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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA FACULDADE DE CIENCIAS BIOL6GICAS E DA SAUDE CURSO DE MEDICINA VETERINARIA FLUIDOTERAPIA EM PEQUENOS ANIMAlS CURITIBA DEZEMBRO - 2004 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA FACULDADE DE CIENCIAS BIOLOGICAS E DA SAODE CURSO DE MEDICINA VETERINARIA MARIANA DOS SANTOS Monografia apresentada como requisito para conclusao de Curso de Medicina Veterinaria da UTP, sob orienta~o da Professora Neide Mariko Tanaka. CURITIBA DEZEMBRO - 2004 SUMARIO INTRODUyAO .. LioUIDOS CORPOREOS .. 3 4 5 5 9 2.1 Volume dos liquidos . 2.2 Distribuiyao de Ifquidos nos compartimentos .. 2.2.1 Distribuic;ao de agua . 2.3 Traca de Ifquidos entre as compartimentos .. 2.3.1 Tracas de Ifquidos entre 0 plasma e 0 interstlcio .. 2.3.2 Trocas de IIquidos entre 0 LlC e 0 LEC 10 12 14 14 15 15 17 17 18 19 19 20 21 22 25 29 3 3.1 3.1.1 3.1.2 3.1.3 3.2 BALANyO DE AGUA . Ganho de agua Ingestao de agua .... Agua contida nos alimentos .. Agua melab6Iica .. Perdas de agua .. 3.2.1 Perda obrigat6ria urinaria 3.2.2 Perda obrigat6ria fecal. . 3.2.3 Perda livre de agua .. 3.2.4 Perda por evaporac;ao cutiinea .. 3.2.5 Perda pela respirac;ao . 4 REGULAyAO DO BALANyO DE AGUA 4.1 4.1.1 4.1.2 Regulac;ao da osmolaridade Harmonia antidiuretico ... Mecanismo da sede .... 4.2 Regulac;ao de volume 33 5 CRITERIOS PARA 0 ESTABELECIMENTO DA FLUIDOTERAPIA... 34 5.1 5.2 5.3 Indica<;6es 34 Hist6ria 36 Exame fisico 37 5.4 6 6.1 6.1.1 6.1.2 6.1.3 6.1.4 Achados laboratoriais . COMPOSIc;:iio DAS SOLUC;:OES PARENTERAIS .. Solu<;6es cristal6ides . Soluyao de ringer lactato Solu<;oes salinas .. Solu<;5es de glicose . Suplementos . 6.1.4.1 Suplementac;ao com cloreto de potassio . 6.1.4.2 Suplementa<;ao com alcalis .. 6.1.4.3 Suplementa,ao com glicose . __ . 6.1.4.4 Suplementayao vitamfnica . 6.1.4.5 Suplementa<;ao com cal cia . 6_1.4.6 Suplementa,ao com f6sforo ._ ._._. _ 6.2 Soluc~6es coI6ides .. 6.2.1 Col6ides naturais. 6.2_1.1 Plasma._ 6_2.1.2 Sangue total . . .__..__. . 6.2.2 Co16ides artificiais . 6.2.2.1 Gelatinas 6.2.2.2 Dextranos 7 7.1 7.2 7.3 7.4 7.5 8 9 10 11 VIAS DE ADMINISTRAc;:iio . Oral _ _ . Intraperitonial. . Subcutemea ... Intravenosa Intra-ossea . NECESSIDADES VOLUMETRICAS._ VELOCIDADE DE ADMINISTRAc;:iiO _ . CONCLUsiio.. . . REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 40 43 43 47 48 53 54 54 55 61 61 62 62 63 64 64 66 71 71 72 75 75 75 76 77 79 81 84 87 89 RESUMO A desidratayao e uma das principais desordens comumente observadas na pratica veterinaria na qual eSla associada a inumeras patologias. Seu reconhecimento e fadl e seu tratamento, embora pare«a simples, baseia-s8 no criteria adotado par cada profissional. A utiliza<;ao correta da fluidoterapia depende da escolha do fluido de acordo com 0 tipo de desidratac;ao e causas relacionadas. Contudo, nao estao isentos de riscos iatrogenicos. 0 conhecimento mais profunda da lisiologi8 dos liquidos corporals e da farmacologia das solu96es empregadas e o que realmente garante 0 sucesso da cura das enfermidades. Palavras-Chaves: Medicina veterinaria, pequenos animals e fluidoterapia; ABSTRACT The dehydration is one of the main clutters mainly observed in the practical veterinary medicine in which is associated the innumerable patologies. Its recognition is easy and its treatment, even so seems simple, is based on the criterion adopted for each professional. The correct use of the fluid therapy in accordance with depends on the choice of the fluid type of dehydration and related causes. However, they are not exempt of iatrogenic risks. The deepest knowledge of the physiology of the corporal liquids and the pharmacology of the employed solutions is what it really guarantees the success of the cure of the diseases. Keys words: Veterinary Medicine, small animal and fluid therapy; INTRODU<;:AO o objetivo principal da fluidoterapia e corrigir a desidrata~ao e/ou a desequilibrio eletroHtico. Estas condic;:oes ocorrem como conseqOemcia de enfermidade gastrointestinal, renal, cardlaca, au hepatica, bern como traumatismos e uma serie de outras circunstancias (BOOT, 1992). A terapia hfdrica e indicada para corre9ao da acidose ou alcalose, para a tratamento do choque, para administra~ao de alimento parenteral, au masma para estimular uma fungao organica (como as rins). As causas gerais de perdas de Jiquidos e/ou eletrolitos incluem situa~6es em que nao hi; disponibilidade de substancias devido sua lalta de suprimento au da propria condi~ao do animal. (MICHELL, 1994; BOOT, 1992). Num case de fralura mandibular ou num disturbio do sistema nervoso central, por examplo, 0 animal pode sar incapaz de ingerir alimento au liquido. Tais perdas tambem estao presentes em quadros clinicos envolvendo urn excessa de eliminaC;:8o de Jiquidos e elelr6lil05, como no vernita, diarreia e poliuria. (MICHELL, 1994; BOOT, 1992). A. medlda que sao desenvolvidas ideias mais claras a raspeito da organizacrao ffsico-quimica do protoplasma, toma-se evidente que 0 proprio organismo 13, essencialmente, uma solucrao aquosa na qual estao disseminadas substimcias coloidais sao de grande complexidade. (MICHELL, 1994). A agua, ah~rnde suprir a rnatriz na qual ocorrern todos os processos vitais, tambem participa significativamente de tais processos (HOUPT, 1996). A func;ao do tecido normal e 0 desenvolvimento das formas de vida animal mais evolufdas dependem da manutenc;aoe controle da composic;ao dos liquidos corporais que banham todas as celulas e lecidos. Esse liquido extracelular esta em movlmentac;ao constante por todo 0 corpo. Ele e rapidamente transportado no sangue circulante e em seguida misturado entre o sangue e os IIquidos teciduais par difusao atraves das paredes dos capilares. Neste Ifquido extracelular ficarn os fons e nutrientes necessarios para garantir a sobrevivemciacelular. Assim, essencialmente, todas as celulas vivem no liquido extracelular, razao pela qual este e chamado de meio interno. Esta expressao foi adotada par Claude Bernard, grande fisiologista frances do seculo XIX (GUYTON,1996). As celulas sao capazes de viver, crescer e desempenhar suas func;oes especfficas enquanto estiverern disponiveis, no meio mterno, concentrac;oes adequadas de oxigenio, glicose, aminoacidos, diversos ions, substfmcias gordurosas e outros constituintes. a volume de agua no arganismo e a concentrac;ao de solutos devem ser mantidos dentro de limites bastante estreitos. A razao e que 0 funcionamento otimo de urn animal requer uma composic;ao relativamenle constante e bern definida de seus fluidos corporeos e desvios sao geralmente incompativeis com a vida. (MICHELL, 1994). No inicio desse seculo, W. B. Cannon empregou a palavra homeostasia para expressar a existencia e manutenc;ao da estabilidade desse meio ambiente intern a dentro de certos limites (HOUPT,1996). Como a composiyao do Hquido extracelular influencia vital mente a funyao de todos os 6rgaos corporais, torna-S8 evidente que as problemas medicos mais importantes sao consequencias dos desvios da homeostasia hidroeletrolitica. (MICHELL, 1994). A fluidoterapia tornaU-S8 uma pr<3.tica clfnica grandemente utilizada. as primeiros relatos datam de 1832, atraves de uma carta remetida par Thomas Latta a urn amigo, ende descreve pera primeira vez seu usa benefico, par via endovenosa, a uma paciente humana portadora do virus da c6lera (DiBARTOLA, 1992). Nas tres ultimas decadas, a fJuidoterapia parenteral tornaU-S8 uma pratica indispensavel naclinica medica veterinaria (MICHELL, 1994). Com 0 aumento das complicayoes relacionadas com 0 seu usa tornou- se rna is sofisticada, tanto na teoria quanto na pratica. (MICHELL, 1994). Para acompanhar tais avan90s, e necessario partir da compreensao fisiol6gica basica dos Ifquidos corporais e a fisiopatologia dos disturbios associ ados. (MICHELL, 1994). LlOUIDOS CORPOREOS 2.1 VOLUME DOS UOUIDOS Existe uma consideravel variayao no conteudo de agua corporal total (ACT) entre dilerentes especies, idade, sexo e estado nutricional (HOUPT, 1990). Em media, 60% do peso vivo do animal adulto e agua. Isso pode ser convertido para litros, porque 1 litro de agua corresponde a 1 kg (SCHAER, 1989). Os neonates podem ter 80% do seu peso em agua, razao pela qual a perda de Iluidos num animal jovem pode ser tao devastante. Essa porcentagem de agua corp6rea decresce gradativamente nos primeiros seis meses de idade (MOULTON & ARON apud DiBARTOLA, 1992). o teeida gorduroso e excepcional pelo seu baixo conteudo em agua. Assim, 0 conteudo total de agua num animal gordo e sempre mais baixo do que num animal magro. (DiBARTOLA, 1992). o fato de a gordura conter pouca agua sugere que as necessidades hidricas des pacientes devem ser estimadas baseadas na massa corp6rea a lim de evitar a superhidrata,ao, principalmente em pacientes com insuficiencia cardiaca a/au renal, au em pacientes hipoproteinemicos (DiBARTOLA, 1992). A massa corp6rea real e estimada pelas seguintes formulas: >- Obeso: peso corporal x 0.7 l> Normal: peso corporal x 0.8 l> Magro: peso corporal x 1.0 2.2 DISTRIBUlyAo DE LiaUIDOS NOS COMPARTIMENTOS 2.2.1 DISTRIBUlyAO DE AGUA A agua corporal total (ACT) esta distribuida em dois compartimentos principais : ./ liquido intracelular (LlC) ./ liquido extracelular (LEC). A perda ou ganho de flufdos ou solutos em urn desses compartimentos pode levar a altera,oes no volume dos outros compartimentos (DiBARTOLA, 1992). o volume do LlC aumenta gradativamente com a idade. No animal adulto corresponde a 40% do peso corp6reo, constituindo 0 maior compartimento do organismo. Nao e um compartimento homogeneo, pais corresponde a soma de urn grande numero de celulas que podem variar de constitui~ao de or9ao para or9ao, ou de tecido para tecido. Tambem uma dada celula e constitufda par uma grande variedade de estruturas subcelulares, de ultra-estrutura e constitui<fao peculia res. Como naD existe marcador para medir 0 volume do Lie, determina-s8 seu volume pela diferen~a entre a AGT eo volume do LEG. (DiBARTOLA,1992). a volume do LEG declina com a matura<f80 e corresponde a 20% do peso corporeo do animal adulto (SEELER, 1996). Os fluidos administrados via parenteral inicialmente penetram pelo LEG. Na maiaria das doenyas, a perda de fluidos ocorre inicialmente a partir do LEC (por exemplo: diarreia, a poliuria). Portanto, toma-se importante estimativas do espa«o extracelular. IS50 e feito injetando-se em uma veia substancias marcadoras que atravessam a parede capilar mas que naD penetram na celula. (DiBARTOLA,1992). aLEC e subdividido em Quiros dais comparlimentos principais, 0 Ifquido intersticial e 0 plasma, separados pelo endotelio capilar. (SENIOR, 1992). o volume de agua contido no compartimento intersticial corresponde a 15% do peso corporeo no animal adulto. E medido pela diferen~a entre 0 volume extracelular e vascular. (SENIOR, 1992). o volume de agua plasmatica corresponde it 5% do peso do animal adulto e aproximadamente 50% do volume sangufneo total. Pertencem ainda ao espa90 extracelular compartimentos cham ados transcelulares, incluindo: fluido cerebroespinhal, liquido sinovial, linfa, bile, secre<;oes glandulares e respirat6rias, Ifquido peritoneal, Ifquido pericardico e liquido intra-ocular que sao produzidos sob a a9ao de celulas especfficas, e estao em equilibrio com outros fluidos extracelulares. Situam-se em cavidades especiais delimitadas por epitelio (como na mucosa digestiva) ou par mesotelio (como os que revestem as cavidades pleural e peritoneal). Seu volume corresponde de 1 a 3% do peso corporal. Sua constitui9ao e semelhante ao do LEC, modificado pela a,80 das celulas especificas que os delimitam (MALNIC, 1991). Figura 1 - Propor,80 entre os compartimentos liquidos do organismo (AIRES. 1991) o endotelio vascular propicia uma barreira seletivamente permeavel entre 0 espa,o plasmatico e 0 liquido intersticial. A membrana basal capilar integra e altamente permeavel a agua e aos pequenos solutos organicos, porem, relativamente impermeavel aos componentes celulares do sangue e as proteinas plasmaticas. Gonsequentemente, a dileren~a principal entre 0 liquido intersticial e 0 plasma e que este ultimo contem significativamente mais protefnas, resultando numa presseo osm6tica ligeiramente mais elevada no espa~o plasmatico em compara<;aocom 0 espa~o intersticial (pressao onc6tica plasmatica). (SENIOR, 1992). As concentra~6es diferentes de proteinas entre estes do is compartimentos podem afetar a distr;bui~ao de cations e anions entre os mesmos, conforme 0 equilibria de Gibbs-Donnan. As protefnas tem carga efetiva negativa e tendem a aumentar as concentra~ao de cations e reduzir a concentray8.o de anions no compartimento plasmatico. Na pratica clinica, contudo, esta diferen9a nas concentra90es de anions e cations atraves do endotelio e negligenciada, e os eleitos do equilibrio de Gibbs-Donnan geralmente sao ignorados (KOHN & DiBARTOLA, 1992). Devido a sua abundancia,o Na+ e 0 determinante principal da osmolaridade do LEC, tern como seus ions associados, como cloreto e bicarbonato (a lim de manter a eletroneutralidade). Assim sendo, uma estimativa grosseira da osmolaridade do LEG pode ser obtida dobrando-se simplesmente a concentra~ao de s6dio. Exemplo: Osmolaridade do plasma= 2(plasma[Na])= 2(145)=290mOsm/l. 9 o LEC tambem e composto por um pequeno grupo de substfmcias tid as como naD eletrolitos, representadas pela ureia, glicose e outras substancias nao dissociaveis. (SENIOR, 1992). 2.3 TROCA DE LiOUIDOS ENTRE OS COMPARTIMENTOS Conforme anteriormente descrito pela figura 1, a barreira entre 0 LlC e 0 LEe e a membrana plasmatica e dentro do compartimento extracelular a barreira que se interpoe entre 0 plasma e 0 intersticia e 0 endotelio capilar. (SENIOR, 1992). 2.3.1 TROCAS DE LiOUIDO ENTRE 0 PLASMA E 0 INTERSTiclO A agua no sangue circula atraves do corpo par causa da pressao hidrostatica gerada pelo cora9ao (HOUPT. 1996). Sua distribui9ao para 0 intersticio e 0 LlC a partir do sangue depende da difusao em resposta aos gradientes. (SENIOR, 1992). A pressao hidrostatica intracapilar flutua como tonos do esfincter capilar, conforme as estfmulos neuro-humorais. A constric;ao Dcorre nos casas de hemorragia e choque, a dilata9ao ocorre diante da inflama9ao (SENIOR, 1992). !O A rela((ao entre a pressao hidrostatica e a pressao ancolica (pressao das proteinas plasmaticas) e 0 papel dessas foryas na regulagao da passagem dos liquidos atraves do endotelio capilar. (SENIOR, 1992). ~ •• .,..ut\t.N"~.pA<.'<><'GoC~ .O •••••••HOjlI' •••UO,.,.,.•••••:UCO""'~'Onvnl~ ~ I"""UO~ •.•••••~ ~ ~.,.._~,_., •••• do~ peu.ioorc.6&iupl.umix.l ~ p'_douoor_ 4 Fig. 3 Hipotese de Starling da troca de liquidos entre 0 plasma e 0 intersticia. Os quatro fatores que determinam a troca sao conhecidos como foryas de Starling. No segmento proximal de urn capilar normal mente funcionante, a pressao hidrostatica excede a pressao onc6t;ca, ocorrendo a ultrafiltrag8.o de plasma para fora do capilar em direyao ao interstfcio. Na paryaO distal do capilar, a resistencia ao fluxo sanguineo faz com que a pressao hidrostatica intracapilar eaia, e a pressao anc6lica excedea hidrostatica. Assim, sob circunstancias normais, a quantidade de liquido perdido no capilar proximal e praticamente superada pela reabsorgao capilar distal. o pequeno excesso de ultrafiltrado ratorna ao plasma atraves do fluxo linfatico auxiliado pela atividade muscular e pela pressao intratoracica negativa gerada pela inspiragao. (SENIOR, 1992). II 2.3.2 TROCAS DE UQUIDO ENTRE 0 L1CE 0 LEC As membranas celulares podem apresentar uma barreira a difusao. Elas consistem de uma bicamada lipidica com apenas 2 moleculas densas, atraves da qual as substiincias lipossoluveis podem difundir-se rapidamente (por exemplo, O2 e CO2). (KaHN & DiBARTOLA, 1992) Moleculas muito pequenas sao transportadas atraves da membrana por difusao facilitada na presen9a de urn transportador. As membranas celulares sao relativamente hidrof6bicas devido a sua constituiyao lipfdica, e a difusao de agua atraves desses locais da parede celular fica impedida. Existe, entretanto, moleculas proteicas que S8 estendem atraves da bicamada lipfdica comunicando a face interna e externa da membrana, formando canais par ande a agua e substancias hidrofflicas pod em difundir- se. (KOHN & DiBARTOLA, 1992) o numero de canais nao e considerado suficiente para explicar 0 volume e a rapidez da troca de agua entre 0 L1Ce 0 LEC (HOUPT, 1996). Acredita·se que a movimenta9ao de moleculas de agua (movimento browniano) cause urn bombardeio na membrana e penetrem na bicamada lipidica antes que a hidrofobia lipidica evite sua difusao. (KaHN & DiBARTOLA, 1992) A quantidade de agua difundida para dentro da calula a normalmente contrabalan,ada por uma mesma quantidade de agua que sai. Quando duas 12 soluc;:oes aquosas de diferentes concentraQoes sao separadas par urna membrana permeavel a agua, mas nao aos solutos (membrana semipermeavel), havera difusao de agua do lado de manor concentra9ao de soluto (mais agua) para 0 lado de maior concentra,80 de soluto (menos agua). Esle fen6meno denomina-se osmose. Pelo exposto, condui-se que 0 volume do LlG e do LEG e determinado pelo numera de partfculas osmoticamente ativas em cada compartimento. Ja que 0 sodia e 0 cation mais abundante no LEC, ele e seus Ions associ ados contam pela maior parte das partfculas osmoticamente ativas no LEG,seguidos da glicose e ureia. (KOHN & DiBARTOLA, 1992) Todos os espactos Ifquidos corporais sao isotonicos entre si. A osmolaridade do plasma, conseqOentemente a do LEG, e de aproximadamente 300m Osm/kg. A adi,80 ou a retirada de fluidos ou solutos altera 0 volume dos compartimentos e a tonicidade. Estas altera90es provocam desvios homeostaticos ate 0 retorno a isotonicidad8. (KOHN & DiBARTOLA, 1992) 3 BALANQO DE AGUA o termo balan,o de agua designa a diferen,a entre 0 ganho e a perda de agua. Quando a quantidade do ganho se iguala a perda 0 balan,o e zero, indicando 0 estado de equillbrio hfdrico do organismo necessaria a homeostasia conforme Bustrado a seguir na fig. 4. Desde que no balan<;ozero a ingestao de agua e igual a excregao, 0 13 volume de agua adicionada aos fluidos corporals, quer pela ingestao de liquidos ou alimentos, quer pela quebra metab61ica de lipidios, carboidratos e proteinas e igual ao volume de perdas sensiveis ( via urina., fazes e saliva) e insensfveis (via evapora9ao cutanea e pulmonar) de agua. I, UQ~><l<>t 2. "'quo .••••• ~"""'''' 1. "'+UU~JI'I\(I '.Uri". 1,PN ,., pon.!J".~i.o ,n••",._!1 ~:~::::~:;''' ~.O ••.••~I;<lu><!O' ~J""''''9·n"mo FigA Fatares que mantem 0 equilibrio hidrico Fonte: GREEN, J.H., 1983. KOHN & DiBARTOLA (1992) consideram como perda insensivel a agua contida nas fezes e saliva. Islo porque na pratica clinica veterinaria e impassivel mensurar tais perdas que sao geratmente pequenas em condi90es normais. A necessidade de manutenyao hfdrica e definida como 0 volume de agua necessaria, por dia, para manter 0 animal em balanyo zero. Tal necessidade e determinada por: perdas sensfveis e insensiveis, temperatura e umidade do ambiente, atividade voluntaria ou for9ada do animal, presen9a de doen~as e composi~ao da dieta. A temperatura ambiente elevada associada a baixa umidade de ar, a febre, 0 aumento da taxa metab61ica decorrente das 14 doenc;:as au do stress pelo exercicio levam a urn aumento de perdas evaporativas insensiveis, aumentando a necessidade de manutem;:8.o. (KOHN & DiBARTOLA, 1992) o nitrogenio dietetico e minerais que nao tern utilidade para promover 0 crescimento, a repara9ao tissular e 0 balanc;o zero sao excretados diariamente pera urina. Quanta maior 0 tear de tais solutos, maior a necessidade de ingeslao hidrica para garantir a excre9ao dos mesmos. (DUKE, 1996) 3.1 GANHO DE AGUA 3.1.1 INGESTAODEAGUA o homem, de modo geral, ingere mais liquidos do que 0 minima requerido, par razoes sociais e culturais, sendo tal excesso eliminado pela urina (AIRES, 1991). Ja os animais, ingerem quanti dade rigorosamente necessaria, dependentes da composi,ao e quantidade da dieta empregada. Estudos experimentais most ram que animais com sede nunca bebem mais que a quantidade de agua necessaria para aliviar 0 estado de desidrata<;ao. E nota vel que os animais bebam quase exatamente a quantidade necessaria para tazer a osmolaridade do plasma e seu volume voltarem ao normal (GUYTON,1996). A priva9ao de agua causa a sensa'tao de sede e um comportamento associado de impulso para beber agua, 0 que representa a principal defesa do organismo contra 0 aumento da tonicidade do fluido extracelular. 15 o volume de ingestao de agua aumenta a medida que a agua contida nos alimentos decresce. 0 gato, entretanto, ingere quanti dade insuficiente de agua total quando recebe dieta seca. Tal fato tem side extensivamente investigado como fator predisponente ao desenvolvimento da sfndrome urol6gica felina. (ANDERSON apud DiBARTOLA, 1992). A ingestao de agua tambem e influenciada pelo teor de solutos da dieta. Desde que 2/3 dos solutos renais sao constituidos pela uraia, um produto final do metabolismo proteicQ, urn aumento da quantidade de protefnas na dieta acarreta maior ingestao de agua devido a urn maior teor de solutes renais formados. Ja 0 metabolismo de carboidratos e gorduras produz somente CO, e H20, nao contribuindo desta forma ao aumento dos solutos na urina. Os fons Na+, K+, Ca++, Mg++, tambern contribuem ao aumento de solutos dietarios. Alias porcentagens de sal nos alimentos estao associados ao aumento de ingestao hfdrica em caes e gatos, princlpio este utilizado preventivamente para gatos predispostos ao desenvolvimento da sfndrome urol6gica felina. (DUKE, 1996) 3.1.2 AGUA CONTIDA NOS ALiMENTOS Em geral, os alimentos Ifquidos contem mais de 70% em agua, alimentos pastosos contem entre 20-40% e rac;oes secas menes de 10%. Os gatos podem sob reviver na ausencia de ingestao hldrica, obtendo suas necessidades unicamente atraves da agua centida em alguns alimentos, como 16 o salmao e 0 bacalhau. (PRENTISS apud DiBARTOLA, 1992). 3.1.3 AGUA METABOLlCA Corresponde a agua produzida pela oxidagao de carboidratos, lipidios e proteinas. 0 volume de agua metabolica gerada por dia em humanos (e por deductao em animais) e relativamente pequeno quando comparado ao volume de agua ingerida. Segundo ANDERSON apud DiBARTOLA (1992), representa 10 a 15% da ingestao total de agua em caes e gatos, dependendo da dieta. Ja para os animais que vivem sob condit;:oes aridas, como 0 rato-canguru, constitui 0 mais significativ~ ganho hidrico, podendo const;tuir 100% do seu ingresso de agua (HOUPT, 1996). A agua e farm ada quando ocorre a combusta.o de materiais organicos. Pode-s8 ver sua condensa98.o do lado externo de um frasco colocado sabre urna chama de gas ou 0 seu gotejamento atraves deum cana de exaustao de um carro em uma manha fria. (DUKE, 1996) Conforrne DUKE (1996), a oxidagao de lipidios fomece mais agua de oxidagao que a obtida dos carboidratos, em tome de 1.07 g de agua por grama de lipidio. Consequentemente, duas vezes mais agua e farm ada na oxida9ao de lipidio que na do amido. Sob certes aspectos esse numera e enganoso, pois 0 lipidio fomece mais energia por grama (9,4Kcal contra 4.2 Kcal para 0 amido). Para urna dada taxa metab61ica urn animal utiliza menos da metade da quantidade de lipidio, com uma redug1io correspondente na produgao de agua 17 de oxidaqao. A quantidade de agua de oxidaqao formada, relativa a urna dada taxa metab61ica e, portanto, ligeiramente mais vantajosa para 0 amido que para 0 lipidio, quando S8 relaciona a quantidade de agua farm ada em relayao ao valor energetico do alirnento. (DUKE, 1996) o metabolismo proteico e urn pouco mais complexo, pais a quantidade de agua rnetab61ica depende da natureza do produto filial do metabolismo proteico. No caso da ureia (CH,ON,), tal quantidade sera 0,39 por grarna de proteina, e no casa do aeida urico(CsH403N4) 0 valor e maior. (DiBARTOLA,1992) Tabela 2- Quantidade de agua farmada na oxidayao de varios substratos GENERO AGUA VALOR AGUA ALiMENTiclO FORMADA gH,O ENERGETICO FORMADA gH,O ALiMENTO Kcal Arnido 0.56 4.2 0.13 Lipidio 1.07 9.4 0.11 Prot8fnas 0.39 4.3 0.09 Protefnas (acido 0.50 4.4 0.11 urico) 3.2 PERDAS DE AGUA 18 3.2.1 PERDA OBRIGAT6RIA URINARIA Corresponde a agua necessaria para excretar os solutos renais. A quantidade necessaria de agua para eliminar lais solutos depende, principalmente, da osmolaridade urinaria maxima que pode ser atingida pelo animal, especificadas na tabela 3. Tabela 3- Osmolalidades maximas urinaria (mOsm/kg) ESPECIE MOsm/kg REFERENCIA Gao 2425 Ghew,1965 Gao 2791 Hardy & Osborn, 1979 Gato 3200 Chew,1965 Gato 3420-4980 Thrall & Mikker,1976 Gato 2984 Ross & Finco,1981 Valores obtidos ap6s desidrata9ao resultando em 5% de perda do peso corporal. Fonte: DiBARTOLA,1992. Contudo, quando M disponibilidade de agua ao anirnal, os solutos nao necessitam de urna osmolaridade maxima para serem excretados. Nos caes em repouso e em balan90 hidrico, a osmolaridades varia de 1000 a 2000 rnOsrn/kg. A presen9a de solutos renais e derivada das fontes dieteticas de protefnas e minerais, que incluem a ursia, Na+, K+, Ca++, Mg++. 19 3.2.2 PERDA OBRIGATORIA FECAL Os solutos produzidos pelo metabolismo de alimentos ingeridos e absorvidos nae sao excretados exclusivamente pela urina. Hit uma pequena perda diaria obrigatoria de agua fecal que pode estar elevada caso haja aumento dos solutos fecais, como na adi9ao de Ca++ ou Mg++ na dieta. Como os ions de Ca++ e Mg++ sao pobremente absorvidos pela mucosa intestinal, 0 tear destes solutes nas fazes aumenta. Contudo, na maioria dos caes e gatos sadios, a eXCre/faO fecal e substancialmente methor que a urimlria. (0'CONNOR,1988). 3.2.3 PERDA LIVRE DE AGUA A excre9ao de agua livre, sem solutos, pela urina, e controlada pela estimula9ao ou inibi9ao da secre9ao do hormonio antidiuretico (AD H) e pelo mecanisme da sede. (O'CONNOR, 1988). A perda livre de agua aumenta nas condi90es de hipotonicidade, quando agua, suficiente e ingerida para diluir as solutos corp6reos. Ja durante a deplec;ao de agua, a osmolaridade do organismo aumenta e a secrec;ao de ADH e estimulada. Urn decrescimo de 1 a 2 % na osmolaridade sarica inibe a secregao de AOH e abate a sarie em humanos, e um aumento de 1 a 2 % na osmolaridade sa rica e suficiente para provocar secregao maxima de ADH (ROBERTSON apud DiBARTOLA, 1992). Em dies experimentais, um aumento de 1 a 3 % na osmolandade provoca a ingestao de agua (O'CONNOR, 1988). 20 3.2.4 PERDA POR EVAPORAQAO CUTANEA A perda evaporativa de agua pela pele e minima em eI;es e gatos, pais as glandulas sudorfparas, que tern distribui<;ao limitada aos coxins plantares, nao participam da termorregulaCfaonessas especies. Tal perda e geralmente maior no CaD do que no gato, talvez porque estes ultimos raramente ofegam. Os gatos, quando submetidos ao stress termico, produzem grande quantidade de saliva, espalhando-a sabre a superticie corporal, a lim de obter um relrescamento evaporativo (HOUPT, 1996). Par outro lado, esta perda de agua pela saliva pode aumentar significativamente a nec8ssidade hfdrica (DiBARTOLA, 1992). 3.2.5 PERDA PELA RESPIRAQAO o ar inspirado por urn animal normalmente tern menDS agua do que 0 ar expirado. Isto aconteee porque 0 ar que entra e aquecido e saturado com agua antes da expira,ao. A perda de agua par essa via sob condi,oes moderadas e constante, mas quando urn animal e exposto a urn ambiente quante, a evapora<;8.o de agua do tratc respiratorio aumenta quando 0 volume respiratorio par minuto aumenta (HOUPT, 1996) . o centro respiratorio do cao responde nao apenas ao esHmulo normal, 21 mas tambem a temperatura central do corpo. A integrat;:ao desses impulsos permite ao centro respiratorio responder as necessidade metab61icas pela regula9ao da ventila9ao alveolar e a dissipa9ao do calor pela regula9ao da ventila9ao do espa90 morto. A ventila9ao do espa90 morto e aumentada pelo of ego, que ajuda 0 resfriamento do corpo por evapora9.3o de agua das membranas mucosas dos tecidos envolvidos. A caracteristica do tluxo aereo descrita para 0 otego implica que a mucosa nasal, melhor do que a oral e a lingua, e 0 principal local de evaporagao. Existem duas glfmdulas nasais laterais, uma em cada recesso mandibular, que tem sido estudada para determinar S9 sao responsaveis palo suprimento adicional de agua durante 0 olego. Sugere-se que 0 papel tisiol6gico destas glandulas laterais nasais e ao<ilogo aquele das glandulas sudoriparas dos seres humanos (REECE, 1996). A resposta ao otego e mais pronunciada em caes do que em gatos, numa temperatura ambiental de 40°C e umidade relativa de 32%, as gatos aumentam sua frequencia respiratoria 4,5 vezes, enquanto 0 die aumenta em 12 a 20 vezes. (REECE, 1996) A perda de agua pelo otego em um cao com temperatura basal de 41°C foi 469 mVdia, enquanto num gato sob as mesmas condi90es foi de 41 mVdia. 4 REGULAyAO DO BALANyO DE AGUA A osmolaridade plasmatica (posm) normal e mantida entre 275-290 mOsm/kg , e raramente safre varia90es de apenas 1 % iniciam mecanismos 22 para faze-Ia voltar ao normal (AIRES, 1991). A eapaeidade de reter agua no LEC a eausada pela pressao osmotiea efetiva. 94% da POsm efetiva do LEC a causado pelo Na+ e seus fons associados (bicarbonato e cloreto), e a glicose e a uraia contribuem com 4 a 5% da osmolaridade total (GUYTON, 1996). Como a ursia penetra facilmente a maioria das membranas celulares, exerce pouca pressao osmotica efetiv8. Portanto, os ions Na+ e seus ions associ ados sao os principais determinantes do movimento dos Ifquidos atrav8S das membranas celulares, numa eoneentra,ao media de 142 mEqll. (ROSS, 1990). Tabela 4- Diferen,as entre osmorregula,ao e regula,ao de volume OSMORREGULAt;:AO REGULAt;:AO VOLUMETRICA o que esta sendo Osmolaridade plasmatiea · Volume circulante percebido efetivo Sensores Osmorreceptores · Saio carotideo hipotalamicos · Arteriola aferente · Atrias Efetores Harmonia antidiuretico · Aldosterona (sede) · Sistema nervoso simpatico · Harmonia antidiuretico o que a afetado? Osmolaridade da urina ingestao h20 23 Fonte: ROSE, 1989. 4.1 REGULAyAO DA OSMOLALIDADE Apesar de multiplos mecanismos controlarem a quantidade da excre9ao de sodia e agua pelos rins, tais sistemas primarias estao especificamente implicados na regula,ao da concentra,ao de s6dio e da osmolaridade do LEG: o harmonia antidiuretico (ADH) e 0 mecanismo da sede.Com 0 funcionamento nao-adequado da secrec;ao de ADH e do mecanisme da sede, podem aparecer disturbios levando a hipo ou hipertonicidade do LEG. Na hipertonicidade, a osmolaridade e a concentrayao de s6die plasmaticas S8 elevam, promovendo a passagem de itgua de dentro das celulas rumo ao espa,o extracelular (osmose), resultando em desidrata,ao celular. ROSE & HUMES, apud ROSS (1990) demonstraram que 0 SNG e particularmente senslvel a desidrata,ao celular e a maloria dos sinais cHnicos associ ados a hipematermia sao de origem neurologica, incluindo letargia, fraqueza, depressao, convulsoes,coma e morts. A hiperosmolaridade serica prolongada estimula a produc;ao intracelular de osmoles idiogenicos (como sodia, potassio e aminoacidos) no interior dos neuronios, exercendo efeitos protetores atraves da restaurac;ao destas celulas a um estado isosm6tico ao fluido extracelular hiperosmolar. A hipenatremia resulta do deficit de itgua ou da perda de fluido hipotonico tern como 24 compenS8yao a ganho de s6dio As perdas gastrointestinais pelo vernita e diam§ia sao geralmente isosmoticas, causando contra9ao de volume sem causar anormalidades da POsm e, portanto, da concentrayao serica de Na+. As perdas puras de agua podem ser causadas pelo Diabetes insipidus central au nefrogenico, diurese osm6tica pela glicose OU manito], qualquer condilfao que cause hiperventila9ao, como status epileticus, alta temperatura ambiente, intoxic898,O pelo dinitrofenol, e par doenyas respiratorias queimaduras disfunyao hipotalamica levando a diminuiyao da seda administrayao de fluidos hipertonicos como salina hipertonica, bicarbonato de sadio, enemas com fosfato de sodio hiperaldosteroneismo e hiperadrenocorticismo. (ROSS, 1990). A presen9a de hiponatremia geralmente, mas nao sempre, S8 associa a hiposmolaridade (DiBARTOLA, 1992). A agua tende a mover-se do espa90 extracelular ao intraceluJar, promovendo edema cerebral e as subsequentes sinais clinicos de depressao, letargia, fraqueza, convulsoes e coma. Os sinais clfnicos sao ebservados quando a concentrayao serica de s6die e inferior a 125 mEqll; Reduyoes agudas na concentrayao serica de sadie estao associadas com sinais clinicos mais severos (ROSS, 1990). As causas da hiponatremia estao identificadas na tabela 5: Tabela 5 -Causas de hiponatremia. • Hiperlipidemia OSMOLARIDADE PLASMATICA NORMAL • Hiperproteinemia OSMOLARIDADE PLASMATICA ELEVADA · Hiperglicemia · Infusao de manitol OSMOLARIDADE PLASMATICA REDUZIDA HIPERVOLEMIA · Doen,a hepatica severa · Insufici€mcia Cardfaca congest iva · Sind rome nefr6tica · Insufici€mcia renal avanqada NORMOVOLEMIA · Polidipsia psicogenica · Sindrome da secre,ao inapropriada de ADH · Orogas antidiureticas · Mixedema · Infusao de fluido hipotonico HIPERVOLEMIA · V6rnita · Diarreia · Pancreatite · Peritonite · Urobdomen · Queimaduras 25 26 · Hipoadrenocorticismo · Diureticos · Nefropatia com perda de Sal Fonte. DIBARTOLA, 1992 4.1.1 HORMONIO ANTIDIURETICO (ADH) o ADH e um polipeptideo contendo 9 aminoacidos, ilustrado na figura 5, e sintetizado nos neur6nios magnocelulares dos nucleos supra-optico e paraventriculares do hipotalamo. PHE---GLN I \ TYA ASN VASOPRESSIN 'CYS-S-S- cvl (antidiuretic hormone) / \ (Pilres:;ln' ) NH2 PRO \ L-.t.--AG \ GlY-NH2 Fig. 5 - Estrutura quimica do ADH (Hormonio antidiuretico). Fonte: DiBARTOLA, 1992. 27 Uma vez sintetizado, 0 ADH e transportado ao longo das extens6es ax6nicas dos neur6nios para suas extremidades, terminando na glandula hip6fise. 0 principal estimulo a Iibera9ao de ADH e 0 aumento da osmolaridade do LEG, que em termos praticos significa um aumento da concentracrao plasmatica de sodio. 1550 taz com que as celulas osmoticas do hipotalamo anterior S8 encolham, mandando sinais nervosos para celulas do nucleo supra-optice, que en tao retransmitem os sinais ao lango da haste hipofisaria rumo Ii neurohip6fise. (AIRES ,1991) o ADH entra na corrente sangufnea e interage com receptores na porc;:ao terminal do nefron (predominantemente ducto caletor cortical e medular). 0 ADH atinge 0 tubulo coletor pela membrana basolateral de suas calulas principais, onde se liga a um receptor especifico ai localizado. (AIRES ,1991) o complexo harmonic-receptor ativa a adenilciclase, resultando na gera9ao do AMP ciclico, a partir do ATP. No interior celular 0 AMP ciclico ativa a enzima fosfoquinase que, em presencr8 do calcic e do ATP, fosforila uma protefna que aumenta a perrneabilidade a agua da membrana luminal. (AIRES, 1991) E provavel que esta proteina fosforilada esteja envolvida de algum 28 modo com a forma9ao de microtubulos e microfilamentos intracelulares, dentro das vesiculas citosolicas que contem canais (AIRES, 1991) (Fig. 6). Fig 6 Esquema representativD da 8980 do harmonia antidiuretico Fonte: AIRES, 1991. Outra area neuronal importante controlando a osmolalidade e a secrey8.o de ADH e a regiao antero-vetral do terceiro ventriculo (A V3V). Na parte superior dessa regiao he. uma estrutura den om inada 6rgao subfomical, e na parte inferior, 0 organum vasculosum da lamina terminal. Entre essas duas estruturas asta 0 nueleo pre-aptico mediano, que tern multiplas conex6es nervosas com os 2 6rgaos. Tanto 0 6rgao subfomical quanta 0 organum vasculosum da lamina terminal tern suprimentos vasculares que naD apresentam a tipica barreira hemato-encefalica presente noutras regioes do 29 cerebra. Isso torna passivel que ions e outros solutos cruzem entre 0 sangue e o liquido intersticial nesta regiao. Como resultado, os osmorreceptores respondem rapidamente a altera,5es da osmolalidade do LEG, exercendo um controle poderoso sobre a secre,ao de ADH e sobre a sede (GUYTON, 1996). Alem da hiperosmolalidade, a libera,ao de ADH pode ser eslimulada causando pressao arterial e volume sangufneo entao diminufdos, tal como ocorre durante uma hemorragia. A secre9ao aumentada de ADH causa a reabsor98.0 aumentada de Hquidos pelos rins, ajudando a restaurar a pressao sanguinea e 0 volume sanguineo em dire,ao a normalidade. (DiBARTOLA, 1992) A secrelfao de ADH tambarn pode estar aumentada au diminuida para oulros estlmulos, incluindo nausea, stress emocional e drogas, como ilustrado pela figura 7. (DiBARTOLA, 1992) A libera,ao inapropriada de ADH e denominada sindrome da secregao inapropriada do hormonio antidiuretico ou SIADH. (DiBARTOLA, 1992) A SIADH esta associada a uma variedade de causas em humanos. Resulta mais comumente da produ9ao ectopica de ADH par tumores, especial mente carcinomas pulmonares. Qutras causas incluem desordens neurol6gicas, como neoplasia cerebral, meningite, encefalite, trombose, hemorragia subdural ou subaracn6idea, traumatismo craniano; complica<f6es 30 pos-operatorios; doen9as pulmonares; drogas, inciuindo clorpropramida, barbituricos, vincristina, ciciofosfamida e isoproterenol. (DiBARTOLA, 1992) ----- ~_7-'- ---'-'- Fig 7 Efeito das drogas e eletrolitos na Iibera9ao de ADH. Fonte: DiBARTOLA, 1992. 4.1.2 MECANISMO DA SEDE A ingestao de liquidos e regulada pelo mecanismo da sede, que juntamente com 0 ADH mantem 0 controle da osmolaridade do LEG e da concentra~ao de sodio. (AIRES, 1991). A sede, acoplada a habilidade fisica de obter agua, e a principal defesa do organismo contra a hipertonicidade do LEC. Na presen9a de um mecanisme normal de sede e de livre acesso a agua, a osmolaridade 31 plasmatica pode ser mantida em nlveis pr6ximos ao normal, mesmo nos defeitos de liberagao do ADH e/au capacidade de concentra<;ao urinaria, como no caso do Diabetes insipidus. (AIRES, 1991). Mais objetivamente. a seda e causada por uma secura na garganta e na boca, em consequencia da diminui,ao da secre,aosalivar (HOUPT, 1996). Enquanto 0 cortex cerebral pode influenciar 0 comportamento de beber, areas hipotalamicas especificas sao criticas na regula9ao da ingestao de agua (AIRES, 1991). o maior estimulo a sede e 0 aumento da tonicidade do LEG, que causa desidrata,ao celular nos centros da sede. ANDERSON e McCANN apud McCANN (1997) mostraram que microinje,oes de salina hipertonica dentro do hipotalamo de bovinos induzia a ingestao de liquidos. A estimula,ao eletrica nesta mesma regiao tambsm resulla em polidipsia, bern como a eje<;ao de leite atraves da Iibera9ao de ocitocina via libera98.0 de ADH. A ingestao hid rica resultante da hipertonicidade ajuda a diluir as Ifquidos extracelulares e devolve a osmolalidade a nlveis normais. Redw;:6es isot6nicas do LEC sao capazes de estimular a sede, bem como as diminui90es do volume do LEe e da pressao arterial. Acredita-se que esses estimulos sejam deflagrados por barorreceptores arteria is e/ou toracicos, que participam do controle da sede quando ocorrem altera90es do debito cardfaco. Alem desses estfmulos osm6ticos e hemodinamicos, em uma variedade de animais a angiotensina II e capaz de causar aumento na ingestao de agua. Entretanto, 0 modo exato da a,ao desta na regiao hipotalamica nao esta claro. Acredita-se que os compostos que nao podem ultrapassar a barreira hemato-encefalica estimulam receptores nas estruturas 32 periventriculares altarnente vascularizadas que estao expostas tanto it circula<;ao cerebral quanta ao liquido cerebroespinhal, como 0 6r9ao subfomical. A questao sabre como a angiotensin a oriunda do sangue influencia a atividade hipotalamica complica-se pela presen~a de urn complexo isorrenina-angiotensina [ocaJizado denlro do tecido cerebral. (HOUPT, 1996). Como a secura da boca e das membranas mucosas do esofago pod em provocar a sensayao de sede, pode-s8 obter alivio quase imediato ap6s beber agua, au simplesmente molhar a boca, mesma apesar de a agua naD ter side absorvida pelo Irata digestiv~ e ainda naD ter tido eteita sabre a osmolaridade do LEG. Em anima is que tern uma abertura esofagiana para 0 exterior ocorre alivio parcial da sede depois que 0 animal bebe, apesar deste alivio ser apenas temporario, pOis a agua nunca e absorvida. Ap6s 20 minutos, aproximadamente, a inibi~ao do ato de beber desaparece (GUYTON, 1996). o trato gastrointestinal participa da manuten9ao do equilibrio hidrico atraves da acomoda<;ao e esvaziamento das soluc;:6es ingeridas, bem como da capacidade absorvida da mucosa intestinal. (BACARAT, 1997). A atividade motora do est6mago e controlada pelas celulas musculares lisas que estao sob influencia de fibras nervosas e hormonios. Estes hormonios sao liberados em resposta a presen<;a de conteudo gastrico e funcionam em concordancia aos estfmulos vagais e hipotalamicos. Oeste modo, 0 esvaziamento gastrico pode ser modulado pela estimula<;ao nervosa central. a mecanisme da sede, agindo at raves de mecanismos de controle 33 central, pode influenciar a motilidade gastrica e, conseqOentemente, 0 esvaz;amento gaslrieD pela ativac;ao de conex6es neuro-humorais entre hipotalamo e estomago. Contudo, na hidropenia isolada desconhece-se a influ,mcia hipotalamica sobre tal esvaziamento (BACARAT, 1997). Relaciona altera,oes do espa,o extracelular e motilidade gastrointestinal, observando em seus 8xperimentos acelerac;ao do esvaziamento gaSlrieD na hipovolemia e retardo do esvaziamento na expansao de volume. (BACARAT, 1997). Tais modelos de desidratayao animal sao obtidos mantendo-os em temperatura elevada, com consequente parda de eletr6litos palo suor au pela saliva. Essas observac;:6es indicam que modifica90es agudas no volume extracelular pod em modular a contratibilidade do trata gastrointestinal. Entretanto, BACARAT (1997) utilizando modelos de desidrata9ao animal por priva,ao de agua durante 72 horas, em altera,oes significativas do conteudo eletrolitico corporal, observou uma maior retenc;:ao gastrica de agua e soluc;:oes rehidratantes. Tal observa<;ao indica que os mecanismos pelos quais os receptores da mucosa duodenal modificam a motilidade gastrica estao alterados durante desidrata,ao por priva,ao hfdrica. (BACARAT, 1997). 4.2 REGULA<;;AoDO VOLUME A manutenc;:ao do volume plasmatico normal e essencial para a perfusao adequada dos tecidos e estao diretamente associados a regula<;ao do 34 equilibrio do s6die. A alterayao de volume e 0 sinal que permite variar a excreyao urinaria de sadie de acordo com as flutuay6es de sua ingestao (REECE, 1996). as principais sensores da altera9.3o de volume sao receptores de pressao localizados na arteriola aferente do glomerulo, nos atrios do corayao, nos seios caroHdeos e no areo a6rtico. Embora ales sejam classificados como receptores de pressao, acredita-se que possam sar responsaveis ao estiramento, uma situa9ao mais apropriada a expansao ou contrayao de volume. (SEELER, 1996). Os receptores de volume no rim estao localizados nas celulas justaglomerulares da arteriola aferente e nas celulas da macula densa do tubulo distal. Na hipoperfusiio, estes receptores aumentam a atividade do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Os receptores localizados fora do rim estao relacionados com a atividade do sistema nervoso simpatico. 0 peptideo natriuretico atrial, ADH e sede. (SEELER, 1996). 5 CRITERIOS PARA 0 ESTABELECIMENTO DA FLUIDOTERAPIA 5.1 INDICA<;OES A fluidoterapia, por ser um tratamento de suporte, jamais devera substituir 0 esforyo do clfnico em estabelecer 0 diagnostico da causa prima ria 35 do disturbio hidroeletrolftico e acido-basico do paciente. Os mecanismos homeostaticos norma is permitem ao clinico uma ampla margem de erro durante a fluidoterapia. Tal fato e benefico, vista que a estimativa do deficit hfdrico e diffcil e muitas vezes imprecisa, A indical1ao da fluidoterapia depende do estado de hidrata<;aodo animal. (SEELER, 1996). Para as pacientes cirurgicos, a fluidoterapia visa manter uma via de acesso venoso para emergencias e administra98.0 de medicamentos. Tambem visa manter a perfusao renal durante a anestesia e cirurgia, garantindo a volemia e oxigenay8.o tecidual, repondo perdas agudas de fluidos causadas pelo jejum ou pelo procedimento cirurgico que afeta a estabilidade cardiovascular do organismo (SEELER, 1996). A desidrata<;aorefere-se Ii perda pura de agua. Contudo, a maioria dos disturbios clfnicos descritos como desidratalfao tambem envolvem perdas combinadas de agua e eletr61itos, pais muitos cllnicos confundem desidrata9ao com hipovolemia (MICHELL, 1994). Na maioria das doe netas, a perda de agua e solutos ocorre a partir do LEC sob tres tipos basicos : • Perda maior de soluto do que de agua, levando a uma desidratayao hipotonica. A osmolaridade do LEC decresce em rela9ao ao LlC, e a passagem de agua para 0 LlC (Ievando a uma super-hidrata<;ao celular) dilui os solutos neste compartimento, ate que a osmolaridade entre LEC e LlC se igualem novamente. Este 36 deslocamento homeostatico diminui 0 volume do LEC e uma tendencia ao cheque; • Perda isotonica, levan do a uma desidratac;ao isotonica. Nao ha tracas entre as compartimentos, pais nao leva a alterac;oes de osmolaridade entre ambos. Porem, resulta num decrescimo do volume do LEG, paden do acarretar, conforme a magnitude, hipovolemia e cheque hipovolemico. • Perda maior de agua do que de soluto, levando a uma desidratac;ao hipertonica. 0 plasma e hiperosmolar e hipernatremicQ, levando celulas a ceder intracelular ao LEG. Na tentativa de restabelecer a isosmolalidade. ISlo produz desidratayao intracelular, que ten de a minimizar reduc;6esno volume do LEG. Tabela 6- Tipos de desidratac;ao LEC LlC HIPERTONICA Perda purade H2O + + Perda de fluido + + hipot6nico ISOTONICA N N N Perda de fluido - + hipertonico Perda de fluido isotonico + 37 Fonte: Muir, DiBARTOLA, 1992. 5.2 HISTORIA As informaC{oes obtidas sabre a via de elimina<;B.o do fluido podem sugerir 0 transtorno eletrolitico e acido-basico do paciente, bern como 0 periodo pelo qual se estabelece a perda de liquidos e a estimativa de sua magnitude. lnformac;oes sabre a consumo de agua e com ida, perdas gastrointestinais (vornita e diarreia), perda urinaria (poliuria), perda traumatica (hemorragia, queimaduras), exercfcios reeantes, perdas insensfveis (como pelo aumento do of ego e da temperatura) e usa de diureticos devem tambem ser determinadas pela historia. Alem disso, as suspeitas clinicas podem auxiliar no diagnostico da composi9ao da perda de liquido. No vemita pela obstrug1io pilorica, por exemplo, ha perda de W, CI-, K+ e Na+ com desenvolvimento de alcalose metabolica. Ja na diarraia do intestino delgado, ha perdas de HC03, K+ e Na+, que levam a acidose metabolica (DiBARTOLA, 1992). 5.3 EXAME FisICO Para determinar quando e necessaria a terapia hidreeletrolftica, e precise recenhecer os varios sinais clfnicos que anunciam estas necessidades. Uma falta de agua para com que aumentem a osmelaridade e a cencentrac;:ao 38 sangufnea de s6dio, e a urina ficara altamente concentrada S9 as rins estiverem funcionais, 0 animal ficara com secta, pode haver oliguria, colapso circulatorio, mucosas ressecadas, falta de elasticidade cutanea, constipayao, parda de peso e olhos fundos. A agua em excesso provocara 0 inverso, au saja, a osmolaridade diminui, a urina fica dilufda e ha poliuria. Sa fcram administrado$ liquidos apesar destes primeiros sinais, pode·se desenvolver hipertensao intracraniana, causando confusao mental. (GROSS, 1992). Pode desenvolver-se edema pulmonar, assim como nauseas, v6mitos, fraqueza generalizada. 0 animal pade, por tim, ter convuls6es e em seguida coma e morte (GROSS, 1992). Os achados ffsicos associ ados a parda de 5 a 15% de fluidos variam desde mudangas clinicas nao-detectaveis (5%) a sinais de choque hipovolemico e morte iminente (15%).(FINCO; DiBARTOLA, 1992). o clinico pode estimar 0 deficit de hidratagao atraves da avaliagao do torpor au elasticidade cutanea, umidade das membranas mucosas, posigao dos olhos em suas orbitas, frequElncia cardfaca, pulsa96es perifericas, tempo de refluxo capilar, e extengao da distensao venosa periferica (por exemplo: pela inspegao das veias jugulares). Um decrescimo no volume dos compartimentos intersticiais leva a urn decrescimo da elasticidade cutanea e secura das membranas mucosas. Urn decrescimo no volume plasmatico leva a taquicardia, alterac;:ao do pulsa periferico e colapso das veias perifericas. (FINCO; DiBARTOLA, 1992). 39 Tabela 7 Achados ffsicos na desidrataC;:8o % DE DESIDRATA9AO SINAIS CLINICOS <5 Nao detectavel 5-6 Pequena parda da elasticidade da pele 6-8 · Altera,ao na elasticidade da pele · Discreto aumento no tempo de refluxo capilar · Olhos podem estar afundados nas 6rbitas · Membranas mucosas podem estar secas 10-12 · Pele inelastica · Tempo de refluxo capilar aumentado · Afundamento de olhos · Membranas mucosas secas · Sinais de choque 12-15 · Sinais definitivos de choque · Morte iminente Fonte. DIBARTOLA, 1992. A elasticidade da pele depende da quantidade de gordura subcutanea e elastina, bern como do volume intersticial. A avaliac;:ao da desidrata98.0 at raves da elasticidade cutanea depende do torpor da mesma antes da instaia,ao da 40 desidrata,ao, da posi,ao do animal (em decubito ou em esta,ao), do local utilizado para a avalia,ao e da quantidade de gordura subcutanea (HARDY & OSBORNE; DiBARTOLA, 1992). A elasticidade da pele deve ser testada na regiao lombar com 0 cao em esta9ao. 0 excesso de gordura subcutanea nos animais abesos pode dar a falsa impressao de hidrata,ao. (FINGO; DiBARTOLA, 1992). Por outro lacto, animais emaciados e velhos. podem pareeer mais desidratados do que realmente sao, devido a falta de gordura subcutanea e elastina. A falsa impressao de desidrata<;ao tambem pode acorrer no otego persistente, que pode tornar as membranas mucosas orais secas. (FINGO; DiBARTOLA, 1992). Sinais de choque hipovolemico aparecem quando 0 grau de desidrata,ao torna-se severo (12 a 15% do peso corporal) ou quando ocorre perda aguda e severa de Ifquido extracelular. Tais sinais incluem fadiga, extremidades frias, taquicardia, pulsa rapido e aumento do tempo de refluxo capilar. (FINGO; DiBARTOLA, 1992). A bexiga urinaria pode estar diminufda de tamanho em animais desidratados com fun9ao renal normal. Quando aumentada, nurn animal severamente desidratado, indica insuficiencia dos mecanismos normais de concentra,ao urimiria. (FINGO; DiBARTOLA, 1992). Um dos melhores indicadores do estado de hidrata,ao, especialmente quando a perda de fluidos e aguda e a informa,ao sobre 0 peso do animal. Perda de 1 kg de peso corporeo indica urn deficit hidrico correspondente a 1 litro. Infelizmente, quando 0 animal e apresentado pela primeira vez a um 41 clinica, a perda de peso advinda de doenl1as cronicas levam a perda de massa muscular e de fluidos .Um animal anorexico pode perder 0.1 a 0.3 kg de peso corp6reo por dia por 1000 kcal de requerimento energetico (FINCO; DiBARTOLA,1992). 5.4 ACHADOS LABORATORIAIS o hemat6crito (HT), a concentra,ao de proteinas plasmaticas totais (PPT) e a densidade urinaria sao exames laboratoriais simples que auxiliam na avaliagao da desidratayao. Os valores de tais exames deverao ser obtidos antes do infcio da fluidoterapia. 0 HT e as PPT deverao ser avaliados conjuntamente para minimizar erros de interpreta,ao (Tabela 8). Exceto na hemorragia, 0 HT e as PPT tem seus valores aumentados em todos os tipos de perdas hfdricas, enquanto a concentra9ao serica de s6dio aumenta diminui au permanece a mesma dependendo do tipo de desidrata,ao (hipotonica, hipertonica ou isotonica). (CHEW, 1994). Tabela 8 - Interpreta,ao do hemat6crito (HT) e concentra,ao de proteinas plasmaticas totais HT(%) PPT (g/dl) INTERPRETAvAO Aumentado Aumentado . Desidratayao Aumentado Normal! Diminuido . Contrayao esplenica 42 · Policitemia · Desidrata<;iio com hipoproteinemia Normal Aumentado · Hidrata<;iio normal ou hiperproteinemia Diminuido Aumentado · Anemia com desidratac;ao · Anemia com hipoproteinemia Diminufdo Normal · Anemia nao hemomigica com hidrata<;iionormal Normal Normal · Hidrata<;iionormal · Desidratar;8.0 com anemia e hipoproteinemia · Hemorragia aguda Diminufdo Diminufdo · Perda sangufnea · Anemia ou hipoproteinemia · Superhidrata<;iio Fonte: DiBARTOLA 1992. A obtenc;:aodo valor da densidade urinaria, atraves da urinalise, antes da fluidoterapia, e util na avalia<;iio preliminar da fun<;iio renal. A densidade urinaria tendera a ser alta em uma CaD ou gato desidratado com funqao renal normal, mas nao quando submetidos a administra<;iio previa de 43 corticoster6ides e furosemida. A densidade baixa (>1030) em urn animal desidratado pode acusar os rins como fator etiol6gico au contribuinte a desidrata,iio (CHEW, 1994). A avaliac;ao de eletr61it05 sericos at raves da bioqufmica serica auxilia a caracterizar a natureza do fluido que esta sendo perdido. Contudo, e possivel que animais severamente desidratados apresentem valores normais nos testes bioqufmicos sericos. Do mesma modo, as achados do HI e PPT pod em estar normais na presen,a da desidrata,iio (CHEW, 1994). as valores anormais dos gases sangufneos podem aparecer nos animais desidratados devido a perda ou ganho de certos fluidos corporeos, a atividade do processo patol6gico em 5i ou a perfusao diminufdade sistemas organicos. (CHEW, 1994). 6 COMPOSI<;:AODAS SOLU<;:OES PARENTERAIS 6.1 - SOLU<;:OESCRISTALOIDES Conforme KIRBY e RUDLOFF (1997), cristal6ides sao solu,oes aquosas com pequenas partfculas osmoticamente ativas nos fluidos corp6reos 8 perrn8aV8is nas membranas capilares, tais como a soluc;:ao salina, Ringer lactato, salina hipertonica e glicose 5%. Se sua composic;:ao eletrolitica aproxima-se aquela do fluido extraceiular, a solu,iio e referida como balanceada. 44 A capacidade de um fluido administrado em mobilizar agua at raves da membrana celular depende da osmolaridade deste em rela~ao a osmolaridade intracelular, como 0 fon s6dio responde pela osmolaridade do LEG, 0 movimento dos cristal6ides entre os compartimentos intravascular, intersticial e intracelular e determinado pela relayao entre 0 conteudo de s6dio presente nas solu<;6es e nestes compartimentos. (KIRBY; RUDLOFF,1997), A tonicidade da solw;:ao e definida como a osmolaridade da mesma em relac;:aoao fluido intracelular. As prepara90es comerciais estao disponfveis como soluc;:oesestereis nao pirog€micas isotonicas, hipotonicas e hipertonicas, esquematizadas na tabela 10. (SELLER, 1996). A escolha da SOIU<;80 a ser administrada depende da natureza do processo patol6gico e da composiy8.o do Ifquido perdido. 0 clfnico devera considerar a reposi9ao das perdas com uma soluc;:8.o que seja similar no volume e na composi,80 eletrolitica que foi perdida pelo organismo. (SELLER, 1996). SOLUC;;OES CRISTALOIDES Tabela 9 Solu<;6es cristal6ides. SOLUC;:AO SODIO POTASSIO CALCIO OSMOLARIDADE PH Isotonica Riger lactato 130 4 2.7 173 6.7 Plasma-ly1e A 140 5 294 7.4 45 Normosol R 140 5 295 7.4 Salina fisiol6gica 154 308 5.7 Glicose (2,5%) 77 280 4.5 em salina 0,45% Hipotonica Glicose 5% em 253 5 agua Hipertonica Normosol-M em 40 13 368 5.2 glicose 5% Salina 7,5% 1232 2464 Fonte. RUDLOFF & KIRB, 1997. Alem desta classifica9ao, as soJu90es cristal6ides podem ser divididas em do is grupos: ./ As soluyoes de manutenyao ./ Solu~6es de reposi~ao As 50lu908S de manutenyao sao polieletroHticas, hipotonicas. diferindo grande mente do plasma. Conforme DiBARTOLA (1992), a quantidade de agua necessaria para a manutenc;:ao diaria do organismo na maioria das especies domesticas varia de 40 a 60 mllkg/dia. As perdas diarias de agua incluem as perdas insensfveis e sensfveis. 46 A perda diaria de sodio em pequenos animais varia de 35 a 50mmol/l (ou 35 a 50 mEqll), enquanto a perda diaria de Potassio varia de 20 a 30 mmol/l (ou 20 a 30 mEqll). SELLER (1996) afirma que as solU90es de manuten980 tem 0 proposito de satisfazer tais necessidades hidroeletrolitica nos pacientes incapazes de obte~lasem quantidades suficientes para superar suas perdas diarias, sao administradas par um perfodo de 24 haras, nao devendo sar utilizadas em situayoes cnde urna grande quantidade deve ser administrada rapidamente. IS50 poderia resullar em anormalidades eletroliticas significativas no LEe do paciente causada pela composiyao eletrolftica das soluyoes de manutenyao. As soluyoes de manutengao contem baixas concentra90es de sodio (40 a 60 mEq/L) e ctoreto, e altas concentra90es de Potassio (15 a 30 mEqlL) quando comparadas ao fluido extracelular. Caso as concentra90es de Potassio sejam menores que 20 mmoVI(20 mEqll), a solu980 pode ser suplementada com doreto de Potassio para atingir tal valor. Segundo DiBARTOLA (1992), uma simples solu980 de manuten980 pode ser formulada misturando-se urna parte de NaG] 0,9% com duas partes de glicose a 5%, adicionando-se 20 mEq/1de KCI por litro de solu9ao final. A composi9ao final de tal solU9ao devera ser 51 mEq/1de s6dio, 20 mEq/1de Potassio,71 mEqll de cloreto e 16,7 mEq/1 de glicose. As solU90esde reposi9aOSaoformuladas para os deficits especificos de eletr6litos. Aditivos lais como 0 cloreto de Potassio, cloreto de Calcio ou bicarbonato de s6dio, sao conseqGentemente adicionados a estas solu«oes, de acordo com 0 processo patol6gico e os achados laboratoriais. A composi«ao das solu«oes eletrolfticas balanceadas, tais como 0 Ringer lactato, 47 assemelham-se aquela do LEC. Estas solu~6es podem ser administradas rapidamente, em grandes quantidades, a fim de re-expandir 0 volume do LEC sem modificar sua composi<;ao eletrolftic8. Por serem isotonicas, naD causam des vias entre as compartimentas intra e extracelular, mas equilibram-se rapidamente atraves do compartimento intravascular e intersticial. Como resultado, samente 25% do volume administrado permanece dentro do espa<;o intravascular. IS50 deve sar levado em conta quando S8 utiliza soluyoes de reposi9ao com a intuito de suprir as perdas intravasculares, pais seria necessaria urn volume pelo menDS tres vezes major do que 0 volume da perda sanguinea para repor 0 deficit vascular (SEELER, 1996). Muitos cHnicos utilizam as solu<;6es de reposic;ao no Jugar das soluy6es de manutenc;:ao. Neste casa, a funyao renal normal garante que 0 excesso de eletr61itossejam eliminados. 0 usa prolongado de uma soluyao de reposi9ao a urn paciente necessitando de urna solu9ao de rnanuten9ao pode resultar em hipocalemia. Neste caso, as solU90es de reposi9ao deverao ser acrescidas com Cloreto de Potassio de modo que a concentra9ao final deste eletr6lito seja 20 mEqll. (SELLER, 1996). A corre9ao da maioria dos problemas hidroeletrolfticos na rotina clinica pode ser feila pela manuten9ao de urn estoque de solu90es incluindo Ringer lactate, solu~ao de clereto de sodio a 0.90/0 e dextrose 5% em agua. (SELLER, 1996). 48 6.1.1 SOLu<;:Ao DE RINGER LAGTATO A solu,ao de Ringer lactato e a mais utilizada, pode ser uma solu,ao "fisioI6gica", isosm6tica e isotonica, similar a composi9a.o plasmatica do animal (com exc6,ao das protelnas). Esta solu,8.o S a de escolha na aus€mcia de dados laboratoriais, ate que informa90es sobre 0 estado eletrolitico, acido-basico e osmolaridade estejam disponiveis. A soluyi3.o de Ringer lactato ou acetato fomece reposi,ao de bases, pois 0 lactato (ou acetato) s rapidamente metabolizado a bicarbonato . (SELLER, 1996). 6.1.2. SOLu<;:Ao SALINA A solu,ao salina isotonica a 0.9010 contsm 154 mmoVI (154 mEq/l) de ions sodio e cloreto e tern uma osmolaridade de 308 mOsm/1. Apesar de ser referida como soluyao fisiologica, apenas a concentra9ao dos Ions sadio iguala-se a do LEG (SELLER, 1996). Eo utilizada para a n;pida expansao do volume do LEG, bern como para a corre,ao da hiponatremia e alcalose metabolica. Similar a outros cristaloides, sua administra9ao intravenosa leva a uma rapida distribui9ao nos espa9Ds extracelulares. Contudo, sua composi9ao nao corresponde a do LEe, e seu usa excessive com 0 prop6sito de repOS;98,O pode resultar em dilui9ao necessaria de outros eletrolitos e tampoes extracelulares. (KRISTENSEN; DiBARTOLA,1992 49 As preparact6es comerciais de salina a 0.45% sao hipotonicas (osmolaridade de 154 mOsm/l). Podem ser utilizadas como solu<;oes de manuten<;ao,particulanmentequando suplementadas com glicose e cloreto de Potassio. Quando a glicose a 2.5% e adicionada a salina 0.45% a soluyao resultante toma-S8 isotonica, e a agua livre resultante do metabolismo da glicose distribui-se atraves de todos compartimentos. (KRISTENSEN; DiBARTOLA, 1992 As solu<;6eshipertonicas segundo KIRBY e RUDLOFF (1997), contem mais partlculas osmoticamente ativas por unidade de volume ou peso do que o fluido intracelular. As solu<;6es salinas hipertonicas a 75% possuem 2400 mOsm/1 e, embora naD disponfveis comercialmente, podem ser preparadas em clinicas e hospitais. Este preparo requer 75g de cloreto de s6dio puro para analise (PM 58,44). Adiciona-se agua destilada ate completar 1 litro, criandoassim uma solu((ao a 7,5%. Fraciona-se em frascos pequenos e esteriliza-se em autoclave conforme os procedimentos padr6es. De acordo com DiBARTOLA (1992), as indica<;oesde seu usa incluem os mais variados tipos de cheque (lais como 0 hemorrtlgico, traumatico e endotoxico). al8m de queimaduras. pancreatite aguda e valvulo intestinal. o choque significa inadequada oxigena<;ao tecidual resultante da perlusao deficiente. A perlusao e resultado do debito cardiaco, volume intravascular e tono vascular. Os achados do exame ffsico que refletem 0 grau de periusao incluem a freqlu3ncia cardfaca, intensidade e freqlu3ncia das pulsa<;oes, tempo de refluxo capilar, temperatura fetal, temperatura nas 50 extremidades da pele e estado mental (KIRBY e RUDLOFF, 1997). Quando ha uma diminui'tao significativa no volume intravascular, no debito cardfaco eu tonus vascular, a tensao na parede dos vasos decresc8. Os barorreceptores fornecem impulsos neuronais aferentes que coordenam urn aumento no refluxo neuronal eferente simpatico periferico e central e suprime a descarga t6nica vagal normal, levando a vasoconstrigao e aumento da frequencia e contratilidade cardraca. (KRISTENSEN; DiBARTOLA, 1992 Nos 85t8.9i05 iniciais de cheque no eao, a circulac;ao pode parseer hiperdinamica, evidenciada clinicamente por pulsa rapido, mucosas vermelho- brilhantes, tempo de refluxo capilar diminufdo. Contudo, a estimula<;ao simpa.tica compensa 0 deficit de volume intravascular com urn grande consume de energia e oxigemio. A medida que 0 volume ou 0 tono intravascular declina e 0 tono simpatico mediado pelos barorreceptores aumenta, Qcorre 0 choque descompensatorio. Clinicamente observa-se taquicardia, extremidades frias, pulsagoes perifericas fracas, membranas mucosas palidas, temperatura fetal baixa e tempo de refluxo capilar aumentado. A hipotensao presente pode levar a multiplas disfun90es orgfmicas. A administra9ao de 4 a 6 ml/kg de salina a 7.5% resulta em rapida restauragao dos parametres hemodinamicos com consequentemente melhora na perfusao tecidual (GARVEY eta ai, apud por SELLER., 1996). Apos administra9ao intravenosa de salina hipertonica (a 3.00/0,7.0010ou 7.5%), a agua move-se do espaC{o intersticial para dentro do compartimento intravascular. 0 aumento resultante na concentrac;:ao de s6dio intersticial, por sua vez, aumenta a tonicidade intersticial e permite 0 movimento de agua do espa90 intracelular para 0 intersHcio. Como resultado, 0 volume plasmatico e 51 expandido e a hemodinamica, consequentemente, e melhorada. Isto S8 traduz por urn melhor debito cardiaco e pressao sangufnea aortica, melhor resistencia vascular periferica, urn aumento no volume plasmatico com hemodHui«ao e aumento no volume do fluido intersticial, bern como efeitos inotr6picos diretos no corac;ao. Contudo, todos estes efeitos hemad ina micas sao transitorios, durando ate 2 haras no CaD e apenas 15 a 20 minutos nos gatos (MUIR e SALLY; SILVA et at. apud DiBARTOLA, 1992), ou mais. ROCHA e SILVA apud SELLER, 1996, observaram tais efeitos para 180 minutos nos gatos. A adi,ao de solu,oes col6ides (6% Dextran 70) pode prolongar e intensificar seus efeitos (KRISTENSEN; DiBARTOLA, 1992). Quando utilizadas numa concentra«ao maior que 15% causam hem61ise no cao. Alem de restaurar 0 volume plasmaticQ, a salina hipertonica diminui a severidade do edema tissular e promove a diurese. (KRISTENSEN; DiBARTOLA,1992 Para otimizar 0$ efeit05 beneficos da salina hipertonica, reeomenda-se sua administra<;ao intravenosa. Isso garante .que a eoncentra<;ao maxima da solu,ao passe atraves da circula9ao pulmonar (SCHERTEL; DiBARTOLA, 1992). a sodio, administrado nas solu<;oes hipertonicas, pode estimular osmorreeeptores e quimiorreeeptores pulmonares e ativar um reflexo vagal pulmonar. Subsequentemente, pode haver uma ativac;ao das vias simpatieas levando a vasoeonstric;ao dos vasos de eapacitaneia, 0 que gera um aumento da pressao atrial dire ita e vasoeonstri<;ao dos eapilares eutaneos e museu lares. Com esta vasoeonstri<;ao oeorre uma redistribuit;(ao do volume 52 sanguineo dentro do espago vascular. Conforme MUIR, KIEN et aI., e KRAMER et al. apud SEELER (1996), tais mecanismos ainda precisam ser mais bem esclarecidos. Segundo HANDS et al.; DiBARTOLA (1992), estudos histol6gicos nao demonstraram les6es da parede vascular no local da infusao. Se administrada rapidamente, numa velocidade maior que 1 mllkglmin, produz hipotensao, bradicardia, broncoconstrigao e taquipneia (SCHERTEL; DiBARTOLA, 1992). Recomenda-se, portanto, a administragao lenta. A hipenatremia au hiperosmolaridade constatada antes da administragao da solu9ao hipertonica constitui urna das principais contra-indica90es ao seu uso. A desidratagao pode estar acompanhada por hipernatremia e hiperosmolaridade. 0 que tambem contra-indica 0 usa da salina hipertonica. Em animais com hemorragia, a solw;:ao salina pode causar hipocalemia (NAKAYAMA, et al.;DiBARTOLA, 1992). A diminuigao serica da concentragao de Potassio e de aproximadamente 1-2mEq/1 ap6s a dosagem padrao (4-5 ml/kg) de NaCI 7.0%. Observa90es mais reeentes sugerem que a hipocalemia nao e tao seria quanto aquela decorrente da terapia agressiva com salina a 0.9% (TOBIAS e DiBARTOLA, 1992). Apesar disso, como a hipocalemia leva a complicagoes cardiovasculares graves, sugere-s8 a avalia98,O serica do Potassio antes e depois da fluidoterapia hipertonica. Se a hipocalemia for pre-existente, contraindica-se 0 usa da salina hipertonica e indica-se uma terapia de reposi9ao mais agressiva com Potassio. A salina hipertonica tambem nao e indicada a pacientes com hemorragia incontrolavel. Em pacientes traumatizados, qualquer solu'tao que aumenta rapidamente 0 debito cardiaco 53 e a pressao arterial, incluindo a salina hipertonica, tern 0 potencial de causar recidiva da hemorragia pela quebra de coagulos formados no local da injuria vascular. REED et al. apud DiBARTOLA (1992) constatou, atraves de estudos in vitro, que dilui90es seriadas do plasma com salina hipertonica levarn a deterioriza,ao da coagula,ao e agrega,ao plaquetaria. Apesar disso, nao ha relatos de coagulopatias decorrente do usa da solu,ao hiper\onica na dosagem padrao. 6.1.3 SOLU<;;OESDE GLiCOSE As solu90es de glicose estao comercialmente disponfveis numa ampla faixa de concentray8.o, que varia de 2.5 a 50%. A gJicose 5% em agua contem 50 gramas de glicose monohidratada por litre de agua e exerce uma osmolaridade de 252 mOsm/1. (SEELER, 1996; SENIIOR, 1992). Sua administrac;:ao e equivalente a administrac;ao de agua, pais a glicose e oxidada a CO2 e H20 (DiBARTOLA, 1992) pelos mecanismos hormonais do paciente que visam manter a normoglicemia (SCHAER, 19a9). Estima-se que a oxida,ao de cada grama de glicose forne,a 0.6 ml de agua. Portanto, seu usa visa fomecer agua, para aliviar a desidratac;:ao caracterizada por perda de agua quase pura (desidrata<;:8.o hipematremica), VaG sendo efetivas como expansores de volume plasmatico. As solw):6es de glicose a 5% contem 171 calorias por litro, quantidade esta incapaz de S4 fornecer as requerimentos energeticos das especies domesticas (SEELER, 1996). Para tal, ulilizam-se as solu.;oes hipert6nicas de glicose. 0 pH da 501u95,0 de glicose a 5% e melhor que 5,0 que ajuda a minimizar a degrada~ao durante a esteriliza9ao. Isto explica 0 risco ao desenvolvimento de tromboflebite decorrente das solu,oes a base de glicose (SCHAER, 1989). De acordo com REMILLARD & THATCHER citados por SEELER (1996), cuidados especiais devem ser tornados casa a administra<;:ao seja na veia cava cranial ou caudal. A velocidade de administra9ao dave sar cuidadosamente regulada de modo a naG exceder 0 transporte tubular maximo, 0que resultaria em diurese osm6tica induzida pela glicose. (SEELER, 1996; SENIIOR, 1992). A velocidade maxima de infuseD em humanos para a preven98.0 da glicosuria e de 0.5 g/kglhora. As principais indica,oes ao uso da glicose 5% em agua incluem a hipernatremia e desidratayao ands os efeitos diluidores da glicose diminuem 0 nivel serico de sodio. (SEELER, 1996; SENIIOR, 1992). A glicose nao deve ser utilizada via subcutanea, pois as ions do LEG se difundirao dentro do pool hipotonico, depletando 0 LEC de suas particulas osmolares essenciais. Quando i580 acorre, 0 volume sangufneo circulante pode diminuir, predispondo ao choque ou ao agravamento deste (SCHAER, 1989). 55 6.1.4 SUPLEMENTOS 6.1.4.1 SUPLEMENTA<;:AOCOM CLORETO DE POTAsSIO A hipocalemia e frequentemente observada em animais hospitalizados, particularmente naqueles com anorexia prolongada, com pardas gastrointestinais par vernita a/au diarreia, com pardas urinarias e naqueles recebendo solU90es deficientes em Potassio. Sua suplementa98.0 esta indicada quando a concentra<;ao serica deste eletr61ito estiver entre 3.5 - 4.5 mEq/1.(SEELER, 1996; SENIIOR, 1992). As prepara90es comercialmente disponfveis incluem 0 Cloreto de Potassio ou KCI (2 mEq K-r Iml) ou Fosfato de Potassio contendo K,HPO, e KH,PO, (4.36 mEq K+ Iml). 0 Cloreto de Potassio e 0 aditivo de escolha para a terapia parenteral, pois a reposi98.0 de clorato e essencial S8 vomitos au administra98.0de diureticos forem as causas da hipocalemia. (SEELER, 1996; SENIIOR,1992). A velocidade de infusao de Potassio e mais importante do que 0 numero total de miliequivalentes administrados. Recomenda-se nao exceder a velocidade de 0.5 mEqIIKg'h, para reduzir qualquer possibilidade ao desenvolvimento de hipercalemia e cardiotoxicidade. (SEELER, 1996; SENIIOR,1992), 56 Na funt;ao renal comprometida pode haver retenyao de Potassio com conseqOente hipercalemia durante a infusao de soluyoes suplementadas com esle eletr6lito, especial mente S8 houver oliguria e azotemia concomitante. Nesta situayao, a administra<;ao de Potassio deve ser cautelosa e lenta. (SEELER, 1996; SENIIOR, 1992). 6.1.4.2 SUPLEMENTAQAo DE ALCALIS BICARBONATO DE SOOIO A SOlUy80 de bicarbonato de sadie e a preparaqao do bicarbonato de sadio (NaHC03) em agua esteril para infusao. As soluyoes contem 5.0%, 7.5% e 8.4% de bicarbonato de s6dio em ampolas ou frascos de 500ml. Eo administrado via intravenosa au por infusao, conforme a gravidade do caso. Seu usa 8sM indicado ao tratamento da alcalose metabolica, bern como na intoxica98o par barbituricos para facilitar a dissociayao barbiturico-complexo proteico.(SEELER, 1996; SENIIOR, 1992). A produyao de alcalose metab61icapode ser decorrente da super utiliza~ao do produto. Neste caso, a utilizac;ao deve ser interrompida, e 0 paciente devera ser tratado de acordo com 0 grau da alcalose. A injec;ao intravenosa de clorelo de s6dio a 0.9010 e geralmente suficiente para correc;ao do desequilibrio. Caso a severidade da alcalose seja grande 0 suficiente a ponto de ser acompanhadapor hiper-irritabilidadeou tetano, pode-se utilizar 57 cloreto de amonio (NH3CI) como uma solugao a 1/6 molar ou a 167 mEq/i (SEELER, 1996; SENIIOR, 1992). A tetania hipocalcemica decorre da grande proponfao do calcic plasmatico convertido a forma naD ionizada inativa, ligada as proteinas plasmaticas (SENIIOR, 1992). Apesar disso, HASKINS apud DiBARTOLA (1992) nao observou nenhuma consequencia adversa quando pequenas quantidades deste suplemento foi adicionada a solugao de Ringer lactato. Outros efeitos adversos decorrentes da administra<;ao de bicarbonato de s6dio incluem a hipernatremia, hipercapnemia, hiperosmolalidade, hipotensao e uma paradoxa acidose Iiquarica e intracelular (STEICHEN & WIKLUND apud MOON et al. 1997). Pelo fato de produzir retengao de sadio, 0 NaHC03 deve ser utilizado com cautela aos pacientes portadores de insuficiencia cardiaca congestiva au com qualquer outro quadro produtor de edema. A dose do NaHC03 e determinada pelos sintomas apresentados pelo paciente e pelas medidas de deficit sanguineo. Segundo SEELER (1996), sua dose pode ser estimada pela seguinte formula, baseada numa distribui9ao de 300/kg do peso corporal: mEq/1 de NaHC03; Deficit de base x 0,3 x peso corporal (kg) 58 AdministraMse metade desta dose, reavalia-se as gases sangufneos e continua-se a terapia ate que 0 pH alcance 7.1 a 7.2 (WOLFSHEIMER, 1989). Na acidemia grave (pH inferior a 7.1), 25% da dose calculada pode ser administrada in bol/us, ao longo de 10 a 15 minutos, de modo que 0 pH plasmatico ascenda a mais de 7.1. Em seguida, 0 equilibrio pode ser obtido ao Ion go de 12 a 18 haras. Em circunstancias menes urgentes, a deficiencia deve ser corrigida gradual mente ao longo de 12 a 24 horas. A distribui~ao do HC03 intersticial leva 30 minutos, enquanto a distribui~ao pelo LlC requer ate 18 horas. Se estimativas de gases sanguineos au de He03 total naD estao disponiveis, mas se he. forte suspeita com base na hist6ria cHnica e os sintomas percebidos, pode-se administrar uma dose implica total de 1 a 2 mEq/kg de HC03 (SENIOR, 1992). Uma n'pida infusao de HC03 pode causar hipocalemia, a medida que KT ingressa no LlC, em troca pelo W, conforme ilustrado pela figura 10. Neste caso, loma-se necessaria a suplementa~ao simultanea de Potassio (SENIOR, 1992). Alcalemia Acidemia Ct H" () H'Nn' NatK' K' Fig 10- Movimento reciproco de H+, Na+ e K+ durante disturbios do equilibrio de H+ Fonte: SENIOR, 1992. 59 A administrac;:ao intravenosa de NaHC03 leva a urn aumento nos nfveis de CO2 no sangue e no liquor, entrada de HCO, atraves do fluido cerebroespinhal pode levar a uma acidose encefalica como conseqGencia da depressao do SNC, incluindo os centros bulbares, pode-se desenvolver depressao respiratoria. (SCHWARTZ; WATERS, COHEN; SIMPSON; DiBARTOLA,1992). A ventila~ao adequada do paciente e, portanto, essencial para a preven98.o destes eteitos adversos. Quando utilizado em altas doses para a ressuscita~ao cardiaca, 0 NaHCO, a 7.5% (1500mOsm/l) pode levar a hiperosmolalidade sangufnea. Observac;oes clfnicas e experimentais indicam que a osmolalidade plasmatica excedendo 350 mOsm/1 sao potencialmente tatais. Com 0 aumento do pH plasmatico ocorre desvio da curva de dissociac;ao da hemoglobina para a esquerda, de modo que a libera~ao de O2 pela hemoglobina fica reduzida (TOTO apud SENIOR, 1992). De acordo com DiBARTOLA(1992),diversos anions, tais como 0 lactato, gluconato e acetato , sao adicionados as solUl;:oescristal6ides como bases, porque seu metabolismo oxidativo no organismo libera HC03. (SCHWARTZ; WATERS, COHEN; SIMPSON;DiBARTOLA,1992). A maleria do lactato e produzido no musculo e intestinos, e metabolizados tanto para glicose (via gliconeogenese cistolica) quanto para CO2 e H20 (via oxida9ao mitocondrial). Normalmente, a gliconeog€mese predomina. a lactato foi introduzido para 0 tratamento da acidose devido as dificuldades tecnicas na prepara<tao das solu<toes de bicarbonato para uso 60 intravenoso (SCHWARTZ; WATERS, COHEN; SIMPSON; DiBARTOLA, 1992). Estas dificuldades tecnicas foram superadas, mas as solU90es cristal6ides contendo lactato (como 0 Ringer lactato) ainda sao muito utilizadas na pn;tica clinica. (SEELER, 1996) TROMETAMINA A trometamina e uma droga alternativa para 0 tratamento da acidose metab6lica. De acordo com MARMAROU e ROSNER citados MOON et al. (1997), seu uso em humanos e seguro sob uma grande variedade de condic;oes. Sua capacidade tampon ante tern a vantagem de nao causar hipernatremi8, hipercapnemia, acidose intracelular ou liqu6rica. Quando administrada via intravenosa, age como urn aceptor de protons, atraindo ions