Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Luciana Andréa Pires Recuperação de Áreas Degradadas Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Pires, Luciana Andréa ISBN 978-85-8482-613-1 1. Degradação ambiental. I. Título. CDD 363.7 Pires. – Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017. 128 p. P667r Recuperação de áreas degradadas / Luciana Andréa © 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2017 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Tema 1 | Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas Tema 2 | Por que Recuperar Áreas Degradadas? Aspectos Legais e Socioambientais Tema 3 | Solo: Caracterização, Degradação e Recuperação Tema 4 | Bases Ecológicas para Restauração de Áreas Degradadas Tema 5 | Técnicas de Restauração Vegetal 7 31 53 75 101 Sumário Convite à leitura Com o aumento da população, especialmente em áreas urbanas, e o fortalecimento do capitalismo, cujo modelo de produção maximiza a extração da mais-valia (seja de recursos humanos ou da natureza), criou-se um ciclo ascendente entre produção e consumo, sem a contrapartida do desenvolvimento de tecnologias que pudessem evitar os danos ambientais. Desse modo, passamos a conviver num mundo onde cada vez mais áreas encontram-se de alguma maneira degradadas, afetando diretamente a qualidade de vida desta e das futuras gerações. Nesse contexto, pode ser observado, nas últimas décadas, um aumento do interesse em pesquisas e atuações voltadas à restauração ambiental, foco desta disciplina. Neste primeiro tema, vamos apresentar termos e conceitos bastante difundidos nesta área, os quais você, futuro gestor, deve conhecer para que possa exercer a prática e a crítica em trabalhos neste âmbito de atuação. Ao fim da leitura deste caderno, você saberá reconhecer, por exemplo, quando uma área pode ser considerada como degradada, quais os principais processos de degradação, suas causas e consequências, se reabilitar, restaurar ou reflorestar uma área degradada significam a mesma coisa. A correta compreensão dos termos também facilitará a leitura dos demais temas da disciplina. Tema 1 Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas As alterações ambientais provocadas pelo homem em busca de seu bem-estar social têm ocasionado uma elevada degradação ambiental em diversas partes do mundo, trazendo uma série de problemas e ameaças à qualidade de vida para as populações humanas e de outras espécies. De acordo com o relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2011), um quarto da superfície da terra já teve seu recurso de solo degradado. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), no Brasil, estima-se que aproximadamente 200 milhões de hectares de terra estão sem utilização ou ocupados por pecuária extensiva e de baixa produtividade, uma área que corresponde a três vezes o total da superfície atual ocupada por cultivos agrícolas (BRASIL/SAE, 2009). A improdutividade das terras já degradadas pressiona ainda mais o avanço da exploração sobre áreas preservadas, o que nos coloca em atenção para o fato de que mais degradação pode ser esperada adiante. Entre as principais causas de degradação ambiental, podemos citar a expansão agropecuária, especialmente quando realizada com práticas inadequadas como o cultivo intensivo do solo, superpastoreio, uso demasiado de fertilizantes, agrotóxico, e de irrigação, e a manipulação dos genomas das plantas (GLIESSMAN, 2005); atividades silviculturais e exploração madeireira; mineração; a urbanização (construções civis, estradas), principalmente, por ser muitas vezes de forma desorganizada, sem planejamento em relação à disposição e ao tratamento de resíduos, drenagem e preservação de áreas verdes; as construções de complexos industriais (indústrias químicas e metalúrgicas) (SILVA, 2007). É conveniente também POR DENTRO DO TEMA Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 8 citar as causas subjacentes da degradação, tais como a pobreza, o crescimento da população, o mercado e comércio de recursos naturais, os padrões de produção e consumo (IPEF, 2016). Afinal, o que é degradação? Não é muito fácil definir o que é degradação, por ser, geralmente, um termo subjetivo. O que pode ser degradação para uma pessoa, aos olhos de outro observador pode não representar a mesma coisa. Em geral, os conceitos do termo “degradação” podem variar conforme a área de conhecimento em que está sendo identificada e a atividade em que esta é gerada (BITAR, 1997, p. 24). É comum relacionarmos a degradação com a perda de qualidade ambiental de determinada área, que leva em consideração as condições físicas, químicas, biológicas e socioculturais favoráveis para a sobrevivência dos indivíduos. Essa visão é assumida na Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que institui a Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA (artigo 3, inciso II) (BRASIL, 1981), que entende como “degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente”. De acordo com Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA, 1990), a degradação ambiental é aquela que “ocorre quando há perda de adaptação às características físicas, químicas e biológicas de uma área, inviabilizando o desenvolvimento socioeconômico”, denotando a inter-relação entre esses aspectos. No glossário da publicação do Instituto Florestal de São Paulo, Conceitos e definições correlatos à ciência e à prática da restauração ecológica, Aronson, Durigan e Brancalion (2011) definem “degradação” como: [...] a simplificação ou modificação do ecossistema, causada por um distúrbio natural ou antrópico, cuja severidade ou frequência ultrapassa o limiar a partir do qual a recuperação natural do ecossistema não é possível em um período de tempo razoável. Dependendo do nível de degradação, ações de restauração ecológica ou reabilitação são necessárias para reverter a situação. Os autores alertam ainda que a degradação, geralmente, provoca alterações severas no ambiente, reduzindo a biodiversidade e os fluxos de bens e serviços ecossistêmicos. Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 9 De acordo com a FAO (2011), o conceito de degradação não se refere somente à degradação do solo e da água, mas a outros aspectos, como a perda de biodiversidade. De fato, o componente biótico, como a fauna e a flora, é o primeiro a ser atingido, visto que o desmatamento precede quase todas as formas de uso e ocupação do solo, e, a partir dele, a degradação dos demais componentes pode ser esperada. Em suma “o termo degradação ambiental engloba uma ou várias formas de destruição, poluição ou contaminação do meio ambiente” (BRASIL, 1997, p. 28), e como dito anteriormente, pode ser abordado e definido conforme o tipo de atividade antrópica que a causa, como será descrito adiante. Perturbação ou distúrbio ambiental São termos correlatos à degradação, caracterizados por Cairns(1986) como alteração resultante de atividades antrópicas e que não pode ser rapidamente corrigida; este autor distingue três situações de acordo com o caráter temporal: • Os distúrbios inesperados, por exemplo, aqueles que decorrem de acidentes ou falhas tecnológicas em indústrias. • Os distúrbios ocorridos ao longo de um tempo significativo, tal como aqueles originados de descarga de efluentes industriais. • Os distúrbios planejados, derivados, por exemplo, da mineração. Para finalizar esse tópico, veja o que pode ser considerado como degradação ambiental de acordo com Sanchez (2006), sendo que as características não são excludentes entre si: • Perda ou inutilização de capital natural, como o provocado pelo desmatamento, extinção de espécies, poluição dos recursos hídricos, entre outros. • Perda de funções ambientais em razão das alterações do ambiente, por exemplo, perda de produtividade agrícola em decorrência do mau uso do solo, redução na disponibilidade de água superficial ou subterrânea; perda da proteção das águas dos rios devido à retirada da mata ciliar. • Alterações na paisagem, que podem ser desde modificações do relevo (por exemplo, áreas intensamente mineradas), da fisionomia da vegetação nativa, até a presença de lixo, excesso de publicidade e prédios urbanos deteriorados. • Riscos à saúde e à segurança das pessoas provocados, por exemplo, pela presença de moradias em encostas íngremes e instáveis, disposição irregular de resíduos e solos contaminados. Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 10 Infelizmente, verificamos um ou vários desses processos constantemente, mas às vezes, por já estarmos “acostumados” com tal situação, não as reconhecemos nitidamente como uma degradação. Verifica-se, portanto, uma noção bem abrangente do termo, mas fica claro que se trata de uma adversidade, de um impacto ambiental negativo. Vale ressaltar que, embora não mencione a origem da degradação, usualmente, refere-se àquelas decorrentes da intervenção humana, sendo muito raro o emprego deste termo em situações provocadas por fenômenos ou processos naturais (BITAR, 1997, p. 24). É importante ressaltar que os termos degradação e impacto ambiental não são sinônimos, embora muitas vezes sejam assim utilizados. Veja a definição de impacto ambiental dada pela Resolução CONAMA n. 001, de 1986 (BRASIL, 1986): Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, que direta ou indiretamente afetem: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; IV - a qualidade dos recursos ambientais. Ao contrário da degradação, que sempre traz uma conotação pejorativa, o termo impacto ambiental pode se referir tanto aos aspectos negativos (como é subentendido na maioria das vezes, e nesse caso pode ser utilizado como sinônimo de degradação), mas também positivos (ou seja, determinada alteração antrópica pode trazer benefícios, como a melhoria das condições sanitárias, econômicas, dentre outros). Vamos agora descrever os principais processos de degradação e as atividades antrópicas que a eles estão associadas. É importante ressaltar que praticamente toda interferência causa impactos negativos, mas quando realizada de forma irregular ou não planejada, estes com certeza serão intensificados. Erosão e assoreamento dos corpos d’água Você poderá notar que esses processos de degradação podem ser causados pelos diversos tipos de atividades antrópicas, especialmente quando realizadas de forma irregular, como o desmatamento, cultivos e pastagens, mineração, construção de obras e urbanização. Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 11 A perda da cobertura vegetal, especialmente a florestal, torna a precipitação irregular (já que reduz a evapotranspiração, componente de grande importância no ciclo hidrológico), impossibilita o filtro de sedimentos exercido pela vegetação (raízes e copas), aumenta o escoamento superficial e, por outro lado, reduz a infiltração de água para as camadas mais profundas, intensificando a erosão e o assoreamento dos corpos hídricos (FROTA, 2012; TOLEDO, 2014). Quando realizado em encostas, o desmatamento e a erosão são seguidos também de “escorregamentos” de terra. Um dos efeitos mais notáveis do assoreamento dos rios, especialmente em áreas urbanas, onde estes já sofrem alterações no seu curso, são as enchentes e inundações. Agropecuária O relatório de 2011 da FAO, intitulado O estado das terras e recursos hídricos do mundo para alimentação e agricultura, descreve um aumento muito maior da produtividade agrícola nos últimos 50 anos do que a área total de terra cultivada. Todavia, ressalta que para atender às exigências mundiais de segurança alimentar é fundamental melhorar as práticas de gestão do solo e da água, já que esta alta capacidade de produção das lavouras tem sido associada em algumas regiões à degradação dos recursos hídricos e do solo. O mesmo órgão alerta que essa forma de degradação é um dos grandes problemas a serem enfrentados pela humanidade, principalmente relativos à erosão, compactação, perda de matéria orgânica e de biodiversidade (FAO, 2011). Além destes, também podemos citar como processos de degradação causados pelas atividades agropecuárias a desertificação e salinização do solo em regiões mais secas (SAMPAIO; ARAÚJO; SAMPAIO, 2005), relacionadas à irrigação, e o acúmulo de metais pesados e outros produtos degradantes nas áreas onde se faz uso intensivo de fertilizantes, corretivos e pesticidas (CUNHA et al. 2008). Outras práticas inadequadas que potencializam os processos de degradação são os plantios sem utilizar as curvas de nível, superpastoreio e colheita excessiva, uso de maquinário intenso e desmatamento irregular (ex. retirada da mata ciliar e de encosta). Fonte: Hirama, 2008. Figura 1.1 – Solo com erosão em Piracicaba (SP), processo que leva à improdutividade da terra Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 12 Mineração No Manual de Recuperação de Áreas Degradadas pela Mineração (IBAMA, 1990), a degradação de uma área é caracterizada “quando a vegetação nativa e a fauna são destruídas, removidas ou expulsas, a camada fértil do solo é removida ou enterrada, e a qualidade do regime de vazão do sistema hídrico, alterada”. A mineração é uma atividade potencialmente de maior impacto negativo do que a agricultura, embora atinja proporcionalmente menor extensão de áreas, pois, adicionalmente à erosão e suas consequências mencionadas anteriormente, pode ocasionar a remoção do solo (por meio da escavação), a cobertura da camada fértil pela deposição de grandes quantidades de estéreis e rejeitos (que podem inclusive conter substâncias radioativas, metais pesados e outros poluentes), derrames de óleos, graxas, ácidos e outros produtos utilizados ao longo da operação, que levam à contaminação do solo e das águas superficiais e subterrâneas. Esses impactos negativos resultam do processo de exploração mineral e disposição de seus resíduos. Além disso, uma vez exaurido o minério, muitas vezes as áreas não são recuperadas de forma adequada, aumentando ainda mais os processos de degradação. Por exemplo, cavas remanescentes, parcial ou totalmente inundadas, servem como depósitos de resíduos e criadouros de vetores de doenças, oferecendo riscos às populações vizinhas (MECHI; SANCHES, 2010; SCHMIDT; SILVA, 2000). Figura 1.2 – Desastreem Mariana (MG) após o rompimento da barragem de rejeitos de mineradora Fonte: Alves/TV Senado, 2015. Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 13 Urbanização e fatores associados • Disposição inadequada de resíduos industriais e urbanos: podem acarretar em degradação visual e estética, poluição do ar (emissão de gases do efeito estufa), das águas (superficiais e subterrâneas) e do solo, devido ao acúmulo de produtos tóxicos de elevada persistência no ambiente, como os poluentes inorgânicos (ex. metais pesados, como o chumbo, mercúrio e zinco) e orgânicos (tais como os derivados de petróleo). Quando a disposição dos resíduos é feita em encostas, acarreta ainda a erosão, escorregamentos de terra, assoreamento dos rios, e consequentemente, as enchentes. Em áreas de “lixões”, podem ser citados ainda os problemas sociais e de saúde humana, sendo foco de contaminação e de vetores de doenças infectocontagiosas (CUNHA; CONSONI, 1995; ALBERTE; CARNEIRO; KAN, 2005; JACOBI; BESEN, 2011). As áreas que receberam grandes quantidades de resíduos, mesmo após a retirada destes, podem ainda oferecer riscos iminentes devido aos produtos resultantes da sua decomposição, tais como o chorume, e especialmente o metano, que é explosivo (ALBERTE; CARNEIRO; KAN, 2005). • Ocupações irregulares As edificações em encostas, nas margens de corpos hídricos e mananciais, intensificam os processos de degradação (perda de biodiversidade, contaminação, erosão, assoreamento), colocando em risco a saúde e a segurança das pessoas, por exemplo, aumentando as chances de inundações, que podem ser intensificadas ainda pela baixa preservação de áreas verdes e impermeabilização dos solos. Embora muitas vezes associada aos assentamentos da população de baixa renda, o uso inadequado de áreas de interesse ambiental pela elevada susceptibilidade à degradação também pode ser observado, por exemplo, por edificações nobres, particulares ou mesmo públicas, em áreas de nascentes, margens de rios, topo de morros e outras áreas de preservação (FERREIRA; SAMPAIO; SILVA, 2005). No Capítulo 3 do seu livro-texto (ARAÚJO; ALMEIDA; GUERRA, 2007), você encontra maiores informações sobre os impactos negativos relacionados à urbanização. • Obras relacionadas ao suporte de infraestrutura, como a construção de estradas, hidrovias, hidroelétricas, entre outras. Áreas degradadas Assim como o termo degradação, os conceitos atribuídos às áreas degradadas também podem variar, vamos descrever a seguir os mais difundidos. De maneira Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 14 geral, podemos identificar uma área degradada quando (SANCHEZ, 2006): • Os processos naturais estão em condições de desequilíbrio, impossibilitando seu uso sustentável. • Foram suprimidos elementos essenciais para a manutenção das funções ecológicas do ecossistema. • Sofreram qualquer perturbação percebida como danosa ou indesejável. • Ocorre a presença de substâncias perigosas para a saúde humana ou para o ecossistema e a comunidade associada. Neste último caso, a denominamos de áreas contaminadas, também chamadas de “sítios contaminados”, “terrenos contaminados”, “solos contaminados” e “solos poluídos”. Segundo o MMA (2016), Como discutido anteriormente, uma área pode ser contaminada, por exemplo, pelo depósito de resíduos industriais e urbanos, tais como áreas de lixões, postos de combustíveis e uso intensivo de herbicidas (PIRES et al., 2003). Numa visão mais ecológica, vale a pena conhecer as seguintes definições, dadas por Kageyama (1994), que distinguiram “área degradada” como aquela que sofreu distúrbios intensos, com eliminação de seus meios de regeneração natural, e, portanto, incapaz de se reestabelecer sem a interferência humana, de “área perturbada”, considerada aquela que sofreu distúrbios, mas permaneceu com meios de regeneração natural. Essa distinção é importante de ser realizada, pois interfere diretamente nos meios de recuperação a serem utilizados em cada caso, como veremos oportunamente. Recuperação de áreas degradadas e termos correlatos Na literatura voltada à recuperação de áreas degradadas podem ser encontrados diversos termos correlatos, tais como recuperação ambiental, reabilitação ambiental, remediação e restauração de áreas degradadas. Alguns são frequentemente utilizados como sinônimos, mas nem sempre significam a mesma coisa, guardando certas especificidades, diferindo especialmente no que tange aos objetivos pretendidos com as ações de recuperação. Portanto, é necessário conhecê-los para que possa emprega-los adequadamente. Os termos mais genéricos e equivalentes entre si são Recuperação ambiental e Recuperação de áreas degradadas, utilizados para designar a intenção de melhorar as condições ambientais de um ecossistema degradado, podendo ser incluídas ações de reabilitação ecológica ou restauração ecológica, que são distintas em Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 15 seus objetivos e técnicas. Portanto, por gerar ambiguidade com relação aos seus objetivos, o emprego desses termos (recuperação) deve ser evitado em projetos técnicos e instrumentos legais quando a discriminação da técnica a ser utilizada se faz necessária (ARONSON; DURIGAN; BRANCALION, 2011). [...] uma área contaminada pode ser definida como uma área, local ou terreno onde há comprovadamente poluição ou contaminação causada pela introdução de quaisquer substâncias ou resíduos que nela tenham sido depositados, acumulados, armazenados, enterrados ou infiltrados de forma planejada, acidental ou até mesmo natural. Na Lei Federal n. 9.985/2000 (BRASIL, 2000), conhecida como Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), o termo Recuperação é definido como a “restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original”. De acordo com o Decreto Federal n. 97.632/1989, relacionado à regulamentação de empreendimentos que se destinam à exploração de recursos minerais, “a recuperação deverá ter por objetivo o retorno do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo, visando a obtenção de uma estabilidade do meio ambiente” (BRASIL, 1989). Note que a meta da recuperação é pouco especificada, ou seja, assume que uma área degradada pode ser recuperada mesmo que ao final ela se encontre com aspectos diferentes do ecossistema natural. Da mesma forma genérica, é definido o termo “reabilitação” de área degradada, que prevê o “restabelecimento das principais características da área, conduzindo-a a uma situação alternativa e estável, atribuindo a ela uma função adequada ao uso humano” (IBAMA, 1990). Esse termo é abundantemente utilizado quando se trata de recuperação de áreas mineradas e/ou em situações em que não é possível o retorno das condições originais do ecossistema, quando se torna a melhor (ou única) opção, por exemplo, em locais com nível de degradação elevado, como no caso de extração de grandes quantidades de minerais, os quais nunca mais retornarão ao local original. Pode referir-se também à recuperação da produtividade de áreas de pastagens ou agrícolas por intermédio, por exemplo, de práticas agrícolas ou implantação de sistemas agrossilvopastoris. O enfoque das ações é no sentido de recuperar os processos e funções do ecossistema para aumentar o fluxo de serviços ambientais e benefícios às pessoas (SER, 2004). Diversos parques, tais como o Parque do Ibirapuera, em São Paulo, e a Pedreira Leminski, emCuritiba/ PR, são resultados de projetos de reabilitação de áreas degradadas por atividades de mineração. Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 16 Figura 1.2 – Sistema Silvopastoril na Austrália. A implantação desses tipos de sistemas agrossilvopastoris pode constituir a reabilitação de uma área degradada Fonte: Lamiot, 2009. O objetivo mais específico está definido no conceito de Restauração, que prevê a “restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original” (BRASIL, 2000). Portanto, as ações devem considerar, além da estabilidade ambiental, aspectos relacionados à biodiversidade, tendo em vista atingir uma comunidade equivalente a que existia anteriormente à degradação, por exemplo, a recomposição de uma mata ciliar. Assim, diferentemente da reabilitação, o uso de espécies exóticas deve ser evitado durante as intervenções para recompor a vegetação. Note que a restauração possui, então, uma meta mais difícil de ser atingida, especialmente em ambientes originalmente com alta diversidade, visto que nem sempre será possível conseguir que os diversos atributos, tais como topografia, solo, vegetação, fauna, hidrologia, entre outros, voltem a apresentar as características existentes anteriores à degradação (TAVARES, 2008). Segundo Engel e Parrotta (2003), o termo restauração ecológica passou a ser mais claramente definido a partir da década de 1980, quando a ecologia da restauração se estabelece como ciência, e passou a ser o mais empregado mundialmente. Quando se trata de recuperação de áreas contaminadas, entre outros, por deposição de lixo, derramamento de óleo acidental ou por meios inadequados de contenção em postos de combustível, deve-se adotar o termo “Remediação”, que se refere a ações e tecnologias que visam eliminar, neutralizar ou transformar contaminantes presentes em subsuperfícies (solo e águas subterrâneas), empregando-se métodos de tratamentos predominantemente químicos e biológicos (ABNT, 1999). Os tratamentos podem ser empregados, in situ e ex situ, sendo que, segundo o MMA (2016), “para garantir a compatibilização do uso Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 17 futuro da área com a contaminação existente, destacam-se o tratamento térmico, solidificação, estabilização, biorremediação, fitorremediação, transformação química e atenuação natural”. Para saber mais sobre remediação e suas técnicas acesse o artigo de Anjos, Sánchez e Bertolino (2012), disponível nas referências ao final do tema. Apesar das tecnologias já disponíveis para remediação, poucas áreas são de fato reabilitadas, tal como registrado por Vasconcelos et al. (2014) em um levantamento sobre áreas contaminadas por postos de combustível no município de São Bernardo/SP. A escolha para recuperar uma área entre as ações de restauração, reabilitação ou remediação depende, especialmente, das condições locais, recursos econômicos e da legislação ambiental aplicável ao local, assunto que trataremos no nosso próximo tema. Reflorestamento Comumente observamos o emprego deste termo (Reflorestamento) como sinônimo de recuperação haja vista a importância da vegetação nesse processo; todavia, reflorestar tem um sentido genérico da atividade de plantar árvores em locais desmatados, que pode ser realizado tanto para fins de restauração ecológica (por exemplo, plantio de árvores nativas) quanto silviculturais (por exemplo, plantios homogêneos de espécies exóticas como o pinus e o eucalipto para posterior utilização de madeira), quando este termo é mais adequado. Depois de muito tempo, hoje é reconhecida a relação direta entre ambiente saudável e qualidade de vida, e que o único modelo possível de garantir condições adequadas para a nossa e as futuras gerações é através do desenvolvimento sustentável. Não podemos esperar a exaustão dos recursos naturais para começar a agir; além de reduzir o consumo, considerando os níveis elevados de degradação atual, torna-se evidente a necessidade de recuperar as áreas que já foram danificadas, degradadas ou destruídas, seja para aumentar sua produtividade (por meio de mecanismos de conservação do solo, por exemplo) ou para retornar à paisagem os ecossistemas e sua biodiversidade (e funções) associada. No Brasil, apesar do enorme montante de terras abandonadas, em processo de erosão ou subutilizadas, ainda é notável a expansão das fronteiras agropecuárias. Segundo estimativas, se tais áreas fossem recuperadas, no sentido de reabilitação, o país não necessitaria de novas áreas para agropecuária (IPEVS, 2012). Vamos terminar este tópico com o seguinte questionamento, apontado por Cortez (2011, p. 5): Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 18 Bacia do Rio Doce é monitorada após rompimento das barragens em Mariana - Youtube • A reportagem trata do desastre que ocorreu em novembro de 2015 no município de Mariana/MG: o rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco, lançando um mar de lama, contendo inclusive substâncias tóxicas, em toda a bacia do Rio Doce, que ocupa parte dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo. Os estragos ainda estão sendo analisados, e há um alerta sobre a possibilidade de enchentes na região. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qWVXgP-NaSU>. Acesso em: 25 abr. 2016. Piscicultura em áreas degradadas no município de Poxoréu/MT – TV RECORD MT • A reportagem expõe a experiência de reabilitação de áreas degradadas por mineração de diamantes realizada pelos proprietários rurais. Para isso, formaram uma associação e buscaram apoio dos programas de governo, especialmente aqueles voltados à agricultura familiar. Reabilitaram a área, ou seja, não tiveram a pretensão de restaurar o ecossistema tal como era antes da degradação, por intermédio de ações com a finalidade de estabilização do terreno e instalação de pesqueiros, já que na área fluía muita água. Dessa forma, conseguiram mudar a realidade local; onde a população antes só tinha como alternativa o garimpo – atividade altamente impactante e com pouco lucro para os garimpeiros – agora, com uma boa produtividade da atividade pesqueira, os moradores vislumbram uma melhor qualidade de vida. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=A1LvwAvpoXc>. ACOMPANHE NA WEB [...] quanto maior o conhecimento humano e o nível tecnológico de suas sociedades, maior seria a degradação dos ambientes ocupados por essas sociedades? A tecnologia mais causa impacto negativo ao meio ambiente ou pode ser uma ferramenta de recuperação para áreas e ecossistemas degradados? Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 19 Acesso em: 25 abr. 2016. Biorremediação • O vídeo descreve resumidamente as técnicas de biorremediação, que consiste na utilização de seres vivos para despoluir água e solo contaminados por compostos tóxicos e persistentes, como petróleo, metais pesados e poluentes orgânicos. Essas substâncias estão presentes em diversos produtos que utilizamos, como agrotóxicos, derivados de petróleo (sacos plásticos, por exemplo), pilhas, detergentes, e podem chegar ao meio ambiente, afetando a saúde das pessoas e das outras espécies, via uso/descarte inadequados ou desastres ambientais, como derramamentos. Também são apresentados os distintos organismos que podem ser utilizados, in situ ou ex situ, para decompor ou tornar o poluente em uma forma não tóxica: bactérias, fungos e plantas (isso é chamado de fitorremediação). OBrasil, devido a suas condições climáticas, favorece o uso dessa tecnologia. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Td6hTIKsq2U>. Acesso em: 25 abr. 2016. Degradação ambiental ameaça progresso em países emergentes, diz ONU (FELLET, 2011) • A reportagem traz um alerta descrito no Relatório de Desenvolvimento de 2011 do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) sobre o fato de que se as atuais tendências de degradação ambiental no planeta persistirem, pode ser esperado, antes mesmo de 2050, uma redução no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), especialmente nos países em desenvolvimento. A deterioração do ambiente dificulta o acesso a bens e serviços essenciais, e afeta diretamente o aumento e a volatilidade dos preços dos alimentos, atingindo as pessoas mais pobres, as quais contribuem menos efetivamente para o problema, pois utilizam menos recursos para sobreviver. Entre os indicadores ambientais são citados o aumento das emissões de dióxido de carbono (que ocasiona modificações climáticas, intensificando o efeito estufa) e a perda de qualidade do solo, da água e da cobertura florestal. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/11/111102_ pnud_ambiente_jf.shtml>. Acesso em: 25 abr. 2016. Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 20 Fitorremediação de solos contaminados com herbicidas (PIRES et al., 2003) • O artigo apresenta um levantamento sobre as técnicas de fitorremediação, que consiste na descontaminação de solo e água de poluentes tóxicos orgânicos e inorgânicos por meio de plantas. O enfoque é dado para a remediação de solos contaminados pelo uso de herbicidas. As plantas são selecionadas de acordo com diversos atributos relacionados à capacidade, natural ou desenvolvida, de degradar, tornar menos tóxicos ou inócuos os poluentes. É chamado de fitodegradação o mecanismo em que a planta metaboliza a substância em um composto menos tóxico ou inócuo (por exemplo, incorporando os compostos orgânicos tóxicos em seus tecidos ou liberando ao ar por meio da volatização), enquanto a fitoestimulação é o mecanismo em que a planta libera exsudatos pelas raízes, que estimulam a atividade microbiana ao redor para que essas possam agir sobre os poluentes. O uso das plantas para fitorremediação pode ser in situ e ex situ, quando o tratamento é realizado fora da área contaminada, sendo já conhecidas algumas plantas daninhas e espécies agrícolas que possuem características fitorremediadoras. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/pd/v21n2/a20v21n2.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2016. Manual de Impactos Ambientais: orientações básicas sobre aspectos ambientais de atividades produtivas (BANCO DO NORDESTE, 1999) • Neste manual estão descritos os principais impactos negativos oriundos das atividades produtivas no Brasil. Para cada uma delas, são apresentados os aspectos mais relevantes a serem considerados numa análise ambiental, bem como são sugeridas medidas que possam minimizar, mitigar ou compensar os danos causados. É importante ressaltar o cuidado em relação às leis expostas no Manual, visto que podem ter sido alteradas, como é o caso do Código Florestal: na época da publicação, vigorava o criado em 1965 (Lei n. 4.771/1965), e agora temos o novo Código, Lei n. 12.651/2012. Constitui como um bom material de apoio para estudos e práticas voltadas à análise de impactos ambientais por atividades antrópicas. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/sqa_pnla/_arquivos/ manual_bnb.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2016. Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 21 Instruções: Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido. Questão 1 Disponível em: <http://www.eumed.net/cursecon/ecolat/br/13/economia-ambiental.hmtl>. Acesso em: 08 abr. 2016). Explique como a degradação ambiental pode afetar negativamente a qualidade de vida das populações humanas, e como podemos, pessoalmente, contribuir para minimizá-la. Questão 2 Muitas vezes, os termos utilizados no âmbito da gestão ambiental fazem parte de um vocabulário comum. No entanto, é relevante que os profissionais da área conheçam com clareza os conceitos de determinadas expressões, como degradação, contaminação ambiental, entre outras. Analise as sentenças a seguir e assinale a que expressa adequadamente o termo e o conceito associado. a) O conceito de “degradação ambiental” refere-se à perda dos recursos naturais, AGORA É A SUA VEZ As mudanças ocorridas no meio ambiente acompanham a evolução do ser humano enquanto ser social. Essas mudanças ocorrem no uso de novos meios, novas tecnologias e novas técnicas tanto referentes à produção econômica quanto a mecanismos para a melhoria do bem-estar social. Entretanto, algumas dessas mudanças vêm provocando problemas para a sociedade e, dentre essas, um grande destaque dentro do debate sociopolítico atual é a questão da degradação ambiental (PINTO M. N.; CORONEL, D. A. A degradação ambiental no Brasil: uma análise das evidências empíricas. Observatorio de la Economía Latinoamericana, n. 188, 2013. Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 22 sem implicações com os aspectos socioeconômicos. b) Os termos Degradação, Poluição e Impacto ambiental são sinônimos, podendo ser utilizados indistintamente. c) Pode ser considerada como degradação da qualidade ambiental a alteração adversa das características do meio ambiente. d) São consideradas como áreas degradadas apenas aquelas com presença de poluentes no solo e na água. Questão 3 A literatura técnica e os textos da legislação ambiental brasileira em vários níveis deixam dúvidas e contradições sobre as definições exatas dos termos: recuperação, reabilitação e restauração, que em muitos casos são apontados como diferentes, e em outros, como sinônimos. [...] Observa-se que os termos recuperação, reabilitação e restauração têm sido usados não apenas nos aspectos que caracterizam suas execuções, mas principalmente em função dos seus objetivos e metas. De modo geral, os termos se referem ao caminho inverso à degradação e é importante para facilitar a comunicação entre os interessados na escolha do processo a ser adotado na área degradada. (Adaptado de: <http://files.woodtechnology.webnode.com.br/200000217-c42dcc5283/ Recupera%C3%A7%C3%A3o,%20Restaura%C3%A7%C3%A3o%20e%20Reabililta%C3%A7%C3%A3o.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2015.) De acordo com o vocabulário técnico e as definições dadas na Lei do SNUC (2000), analise as afirmativas a seguir, colocando Verdadeiro (V) ou Falso (F) quanto ao uso correto dos termos recuperação, reabilitação e restauração. ( ) A recuperação de uma área é definida como a “restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original”. ( ) A restauração ambiental é definida como a restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original. ( ) A reabilitação de uma área pode consistir na recuperação da produtividade de pastagens degradadas mediante o uso de técnicas relacionadas à conservação do solo. ( ) A transformação de antigas pedreiras em parques recreativos, como o Ibirapuera, em São Paulo, é um exemplo clássico dos resultados da prática das ações de restauração ambiental. Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciênciada recuperação de áreas degradadas T1 23 Agora, assinale a sequência correta: a) V – V – F – V. b) V – V – F – F. c) F – V – V – V. d) F – F – V – F. Questão 4 Dentro da biorremediação insere-se a fitorremediação, que é uma “alternativa aos métodos convencionais de bombeamento e tratamento da água, ou remoção física da camada contaminada de solo, sendo vantajosa principalmente por apresentar potencial para tratamento in situ e ser economicamente viável” (PIRES, Fábio Ribeiro et al. Fitorremediação de solos contaminados com herbicidas. Planta daninha, v. 21, n. 2, p. 335-341, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pd/v21n2/a20v21n2.pdf>. Acesso em: 08 abr. 2016. Descreva: a) biorremediação; b) tratamento in situ; c) dois mecanismos possíveis de ação da fitorremediação: fitodegradação e fitoestimulação. Questão 5 Verifica-se que o aumento da produção agrícola tem ocorrido às expensas de aumentos da produtividade, utilizando, além de outras técnicas, o uso intensivo do solo, uma vez que na agricultura moderna existe a preocupação da escala de produção, o que leva ao emprego da mecanização intensiva [...] mesmo adotando-se tecnologia compatível com a monocultura, resultando em produtos padronizados e lucro certo, torna-se, todavia, frágil em relação às pragas e doenças, promovendo maior risco ambiental. O uso intensivo da mecanização, mais fertilizantes e agrotóxicos, compromete a cobertura do solo, as bacias hidrográficas e demais ecossistemas, afetando a sustentabilidade ecológica, com significativa tendência à degradação ambiental”. (Fonte: CUNHA, Nina Rosa da Silveira et al. A intensidade da exploração agropecuária como indicador da degradação ambiental na região Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 24 dos Cerrados, Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, v. 46, n. 2, p. 291-323, 2008. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/resr/v46n2/v46n2a02.pdf>. Acesso em: 08 abr. 2016. Descreva os principais processos de degradação ocasionados pelas atividades agropecuárias, destacando as práticas inadequadas que os potencializam. Neste tema discutimos como a degradação ambiental altera o meio físico e biológico, reduzindo ou inviabilizando o desenvolvimento socioeconômico, podendo ser causada pelas diferentes atividades antrópicas, em especial aquelas relacionadas a agropecuária, mineração, disposição de resíduos, uso e ocupação humana irregulares. A perda da biodiversidade, erosão, assoreamento de corpos hídricos, contaminação da água e do solo estão entre os principais processos de degradação, colocando em riscos às populações humanas e das demais espécies. Você também conheceu os distintos termos associados à recuperação de áreas degradadas: reabilitação, restauração e remedição, diferenciados e utilizados conforme as condições da área degradada e das metas pretendidas para uso futuro do local. Entre estes, o mais ambicioso é a restauração ambiental que visa o retorno de um ecossistema o mais próximo ao original, enquanto a reabilitação prevê uma maior estabilidade ambiental sem a preocupação em torno de biodiversidade. Já em situações de contaminação, há necessidade de se fazer a remediação ambiental por meio de técnicas biológicas ou físico-químicas para retirar, imobilizar ou tornar menos tóxico ou inócuo os poluentes. A respeito disso, as metas que caracterizam cada uma dessas concepções também devem ser observadas em relação às exigências impostas pela legislação ambiental, da qual trataremos no nosso próximo tema. Até lá. FINALIZANDO Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 25 REFERÊNCIAS ALBERTE, Elaine Pinto Varela; CARNEIRO, Alex Pires; KAN, Lin. Recuperação de áreas degradadas por disposição de resíduos sólidos urbanos. Diálogos & Ciência — Revista Eletrônica da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Feira de Santana. ano 3, n. 5, jun. 2005. Disponível em: <http://www.ftc.br/revistafsa/uplo ad/15-12-2005_09-24-52_20-06-2005_11-50-14_linkan.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2016. ALVES, Rogério. TV Senado. Bento Rodrigues, Mariana, Minas Gerais, 2015. Licenciado sob CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons. Disponível em: <https://upload. wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2c/Bento_Rodrigues%2C_Mariana%2C_ Minas_Gerais_%2822828956680%29.jpg>. Acesso em: 03 abr. 2016. ANJOS, Jose Ângelo Sebastião Araújo; SÁNCHEZ, Luis Enrique; BERTOLINO, Luiz Carlos. Remediação de áreas contaminadas: proposições para o sítio da Plumbum em Santo Amaro da Purificação – BA. In: FERNANDES, Francisco Rego Chaves; BERTOLINO, Luiz Carlos; EGLER, Silvia. (Orgs.) Projeto Santo Amaro – BA: aglutinando ideias, construindo soluções – diagnósticos. CETEM/MCTI: Rio de Janeiro, 2012. p. 103-130. Disponível em: <http://www.cetem.gov.br/santo_amaro/pdf/cap10.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2016. ARAUJO, G. H. S.; ALMEIDA, J. R.; GUERRA, A. J. T. Gestão Ambiental de Áreas Degradadas. 3. ed. São Paulo: Bertrand Brasil. 2007. ARONSON, James; DURIGAN, Giselda; BRANCALION, Pedro Henrique S. Conceitos e Definições Correlatos à Ciência e à Prática da Restauração Ecológica. Instituto Florestal. São Paulo, n. 44, p. 1-38, 2011. (Série Registros). Disponível em: <http:// www.iflorestal.sp.gov.br/publicacoes/serie_registros/IFSR44/IFSR44.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2016. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. Elaboração e apresentação de projeto de reabilitação de áreas degradadas pela mineração. NBR 13030, ABNT: Rio de Janeiro, 1999. 5p. BANCO DO NORDESTE. Manual de Impactos Ambientais: orientações básicas sobre aspectos ambientais de atividades produtivas. Fortaleza: Banco do Nordeste, 1999. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/sqa_pnla/_arquivos/manual_ bnb.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2016. BITAR, Omar Yazbek. Avaliação da recuperação de áreas degradadas por mineração na região metropolitana de São Paulo. 1997. 184 p. Tese (Doutorado em Engenharia Mineral) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997. Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 26 BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a política nacional do meio ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 02 de setembro de 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938. htm>. Acesso em: 22 abr. 2016. ______. Resolução CONAMA nº 001, de 23 de janeiro de 1986. Estabelece diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 de fevereiro de 1986. Disponível em: <http:// www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html>. Acesso em: 28 mar. 2016. ______. Decreto n. 97.632, de 31 de abril de 1989. Dispõe sobre a regulamentação do artigo 2º, inciso VIII, da Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 12 de abril de 1989. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/ D97632.htm>. Acesso em: 20 mar. 2016. ______. Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1°, incisos I, II, III e VII, da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 19 de julho de 2000. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm>. Acesso em: 28 mar. 2016.______. Secretaria de Assuntos Estratégicos. Recuperação de áreas degradadas. 2009. Disponível em: <http://www.sae.gov.br/imprensa/noticia/recuperar-areas-de- terras-degradadas-e-prioridade-do-setor/>. Acesso em: 22 abr. 2016. ______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: meio ambiente, saúde. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental. 128p., 1997. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro091.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2016. CAIRNS, John. Restoration, reclamation, and regeneration of degraded or destroyed ecosystems. In: SOULE, Michael E. (ed.) Conservation Biology: the Science of Scarcity and Diversity. Sunderland: Sinauer Associates, Inc., 1986. p. 465-484. CORTEZ, Ana Teresa Cáceres. O lugar do homem na Natureza. Revista do Departamento de Geografia – USP, v. 22, p. 29-44, 2011. Disponível em: <http:// periodicos.usp.br/rdg/article/view/47218/50954>. Acesso em: 22 abr. 2016. CUNHA, M. A.; CONSONI, A. J. Os estudos do meio físico na disposição de resíduos. In: BITAR, Omar Yazbek (Coord.). Curso de geologia aplicada ao meio ambiente. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), 1995. cap. 4.6, p.217-227. Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 27 CUNHA, Nina Rosa da Silveira et al. A intensidade da exploração agropecuária como indicador da degradação ambiental na região dos Cerrados, Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 46, n. 2, p. 291-323. 2008. Disponível em: <http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032008000200002&ln g=en&nrm=iso>. Acesso em: 01 abr. 2016. ENGEL, Vera Lex; PARROTA, John A. Definindo a restauração ecológica: tendências e perspectivas mundiais. In: KAGEYAMA, Paulo Y.; OLIVEIRA, Renata Evangelista; MORAES, Luiz Fernando Duarte; ENGEL, Vera Lex; GANDARA, Flávio Bertin (Eds.). Restauração ecológica de ecossistemas naturais. Botucatu: FEPAF, 2003. Cap. 1, p. 3-26. FELLET, João. Degradação ambiental ameaça progresso em países emergentes, diz ONU. BBC Brasil. 2011. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/ noticias/2011/11/111102_pnud_ambiente_jf.shtml>. Acesso em: 07 abr. 2016. FERREIRA, Daniela Figueiredo; SAMPAIO, Francisco Edison; SILVA, Reinaldo Vieira da Costa. Impactos sócio-ambientais provocados pelas ocupações irregulares em áreas de interesse ambiental – Goiânia (Go), 2005. Disponível em:<http://www2. ucg.br/nupenge/pdf/0004.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2016. FROTA, Patrícia Vasconcelos. Processo erosivo e a retirada da vegetação na Bacia Hidrográfica do açude Orós – CE. Revista Geonorte, v. 4, n. 4, p. 1472-1481, 2012. Disponível em: <http://www.periodicos.ufam.edu.br/index.php/revista-geonorte/ article/view/2046/1923>. Acesso em: 05 abr. 2016. GLIESSMAN, Stephen R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. 3. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005. HIRAMA, Ana Paula. Solo com erosão em Piracicaba, São Paulo, Brasil, 2008. Licenciado sob CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons. Disponível em: <https:// commons.wikimedia.org/wiki/File:Eros%C3%A3o_em_solo_de_Piracicaba_SP.jpg>. Acesso em: 08 abr. 2016. INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS – IBAMA. Manual de Recuperação de áreas degradadas pela mineração. Brasília: IBAMA, 1990. 96p. INSTITUTO DE PESQUISA EM VIDA SELVAGEM E MEIO AMBIENTE – IPEVS. Brasil tem o equivalente a duas Franças em áreas degradadas, diz Ministério do Meio Ambiente. Instituto de Pesquisa em Vida Selvagem e Meio Ambiente – BLOG, 2012. Reportagem de Vladimir Platonow. 12 de julho de 2012. Disponível em: <http://ipevs. org.br/blog/?tag=areas-degradadas>. Acesso em: 07 abr. 2016. INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS FLORESTAIS - IPEF. Diretrizes para Utilização de Recursos Florestais. 2016. Disponível em: <http://www.ipef.br/legislacao/ Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 28 diretrizes.asp>. Acesso em: 22 abr. 2016. JACOBI, Pedro Roberto; BESEN, Gina Rizpah. Gestão de resíduos sólidos em São Paulo: desafios da sustentabilidade. Estudos Avançados, v. 25, n. 71, p. 135-158, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 40142011000100010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 08 abr. 2016. KAGEYAMA, Paulo Yoshio. Revegetação de áreas degradadas: modelos de consorciação com alta diversidade. Anais... Simpósio Sul-Americano, I, Simpósio Nacional de Recuperação De Áreas Degradadas, II, Foz do Iguaçu, 1994. p. 569-76. LAMIOT. Silvopasture over the years, 2009. Licenciado sob CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/ File:Agrosylviculture_australie_Clive_Wawn.jpg>. Acesso em: 08 abr. 2016. MECHI, Andréa; SANCHES, Djalma Luiz. Impactos ambientais da mineração no Estado de São Paulo. Estudos Avançados, v. 24, n. 68, p. 209-220, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v24n68/16.pdf>. Acesso em: 07 abr. 2016. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – MMA. Glossário. 2009. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/sedr_proecotur/_arquivos/idec%2009%20 glossario%20b.pdf>. Acesso em 28 mar 2016. ______. Áreas Contaminadas. 2016. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/ cidades-sustentaveis/residuos-perigosos/areas-contaminadas>. Acesso em: 01 abr. 2016. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA – FAO. Escassez e degradação dos solos e da água ameaçam segurança alimentar. 2011. Disponível em: <https://www.fao.org.br/edsaasa.asp>. Acesso em: 01 abr. 2016. PIRES, Fábio Ribeiro et al. Fitorremediação de solos contaminados com herbicidas. Planta daninha, v. 21, n. 2, p. 335-341, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/ pdf/pd/v21n2/a20v21n2.pdf>. Acesso em: 08 abr. 2016. SAMPAIO, Everardo Valadares de Sa Barreto; ARAÚJO, Maria do Socorro B.; SAMPAIO, Yony S. B. Impactos ambientais da agricultura no processo de desertificação no Nordeste do Brasil. Revista de Geografia, v. 22, n. 1, p. 93-113, 2005. Disponível em: <http://www.revista.ufpe.br/revistageografia/index.php/revista/article/ viewFile/38/8>. Acesso em: 10 abr. 2016. SANCHEZ, L. E. Recuperação de áreas degradadas. Um campo multidisciplinar de pesquisas. Palestra. Seminário Unesp, Rio Claro, 2006. Disponível em: <http://www. rc.unesp.br/igce/pos/gma/Palestra.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2016. Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas T1 29 SCHMIDT, Maria Judith M.; SILVA, Orlando Honorato. Resíduos Gerados pela Construção Civil: Aterro de Inertes – Práticas Recomendadas. 2. ed. São Paulo: IBRACON, 2000. 132p SILVA, João Paulo Souza. Impactos ambientais causados por mineração. Revista Espaço da Sophia, n. 08, 2007. Disponível em: <http://www.registro.unesp.br/sites/ museu/basededados/arquivos/00000429.pdf>. Acesso em: 03 abr. 2016. SOCIETY FOR ECOLOGICAL RESTORATION – SER. The SER International Primer on Ecological Restoration. Tucson: Society for Ecological Restoration International Science & Policy Working Group, 2004. Disponível em: <http://www. ser.org/resources/resources-detail-view/ser-international-primer-on-ecological- restoration>. Acesso em: 28 mar. 2016. TAVARES, Sílvio Roberto de Lucena. Curso de recuperação de áreas degradadas: a visão da Ciência do Solo no contexto do diagnóstico, manejo, indicadores de monitoramento e estratégias de recuperação. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2008. 228 p. Disponível em: <http://www.cnps.embrapa.br/publicacoes/pdfs/curso_ rad_2008.pdf>. Acesso em: 09 abr. 2016. TOLEDO, Karina. Sem florestas, gasta-se mais. Revista Pesquisa Fapesp, 219, p. 54-57. 2014. Disponível em:<http://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/ uploads/2014/05/054-057_Biota_219.pdf?8963d4>. Acesso em 22 abr. 2016. VASCONCELOS, Bianca da Silva et al. Áreas contaminadas por postos de combustível e medidas de remediação no município de São Bernardo do Campo. Saúde Meio Ambiente, v. 3, n. 1, p. 73-83, 2014. Disponível em: <http://www.periodicos.unc.br/ index.php/sma/article/view/539/431>. Acesso em: 08 abr. 2016. Contaminação: Introdução, no meio, de elementos em concentrações nocivas à saúde humana, tais como organismos patogênicos, substâncias tóxicas ou radioativas (MMA, 2016). Este termo, ao menos na área da saúde, é muitas vezes utilizado como sinônimo de poluição. Espécie exótica (ou não nativa): Para uma determinada região biogeográfica, uma espécie oriunda de alguma outra região e que ali não ocorre naturalmente. Compreende espécies cultivadas (ornamentais ou comerciais) e espécies invasoras (ARONSON; DURIGAN; BRANCALION, 2011). Estéreis: Substâncias minerais que não têm aproveitamento econômico geradas durante a extração do minério (lavra). GLOSSÁRIO T1 30 Degradação e Recuperação: terminologia e conceitos utilizados no contexto da ciência da recuperação de áreas degradadas Mata ciliar: Vegetação situada às margens dos rios e mananciais, também chamada de vegetação ribeirinha, mata de várzea, mata de galeria. Meio ambiente: Segundo a PNMA (Lei Federal n. 6.931/1981), designa o “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Rejeitos: Minerais descartados durante o beneficiamento do minério, por terem alta incidência de defeitos ou impurezas. Serviços ecossistêmicos: Produtos e processos naturais promovidos pelos ecossistemas que contribuem direta e indiretamente para a vida humana, tais como purificação do ar e da água, alimentos etc. Sistemas agrossilvopastoris: Sistema que integra, numa mesma unidade de área, árvores (por meio do plantio, regeneração ou manutenção de indivíduos já existentes no local) com lavouras e pastagens. Tema 2 Por que Recuperar Áreas Degradadas? Aspectos Legais e Socioambientais Não é de hoje que a humanidade se preocupa em recuperar áreas degradadas, especialmente quando seus efeitos atingem diretamente a população. Na antiguidade, os povos romanos, gregos e persas já sofriam com problemas relacionados à escassez de água e perda de terras produtivas devido à erosão do solo, sendo esses problemas apontados como causas que colaboraram para a queda e supressão de grandes civilizações. Até mesmo os problemas ambientais urbanos, tais como os relacionados aos resíduos gerados pelas grandes populações e a higiene, também não são recentes, sendo registrados desde a Idade Média (LIEBMANN, 1979). Entretanto, é evidente que a frequência, extensão e grau de degradação ambiental do planeta vêm aumentando a níveis alarmantes em função não apenas do elevado número de pessoas a “consumir” os recursos naturais, mas também do elevado poder de destruição dos mecanismos e tecnologias utilizados nas atividades antrópicas. Por isso, o desenvolvimento sustentável torna- se fundamental, lembrando que este conceito, além dos pilares econômico, social e ambiental, inclui os direitos humanos, tal como o direito a um meio ambiente limpo e seguro, que deve ser assegurado para as gerações futuras (ELKINGTON, 2001, p. 99). Nesse contexto, é evidente a importância da recuperação de áreas degradadas, legitimada pela ética que devemos ter em relação à nossa e às demais espécies, pelos benefícios diretos e indiretos gerados pelos ecossistemas em equilíbrio e para o cumprimento das exigências legais, que passaremos a discutir a seguir. POR DENTRO DO TEMA T2 32 Por que Recuperar Áreas Degradadas? Aspectos Legais e Socioambientais Retorno dos Serviços Ambientais (ou serviços ecossistêmicos): benefícios econômicos diretos e indiretos O estímulo à recuperação de áreas degradadas pode ser dado primeiramente pela admissão de que a destruição dos ecossistemas está interferindo diretamente em nossa própria possibilidade de existência, pois estamos perdendo qualidade de vida por não poder mais contar plenamente com os elementos da biodiversidade e com os serviços ambientais proporcionados pela natureza. Podem ser reconhecidas quatro categorias de bens e serviços dos ecossistemas: serviços de provisão, regulação, suporte e cultural, tais como: abastecimento de água para consumo direto e indireto (por exemplo, funcionamento de hidroelétricas); controle de enchentes; manutenção do clima (sequestro de carbono, manutenção do ciclo hidrológico e de nutrientes); proteção do solo e controle de erosão, inclusive eólica; polinização de cultivos; fornecimento de espaços para atividades recreativas, intelectuais e espirituais (ARONSON et al. , 2011; MMA, 2011). Dentre os ecossistemas com funções ecológicas mais reconhecidas, visto o efeito da degradação atingir diretamente o ser humano, podem ser citadas as matas ciliares, que recebem este nome devido à equivalência da função de proteção exercida pelos cílios aos olhos. As matas ciliares são encontradas em todos os biomas brasileiros, embora com composição e estrutura distintas em cada um deles. Elas agem diretamente na regulação da quantidade e qualidade da água, já que contribuem para conter enxurradas devido à barreira física, protegem as redes de drenagem e aumentam a infiltração de água no solo devido à camada de raízes, além de ajudar a reter os sedimentos, agrotóxicos e excesso de nutrientes oriundos do uso de fertilizantes. Quando preservadas, ou recuperadas, as matas ciliares formam naturalmente corredores de biodiversidade, ampliando as chances de conservação das populações de espécies da fauna e da flora. A recuperação de áreas degradadas também pode trazer benefícios econômicos diretos, tais como os listados a seguir: • Aumento da produtividade da colheita (considerando tanto o retorno obtido através da recuperação de solos aráveis degradados como a manutenção de polinizadores próximos a área de cultivo através da recuperação de vegetação nativa). • Redução de gastos com fertilizantes no caso de reabilitação de áreas de cultivo ou pastagens degradadas. • Fornecimento de produtos florestais comercializáveis, tais como frutos, resinas, mel. T2 33Por que Recuperar Áreas Degradadas? Aspectos Legais e Socioambientais • Fornecimento de madeira (exceto no caso de Áreas de Preservação Permanente (APP) restauradas, onde, em geral, não pode ser extraída). • Lucros obtidos com a utilização de área recuperada para fins recreativos. • Obtenção de incentivos e pagamentos ao reflorestamento como forma de promover o “sequestro de carbono” e, dessa forma, contribuir para a redução do efeito estufa e, consequentemente, do aquecimento global. Isso porque as árvores, durante o processo de fotossíntese, retiram carbono da atmosfera, em forma de CO 2 , e o incorporam à sua biomassa (troncos, galhos e raízes). Várias empresas e eventos que emitem grandes quantidades de gás carbônico (CO2) têm realizado compensações (ou neutralizações) ambientais por meio do financiamento de projetos de recuperação de áreas degradadas. O plantio de árvores para o “sequestro de carbono” também está incluso como um Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que é um dos mecanismos de flexibilização criado no Protocolo de Quioto como forma de contribuir para reduzir as emissões atmosféricas de gases do efeito estufa. O MDL permite a certificação de projetos de redução de emissões nos países em desenvolvimento e a posterior venda das reduções certificadas de emissões – RCEs –, também chamadas de “créditos de carbono”, para os países desenvolvidos como modo suplementar para cumprirem suas metas de reduçãopreconizadas nos acordos climáticos. No Brasil, os créditos de carbono são negociados em leilões promovidos pela BM&FBOVESPA a pedido de entidades públicas ou privadas, sendo um dos países expoentes na participação desse mercado (MMA, 2012). O Brasil já aprovou projetos de reflorestamento para gerar créditos de carbono no mercado regulamentado pelo Protocolo de Quito, todavia, não é muito simples nem muito promissor, sendo exigidos altos custos de investimentos, diversos procedimentos e grandes áreas para que possam valer a pena economicamente. Já no mercado informal de “créditos de carbono”, os projetos de recuperação de áreas são mais promissores (MMA, 2011). Níveis críticos de degradação, perda de biodiversidade e ética O interesse em recuperar áreas degradadas poderia ser apenas pela ética que devemos ter de que todas as espécies têm o direito de existir. Hoje a perda e a fragmentação de habitats naturais são consideradas as principais causas de extinção de espécies no planeta. No Brasil podemos citar a Mata Atlântica, que foi altamente desmatada e fragmentada, contando atualmente com apenas 7% de sua vegetação original, distribuída, em grande parte, em pequenos remanescentes, isolados entre si (VARJABEDIAN, 2010). No artigo de Seoane et al. (2010) você encontra a descrição dos efeitos provocados pela fragmentação. T2 34 Por que Recuperar Áreas Degradadas? Aspectos Legais e Socioambientais A rápida e contínua degradação ambiental que estamos vivenciando está levando ao esgotamento (ou perda de função) dos recursos naturais e ao desequilíbrio socioambiental, sendo cada vez mais necessário (e com maior intensidade) interferências antrópicas no sentido de recuperar o meio ambiente degradado. Isso porque estamos afetando diretamente o poder de assimilação dos impactos e a autorrecuperação da natureza, ou seja, os ecossistemas estão perdendo sua capacidade de resistência e de resiliência, definidas, respectivamente, como a capacidade de sobreviver ao distúrbio sem perder suas propriedades e processos, e a capacidade de recuperar ao longo do tempo suas condições anteriores ao distúrbio, sem intervenção humana. Antigamente, devido à menor utilização do solo (incluindo menor intensidade de uso sobre determinada área, bem como mais áreas naturais disponíveis), a recuperação de uma área poderia ocorrer mais facilmente do que hoje. Por exemplo, uma grande clareira aberta numa floresta para atividade agrícola por certo período e depois abandonada, num tempo relativamente curto, se restabeleceria, denotando sua resiliência. Agora, imagine a seguinte situação: grandes áreas degradadas pelo uso intenso do solo, sem a presença de remanescentes florestais próximos. Como tal área poderia se recuperar sem a interferência humana? De onde poderiam vir as sementes das espécies florestais? A restauração ambiental permite ampliar os habitats, restaurar a biodiversidade em remanescentes degradados, bem como interligá-los, por meio da implantação de corredores ecológicos (faixas de vegetação), contribuindo para aumentar o trânsito das espécies e o fluxo gênico entre as populações, e consequentemente a conservação da biodiversidade. Figura 2.1: Corredor Florestal – Pontal do Paranapanema Fonte: IPÊ/Laury Cullen Jr., 2015. T2 35Por que Recuperar Áreas Degradadas? Aspectos Legais e Socioambientais Cumprimento da legislação ambiental A despeito da importância dos motivos anteriormente discutidos, a maioria dos projetos de recuperação é executado atualmente a fim de atender às exigências legais e, dessa forma, reduzir custos com multas ou outras penalizações, como acesso a créditos, financiamentos etc. O Brasil possui uma legislação ambiental avançada, contando com diversos instrumentos que visam à proteção do meio e à regulação das atividades antrópicas, potenciais fontes de degradação do meio ambiente. A União tem a responsabilidade de fixar as leis de caráter geral, complementadas por leis mais específicas dos Estados e Municípios. Por isso, as legislações estaduais e municipais podem ser mais restritivas do que as federais, mas nunca ao contrário. Você, futuro gestor, deve ficar atento à legislação das três esferas quando for realizar algum trabalho sobre a recuperação para que possa atendê-las a contento. Vamos aqui apresentar os principais instrumentos legais no âmbito nacional. A Constituição Federal de 1988 prevê, no artigo 225, que: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; [...] § 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. (BRASIL, 1988, p. 1). Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) - Lei n. 6.938/1981 Diante da necessidade crescente de compatibilizar o desenvolvimento socioeconômico com a qualidade ambiental, em 1981 foi criada a Política Nacional do Meio Ambiente. Entre os instrumentos mais eficientes por ela assegurados, cabe T2 36 Por que Recuperar Áreas Degradadas? Aspectos Legais e Socioambientais mencionar a exigência do licenciamento ambiental, bem como da avaliação de impacto ambiental, para atividades que efetiva ou potencialmente possam causar, sob qualquer forma, degradação ambiental. Além dos estudos de impacto ambiental (EIA), dependendo do caso, o órgão ambiental pode exigir, como subsídios ao processo de decisão, outros documentos, tais como o relatório ambiental (RIMA), plano e projeto de controle ambiental, plano de manejo e o plano de recuperação de área degradada (BRASIL, 1981). O dever de recuperar áreas degradadas está mencionado diretamente nos artigos 2 e 4, como segue: A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos alguns princípios (BRASIL, 1981; Art. 2º) Entre os meios para atingir esse objetivo está a recuperação de áreas degradadas (Art. 2º, inciso VIII). Também são citados como objetivos a “preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida” (Art. 4, Inciso VI). O Decreto n. 97.632/1989 que regulamenta a recuperação de áreas citada no Artigo 2 da PNMA, descreve que: [...] os empreendimentos que se destinam a exploração de recursos minerais deverão, quando da apresentação do Estudo de Impacto Ambiental - EIA e do Relatório do Impacto Ambiental - RIMA, submeter à aprovação do órgão ambiental competente, plano de recuperação de área degradada (BRASIL, 1989) Cita ainda que: Lei de Crimes Ambientais - Lei n. 9.605/1998 Esta lei foi criada como forma de consolidar a legislação ambiental e penalizar os infratores que danificam o meio ambiente (BRASIL, 1998). As penas podem ser bastante rígidas quando os atos lesivos ao ambiente acarretam perigo à vida humana, animal ou vegetal, podendo consistir de multa ou pena de um a três T2 37Por que Recuperar Áreas Degradadas? AspectosLegais e Socioambientais anos de reclusão, tempo que pode ser estendido dependendo das condições de agravo. É possível que a pena privativa de liberdade, dependendo das condições legais, seja substituída pelo custeio de projetos e programas ambientais, tais como de recuperação de áreas degradadas. Após essa lei, pôde ser observada uma maior fiscalização no campo e aumento das denúncias evocadas pelo Ministério Público, lembrando que o poder público também pode ser passível de penas. O Decreto n. 3.420/2000 dispõe sobre a criação do Programa Nacional de Florestas (PNF), que visa, entre outros objetivos, “fomentar as atividades de reflorestamento, notadamente em pequenas propriedades rurais” e recuperar florestas de preservação permanente, de reserva legal e áreas alteradas (BRASIL, 2000). Código Florestal Uma das leis mais atuantes no âmbito da restauração de áreas degradadas no Brasil é o Código Florestal Brasileiro, que foi a primeira lei voltada à regulamentação do uso do solo e conservação dos ecossistemas naturais. Ela foi criada pelo Decreto n. 23.793/1934, época de plena expansão da agricultura, especialmente do café nos estados do sul e sudeste. A preocupação era o elevado desmatamento que ocorria nas propriedades rurais, o que levava a uma escassez de lenha – fonte de energia bastante utilizada na época – e a problemas relacionados à falta de água, sendo exigido, portanto, que cada propriedade mantivesse um percentual de vegetação nativa. Este Código foi editado em 1965 através da Lei n. 4.771/1965, que passou a considerar todas as vegetações existentes no território nacional como bens de interesse comum a toda a população brasileira (BRASIL, 1965). Nessa Lei também são definidas, em substituição as então denominadas florestas protetoras, as APP e Reserva Legal (RL), que podem ser consideradas como uma das principais formas de proteção ambiental atualmente. Após inúmeras polêmicas, o Código de 1965 foi substituído pela Lei n. 12.651, de 25 de maio de 2012 (BRASIL, 2012), conhecida como novo Código Florestal, e alterado pela Lei n. 12.727, de 17 de outubro de 2012, mantendo as principais diretrizes, tais como a obrigatoriedade de conservação ou recomposição das áreas de preservação permanente e reservas legais (Artigos 7º e 17º), no entanto, foi flexibilizado em algumas situações, especialmente relativas às áreas consolidadas [...] a recuperação deverá ter por objetivo o retorno do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo, visando a obtenção de uma estabilidade do meio ambiente. (BRASIL, 1989). T2 38 Por que Recuperar Áreas Degradadas? Aspectos Legais e Socioambientais e pequenas propriedades ou posses rurais (agricultura familiar). Vejamos alguns aspectos do novo Código Florestal (Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/L12651compilado.htm>, acesso em: 11 jun. 2016) que são importantes para nossa disciplina, sendo indispensável a leitura deste. No Artigo 3º são definidas as APP e RL. Veja: Área de Preservação Permanente: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (BRASIL, 2012, art. 3º, inciso II). No artigo 4o estão descritas as áreas que são consideradas como Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, tais como as margens dos rios (numa faixa de no mínimo 30 a 600 metros dependendo da largura destes), nascentes (no raio mínimo de 50 metros). Cabe ressaltar que, no Código de 1965, os rios eram medidos a partir do nível mais alto em faixa marginal, passando agora a serem calculados a partir da borda da calha do leito regular, o que na prática, diminui o tamanho dos rios, e, portanto, a largura de vegetação à margem requerida. Também foram excluídas como APPs as faixas marginais de reservatórios naturais ou artificiais menores que um hectare. Além das matas ciliares, são inclusas como APPs outros diversos ambientes, tais como, encostas íngremes, restingas e mangues. Figura 2.2: Vista da Serra do Mar, em Ubatuba-SP. A vegetação situada na planície arenosa de deposição marinha é chamada de restinga, considerada como APP devido à sua fragilidade e importância para estabilização das dunas Fonte: Fonseca, 2009. T2 39Por que Recuperar Áreas Degradadas? Aspectos Legais e Socioambientais Segue agora a definição de Reserva Legal: [...] área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do artigo 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL, 2012; art. 3º, inciso III). Sendo dada a seguinte descrição no Artigo 12: [...] todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente observadas, com algumas exceções, os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel: I - Localizado na Amazônia Legal: a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais; II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento). (BRASIL, 2012) Diferentemente do Código de 1965, agora é permitido computar as APPs para compor o percentual exigido de RL (Art. 15). Entre os critérios descritos para a localização da Reserva Legal, estão: A formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com Área de Preservação Permanente, com Unidade de Conservação ou com outra área legalmente protegida; áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade; e as áreas de maior fragilidade ambiental (BRASIL, 2012; art. 14º). Note que as finalidades das APPs diferem das RLs, sendo que as últimas podem ter exploração mediante manejo florestal sustentável, previamente aprovado pelo órgão competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente [CBS1] - Sisnama. O T2 40 Por que Recuperar Áreas Degradadas? Aspectos Legais e Socioambientais manejo com propósito comercial deve seguir alguns critérios, tais como, não descaracterizar a cobertura vegetal, assegurar a manutenção e conservação da vegetação nativa, e conduzir o manejo de espécies exóticas por meio de medidas que promovam a regeneração das espécies nativas (ver Artigo 22). Um dos pontos debatidos do novo Código Florestal de 2012 foi a instituição das “áreas rurais consolidadas”. Nessas áreas, aplicam-se normas diferenciadas em relação ao uso e recomposição das APPs e RLs, por exemplo, a admissão, em pequenas propriedades, do uso por atividades antrópicas em APPs (Artigos 61-A e 63), e a redução das faixas marginais de rios a serem recompostas (que pode ter um mínimo de apenas 5 metros até no máximo 100 metros, dependendo do tamanho da propriedade), bem como das nascentes (permitindo a recomposição do raio mínimo de 15 metros). A redução das faixas marginais a serem recompostas foi uma das críticas dos conservacionistas, visto que áreas muito estreitas são ineficientes para suportar populações viáveis das espécies da fauna e da flora, e podem ser completamente afetadas pelos efeitos de borda (TABARELLI; MANTOVANI, 1999). No artigo 61-A, parágrafo 13, é previsto que em APPs consolidadas em pequenas propriedades ou posses rurais familiares, a recomposição pode ser feita pelo “plantio intercalado de espécies
Compartilhar