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Mandado de Segurança contra Registro de Imóvel

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ALVARES SÁ & BRETAS PORTO ADVOGADOS
EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE/MG
DARLAN VILAÇA DE MOURA, brasileiro, casado, empresário, portador da cédula de identidade nº MG 5-761.710, inscrito no CPF sob o nº 608.670.751-91, domiciliado na Avenida Deputado Cristovão Chiaradia, nº 115, apto. 102, Bairro Buritis, nesta Capital, por intermédio de seus procuradores (doc. 1), ambos com escritório na Avenida Afonso Pena, nº 3924, sala 904, bairro Cruzeiro, nesta Capital, onde receberão intimações, vem, respeitosamente, perante a Vossa Excelência, impetrar o presente
 MANDADO DE SEGURANÇA C/C PEDIDO LIMINAR
em face de ato ilegal e abusivo praticado por Fernando Pereira do Nascimento, oficial registrador do Cartório do 1º Ofício de Registro de Imóveis da Comarca de Belo Horizonte/MG, com sede na Rua Rio de Janeiro, nº 1.611, Bairro Lourdes, CEP: 30160-042, pelos motivos expostos a seguir:
I. DO CABIMENTO DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL
Conforme o artigo 5º, inciso LXIX, da Constituição Federal de 1988, conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por “habeas-corpus” ou “habeas-data”, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. 
Nesse mesmo sentido é a redação do artigo 1º da Lei 12.096 de 2009 ao assegurar que conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça. 
Majoritariamente, a doutrina e jurisprudência tem entendido que os serviços notariais e de registro são hipóteses de serviço público. Confira-se, a respeito desse instituto, a lição de dois renomados administrativistas e o que preceitua o texto constitucional.
Para Hely Lopes Meirelles, serviço público é “todo aquele prestado pela Administração ou por seus delegados, sob normas e controles estatais, para satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da coletividade ou simples conveniência do Estado”.
Celso Antônio Bandeira de Melo, por sua vez, define como sendo “toda atividade de oferecimento de utilidade ou comodidade material destinada à satisfação da coletividade em geral, mas fruível singularmente pelos administrados, que o Estado assume como pertinente a seus deveres e presta por si mesmo ou por quem lhe faça as vezes, sob um regime de Direito Público, portanto, consagrador de prerrogativas de supremacia e de restrições especiais – instituído em favor dos interesses definidos como públicos no sistema normativo”
Tem-se por certo que a atividade notarial e de registro constitui, em decorrência de sua própria natureza, função essencialmente estatal e de índole administrativa. Trata-se, pois, de hipótese de serviço público desempenhado por profissionais que, embora não ocupem cargo público, dado o caráter híbrido de sua atividade, constituem espécie de agentes particulares colaboradores.
Registre-se que, para fins de Mandado de Segurança, equiparam-se às autoridades os representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições.
II. DOS FATOS
No dia 07 (sete) de novembro de 2011, o Sr.º WILSON DE MOURA FERREIRA, pai do Impetrante, firmou com Habitare Construtora e Incorporadora S/A, compromisso de compra e venda do apartamento 602 e respectiva fração ideal do terreno, situado na Rua Tito Guimarães, nº 128, Bairro Buritis, Edifício Tarumã.
O referido imóvel constava como unidade autônoma da incorporação nº R1-105.569, dos lotes matriculados sob os nºs. 43.650, 43.651, 73.767 e 73.768 Livro nº 2 Registro Geral do 1º Cartório de Registro de Imóveis de Belo Horizonte., conforme consta do doc em anexo.
Em 31 (trinta e um) de agosto de 2011, o Sr.º WILSON DE MOURA FERREIRA firmou contrato de cessão e transferência de direitos e obrigações com o Autor, lhe transferindo, desta maneira, todos os direitos e obrigações decorrentes da promessa de compra e venda.
De acordo com estipulação contratual, o imóvel deveria ter sido entregue no dia 30 de dezembro de 2011. No entanto, em razão do início da crise financeira que assolou a construtora, No entanto, o imóvel fora entregue após quase dois anos da data prevista, isto é, no dia 20 (vinte) de agosto de 2013.
Ao receber o imóvel, o Impetrante requereu a matrícula atualizada da incorporação e, para sua surpresa, constatou que em seu imóvel, adquirido e integralmente pago, recai uma hipoteca em favor do Banco do Brasil como garantia de um empréstimo de 6.000.000,00 (seis milhões reais). Assim, por essa razão, o Impetrante ingressou com competente ação para desconstituição do gravame instituído, conforme doc. em anexo.
Não obstante a entrega, a construtora, em razão do agravamento de sua crise financeira, somente foi capaz de desmembrar a matrícula da incorporação e individualizar o registro do imóvel adquirido pelo Impetrante no dia 09 de dezembro de 2014.
Tão logo fora entregue a documentação hábil para lavratura da escritura definitiva de compra e venda, o Impetrante deu entrada com pedido para realização do ato notarial perante o Cartório do 7º Ofício de Notas, conforme doc. 03.
Entretanto, após dar entrada ao registro da escritura definitva de compra e venda, o oficial registrador do 1º Ofício de Registro de Imóvel da Comarca de Belo Horizonte/MG, negou-se à realização do ato, suscitando a necessidade de cumprimento de duas exigências, a saber:
1. Obrigatoriedade do Pacto Antenupcial;
2. Autorização para Cancelamento de Hipoteca. 
Quanto a primeira exigência suscitada, cumpre nos informar que a mesma já fora devidamente sanada. 
Entretanto, a segunda exigência não pode ser cumprida pelo Impetrante e as medidas judiciais já foram tomadas com intuito de obter provimento judicial determinando o cancelamento do gravame, tampouco pode tal exigência obstar a realização do ato almejado, como demonstraremos ao longo desta inicial.
O Impetrante, que já sofreu diversos prejuízos decorrentes de uma crise financeira que sequer lhe diz respeito, quando finalmente pensou que poderia transferir o imóvel, foi pego de surpresa, ante a negativa ilegal e abusiva por parte do 1º Ofício de Registro de Imóveis Notas.
Portanto, diante da temeridade e da seriedade da situação, o Impetrante decidiu buscar, através do Poder Judiciário, a concretude dos seus direitos.
III. DO DIREITO
III.1 DO DIREITO LÍQUIDO E CERTO
O direito líquido e certo é requisito de ordem processual atinente à existência de prova inequívoca dos fatos em que se baseia a pretensão do Impetrante.
No entendimento de Carlos Alberto de Menezes, o pressuposto processual de certeza e liquidez do direito estará atendido quando os fatos que sustentam o cabimento do writ forem incontroversos e aptos a demonstrar o alegado direito, vejamos:
o que se exige para o cabimento do writ é que o direito público subjetivo invocado não deixe margem a qualquer dúvida razoável, ou seja, que possa ser identificado de plano, sem necessidade de investigação mais aprofundada. (Manual do Mandado de Segurança, 4ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p.69)
A exigência da Autoridade Coatora para realizar o registro da escritura definitiva de compra e venda não encontra qualquer amparo em nosso ordenamento pátrio, conforme será cabalmente demonstrado pelos fatos e fundamentos de direito trazidos à baila nos itens a seguir.
II.1.2. DO ART. 1475 DO CÓDIGO CIVIL - POSSIBILIDADE DE TRANSFERÊNCIA DO IMÓVEL HIPOTECADO 
O fato de o imóvel encontrar-se hipotecado não pode ser óbice à sua alienação. Quer-se dizer que não há qualquerilegalidade ou irregularidade na transferência de um imóvel hipotecado. Tal entendimento se deve em virtude da prescrição do art. 1.475 do CC/02, que assim dispõe:
Art. 1.475. É nula a cláusula que proíbe ao proprietário alienar imóvel hipotecado.
Assim, percebe-se que não é defesa em lei a alienação de imóvel hipotecado. Isso porque quando o imóvel hipotecado é alienado, o gravame não se desvincula do bem, de modo que tal garantia o acompanha em sua transferência, qualquer que seja seu adquirente.
Entretanto, o ordenamento jurídico contempla hipóteses específicas em que a alienação do imóvel hipotecado exigem a anuência do credor nos seguintes casos: hipotecas constituídas em Cédulas de Crédito, bem como hipotecas constituídas nos termos do Sistema Financeiro da Habitação – SFH.
Portanto, conclui-se que a anuência do credor hipotecário somente se faz necessária em hipotecas constituídas nos termos do SFH ou em hipotecas vinculadas às Cédulas de Crédito Industrial, Comercial, à Exportação ou Rural. Não há, porém, necessidade de anuência do credor na transmissão de imóvel com hipoteca convencional do Código Civil, como ocorre no caso em debate.
Ademais, o Código Civil também não condiciona a alienação do bem hipotecado à anuência do credor, portanto, não pode o Oficial Registrador negar-se ao registro da escritura e, tampouco exigir o cancelamento da hipoteca para tanto.
Neste sentido, é jurisprudência:
APELAÇÃO CÍVEL – SUSCITAÇÃO DE DÚVIDA – ALIENAÇÃO – IMÓVEL GRAVADO COM HIPOTECA CEDULAR – NECESSIDADE DE ANUÊNCIA DO CREDOR HIPOTECÁRIO PARA EFEITOS DE REGISTRO – ART. 51 DO DECRETO-LEI N. 413/69 – ART. 1.475 DO CÓDIGO CIVIL – APLICABILIDADE – SENTENÇA REFORMADA – RECURSO PROVIDO.
A ausência de aquiescência do credor hipotecário em venda de imóvel gravado de hipoteca cedular não inviabiliza o registro de escritura pública concernente à transferência do bem, seja porque o artigo 51 do Decreto-Lei n. 413/69 é dirigido ao ato negocial de compra e venda, e não ao ato notarial ou registral, seja porque o credor hipotecário pode exercer o direito de seqüela, ainda que alienado o bem, por tratar-se a garantia de direito real e não pessoal.
Se nem mesmo a venda de imóvel garantido por hipoteca é proibida (CC, art. 1.475, caput), com muito mais razão não se justifica a recusa dos registros de sua venda. (TJMS, Apelação Cível n. 2007.023511-6/0000-00, Relator: Des. João Maria Lós)
HIPOTECA – ALIENAÇÃO DO BEM – POSSIBILIDADE – 
O caput do artigo oitocentos e doze do Código Civil assegura que "o dono do imóvel hipotecado pode constituir sobre ele, mediante novo título, outra hipoteca, em favor do mesmo ou de outro credor" e o do artigo oitocentos e quinze do Código Civil esclarece que "ao adquirente do imóvel hipotecado cabe igualmente o direito de remi-lo"; por conseguinte, tem-se que o devedor não fica privado do seu "jus disponendi" e o título hipotecário não obsta a alienação do bem dado em garantia. Recurso desprovido. (TST,– ROMS 99578/1993 – DC – Rel. Min. Moacyr Roberto Tesch Auersvald – DJU 25.09.1998 – p. 00210)
II.2.2. DA INEFICÁCIA DA HIPOTECA INSTITUÍDA - SÚMULA 308/STJ
É muito comum encontrar na promessa de compra e venda celebrada por construtoras e incorporadoras, a cláusula que autoriza ao promissário comprador oferecer a unidade autônoma e fração ideal do terreno negociadas em garantia hipotecária para levantamento de empréstimo destinado ao financiamento da construção.
Para socorrer os consumidores de boa-fé e coibir os abusos praticadados por empresas do setor de construção civil, os tribunais superiores firmaram o entendimento que não pode a incorporadora hipotecar a unidade já compromissada à venda, nem mesmo se isso estiver expressamente autorizado no contrato com o comprador. 
Tal entendimento restou pacificado com a edição da súmula 308, do STJ, segundo a qual “a hipoteca firmada entre construtora e agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.” 
À época da edição da citada súmula, o Brasil estava – e com muita razão – sensibilizado com os prejuízos sofridos por milhares ou milhões de mutuários que pagaram o preço de imóveis em construção, a serem construídos ou mesmo prontos em sede incorporação imobiliária, mas não obtiveram ou perderam a propriedade do imóvel ou os direitos a essa aquisição em razão da existência de uma hipoteca.
A hipoteca decorre de um contrato de financiamento celebrado pela incorporadora com uma instituição financeira. O fundamento jurídico dessa hipoteca é ou a inexistência de um compromisso de compra e venda referente ao imóvel em construção a ser dado em hipoteca ou, quando existente o compromisso, a previsão contratual da possibilidade da instituição da hipoteca.
Quando a incorporadora pagava corretamente a instituição financeira, procedia-se à liberação do gravame e às vezes o comprador do imóvel nem mesmo ficava sabendo que seu imóvel esteve hipotecado. Porém, quando a incorporadora não pagava o financiamento, o imóvel – às vezes pronto e já de propriedade do comprador - era utilizado para quitar a dívida da incorporadora com a instituição financeira.
O Superior Tribunal de Justiça entendeu que a hipoteca realizada nessas condições não seria válida, sob fundamento de que “regras gerais sobre a hipoteca não se aplicam no caso de edificações financiadas por agentes imobiliários integrantes do sistema financeiro da habitação, porquanto estes sabem que as unidades a serem construídas serão alienadas a terceiros, que responderão apenas pela dívida que assumiram com o seu negócio, e não pela eventual inadimplência da construtora
E, seguindo o entendimento do STJ, nosso Egrégio Tribunal de Justiça tem assim decidido, senão vejamos:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA DE OUTORGA DE ESCRITURA DE IMÓVEL - LEGITIMIDADE PASSIVA DO TITULAR DE ÔNUS HIPOTECÁRIO INCIDENTE SOBRE O IMÓVEL - CANCELAMENTO DA HIPOTECA - SENTENÇA EXTRA PETITA - INOCORRÊNCIA - GRAVAME PACTUADO ENTRE A CONSTRUTORA E BANCO FINANCIADOR- TERCEIRO ADQUIRENTE DO IMÓVEL - QUITAÇÃO INTEGRAL DA DÍVIDA PARA COM A CONSTRUTORA- ADJUDICAÇÃO DEVIDA - SÚMULA 308 DO STJ.
- É parte legítima, para figurar no pólo passivo de ação de outorga de escritura, proposta pelo adquirente de imóvel, o agente financiador, titular de hipoteca pactuada com a construtora do imóvel.
- Não é extra petita a sentença que, em ação de outorga de escritura, determina o cancelamento de hipoteca, quando o autor emenda da inicial, pedindo a inclusão na lide do credor hipotecário, com o fito de se ter por cancelado o ônus real.
- A hipoteca pactuada entre a construtora e o agente financeiro não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel. Inteligência da súmula 308 do STJ.
- Preliminares rejeitadas. Recurso a que se nega provimento.” (TJMG, Apelação Cível nº 1.0024.02.74053-5/001, Rel (a). Des (a). Sandra Fonseca) (grifo nosso).
EMBARGOS DE TERCEIRO - CONTRATO DE COMPRA E VENDA - BEM IMÓVEL - EXECUÇÃO HIPOTECÁRIA - PENHORA - LEGITIMIDADE ATIVA DO COMPRADOR - DESCONSTITUIÇÃO DA CONSTRIÇÃO - CABIMENTO - INEFICÁCIA DA HIPOTECA - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - CAUSALIDADE - DECISÃO MANTIDA. 
O promitente comprador e possuidor de bem imóvel, que não é parte no processo de execução, tem legitimidade para o manejo de embargos de terceiro, com o propósito de livrar o bem dos efeitos da constrição judicial. A dação de bem imóvel em hipoteca, por construtora em favor de instituição financeira, mesmo que anteriormente à assinatura do compromisso particular de compra e venda, não produz efeito contra o comprador de boa-fé, daí ser possível a este obter a desconstituição da penhora e o cancelamento da hipoteca. Em embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida deve arcar com os ônus de sucumbência (Súmula 303 do STJ).” (TJMG, Apelação cível nº 1.0024.04.455813-8/001, Rel. Des. Guilherme Luciano Baeta Nunes) (grifo nosso).
ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA E CANCELAMENTO DE HIPOTECA - CREDOR HIPOTECÁRIO- CONSTRUTORA - LEGITIMIDADE PASSIVA - COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA - IMÓVEL QUITADO - CONTRATO DE FINANCIAMENTO DA CONSTRUÇÃO COM GARANTIA HIPOTECÁRIA - INEFICÁCIA DO GRAVAME PERANTE TERCEIRO. No ajuizamento de ação visando a obtenção de escritura de imóvel livre de quaisquer ônus, o credor hipotecário é litisconsorte necessário, devendo figurar no pólo passivo juntamente com a construtora.
Havendo contrato de promessa de compra e venda de bem imóvel assinado e com preço totalmente pago, mesmo que celebrado depois do contrato de financiamento para a construção com recursos do SFH entre a incorporadora e o banco, mediante garantia hipotecária, revela-se ineficaz tal gravame perante o terceiro adquirente.” (TJMG, Apelação cível nº1.0702.01.008574-5/001, Rel. Des. D. Viçoso Rodrigues) (grifo nosso)
AÇÃO DE PROCEDIMENTO ORDINÁRIO - CANCELAMENTO DE HIPOTECA - CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA INTEGRALMENTE QUITADO - HIPOTECA INSTITUÍDA PELA CONSTRUTORA EM FAVOR DE AGENTE FINANCEIRO - CANCELAMENTO DO GRAVAME - POSSIBILIDADE - SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA - INOCORRÊNCIA - VERBA HONORÁRIA - CRITÉRIO DE FIXAÇÃO.
- Havendo contrato de promessa de compra e venda com o respectivo preço integralmente quitado, não pode o correspondente bem imóvel ser gravado por hipoteca constituída em favor de instituição financeira e, se esta vem a ocorrer, sem a ciência ou assentimento do compromissário comprador, tal ônus não alcança o bem adquirido e pago pelo compromissário comprador, cumprindo, em tal hipótese, à construtora providenciar a sua imediata liberação junto ao credor hipotecário, sob pena de suprimento judicial.
- Verificando que somente o réu restou vencido na ação, não há que se falar em sucumbência recíproca, sendo ele o único sucumbente. Os honorários advocatícios devem ser fixados de forma equânime e equilibrada, de modo a remunerar condignamente o profissional do direito, sem, contudo, impor exagerado sacrifício à parte vencida.” (TJMG, Apelação Cível nº 1.0024.03.006076-8/001, Rel. Des. Antînio de Pádua) (grifo nosso)
ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA E CANCELAMENTO DE HIPOTECA - CREDOR HIPOTECÁRIO - CONSTRUTORA - LEGITIMIDADE PASSIVA - COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA - IMÓVEL QUITADO - CONTRATO DE FINANCIAMENTO DA CONSTRUÇÃO COM GARANTIA HIPOTECÁRIA - CANCELAMENTO DO GRAVAME - POSSIBILIDADE.
No ajuizamento de ação visando a obtenção de escritura de imóvel livre de quaisquer ônus, o credor hipotecário é litisconsorte necessário, devendo figurar no pólo passivo juntamente com a construtora, porquanto inócua revelar-se-ia a imposição de referida obrigação unicamente contra a incorporadora, a qual, por si só, não tem capacidade de desconstituir a hipoteca correspondente à unidade habitacional do autor.
Havendo contrato de promessa de compra e venda de bem imóvel assinado e com preço totalmente pago, mesmo que celebrado depois do contrato de financiamento para a construção com recursos do SFH entre a incorporadora e o Banco, mediante garantia hipotecária, cuja existência não foi noticiada ao promitente comprador, revela-se ineficaz tal gravame perante o mesmo, face ao desaparecimento da obrigação principal de pagar pelo bem. (TJMG, Apelação cível nº 2.000.00.46303-8/000, Rel. Des. D. Viçoso Rodrigues) (grifo nosso)
Como se vê, tal súmula é expressa no sentido de que não apenas a hipoteca firmada após a celebração do compromisso de compra e venda não é válida contra o compromissário comprador, mas também a hipoteca pré-existente à celebração não seria eficaz.
Ressaltamos que a hipoteca instituída no imóvel adquirido e integralmente quitado pelo Impetrante fora firmada após a celebração da promessa de compra e venda, no dia 29 (vinte e nove) de agosto de 2011, conforme atesta matrícula da incorporação em anexo. 
Assim sendo, ante a ineficácia do gravame instituído no imóvel do Impetrante, não subiste qualquer razão à exigência do cancelamento da hipoteca para a realização do registro do título público de compra e venda.
IV. DA NECESSIDADE DA CONCESSÃO DE LIMINAR
Caracterizada está a abusividade e ilegalidade do ato contestado, pelos elementos fáticos e jurídicos trazidos aos autos, restando demonstrado a VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES em favor do Impetrante.
Como explanado nos itens acima, o Código Civil, em seu art. 1745, não impede a alienação de imóvel gravado de hipoteca, portanto, tampouco cabe ao Oficial Registrador obstar ta transferência. 
Esta situação, por si só, é suficiente para a autorizar a concessão de antecipação de tutela pleiteada, em razão da presenças dos requisitos autorizadores previstos no art. 273 do CPC.
Ademais, a hipoteca instituída em imóvel compromissado a venda, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante o adquirente de boa-fé, conforme súmula 308 do STJ. 
O PERIGO NA DEMORA também resta amplamente configurado, haja vista ser público e notório que a Construtora Habitare encontra-se em gravíssima situação financeira, com centenas de ações judiciais, reclamatórias trabalhistas, quase beirando à falência, conforme atesta documentos em anexo.
Em razão desta situação, o risco do imóvel adquirido pelo Impetrante vir sofrer algum tipo de constrição judicial é iminente, vez que o imóvel ainda está em nome da construtora, portanto, a transferência do imóvel deve ser realizada o quanto antes. 
Neste sentido, é a jurisprudência:
AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER- COMPRA E VENDA DE IMÓVEL- ESCRITURA DEFINITIVA- INDIVIDUALIZAÇÃO DO IMÓVEL- DIREITO DO COMPRADOR E OBRIGAÇÃO DO DEVEDOR PROVIDENCIAR OS DOCUMENTOS- MULTA POR DESCUMPRIMENTO- POSSIBILIDADE
- Quem compra um imóvel residencial tem o direito de registrá-lo, inclusive para se resguardar perante terceiros com a garantia que lhe assegura os registros públicos (art. 1º e 172 da Lei 6.015, de 1973). Logo, o impedimento a tal segurança por culpa única e exclusiva do vendedor do imóvel não pode se arrastar perenemente tão somente porque no contrato não se dispôs acerca de uma data para fins de cumprimento da obrigação.
- É cabível a aplicação de multa, em casos de descumprimento, em razão do efeito mandamental que tem sido agregado às ações judiciais a fim de que sejam alcançados seus efeitos imediatos.
- O prazo para execução da medida liminar deve ser contado conforme art. 241, I, CPC. (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0702.14.047001-5/001, Relator(a): Des.(a) Alberto Diniz Junior , 11ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 12/02/2015, publicação da súmula em 25/02/2015)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMBARGOS DE TERCEIRO. SUSPENSÃO LIMINAR DE PRACEAMENTO DE IMÓVEL PENHORADO NA EXECUÇÃO. COMPROVAÇÃO DA PROPRIEDADE DE TERCEIRO. 1 - Comprovada a propriedade do imóvel através de escritura pública de compra e venda, deve ser concedida a liminar nos embargos de terceiro, pois, apesar de não ter sido levada a registro, a escritura possibilita a oposição dos embargos, nos termos da mencionada súmula 84 do STJ. 2 - Agravo provido, para impedir novo praceamento ou outra forma de alienação do bem penhorado. (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0024.09.694118-2/001, Relator(a): Des.(a) José Marcos Vieira , 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 24/02/2010, publicação da súmula em 26/03/2010)
Sendo assim, é absolutamente necessária a concessão da medida, em caráter liminar, inaudita altera pars, para que a Autoridade Coatora seja compelida a realizar o ato notarial almejado. 
Ante ao exposto, necessária se faz a concessão da medida pretendida, determinando ao Cartório do 1º Ofício de Registro de Imóveis da Comarca de Belo Horizonte/MG o registro da escritura definitiva de compra e venda, sob pena de multa diária, a ser determinada por este d. juízo.
IV. DOS PEDIDOS
Por tudo que foi exposto, REQUER o Impetrante à V. Exa.:
a) Seja concedida liminar para determinar o registro da escritura definitiva de compra venda, fixando multa diária para o caso de descumprimento da ordem, em valor a seguir arbitrado por V. Exa.;
b) seja notificadaa Autoridade Coatora a fim de que tome conhecimento desta ação, e, querendo, no prazo legal do art. 7º, I da Lei 12.016/09, preste suas informações;
c) seja dada ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial para, querendo, ingresse no feito; 
d) seja concedida a segurança, ratificando a liminar porventura deferida, para determinar a Impetrada a lavratura da escritura definitiva de compra e venda.
Dá-se a causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) para fins fiscais.
Nestes Termos,
Pede e Aguarda Deferimento.
Belo Horizonte, 04 de maio de 2015.
CAROLINA ÁLVARES SÁ BECHAR
OAB/MG 106.051
FERNANDO BRETAS VIEIRA PORTO
OAB/MG 105.822
ALVARES SÁ & BRETAS PORTO ADVOGADOS
Avenida Afonso Pena, 3.924, sala 904. Cruzeiro. Belo Horizonte/MG CEP: 30.130-009

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