de enxofre ou sulfito e o mas empregado, agindo diretamente na enzima ou com os intermediários formados durante a ação enzimática. Importante saber a concentração exata do sulfito afim de evitar o sabor desagradável. ii) Emprego de agente químico (sulfito): Ao ácidos utilizados normalmente no processamento de alimentos são: cítrico, fosfórico, málico e ascórbico. Os ácidos tem a propriedade de baixar o pH, no caso da PPO’s (pH entre 6,0 e 7,0; faixa ótima de atuação) pH abaixo de 3,0 causa sua inibição. ii) Emprego de agente químico (ácidos): A presença de oxigênio é um dos fatores essenciais para que ocorra o escurecimento enzimático em alimentos. Pode- se utilizar o fechamento hermético (vácuo/atmosfera controlada) dos recipientes, ou a utilização de atmosfera modificada o que resultará na paralisação do escurecimento enzimático. iii) Remoção de oxigênio: Uma na [O2] ou na [CO2] na atmosfera de armazenagem que circunda um alimento reduz a taxa de respiração de frutas e hortaliças frescas, além de inibir o crescimento microbiano e de insetos. Na armazenagem ou embalagem na atmosfera controlada (AC): composição do gás ao redor de alimento que respiram é monitorada e constantemente controlada; e na armazenagem ou embalagem em atmosfera modificada: a utilização de gases para repor o ar ao redor de alimentos que não respiram sem mais controle após a armazenagem ou embalagem (FELLOWS, 2006). Segundo GAVA et al. (2009) na atmosfera controlada, a câmara de estocagem deve ser isolada do meio externo, pois a atividade respiratória dos alimentos in natura provoca a alteração da atmosfera, produzindo CO2 e consumindo O2. Na atmosfera modificada há a introdução de uma nova atmosfera, diferente da composição do ar, em uma embalagem alimentícia. Segundo GAVA et al. (2009) na atmosfera controlada, a câmara de estocagem deve ser isolada do meio externo, pois a atividade respiratória dos alimentos in natura provoca a alteração da atmosfera, produzindo CO2 e consumindo O2. Na atmosfera modificada há a introdução de uma nova atmosfera, diferente da composição do ar, em uma embalagem alimentícia. Na inibição de bolores e destruição de insetos os grãos podem ser armazenados em [baixas de O2] = 0% e em [altas de CO2] = 205 ou mais (FELLOWS, 2006); Em frutas precisam de uma > [ O2 ] para evitar a respiração anaeróbica que ocasiona sabores alcoólicos. Exemplos: 3.9 Lipoxidase São importantes por gerarem produtos rançosos e destruírem ácidos graxos . É utilizada em panificação para proteger a farinha, já que os hidroperóxidos formados podem oxidar pigmentos (carotenoides e clorofilas) formando produtos incolores. TECNOLOGIA ENZIMÁTICA (ZIMOTECNIA) Produção de enzima PRODUÇÃO DE ENZIMAS POR MICRORGANISMOS São secretadas pela célula no meio extracelular (produção extracelular: fermentação por centrifugação, filtração, precipitação fracionada, separação cromatográfica, eletroforese, separação por membrana, liofilização, e combinação destes métodos) ou retidas dentro da célula (enzimas intracelulares: rompimento das células em um homogeinizador ou moinho). A produção de enzimas extracelulares ocorre tanto na fase log quanto na fase estacionária, ao passo que as enzimas intracelulares são produzidas durante a fase log, sendo liberadas para o meio quando a célula (parede) sofre lise na fase estacionária ou declínio/morte. As necessidades de produção de enzimas comerciais a partir de MO’s são as seguintes: Os MO’s devem crescer bem em substratos baratos; Os substratos devem estar disponíveis facilmente em quantidades adequadas, com uma qualidade uniforme; Os MO’s devem produzir um alto rendimento constante em curto tempo; Os métodos para a recuperação da enzima devem ser simples e baratos; A preparação da enzima deve ser estável. As enzimas são produzidas em: 1) Culturas de superfície em substratos sólidas: casca de arroz, cascas de frutas, farelo de soja ou farinha de trigo; 2) Culturas de submersas utilizando substratos líquidos: melados, goma hidrolisada ou licor de infusão de milho. Ás vezes minerais específicos devem ser adicionados aos substratos para maximizar a produção enzimática; Culturas submersas possuem custo de manipulação < e < risco de contaminação e + adequado a automação; O sucesso da produção comercial enzimática depende da maximização da atividade do microrganismo e da minimização dos custos (substrato e da incubação), bem como dos procedimentos de recuperação. MODELO DE REATOR PARA REAÇÕES QUÍMICA (FRMENTADORES) REFERÊNCIAS ARAÚJO, J. M. A. Química de alimentos: teoria e prática. Ed. UFV. 5. ed. atual. Ampl. Viçosa, MG. 2012. 601 p. FELLOWS, P. J. Tecnologia do processamento de alimentos: princípios e aplicações. Artmed. 2006. 602 p. GAVA, A. J.; DA SILVA, C. A. B.; GAVA-FRIAS, J. R. Tecnologia de alimentos: princípios e aplicações. Nobel. 2009. 511 p. TORRES, B. B. Elementos de enzimologia. In: BORZANI, W.; SCHMIDELL, W.; LIMA, U. de A.; AQUARONE, E. Biotecnologia industrial (vol. 1). Editora Edgard Blücher LTDA. 2001. 254 p.Muito obrigado..