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Interpretações Históricas do Corpo Humano

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CONTEÚDO, METODOLOGIA E PRÁTICA DE ENSINO DA 
EDUCAÇÃO FÍSICA – AULA 2
PROFESSOR JOSÉ VEIGA DE CARVALHO
Rio de Janeiro, 05 de maio de 2011 
A IMAGEM DO CORPO: AS 
INTERPRETAÇÕES HISTÓRICAS DO CORPO 
HUMANO E SUAS PRÁTICAS COTIDIANAS 
AULA 2
OBJETIVOS
❑ Reconhecer que o corpo é construído na e
pela cultura e que conta histórias marcadas em
diferentes tempos e espaços;
❑ Identificar o corpo como identidade de ser e de
saber no e com o mundo;
O conhecimento a ser sistematizado nesta aula possibilitará
uma leitura do corpo humano que é histórico e construído
na relação do ser e do saber a partir da evolução das
ciências e dos movimentos socioculturais que situa o ser
humano no tempo e no espaço diante dos
acontecimentos da memória histórica. A problematização
dos conteúdos deve examinar as condições da existência da
corporeidade objetiva e os aspectos contraditórios frente às
manifestações corpóreas e as práticas cotidianas nos
diferentes períodos da história.
Contrapondo a visão positivista da história que aprisiona os
fatos cronologicamente como “ciência do passado”, as
interpretações históricas do corpo e de suas práticas
cotidianas nos favorecerão com a compreensão de
nossa condição de existente no e com o mundo,
inserida em um contexto cultural diferenciado pelo
movimento das representações coletivas da sociedade. O
corpo é formado dia a dia no movimento sociopolítico e
vai registrando sua história diante do que lhe é
apresentado e atribuído nas relações socioculturais.
Nesta aula, busca-se situar
o corpo, que é histórico,
construído e compreendido
na corporeidade humana
como fenômeno social e
cultural. O corpo é o que o
ser humano tem de mais
humano. Anterior às
descobertas, às vivências,
às percepções e às
representações corpóreas,
a existência humana é
corporal.
O corpo humano existe na totalidade dos elementos que o
compõem e se constitui socialmente a partir do
comportamento e das relações estabelecidas com os outros
humanos, definindo-se como sujeito histórico de um grupo
de pertencimento. Como sujeito, marca sua individualidade,
suas fronteiras, limites e possibilidades, que, de alguma forma, o
diferencia dos outros humanos.
O humano é um ser a um só tempo plenamente biológico e
plenamente cultural, que traz em si a unidualidade
originária. É super e hipervivente: desenvolveu de modo
surpreendente as potencialidades da vida. Exprime de
maneira hipertrofiada as qualidades egocêntricas e
altruístas do indivíduo.
O homem é, portanto, um ser
plenamente biológico, mas, se
não dispusesse plenamente da
cultura, seria um primata do
mais baixo nível. A cultura
acumula em si o que é
conservado, transmitido,
aprendido, e comporta normas
e princípios de aquisição.
(MORIN, 2001, p. 52).
Parece-nos estranho acreditar que
o ser humano, que tem de mais
humano o corpo, apresente um
determinado grau de dificuldade
para identificá-lo claramente com
consciência de sua individualidade
e sem preconceitos.
São muitas as histórias que
jorram dos múltiplos contos
curiosos e misteriosos sobre
a construção cultural do
corpo, desde as culturas
primitivas em que “o indivíduo
não tinha consciência de
possuir um corpo que
interage num mundo de
corpos e objetos” (GALLO,
1997) até as culturas
alienantes de “culto ao
corpo”, geradoras de
descaminhos sintomáticos.
VÍDEO 3
Ao longo da história da evolução humana,
muitas escutas do corpo humano pontuaram
diferentes interpretações diante dos movimentos
em contextos integrados à atividade geral de
domínio de poder político, religioso ou
ideológico. O corpo humano por séculos está
fadado à servidão e à obediência ditadas pelo
domínio de poder vinculado às características
da civilização pertencente.
A história vivida, percebida e
representada nas práticas
cotidianas é que proporciona as
noções da realidade e que as
coloca em movimento para as
necessárias transformações
nas vidas humanas.
Nossa história tem sido marcada pelos fazeres
padronizados e pelos apelos de conservas culturais
direcionados para os movimentos de repetições
indesejáveis. Nesse caminho quase que viciado, o corpo,
com tantas atitudes equivocadas diante de tantas
demandas nas práticas cotidianas, aumenta o risco de sua
existência e se fragmenta num servir depreciado.
Não se tem registro de ninguém que tenha escrito algo e
que não tenha tido como referência uma história. Não se
pode negar que a vida é a relação com o outro, é
história, muitas histórias. Fala-se da vida do ser humano
em movimento, daquele que pensa, sente, quer, age...
Dessa forma, é fundamental que o corpo humano seja
referenciado na sua construção histórica, que compõe um
cenário diferenciado para cada tempo e condição humana. As
cenas marcam os movimentos e as manifestações identidárias
que caracterizam a figura humana, o corpo, e os tornam o grande
centro das atenções.
As pesquisas e os debates sobre o desenvolvimento
ecológico humano mostram que as realizações básicas de
existência promovidas pelo ser humano têm influenciado,
direta ou indiretamente, suas demandas emergenciais
(segurança, alimentação, habitação...) e seus direitos sociais
(educação, saúde, cultura e lazer...).
Assim, a compreensão articulada sobre o corpo e suas
práticas educativas torna-se uma questão a ser pensada
criticamente pela sociedade organizada, por conta da
realidade sociocultural que, pouco a pouco, tem produzido
contradições e numerosos descaminhos de alienação que
violenta a humanidade enquanto corpo sociocultural
focado nas “virtudes para um outro mundo possível”, como
salienta Leonardo Boff.
Percebe-se, no contexto das prioridades sociais, que o ser
humano enquanto cidadão (sujeito político de direitos e
deveres, que cumpre ou não as leis), tem sofrido
progressivamente tensões subordinadas a critérios
clientelistas, impondo a cultura tecnoconsumista,
submetendo a sociedade a situações de pressão intolerável,
conflitando valores sociais e paralisando-a, afetiva e
culturalmente, para lidar com a realidade.
Entende-se que a busca pela
transformação educativa do
corpo em movimento passa
pela articulação ativa dos
sujeitos cidadãos que
exercem papéis sociais de
diferentes perspectivas e
hábitos culturais.
Steinberg (1997) ao afirmar que “[...] a educação ocorre
numa variedade de locais sociais, incluindo a escola, mas
não se limitando a ela.
Locais pedagógicos são aqueles onde o poder se organiza e
se exercita, tais como biblioteca, TV, filmes, jornais, revistas,
brinquedos, anúncios, videogames, livros, esportes, etc.”,
promove o desenvolvimento de uma reflexão pertinente às
dinâmicas sociais sobre o corpo que, de fato, é moldado
pela interação social.
Desde a cultura primitiva até o tempo presente, o corpo
humano sofre mudanças significativas produzidas pelos
humanos em movimento que, a partir de novas descobertas,
transformam idéias em realizações concretas.
Essas transformações marcam a potência corpórea e
torna o corpo, mesmo como instrumento, um ator
principal da vida moderna.
Muitos são os desafios que se colocam hoje para a compreensão
dos processos emergentes das relações sociais em movimento. A
cada tempo, surgem novas exigências fundadas nos apelos
imediatos e manipuladas pelo poder mercadológico que
afirmam o corpo como objeto de uso diante do domínio
econômico, político e ideológico.
Sair, pois, da conserva do modelo cartesiano, que
fragmenta o corpo humano como uma máquina
composta por várias partes, requer a diferenciação do
corpo em movimento,compreendendo seus limites e
possibilidades e integrando questões vividas no cotidiano
frente aos saberes e às representações sociais.
Esse movimento de complexidade deverá abrir caminhos
para as necessárias superações dos paradigmas de
manutenção do “status quo” da sociedade capitalista.
A socialização do corpo aponta para a importância da
relação com o outro na formação da corporeidade.
Constata de forma irrestrita a influência dos pertencimentos
culturais e sociais na elaboração da
relação com o corpo, mas não desconhece a adaptabilidade
que, algumas vezes, permite ao ator integrar-se em outra
sociedade (migração, exílio, viagem) e nela construir, com
o passar do tempo, suas maneiras de ser calcadas em
outro modelo.
Se a corporeidade é matéria de símbolo, ela não é uma fatalidade
que o homem deve assumir e cujas manifestações ocorrem sem
que ele nada possa fazer. Ao contrário, o corpo é objeto de uma
construção social e cultural. (LE BRETON, 2006, p. 65).
Nesta aula, você:
Reconheceu que o corpo humano é sempre um corpo
histórico e que, integrado ao seu tempo e espaço, conta
história aproximada da sua condição de existente neste
mundo. Corpo não é apenas um corpo, é todo um
movimento de relações, conhecimentos, costumes,
sensações.
SÍNTESE DA AULA:
Nesta aula, você:
Compreendeu que o corpo é marcado pelos
processos educativo-pedagógicos instituídos pela
sociedade organizada.
SÍNTESE DA AULA:
Nesta aula, você:
Percebeu o significado das referências inscritas e
prescritas pelos movimentos culturais que confere
ao corpo, que é único e que, ao mesmo tempo,
compartilha consciência crítica, responsabilidade
e cidadania.
SÍNTESE DA AULA:

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