Buscar

Av1 criatividade

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 29 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 29 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 29 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Aula 4 - Unidade 1 - Qual a importância de ser uma pessoa criativa para o trabalho e para a vida? 
Criatividade e Produtividade, Racional x Emocional. 
 Segundo Fernando Viana (2006), Presidente da Fundação Brasil Criativo 
(http://www.fbcriativo.org.br/pt/), frequentemente constatamos que o modelo mental mais adotado nas 
empresas visando o aumento da sua produtividade está associado aos seguintes processos: 
 Processos 
1 – investimento em tecnologia (sistemas e processos), 
2 – aumento da procura dos seus produtos ou serviços; 
3 – aumento de salário associado a ganhos de produtividade. 
 Os aumentos da produtividade podem e devem estar também associados ao incentivo à criatividade e à 
inovação e muito menos ao fato de se estimular na organização um clima de satisfação a tal ponto que o 
trabalho se transforme num verdadeiro prazer. 
O aumento da produtividade em uma organização dá origem a alguns aspectos considerados fundamentais: 
a) capacidade de se criar novas frentes de trabalho (mais emprego), 
b) lucros (riqueza) para a organização. 
A inteligência emocional que capacita a 
inspiração e a motivação das pessoas é mais 
importante do que a inteligência intelectual quando 
estamos pensando na construção de uma força de 
trabalho de alta performance. 
O sucesso da empresa não será obtido apenas 
através da sofisticação dos seus sistemas e processos; 
pois é importante também conseguir fazer com que os 
seus empregados encontrem realização pessoal 
naquilo que estão fazendo. Os empregados não 
podem se sentir apenas como se estivessem 
cimentado tijolo em uma construção e sim que estão 
“construindo uma catedral”; porque quando os 
empregados encontram realização pessoal no 
trabalho que desenvolvem o seu nível de 
produtividade pode ser multiplicado por dois. 
Investir no desenvolvimento, amadurecimento 
e equilíbrio da inteligência emocional dos empregados 
irá permitir que os mesmos tragam à tona o que há de 
melhor neles, que aprendam a perceber e conviver 
melhor com os outros e, consequentemente que se 
tornem pessoas mais produtivas e criativas. 
 A criatividade pode ser expressa nos 
relacionamentos, na comunicação, no serviço, na arte, 
no ensino e em criar e desenvolver. Quando as 
pessoas desenvolvem um trabalho sem criatividade a 
tendência é que esse trabalho perca o significado, 
consequentemente é muito provável que não 
encontrem realização pessoal. 
Portanto, quando os empregados estão 
desencantados com o trabalho não estão preparados 
para os desafios, para ir além justamente porque o seu 
coração e alma não estão contidos naquilo que estão 
fazendo. 
Foi questionado a um jardineiro o que ele fazia 
para que o “seu” jardim estivesse tão bonito. A 
resposta, com a simplicidade profunda do seu 
conhecimento foi: Gosta muito do que faz, costuma 
observar as necessidades e as carências de cada 
planta, procurando prover para que não lhes falte 
nada e que “se sintam no local desejado”, ou seja, as 
plantas de sol que tenham sol suficiente, as plantas de 
sombra que tenham sombra suficiente. Coloca adubos 
e água na medida e no tempo certo. Com isso as 
plantas são mais “produtivas”, ou seja, mais vistosas, 
coloridas e consequentemente cumprem o seu papel. 
Ao transferir essa experiência para uma 
organização que, em outras palavras, também pode 
ser considerada como um “jardim”, percebe-se 
realmente que é preciso cuidar da alma do jardim para 
que a produtividade aumente. 
Como ficariam os ganhos de produtividade 
quando as pessoas gostam do que fazem, se sentem 
felizes no seu ambiente de trabalho e podem exprimir 
a sua criatividade? 
Por que muitas empresas estão crescendo 
mundo afora, ganhando prêmios e tornando-se cada 
vez mais duradouras? 
Tudo isso, em grande parte é resultado da 
criatividade x produtividade. É apenas essa sutil 
diferença e aí estão os resultados! 
 SCAMPER é um conjunto de sete operadores (verbos manipuladores) que possibilitam a exploração de 
diferentes maneiras de transformar um objeto, sistema ou processo. O nome desta ferramenta vem das 
iniciais dos sete operadores: 
Substituir, Combinar, Adaptar, Modificar, Procurar outros usos, Eliminar e Rearrumar. 
 O hábito de pensar criativamente, mais fácil e mais agradável fica enfrentar e esclarecer qualquer tipo 
de problema pela frente. Quanto mais você fortalecer a sua capacidade de questionamento, imaginação e 
adaptação, mais fácil será perceber que não existem problemas sem solução ou ainda falta de ideias para 
abrir um novo caminho. 
Tudo o que você precisa é de alguns focos específicos para te ajudar a pensar além da forma com que 
está acostumado tradicionalmente. 
S - Substitua 
• Componentes, materiais, pessoas 
• Substitua os ingredientes da sua receita 
tradicional, trocando-os por outros. 
C - Combine 
• Misture, faça uma combinação dos 
conjuntos ou serviços, integre 
• Faça um mashup, uma justaposição e 
junte os elementos e recursos que podem se 
complementar ou enriquecer de maneiras novas 
e inovadoras. Tal qual você faria na preparação 
de um drink descolado, o fato de selecionar e 
misturar bem os ingredientes pode fazer uma 
bruta diferença. 
A - Adapte 
• Altere, mude a função, use uma parte de 
outro elemento 
• Pense paralelamente e utilize 
ferramentas e idéias em novos contextos e 
situações. Vá dirigir para pensar melhor, ou crie 
um vídeo game original no carro e com link a 
internet 
M – Modifique, Misture e Aumente 
• Aumente ou reduza a escala, mude a 
forma, modifique os atributos (a cor, por 
exemplo) 
• Analise os pontos de vista macro e micro 
de cada situação ou comece a pensar a partir de 
uma posição diferente. Veja a questão com 
outros olhos. 
P – Proponha e dê Outro Uso 
• Mude a aplicação, use-a para diferentes 
fins. 
• Quebre as regras, pense de novo no uso 
e na aplicação que um objeto pode ter. Uma 
garrafa pode ser um vaso, assim como um avião 
desterrado pode se transformar em um 
restaurante bem original (já estive em um e 
nunca vou me esquecer disso.) 
E - Apague / Elimine 
• Elimine os elementos, simplifique-os, 
reduza-os a sua funcionalidade básica 
• Destile, extraia a essência... Remova 
tudo o que não for pertinente ou necessário. E 
repita o processo. Eliminar, apagar, emudecer. 
Deixe apenas aquilo que realmente conta. 
Fonte: 
http://www.masternewmedia.org/pt/2009 
/05/27/tecnicas_de_resolucao_de_proble 
mas_impulsione_o.htm 
R - Reverta ReUse 
• Vire-se do avesso, de pontacabeça. 
Assim é como a Diana Ross diria: UP SIDE 
DOWN- DE CIMA PARA BAIXO, INSIDE OUT- DE 
DENTRO PARA FORA. 
 
 
 
20 técnicas para estimular a criatividade 
A criatividade é uma qualificação e não 
apenas um talento inato. Apesar de umas 
pessoas serem mais criativas do que outras, 
todos podemos tornar-nos pensadores criativos 
com algum treino. E esta é cada vez mais uma 
qualificação essencial em qualquer currículo. Já 
não é suficiente ter poucas pessoas criativas 
numa organização; há que ter uma organização 
de pessoas criativas. Acima de tudo, é essencial 
uma cultura organizacional que incentive a 
criatividade e, para isso, há que ensinar as 
pessoas a utilizar as suas capacidades, 
recompensar a criatividade e usar técnicas de 
geração de ideias em grupo. Ensinar as pessoas 
a serem criativas implica a utilização, na prática, 
de diversas técnicas, como as apresentadas 
neste artigo. 
1. Técnica 7 x 7 
Esta técnica parte de um grande número 
de ideias sobre um determinado objectivo, 
geradas de forma não estruturada e reunidas 
num papel. Depois de recolhidas as ideias, resta 
defini-las e ordená-las, num processo quese 
divide em nove fases: 
• 1º – Combinar as ideias similares. 
• 2º – Excluir as ideias inúteis ou 
impraticáveis. 
• 3º – Alterar as ideias, fazendo as 
combinações que achar relevantes. 
• 4º – Pôr de parte as ideias não adequadas 
no momento, mesmo que sejam 
relevantes para o objectivo. 
• 5º – Rever as ideias já ordenadas, para ver 
se geram outras. 
• 6º – Separar as ideias em sete grupos, com 
base na sua semelhança ou 
relacionamento. 
• 7º – Ordenar as ideias principais, por 
ordem decrescente de utilidade ou de 
importância, e colocá-las em sete linhas de 
uma matriz. 
• 8º – Atribuir um título a cada uma das sete 
colunas que reflicta a ideia principal. 
• 9º – Ordenar as colunas, colocando a mais 
importante ou mais urgente à esquerda. 
 
 
2. Técnica das comparações e metáforas 
Centre-se no problema e estabeleça uma 
comparação com algo que tenha semelhanças. 
Por exemplo, uma empresa decidiu produzir 
batatas fritas embaladas cujo pacote não 
ocupasse muito espaço nas prateleiras. Porém, 
se fosse retirado o ar do interior dos pacotes, as 
batatas ficariam desfeitas. A solução foi 
encontrada numa analogia: a empresa imaginou 
que as batatas eram folhas de árvores, que não 
podem ser comprimidas quando estão secas, 
porque se partem. Porém, é possível fazê-lo 
enquanto ainda têm alguma humidade. Foi 
então que o produtor teve a ideia de molhar 
batatas fritas com pouca humidade em água e 
comprimi-las até à forma pretendida. Resultado: 
as famosas Pringles. 
3. Técnica de associação de ideias 
Permitir que a mente faça associações 
livres de palavras, conceitos e objectos pode 
gerar rasgos de criatividade. Recentemente, a 
marca de sopas Campbell utilizou esta técnica 
para desenvolver uma nova linha de produtos. 
Começou com a palavra “manusear”.Surgiram 
associações com as palavras “utensílio” e 
“garfo”. Houve quem fizesse piadas sobre comer 
a sopa com um garfo e quem reflectisse sobre o 
facto de isso só ser possível se a sopa 
instantânea tivesse grandes pedaços de vegetais 
ou de carne. Foi assim que surgiram as sopas 
com pedaços Campbell’s Chunky. 
4. Técnica da inversão dos pressupostos 
Ao termos uma imagem invertida dos 
pressupostos mais básicos, encontramos novas 
abordagens para os problemas. Apesar de não 
ser uma técnica que dê uma resposta definitiva, 
ajuda a chegar até ela. Imagine que vai deixar de 
prestar um bom serviço aos clientes. O que 
acontecerá? Deixará de ter necessidade de 
empregar pessoal tão qualificado, terá menos 
custos de formação do pessoal, as rupturas de 
stocks deixarão de ser relevantes e não terá 
necessidade de personalizar o correio para os 
clientes. Irá certamente reduzir os seus custos, 
porém, os clientes também exigirão preços 
muito mais baixos. A estratégia de redução 
progressiva dos preços em resposta a uma 
redução da qualidade do serviço fez algum 
sucesso em diversas empresas. 
5. Técnica da listagem de atributos 
A listagem de atributos obriga-nos a 
analisar aspectos que normalmente passam 
despercebidos. Pense: quais são os atributos de 
uma escova de dentes? É de plástico, tem uma 
escova numa das extremidades para lavar os 
dentes e um cabo para a segurar. É muito fácil 
identificar os elementos principais de um 
produto ou de um problema e, depois de 
analisar cuidadosamente cada um deles, basta 
descobrir novas formas de os melhorar. No caso 
da escova de dentes, poderá considerar as 
seguintes hipóteses: fabricá-la num material 
diferente ou alterar o formato do cabo. Mas os 
atributos físicos não são os únicos que pode 
listar. Basta que olhe para o elemento em 
análise em diferentes perspectivas, por 
exemplo, sociais (responsabilidades políticas, 
liderança), processuais (vendas, marketing, 
produção, distribuição, prazos), psicológicas 
(necessidades, motivação, imagem), financeiras 
(preços, custo para o fornecedor, produtor e 
intermediários). 
6. Técnica de Brainstorming 
Quando necessita de respostas rápidas a 
questões relativamente simples, o 
brainstorming é uma das técnicas mais 
populares e eficazes. Nas sessões de 
brainstorming existe um líder que prepara e 
organiza a sessão, definindo os seus objectivos, 
e reúne um grupo de pessoas numa sala. A partir 
deste momento, a sessão desenrola-se nas 
seguintes fases: 
• 1.º – Abertura da sessão. O líder explica os 
objectivos da reunião e encoraja a produção 
de ideias. 
• 2.º – Produção de ideias. Nesta fase, a 
qualidade das ideias não é relevante. Os 
participantes lançam ideias à medida que 
surgem na sua cabeça e estas são escritas 
num quadro. Regras: não fazer juízos de 
valor nesta etapa, encorajar todas as ideias, 
produzir o maior número de ideias possível 
e combinar as ideias para gerar outras. O 
papel do líder passa a ser de facilitador, 
encorajando a produção de ideias e 
mantendo o grupo centrado na questão 
principal. 
• 3.º – Avaliação das ideias. Na fase de 
avaliação, as ideias são divididas em grupos 
e ordenadas com base na sua utilidade e 
prioridade. O líder regista as opiniões dos 
participantes em relação a cada ideia. Se, 
por exemplo, o grupo acha que uma ideia é 
boa, mas dispendiosa, o líder deverá 
orientá-lo para pensar em formas de 
contornar o problema. 
• 4.º – Eliminação de ideias. As ideias 
consideradas absurdas ou impraticáveis são 
eliminadas. 
• 5.º – Registo das ideias finais e das 
respectivas prioridades e formas de 
implementação e/ou de resolução dos 
problemas. 
7. Técnica de Brainwriting 
É a versão silenciosa do brainstorming. Ao 
retirar a interacção oral, elimina a possibilidade 
de o líder do grupo favorecer determinados 
participantes mais activos e extrovertidos. No 
brainwriting, todas as pessoas podem ter ideias 
simultaneamente e são incentivadas a 
desenvolver as ideias geradas pelos outros 
participantes. As principais fases desta técnica 
são as seguintes: 
• 1.º – Identificação do tema central por 
parte do líder da sessão. 
• 2.º – Os participantes, sentados numa 
sala, escrevem individualmente as suas 
ideias durante cerca de cinco minutos. 
• 3.º – Cada participante passa a sua folha 
de papel à pessoa sentada ao seu lado, 
que acrescentará as suas próprias ideias, 
durante mais cinco minutos. Este processo 
pode repetir-se diversas vezes mas, 
geralmente, três passagens são 
suficientes. 
• 4.º – O líder da sessão recolhe os papéis e 
lê as ideias ou escreve-as num quadro. 
• 5.º – O grupo discute em conjunto cada 
uma das ideias e avalia-as, reunindo as 
melhores e eliminando as que são 
absurdas ou impraticáveis. 
8. Técnica de intuição consciente 
Se foi um método bom para Einstein, 
também é bom para nós. O princípio que lhe 
está subjacente é o facto de a resposta aos 
problemas estar na nossa mente; basta relaxar 
para a descobrir. Duas das técnicas de intuição 
consciente mais utilizadas são a visualização e a 
imaginação. Para a primeira, relaxe, feche os 
olhos e 
tente visualizar o problema; imagine 
cenários de resolução o mais detalhados que for 
possível. Normalmente, a solução do problema 
surge intuitivamente. Para a segunda, relaxe, 
feche os olhos, concentre-se no problema e 
imagine diversos cenários de resolução. Abra os 
olhos e aponte o que imaginou; entre todas as 
imagens e detalhes pode estar a solução. 
9. Técnica de Delphi 
É uma técnica não interactiva, em que o 
grupo não se reúne, que funciona da seguinte 
forma: 
• 1.º – São enviados questionários a cada 
especialista escolhido, normalmente 
sobre um cenário (por exemplo, a previsão 
das tendências de evolução de uma 
indústria). 
• 2.º – Depois de respondidos os 
questionários são analisados e são 
resumidas as principais conclusões por 
parte da equipa que lidera a técnica. 
• 3.º– Os questionários voltam aos 
especialistas, que têm oportunidade de 
rever as respostas e alterá-las, se for 
necessário. Se uma resposta varia muito 
em relação às do resto do grupo, o seu 
autor terá que justificar a sua diferença de 
opinião. 
• 4.º – O processo de resumo e revisão 
repete-se até se atingir o consenso entre 
todos os especialistas. 
10. Técnica da descontinuidade 
A mente humana tende a ficar bloqueada 
pela rotina. Porém, ao actuarmos de forma 
diferente da habitual, forçamos a nossa mente a 
encarar o mundo de forma diferente, o que nos 
incentiva a sermos mais criativos. Um 
comportamento descontínuo pode ser, por 
exemplo, chegar ao emprego mais cedo ou ir de 
transportes públicos em vez de levar o carro. 
Pensar descontinuamente consiste em 
incentivar a mente a seguir novas linhas de 
raciocínio. 
11. Técnica dos desenhos 
Por vezes, gostamos de fazer rabiscos no 
papel enquanto estamos ao telefone ou quando 
queremos explicar algo. Sentar-se e desenhar a 
sua interpretação do problema – onde colocar 
os móveis no escritório ou como diminuir os 
atrasos nas entregas (desenhando as rotas de 
distribuição, por exemplo) – pode ajudá-lo a 
encontrar a solução ideal. 
12. Técnica da divagação 
Deixar a sua mente divagar pode ser muito 
útil. Esta técnica tem quatro fases: a divagação 
propriamente dita, em que cada membro do 
grupo tenta visualizar mentalmente imagens 
relacionadas com o tema; a criação de analogias 
entre as imagens visualizadas e o problema em 
causa; a avaliação das analogias, identificando 
as suas aplicações práticas para criar soluções 
para o problema; a partilha das conclusões com 
o grupo. A NASA, por exemplo, pretendia 
desenvolver um novo fecho para os fatos 
espaciais.”Levou” um grupo de trabalho por 
uma viagem imaginária pela selva e um dos 
participantes falou em ervas daninhas coladas 
ao corpo e exemplificou com as duas palmas das 
mãos unidas. Os outros membros discutiram o 
movimento e acabaram por chegar a um fecho 
de velcro. 
13. Técnica da relação forçada 
Este conjunto de técnicas tem como 
objectivo descobrir relações que normalmente 
passam despercebidas. A mais utilizada é o 
círculo de oportunidade, que funciona da 
seguinte forma: 
• 1.º – Desenhe um círculo e marque 12 
pontos numerados à sua volta, 
correspondentes a cada atributo-chave de 
um produto ou serviço. 
• 2.º – Escolha dois atributos 
aleatoriamente – pode, por exemplo, 
utilizar um dado. 
• 3.º – Pense em cada um dos atributos 
separadamente e combinados, 
imaginando formas pouco usuais para os 
combinar e desenvolver. 
• 4.º – Faça associações livres dos conceitos, 
separadamente e em conjunto. Se 
escolher as combinações certas, 
conseguirá gerar novas ideias. 
14. Técnica da Gordon/Little 
Quando, em 1961, William Gordon, da 
consultora Arthur D. Little, desenvolveu esta 
técnica, pretendia evitar que os problemas 
fossem analisados superficialmente, o que 
tende a gerar ideias óbvias. Em termos gerais, o 
objectivo é chegar ao conceito mais abstracto 
possível relacionado com o problema e irmo-nos 
aproximando da solução real. Imagine que 
pretendia reduzir o tempo de distribuição dos 
produtos de duas semanas para 48 horas. 
Comece por perguntar: “Como é que posso 
aumentar a satisfação dos clientes?” Analisadas 
as respostas, particularize a questão: “Como é 
que posso melhorar o serviço ao cliente?” 
Responda e seja ainda mais específico: “O que é 
que os clientes pretendem do meu serviço de 
distribuição?” Finalmente, coloque a pergunta 
real: “Como é que posso reduzir os meus prazos 
de distribuição de duas semanas para 48 horas?” 
São normalmente suficientes três níveis de 
abstracção decrescentes antes da questão 
original. 
15. Técnica das opiniões externas 
Provavelmente, uma das técnicas mais 
criativas e simples de gerar ideias, apelando a 
quem não está por dentro dos problemas, que 
poderá pensar com maior clareza, sem 
influências de qualquer ordem. Um vendedor da 
Panasonic emprestou câmaras de vídeo a 
crianças na festa de aniversário do seu filho. 
Pediu a opinião dos miúdos, até que um deles 
disse que não havia câmaras para canhotos. A 
Panasonic foi o primeiro fabricante de câmaras 
de vídeo ajustáveis para destros e canhotos. 
16. Técnica dos dois hemisférios cerebrais 
Os dois hemisférios do cérebro utilizam 
diferentes formas de pensamento: uma criativa 
e não verbal (hemisfério direito) e outra lógica e 
analítica (hemisfério esquerdo). Porém, se 
ambos forem utilizados simultaneamente, as 
duas formas de processamento interferem 
entre si, podendo reduzir a sua performance 
potencial. A técnica dos dois hemisférios 
cerebrais ajuda-o a aproveitar ao máximo o 
potencial de cada hemisfério: 
• 1.º – Identificar as pessoas criativas: o 
primeiro passo desta técnica de grupo 
consiste em identificar as pessoas mais 
criativas e as mais objectivas, através de 
questionários ou pela simples percepção de 
cada pessoa em relação a si própria e aos 
outros. Separe os participantes em dois 
grupos, um para quem privilegia o hemisfério 
esquerdo e outro para o direito. 
• 2.º – Gerar ideias: o líder dá instruções a cada 
grupo para gerarem ideias em torno de um 
tema em cerca de 15 minutos e fazerem uma 
lista. 
• 3.º – Partilhar as ideias: em seguida, constitua 
dois grupos com metade das pessoas de cada 
equipa, de forma que cada uma tenha uma 
cópia das duas listas. Os grupos deverão 
combinar as ideias de ambas e utilizar as 
combinações para gerar novas ideias. 
17. Intuição inconsciente 
O subconsciente é um instrumento 
criativo e poderoso. Não segue os padrões do 
pensamento lógico e racional, que usamos 
conscientemente, e, por isso, está mais aberto 
ao pensamento criativo. Uma das formas mais 
fortes de funcionamento do nosso 
subconsciente é a intuição; há quem confie 
totalmente nela para tomar decisões, mas é 
arriscado fazê-lo em relação a assuntos mais 
importantes. 
18. Técnica do mapa mental 
O objetivo desta técnica é dar a maior 
liberdade possível à mente. O processo é o 
seguinte: 
• 1.º – Escreva o tema central no centro de 
uma folha. 
• 2.º – Desenhe diversas linhas a partir dele 
e escreva nos seus extremos palavras-
chave, por exemplo, “objectivos”, 
“benefícios”, “desenvolvimento”, 
“técnicas” e “princípios”, por exemplo. 
Não se preocupe inicialmente com o tipo 
de ideias geradas ou com a sua utilidade; 
tem tempo para se preocupar com isso 
mais tarde. 
• 3.º – Gere ideias a partir de cada uma das 
palavras-chave relacionadas com o tema 
central, sem fazer qualquer tipo de 
avaliação das ideias geradas. 
• 4.º – Estabeleça as relações que quiser 
entre cada uma delas e faça os esquemas 
que achar úteis. 
• 5.º – Analise as combinações geradas e 
avalie a coerência e exequibilidade. 
19. Técnica da construção de cenários 
Exige a ponderação de diversos factores 
para imaginar as tendências de evolução dum 
negócio. Os cenários são normalmente 
utilizados para conceber estratégias de actuação 
alternativas, o que envolve frequentemente 
uma análise SWOT – strengths (pontos fortes), 
weaknesses (pontos fracos), opportunities 
(oportunidades) e threats (ameaças). O 
objectivo é identificar estratégias para criar mais 
pontos fortes e reduzir os pontos fracos da 
empresa, para maximizar as oportunidades e 
minimizar as ameaças ao negócio. Os seus 
principais passos são: 
• 1.º – Identificar o problema. 
• 2.º – Detectar as tendências que 
determinarão o futuro do negócio. 
• 3.º – Construir cenários futuros 
detalhados em torno de cada tendência 
através de uma análise SWOT. 
• 4.º – Resumir cada cenário numa história 
ou narrativa, definindo os impactes que 
terão na sua empresa. 
• 5.º – Utilizar cada históriaou narrativa 
como base para desenvolver novas 
estratégias. 
20. Técnica dos seis chapéus 
Esta técnica identifica seis tipos de 
pensamento, que deverão ser aplicados 
individualmente a cada problema. De Bono 
utiliza a metáfora dos “seis chapéus” para 
explicar o método: cada vez que “colocamos” 
um deles, pensamos de forma diferente. Os 
“seis chapéus” são: 
Branco: Olha para os factos, não fazendo julgamentos. 
Encarnado: Utilizado para expressar sentimentos e dar 
respostas intuitivas. 
Preto: O chapéu mais negativo é utilizado para 
examinar obstáculos e as razões por que determinada 
decisão não deu certo. 
Amarelo: Representa o pensamento optimista, que 
procura os benefícios de um projecto 
Verde: Utilizado para o pensamento mais criativo, é o 
chapéu das alternativas, das ideias provocadoras e da 
mudança. 
Azul: É o chapéu da reflexão, que o ajuda, por 
exemplo, a identificar o chapéu que terá que “usar” em 
cada momento. 
CRIATIVIDADE E PROCESSOS DE CRIAÇÃO 
Fayga Ostrower 
SINOPSE 
(...) Fayga Ostrower não encara a 
criatividade como propriedade exclusiva de 
alguns raríssimos eleitos, mas como potencial 
próprio da condição de ser humano. A 
criatividade não é tratada como objeto isolado, 
a ser estudado como se fora compartimento 
estanque. Fugindo a qualquer esquematização e 
simplificação, a autora a trata enquanto 
elemento dentro do mais vasto contexto, sem 
deixar, em nenhum momento do 
desenvolvimento de sua análise, de situá-la em 
relação à problemática social, econômica, 
política e cultural, que, sem dúvida, obstaculiza 
o livre fluir da criatividade humana. É desse 
modo que o livro de Fayga Ostrower acaba por 
se transformar numa denúncia 
extraordinariamente lúcida de tudo o que no 
mundo de hoje contribui, não para construir o 
homem a partir do que ele traz gravado em si de 
mais irreversível e essencial - a sua, repita-se, 
liberdade -, mas para, ao contrário, aliená-lo 
dela. (...) 
Pedro Paulo de Sena Madureira 
INTRODUÇÃO 
(...) Consideramos a criatividade um 
potencial inerente ao homem e a realização 
desse potencial uma de suas necessidades. 
As potencialidades e os processos criativos 
não se restringem, porém, à arte. Em nossa 
época, as artes são vistas como área privilegiada 
do fazer humano, onde ao indivíduo parece 
facultada uma liberdade de ação em amplitude 
emocional e intelectual inexistente nos outros 
campos de atividade humana. Não nos parece 
correta essa visão de criatividade. O criar só 
pode ser visto num sentido global, como um agir 
integrado em um viver humano. De fato, 
criar e viver se interligam. 
A natureza criativa do homem se elabora 
no contexto cultural. Todo indivíduo se 
desenvolve em uma realidade social, em cujas 
necessidades e valorações culturais se moldam 
os próprios valores de vida. No indivíduo 
confrontam-se, por assim dizer, dois polos de 
uma mesma relação: a sua criatividade que 
representa as potencialidades de um ser único, 
e sua criação que será a realização dessas 
potencialidades já dentro do quadro de 
determinada cultura. (...) 
Sejam quais forem os modos e os meios, 
ao se criar algo, sempre se o ordena e se o 
configura. Em qualquer tipo de realização são 
envolvidos princípios de forma, no sentido 
amplo em que aqui é compreendida a forma, 
isto é, como uma estruturação, não restrita à 
imagem visual. Partindo dessa concepção, 
achamos importante fundamentar a ideia dos 
processos criativos utilizando noções teóricas 
sobre a estrutura da forma.. (...) 
I – POTENCIAL 
Criar é, basicamente, formar. É poder dar 
uma forma a algo novo. Em qualquer que seja o 
campo de atividade, trata-se, nesse "novo", de 
novas coerências que se estabelecem para a 
mente humana, fenômenos relacionados de 
modo novo e compreendidos em termos novos. 
O ato criador abrange, portanto, a capacidade 
de compreender; e esta, por sua vez, a de 
relacionar, ordenar, configurar, significar. 
Desde as primeiras culturas, o ser humano 
surge dotado de um dom singular: mais do que 
homo faber, ser fazedor, o homem é um ser 
informador. Ele é capaz de estabelecer 
relacionamentos entre os múltiplos eventos que 
ocorrem ao redor e dentro dele. Relacionando 
os eventos, ele se configura em sua experiência 
de viver e lhes dá um significado. Nas perguntas 
que o homem faz ou nas soluções que encontra, 
ao agir, ao imaginar, ao sonhar, sempre o 
homem relaciona e forma. 
Nós nos movemos entre formas. Um ato 
tão corriqueiro como atravessar a rua – é 
impregnado de formas. Observar as pessoas e as 
casas, notar a claridade do dia, o calor, reflexos, 
cores, sons, cheiros, lembrar-se do que se 
relacionava fazer, de compromissos a cumprir, 
gostando ou detestando o preciso instante e 
ainda associando-o a outros - tudo isto são 
formas em que as coisas se configuram para nós. 
De inúmeros estímulos que recebemos a cada 
instante, relacionamos alguns e os percebemos 
em relacionamentos que se tornam ordenações. 
As formas de percepção não são gratuitas 
nem os relacionamentos se estabelecem ao 
acaso. Ainda que talvez a lógica de seu 
desdobramento nos escape, sentimos 
perfeitamente que há um nexo. Sentimos 
também, que de certo modo somos nós o ponto 
focal de referência, pois ao relacionarmos os 
fenômenos nós os ligamos entre si e os 
vinculamos a nós mesmos. 
Sem nos darmos conta, nós os orientamos 
de acordo com expectativas, desejos, medos, e, 
sobretudo, de acordo com atitudes do nosso ser 
mais íntimo, uma ordenação interior. Em cada 
ato nosso, no exercê-lo, no compreendê-lo e no 
compreender-nos dentro dele, transparece a 
projeção de nossa ordem interior. Constitui uma 
maneira específica de focalizar e de interpretar 
os fenômenos, sempre em busca de significados. 
Nessa busca de ordenações e de 
significados reside a profunda motivação 
humana de criar. Impelido como ser consciente, 
a compreender a vida, o homem é impelido a 
formar. Ele precisa orientar-se, ordenando os 
fenômenos e avaliando o sentido das formas 
ordenadas; precisa comunicar-se com outros 
seres humanos, através de formas ordenadas. 
Trata-se, pois, de possibilidades, 
potencialidades do homem que se convertem 
em necessidades existenciais. 
O homem cria, não apenas porque quer, 
ou porque gosta, e sim porque precisa; e ele só 
pode crescer, enquanto ser humano, 
coerentemente, ordenando, dando forma, 
criando. 
Os processos de criação ocorrem no 
âmbito da intuição. Embora integrem, como 
será visto mais adiante, toda experiência 
possível ao indivíduo, também a racional, trata-
se de processos essencialmente intuitivos. As 
diversas opções e decisões que surgem no 
trabalho e determinam a configuração em vias 
de ser criada, não se reduzem a operações 
dirigidas pelo conhecimento consciente. 
Intuitivos, esses processos se tornam 
conscientes na medida em que são expressos, 
isto é, na medida em que lhes damos uma 
forma. Entretanto, mesmo que a sua elaboração 
permaneça em níveis subconscientes, os 
processos criativos teriam que referir-se à 
consciência dos homens, pois só assim poderiam 
ser indagados a respeito dos possíveis 
significados que existem no ato criador. 
Entende-se que a própria consciência nunca é 
algo acabado ou definitivo. Ela vai se formando 
no exercício de si mesma, num desenvolvimento 
dinâmico em que o homem, procurando 
sobreviver, e agindo, ao transformar a natureza 
se transforma também. O homem não somente 
percebe as transformações como, sobretudo, 
nelas se percebe. 
A percepção de si mesmo dentro do agir é 
um aspecto relevante que distingue a 
criatividade humana. Movido por necessidades 
concretas sempre novas, o potencial criador do 
homem surge na história como um fator de 
realização e constante transformação. Ele afeta 
o mundo físico, aprópria condição humana e os 
contextos culturais. Para tanto, a percepção 
consciente na ação humana se nos afigura com 
uma premissa básica da criação, pois além de 
resolver situações imediatas o homem é capaz 
de a elas se antecipar mentalmente. Não antevê 
apenas certas soluções. Mais significativa ainda 
é a sua capacidade de antever certos problemas. 
Daí podermos falar da "intencionalidade" 
da ação humana. Mais do que um simples ato 
proposital, o ato intencional pressupõe existir 
uma mobilização interior, não necessariamente 
consciente, que é orientada para determinada 
finalidade antes mesmo de existir a situação 
concreta para a qual a ação seja solicitada. É 
uma seleção latente seletiva. Assim, 
circunstâncias em tudo hipotéticas podem 
repentinamente ser percebidas interligando-se 
na imaginação e propondo a solução para um 
problema concebido. Representariam modos de 
ação mental a dirigir o agir físico. 
O ato criador não nos parece existir antes 
ou fora do ato intencional, nem haveria 
condições, fora da intencionalidade, de se 
avaliar situações novas ou buscar novas 
coerências. 
Em toda criação humana, no entanto, 
revelam-se certos critérios que foram 
elaborados pelo indivíduo através de escolhas e 
alternativas. 
SER CONSCIENTE-SENSÍVEL-CULTURAL 
No curso evolutivo da humanidade, 
segundo a pesquisa moderna talvez um milhão 
de anos antes de surgir o HOMO SAPIENS, 
depara-se com espécies a caminho da 
humanização. 
Os chamados "homínidas" deixaram 
vestígios que permitem inferir uma existência já 
de certo modo consciente-sensível-cultural. Não 
temos, aqui, a pretensão de saber como o 
homem adquiriu esses característicos, nem 
tampouco em qual ramo dos nossos precursores 
se deu a fusão de tais qualidades. Queremos 
constatar apenas que ela existe há muito tempo. 
E mais, entendemos que precisamente na 
integração do consciente, do sensível e do 
cultural se baseiam os comportamentos 
criativos do homem. Somente ante o ato 
intencional, isto é, ante a ação de um ser 
consciente, faz sentido falar-se da criação. Sem 
a consciência, prescinde-se tanto do imaginativo 
na ação, quanto do fato da ação criativa alterar 
os comportamentos do próprio ser que agiu. 
Ao constatarmos a presença das diversas 
qualificações que se fundem no ato criativo, 
cabe diferenciá-las. O homem será um ser 
consciente e sensível em qualquer contexto 
cultural. Quer dizer, a consciência e a 
sensibilidade das pessoas fazem parte de sua 
herança biológica, são qualidades 
comportamentais inatas, ao passo que a cultura 
representa o desenvolvimento social do 
homem; configura as formas de convívio entre 
as pessoas. Na história humana - um caminho de 
crescente humanização, ainda que se questione, 
e com razão, a ideia de "progresso" linear - as 
culturas assumem formas variáveis que se 
alteram com bastante rapidez, 
incomparavelmente mais rápidas do que 
eventuais alterações biológicas no homem. As 
culturas se acumulam, se diversificam, se 
complexificam e se enriquecem. Ou então 
também, desenvolvem-se e, por motivos sociais, 
se extinguem ou são extintas. Até poder-se-ia 
dizer que as culturas não são herdadas, são 
antes transmitidas. 
O que, porém, aqui nos importa frisar é o 
fato de a herança genérica, isto é, o potencial 
consciente e sensível de cada um, se realizar 
sempre e unicamente dentro de formas 
culturais. 
Não há, para o ser humano, um 
desenvolvimento biológico que possa ocorrer 
independente do cultural. O comportamento de 
cada ser humano se molda pelos padrões 
culturais, do grupo em que ele, indivíduo, nasce 
e cresce. Ainda vinculado aos mesmos padrões 
coletivos, ele se desenvolverá enquanto 
individualidade, com seu modo pessoal de agir, 
seus sonhos, suas aspirações e suas eventuais 
realizações. 
Assim, ao abordarmos em seguida alguns 
aspectos do ser consciente-sensível-cultural, 
queremos deixar bem claro que o nosso enfoque 
continua sendo a cultura. Importa-nos mostrar 
como a cultura serve de referência a tudo o que 
o indivíduo é, faz, comunica, a elaboração de 
novas atitudes e novos comportamentos e, 
naturalmente, a toda possível criação. 
SER SENSÍVEL 
Como processos intuitivos, os processos 
de criação interligam-se intimamente com nosso 
ser sensível. Mesmo no âmbito conceitual ou 
intelectual, a criação se articula principalmente 
através da sensibilidade. 
Inata ou até mesmo inerente à 
constituição do homem, a sensibilidade não é 
peculiar somente a artistas ou alguns poucos 
privilegiados. Em si, ela é patrimônio de todos os 
seres humanos. Ainda que em diferentes graus 
ou talvez em áreas sensíveis diferentes, todo ser 
humano que nasce, nasce com um potencial de 
sensibilidade. 
Queremos, antes de tudo, precisar a 
palavra sensibilidade, definindo-a no sentido em 
que aqui a usamos. Baseada numa disposição 
elementar, num permanente estado de 
excitabilidade sensorial, a sensibilidade é uma 
porta de entrada das sensações. Representa 
uma abertura constante ao mundo e nos liga de 
modo imediato ao acontecer em torno de nós. 
Na verdade, esse fenômeno não ocorre 
unicamente com o ser humano. É essencial a 
qualquer forma de vida e inerente a própria 
condição de vida. Todas as formas de vida têm 
que estar "abertas" ao seu meio ambiente a fim 
de sobreviverem, têm que poder receber e 
reconhecer estímulos e reagir adequadamente 
para que se processem as funções vitais do 
metabolismo, numa troca de energia. 
Uma grande parte da sensibilidade, a 
maior parte talvez, incluindo as sensações 
internas, permanece vinculada ao inconsciente. 
A ela pertencem as reações involuntárias do 
nosso organismo, bem como 
todas as formas de autorregulagem. Outra 
parte, porém, também participando do sensório 
chega ao nosso conhecimento. Ela chega de 
modo articulado, isto é, chega em formas 
organizadas. É a nossa percepção. Abrange o ser 
intelectual, pois a percepção é a elaboração 
mental das sensações. 
A percepção delimita o que somos capazes 
de sentir e compreender, porquanto 
corresponde a uma ordenação seletiva dos 
estímulos e cria uma barreira entre o que 
percebemos e o que não percebemos. Articula o 
mundo que nos atinge, o mundo que chegamos 
a conhecer e dentro do qual nós nos 
conhecemos. Articula o nosso ser dentro do 
não-ser. 
Nessa ordenação dos dados sensíveis 
estruturam-se os níveis do consciente; ela 
permite que, ao apreender o mundo, o homem 
apreenda também o próprio ato de apreensão; 
permite que, apreendendo, o homem 
compreenda. Dentro do vasto campo da 
sensibilidade é, portanto, à percepção a que nos 
referimos neste livro. 
SER CULTURAL 
Segundo os conhecimentos atuais a 
respeito do passado, o homem surge na história 
como um ser cultural. Ao agir, ele age 
culturalmente, apoiado na cultura e dentro de 
uma cultura. 
Procuramos definir aqui o que 
entendemos por cultura: são as formas 
materiais e espirituais com que os indivíduos de 
um grupo convivem, nas quais atuam e se 
comunicam e cuja experiência coletiva pode ser 
transmitida através de vias simbólicas para a 
geração seguinte. 
Embora não se saiba quais foram as 
formas de convívio coletivo inicialmente, 
entendesse hoje que os comportamentos dos 
homínidas devem ser considerados culturais. É 
verdade que os indícios encontrados nos fósseis: 
postura ereta, mãos livres, dentaduras com 
caninos atrofiados, uma capacidade craniana 
maior do que a dos outros primatas, por si 
mesmo sejam inconclusivos, ainda que o 
contexto de uma estrutura morfológica de seres 
que não possuíam qualquer meio físico de 
defesa, fuga ou ataque, já impliquem numa 
"hominização". Entretanto, além desses dados, 
existem provas irrefutáveis de seres de 
percepção consciente e de vida cultural: as 
pedras lascadas. 
Assim, o estudode fósseis muito antigos 
se complementa com a leitura arqueológica da 
pedra lascada. Grahame Clarke, autor do livro 
World Prehistory, coloca-o em termos bastante 
incisivos. Discriminando os homínidas pré-
humanos, na vasta ramificação de espécies que 
entrariam na linha evolutiva do HOMO, diz "para 
se qualificarem como humanos, os homínidas 
teriam que justificar-se, por assim dizer, por 
suas obras; os critérios não são mais tanto 
biológicos como culturais". E mais adiante, 
comentando sobre a diferença fundamental que 
existe entre usar ferramentas e poder 
manufaturá-las, ele diz: "fazer qualquer 
ferramenta, mesmo nas sociedades humanas 
mais primitivas, baseia-se num conhecimento 
preciso da matéria-prima e, dentro dos limites 
tecnológicos, em conhecimento de como 
manuseá-los mais eficientemente. Ademais, é 
característico dos seres humanos terem uma 
apreciação muito maior do fator tempo do que 
outros primatas; em suas tradições orais, usam 
as memórias do passado, as quais lhe servem 
como uma espécie de capital cultural" (grifos 
nossos). 
Pelo que possam divergir os vários 
pesquisadores arqueológicos na interpretação 
de dados e datas, em um ponto há concordância 
geral: a espécie Pitecanthropus pekinensis, o 
chamado homem de Choukoutien (China), que 
vivia há cerca de 500.000 anos, produzia pedras 
lascadas e já conhecia o fogo. 
Encontram-se enormes quantidades de 
pontas de pedra, dezenas ou centenas de 
milhares. Estavam nas camadas de escavação 
que continham fragmentos ósseos, dentes e 
partes de esqueletos hominídeos, junto com 
fragmentos ósseos de animais de caça. Os ossos, 
de animais e de homínidas também, eram 
carbonizados e ainda quebrados 
longitudinalmente, talvez para se sorver o 
tutano. As pedras, duríssimas, seixos, sílex, 
obsidiana, que, quando batidas com força, têm 
a propriedade de rachar em estilhaços maiores, 
eram trabalhadas de forma inconfundível e 
claramente vinculada a um propósito: serviam 
de arma e ferramenta, cunhas, facas cortantes 
(cujas quinas podem igualar-se ao fio de uma 
navalha), pontas de lança. Reconhece-se a lasca 
ter sido destacada e afiada ainda com golpes 
pequenos em toda volta. É uma forma 
característica de produção, as primeiras 
chamadas "manufaturas" de pedra lascada, que 
continua praticamente inalterada por uns 
250.000 anos. Nos vários continentes se 
preserva uma técnica bastante similar, 
amarrando-se também a pedra a cabos e lanças 
para produzir machados, facões, arpões, até o 
advento do arco e da flecha, que parece 
coincidir com a domesticação do cachorro para 
caça. Mas supõe-se, e a suposição é convincente 
embora por razões óbvias não possa ser 
provada, que através de eras imemoriais, talvez 
por centenas de milhares de anos, antes de 
lascarem as pedras, os homínidas tenham 
apanhado do chão aquelas pedras pontudas que 
melhor servissem para fins de caça ou para corar 
a carne do animal ou para furar e preparar peles. 
Depois de usadas, as pedras naturais, os 
chamados eólitos (do grego: Eós, aurora; e 
lithos, pedra; as pedras da aurora do homem), 
eram jogadas fora. 
Os homínidas deviam poder comunicar 
suas experiências. Por meios rudimentares que 
fossem, em parte imitativos talvez, deviam ter 
mostrado aos jovens quais as pedras que 
serviam, como lascá-las e como caçar. Sua 
sobrevivência dependia disso. Só o poderiam ter 
feito usando algum tipo de expressão simbólica 
que designasse o objeto presente, a pedra, e 
também o objeto ausente, a finalidade da ação, 
o animal. A não ser em caso de surpresa, decerto 
não era a presença de um tigre que o atacasse 
que o homínida "instintivamente" começaria a 
procurar uma pedra adequada. Rara chance 
teria tido para sobreviver. Mas o Pitecanthropus 
já caçava os grandes mamíferos. 
O fato de surgir um ser cultural, constituiu-
se em nítida vantagem biológica para esse ser. 
Citando Carleton Coon, "no homem, a biologia 
tornou-se inseparável da cultura, uma vez que 
nossos ancestrais começaram a usar 
ferramentas. A partir de então, a seleção natural 
favoreceu aqueles que puderam usar a cultura 
em seu melhor benefício". 
SER CONSCIENTE 
Ao se tornar consciente de sua existência 
individual, o homem não deixa de conscientizar-
se também de sua existência social, ainda que 
esse processo não seja vivido de forma 
intelectual. O modo de sentir e de pensar os 
fenômenos, o próprio modo de pensar-se e 
sentir-se, de vivenciar as aspirações, os possíveis 
êxitos e eventuais insucessos, tudo se molda 
segundo ideias e hábitos particulares ao 
contexto social em que se desenvolve o 
indivíduo. Os valores culturais vigentes 
constituem o clima mental para o seu agir. Criam 
as referências, discriminam as propostas, pois, 
conquanto os objetivos possam ser de caráter 
estritamente pessoal, neles se elaboram 
possibilidades culturais. Representando a 
individualidade subjetiva de cada um, a 
consciência representa sua cultura. 
Como ser que se percebe e se interroga, o 
homem é levado a interpretar todos os 
fenômenos; nessa tradução, o âmbito cultural 
transpõe o natural. A própria natureza em suas 
manifestações múltiplas é filtrada no consciente 
através de valores culturais, submetida a 
premissas que não se isentam das atitudes 
valorativas de um contexto social. 
Vejamos, a título exemplificativo, a imagem do 
sol, evento tão eminente na vida. Se, no Egito 
antigo, o sol é venerado como divindade 
renascendo vitoriosa toda manhã e percorrendo 
os céus em seu barco diurno para o fim do dia 
sucumbir às forças da escuridão, num drama da 
natureza onde o homem se envolve 
emocionalmente; ou se, em nossa civilização, se 
constata nosso sol ser um entre 250 bilhões de 
sóis calculados existirem em nossa galáxia, a 
própria galáxia sendo uma entre bilhões de 
galáxias existentes no universo; se, ainda em 
nosso contexto, o sol é investigado quanto a 
possibilidades de fornecer energia para nós, (na 
atitude moderna de se conceber a 
transformação de forças naturais como 'fonte 
de energia'); se, na Idade Média, o sol é visto 
como uma coroa gigantesca flamejante 
(Tapeçaria do Apocalipse, 1377, Angers); ou, por 
outra, se numa pintura moderna o sol se torna 
um círculo preto entre borrões vermelhos 
ameaçadores, formações de nuvens sobre uma 
cidade imaginária (Klee, "Nuvens sobre Bor", 
1928, col. Felix Klee, Berna) - essas visões 
diferentes de um mesmo fenômeno natural são 
também as diversas formas expressivas por que 
o fenômeno chega ao consciente dos indivíduos. 
As formas não ocorrem independentes ou 
desvinculadas de colocações culturais. 
Nos processos de conscientização do 
indivíduo, a cultura influencia também a visão 
de vida de cada um. Orientando seus interesses 
e suas íntimas aspirações, suas necessidades de 
afirmação, propondo possíveis ou desejáveis 
formas de participação social, objetivos e ideais, 
a cultura orienta o ser sensível ao mesmo tempo 
que orienta o ser consciente. Com isso, a 
sensibilidade do indivíduo é aculturada e por sua 
vez orienta o fazer e o imaginar individual. 
Culturalmente seletiva, a sensibilidade 
guia o indivíduo nas considerações do que para 
ele seria importante ou necessário para alcançar 
certas metas na vida. 
Vemos estabelecer-se aqui uma 
qualificação dinâmica para a sensibilidade: 
diríamos que, por se vincular no ser consciente 
a um fazer intencional e cultural em busca de 
conteúdos significativos, a sensibilidade se 
transforma. Torna-se ela mesma faculdade 
criativa, pois incorpora um princípio 
configurador seletivo. Nessa integração que se 
dá de potencialidades individuais com 
possibilidades culturais, a criatividade não seria 
então senão a própria sensibilidade. O criativo 
do homem se daria ao nível do sensível. 
Acrescentamos ainda que, como 
fenômeno social, a sensibilidadese converteria 
em criatividade ao ligarse estreitamente a uma 
atividade social significativa para o indivíduo. No 
enfoque simultâneo do consciente, cultural e 
sensível, qualquer atividade em si poderia 
tornar-se um criar. 
MEMÓRIA 
Em nosso consciente destaca-se o papel 
desempenhado pela memória. Ao homem 
torna-se possível interligar o ontem e o amanhã. 
Ao contrário dos animais, mesmo os mais 
próximos na linha evolutiva, o homem pode 
atravessar o presente, pode compreender o 
instante atual como extensão mais recente de 
um passado, que ao tocar no futuro novamente 
recua e já se torna passado. Dessa sequência 
viva ele pode reter certas passagens e pode 
guardá-las, numa ampla disponibilidade, para 
algum futuro ignorado e imprevisível. Podendo 
conceber um desenvolvimento e, ainda, um 
rumo no fluir do tempo, o homem se torna apto 
a reformular as intenções do seu fazer e a adotar 
certos critérios para futuros comportamentos. 
Recolhe de experiências anteriores a 
lembrança de resultados obtidos, que o 
orientará em possíveis ações solicitadas no dia a 
dia da vida. 
As intenções se estruturam junto com a 
memória. São importantes para o criar. Nem 
sempre serão conscientes nem, 
necessariamente, precisam equacionar-se com 
objetivos imediatos. Fazem-se conhecer, no 
curso das ações, como uma espécie de guia 
aceitando ou rejeitando certas opções e 
sugestões contidas no ambiente. Ás vezes, 
descobrimos as nossas intenções só depois de 
realizada a ação. (Lembramos, como exemplo, 
que certos erros, talvez até fracassos, mais tarde 
podem revelar-se para nós em suas dimensões 
verdadeiras, como intenções produtivas ou 
mesmo criativas.) 
Evocando um ontem e projetando-o sobre 
o amanhã, o homem dispõe em sua memória um 
instrumental para, a tempos vários, integrar 
experiências já feitas com novas experiências 
que pretende fazer. Ao passo que para outras 
formas de vida certas condições ambientais 
precisam estar fisicamente presentes para que 
venha a se encadear a reação, os seres humanos 
estendem sua capacidade de sondar e de 
explorar a vida e circunstâncias cujas regiões e 
cujos tempos já estão, ou ainda estariam, 
ausentes de seus sentidos. O espaço vivencial da 
memória representa, portanto, uma ampliação 
extraordinária, multidirecional, do espaço físico 
natural. Agregando áreas psíquicas de 
reminiscências e de intenções forma-se uma 
nova geografia ambiental, geografia unicamente 
humana. 
Outros territórios hão de se lhe incorporar 
ainda. Imensos e ilimitáveis. Acompanhamos a 
interpretação da memória no poder imaginativo 
do homem, e, simultaneamente, em linguagens 
simbólicas. A consciência se amplia para as mais 
complexas formas de inteligência associativa, 
empreendendo seus voos através de espaços 
em crescente desdobramento, pelos múltiplos e 
concomitantes passados-presentes-futuros que 
se mobilizam em cada uma de nossas vivências. 
Supõe-se que os processos de memória se 
baseiam na ativação de certos contextos e não 
em fatos isolados, embora os fatos possam ser 
lembrados. É o caso de conteúdos de forma 
afetiva e de estados de ânimo, alegria, tristeza, 
medo, que caracterizariam determinadas 
situações de vida do indivíduo. De um ponto de 
vista operacional, à memória corresponderia 
uma retenção de dados já interligados em 
conteúdos vivenciais. Assim, circunstâncias 
novas e por vezes dissimilares poderiam reavivar 
um conteúdo anterior, se existirem fatores em 
relacionamentos análogos ao da situação 
original. 
Nota-se uma seletividade que organiza os 
processos em que a própria memória se vai 
estruturando. À semelhança do que sucede no 
sensório, onde a percepção ordena certos dados 
que chegam a ser percebidos por nós, a 
memória também ordena as vivências do 
passado. Em nossa experiência vivencial 
estruturam-se configurações de vida interior, 
formas psíquicas, que surgem em determinados 
momentos e sob determinadas condições, e são 
lembradas, 'percebidas' em configurações. De 
modo similar ao da percepção, pelos processos 
ordenadores da memória, articulam-se limites 
entre o que lembramos, pensamos, 
imaginamos, e a infinidade de incidentes que se 
passaram em nossa vida. De fato, se não 
houvesse essa possibilidade de ordenação, se 
viessem anarquicamente à tona todos os dados 
da memória, seria impossível pensarmos ou 
estabelecermos qualquer tipo de 
relacionamento. Seria impossível funcionarmos 
mentalmente. 
Surgindo por ordenações, a memória se 
amplia, o que não exclui especificidade maior. 
Além de renovar um conteúdo anterior, 
cada instante relembrado constitui uma 
situação em si nova e específica. Haveria de 
incorporar-se ao conteúdo geral da memória e, 
ao despertá-lo, cada vez o modificaria, se 
modificaria em repercussões, redelineando-lhes 
novos contornos com nova carga vivencial. 
Nossa memória seria, portanto, uma 
memória não factual. Seria uma memória de 
vida vivida. Sempre com novas interligações e 
configurações, aberta às associações. 
ASSOCIAÇÕES 
Provindo de áreas inconscientes do nosso 
ser, ou talvez pré-conscientes, as associações 
compõem a essência de nosso mundo 
imaginativo. São correspondências, conjeturas 
convocadas à base de semelhanças, 
ressonâncias íntimas em cada um de nós com 
experiências anteriores e com todo um 
sentimento de vida. 
Espontâneas, as associações afluem em 
nossa mente com uma velocidade 
extraordinária. São tão velozes que não se pode 
fazer um controle consciente delas. Ás vezes, ao 
querer detê-las, elas já se nos escaparam. 
Embora as associações nos venham com tanta 
insistência que talvez possam tender para o 
difuso, estabelecem-se determinadas 
combinações, interligando-se ideias e 
sentimentos. De pronto as reconhecemos como 
nossas, como sendo de ordem pessoal. 
Sentimos que, por mais inesperadas que sejam, 
as constelações associativas condizem com o 
que, individualmente, seria um padrão de 
comportamento específico nosso face a 
ocorrências que nos envolvam. Apesar de 
espontâneo, há mais do que certa coincidência 
no associar. Há coerência. 
As associações nos levam para o mundo da 
fantasia (não necessariamente a ser identificado 
com devaneios ou com o fantástico). Geram 
nosso mundo de imaginação. Geram um mundo 
experimental, de um pensar e agir em hipóteses 
- do que seria possível, nem sempre provável. O 
que dá amplitude à imaginação é essa nossa 
capacidade de perfazer uma série de atuações, 
associar objetos e eventos, poder manipulá-los, 
tudo mentalmente, sem precisar de sua 
presença física. 
O nosso mundo imaginativo será povoado 
por expectativas, aspirações, desejos, medos, 
por toda sorte de sentimentos e de 'prioridades' 
interiores. Se é fácil deduzir-se a influência que 
exercem sobre a nossa mente, no sentido de 
encaminhar as associações para determinados 
vínculos com o passado, do mesmo modo é fácil 
saber que as prioridades interiores influem em 
nosso fazer e naquilo que “queremos” criar. 
FALAR, SIMBOLIZAR 
Grande parte das associações liga-se à 
fala, nela submerge e com ela se funde, pois 
muito do que imaginamos é verbal, ou torna-se 
verbal, traduz-se em nosso consciente por meio 
de palavras. Pensamos através da fala silenciosa. 
Realmente pensa-se falando. Mas o 
pensar e falar só se tornam possíveis dentro do 
quadro de ideias de uma língua. Esta, por sua 
vez, está inserida no complexo de 
relacionamentos afetivos e intelectuais próprios 
de uma cultura. Assim, cada um de nós pensa e 
imagina dentro dos termos de sua língua, isto é, 
dentro das propostas de sua cultura. 
Quando se fala, recolhe-se desse acervo, 
de língua e de propostas possíveis, uma 
determinada parte que corresponde à 
experiência particular vivida. É o que se quer 
transmitir e, também, o que se pode transmitir.A fala se articula, portanto, no uso concreto da 
língua, uso sempre parcial porque adequado à 
área vivencial do indivíduo. 
Usamos palavras. Elas servem de 
mediador entre o nosso consciente e o mundo. 
Quando ditas, as coisas se tornam 
presentes para nós. Não os próprios fenômenos 
físicos que, naturalmente, continuam 
pertencendo ao domínio físico; torna-se 
presente a noção dos fenômenos. Na língua, 
como em todos os processos de imaginação, dá-
se um deslocamento do real físico do objeto 
para o real da idéia do objeto. A palavra evoca o 
objeto por intermédio de sua noção. Entretanto, 
qualquer noção já surge em nossa consciência 
carregada de certos conteúdos valorativos, pois, 
como todo agir do homem, também o falar não 
é neutro, não se isenta de valores. Orientado por 
um propósito básico seletivo e qualificador, o 
falar torna-se mais do que um assinalar, torna-
se um representar as coisas com seus 
conteúdos, torna-se um avaliar e um significar. 
As palavras representam unidades de 
significação. Sua função é variada, porquanto 
são variados os relacionamentos em que as 
palavras formulam o conhecimento que temos 
do mundo. Entre outros, podem funcionar como 
signos e símbolos. Nos relacionamentos 
semânticos, o signo se coloca anterior ao 
símbolo, cujo desdobramento associativo 
permanece em aberto. O signo aponta 
simultaneamente para dois planos da palavra, 
planos entre si diversos: para o seu aspecto 
sensorial, oral ou visual, isto é, para os sons ou a 
escrita ou a imagem de uma palavra (que a 
linguística denomina de significante), e para sua 
noção, isto é, para um conteúdo convencionado 
(na linguística, significado). Por exemplo: MÃO – 
sons articulados, e MÃO - objeto indicado pelos 
sons. Assim relacionada, numa relação que 
sempre é codificada e fixa a partir de quem a 
usa, indivíduo ou sociedade, a palavra 
desempenha a função de um signo. Quando, 
porém, o conteúdo é tomado numa dimensão 
mais ampla de generalização, quando no 
particular se entende também o universal, 
quando o conteúdo se desdobra por meio de 
noções associativas, as palavras funcionam 
como símbolos. O rapaz, pedindo a MÃO da 
moça, a pediria em casamento. 
Dando um nome às coisas, o homem as 
identifica e ao mesmo tempo generaliza. Capaz 
de perceber o que é semelhante nas diferenças 
e o que é semelhante nas semelhanças, ele 
percebe a árvore, e, na árvore, uma árvore. 
Uma, de muitas árvores. Nas árvores, ele vê uma 
planta. Na planta, uma forma de vida. Assim o 
homem discrimina, compara, generaliza, 
abstrai, conceitua. Passa a compreender cada 
fenômeno como parte de um padrão de 
referências maior. Ser simbólico por excelência, 
ele concebe abrangências recíprocas: do único 
dentro do geral, do geral dentro do único. 
O homem usa palavras para representar as 
coisas. Nessa representação, ele destitui os 
objetos das matérias e do caráter sensorial que 
os distingue, e os converte em pensamentos e 
sonhos, matéria-prima da consciência. 
Representa ainda as representações.. Simboliza 
não só objetos, mas também ideias e 
correlações. Forma do mundo de símbolos uma 
realidade nova, novo ambiente tão real e tão 
natural quanto o do mundo físico. Na percepção 
de si mesmo o homem pode distanciar-se 
dentro de si e imaginativamente colocar-se no 
lugar de outra pessoa. Em virtude do 
distanciamento interior, a expressão de 
sensações pode transformar-se na comunicação 
de conteúdos subjetivos. O homem pode falar 
com emoção, mas ele pode falar também sobre 
suas emoções. Estende a comunicabilidade a 
conteúdos intelectuais. Ele pensa e pode falar 
sobre os seus pensamentos. Refletindo a 
respeito dos dados perceptivos do mundo, o 
homem pode formular ideias e hipóteses de 
crescente complexidade intelectual e comunicá-
las aos outros como propostas de futuras 
atividades. Ainda cabe mencionar outra 
capacidade unicamente humana. Ao homem 
torna-se possível falar, refletir e perfazer toda 
espécie de abstrações mentais porque, com sua 
percepção consciente, ele consegue dissolver 
situações globais em conteúdos parciais. Por 
exemplo, eu poderia encontrar uma pessoa na 
rua e nesse encontro notar certos detalhes, o 
tom de voz, determinados gestos, olhares, a 
roupa, a pressa com que caminha, ou outros 
aspectos 
isolados; talvez tais aspectos tornem o 
encontro significativo num sentido inteiramente 
imprevisto. Isto está fora das possibilidades dos 
animais, que reagem a situações globais 
concretas. Mas o homem é capaz de conceber 
os componentes de uma experiência. 
Destacados de um todo, os componentes 
expressivos podem ser parcelados, podem ser 
codificados individualmente e podem ser 
recombinados para formarem outras 
totalidades. 
Neles, os mesmos componentes 
individuais configuram novos conteúdos. Veja-
se como palavras idênticas podem entrar no 
vocabulário de pessoas diversas e, cada vez, 
transmitir conteúdos vivenciais diferentes. Ou 
então, por exemplo, a própria palavra; seus 
componentes fonéticos ou escritos terão outra 
significação quando ordenados diferentemente. 
O homem dispõe de muitas línguas cuja 
configuração distinta - semântica, gramatical, 
fonética - expõe em cada caso particular um 
enfoque distinto sobre a vida. Corresponde ao 
mesmo tempo a uma espécie de prisma seletivo 
e normativo, propondo uma interpretação dos 
fenômenos da vida e, com isto, implicitamente, 
certos padrões culturais. Assim, cada língua 
encerra em si, em sua forma, uma atitude básica 
valorativa. Por isto é tão difícil traduzir. Nos 
vários modos de se enfocarem áreas de 
experiência humana e modos de participação 
social, nas muitas línguas, se refletem os acervos 
de muitas culturas. Aliás, na multiplicidade de 
culturas tem-se observado um aspecto 
caracteristicamente humano. 
As línguas são experiência coletiva, no 
sentido de nelas a experiência e a criatividade 
intelectual se tornarem anônimas. No mesmo 
sentido, as línguas são criação cultural; 
constituem o ambiente humano que age sobre 
o indivíduo, o qual por sua vez atua sobre o 
ambiente. Por isso, ainda que a capacidade de 
falar e de simbolizar seja um potencial inato, o 
aprendizado da fala implica um aprendizado 
cultural; o potencial natural da língua, cada 
indivíduo o realiza num dado contexto cultural. 
Molda sua experiência pessoal nas relações 
culturais possíveis. As formas concretas da fala 
poderão então variar até de geração para 
geração porque talvez sejam outras as relações 
culturais. 
FORMAS SIMBÓLICAS E ORDENAÇÕES 
INTERIORES 
As línguas constituem sistemas de 
comunicação verbal. Conquanto a fala seja da 
maior importância, fator fundamental de 
humanidade no homem, a nossa capacidade de 
comunicar conteúdos expressivos não se 
restringe às palavras; nem são elas o único modo 
de comunicação simbólica. Existem, na faixa de 
mediação significativa entre nosso mundo 
interno e o externo, outras linguagens além das 
verbais. Diríamos que, ao simbolizarem, as 
palavras caracterizam uma via conceitual. 
Essencialmente, porém, no cerne da criação está 
a nossa capacidade de nos comunicarmos por 
meio de ordenações, isto é, através de FORMAS. 
No que o homem faz, imagina, 
compreende, ele o faz ordenando. Tudo se lhe 
dá a conhecer em disposições, nas quais as 
coisas se estruturam. Um abraço que 
recebemos, por exemplo. Imediatamente 
compreendemos estar diante de uma forma. 
Percebemos algum tipo de ordem que se 
estabelece. O abraço se ligará ao que talvez 
esperássemos acontecer e não aconteceu, a 
quem o deu e como foi dado, a toda uma 
sequência de fatos e sentimentos ocorrendo na 
ocasião. Fazem parte da ordenação percebida, 
da maneira como as coisas naquele momento se 
interligaram. Fazem parte, por isso, de seu 
significado. Mais do que um simples 'abraço', 
teríamos umcontexto que se configurou em 
torno de um conteúdo significativo e se nos 
comunicou através da forma precisa em que o 
percebemos. 
Se a fala representa um modo de ordenar, 
o comportamento também é ordenação. A 
pintura é ordenação, a arquitetura, a música, a 
dança, ou qualquer outra prática significante. 
São ordenações, linguagens, formas; 
apenas não são formas verbais, nem suas ordens 
poderiam ser verbalizadas. Elas se determinam 
dentro de outras materialidades. (Esse 
problema será abordado mais detalhadamente 
no capítulo seguinte.) 
O aspecto relevante a ser considerado 
aqui é que, por meio de ordenações, se objetiva 
um conteúdo expressivo. A forma converte a 
expressão subjetiva em comunicação 
subjetivada. Por isso, o formar, o criar, é sempre 
um ordenar e comunicar. Não fosse assim, não 
haveria diálogo. Na medida em que entendemos 
o sentido de ordenações, respondemos com 
outras ordenações que são entendidas, por sua 
vez, justamente no sentido de sua ordem. 
Qualquer tipo de ordenação torna-se 
significativa para nós. Ao percebê-las 
projetamos de imediato algum sentido ao 
evento. Uma rosa que se cheire, uma lama que 
se pise, uma porta que se bata. Mas somente 
quando na forma se estruturam aspectos de 
espaço e tempo, mais do que assinalar o evento, 
poderá a mensagem adquirir as qualificações de 
FORMA SIMBÓLICA. Definimos a seguir o que 
entendemos por FORMAS SIMBÓLICAS: 
São configurações de uma matéria física 
ou psíquica (configurações artísticas ou não 
artísticas, científicas, técnicas, 
comportamentais) em que se encontram 
articulados aspectos espaciais e temporais. 
As figuras de espaço/tempo são 
percebidas como um DESENVOLVIMENTO 
FORMAL que contém sequências rítmicas, 
proporções, distanciamentos, aproximações, 
indicações direcionais, tensões, velocidades, 
intervalos, pausas. 
Tais figuras do espaço/tempo traduzem 
certos momentos dinâmicos do nosso ser, 
ritmos internos de vitalidade, de acréscimo ou 
declínio de forças, correspondendo ainda a 
certos estados de ânimo e de equilíbrio interior, 
entusiasmo, alegria, tristeza, melancolia, apatia, 
hostilidade, serenidade, agitação etc. 
É em termos espaciais e temporais, ou 
seja, em termos de um movimento interior, que 
avaliamos a percepção de nós mesmos e nossa 
experiência do viver - não há outro modo de 
configurá-las em nós e trazê-las ao nosso 
consciente. Por isto, as categorias de espaço e 
tempo são indispensáveis para a simbolização. 
Na maneira de se corresponderem o 
DESENVOLVIMENTO FORMAL e QUALIDADES 
VIVENCIAIS, concretiza-se o conteúdo 
expressivo da forma simbólica. 
Através da estrutura formal, a mensagem 
simbólica sempre articula, além das associações 
possíveis em cada caso, modos de ser essenciais 
- justamente pelos aspectos de espaço/tempo - 
que são entendidos como qualificações de vida. 
Mobilizando-nos, as ordenações da forma 
simbólica rebatem em áreas fundas do nosso ser 
que também correspondem a ordenações. 
Trata-se, nessas ordenações interiores, de 
processos afetivos, ou seja, de formas do íntimo 
sentimento de vida. São as 'nossas formas' 
psíquicas. 
As “nossas formas” se constituem em 
referencial para avaliarmos os fenômenos, em 
nós e ao redor de nós. É o aspecto individual no 
processo criador, de unicidade dentro dos 
valores coletivos. Ainda que em cada pessoa as 
potencialidades se realizem em interligação com 
fatores externos, existem sempre fatores 
internos que não podemos desconsiderar. 
Existem como ordens integradas em uma 
individualidade, específicas a ela, e só a ela. 
Todo perceber e fazer do indivíduo refletirá seu 
ordenar íntimo. O que ele 
faça e comunique, corresponderá a um 
modo particular de ser que não existia antes, 
nem existirá outro idêntico. As coisas 
aparentemente mais simples correspondem, na 
verdade, a um processo fundamental de dar 
forma aos fenômenos a partir de ordenações 
interiores específicas. 
Ao contrário, portanto, de teorias que não 
admitem contextos para a criação, vemos o ato 
criativo vinculado a uma série de ordenações e 
compromissos internos e externos. 
POTENCIAL CRIADOR 
O potencial criador é um fenômeno de 
ordem mais geral, menos específica do que os 
processos de criação através dos quais o 
potencial se realiza. Salientamos o caráter geral, 
e indefinido até, do potencial, a fim de assinalar 
o sentido da definição que se efetua nos 
processos criativos, tomados aqui como 
processos ordenadores e configuradores. 
Em cada função criativa sedimentam-se 
certas possibilidades; ao se discriminarem, 
concretizam-se. As possibilidades, virtualidades 
talvez, se tornam reais. Com isso excluem outras 
- muitas outras - que até então, e 
hipoteticamente, também existiam. Temos de 
levar em conta que uma realidade configurada 
exclui outras realidades, pelo menos em tempo 
e nível idênticos. É nesse sentido, mas só e 
unicamente nesse, que, no formar, todo 
construir é um destruir. Tudo o que num dado 
momento se ordena, afasta por aquele 
momento o resto do acontecer. É um aspecto 
inevitável que acompanha o criar e, apesar de 
seu caráter delimitador, não deveríamos ter 
dificuldades em apreciar suas qualificações 
dinâmicas. Já nos prenuncia o problema da 
liberdade e dos limites. 
Quando se configura algo e se o define, 
surgem novas alternativas. Essa visão nos 
permite entender que o processo de criar 
incorpora um princípio dialético. É um processo 
contínuo que se regenera por si mesmo e onde 
o ampliar e o delimitar representam aspectos 
concomitantes, aspectos que se encontram em 
oposição e tensa unificação. A cada etapa, o 
delimitar participa do ampliar. Há um 
fechamento, uma absorção de circunstâncias 
anteriores, e, a partir do que anteriormente fora 
definido e delimitado, se dá uma nova abertura. 
Da definição que ocorreu, nascem as 
possibilidades de diversificação. Cada decisão 
que se toma representa assim um ponto de 
partida, num processo de transformação que 
está sempre recriando o impulso que o criou. 
O potencial criador elabora-se nos 
múltiplos níveis do ser sensível-cultural-
consciente do homem, e se faz presente nos 
múltiplos caminhos em que o homem procura 
captar e configurar as realidades da vida. Os 
caminhos podem cristalizar-se e as vivências 
podem integrar-se em formas de comunicação, 
em ordenações concluídas, mas a criatividade 
como potência se refaz sempre. A produtividade 
do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, 
se amplia. 
TENSÃO PSÍQUICA 
A criatividade, como a entendemos, 
implica uma força crescente; ela se reabastece 
nos próprios processos através dos quais se 
realiza. 
A título de análise formulamos aqui, sob o 
termo “tensão psíquica”, uma noção de 
renovação constante do potencial criador. É um 
aspecto, a nosso ver, relevante para a criação. 
Na realidade, no acúmulo enérgico 
necessário para levar a efeito qualquer ação 
humana, já se assinala a presença de uma 
tensão. No homem, em função de sua 
percepção consciente, o fenômeno não seria 
apenas de ordem física, e sim se faria 
sentir em repercussões psíquicas. Ainda mais 
quando se compreende o agir humano como um 
agir intencional. É possível, também, que, 
similar ao tônus físico, teríamos uma espécie de 
tônus psíquico, uma vitalidade elementar 
psíquica como condição ativa preexistente ao 
agir e indispensável a ele, e passível de 
intensificação. De todo modo, deve ficar 
entendido que nossa comparação entre tônus 
físico e psíquico é feita apenas no intuito de 
sugerir a possibilidade de formas correlatas; não 
pretendemos formular hipóteses sobre a origem 
ou a natureza da tensão psíquica. Importa-nos 
destacar sua função determinante nos 
processos criativos. 
Em cada atuação nossa, assim como 
também em cada forma criada, existeum estado 
de tensão. Sem ele não haveria como se saber 
algo sobre o significado da ação, sobre o 
conteúdo expressivo da forma ou ainda sobre a 
existência de eventuais valorações. 
Acompanhando o nosso fazer e 
impregnando-o com certas ênfases, a tensão 
psíquica se transmuda em forma física. 
Desempenha, assim, função a um tempo 
estrutural e expressiva, pois é em termos de 
intensidade, emocional e intelectual, que as 
formas se configuram e nos afetam. 
Não se trata, necessariamente, na tensão 
psíquica, de um estado de espírito excepcional. 
Ao criar, ao ordenar os fenômenos de 
determinada maneira e ao interpretá-los, parte-
se de uma motivação interior. A própria 
motivação contém intensidades psíquicas. São 
elas que propõem e impelem o fazer. 
A tensão psíquica pode e deve ser 
elaborada. Assim, nos processos criativos, o 
essencial será poder concentrar-se e poder 
manter a tensão psíquica, não simplesmente 
descarregá-la. Criar significa poder sempre 
recuperar a tensão, renová-la em níveis que 
sejam suficientes para garantir a vitalidade tanto 
da própria ação, como dos fenômenos 
configurados. Embora exista no ato criador uma 
descarga emocional, ela representa um 
momento de libertação de energias - necessário, 
mas de somenos importância do que certos 
teóricos talvez o acreditem ser. Mais 
fundamental e gratificante, sobretudo para o 
indivíduo que está criando, é o sentimento 
concomitante de reestruturação, de 
enriquecimento da própria produtividade, de 
maior amplitude do ser, que se libera no ato de 
criar. Menos a potência descarregada, do que a 
potência renovada. Compreendemos, na 
criação, que a ulterior finalidade de nosso fazer 
seja poder ampliar em nós a experiência de 
vitalidade. Criar não representa um relaxamento 
ou esvaziamento pessoal, nem uma substituição 
imaginativa da realidade; criar representa uma 
intensificação do viver, um vivenciar-se no fazer; 
e, em vez de substituir a realidade, é a realidade; 
é uma realidade nova que adquire dimensões 
novas pelo fato de nos articularmos, em nós em 
perante nós mesmos, em níveis de consciência 
mais elevados e mais complexos. Somos, nós, a 
realidade nova. Daí o sentimento do essencial e 
necessário no criar, o sentimento de um 
crescimento, interior, em que nos ampliamos 
em nossa abertura para a vida. 
A tensão psíquica é vista ás vezes como 
conflito emocional. Em si, isso não invalida nossa 
tese de que qualquer processo criativo, 
produtivo, teria que supor um estado de tensão 
psíquica, uma vez que não há crescimento sem 
conflito - conflito é condição de crescimento. 
Pode acontecer, evidentemente, que no 
indivíduo a tensão psíquica chegue a se 
constituir quase que exclusivamente de 
conflitos emocionais e que estes assumam 
proporções tamanhas que em torno deles gire 
toda a existência afetiva de uma pessoa. Nesse 
caso, os conflitos podem tolher-lhe as 
potencialidades básicas. A pessoa então talvez 
nem seja mais capaz de criar; talvez não seja 
nem mesmo capaz de viver. 
A propósito desse problema, não 
poderíamos omitir o caso de artistas cuja 
criatividade se desenvolveu não obstante graves 
conflitos emocionais (Proust, Kafka, Van Gogh, 
Gauguin, Munch). Esses conflitos têm sido vistos 
constituírem, de modo mais ou menos velado, 
parte essencial do conteúdo expressivo da obra 
artística (não tanto nas situações externas como 
na atitude implícita da pessoa diante do 
conflito). 
Não acreditamos que seja o conflito 
emocional o portador da criatividade. O que o 
conflito faria, dada sua área e sua configuração 
particular em cada caso, ao intervir na 
produtividade de um artista, seria 
eventualmente propor a temática significativa 
por ser ela tão imediata e relevante para a 
pessoa. Poderia, também, junto ao assunto 
assim selecionado, influir na escolha, ainda que 
inconsciente, dos meios e das formas de 
configurar. Portanto, o conflito orientaria até 
certo ponto o quê e o como no processo criador. 
Mas o conflito pessoal não poderá em si ser 
confundido nem com o potencial criador 
existente na pessoa, nem com a capacidade de 
elaborar criativamente um conteúdo. Ao 
contrário. O quanto existe de elaboração visível 
na obra artística, nos indica exatamente a 
medida de controle que o artista ainda pôde 
exercer sobre seu conflito. (em Van Gogh, por 
exemplo, isso fica patente). 
Nesse sentido, um artista da estatura de 
Rainer Maria Rilke (1875-1927), grande poeta 
lírico da língua alemã do início do século, no 
fundo temia fantasmas. Durante um longo 
período de inquietação (entre 1911 e 1922, 
incluindo, pois, os anos da primeira guerra 
mundial), marcado por certa improdutividade 
artística – “certa” improdutividade, pois, em 
verdade, não deixaram de ser anos produtivos - 
Rilke por várias vezes contemplou a idéia de se 
submeter à psicanálise. Desde cedo foi 
admirador de Freud, cujos pensamentos o 
fascinavam. Mas todas as vezes, também, 
rejeitou a ideia de se analisar, com o mesmo 
argumento: de que sua força criativa provinha 
de seus conflitos, e, caso os elaborasse 
conscientemente, comprometeria sua 
criatividade. 
Na realidade, o receio era poder enfrentar 
as causas de seus conflitos. Pois, 
evidentemente, sua criatividade se identificava 
com o ser sensível e inteligente, com a riqueza 
espiritual e com tudo o que em si pudesse 
desdobrar de humanidade maior. Com esses 
recursos de sua personalidade, Rilke seria 
criativo, e não com o conflito pessoal, as 
carências afetivas e as inseguranças; o conflito 
poderia talvez até bloquear a realização das 
potencialidades. 
O caso de Rilke está longe de constituir 
caso único. Nós todos temos os nossos medos. E 
sentimos que a criatividade envolve a nossa 
produtividade, nossa capacidade básica de dar, 
e de poder receber. 
Um último problema a se considerar aqui 
é que, do momento que exista no indivíduo um 
determinado potencial, surge para esse 
indivíduo, como necessidade interior, a 
necessidade de exercer seu potencial e de 
realizá-lo em sentido criativo. Podendo realizá-
lo, o indivíduo se realizaria; sua vida se tornaria 
mais rica e significativa. 
De acordo com as afinidades, as aptidões 
e os íntimos interesses, cada pessoa sente em si, 
senão especificamente ao menos em termos 
gerais, em que áreas poderia caminhar para se 
desenvolver. Por onde deveria caminhar. As 
potencialidades existentes constituirão sua 
própria motivação; serão uma proposta 
permanente do indivíduo, uma proposta de si 
para si. 
Trecho extraído do livro disponível em: 
http://www.faygaostrower.org.br/livro3.php 
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de 
criação. 9 ed. Petrópolis: Vozes, 1993. 187 p. 
Ilus. 
• Aula 5 e 6 - Unidade 2 - O que é 
destruição criativa? 
 
Senso crítico, neutralidade e objetividade 
Senso Crítico é a análise que possui 
comprometimento com a verdade visando 
compreender melhor as questões do Eu, 
do Outro e da Sociedade como um todo. 
Ou ainda, poderíamos dizer ainda que 
Senso Crítico seja a "faculdade de apreciar 
e julgar com ponderação e inteligência". Ao 
contrário do Senso Comum, que se baseia 
em nossas experiências e tradições que 
formam um saber "prático" aplicado em 
nosso dia a dia. 
A Crítica, por alguns, é muito mal vista, 
sendo encarada como algo negativo, que 
vem destruir a sociedade, ao invés de 
aprimorá-la. Em muitos momentos da 
história a crítica foi sufocada de todas as 
formas. Para nos remetermos a isso não 
precisamos ir muitos anos atrás, temos no 
Brasil um exemplo claro disso que foi a 
época da Ditadura Militar, onde se buscava 
dar cabo de quem tivesse um pensamento 
Crítico. Talvez venha daí o ranço de 
considerar a crítica algo ruim. 
Na sociedade atual, somos 
bombardeados por informações a todo 
instante pelos meios da comunicação,

Continue navegando