Buscar

418 Radioterapia Antineoplásica-desbloqueado

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1350 • ATUALIZAÇÃO TERAPÊUTICA • MANUAL PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO • 
418	Radioterapia Antineoplásica
Roberto Araújo Segreto
Helena Regina Comodo Segreto
R adioterapia é o uso da radiação ionizante, produzida em apa-relhos ou obtida de radioisótopos naturais ou artificiais, pa-
ra fins terapêuticos.
A radiação ionizante começou a ser usada para tratamento 
de doenças logo após a descoberta dos raios-X por Roentgen em 
1895. Muitos efeitos adversos ocorreram devido ao seu uso em-
pírico, até que em 1934 surgiram com Regaud e Coutard as bases 
para a radioterapia fracionada e protraída.
O principal objetivo da radioterapia é destruir o tecido 
doente e ao mesmo tempo preservar o tecido normal adjacen-
te. O avanço tecnológico atual tem permitido o desenvolvimen-
to de equipamentos, que possibilitam a escolha de diferentes tipos 
de radiação, com diferentes energias, para tratamento de tumores, 
por exemplo, em suas diversas localizações anatômicas (superficiais 
ou profundas). Esses avanços possibilitam ainda o uso da radio-
terapia conformacionada com planejamento em 3D que permite 
esculpir a dose desejada ao redor do alvo e a modulação do feixe 
de radiação (IMRT) que, além disso, permite o escalonamento da 
dose dentro do campo a ser irradiado. Além da evolução dos apa-
relhos, o desenvolvimento da radiobiologia tem propiciado me-
lhor entendimento das respostas dos diferentes tecidos (normais e 
anormais) à radiação, implementação de protocolos com diferen-
tes fracionamentos, associação de drogas sensibilizadoras e prote-
toras visando melhor resposta terapêutica, otimização do tratamen-
to e maior sobrevida dos pacientes.
A radiação ionizante pode interagir diretamente com com-
ponentes celulares como DNA, proteínas e lipídios. É o chama-
do efeito direto, que constitui cerca de 30% do efeito biológi-
co das radiações. Pode também interagir com um dos principais 
constituintes do meio intracelular, a água, produzindo radicais li-
vres. Nesse caso, temos o efeito indireto, que corresponde a cerca 
de 70% do efeito biológico produzido pelas radiações. A radiação 
ca de neutrófilos e a resposta linfocítica Th2 indutora 
das céluals dendríticas. Há duas formas recombinantes 
de G-CSF disponíveis: uma glicosilada, a lenograstina 
e outra não glicosilada, filgrastima. Filgrastima é gli-
coproteína de 175 aminoácidos produzida na bactéria 
E. coli. É administrada por injeção subcutânea ou IV 
na dose de 1 a 20 µg/kg/dia, geralmente 5 µg/kg/ 
dia, até que o número de granulócitos fique acima de 
1500/µL em dois dias consecutivos. Os efeitos colate-
rais são dor lombar e raramente vasculite necrotizante 
ou complicações hemorrágicas e trombóticas. As indi-
cações para o uso dessa droga são várias, mas preferen-
cialmente deve ser usada em pacientes que estão tempo-
rariamente granulocitopênicos e febris devido ao efeito 
de drogas quimioterápicas ou de radioterapia. Nesses 
casos o G-CSF levará à recuperação mais rápida do ní-
vel de neutrófilos. Alguns trabalhos não conseguiram 
comprovar grande eficácia terapêutica, principalmen-
te em pacientes que receberam quimioterapias intensi-
vas em altas doses, pois não detectaram diminuição no 
uso de antibióticos ou alteração na sobrevida. Já nos ca-
sos de quimioterapia não tão intensiva, mas que sabida-
mente levará à neutropenia, o uso de G-CSF mais pre-
coce resulta em grande ganho com recuperação mais 
precoce. No caso de idosos com LMA, tem sido usada 
juntamente com esquemas citotóxicos na tentativa de 
abreviar a neutropenia. Um outro uso da filgrastima é 
na mobilização de células CD34 para coleta de células 
troncoperiféricas para transplante autólogo. A dose pa-
ra tanto é 10 µg/kg/dia por 5 dias seguida de aférese 
para a coleta das células CD34 positivas. 
 - GM-CSF, fator de crescimento granulocítico-macro-
fágico (molgramostima) tem os mesmos efeitos que o 
GCSF, embora apresente mais reações colaterais. A do-
se é 300 µg/dia. 
 - eritropoetina (Epo) é hormônio endógeno produzido pe-
lo rim que regula a produção de eritrócitos. Tornou-se a 
principal droga no tratamento da anemia da insuficiência 
renal em fase terminal para diminuir a necessidade trans-
fusional, mas também está inidicada no tratamento da 
anemia relacionada à zidovudina em pacientes com HIV, 
no tratamento de anemia concomitante a quimioterapia 
para malignidade não mielóide, anemia de pacientes que 
vão se submeter a cirurgia eletiva, não cardíaca, não vas-
cular ou com alto risco de necessitar de transfusão perio-
peratória, além de anemia relacionada ao câncer ou ao 
tratamento de câncer, anemia de doença crônica e ane-
mia falciforme. Efeitos colaterais são hipertensão, con-
vulsões, eventos trombóticos. Seu uso como estimulante 
em indivíduos normais (doping do atleta) pode amea-
çar a vida. A dose recomendada é 150 a 300 UI/kg via 
subcutânea por dia 3 vezes por semana. 
 - interleucina 2 (frasco ampola 18x106/UI) é glicopro-
teína de 15,5k Da que exerce seu efeito em células T 
ativadas, células natural killer (NK) e células B. Dose 
habitual: 600.000-720.000 UI/kg/dia/5 dias a ca-
da 7 dias, por 2 ciclos. Toxicidade: edema intersticial. 
Usado para LMA, linfoma não-Hodgkin, transplante 
de medula óssea, carcinoma de células renais. 
 - interleucina 11 (oprelvecina) (TPO), fator de cresci-
mento trombopoético que estimula diretamente todas 
as fases de desenvolvimento do megacariócito desde 
os progenitores primitivos até os megacariócitos ma-
duros. Está indicado a pacientes com trombocitopenia 
grave na dose de 50 µg/kg/dia via subcutânea iniciado 
6 a 24 h após o término da quimioterapia. Deve prosse-
guir até que o número de plaquetas atinja 50.000/µL, 
o que ocorre em cerca de 10 a 21 dias. 
Anualmente são testadas e aprovadas novas drogas para uso 
terapêutico e foram liberados o alemtuzumab e a capecitabina, 
dentre outros. 
Há diversas formas de abordagens experimentais promisso-
ras tais como a terapia gênica que tem sido usada para tornar as cé-
lulas tumorais sensíveis especificamente a drogas terapêuticas; te-
rapia “anti-sense” que é forma experimental de bloqueio de ação 
de genes específicos e utiliza-se de DNA de hélice simples de cur-
ta extensão produzido em laboratório para bloquear o RNA men-
sageiro. Os pequenos pedaços de DNA ligam-se ao RNAm, blo-
queando a produção protéica. 
• ONCOLOGIA • 1351
ionizante interage de modo não seletivo e com qualquer compo-
nente celular. Há. Porém. na literatura, dados consistentes suge-
rindo que o DNA é o alvo mais importante para os efeitos citotó-
xicos da radiação.
Importante efeito da radiação, de relevância clínica para a 
radioterapia, é a indução da morte celular. Esta pode ocorrer por 
falência reprodutiva ou morte clonogênica, que se caracteriza pe-
la perda da capacidade de divisão celular. Neste caso, a célula ir-
radiada permanece morfologicamente íntegra, muitas vezes con-
segue realizar uma ou duas mitoses, mas perde a capacidade de 
dividir-se inúmeras vezes ao longo da vida. Considerando o ciclo 
celular, a fase de mitose (M) é extremamente sensível à radiação, 
pois existe grande possibilidade de “fixação” de lesão radioinduzi-
da. Acredita-se que este fato ocorra devido à grande compactação 
do DNA. Isso aumenta a probabilidade de interação, provocando 
aberrações cromossônicas e morte celular, o que corresponde ao 
aumento da radiossensibilidade. A grande compactação da croma-
tina torna as lesões inacessíveis às enzimas reparadoras. 
A radiação ionizante induz também a morte por apoptose. 
Este é mecanismo ativo de morte celular, que ocorre inclusive em 
situações fisiológicas, em oposição à mitose - são ativadas enzimas 
que produzem a hidrólise do DNA. Há também controle genético 
no qual estão envolvidos genes que inibem (protooncogene bcl-2) 
e outros que induzem (gene supressor de tumor p53)o processo. 
Para a radioterapia, os dois mecanismos de morte celular são im-
portantes. Atualmente, considera-se que a capacidade das células 
e tecidos (normais e anormais) de responderem rapidamente à ra-
diação deve-se à indução da apoptose. Porém, para o controle lo-
cal da doença, é relevante também a morte clonogênica, pois não 
basta que as células do tecido doente morram. É importante que 
percam a capacidade reprodutiva e não voltem a crescer.
Dessa forma, após interação da radiação ionizante com o 
meio biológico, alterações celulares e moleculares são produzidas. 
Tais alterações podem ser reparadas (e as células sobrevivem), mal 
reparadas (e induzir doenças como neoplasias) ou provocar a mor-
te celular. Em conseqüência, podem ocorrer disfunções em tecidos, 
órgãos e sistemas que levam a diversas manifestações clínicas. Os 
efeitos biológicos radioinduzidos podem ser somáticos e/ou gené-
ticos, agudos e/ou tardios, reversíveis ou irreversíveis.
Existe diferença na resposta radiobiológica entre o tecido 
normal e o doente, bem como entre os diferentes tecidos normais, 
do ponto de vista de lesão. A resposta está relacionada com a ca-
pacidade da célula de reparar ou não as lesões radioinduzidas. Os 
tecidos de resposta rápida são aqueles que apresentam as manifes-
tações clínicas de lesão em curto período de tempo depois da ir-
radiação. São exemplos de tecidos de resposta rápida: pele, muco-
sas, tecido hemocitopoético, tecido linfóide, aparelho digestivo e 
certos tumores. Associam-se à resposta rápida destes tecidos a alta 
atividade mitótica (fase bastante radiossensível do ciclo celular) e a 
grande suscetibilidade à apoptose dos mesmos. Os tecidos de res-
posta lenta são aqueles que apresentam alterações em tempo mais 
prolongado após irradiação. São eles os tecidos ósseo, conjunti-
vo, muscular e nervoso, que possuem baixa atividade proliferati-
va. Associam-se à resposta lenta a morte clonogênica das células e 
a menor suscetibilidade à apoptose.
Os tecidos de resposta rápida, nos quais as células morrem 
rapidamente após irradiação, praticamente não reparam as lesões 
radioinduzidas. Porém, devido à alta capacidade mitótica de suas 
células, as células precursoras que escaparam da morte possuem 
grande probabilidade de dividir e repopular, mantendo assim a 
homeostase do tecido, dependendo da dose de radiação. Os teci-
dos de resposta lenta apresentam capacidade de reparar as lesões 
radioinduzidas, dependendo da dose de radiação. Tal capacidade, 
porém, é limitada; quando ultrapassada, a lesão será estabelecida. 
As células lesadas e não reparadas morrem e não são substituídas, 
uma vez que tais tecidos têm pequena atividade mitótica. A res-
posta dos tecidos à radiação depende ainda do tipo de exposição, 
se em pequenas regiões ou em corpo inteiro, e também da dose. 
Após exposições acidentais a altas doses de radiação em corpo intei-
ro, ocorre a síndrome aguda das radiações (SAR). As doses baixas 
de radiação, que permitem o reparo, podem induzir instabilidade 
genética (lesão/reparo) e relacionam-se com mutações e neopla-
sias, se as lesões radioinduzidas forem mal reparadas. Doses maio-
res de radiação, inclusive as usadas na clínica, relacionam-se com a 
morte e não com a transformação celular.
Durante a radioterapia, são usadas habitualmente doses fra-
cionadas de radiação em campos localizados. É inevitável, no en-
tanto, que parte do tecido normal seja incluído no campo a ser 
irradiado. É importante, porém, respeitar a tolerância do tecido 
normal, ou seja, a dose máxima de radiação que irá tolerar. Deve-
se permitir a recuperação do tecido normal (reparo e/ou divisão 
celular). Se a dose de tolerância for ultrapassada, poderão ocorrer 
alterações importantes e irreversíveis - uma vez estabelecidas, pou-
co se pode fazer para revertê-las. A dose de tolerância varia depen-
dendo das características biológicas do tecido, do volume de teci-
do irradiado, tipo de radiação e fracionamento da dose. 
Com os estudos de Strandqvist em 1944 surgiram as primei-
ras observações clínicas correlacionando o efeito da radiação ioni-
zante em tumores de pele e no tecido normal, em função da do-
se, do fracionamento e do tempo total de duração do tratamento, 
por meio de curvas do isoefeito.
Para o cálculo do isoefeito surgiram conceitos, fórmulas co-
mo a NSD (nominal standard dose), que hoje possui apenas im-
portância histórica, e tabelas como a TDF (tempo, dose e fracio-
namento), bastante difundida e usada atualmente. O cálculo do 
isoefeito também pode ser baseado em parâmetros de curvas de 
sobrevida, como o modelo linear quadrático. Esse modelo propõe 
que os eventos letais induzidos pela radiação são conseqüentes a 
dois componentes: linear (α) e quadrático (β). O componente li-
near (α) assume que o número de eventos letais é proporcional a 
dose de radiação, deve-se a uma passagem (track) do elétron (αD), 
e expressa a lesão irreparável. O componente quadrático (β) pro-
põe que o número de eventos letais é proporcional ao quadra-
do da dose, em que dois eventos subletais (que podem ser repa-
rados), interagem para produzir um evento letal, e é conseqüente 
a duas passagens (track) do elétron (βD2). Os tecidos de resposta 
rápida têm alto componente a, isto é, sofrem grande quantidade 
de lesão irreparável, morrem rapidamente e praticamente não re-
param a lesão radioinduzida. Esses tecidos possuem grande capa-
cidade mitótica para repopulação e alto valor da razão α/β, da or-
dem de 10 Gy. Os tecidos de resposta lenta têm alto componente 
b, ou seja, possuem potencial para reparar a lesão radioinduzida 
desde que a tolerância dos mesmos seja respeitada, porém pratica-
mente não se dividem. Tais tecidos possuem baixo valor da razão 
α/β, da ordem de 2 Gy. A razão α/β caracteriza matematicamen-
te a resposta biológica dos diferentes tecidos (resposta rápida/res-
posta lenta), mede a radiossensibilidade dos tecidos às alterações 
da dose por fração e permite cálculo matemático durante o pla-
nejamento radioterápico. Existem tabelas com os valores da razão 
α/β calculados para os vários tecidos que têm sido utilizadas por 
físicos e radioterapeutas.
Importante comentar ainda que em 1985 as unidades usadas 
em radioterapia foram modificados segundo o Sistema Internacional 
(SI) e a unidade de exposição R (Roentgen) foi substituída pelo 
coulomb por quilograma (C/kg) e o rad (dose de radiação absor-
vida) substituído pelo Gray (1 Gy = 100 rad).
1352 • ATUALIZAÇÃO TERAPÊUTICA • MANUAL PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO • 
Indicações
A radioterapia pode ser usada de forma paliativa, curativa ou 
complementar, para doenças malignas e benignas, e está indicada 
com as seguintes finalidades:
antiinflamatória: devido a seus efeitos na liberação de subs-
tâncias vasoativas e na indução da morte das células inflamatórias. 
São administradas doses baixas, principalmente nos casos de pro-
cessos inflamatórios crônicos e recidivantes, como na doença de 
Dupley e na exoftalmia secundária ao hipertiroidismo.
Modificadora do trofismo dos tecidos: pode produzir efei-
to frenador ou ativador funcional, dependendo do tecido, fraciona-
mento e dose da radiação. É também administrada em doses baixas 
(menores que as usadas para neoplasias malignas) em alguns ca-
sos de adenoma de hipófise, hipofisectomia e castração (temporá-
ria ou definitiva). Para a prevenção da recidiva de pterígeo e que-
lóides pode-se usar betaterapia com estrôncio (90Sr).
antineoplásica: constitui sua maior indicação. É impres-
cindível a classificação do tumor em cada uma de suas localizações 
anatômicas e o estadiamento. São condutas fundamentais para de-
cidir a melhor abordagem terapêutica, estratégia multidisciplinar 
e prognóstico.
Protocolos
Fracionamento convencional: consiste em administrar 1,8 a 
2 Gy por fração, diariamente, cinco dias na semana (desegunda a 
sexta feira) durante cerca de cinco semanas. A dose total é determi-
nada pelo tipo do tumor em tratamento e pela tolerância do tecido 
normal adjacente (geralmente varia entre 60 a 70 Gy).
Os chamados 4Rs da radioterapia tentam explicar por 
que o fracionamento de dose funciona. O fracionamento da do-
se na radioterapia está fundamentado no fato de que, dividin-
do-se a dose de radiação, poupam-se os tecidos normais, devido 
ao reparo da lesão subletal (RLSL) entre as frações e também de-
vido à repopulação das células. Ao mesmo tempo, dividindo-se a 
dose em frações aumenta-se a quantidade de lesão nas células tumorais 
em conseqüência da reoxigenação (oxigênio sensibiliza as células à ra-
diação) e redistribuição das células nas fases sensíveis do ciclo celular.
Este é o protocolo mais usado na rotina da radioterapia.
Hiperfracionamento: consiste em administrar doses meno-
res por fração do que no fracionamento convencional e maior nú-
mero de frações, sem alterar o tempo de duração do tratamento; 
geralmente são usadas frações de 1,15 a 1,25 Gy duas vezes ao dia. 
O intervalo entre as frações não deve ser inferior a quatro horas 
para dar tempo de ocorrer o RLSL no tecido normal de resposta 
lenta. É indicado quando o tratamento convencional está limitado 
pela tolerância do tecido normal de resposta lenta. Este esquema 
permite aumentar a dose final em 15 a 20% sem aumentar a quan-
tidade de lesão no tecido normal de resposta lenta em compara-
ção com o tratamento convencional.
fracionamento acelerado e hiperfracionamento acelerado: 
a finalidade é encurtar o tempo total de tratamento e estão indicados 
para tumores de crescimento rápido. Geralmente são tumores cujo 
tempo potencial de dobra, Tpot (tempo de dobra de população ce-
lular que prolifera continuamente e não apresenta fração de perda 
de células) é menor que quatro dias – podemos citar certos tumo-
res de cabeça e pescoço. O fracionamento acelerado pode ser reali-
zado seis dias por semana ou sete vezes em cinco dias, por exemplo. 
O mais comum é fazer o tratamento convencional mais boost (fe-
char o campo de radiação e administrar fração de dose maior nesse 
local). Se o tratamento for realizado duas vezes por dia, o intervalo 
mínimo de quatro horas entre as frações deve ser respeitado.
Quanto ao hiperfracionamento acelerado, pode-se adminis-
trar, duas vezes por dia, dose por fração que esteja no limite supe-
rior do hiperfracionamento (1,25 Gy) e no limite inferior do fracio-
namento convencional, ou seja, menor que 1,8 Gy. Portanto, 1,6 
Gy duas vezes por dia representa esquema de hiperfracionamen-
to acelerado. O tecido normal de resposta rápida apresenta maior 
toxicidade, limitando o tratamento. Por isso, é necessário fazer in-
tervalo durante as aplicações, que deve ser o menor possível pa-
ra evitar a regeneração do tumor. O efeito tardio é praticamente o 
mesmo que para o tratamento convencional.
radiocirurgia: foi desenvolvida por Leksell para tratamen-
to de lesões não-malignas no cérebro, particularmente as malfor-
mações artério-venosas (MFA), administrada em dose alta e única. 
O objetivo é causar lesão nas células endoteliais presentes, mor-
te celular, reação inflamatória e fibrose. A resposta tardia ocorre 
em semanas ou meses após o tratamento. A radionecrose cerebral 
é fator limitante para o tratamento. A dose de radiação usada, 15 
Gy, foi calculada com base na tolerância do cérebro. A dose úni-
ca de 15 Gy corresponde à tolerância do cérebro a 60 Gy em 30 
frações. A dose única é usada porque o tecido que se deseja des-
truir (malformação vascular) e o tecido normal (cérebro), respon-
dem de modo semelhante à radiação. São ambos de resposta len-
ta, apresentam alta quantidade de lesão b (baixo valor da razão 
α/β) e portanto podem reparar a lesão radioinduzida com o fra-
cionamento de dose. Assim, não há vantagem em usar tratamento 
com doses fracionadas. Mais recentemente, a técnica foi adapta-
da para o tratamento de tumores malignos pequenos e metásta-
ses no cérebro (radioterapia estereotáxica). Nesse caso, os princí-
pios radiobiológicos são diferentes daqueles para doenças benignas. 
Para os tumores cerebrais, o fracionamento aumenta o ganho te-
rapêutico, pois o tumor representa tecido de resposta rápida (al-
ta quantidade de lesão irreparável a, alta razão α/β) em rela-
ção ao cérebro (alta quantidade de lesão reparável β, baixa razão 
α/β). Além de possuírem diferentes razões α/β e as células cere-
brais terem maior capacidade de reparar as lesões radioinduzidas 
que o tumor, o fracionamento propicia maior quantidade de lesão 
nas células tumorais, pois permite reoxigenação entre as frações. 
Nesse caso, interessa explorar o fracionamento.
Prevenção da reestenose: a técnica consiste em adminis-
trar radiação, geralmente com irídio 192 (192Ir) em alta taxa de do-
se, e em seguida realizar a angioplastia para retirada da obstrução. 
Acredita-se que o mecanismo básico de reestenose é devido à pro-
liferação e migração das células musculares lisas da camada média 
dos vasos para a íntima, e à falência da lâmina elástica em aumen-
tar de forma correspondente.
A dose necessária para provocar definitivamente a morte clo-
nogênica das células musculares lisas que podem causar a reeste-
nose é maior do que 20 Gy, administrada em menos de uma ho-
ra. Porém, as complicações tardias nas artérias são inaceitáveis. No 
entanto, doses menores retardam a reestenose em um a três anos. 
Acredita-se que a dose mínima eficaz para que as células muscu-
lares lisas fiquem com capacidade limitada de divisão é de 15 Gy. 
Irradia-se o local, retira-se a obstrução e posteriormente, com as 
células musculares lisas incapazes de divisão, evita-se a reestenose. 
A fibrose provocada pela radiação nas paredes da ferida funciona 
como barreira para difusão de mediadores de quimiotaxia e de ci-
tocinas para a proliferação celular. Também pode funcionar como 
barreira física para a migração celular.
condicionamento para transplante de medula óssea 
(TMO): atualmente, a maioria dos centros usa a radioterapia fra-
cionada e baixa taxa de dose para o condicionamento do TMO. Os 
esquemas variam: 2 Gy dia (dose total de 12 Gy), 2 Gy duas vezes 
ao dia (dose total 12 Gy), 1,2 Gy três vezes ao dia em 11 frações 
• ONCOLOGIA • 1353
(total 13,2 Gy), entre outros. A taxa de dose pode variar entre 2,5 
e 20 cGy/min, porém são usadas predominantemente taxas de 5 
a 7 cGy/min. O objetivo do condicionamento para TMO é criar 
espaço na medula óssea (mo) do paciente para o enxerto desenvol-
ver-se, imunossuprimir o receptor e matar célula leucêmica residual. 
Os fatores que devem ser considerados em relação à radiação são: 
qualidade da mesma (energia), dose total, taxa de dose, fraciona-
mento, tempo de tratamento, heterogeneidade da dose. O uso da 
radioterapia fracionada e em baixa taxa de dose favorece o RSLS 
nas células do estroma da medula óssea, indispensáveis para o de-
senvolvimento do enxerto, e também em outros tecidos normais 
de resposta lenta como pulmão, fígado e rim. Como conseqüên-
cia, diminui o número de complicações e a morbidade.
Braquiterapia: consiste no implante de fontes radioativas direta-
mente no tumor. Há duas formas: irradiação intracavitária usando fon-
tes radioativas colocadas na cavidade, próximas ao tumor, e intersticial, 
com sementes implantadas diretamente no volume do tumor.
A braquiterapia intracavitária com baixa taxa de dose é ge-
ralmente temporária e demora de um a quatro dias (taxa de dose 
de cerca de 50 cGy/h). Pode ser usada em vários locais, porém o 
mais comum é o colo do útero. Atualmente, a maioria dos centros 
usa como fonte o irídio 192 (192Ir). A braquiterapia intracavitária 
em baixa taxa de dose tem sido substituída pela alta taxa de dose, 
dada em 3 a 12 frações. Com a substituição abre-se mão da vanta-
gem radiobiológicade poupar o tecido normal de resposta lenta. 
Isso é possível porque o tumor de colo de útero é situação na qual 
os principais tecidos que limitam a dose (bexiga e reto) recebem 
dose menor do que a prescrita para o tumor. O tratamento com 
alta taxa de dose, que dura poucos minutos, permite o uso de re-
tratores, resultando em doses menores nos tecidos normais críti-
cos do que em inserção que dure 24 horas ou mais. As vantagens 
físicas sobrepõem-se às desvantagens radiobiológicas.
A braquiterapia intersticial pode ser temporária ou perma-
nente e o material utilizado é o 192Ir. A dose máxima que pode ser 
administrada sem produzir lesão inaceitável no tecido normal de-
pende do volume a ser irradiado e da taxa de dose, que é função 
do número de fontes usadas e de sua distribuição geométrica. Para 
haver resposta biológica consistente, a dose total deve variar de-
pendendo da taxa de dose.
Para a braquiterapia intersticial permanente são usadas fon-
tes seladas com meia-vida curta. É vantajoso para o paciente, pois 
não é necessário realizar cirurgia para remoção da fonte e o indi-
víduo pode ir para casa com o implante no local. No início, a taxa 
de dose é alta e diminui com a diminuição da atividade da fonte. O 
iodo 125 (125I) tem sido amplamente usado. A dose total prescri-
ta é de 160 Gy na periferia do volume do implante. Destes, 80 Gy 
são liberados na primeira meia-vida do iodo, de 60 dias. Do pon-
to de vista radiobiológico, o sucesso do implante em esterilizar o 
tumor depende do ciclo celular das células clonogênicas tumorais. 
Tumores que apresentam grande capacidade de reparo nas células 
clonogênicas são menos suscetíveis à braquiterapia em baixa taxa 
de dose, pois podem reparar a lesão radioinduzida continuamente 
durante exposição protraída. Por outro lado, a dose acumulada du-
rante todo o ciclo celular é importante indicador da letalidade das 
células tumorais na braquiterapia. Determinada taxa de dose em 
irradiação contínua é mais lesiva às células com ciclo celular lon-
go do que naquelas com ciclo celular curto, pois maior dose será 
absorvida durante o ciclo. Dessa forma, tumores de crescimento 
lento como o carcinoma de próstata, por exemplo, representam si-
tuação em que o implante com 125I está bem indicado, pois maior 
quantidade de radiação é absorvida por ciclo celular.
A vantagem do 125I é a emissão de fótons de baixa energia 
(cerca de 30 keV). Isso não faz diferença na distribuição da dose do 
tumor, mas simplifica o problema da proteção radiológica. Ainda, 
a dose decai rapidamente fora do volume tratado e doses em re-
giões distantes do implante são bastante reduzidas.
A radioterapia pode ainda ser associada a drogas sensi-
bilizadoras e protetoras. Entre os radiossensibilizadores pode-
mos citar os sensibilizadores de células hipóxicas (derivados do 
nitroimidazol), compostos biorredutores (mitomicina) e qui-
mioterápicos em geral. Quanto aos radioprotetores, podem ser 
usados antioxidantes como a vitamina E e os compostos tióis 
de radioterapia, entre outros. Essas drogas, sensibilizadoras e 
protetoras, são usadas em protocolos especiais de radioterapia, 
pois ainda existem dificuldades quanto à adequação das doses 
das drogas, da radiação, e ainda, toxicidade. No momento, mais 
usada na clínica é a associação da radiação com quimioterápicos, 
visando melhor controle do volume irradiado e das lesões me-
tastáticas a distância. Os quimioterápicos agem como sensibili-
zadores devido aos seus efeitos citotóxicos e aumentam a quan-
tidade de morte celular.
Outra possibilidade é a associação da radioterapia com a ci-
rurgia. A radioterapia pré-operatória visa reduzir grandes volumes 
tumorais, aumenta a ressecabilidade e a esterilização, e diminui o 
risco de disseminação neoplásica pelo manuseio do tumor. Pode-
se também realizar a radioterapia intra-operatória. Com o pacien-
te anestesiado, a área tumoral é exposta e o feixe de radiação di-
recionado para a região a ser tratada, evitando-se irradiar o tecido 
normal. A dose única e alta é empregada. Com maior freqüência, 
a radioterapia pós-operatória é utilizada. Esta possibilita esteriliza-
ção do foco subclínico do tumor no local primário e em região de 
drenagem linfática.
Aspecto bastante relevante é o acompanhamento clínico 
e laboratorial do paciente durante e depois da radioterapia, com 
objetivo de controle da doença e dos eventuais efeitos indesejá-
veis radioinduzidos.
Os principais efeitos colaterais observados agudamente no 
decorrer do tratamento são: náusea, vômito, diarréia, reação em pe-
le e alterações hematológicas (leucopenia e plaquetopenia). Como 
seqüelas tardias podem ocorrer: fibrose, alterações vasculares, alo-
pecia, que variam dependendo do local, volume corporal irradia-
do, da radiossensibilidade do tecido normal adjacente ao doente e 
da dose de radiação utilizada.
As seqüelas após tratamento são minimizadas e contornáveis, 
fazendo-se planejamento radioterápico adequado, escolha do tipo 
e energia da radiação, dose de radiação, composição de campos e 
principalmente acompanhamento médico do paciente durante o 
tratamento e depois, periodicamente.
 Divisão esquemática da radioterapia
Teleterapia (externa e a distância)
 - Estática 
 - Contatoterapia
 - Radioterapia clássica
 - Cinética 
 - Arco 
 - Rotatória 
 - Radiocirurgia e radioterapia estereotáxica 
Braquiterapia (sementes, fios, líquidos)
 - Intersticial
 - Intracavitária
 - Aberta
 - Fehada
 - Interna

Continue navegando