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1350 • ATUALIZAÇÃO TERAPÊUTICA • MANUAL PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO • 418 Radioterapia Antineoplásica Roberto Araújo Segreto Helena Regina Comodo Segreto R adioterapia é o uso da radiação ionizante, produzida em apa-relhos ou obtida de radioisótopos naturais ou artificiais, pa- ra fins terapêuticos. A radiação ionizante começou a ser usada para tratamento de doenças logo após a descoberta dos raios-X por Roentgen em 1895. Muitos efeitos adversos ocorreram devido ao seu uso em- pírico, até que em 1934 surgiram com Regaud e Coutard as bases para a radioterapia fracionada e protraída. O principal objetivo da radioterapia é destruir o tecido doente e ao mesmo tempo preservar o tecido normal adjacen- te. O avanço tecnológico atual tem permitido o desenvolvimen- to de equipamentos, que possibilitam a escolha de diferentes tipos de radiação, com diferentes energias, para tratamento de tumores, por exemplo, em suas diversas localizações anatômicas (superficiais ou profundas). Esses avanços possibilitam ainda o uso da radio- terapia conformacionada com planejamento em 3D que permite esculpir a dose desejada ao redor do alvo e a modulação do feixe de radiação (IMRT) que, além disso, permite o escalonamento da dose dentro do campo a ser irradiado. Além da evolução dos apa- relhos, o desenvolvimento da radiobiologia tem propiciado me- lhor entendimento das respostas dos diferentes tecidos (normais e anormais) à radiação, implementação de protocolos com diferen- tes fracionamentos, associação de drogas sensibilizadoras e prote- toras visando melhor resposta terapêutica, otimização do tratamen- to e maior sobrevida dos pacientes. A radiação ionizante pode interagir diretamente com com- ponentes celulares como DNA, proteínas e lipídios. É o chama- do efeito direto, que constitui cerca de 30% do efeito biológi- co das radiações. Pode também interagir com um dos principais constituintes do meio intracelular, a água, produzindo radicais li- vres. Nesse caso, temos o efeito indireto, que corresponde a cerca de 70% do efeito biológico produzido pelas radiações. A radiação ca de neutrófilos e a resposta linfocítica Th2 indutora das céluals dendríticas. Há duas formas recombinantes de G-CSF disponíveis: uma glicosilada, a lenograstina e outra não glicosilada, filgrastima. Filgrastima é gli- coproteína de 175 aminoácidos produzida na bactéria E. coli. É administrada por injeção subcutânea ou IV na dose de 1 a 20 µg/kg/dia, geralmente 5 µg/kg/ dia, até que o número de granulócitos fique acima de 1500/µL em dois dias consecutivos. Os efeitos colate- rais são dor lombar e raramente vasculite necrotizante ou complicações hemorrágicas e trombóticas. As indi- cações para o uso dessa droga são várias, mas preferen- cialmente deve ser usada em pacientes que estão tempo- rariamente granulocitopênicos e febris devido ao efeito de drogas quimioterápicas ou de radioterapia. Nesses casos o G-CSF levará à recuperação mais rápida do ní- vel de neutrófilos. Alguns trabalhos não conseguiram comprovar grande eficácia terapêutica, principalmen- te em pacientes que receberam quimioterapias intensi- vas em altas doses, pois não detectaram diminuição no uso de antibióticos ou alteração na sobrevida. Já nos ca- sos de quimioterapia não tão intensiva, mas que sabida- mente levará à neutropenia, o uso de G-CSF mais pre- coce resulta em grande ganho com recuperação mais precoce. No caso de idosos com LMA, tem sido usada juntamente com esquemas citotóxicos na tentativa de abreviar a neutropenia. Um outro uso da filgrastima é na mobilização de células CD34 para coleta de células troncoperiféricas para transplante autólogo. A dose pa- ra tanto é 10 µg/kg/dia por 5 dias seguida de aférese para a coleta das células CD34 positivas. - GM-CSF, fator de crescimento granulocítico-macro- fágico (molgramostima) tem os mesmos efeitos que o GCSF, embora apresente mais reações colaterais. A do- se é 300 µg/dia. - eritropoetina (Epo) é hormônio endógeno produzido pe- lo rim que regula a produção de eritrócitos. Tornou-se a principal droga no tratamento da anemia da insuficiência renal em fase terminal para diminuir a necessidade trans- fusional, mas também está inidicada no tratamento da anemia relacionada à zidovudina em pacientes com HIV, no tratamento de anemia concomitante a quimioterapia para malignidade não mielóide, anemia de pacientes que vão se submeter a cirurgia eletiva, não cardíaca, não vas- cular ou com alto risco de necessitar de transfusão perio- peratória, além de anemia relacionada ao câncer ou ao tratamento de câncer, anemia de doença crônica e ane- mia falciforme. Efeitos colaterais são hipertensão, con- vulsões, eventos trombóticos. Seu uso como estimulante em indivíduos normais (doping do atleta) pode amea- çar a vida. A dose recomendada é 150 a 300 UI/kg via subcutânea por dia 3 vezes por semana. - interleucina 2 (frasco ampola 18x106/UI) é glicopro- teína de 15,5k Da que exerce seu efeito em células T ativadas, células natural killer (NK) e células B. Dose habitual: 600.000-720.000 UI/kg/dia/5 dias a ca- da 7 dias, por 2 ciclos. Toxicidade: edema intersticial. Usado para LMA, linfoma não-Hodgkin, transplante de medula óssea, carcinoma de células renais. - interleucina 11 (oprelvecina) (TPO), fator de cresci- mento trombopoético que estimula diretamente todas as fases de desenvolvimento do megacariócito desde os progenitores primitivos até os megacariócitos ma- duros. Está indicado a pacientes com trombocitopenia grave na dose de 50 µg/kg/dia via subcutânea iniciado 6 a 24 h após o término da quimioterapia. Deve prosse- guir até que o número de plaquetas atinja 50.000/µL, o que ocorre em cerca de 10 a 21 dias. Anualmente são testadas e aprovadas novas drogas para uso terapêutico e foram liberados o alemtuzumab e a capecitabina, dentre outros. Há diversas formas de abordagens experimentais promisso- ras tais como a terapia gênica que tem sido usada para tornar as cé- lulas tumorais sensíveis especificamente a drogas terapêuticas; te- rapia “anti-sense” que é forma experimental de bloqueio de ação de genes específicos e utiliza-se de DNA de hélice simples de cur- ta extensão produzido em laboratório para bloquear o RNA men- sageiro. Os pequenos pedaços de DNA ligam-se ao RNAm, blo- queando a produção protéica. • ONCOLOGIA • 1351 ionizante interage de modo não seletivo e com qualquer compo- nente celular. Há. Porém. na literatura, dados consistentes suge- rindo que o DNA é o alvo mais importante para os efeitos citotó- xicos da radiação. Importante efeito da radiação, de relevância clínica para a radioterapia, é a indução da morte celular. Esta pode ocorrer por falência reprodutiva ou morte clonogênica, que se caracteriza pe- la perda da capacidade de divisão celular. Neste caso, a célula ir- radiada permanece morfologicamente íntegra, muitas vezes con- segue realizar uma ou duas mitoses, mas perde a capacidade de dividir-se inúmeras vezes ao longo da vida. Considerando o ciclo celular, a fase de mitose (M) é extremamente sensível à radiação, pois existe grande possibilidade de “fixação” de lesão radioinduzi- da. Acredita-se que este fato ocorra devido à grande compactação do DNA. Isso aumenta a probabilidade de interação, provocando aberrações cromossônicas e morte celular, o que corresponde ao aumento da radiossensibilidade. A grande compactação da croma- tina torna as lesões inacessíveis às enzimas reparadoras. A radiação ionizante induz também a morte por apoptose. Este é mecanismo ativo de morte celular, que ocorre inclusive em situações fisiológicas, em oposição à mitose - são ativadas enzimas que produzem a hidrólise do DNA. Há também controle genético no qual estão envolvidos genes que inibem (protooncogene bcl-2) e outros que induzem (gene supressor de tumor p53)o processo. Para a radioterapia, os dois mecanismos de morte celular são im- portantes. Atualmente, considera-se que a capacidade das células e tecidos (normais e anormais) de responderem rapidamente à ra- diação deve-se à indução da apoptose. Porém, para o controle lo- cal da doença, é relevante também a morte clonogênica, pois não basta que as células do tecido doente morram. É importante que percam a capacidade reprodutiva e não voltem a crescer. Dessa forma, após interação da radiação ionizante com o meio biológico, alterações celulares e moleculares são produzidas. Tais alterações podem ser reparadas (e as células sobrevivem), mal reparadas (e induzir doenças como neoplasias) ou provocar a mor- te celular. Em conseqüência, podem ocorrer disfunções em tecidos, órgãos e sistemas que levam a diversas manifestações clínicas. Os efeitos biológicos radioinduzidos podem ser somáticos e/ou gené- ticos, agudos e/ou tardios, reversíveis ou irreversíveis. Existe diferença na resposta radiobiológica entre o tecido normal e o doente, bem como entre os diferentes tecidos normais, do ponto de vista de lesão. A resposta está relacionada com a ca- pacidade da célula de reparar ou não as lesões radioinduzidas. Os tecidos de resposta rápida são aqueles que apresentam as manifes- tações clínicas de lesão em curto período de tempo depois da ir- radiação. São exemplos de tecidos de resposta rápida: pele, muco- sas, tecido hemocitopoético, tecido linfóide, aparelho digestivo e certos tumores. Associam-se à resposta rápida destes tecidos a alta atividade mitótica (fase bastante radiossensível do ciclo celular) e a grande suscetibilidade à apoptose dos mesmos. Os tecidos de res- posta lenta são aqueles que apresentam alterações em tempo mais prolongado após irradiação. São eles os tecidos ósseo, conjunti- vo, muscular e nervoso, que possuem baixa atividade proliferati- va. Associam-se à resposta lenta a morte clonogênica das células e a menor suscetibilidade à apoptose. Os tecidos de resposta rápida, nos quais as células morrem rapidamente após irradiação, praticamente não reparam as lesões radioinduzidas. Porém, devido à alta capacidade mitótica de suas células, as células precursoras que escaparam da morte possuem grande probabilidade de dividir e repopular, mantendo assim a homeostase do tecido, dependendo da dose de radiação. Os teci- dos de resposta lenta apresentam capacidade de reparar as lesões radioinduzidas, dependendo da dose de radiação. Tal capacidade, porém, é limitada; quando ultrapassada, a lesão será estabelecida. As células lesadas e não reparadas morrem e não são substituídas, uma vez que tais tecidos têm pequena atividade mitótica. A res- posta dos tecidos à radiação depende ainda do tipo de exposição, se em pequenas regiões ou em corpo inteiro, e também da dose. Após exposições acidentais a altas doses de radiação em corpo intei- ro, ocorre a síndrome aguda das radiações (SAR). As doses baixas de radiação, que permitem o reparo, podem induzir instabilidade genética (lesão/reparo) e relacionam-se com mutações e neopla- sias, se as lesões radioinduzidas forem mal reparadas. Doses maio- res de radiação, inclusive as usadas na clínica, relacionam-se com a morte e não com a transformação celular. Durante a radioterapia, são usadas habitualmente doses fra- cionadas de radiação em campos localizados. É inevitável, no en- tanto, que parte do tecido normal seja incluído no campo a ser irradiado. É importante, porém, respeitar a tolerância do tecido normal, ou seja, a dose máxima de radiação que irá tolerar. Deve- se permitir a recuperação do tecido normal (reparo e/ou divisão celular). Se a dose de tolerância for ultrapassada, poderão ocorrer alterações importantes e irreversíveis - uma vez estabelecidas, pou- co se pode fazer para revertê-las. A dose de tolerância varia depen- dendo das características biológicas do tecido, do volume de teci- do irradiado, tipo de radiação e fracionamento da dose. Com os estudos de Strandqvist em 1944 surgiram as primei- ras observações clínicas correlacionando o efeito da radiação ioni- zante em tumores de pele e no tecido normal, em função da do- se, do fracionamento e do tempo total de duração do tratamento, por meio de curvas do isoefeito. Para o cálculo do isoefeito surgiram conceitos, fórmulas co- mo a NSD (nominal standard dose), que hoje possui apenas im- portância histórica, e tabelas como a TDF (tempo, dose e fracio- namento), bastante difundida e usada atualmente. O cálculo do isoefeito também pode ser baseado em parâmetros de curvas de sobrevida, como o modelo linear quadrático. Esse modelo propõe que os eventos letais induzidos pela radiação são conseqüentes a dois componentes: linear (α) e quadrático (β). O componente li- near (α) assume que o número de eventos letais é proporcional a dose de radiação, deve-se a uma passagem (track) do elétron (αD), e expressa a lesão irreparável. O componente quadrático (β) pro- põe que o número de eventos letais é proporcional ao quadra- do da dose, em que dois eventos subletais (que podem ser repa- rados), interagem para produzir um evento letal, e é conseqüente a duas passagens (track) do elétron (βD2). Os tecidos de resposta rápida têm alto componente a, isto é, sofrem grande quantidade de lesão irreparável, morrem rapidamente e praticamente não re- param a lesão radioinduzida. Esses tecidos possuem grande capa- cidade mitótica para repopulação e alto valor da razão α/β, da or- dem de 10 Gy. Os tecidos de resposta lenta têm alto componente b, ou seja, possuem potencial para reparar a lesão radioinduzida desde que a tolerância dos mesmos seja respeitada, porém pratica- mente não se dividem. Tais tecidos possuem baixo valor da razão α/β, da ordem de 2 Gy. A razão α/β caracteriza matematicamen- te a resposta biológica dos diferentes tecidos (resposta rápida/res- posta lenta), mede a radiossensibilidade dos tecidos às alterações da dose por fração e permite cálculo matemático durante o pla- nejamento radioterápico. Existem tabelas com os valores da razão α/β calculados para os vários tecidos que têm sido utilizadas por físicos e radioterapeutas. Importante comentar ainda que em 1985 as unidades usadas em radioterapia foram modificados segundo o Sistema Internacional (SI) e a unidade de exposição R (Roentgen) foi substituída pelo coulomb por quilograma (C/kg) e o rad (dose de radiação absor- vida) substituído pelo Gray (1 Gy = 100 rad). 1352 • ATUALIZAÇÃO TERAPÊUTICA • MANUAL PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO • Indicações A radioterapia pode ser usada de forma paliativa, curativa ou complementar, para doenças malignas e benignas, e está indicada com as seguintes finalidades: antiinflamatória: devido a seus efeitos na liberação de subs- tâncias vasoativas e na indução da morte das células inflamatórias. São administradas doses baixas, principalmente nos casos de pro- cessos inflamatórios crônicos e recidivantes, como na doença de Dupley e na exoftalmia secundária ao hipertiroidismo. Modificadora do trofismo dos tecidos: pode produzir efei- to frenador ou ativador funcional, dependendo do tecido, fraciona- mento e dose da radiação. É também administrada em doses baixas (menores que as usadas para neoplasias malignas) em alguns ca- sos de adenoma de hipófise, hipofisectomia e castração (temporá- ria ou definitiva). Para a prevenção da recidiva de pterígeo e que- lóides pode-se usar betaterapia com estrôncio (90Sr). antineoplásica: constitui sua maior indicação. É impres- cindível a classificação do tumor em cada uma de suas localizações anatômicas e o estadiamento. São condutas fundamentais para de- cidir a melhor abordagem terapêutica, estratégia multidisciplinar e prognóstico. Protocolos Fracionamento convencional: consiste em administrar 1,8 a 2 Gy por fração, diariamente, cinco dias na semana (desegunda a sexta feira) durante cerca de cinco semanas. A dose total é determi- nada pelo tipo do tumor em tratamento e pela tolerância do tecido normal adjacente (geralmente varia entre 60 a 70 Gy). Os chamados 4Rs da radioterapia tentam explicar por que o fracionamento de dose funciona. O fracionamento da do- se na radioterapia está fundamentado no fato de que, dividin- do-se a dose de radiação, poupam-se os tecidos normais, devido ao reparo da lesão subletal (RLSL) entre as frações e também de- vido à repopulação das células. Ao mesmo tempo, dividindo-se a dose em frações aumenta-se a quantidade de lesão nas células tumorais em conseqüência da reoxigenação (oxigênio sensibiliza as células à ra- diação) e redistribuição das células nas fases sensíveis do ciclo celular. Este é o protocolo mais usado na rotina da radioterapia. Hiperfracionamento: consiste em administrar doses meno- res por fração do que no fracionamento convencional e maior nú- mero de frações, sem alterar o tempo de duração do tratamento; geralmente são usadas frações de 1,15 a 1,25 Gy duas vezes ao dia. O intervalo entre as frações não deve ser inferior a quatro horas para dar tempo de ocorrer o RLSL no tecido normal de resposta lenta. É indicado quando o tratamento convencional está limitado pela tolerância do tecido normal de resposta lenta. Este esquema permite aumentar a dose final em 15 a 20% sem aumentar a quan- tidade de lesão no tecido normal de resposta lenta em compara- ção com o tratamento convencional. fracionamento acelerado e hiperfracionamento acelerado: a finalidade é encurtar o tempo total de tratamento e estão indicados para tumores de crescimento rápido. Geralmente são tumores cujo tempo potencial de dobra, Tpot (tempo de dobra de população ce- lular que prolifera continuamente e não apresenta fração de perda de células) é menor que quatro dias – podemos citar certos tumo- res de cabeça e pescoço. O fracionamento acelerado pode ser reali- zado seis dias por semana ou sete vezes em cinco dias, por exemplo. O mais comum é fazer o tratamento convencional mais boost (fe- char o campo de radiação e administrar fração de dose maior nesse local). Se o tratamento for realizado duas vezes por dia, o intervalo mínimo de quatro horas entre as frações deve ser respeitado. Quanto ao hiperfracionamento acelerado, pode-se adminis- trar, duas vezes por dia, dose por fração que esteja no limite supe- rior do hiperfracionamento (1,25 Gy) e no limite inferior do fracio- namento convencional, ou seja, menor que 1,8 Gy. Portanto, 1,6 Gy duas vezes por dia representa esquema de hiperfracionamen- to acelerado. O tecido normal de resposta rápida apresenta maior toxicidade, limitando o tratamento. Por isso, é necessário fazer in- tervalo durante as aplicações, que deve ser o menor possível pa- ra evitar a regeneração do tumor. O efeito tardio é praticamente o mesmo que para o tratamento convencional. radiocirurgia: foi desenvolvida por Leksell para tratamen- to de lesões não-malignas no cérebro, particularmente as malfor- mações artério-venosas (MFA), administrada em dose alta e única. O objetivo é causar lesão nas células endoteliais presentes, mor- te celular, reação inflamatória e fibrose. A resposta tardia ocorre em semanas ou meses após o tratamento. A radionecrose cerebral é fator limitante para o tratamento. A dose de radiação usada, 15 Gy, foi calculada com base na tolerância do cérebro. A dose úni- ca de 15 Gy corresponde à tolerância do cérebro a 60 Gy em 30 frações. A dose única é usada porque o tecido que se deseja des- truir (malformação vascular) e o tecido normal (cérebro), respon- dem de modo semelhante à radiação. São ambos de resposta len- ta, apresentam alta quantidade de lesão b (baixo valor da razão α/β) e portanto podem reparar a lesão radioinduzida com o fra- cionamento de dose. Assim, não há vantagem em usar tratamento com doses fracionadas. Mais recentemente, a técnica foi adapta- da para o tratamento de tumores malignos pequenos e metásta- ses no cérebro (radioterapia estereotáxica). Nesse caso, os princí- pios radiobiológicos são diferentes daqueles para doenças benignas. Para os tumores cerebrais, o fracionamento aumenta o ganho te- rapêutico, pois o tumor representa tecido de resposta rápida (al- ta quantidade de lesão irreparável a, alta razão α/β) em rela- ção ao cérebro (alta quantidade de lesão reparável β, baixa razão α/β). Além de possuírem diferentes razões α/β e as células cere- brais terem maior capacidade de reparar as lesões radioinduzidas que o tumor, o fracionamento propicia maior quantidade de lesão nas células tumorais, pois permite reoxigenação entre as frações. Nesse caso, interessa explorar o fracionamento. Prevenção da reestenose: a técnica consiste em adminis- trar radiação, geralmente com irídio 192 (192Ir) em alta taxa de do- se, e em seguida realizar a angioplastia para retirada da obstrução. Acredita-se que o mecanismo básico de reestenose é devido à pro- liferação e migração das células musculares lisas da camada média dos vasos para a íntima, e à falência da lâmina elástica em aumen- tar de forma correspondente. A dose necessária para provocar definitivamente a morte clo- nogênica das células musculares lisas que podem causar a reeste- nose é maior do que 20 Gy, administrada em menos de uma ho- ra. Porém, as complicações tardias nas artérias são inaceitáveis. No entanto, doses menores retardam a reestenose em um a três anos. Acredita-se que a dose mínima eficaz para que as células muscu- lares lisas fiquem com capacidade limitada de divisão é de 15 Gy. Irradia-se o local, retira-se a obstrução e posteriormente, com as células musculares lisas incapazes de divisão, evita-se a reestenose. A fibrose provocada pela radiação nas paredes da ferida funciona como barreira para difusão de mediadores de quimiotaxia e de ci- tocinas para a proliferação celular. Também pode funcionar como barreira física para a migração celular. condicionamento para transplante de medula óssea (TMO): atualmente, a maioria dos centros usa a radioterapia fra- cionada e baixa taxa de dose para o condicionamento do TMO. Os esquemas variam: 2 Gy dia (dose total de 12 Gy), 2 Gy duas vezes ao dia (dose total 12 Gy), 1,2 Gy três vezes ao dia em 11 frações • ONCOLOGIA • 1353 (total 13,2 Gy), entre outros. A taxa de dose pode variar entre 2,5 e 20 cGy/min, porém são usadas predominantemente taxas de 5 a 7 cGy/min. O objetivo do condicionamento para TMO é criar espaço na medula óssea (mo) do paciente para o enxerto desenvol- ver-se, imunossuprimir o receptor e matar célula leucêmica residual. Os fatores que devem ser considerados em relação à radiação são: qualidade da mesma (energia), dose total, taxa de dose, fraciona- mento, tempo de tratamento, heterogeneidade da dose. O uso da radioterapia fracionada e em baixa taxa de dose favorece o RSLS nas células do estroma da medula óssea, indispensáveis para o de- senvolvimento do enxerto, e também em outros tecidos normais de resposta lenta como pulmão, fígado e rim. Como conseqüên- cia, diminui o número de complicações e a morbidade. Braquiterapia: consiste no implante de fontes radioativas direta- mente no tumor. Há duas formas: irradiação intracavitária usando fon- tes radioativas colocadas na cavidade, próximas ao tumor, e intersticial, com sementes implantadas diretamente no volume do tumor. A braquiterapia intracavitária com baixa taxa de dose é ge- ralmente temporária e demora de um a quatro dias (taxa de dose de cerca de 50 cGy/h). Pode ser usada em vários locais, porém o mais comum é o colo do útero. Atualmente, a maioria dos centros usa como fonte o irídio 192 (192Ir). A braquiterapia intracavitária em baixa taxa de dose tem sido substituída pela alta taxa de dose, dada em 3 a 12 frações. Com a substituição abre-se mão da vanta- gem radiobiológicade poupar o tecido normal de resposta lenta. Isso é possível porque o tumor de colo de útero é situação na qual os principais tecidos que limitam a dose (bexiga e reto) recebem dose menor do que a prescrita para o tumor. O tratamento com alta taxa de dose, que dura poucos minutos, permite o uso de re- tratores, resultando em doses menores nos tecidos normais críti- cos do que em inserção que dure 24 horas ou mais. As vantagens físicas sobrepõem-se às desvantagens radiobiológicas. A braquiterapia intersticial pode ser temporária ou perma- nente e o material utilizado é o 192Ir. A dose máxima que pode ser administrada sem produzir lesão inaceitável no tecido normal de- pende do volume a ser irradiado e da taxa de dose, que é função do número de fontes usadas e de sua distribuição geométrica. Para haver resposta biológica consistente, a dose total deve variar de- pendendo da taxa de dose. Para a braquiterapia intersticial permanente são usadas fon- tes seladas com meia-vida curta. É vantajoso para o paciente, pois não é necessário realizar cirurgia para remoção da fonte e o indi- víduo pode ir para casa com o implante no local. No início, a taxa de dose é alta e diminui com a diminuição da atividade da fonte. O iodo 125 (125I) tem sido amplamente usado. A dose total prescri- ta é de 160 Gy na periferia do volume do implante. Destes, 80 Gy são liberados na primeira meia-vida do iodo, de 60 dias. Do pon- to de vista radiobiológico, o sucesso do implante em esterilizar o tumor depende do ciclo celular das células clonogênicas tumorais. Tumores que apresentam grande capacidade de reparo nas células clonogênicas são menos suscetíveis à braquiterapia em baixa taxa de dose, pois podem reparar a lesão radioinduzida continuamente durante exposição protraída. Por outro lado, a dose acumulada du- rante todo o ciclo celular é importante indicador da letalidade das células tumorais na braquiterapia. Determinada taxa de dose em irradiação contínua é mais lesiva às células com ciclo celular lon- go do que naquelas com ciclo celular curto, pois maior dose será absorvida durante o ciclo. Dessa forma, tumores de crescimento lento como o carcinoma de próstata, por exemplo, representam si- tuação em que o implante com 125I está bem indicado, pois maior quantidade de radiação é absorvida por ciclo celular. A vantagem do 125I é a emissão de fótons de baixa energia (cerca de 30 keV). Isso não faz diferença na distribuição da dose do tumor, mas simplifica o problema da proteção radiológica. Ainda, a dose decai rapidamente fora do volume tratado e doses em re- giões distantes do implante são bastante reduzidas. A radioterapia pode ainda ser associada a drogas sensi- bilizadoras e protetoras. Entre os radiossensibilizadores pode- mos citar os sensibilizadores de células hipóxicas (derivados do nitroimidazol), compostos biorredutores (mitomicina) e qui- mioterápicos em geral. Quanto aos radioprotetores, podem ser usados antioxidantes como a vitamina E e os compostos tióis de radioterapia, entre outros. Essas drogas, sensibilizadoras e protetoras, são usadas em protocolos especiais de radioterapia, pois ainda existem dificuldades quanto à adequação das doses das drogas, da radiação, e ainda, toxicidade. No momento, mais usada na clínica é a associação da radiação com quimioterápicos, visando melhor controle do volume irradiado e das lesões me- tastáticas a distância. Os quimioterápicos agem como sensibili- zadores devido aos seus efeitos citotóxicos e aumentam a quan- tidade de morte celular. Outra possibilidade é a associação da radioterapia com a ci- rurgia. A radioterapia pré-operatória visa reduzir grandes volumes tumorais, aumenta a ressecabilidade e a esterilização, e diminui o risco de disseminação neoplásica pelo manuseio do tumor. Pode- se também realizar a radioterapia intra-operatória. Com o pacien- te anestesiado, a área tumoral é exposta e o feixe de radiação di- recionado para a região a ser tratada, evitando-se irradiar o tecido normal. A dose única e alta é empregada. Com maior freqüência, a radioterapia pós-operatória é utilizada. Esta possibilita esteriliza- ção do foco subclínico do tumor no local primário e em região de drenagem linfática. Aspecto bastante relevante é o acompanhamento clínico e laboratorial do paciente durante e depois da radioterapia, com objetivo de controle da doença e dos eventuais efeitos indesejá- veis radioinduzidos. Os principais efeitos colaterais observados agudamente no decorrer do tratamento são: náusea, vômito, diarréia, reação em pe- le e alterações hematológicas (leucopenia e plaquetopenia). Como seqüelas tardias podem ocorrer: fibrose, alterações vasculares, alo- pecia, que variam dependendo do local, volume corporal irradia- do, da radiossensibilidade do tecido normal adjacente ao doente e da dose de radiação utilizada. As seqüelas após tratamento são minimizadas e contornáveis, fazendo-se planejamento radioterápico adequado, escolha do tipo e energia da radiação, dose de radiação, composição de campos e principalmente acompanhamento médico do paciente durante o tratamento e depois, periodicamente. Divisão esquemática da radioterapia Teleterapia (externa e a distância) - Estática - Contatoterapia - Radioterapia clássica - Cinética - Arco - Rotatória - Radiocirurgia e radioterapia estereotáxica Braquiterapia (sementes, fios, líquidos) - Intersticial - Intracavitária - Aberta - Fehada - Interna
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