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Aula 0 Leonardo NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA 2 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO Olá, meus amigos e amigas! Vamos iniciar mais um curso focado na prefeitura de Valinhos, ótimo salário para engenheiro agrônomo, vamos fazer uma breve apresentação - Meu nome é Leonardo, sou Engenheiro Agrônomo formado na Universidade Federal de Lavras. Trabalho há mais de 10 anos na Emater-MG (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais). Tenho pós-graduação Lato Sensu em Extensão Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável e em Gestão de Agronegócio. Iniciei o mestrado em Agricultura Tropical, na área de conservação de solos. Atualmente sou mestrando de na área de olericultura no IF DE MORRINHOS GO. Fui professor do curso técnico agrícola Pronatec, ministrei aulas de nutrição e forragicultura, fertilidade do solo e culturas anuais e olericultura. Sou professor de matemática e física do ensino médio. Ministro vários cursos para agricultura familiar, entre eles fertilidade do solo, culturas anuais, olericultura, mecanização agrícola, cafeicultura e manejo da bovinocultura de leite. Trabalho com crédito rural (custeio e investimento), elaborando projeto e prestando orientação aos agricultores há 10 anos. Sou responsável pela elaboração da Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (DAP) e correspondente bancário pelo sistema COPAN. Fiz vários concursos, como Adagro-Pe (agência de fiscalização agropecuária de Pernambuco), Perito da Policia Federal área 4 – agronomia, Ministério Público e Ibama. Logrei êxitos em alguns e fui reprovado em outros, mas assim é a vida do concurseiro. Passei na Emater-MG, onde estou até hoje. O AGRONOMIACONCURSOS tornou-se o nosso ponto de encontro, nosso espaço de estudo para gabaritar todas as provas de agronomia. Aproveite todas as oportunidades. 3 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO 4 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO A Hidrologia pode ser entendida como a ciência que estuda a água, como a própria origem da palavra indica (do grego): hidrologia = hydor (―água‖) + logos (―ciência‖ ou ―estudo‖). Entretanto, uma boa definição adotada por vários autores é a seguinte: ―Hidrologia é a ciência que trata da água na Terra, sua ocorrência, circulação e distribuição, suas propriedades físicas e químicas e sua reação com o meio ambiente, incluindo sua relação com as formas vivas‖ (Definição do U.S. Federal Council of Service and Technology, citada por Chow, 1959, apud Tucci, 2000). Lencastre e França (1984) destaca entre outros aspectos que a Hidrologia é importante por atuar no controle de cheias e por ―procurar controlar, sobretudo a parte da precipitação que influi à rede hidrográfica, tirando benefícios do ciclo hidrológico natural‖. Ele destaca ainda que as componentes do ciclo hidrológico de maior interesse da Hidrologia são a precipitação e o escoamento superficial. Assim, a ciência hidrológica está diretamente relacionada aos desastres naturais ocasionados principalmente por inundações/enchentes e secas e, indiretamente, com os movimentos de massa, a erosão e o assoreamento. Neste ínterim, a ciência hidrológica passa a ter grande importância na tomada de decisão, no sentido de prevenir e minimizar os efeitos provocados pelos desastres naturais no mundo e, principalmente, no Brasil. Dentro deste contexto, ela pode ser dividida em: Hidrometeorologia: estudo da água na atmosfera; HIDROLOGIA 5 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO Hidrologia de Superfície: estudo das águas superficiais, dividindo-se em: Limnologia: estudo d água em lagos e reservatórios; Potamologia: estudo água em arroios e rios; Glaciologia: estudo da água na forma de gelo e neve na natureza; Hidrogeologia: estudo das águas subterrâneas; Com a incorporação da visão holística, incluindo os aspectos ambientais, a Hidrologia vem se aprofundando e se subdividindo em subáreas do conhecimento, como por exemplo: Geomorfologia: avaliação do relevo de bacias hidrográficas de forma quantitativa; Interceptação vegetal: análise da influência da cobertura vegetal na interceptação da chuva; Infiltração: processo altamente influenciado pelo manejo do solo, determinante da intensidade de escorrimento superficial e por indiretamente da erosão hídrica; Evaporação e Evapotranspiração: avalia a transferência de água para atmosfera, desde a superfície do solo, vegetação ou dos espelhos de água; Sedimentologia – estudo da produção de sedimento e de seu transporte sobre as encostas e canais de drenagem: análise da influência da água no contexto da erosão em bacias hidrográficas; Qualidade da água e meio ambiente: quantifica a qualidade da água por meio de parâmetros físicos, químicos e biológicos. HISTÓRICO DA HIDROLOGIA A importância da água na história da humanidade é identificada quando se observa que os povos e civilizações se desenvolveram às margens de corpos d’água, como rios e lagos. Diversos autores citam 6 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO registros de que no Egito Antigo, na época dos faraós, existiram obras de irrigação e drenagem. Também na Mesopotâmia, na região conhecida como Crescente Fértil, entre os rios Tigre e Eufrates, a água já era usada para irrigação. Os filósofos gregos são considerados os primeiros a estudar a hidrologia como ciência. Por exemplo, Anaxágoras, que viveu entre 500 e 428 a. C, tinha conhecimento de que as chuvas eram importantes na manutenção do equilíbrio hídrico na Terra. Marcus Vitruvius (século I a.C) apresentou os primeiros conceitos do ciclo hidrológico, como é entendido atualmente. Muitos dos filósofos antigos imaginavam que a água que passa nos rios nos períodos sem chuva tinha origem nos oceanos. Leonardo da Vinci, no século XVI, aprimorou os conceitos do ciclo hidrológico e Perrault, no século XVII, comprovou com a medição de vazão no rio Sena que a origem da água nos rios era devido à precipitação. Bernoulli, no século XVIII, apresentou a sua importante equação da energia do escoamento. Darcy, no século XIX, apresentou a equação de escoamento em meio saturado (escoamento subterrâneo). Até a década de 1950 foram desenvolvidos vários métodos quantitativos de diferentes processos hidrológicos, como o método de Gumbel para ajuste da distribuição estatística de extremos (vazões máximas), a equação de Horton para infiltração da água no solo, método baseado no balanço de energia para cálculo de evaporação (Penanm), entre outros. Eram procedimentos analíticos que estimavam os processos de forma concentrada (equação de Muskingum para escoamento de rios, em 1939), método de Pulz (para propagação em reservatórios). Nesta fase, a limitação do uso de métodos desenvolvidos como as equações de Saint- Venant (final do século 19) era a capacidade de cálculo. 7 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO CICLO HIDROLÓGICO E BALANÇO HÍDRICO A quantidade total de água existente na Terra, nas suas três fases, sólida, líquida e gasosa, se tem mantido constante, desde o aparecimento do Homem. Distribuem-se por três reservatórios principais, os oceanos, os continentes e a atmosfera, entreos quais existe uma circulação contínua - Ciclo Hidrológico (PINTO et. al., 1979; WARD e ROBINSON, 2000; LIMA, 2008). Nas formas líquidas e sólidas a água cobre mais de 2/3 da superfície terrestre, e na forma gasosa é constituinte variável da atmosfera (podendo ocupar até 4% de todo seu volume). Sob tais condições, o vapor de água, ocorrendo se concentra em maior quantidade nas regiões tropicais e nas camadas mais baixas da atmosfera (CAMARGO, 2005). A água é, portanto, constituída de moléculas que se atraem pela força de coesão. Essas moléculas no estado líquido estão em constante movimentação, movendo-se verticalmente no sentido da atmosfera terrestre e horizontalmente no sentido da superfície terrestre. Essa agitação molecular é proporcional à energia ou à temperatura da água. Se a temperatura aumentar, as moléculas mais agitadas da superfície tendem a escapar da massa líquida e ficar livres na atmosfera, em estado gasoso. Se a temperatura da água líquida diminuir, a movimentação das moléculas também diminui. Se chegar a zero grau centígrado, as moléculas serão fixadas e a água solidificará, formando o gelo. Assim, o Ciclo Hidrológico é constituido de uma sucessão de vários processos na natureza pelos quais a água inicia o seu caminho indo de um estágio inicial até retornar a posição primitiva. Este fenômeno global de circulação fechada da água entre a superfície terrestre e a atmosfera, é impulsionado fundamentalmente pela energia radiante e associado à gravidade e à rotação terrestre. Estima-se que cerca de 10% do total de vapor seja reciclado diariamente. A superfície terrestre abrange os continentes e os oceanos, participando do ciclo hidrológico a camada 8 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO porosa que recobre os continentes (solos, rochas) e o reservatório formado pelos lagos, rios e oceanos. Desta forma, temos parte do ciclo hidrológico constituído pela circulação de água na própria superfície terrestre, isto é; a circulação de água no interior e na superfície dos solos e rochas, nos lagos e demais superfícies líquidas e nos seres vivos (animais e vegetais). O intercâmbio entre as circulações da superfície terrestre e da atmosfera ocorre em dois sentidos: a) No sentido superfície-atmosfera, onde o fluxo de água ocorre fundamentalmente na forma de evaporação das águas oceânicas e evapotranspiração continental; b) No sentido atmosfera-superfície, onde a transferência ocorre em qualquer estado físico, sendo mais significativas, em termos globais, as precipitações pluviométricas, o granizo e a neve (Figura 1): 9 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO Figura 1 – Representação do ciclo hidrológico Assim, o ciclo da água envolve vários e complicados processos hidrológicos podendo ser descrito por sete processos distintos, ou seja: evaporação, precipitação, interceptação, transpiração, infiltração, percolação, escoamento superficial EVAPOTRANSPIRAÇÃO Na natureza ao conjunto de fenômenos que transformam em vapor a água precipitada sobre as superfícies continentais e sobre a dos mares, dos lagos, dos rios e dos reservatórios, denomina-se evaporação. Muito embora o vapor de água possa ser formado diretamente, a partir da sublimação das geleiras, o interesse climatológico está mais concentrado nas mudanças de fase do líquido para o vapor. Evaporação - conjunto de fenômenos físicos que condicionam a transformação da água na forma líquida ou sólida, de uma superfície úmida ou de água livre, em vapor, devido à radiação solar e aos processos de difusão molecular e turbulenta. Além da radiação solar, 10 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO outros elementos meteorológicos tais como: temperatura do ar, vento e pressão de vapor, também interferem na evaporação principalmente em superfícies líquidas. Transpiração - Perda de água para a atmosfera na forma de vapor através dos estômatos e cutículas das plantas, decorrente das ações físicas e fisiológicas dos vegetais, e dependentes da disponibilidade de energia da água disponível no solo e governada pela resistência dos estômatos. Este processo global de circulação fechada e perpétua da água entre a superfície terrestre e a atmosfera, é impulsionado pela energia radiante, forças do vento e associado às forças da gravidade terrestre. Na natureza o solo, as plantas e a atmosfera podem ser consideradas como componentes de um sistema fisicamente inter-relacionado e dinâmico, no qual processos de fluxo estão interligados como elos de uma corrente (REICHARDT, 1990). Neste sistema, é importante e aplicável o conceito de potencial hídrico, ou seja, o fluxo de água se move dos locais de maior potencial para os de menor potencial. Ou seja, o fluxo sempre se dirige em direção do gradiente de potencial negativo. A quantidade de água transpirada diariamente é grande em relação às trocas de água na planta, de modo que se pode considerar o fluxo através da planta, em curtos períodos de tempo, como um processo em regime permanente. As diferenças de potencial, em distintos pontos dentro do ecossistema são proporcionais à resistência do fluxo. A menor resistência ao fluxo é encontrada na planta. E a maior resistência é detectada, no fluxo das folhas para atmosfera, devido à mudança do estado líquido para o vapor. A passagem para atmosfera ocorre através dos estômatos localizados nas folhas. O transporte de água desde as folhas até o ar atmosférico ocorre também por difusão de vapor, sendo o mesmo proporcional a tensão do 11 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO vapor de água. A umidade relativa do ar, ou seja, a relação entre a tensão real e a de saturação de vapor, relaciona-se exponencialmente com o potencial hídrico da planta (REICHARDT, 1990). Assim a evaporação e a transpiração representam uma fração significativa do movimento da água através do Ciclo Hidrológico. Dentro de um contexto de uma pesquisa hidrológica, se comparados com o escoamento superficial, a evaporação e a transpiração não são variáveis muito importantes. Todavia, em se tratando de outro tipo de estudo a evaporação passa a fazer parte da equação das perdas, representando uma pequena fração das perdas durante as precipitações. Embora alcance, em projetos de grandes reservatórios, um processo de grande relevância. Diante do exposto, a Evapotranspiração é definida pelo conjunto de processos físicos (evaporação) e fisiológicos (transpiração) responsáveis pela transformação em vapor atmosférico a água precipitada na superfície terrestre (TUCCI e BELTRAME, 2000). Todavia, a transferência da água de ecossistemas naturais (floresta, área cultivada), onde o teor de umidade do solo não é limitante, ocorre devido à intensidade do potencial hídrico e as diferenças de padrões meteorológicos prevalecentes no local e/ou região (REICHARDT, 1990; TUCCI, 2000). Assim sendo o principal parceiro no ciclo hidrológico da evapotranspiração, passa a ser as diferentes formas como as águas se precipitam sobre a superfície terrestre, ou seja, as precipitações consideradas como elementos alimentadores da fase terrestre do ciclo hidrológico e constituindo-se de importante fator para os processos de escoamento superficial direto, infiltração, evaporação, transpiração, recarga de aqüíferos e vazão básica dos rios, ou seja, cerca de 70% da quantidade de água precipitada sobre a superfície terrestre retorna atmosferavia evaporação e transpiração. Por essa razão as chuvas representam, no ciclo hidrológico, importante papel de elo entre os fenômenos meteorológicos, 12 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO propriamente ditos, e os demais componentes do ciclo hidrológico (TUCCI, 1997). PRECIPITAÇÃO Na Terra a evapotranspiração representa a transferência da água da superfície continental e oceânica para atmosfera, ou seja, a passagem da água do estado líquido para o gasoso. Na atmosfera essa água se condensa, formando nuvens, que se precipitam na direção da superfície terrestre - formando um processo inverso à evapotranspiração. Ou seja, o retorno da água retida na atmosfera, através da chuva, neve e o granizo. Assim sendo a precipitação é definida em Climatologia como sendo toda água proveniente do meio atmosférico que atinge a superfície terrestre na forma de chuva, neve e granizo. CHUVA Conjunto de águas originárias do vapor de água atmosférico que se precipitam, em estado líquido sobre a superfície terrestre em conseqüência da intensificação da evapotranspiração sobre superfícies quentes e úmidas. A formação das chuvas está associada à ascensão das massas de ar quente e úmidas e a formação de nuvens. As nuvens se formam pela perda do ar conter umidade. Isto ocorre normalmente, quando massas de ar que estão com alta umidade relativa, sofrem resfriamento. Na atmosfera ascensão do ar quente e úmido provoca um resfriamento do ar que pode fazê-lo atingir o seu ponto de saturação, ou seja, sua capacidade de conter umidade. Ao atingir a 100% da sua capacidade, se seguirá a condensação do vapor de água em forma de minúsculas gotas que são mantidas em suspensão, como nuvens ou nevoeiros. Para ocorrer uma chuva é necessário que essas gotículas cresçam a partir de ―núcleos de condensação‖ (poeira, aerossóis e etc.) até atingirem um peso suficiente capaz de sobrepor as forças de sustentação e, portanto 13 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO se precipitarem. São três os tipos de chuvas na Natureza: ♦ Chuvas Convectivas Provocadas por diferenças de locais de aquecimento nas camadas atmosféricas. São chuvas formadas pela ascensão das massas de ar quente da superfície, carregadas de vapor d'água. Ao subir o ar sofre resfriamento provocando a condensação do vapor de água presente e, conseqüentemente, a precipitação. São características deste tipo de precipitação as chuvas de curta duração, alta intensidade, trovoadas, rajadas de ventos e pela sua abrangência em pequenas áreas; ♦ Chuvas Orográficas Denominadas de "chuva de relevo", esse tipo de precipitação ocorre quando há um impedimento (seja montanha, serras ou escarpas) que barra a massa de ar úmida. São chuvas que são oriundas da passagem de uma massa de ar quente e úmido por uma cadeia de montanha, provocando a ascensão forçada do ar, que gradativamente se esfria provocando a condensação do vapor de água e conseqüentemente a formação de nuvens que se precipitam. Caracterizam-se pela sua longa duração e baixa intensidade e por não apresentarem qualquer tipo de descarga elétrica; 14 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO ♦ Chuvas Frontais São originárias do deslocamento de frentes frias ou quentes contra frentes contrárias termicamente ocorrendo ao longo da linha de descontinuidade, separando uma massa de ar de características diferentes. Assim, a frente fria, mais densa, entra por baixo, levando para cima a massa de ar quente. Quando esta massa de ar quente possui elevada umidade relativa, a chuva é iminente. É uma chuva de menor intensidade, com pingos menores, e de longa duração. Ocorre por vários dias, apresentando pausas e chuviscos entre fases mais intensas. Na metade sudeste do continente, ocorrer em qualquer época do ano, mas tem maior duração nos meses frios, quando os fenômenos atmosféricos são menos intensos. Pode produzir ventos fortes e grande quantidade de raios. Ocorre em uma imensa área simultaneamente. INTERCEPTAÇÃO DAS PRECIPITAÇÕES A superfície terrestre se constitui, em macro escala, obviamente, dos continentes e dos oceanos. Muito embora a menor parte do ciclo hidrológico seja constituída pela circulação da água nas superfícies continentais, isto é: a circulação de água no interior e na superfície dos 15 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO solos e rochas, nos lagos e rios e principalmente no interior dos ecossistemas naturais (LIMA e LEOPOLDO, 2000; MIRANDA, 2006; RUTTER, 1975 e ZINKE, 1967). Num ecossistema, a fonte da entrada de água no solo é composta de precipitação pluviométrica menos a parcela dessa água que é gradativamente interceptada pela vegetação até que, pela saturação do dossel, essa água é então redistribuída por percolação direta pela copa e escoamento superficial ao longo do tronco, sendo que é através da interceptação vegetal que uma importante parcela das chuvas que atingem os ecossistemas naturais retorna à atmosfera por evaporação sem atingir ao solo, afetando a dinâmica do escoamento superficial e o processo de infiltração. Desse modo a vegetação exerce um importante papel no ciclo hidrológico tanto no nível de quantidade como de qualidade de água não somente pela evapotranspiração, mas também pela interceptação da água de chuva. Interceptação é climatologicamente, definida como sendo a capacidade que a vegetação ou outro tipo de obstáculo possuem de reter a chuva nas suas copas. É um processo fortemente dependente das características das precipitações, das condições climáticas, da densidade da vegetação, da estrutura e arquitetura do dossel e do comportamento fisiológico das plantas durante o ano (TUCCI, 2000). Assim, ressaltamos que, em geral, uma folha não é capaz de absorver quase nada da água interceptada em sua superfície que a capacidade individual de retenção foliar é correlacionada com o tamanho da folha, com sua forma e com a viscosidade da água (RUTTER, 1975). Ressaltando-se as pressões externas causadas por ação dos ventos, do tipo e freqüência das precipitações dentre outras também influenciam no teor de água retida na vegetação. 16 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO INFILTRAÇÃO Uma gota de chuva pode ser interceptada pela vegetação ou mesmo cair diretamente sobre o solo. Todavia a água ao atingir o solo poderá evaporar, penetrar no solo ou escoar superficialmente. A quantidade evaporada durante as chuvas intensas é desprezível em relação ao total precipitado. No entanto a água ao penetrar no solo reabastece os aquiferos subterrâneos que dependem as vazões dos cursos de água nos períodos de estiagem. A Infiltração é, portanto, o processo de penetração da água nas camadas de solo próximas à superfície do terreno, movendo-se para baixo, através de vazios, sob a ação da gravidade, até atingir uma camada suporte que a retém, formando então o teor de umidade de um solo. Por essa razão torna-se uma das etapas mais importantes no ciclo hidrológico, uma vez que é responsável pela recarga de aquíferos e influencia diretamente o escoamento superficial e, consequentemente a erosão hídrica (TUCCI e BELTRAME, 2000). Usualmente, a infiltração decorrente de precipitações naturais não é capaz de saturar todo o solo, restringindo-se a saturar, quando consegue, apenas as camadas próximas à superfície, conformando um perfil típico onde oteor de água disponível decresce com a profundidade. Assim sendo, o padrão de distribuição da água em um solo uniforme, submetido a uma pequena carga hidráulica na superfície se divide por quatro zonas: ♦ SATURAÇÃO – camada estreita (com espessura de ≈1,5cm) localizada logo abaixo do solo saturado; ♦ TRANSIÇÃO – camadas caracterizadas pelo decréscimo acentuado da umidade com uma espessura em torno de 5 cm; ♦ TRANSMISSÃO – é a região do solo na qual a água é transmitida. Tem uma espessura flexível e associada às disponibilidades hídricas do solo.Ou seja, enquanto todas as zonas permanecem com espessura 17 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO praticamente constante, esta aumenta a medida que há aplicação de água; ♦ UMEDECIMENTO – é uma região caracterizada por uma camada usualmente pequena, mas com grande redução de umidade com o aumento da profundidade. Em suma, a infiltração da água em um solo depende: ♦ Umidade do solo – quanto mais saturado estiver o solo, menor será a infiltração; ♦ Tipo do solo – a granulometria do solo condiciona a sua permeabilidade. Quanto mais fino for o solo menor será a infiltração; ♦ Ocupação da superfície - os processos de urbanização e devastação da vegetação diminuem drasticamente a quantidade de água infiltrada ocorrendo o contrário com a aplicação de técnicas adequadas de terraceamento e manejo do solo; ♦ Topografia - declives acentuados favorecem o escoamento superficial direto diminuindo a oportunidade de infiltração; ♦ Depressões - a existência de depressões provoca a retenção da água diminuindo a quantidade de escoamento superficial direto. A água retida infiltra no solo ou evapora. 18 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO ARMAZENAMENTO DA ÁGUA NO SOLO Redistribuição de água no solo é o movimento da água no perfil do solo depois de cessada a infiltração. Assim sendo a Capacidade de Campo, é, usualmente, definida como sendo a água retida pelo solo a partir do instante que em que a infiltração se torna desprezível. Ou seja, o limite superior de água que um determinado solo pode reter. ESCOAMENTO SUPERFÍCIAL O Escoamento Superficial (Runoff) é a fase do ciclo hidrológico que trata da água oriunda das precipitações que, por efeito da gravidade, se desloca sobre a superfície terrestre. Engloba, portanto, o volume de água precipitada sobre o solo saturado ou uma superfície impermeável que escoa superficialmente, seguindo linhas de maior declive, na direção de um curso de água mais próximo indo, posteriormente se desembocar nos oceanos. Sua duração está associada praticamente à duração da precipitação (TUCCI, 2000). As águas precipitadas que atingem o leito do curso de água de um rio por 4 vias diversas: ♦ ESCOAMENTO SUPERFICIAL - iniciado a partir da precipitação após a ação da interceptação pelos vegetais e/ou obstáculos, da saturação do solo e da subseqüente acumulação da água nas depressões do terreno; ♦ ESCOAMENTO SUB-SUPERFICIAL – ocorre nas camadas superiores do solo, é difícil de ser separado do escoamento superficial; 19 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO ♦ ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO - oriundo do acumulo de água em aqüíferos, é responsável pela alimentação do curso de água durante períodos de estiagem; ♦ AÇÃO DIRETA DAS PRECIPITAÇÕES – conseqüência das águas que se precipitam sobre as superfícies líquidas. Vamos exercitar! 1- Petrobras - Engenheiro de Meio Ambiente Júnior - CESGRANRIO - 2011 O ciclo hidrológico é um fenômeno global de circulação fechada da água entre a superfície terrestre e a atmosfera, impulsionado fundamentalmente pela energia solar. Com relação ao ciclo hidrológico, assinale a alternativa correta. a) Os volumes evaporados em um determinado local do planeta precipitam necessariamente no mesmo local, porque há movimentos contínuos, com dinâmicas diferentes, na atmosfera e também na superfície terrestre. b) O escoamento superficial é impulsionado pela gravidade para as cotas mais baixas, vencendo o atrito com a superfície do solo. c) O processo de infiltração ocorre quando a taxa de saturação do solo é superior à da precipitação. d) A presença de vegetação na superfície contribui para criar obstáculo ao escoamento superficial, não favorecendo a infiltração em percurso. e) A infiltração e a percolação no interior do solo são comandadas somente pela ação da gravidade. SOLUÇÃO 20 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO Vamos analisar cada item: a) Os volumes evaporados em um determinado local do planeta precipitam necessariamente no mesmo local, porque há movimentos contínuos, com dinâmicas diferentes, na atmosfera e também na superfície terrestre. ERRADO Os volumes evaporados em um determinado local do planeta não precipitam necessariamente no mesmo local, porque há movimentos contínuos, com dinâmicas diferentes, na atmosfera, e também na superfície terrestre. b) O escoamento superficial é impulsionado pela gravidade para as cotas mais baixas, vencendo o atrito com a superfície do solo. CORRETO O escoamento superficial é impulsionado pela gravidade para as cotas mais baixas, vencendo principalmente o atrito com a superfície do solo. O escoamento superficial manifesta-se inicialmente na forma de pequenos filetes de água que se moldam ao micro relevo do solo. c) O processo de infiltração ocorre quando a taxa de saturação do solo é superior à da precipitação. ERRADO A Infiltração é, portanto, o processo de penetração da água nas camadas de solo próximas à superfície do terreno, movendo-se para baixo, através de vazios, sob a ação da gravidade, até atingir uma camada suporte que a retém, formando então o teor de umidade de um solo. O grau de saturação do solo é definido pela relação entre o volume de água e o volume de vazios da amostra. d) A presença de vegetação na superfície contribui para criar obstáculo ao escoamento superficial, não favorecendo a infiltração em percurso. ERRADO 21 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO A presença de vegetação na superfície do solo contribui para obstaculizar o escoamento superficial, favorecendo a infiltração em percurso. A vegetação também reduz a energia de impacto das gotas de chuva no solo, minimizando a erosão. A presença da vegetação atenua ou elimina a ação da compactação da água da chuva e permite o estabelecimento de uma camada de matéria orgânica em decomposição que favorece a atividade escavadora de insetos e animais, favorece também a infiltração, pois dificulta o escoamento superficial da água. Cessada a chuva retira a umidade do solo, através de suas raízes, possibilitando maiores valores da capacidade de infiltração no início das precipitações. e) A infiltração e a percolação no interior do solo são comandadas somente pela ação da gravidade. ERRADO A infiltração e a percolação no interior do solo são comandadas pelas tensões capilares nos poros e pela gravidade. A umidade do solo realimentada pela infiltração é aproveitada em parte pelos vegetais, que a absorvem pelas raízes e a devolve, quase toda, à atmosfera por transpiração, na forma de vapor de água. O que os vegetais não aproveitam, percola para o lençol freático que normalmentecontribui para o escoamento de base dos rios. A infiltração é um processo que depende, em maior ou menor grau, de diversos fatores, dentre eles PINTO, HOLTZ & MARTINS (1967) define alguns: • Tipo de solo A capacidade de infiltração varia diretamente com a porosidade, o tamanho das partículas do solo e o estado de fissuração das rochas. As características presentes em pequena camada superficial, com espessura da ordem de 1 cm, tem influência sobre a capacidade de infiltração. • Cobertura vegetal A presença da vegetação atenua ou elimina a ação da compactação da 22 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO água da chuva e permite o estabelecimento de uma camada de matéria orgânica em decomposição que favorece a atividade escavadora de insetos e animais, favorece também a infiltração, pois dificulta o escoamento superficial da água. Cessada a chuva retira a umidade do solo, através de suas raízes, possibilitando maiores valores da capacidade de infiltração no início das precipitações. • Grau de umidade do solo Parte da água que precipita sobre o solo seco é absorvida por ação de capilaridade que se soma a ação da gravidade. Se o solo, no início da precipitação, já apresenta certa umidade, tem uma capacidade de infiltração menor do que a que teria se estivesse seco. • Efeito da precipitação sobre o solo A água da chuva chocando-se contra o solo promovem a compactação da sua superfície, diminuindo a capacidade de infiltração, destacam e transportam os materiais finos que pela sua sedimentação posterior tendem a diminuir a porosidade da superfície; umedecem a superfície do solo, saturando as camadas próximas aumentando a resistência à penetração da água e, atuam sobre as partículas de substancias coloidais que ao entumecer reduzem a dimensão dos espaços intergranulares. • Compactação devido ao homem e aos animais Em locais onde há tráfego constante homens, veículos, animais (pastagens) a superfície é submetida a compactação que a torna relativamente impermeável. • Influência de outros fatores A capacidade de infiltração pode ser elevada pela atuação de fenômenos naturais que provocam o aumento da permeabilidade como: - escavações feitas por animais; - decomposição das raízes dos vegetais; - temperatura da água que influi na sua viscosidade, fazendo com que a 23 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO infiltração nos meses frios seja menor que nos meses quentes. - presença de ar nos vazios do solo, sendo expulso pela água quando penetra no solo. 2- Petrobras - Engenheiro de Meio Ambiente Júnior - CESGRANRIO - 2011 O deslocamento da água na superfície de uma bacia hidrográfica é uma das parcelas mais importantes do ciclo hidrológico. Considerando os fundamentos do escoamento superficial, assinale a alternativa correta. (A) O escoamento em superfície livre pode ser apenas do tipo não permanente. (B) O escoamento é regido por leis físicas e representado qualitativamente por variáveis como vazão, profundidade e velocidade. (C) O escoamento superficial e em rios e canais é retratado apenas pela equação de quantidade de movimento. (D) A equação baseada na quantidade de movimento do sistema associado ao escoamento superficial é obtida pela avaliação das massas internas e externas que atuam no mesmo. (E) O escoamento permanente uniforme ocorre quando o gradiente de profundidade com o espaço é nulo e a velocidade, constante. SOLUÇÃO O escoamento é regido por leis físicas e representado quantitativamente por variáveis com vazão, profundidade e velocidade. O comportamento do escoamento é descrito por equações de conservação de massa, energia e quantidade. Podem-se classificar os escoamentos como escoamentos permanentes e RESPOSTA B 24 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO não permanentes. Escoamentos Permanentes Ocorre quando o gradiente da velocidade e do nível são nulos, ou seja, não existe variação de estado no sistema. O escoamento permanente pode ser classificado como: Escoamento uniforme e não uniforme. Escoamento uniforme é aquele no qual o vetor velocidade, em módulo, direção e sentido, é idêntico em todos os pontos, em um instante qualquer, em que o tempo é mantido constante. Se o vetor velocidade variar de ponto a ponto, num instante qualquer, o escoamento é dito não uniforme. Escoamentos Não-Permanentes- O regime não permanente considera a variação no tempo e no espaço das variáveis que retratam o mesmo. Esta situação ocorre na maioria dos problemas hidrológicos de escoamento superficial e de rios e canais. 3 - Técnico em Hidrologia - NC-UFPR -2011 Sobre o fenômeno da interceptação no ciclo hidrológico, assinale a alternativa correta. a) A interceptação é um fenômeno bem conhecido e simples de estudar. b) A interceptação tem o efeito de acelerar o ciclo hidrológico. c) A interceptação é produzida pela cobertura vegetal e armazenamento em depressões. d) No caso da cobertura vegetal, a capacidade de interceptação independe das características da precipitação (intensidade, duração, volume). e) No caso da cobertura vegetal, a capacidade de interceptação independe das características da própria cobertura vegetal e independe também das condições climáticas. RESPOSTA E 25 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO SOLUÇÃO Interceptação é climatologicamente, definida como sendo a capacidade que a vegetação ou outro tipo de obstáculo possuem de reter a chuva nas suas copas. É um processo fortemente dependente das características das precipitações, das condições climáticas, da densidade da vegetação, da estrutura e arquitetura do dossel e do comportamento fisiológico das plantas durante o ano (TUCCI, 2000). Cabe-nos ressaltar que, em geral, uma folha não é capaz de absorver quase nada da água interceptada em sua superfície. Que a capacidade individual de retenção foliar é correlacionada com o tamanho da folha, com sua forma e com a viscosidade da água (RUTTER, 1975). Ressaltando-se as pressões externas causadas por ação dos ventos, do tipo e freqüência das precipitações dentre outras também influenciam no teor de água retida na vegetação. Equação Hidrológica I - O = DS I = (entradas) incluindo todo o escoamento superficial por meio de canais e sobre a superfície do solo, o escoamento subterrâneo, ou seja, a entrada de água através dos limites subterrâneos do volume de controle, devido ao movimento lateral da água do subsolo, e a precipitação sobre a superfície do solo; O = saídas de água do volume de controle, devido ao escoamento superficial, ao escoamento subterrâneo, à evaporação e à transpiração das plantas; e DS = variação no armazenamento nas várias formas de retenção, no volume de controle. Apesar dessa simplificação, o ciclo hidrológico é um meio conveniente RESPOSTA C 26 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO de apresentar os fenômenos hidrológicos, servindo também para dar ênfase às quatro fases básicas de interesse do engenheiro, que são: precipitação; evaporação e transpiração; escoamento superficial; escoamento subterrâneo. Embora possa parecer um mecanismo contínuo, com a água se movendo de uma forma permanente e com uma taxa constante, é na realidade bastante diferente, pois o movimento da água em cada uma dasfases do ciclo é feito de um modo bastante aleatório, variando tanto no espaço como no tempo. Em determinadas ocasiões, a natureza parece trabalhar em excesso, quando provoca chuvas torrenciais que ultrapassam a capacidade dos cursos d’água provocando inundações. Em outras ocasiões parece que todo o mecanismo do ciclo parou completamente e com ele a precipitação e o escoamento superficial. E são precisamente estes extremos de enchente e de seca que mais interessam aos engenheiros, pois muitos dos projetos de Engenharia Hidráulica são realizados com a finalidade de proteção contra estes mesmos extremos. BACIA HIDROGRÁFICA O Ciclo Hidrológico tem um aspecto geral e pode ser visto como um sistema hidrológico fechado, já que a quantidade de água disponível para a terra é finita e indestrutível. Entretanto, os subsistemas abertos são abundantes, e estes são normalmente os tipos analisados pelos hidrologistas. Dentre as regiões de importância prática para os hidrologistas destacam-se as Bacias Hidrográficas (BH) ou Bacias de Drenagem, por causa da simplicidade que oferecem na aplicação do balanço de água, os quais podem ser desenvolvidos para avaliar as componentes do ciclo hidrológico para uma região hidrologicamente determinada, conforme Figura 2. Bacia Hidrográfica é, portanto, uma área definida topograficamente, drenada por um curso d’água ou por um sistema conectado de cursos 27 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO d’água, tal que toda a vazão efluente seja descarregada por uma simples saída. Fig. 2 – bacia hidrografica Conforme, CRUCIANI, 1976 define microbacia hidrográfica como sendo a área de formação natural, drenada por um curso d’água e seus afluentes, a montante de uma seção transversal considerada, para onde converge toda a água da área considerada. Mais uma definição: Bacia Hidrográfica é uma região sobre a terra, na qual o escoamento superficial em qualquer ponto converge para um único ponto fixo, o EXUTÓRIO. A área da microbacia depende do objetivo do trabalho que se pretende realizar (não existe consenso sobre qual o tamanho ideal). PEREIRA (1981) sugere: a) para verificação do efeito de diferentes práticas agrícolas nas perdas de solo, água e nutrientes área não deve exceder a 50 ha. b) estudo do balanço hídrico e o efeito do uso do solo na vazão _ áreas de até 10.000 ha. 28 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO c) estudos que requerem apenas a medição de volume e distribuição da vazão bacias representativas com áreas de 10 a 50 mil ha. resposta hidrológica de uma bacia hidrográfica é transformar uma entrada de volume concentrada no tempo (precipitação) em uma saída de água (escoamento) de forma mais distribuída no tempo. Assim, temos os divisores de água que são: divisor superficial (topográfico) e o divisor freático (subterrâneo). Conforme a Figura 3 , o divisor subterrâneo é mais difícil de ser localizado e varia com o tempo. À medida que o lençol freático (LF) sobe, ele tende ao divisor superficial. O subterrâneo só é utilizado em estudos mais complexos de hidrologia subterrânea e estabelece, portanto, os limites dos reservatórios de água subterrânea de onde é derivado o deflúvio básico da bacia. Na prática, assume-se por facilidade que o superficial também é o subterrâneo. Figura 3 - Corte transversal de bacias hidrográficas. A Figura 4 apresenta um exemplo de delimitação de uma bacia hidrográfica utilizando o divisor topográfico. Nesta Figura está 29 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO individualizada a bacia do córrego da Serrinha. Note que o divisor de águas (linha tracejada) acompanha os pontos com maior altitude (curvas de nível de maior valor). Figura 4 – Delimitação de uma bacia hidrográfica (linha tracejada). CLASSIFICAÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA De grande importância no estudo das BH é o conhecimento do sistema de drenagem, ou seja, que tipo de curso d’água está drenando a região. Uma maneira utilizada para classificar os cursos d’água é a de tomar como base a constância do escoamento com o que se determinam três tipos: a) Perenes: contém água durante todo o tempo. O lençol freático mantém uma alimentação contínua e não desce nunca abaixo do leito do curso d’água, mesmo durante as secas mais severas. b) Intermitentes: em geral, escoam durante as estações de chuvas e secam nas de estiagem. Durante as estações chuvosas, transportam todos 30 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO os tipos de deflúvio, pois o lençol d’água subterrâneo conserva-se acima do leito fluvial e alimentando o curso d’água, o que não ocorre na época de estiagem, quando o lençol freático se encontra em um nível inferior ao do leito. c) Efêmeros: existem apenas durante ou imediatamente após os períodos de precipitação e só transportam escoamento superficial. A superfície freática se encontra sempre a um nível inferior ao do leito fluvial, não havendo a possibilidade de escoamento de deflúvio subterrâneo. Características físicas de uma bacia hidrográfica Estas características são importantes para se transferir dados de uma bacia monitorada para uma outra qualitativamente semelhante onde faltam dados ou não é possível a instalação de postos hidrométricos (fluviométricos e pluviométricos). É um estudo particularmente importante nas ciências ambientais, pois no Brasil, a densidade de postos fluviométricos é baixa e a maioria deles encontram-se nos grandes cursos d’água, devido a prioridade do governo para a geração de energia hidroelétrica. ÁREA DE DRENAGEM É a área plana (projeção horizontal) inclusa entre os seus divisores topográficos. A área de uma bacia é o elemento básico para o cálculo das outras características físicas. É normalmente obtida por planimetria ou por pesagem do papel em balança de precisão. São muito usados os mapas do IBGE (escala 1:50.000). A área da bacia do Rio Paraíba do Sul é de 55.500 km2. FORMA DA BACIA É uma das características da bacia mais difíceis de serem expressas em termos quantitativos. Ela tem efeito sobre o comportamento hidrológico da bacia, como por exemplo, no tempo de concentração (Tc). Tc é 31 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO definido como sendo o tempo, a partir do início da precipitação, necessário para que toda a bacia contribua com a vazão na seção de controle. Existem vários índices utilizados para se determinar a forma das bacias, procurando relacioná-las com formas geométricas conhecidas: a) coeficiente de compacidade (Kc) – Indice de Gravélius: é a relação entre o perímetro da bacia e o perímetro de um círculo de mesma área que a bacia. O Kc é sempre um valor > 1 (se fosse 1 a bacia seria um círculo perfeito). Quanto menor o Kc (mais próximo da unidade), mais circular é a bacia, menor o Tc e maior a tendência de haver picos de enchente. b) fator de forma (Kf): é a razão entre a largura média da bacia (L ) e o comprimento do eixo da bacia (L) (da foz ao ponto mais longínquo da área). Quanto menor o Kf, mais comprida é a bacia e portanto, menos sujeita a picos de enchente, pois o Tc é maior e, além disso, fica difícil uma mesma chuva intensa abranger toda a bacia. 32 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO 5 - INÉDITA Vamos calcular o fator forma de duas bacias: C) Índice de conformação Ic Representa a relação entre a área da bacia e um quadrado delado igual ao comprimento axial da bacia. Este índice pode ser matematicamente expresso por: 33 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO Em que: Laxial é o comprimento axial da BH. Este índice também expressa a capacidade da bacia em gerar enchentes. Quanto mais próximo de 1, maior a propensão à enchentes, pois a bacia fica cada vez mais próxima de um quadrado e com maior concentração do fluxo. Vamos exercitar!! 6 - IBGE - Tecnologista - Engenharia Florestal - FGV - 2016 O coeciente de compacidade (Kc), o tempo de concentração (Tc) e a declividade média (Dm) guardam relações importantes com a tendência de uma bacia hidrográca em apresentar picos de enchentes. Sobre isso, é correto afirmar que a ocorrência de picos de enchentes tende a ser maior quanto: a) menor o Kc, menor o Tc e maior a Dm; b) maior o Kc, maior o Tc e maior a Dm; c) maior o Kc, menor o Tc e menor a Dm; d) menor o Kc, maior o Tc e menor a Dm; e) maior o Kc, maior o Tc e menor a Dm SOLUÇÃO Quanto menor o Kc (mais próximo da unidade), mais circular é a bacia, menor o Tc e maior a tendência de haver picos de enchente. RESPOSTA A 34 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO CARACTERÍSTICAS FLUVIOMORFOLÓGICAS As informações utilizadas para promover a caracterização de uma bacia são denominados dados fluviomorfológicos, que podem ser adquiridos a partir de sensoriamento remoto, imagens de satélites, mapas topográficos e outras fontes de dados geomorfológicos. Assim, podemos elencar os Índices Fluviomorfológico: Índice de Conformação, Índice de Compacidade, Densidade de Drenagem, Área de Drenagem. Índice de conformação É a relação entre a área de uma bacia hidrográfica e o quadrado de seu comprimento axial, medido ao longo do curso d’água, da desembocadura ou seção de referência à cabeceira mais distante, no divisor de águas. Uma bacia com índice de conformação baixo é menos sujeita a enchentes que outra do mesmo tamanho, porém com maior índice de conformação. Isso se deve ao fato de que em uma bacia estreita e longa, com índice de conformação baixo, há menos possibilidade de ocorrência de chuvas intensas cobrindo simultaneamente toda a sua extensão; e também, numa tal bacia, a contribuição dos tributários atinge o curso d água principal em vários pontos ao longo do mesmo. Caso não existam outros fatores que interfiram, quanto o valor deste índice se aproxima a unidade (um), a forma da bacia se aproxima de um quadrado e este tipo de bacia tem maior potencialidade de ocorrência de picos de enchentes elevados. 35 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO Figura 5 - Rios da bacia hidrográfica Índice de compacidade É a relação do perímetro de uma bacia hidrográfica e a circunferência de círculo de área igual à da bacia. Este coeficiente é um número adimensional que varia conforme a bacia, independentemente do seu tamanho, quanto mais irregular for à bacia, tanto maior será o coeficiente de compacidade. Um coeficiente igual à unidade corresponderia a uma bacia circular. O valor do índice de compacidade indica maior potencialidade da bacia de produção de picos de enchentes elevados. Caso não existam outros fatores que interfiram, 36 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO menor valor do índice de compacidade (próximo a 1) indica maior potencialidade de ocorrência de picos de enchentes elevados. SISTEMA DE DRENAGEM O sistema de drenagem de uma bacia é constituído pelo rio principal e seus tributários; o estudo das ramificações e do desenvolvimento do sistema é importante, pois ele indica a maior ou menor velocidade com que a água deixa a bacia hidrográfica. O padrão de drenagem de uma bacia depende da estrutura geológica do local, tipo de solo, topografia e clima. Esse padrão também influencia no comportamento hidrológico da bacia. a) Ordem dos cursos d’água e razão de bifurcação (Rb): De acordo com a Figura 5 , adota-se o seguinte procedimento: 1) os cursos primários recebem o numero 1; 2) a união de 2 de mesma ordem dá origem a um curso de ordem superior; 3) a união de 2 de ordem diferente faz com que prevaleça a ordem do maior. Quanto maior Rb média, maior o grau de ramificação da rede de drenagem de uma bacia e maior a tendência para o pico de cheia. Figura 4 – Ordem dos cursos d’água. b) densidade de drenagem (Dd): é uma boa indicação do grau de desenvolvimento de um sistema de drenagem. Expressa a relação entre o 37 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO comprimento total dos cursos d’água (sejam eles efêmeros, intermitentes ou perenes) de uma bacia e a sua área total. Para avaliar Dd, deve-se marcar em fotografias aéreas, toda a rede de drenagem, inclusive os cursos efêmeros, e depois medi-los com o curvímetro. Duas técnicas executando uma mesma avaliação podem encontrar valores um pouco diferentes. Bacias com drenagem pobre Dd < 0,5 km/km2 Bacias com drenagem regular 0,5 ≤ Dd < 1,5 km/km2 Bacias com drenagem boa 1,5 ≤ Dd < 2,5 km/km2 Bacias com drenagem muito boa 2,5 ≤ Dd < 3,5 km/km2 Bacias excepcionalmente bem drenadas Dd ≥ 3,5 km/km2 Vamos exercitar!! 7 - DEMAE/GO - Engenheiro Civil – UFGO - 2017 Uma característica importante de bacias hidrográficas é o tempo de concentração em problemas envolvendo propagação de cheias. Pela diversidade dos parâmetros associados às bacias hidrográficas, várias equações empíricas foram desenvolvidas para estabelecimento do tempo de concentração. Neste sentido, o tempo de concentração de uma bacia é: A.o tempo necessário para o hidrograma atingir a vazão máxima, considerando uma precipitação de curta duração. B.o tempo diretamente proporcional à declividade média do curso d'água principal da bacia. C.o tempo inversamente proporcional ao comprimento do curso principal na bacia. 38 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO D.o tempo mais longo que uma partícula de água leva entre o início da precipitação e sua saída pelo exutório da bacia. SOLUÇÃO Há duas definições básicas de tempo de concentração. Tempo de concentração é o tempo em que leva para que toda a bacia considerada contribua para o escoamento superficial na seção estudada. O tempo de concentração é o tempo que leva uma gota de água mais distante até o trecho considerado na bacia. Conforme Centro Tecnológico de Hidráulica de São Paulo (CTH) os estudos de Taylor e Schwarz informam que influem sobre o tempo de concentração: Área da bacia Comprimento e declividade do canal mais longo Comprimento ao longo do curso principal, desde o centro da bacia até a seção de saída considerada. CARACTERÍSTICAS DO RELEVO DA BACIA O relevo de uma bacia hidrográfica tem grande influência sobre os fatores meteorológicos e hidrológicos, pois a velocidade do escoamento superficial é determinada pela declividade do terreno, enquanto que a temperatura, a precipitação e a evaporação são funções da altitude da bacia. a) declividade da bacia: quanto maior a declividade de um terreno, maior a velocidade de escoamento, menor Tc e maior as perspectivas de picos de enchentes. A magnitude desses picos de enchente e a infiltração da água, RESPOSTA D 39 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMOtrazendo como conseqüência, maior ou menor grau de erosão, dependem da declividade média da bacia (determina a maior ou menor velocidade do escoamento superficial), associada à cobertura vegetal, tipo de solo e tipo de uso da terra. b) altitude da bacia: os fatores climáticos estão relacionados com a altitude da bacia hidrográfica. O rio Paraíba do Sul tem sua nascente na Serra da Bocaina a 1800m de altitude, e sua foz localiza-se no município de São João da Barra – RJ, onde deságua no Oceano Atlântico. GEOLÓGICAS DA BACIA Tem relação direta com a infiltração, armazenamento da água no solo e com a suscetibilidade de erosão dos solos. CARACTERÍSTICAS AGRO-CLIMÁTICAS DA BACIA São caracterizadas principalmente pelo tipo de precipitação e pela cobertura vegetal. A bacia do rio Paraíba do Sul tem 65% de pastagem, 21% culturas e reflorestamento e 11% de floresta nativa (Mata Atlântica). FÍSICA DE BACIAS HIDROGRÁFICAS Uma bacia hidrográfica compreende toda a área de captação natural da água da chuva que proporciona escoamento superficial para o canal principal e seus tributários. O limite superior de uma bacia hidrográfica é o divisor de águas (divisor topográfico), e a delimitação inferior é a saída da bacia (confluência, exutório). O comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica é função de suas características morfológicas, ou seja, área, forma, topografia, geologia, solo, cobertura vegetal etc. A fim de entender as inter-relações existentes entre esses fatores de forma e os processos hidrológicos de uma bacia hidrográfica, torna-se necessário expressar as características da bacia em termos quantitativos. De acordo com o escoamento global, as bacias de drenagem podem ser classificadas em (CHRISTOFOLETTI, 1974): a) exorreicas: quando o escoamento da água se faz de modo contínuo até o mar, isto é, quando as bacias desaguam diretamente no mar; 40 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO b) endorreicas: quando as drenagens são internas e não possuem escoamento até o mar, desembocando em lagos, ou dissipando-se nas areias do deserto, ou perdendo-se nas depressões cársicas; c) arreicas: quando não há qualquer estruturação em bacias, como nas áreas desérticas; d) criptorreicas: quando as bacias são subterrâneas, como nas áreas cársicas. Da mesma forma como as bacias, também os cursos d’água podem, individualmente, ser objeto de classificação. De acordo com o período de tempo durante o qual o fluxo ocorre, distinguem-se os seguintes tipos de rios: a) perenes: há fluxo o ano todo, ou pelo menos em 90% do ano, em canal bem definido; b) intermitentes: de modo geral, só há fluxo durante a estação chuvosa (50% do período ou menos); c) efêmero: só há fluxo durante chuvas ou períodos chuvosos; os canais não são bem definidos. Dentro da bacia, a forma da rede de drenagem também apresenta variações. Em geral, predomina na natureza a forma dendrítica, a qual deriva da interação clima-geologia em regiões de litologia homogênea. Num certo sentido, considerando-se a fase terrestre do ciclo da água, pode-se dizer que a água procura evadir-se da terra para o mar. Assim fazendo, torna-se organizada em sistemas de drenagem, os quais refletem principalmente a estrutura geológica local. A descrição qualitativa dos diferentes sistemas de drenagem pode ser observada de acordo com os esquemas da Figura 5. Estes chamados padrões de drenagem podem ser observados pelo exame de mapas topográficos de diferentes províncias geológicas. Esta classificação, baseada mais em critérios geométricos do que genéticos, engloba os seguintes tipos: 41 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO a) dendrítica: lembra a configuração de uma árvore. É típica de regiões onde predomina rocha de resistência uniforme; b) treliça: composta por rios principais consequentes correndo paralelamente, recebendo afluentes subsequentes que fluem em direção transversal aos primeiros. O controle estrutural é muito acentuado, devido à desigual resistência das rochas. A extensão e a profundidade dos leitos serão maiores sobre rochas menos resistentes, dando formação a vales ladeados por paredes de rochas mais resistentes. Este tipo é encontrado em regiões de rochas sedimentares estratificadas, assim como em áreas de glaciação; c) retangular: variação do padrão treliça, caracterizado pelo aspecto ortogonal devido às bruscas alterações retangulares nos cursos fluviais. Deve-se à ocorrência de falhas e de juntas na estrutura rochosa; d) paralela: também chamada "cauda equina", ocorre em regiões de vertentes com acentuada declividade, ou onde existam controles estruturais que favoreçam a formação de correntes fluviais paralelas; e) radial: pode desenvolver-se sobre vários tipos e estruturas rochosas, como por exemplo, em áreas vulcânicas e dômicas; f) anelar: típica de áreas dômicas; a drenagem acomoda-se aos afloramentos das rochas menos resistentes. 42 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO Fig. 5 - Padrões de drenagem (CRISTOFOLETTI, 1974) Assim, em muitos casos a classificação dos padrões de drenagem de áreas distintas feita por diferentes autores, envolvia diferentes interpretações. Desta forma, visando a comparação de padrões de drenagem, assim como o relacionamento destes padrões com processos hidrológicos da bacia, exigia a elaboração de métodos de expressar os padrões de drenagem em termos quantitativos. Vamos exercitar! 8 - IBGE - Tecnologista - Engenharia Florestal - FGV - 2016 A área de uma bacia hidrográfica é limitada por um divisor de águas que a separa das bacias adjacentes e que pode ser determinado nas cartas topográficas. De acordo com o escoamento global, as bacias de drenagem que deságuam diretamente no mar são classificadas como: (A) arreicas; (B) endorreicas; (C) criptorreicas; (D) exorreicas; (E) efêmeras. SOLUÇÃO Endorréica – rios que correm para o interior. 43 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO Exorréica – rios que correm para os mares. Arréica – rios onde as águas evaporam antes de seguirem caminhos. Criptorréica – rios que são absorvidos por estruturas rochosas. PARÂMETROS FÍSICOS DE BACIAS HIDROGRÁFICAS Para entender o funcionamento de uma bacia, torna-se necessário expressar quantitativamente as manifestações de forma (a área da bacia, sua forma geométrica, etc.), de processos (escoamento superficial, deflúvio, etc.) e suas inter-relações. Vários parâmetros físicos foram desenvolvidos, alguns deles aplicáveis à bacia como um todo, enquanto que outros relativos a apenas algumas características do sistema. O importante é reconhecer que nenhum desses parâmetros deve ser entendido como capaz de simplificar a complexa dinâmica da bacia hidrográfica, a qual inclusive tem magnitude temporal. Estes parâmetros e suas inter-relações podem ser classificados em: a) parâmetros físicos: área, fator de forma, compacidade, altitute média, declividade média, densidade de drenagem, número de canais, direção e comprimento do escoamento superficial, comprimento da bacia, hipsometria (relação área-altitude), comprimento dos canais, padrão de drenagem, orientação, rugosidade dos canais, dimensão e forma dos vales, índice de circularidade, etc.; b) parâmetros geológicos: tipos de rochas, tipos de solos, tipos de sedimentos fluviais, etc.; c) parâmetros de vegetação: tipos de cobertura vegetal,espécies, densidade, índice de área foliar, biomassa, etc.; d) inter-relações: Lei do Número de Canais (razão de bifurcação), Lei do Comprimento dos Canais (relação entre comprimento médio dos canais e ordem), Lei das Áreas (relação entre área e ordem), etc.. RESPOSTA D 44 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO MODELOS HIDROLÓGICOS Antes de discutir os principais aspectos da modelagem hidrológica convém esclarecer o conceito de um ―modelo‖. A definição citada por Tucci (1998) é que se trata da ―representação de algum objeto ou sistema, em uma linguagem ou forma de fácil acesso e uso, com o objetivo de entendê- los e buscar suas principais respostas para diferentes entradas‖. Assim, considerando um modelo que represente um determinado sistema, quanto mais complexo este sistema for, mais desafiador e necessário é o modelo. No caso de uma bacia hidrográfica, o uso de modelos hidrológicos visa fundamentalmente entender seu comportamento para utilizar seus recursos e proteger suas características. Empregando os modelos hidrológicos, é possível prever ou estimar a resposta do sistema (uma bacia hidrográfica, um trecho de rio, uma parte do solo, um aqüífero, uma lagoa, etc) a diferentes situações, tais como a ocorrência de eventos extremos (precipitações de grande intensidade com elevado tempo de retorno), modificações do uso do solo, ocorrência de períodos de estiagem e cenários de planejamento e desenvolvimento da região. Em outras palavras, o modelo propicia simular situações que virão ou poderão vir a acontecer, como a urbanização de parte da bacia, o desenvolvimento das atividades econômicas, etc, procurando avaliar como o sistema modelado irá responder a tais alterações. Para sistema uma definição bastante citada é a de Doodge (1973) apud Tucci (1998), segundo a qual sistema ―é qualquer estrutura, esquema ou procedimento, real ou abstrato, que num dado tempo de referência interrelaciona-se com uma entrada, causa ou estímulo de energia ou informação, e uma saída, efeito ou resposta de energia ou informação‖. Simplificadamente, considera-se que o funcionamento do sistema consiste em responder a uma determinada entrada produzindo uma saída. Dentro desse contexto, o modelo seria, então, a representação do 45 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO sistema. Convém também deixar claro que o modelo hidrológico constitui uma ferramenta, de grande potencial e utilidade, mas que não deve ser encarado como um objetivo. O desenvolvimento de um modelo sem as informações necessárias para ―alimentá-lo‖ e sem a devida interpretação dos seus resultados gerados não auxilia no entendimento do comportamento dos sistemas. Por isso é fundamental que o profissional encarregado pelo uso do modelo tenha conhecimento dos processos físicos e do sistema que estão sendo modelados, bem como do próprio modelo. Dificuldades na aplicação de modelos hidrológicos A modelagem hidrológica geralmente é dificultada ou limitada por: - heterogeneidade física da bacia: uma bacia hidrográfica geralmente apresenta uma grande diversificação espacial do tipo do solo, cobertura vegetal, topografia, presença de áreas urbanas/impermeáveis, ocupação do solo, características da rede de drenagem, etc, o que dificulta a sua representação dentro de um modelo hidrológico; - heterogeneidade dos processos envolvidos: associada à heterogeneidade física da bacia, há a variação espacial da ―forma‖ e da ―intensidade‖ com que acontecem os processos que ocorrem e influenciam o sistema modelado; por exemplo, a infiltração da água precipitada no solo pode ocorrer de modo bastante distinto entre áreas relativamente próximas da bacia, dependendo do tipo de solo, da ocupação do terreno, do estado de umidade e compactação desse solo, etc; - informações disponíveis: a escassez de informações é, muitas vezes, um dos principais limitantes no detalhamento e representação dos processos dentro dos modelos hidrológicos; seja em termos quantitativos quanto qualitativos, a falta de informações que permitam uma caracterização suficiente do sistema a ser modelado pode levar a resultados gerados pelo modelo distante do fenômeno representado ou mesmo incapacitar a realização da modelagem; 46 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO - objetivo do estudo: este fator atua mais no sentido de direcionar a escolha do modelo a ser empregado, visto que, muitas vezes, o que se procura obter como resposta da modelagem pode não justificar o emprego de modelos hidrológicos mais complexos, que requeiram um maior esforço computacional, maior número de informações, etc; - recursos disponíveis: a limitação de recursos computacionais, de tempo, financeiros, e de pessoal qualificado também pode acabar restringindo a aplicação de modelos mais complexos, ou com um detalhamento maior dos processos a serem representados. Assim, o que ocorre geralmente é a simplificação do comportamento espacial das variáveis e dos fenômenos representados no modelo em diferentes graus, dependendo dos fatores anteriormente enumerados, motivada também pela dificuldade em formular matematicamente alguns processos. Aplicação dos modelos hidrológicos Vamos definições fundamentais para a compreensão da modelagem: fenômeno: processo físico que produz alteração no estado do sistema (exemplos: evaporação, infiltração, precipitação, etc); variável: valor que descreve quantitativamente um fenômeno, variando no espaço e no tempo (exemplo: vazão em um rio, que é a variável que descreve o estado do escoamento); parâmetro: valor que caracteriza o sistema, podendo também variar no tempo e no espaço (exemplos: área da bacia, coeficiente de permeabilidade do solo, rugosidade do rio, coeficiente de difusão, etc). simulação: processo de utilização do modelo. A simulação ou uso do modelo envolve basicamente três etapas: (i) estimativa ou ajuste; (ii) verificação; (iii) previsão. 47 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO (i) Estimativa ou ajuste dos parâmetros: essa fase é também conhecida como calibração do modelo e consiste na determinação dos valores dos parâmetros do mesmo; a estimativa de tais valores depende da disponibilidade de dados históricos, da medição de amostras e da determinação de características físicas do sistema. Há diferentes formas de se estimar os parâmetros do modelo: i.a – Estimativa sem dados históricos: esse caso é usado quando não há registros das variáveis dos sistemas, sendo os valores dos parâmetros determinados em função da caracterização física do sistema. Normalmente, a literatura especializada estabelece faixas de valores (intervalo de variação) para cada parâmetro, em função de observações em campo/laboratório ou do significado físico do parâmetro. i.b – Ajuste por tentativas: nessa situação, os parâmetros têm seus valores variados, sendo comparados os resultados do modelo com os valores das variáveis medidas. Por exemplo, em um modelo que simula a transformação chuva-vazão, um determinado parâmetro pode ser ajustado variando-se seu valor e observando como o hidrograma gerado pelo modelo se comporta em relação ao hidrograma medido – obviamente, procura-se o valor do parâmetro que melhor ajuste os valores calculados aos observados (que os torne mais próximos entre si). A decisão do melhor ajuste é baseada geralmente na análise visual (graficamente) ou através de coeficientes estatísticos.Este método requer a existência de valores medidos das variáveis de entrada e saída do modelo; i.c – Ajuste por otimização: esse caso é semelhante ao anterior, diferindo basicamente na forma com que os valores dos parâmetros são variados, buscando o melhor ajuste entre os valores calculados pelo modelo e os observados por medições. 48 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO Neste caso, é empregado algum método matemático que propicie o valor ótimo de cada parâmetro, como programação linear, não-linear, algoritmos genéticos, etc. i.d – Amostragem: aqui o valor do parâmetro é obtido por medição da característica específica do sistema; por exemplo, pode ser feita a análise em laboratório para determinação do coeficiente de permeabilidade do solo. (ii) Verificação: nesta fase o modelo já calibrado (ou seja, com os valores dos parâmetros ajustados) é verificado ou testado com outro conjunto de dados – valores das variáveis de entrada e saída distintos dos utilizados na fase de ajuste. Agora, os valores das variáveis de saída são usados apenas para comparação com o resultado gerado pelo modelo, sendo verificado se o modelo simula o sistema satisfatoriamente. (iii) Previsão: esta é a fase da simulação onde o modelo, estando ajustado e verificado, é utilizado para representar a saída do sistema para situações desconhecidas, como alternativas de projeto (intervenções na bacia) ou modificações futuras possíveis na bacia. É importante ressaltar que a qualidade dos resultados da previsão com o modelo é função da representatividade dos períodos de dados usados nas fases anteriores (ajuste e verificação), da discretização do sistema e da capacidade do modelo em simular as novas condições impostas. Classificação dos sistemas e modelos Assim, podemos ver algumas classificações dos sistemas e dos modelos, fazendo-se já a ressalva que nem sempre um sistema classificado como um certo tipo será representado por um modelo do mesmo tipo – as classificações são independentes. Concentrado x distribuído O modelo concentrado é caracterizado por não levar em conta a variabilidade espacial das variáveis, que são consideradas funções apenas 49 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO do tempo. Já o modelo dito distribuído têm variáveis e parâmetros que variam ao longo do espaço (além do tempo). O exemplo mais clássico são os modelos chuva-vazão (que simulam a transformação da chuva em vazão), onde os concentrados consideram a bacia como um elemento único e os distribuídos subdividem-na em áreas menores, fazendo a referida transformação em cada uma dessas sub- áreas. A rigor, não existiria modelo distribuído, pois ele seria concentrado em cada subdivisão menor. Estocástico x determinístico Na modelagem estocástica, é considerada a chance de ocorrência das variáveis, ao ser introduzido o conceito de probabilidade. O modelo determinístico, por sua vez, segue uma lei definida, sem considerar as chances de ocorrência dos valores das variáveis. Simplificadamente, pode- se afirmar que enquanto o modelo determinístico ―produz‖ a mesma saída para uma mesma entrada, no modelo estocástico a relação entre entrada e saída é estatística (há chances de ocorrência para cada determinado valor). Conceitual x empírico Um modelo é referido como conceitual quando as funções utilizadas levam em consideração os processos físicos, enquanto no modelo empírico as funções empregadas foram desenvolvidas para ajustar os valores medidos e observações em campo/laboratório, sem retratar o processo físico em si. Dentro do contexto de gerenciamento dos recursos hídricos, pode-se dividir os modelos em três categorias principais: - modelos de comportamento, que são utilizados para descrever o comportamento dos sistemas e, desse modo, prognosticar a resposta do sistema a diferentes situações; exemplos: modelo de circulação da água e transporte de contaminantes em um rio; modelo chuva-vazão; etc. - modelos de otimização, que procuram obter a ―melhor‖ solução para uma determinada situação, atendendo a objetivos pré-definidos; exemplo: modelo de operação de reservatório; 50 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO - modelos de planejamento, que simulam condições globais de um sistema maior (acoplam modelos de comportamento e de otimização); A seguir são enumerados alguns exemplos de modelos hidrológicos: - modelos que simulam o escoamento da água em rios, lagos, banhados, etc, como os modelos hidrodinâmicos uni, bi ou tridimensionais; - modelos de transformação chuva-vazão; - modelos de escoamento das águas subterrâneas; - modelos de operação de reservatórios; - modelo de balanço hídrico no solo; - modelo de previsão de cheias; - modelo de transporte de constituintes e de reações cinéticas (modelagem de qualidade de água), os quais podem estar acoplados a modelos de circulação da água, a modelos chuva-vazão, modelos de águas subterrâneas, etc. 51 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO INTRODUÇÃO À HIDRAÚLICA Hidráulica, em seu conceito mais simples, é a arte de captar, conduzir, elevar e utilizar a água, aplicando-lhe as leis da mecânica dos líquidos. Pode ser definida como a parte da Mêcanica Aplicada que estuda o comportamento da água e dos demais líquidos em repouso ou em movimento, estabelecendo leis respectivas.O significado etimológico da palavra hidráulica é condução de água, do grego hydor, água e aulos, tubo, condução.Dessa forma, podemos definir a hidráulica como sendo: A CIÊNCIA QUE ESTUDA O COMPORTAMENTO E AS APLICAÇÕES DOS FLUIDOS PARA TRANSFORMAÇÃO E CONDUÇÃO DE ENERGIA. Podem-se definir fluidos como sendo todas as substâncias que escoam, assumindo a forma do recipiente em que estão sendo colocados. A hidráulica se divide em • Hidráulica teórica Hidrostática Hidrodinâmica • Hidráulica Aplicada Hidráulica Urbana: esgoto, abastecimento de água e tratamento; Hidráulica Rural: irrigação, drenagem; Hidráulica Fluvial: rios, canais; 52 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO Hidráulica Marítima: portos, obras marítimas. A hidráulica, no nosso dia a dia, tem diversas utilidades e abrange diversos campos, como problemas de abastecimento de água na agricultura, na indústria e na cidade; irrigação, drenagem, conservação do solo e da água, saneamento de áreas alagadas; estações de tratamento de água, problemas de segurança com controle de enchentes; geração de energia em hidrelétricas; bombeamento em poços profundos, etc. Fig 1.: Utilização da hidraúlica em nossos dias 53 NOÇÕES DE HIDROLOGIA E HIDRÁULICA ENGENHEIRO AGRONÔMO EVOLUÇÃO DA HIDRÁULICA Os trabalhos hidráulicos são conhecidos desde a mais remota Antiguidade.Na Mesopotâmia existiam os canais destinados à irrigação, construídos nas terras vizinhas aos rios Tigre e Eufrates. Na Babilônia, no ano 3750 a.C.,haviacoletores de esgotos. No Egito, por volta de 2500 a.C., foram construídas diversas obras destinadas à irrigação. Durante a XII Dinastia, foram realizadas diversas obras hidráulicas, como o lago artificial de Méris, para a regularização das águas do baixo Nilo. O primeiro sistema público de abastecimento de água apareceu na Assíria, em 691 a.C.,tendo recebido o nome de aqueduto Jerwa.
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