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Curso de Prática Jurídica Professora: Roberta Ramos Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 1 2. RECURSOS 2.1. EFEITOS RECURSAIS a) Efeito obstativo: O efeito obstativo está ligado à preclusão temporal e sua relação com a interposição do recurso. A doutrina majoritária entende que a interposição de qualquer recurso impede a geração da preclusão temporal, bem como do trânsito em julgado, que somente vai ocorrer após o julgamento do recurso. b) Efeito devolutivo: Trata-se da transferência ao órgão “ad quem” do conhecimento de matérias que já tenham sido objeto de decisão no juízo “a quo”. A doutrina entende que todo recurso gera efeito devolutivo. Isso porque a incidência do efeito devolutivo independe de a competência para analisar o recurso seja de órgão distinto do recorrido. O essencial aqui é que seja permitido a uma nova análise da matéria anteriormente decidida, pouco importando qual o órgão jurisdicional fará tal exame. Na realidade, o que vai variar em relação ao efeito devolutivo de cada recurso é somente sua extensão e profundidade. O efeito devolutivo possui duas dimensões. A dimensão horizontal é entendida como a extensão da devolução, estabelecida pela matéria em relação à qual uma nova decisão é pedida, é dizer, aquilo que o recorrente pretende devolver ao tribunal (Ex: se a decisão possui 03 capítulos, e o recorrente recorrer só de dois, somente dois capítulos serão analisados no recurso). O efeito horizontal está previsto no art. 1.013, caput, do CPC: Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. Já a dimensão vertical é entendida como a profundidade da devolução. Dessa forma, dentro daquelas matérias definidas pelo recorrente, o tribunal poderá Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 2 analisar todos os fundamentos, questões e alegações relativas àquela matéria, ainda que eles não tenham sido objeto de recurso pela parte: §1º - Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo,ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado. §2º - Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais. Dessa forma, apesar do efeito devolutivo, em sua acepção horizontal, seja definido pela vontade do recorrente, em sua acepção vertical, o efeito devolutivo independe da vontade do recorrente, sendo devolvido ao tribunal a análise de todas as questões reativas ao capítulo impugnado. c) Efeito suspensivo: O efeito suspensivo diz respeito à impossibilidade de a decisão impugnada gerar efeitos enquanto não for julgado o recurso interposto. Essa ineficácia da decisão, salvo as excepcionais hipóteses previstas em lei. Nem todo recurso tem efeito suspensivo previsto em lei, mas em todos eles é possível a sua obtenção no caso concreto, desde que preenchidos determinados requisitos. O efeito suspensivo previsto em lei, que de nada depende para ser gerado, é chamado de efeito suspensivo próprio, enquanto o efeito suspensivo obtido no caso concreto, a depender do preenchimento de determinados requisitos, é chamado de efeito suspensivo impróprio. O CPC prevê que, salvo disposição expressa de lei, o recurso não possui efeito suspensivo: Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 3 Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso. Ademais, o CPC também estabeleceu os requisitos para que o relator conceda efeito suspensivo no caso concreto, são eles: a) risco de dano grave ou de difícil ou impossível reparação, gerado pela geração imediata de efeitos da decisão; b) ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso. Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso. Ainda que o parágrafo único do art. 995 tenha sido omisso a esse respeito, a doutrina entende que o pedido expresso do requerente continua a ser requisito para a concessão do efeito suspensivo. d) Efeito translativo: Por efeito translativo, deve-se entender a possibilidade de o tribunal conhecer determinadas matérias de ofício no julgamento do recurso. Normalmente é associado às matérias de ordem pública, mas também se aplica as matérias que, apesar de não serem propriamente de ordem pública, a própria lei determina que podem ser conhecidas de ofício (Ex: prescrição). No âmbito dos recursos ordinários, é pacífica na jurisprudência a possibilidade de o tribunal conhecer de ofício a matéria de ordem pública e a prescrição. A grande controvérsia diz respeito aos recursos excepcionais (recurso especial e extraordinário). Uma primeira corrente entende que não é possível o reconhecimento de ofício das matérias de ordem pública em razão da ausência de pré-questionamento de tal Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 4 matéria, o que impediria sua análise pelos tribunais superiores. Esse, inclusive, é o entendimento do STF (AI 823.893-AgR/MG) e do STJ (AgRG no Resp 1.189.824/Rs). Uma segunda corrente entende que o pré-questionamento é apenas um requisito especial de admissibilidade recursal, voltado a admissibilidade do recurso e não ao seu mérito. Em sendo assim, uma vez preenchido os requisitos de admissibilidade do recurso, haveria o conhecimento do recurso, com a consequente possibilidade de análise das matérias de ordem pública, mesmo que não prequestionadas. e) Efeito expansivo: Será gerado o efeito expansivo toda vez que o julgamento do recurso ensejar decisão mais abrangente do que a matéria impugnada, ou ainda quando atingir sujeitos que não participaram como partes no recurso, apesar de serem partes na demanda. Na primeira situação ocorre o chamado efeito expansivo objetivo, o qual pode ser ainda interno ou externo, a depender da matéria atingida pelo julgamento do recurso estar localizada dentro ou fora da decisão impugnada. Na segunda situação há o chamado efeito expansivo subjetivo. f) Efeito substitutivo: O CPC determina que o julgamento do recurso substituirá a decisão recorrida, nos limites da impugnação: Art. 1.008. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso. A doutrina, contudo, defende que não se deve interpretar o dispositivo de forma literal, uma vez que a substituição por ele apregoada somente ocorre nos julgamentos de mérito recursal, e ainda assim a depender do resultado de tal julgamento, não ocorrendo a substituição em caso de não conhecimento do recurso. No caso de recurso julgado em seu mérito, é preciso analisar o conteúdo da decisão para saber se há ou não o efeito substitutivo. Sendo a causa de pedir do recurso Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 5 fundada em “error injudicando” e o pedido de reforma da decisão, qualquer que seja a decisão de mérito do recurso haverá a substituição da decisão recorrida. Já nos casos de causa de pedir composta por “error in procedendo” e sendo o pedido de anulação da decisão,somente haverá efeito substitutivo no caso de “não provimento” do recurso, porque o provimento do recurso, ao anular a decisão impugnada, não a substitui, uma vez que uma nova decisão deverá ser proferida em seu lugar. g) Efeito regressivo: Parte da doutrina entende que não se trata de um efeito autônomo, sendo um simples reflexo do princípio devolutivo. Cuida-se de efeito que permite que por via do recurso a causa volte ao conhecimento do juízo prolator da decisão. Trata-se de efeito previsto em todas as espécies de agravo previstas no CPC. No caso de apelação, o CPC previu três hipóteses desse efeito: no art. 331, caput, na sentença de indeferimento da petição inicial, no art. 332, §3º, na sentença de improcedência liminar e no art. 485, §7º. h) Efeito diferido: Ocorre quando o conhecimento do recurso depende de recurso a ser interposto contra outra decisão ou a mesma decisão. No primeiro caso, pode-se dar como exemplo a necessidade de a apelação ser conhecida para que a impugnação da decisão interlocutória não recorrível por agravo de instrumento seja julgado em seu mérito. No segundo caso, ocorre, por exemplo, no caso do uso de recurso especial e do extraordinário contra o mesmo acórdão, sempre que análise do segundo dependa do conhecimento e julgamento do primeiro. Também o recurso adesivo somente será julgado se o recurso principal for conhecido e julgado em seu mérito. 2.2. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE 2.2.1. Introdução Exige-se para que o mérito da demanda seja julgado que o juiz, anteriormente, analise os pressupostos processuais e as condições da ação, os quais são considerados genericamente como pressupostos de admissibilidade do julgamento do mérito. No âmbito recursal, existe o mesmo fenômeno devendo o órgão julgador fazer Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 6 uma análise de aspectos formais, para só então, superada positivamente essa fase, julgar o mérito do recurso. Quando o juízo de admissibilidade é realizado pelo juízo “a quo”, ou seja, pelo juízo competente para proferir a decisão impugnada, mas não para julgar o recurso, o recurso é recebido ou não. Quando realizado pelo órgão “ad quem”, competente para o julgamento do recurso, ele é conhecido ou não. A doutrina majoritária entende que são pressupostos intrínsecos do recuso os seguintes: a) cabimento; b) legitimidade; c) interesse em recorrer; d) a inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer. Por sua vez, seriam pressupostos extrínsecos: a) tempestividade; b) preparo; e c) regularidade formal. 2.2.2. Pressupostos intrínsecos de admissibilidade recursal a) Cabimento: Exige-se aqui que o pronunciamento judicial seja recorrível e que o recurso interposto seja o adequado, é dizer, o recurso indicado pela lei para impugnar aquele determinado pronunciamento judicial. A recorribilidade ou não do pronunciamento deverá ser analisada primeiro, já que se o pronunciamento for irrecorrível por óbvio não haverá nenhum recurso adequado para impugná-lo. Nos termos do art. 1.001 do CPC os despachos são irrecorríveis. Assim, em regra somente os pronunciamentos com carga decisória poderão ser recorríveis. Contudo, em algumas hipóteses, mesmos os pronunciamentos judiciais com carga Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 7 decisória poderão ser irrecorríveis, como ocorre com a decisão que reconhece a suspeição do juízo por motivo de for íntimo. b) Legitimidade recursal Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica. Parágrafo único. Cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual. A doutrina critica esse dispositivo legal, afirmando que ele confunde o requisito da legitimidade recursal, com o interesse, desprezando o fato de que a legitimidade é fixada em abstrato, não havendo relevância o conteúdo da decisão. Assim, não é adequada a redação do dispositivo ao afirmar que o recurso somente pode ser interposto pela parte vencida, já que para descobrir isso é necessário analisar o conteúdo da decisão proferida no caso concreto, o que vai dizer respeito ao interesse de recorrer e não a legitimidade. Afora esse erro terminológico, o dispositivo consagra os três sujeitos que possuem legitimidade recursal: 1º Partes: As partes têm legitimidade recursal, independentemente do conteúdo da decisão judicial, é dizer, não importa o fato de terem ou não sucumbido no caso concreto, aspecto que diz respeito ao interesse recursal, que é outro requisito de admissibilidade. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 8 O conceito de partes inclui autor, réu, terceiros intervenientes (inclusive o assistente simples) e o Ministério Público, quando atua como fiscal da ordem jurídica. Exige-se apenas que esses sujeitos, salvo o Ministério Público, estejam integrados à relação jurídica processual no momento em que a decisão impugnada é preferida. 2º Terceiro Prejudicado: Nos termos do art. 966, parágrafo único, cumpre ao terceiro prejudicado demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual. A doutrina entende que independente da natureza da decisão judicial o relevante para a legitimidade de terceiro é a existência de um interesse jurídico que justifique sua intervenção no processo por meio de recurso. Sempre que o terceiro prejudicado tiver uma relação jurídica que possa ser afetada pela decisão judicial terá legitimidade como terceiro prejudicado, mas somente terá interesse recursal se demonstrar concretamente ter sofrido um prejuízo na relação jurídica de que é titular. 3º Ministério Público: A legitimidade recursal do MP prevista no art. 966 decorre de sua função de fiscal da ordem jurídica. Quando o MP participa do processo como autor ou réu, o dispositivo afigura-se repetitivo, uma vez que sua legitimidade já estaria assegurada pelo simples fato de ser autor ou réu da demanda. Nos processos em que figura como fiscal da ordem jurídica, a legitimidade recursal do MP é autônoma, é dizer, mesmo que as partes do processo não interponham recurso, é admissível o recurso interposto pelo MP. 2.2.3. Interesse recursal 1º Necessidade: A doutrina entende que o interesse recursal deverá ser analisado à luz do interesse de agir. Assim, a mesma ideia de utilidade da prestação jurisdicional que permeia o interesse de agir verifica-se no interesse recursal, entendendo-se que somente será julgado o mérito de recurso que possa ser útil ao recorrente. A utilidade, aqui, Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 9 deverá ser analisada sob a perspectiva prática, sendo necessário se observar no caso concreto se o recurso poderá trazer uma melhora fática na situação do recorrente. É exatamente por essa razão que não se admite, em regra, a interposição de recurso somente com objetivo de modificar a fundamentação da decisão, uma vez que nesse caso a situação prática do recorrente se mantém inalterada. Contudo, é possível vislumbrar interesse recursal nos casos de demandascoletivas, uma vez que, nas ações civis públicas de direitos difusos e coletivos, o julgamento de improcedência por falta de provas permite a nova propositura da demanda. Assim, pode a parte vencedora, nesses casos, recorrer para modificar a fundamentação de improcedência por falta de provas, já que haverá melhora na sua situação fática se o julgamento de improcedência não for por falta de provas. A doutrina tradicional estuda o interesse de agir com base na existência ou não de sucumbência no processo, o que geraria a necessidade de utilização de recurso. Contudo, essa exigência de sucumbência somente existe para as partes do processo. O terceiro prejudicado não tem qualquer sucumbência com resultado o processo, uma vez que não participava dele no momento da prolação da decisão e assim não tinha, ao menos juridicamente, qualquer expectativa inicial a ser frustrada. O mesmo ocorre com o MP quando atua como fiscal da ordem jurídica. Quando o legitimado recursal for parte, faz-se necessário distinguir sucumbência formal e material. Por sucumbência formal se entende a frustração da parte em termos processuais, é dizer, a não obtenção por meio da decisão judicial de tudo aquilo que poderia ter processualmente obtido em virtude do pedido formulado no processo. Já na sucumbência material a análise não é processual, mas sim sobre o bem ou os bens da vida que a parte poderia obter em virtude do processo judicial e que não obteve em razão da decisão judicial. Essa discrepância entre o desejado no mundo prático e o praticamente obtido no processo gera a sucumbência material da parte. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 10 Todas as vezes que houver sucumbência formal, haverá também a material. Se a parte não conseguiu a providência processual requerida, isso significa que, no mundo real, também não obteve o bem da vida pretendido. Por outro lado, pode haver a sucumbência material sem que exista a sucumbência formal, ou seja, a parte obteve a providência processual, mas não conseguiu exatamente o bem da vida desejado. O STJ já julgou possível a utilização de recurso adesivo pelo autor de pedido de indenização por danos morais que se saiu vitorioso na demanda, contudo, em valores menores que o requerido no processo. Nesse caso, embora não tenha havido sucumbência formal, uma vez que o autor teve seu pedido julgado procedente, houve a chamada sucumbência material, já que ele não obteve exatamente o bem da vida que visava obter, em razão da arbitração pelo juízo de valores menores que o almejado. Assim, pode-se dizer que houve sucumbência recíproca entre as partes, pelo que é possível o manejo de recurso adesivo pelo autor (REsp 1.102.479-RJ). 2º Adequação: Além de necessário, o recurso deve ser adequado a reverter a sucumbência suportada pela parte recorrente, é dizer, o recurso deve ser concretamente apto a melhorar a situação prática do recorrente. 2.2.4. Inexistência de ato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer 1º Desistência Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso. Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 11 Apesar do caput do dispositivo estabelecer que o recorrente poderá desistir a qualquer tempo, a doutrina entende que a desistência somente pode ocorrer após a interposição do recurso. Isso porque não se pode desistir daquilo que ainda não existe. Em relação ao prazo final, o STJ entende que a desistência pode ocorrer até o encerramento do julgamento do recurso, admitindo-se depois de iniciado o julgamento, inclusive tendo sido proferido o voto do relator, mas nunca após o julgamento, ainda que pendente a publicação do acórdão (AgRg no AgRg no AG 1.392.645-RJ). Nos casos de recursos que tenham sidos selecionados na sistemática de julgamento por amostragem da repercussão geral e dos recursos repetitivos, o recorrente até poderá desistir de seu recurso, mas, nesse caso, mesmo havendo desistência, seu mérito será julgado pelos tribunais superiores. Assim, o pedido de desistência do recurso será deferido, mas a controvérsia contida no recurso será julgada normalmente. Nesse caso, a doutrina entende que a tese decidida pelos tribunais superiores não se aplica ao recurso de que se desistiu. O dispositivo legal também estabelece que a desistência não depende da anuência da outra parte ou do litisconsorte, inclusive na hipótese de litisconsórcio unitário, no qual o recurso poderia beneficiar o litisconsorte que não recorreu. Apesar da possibilidade de geração de benefício por meio indireto, o recurso continua sendo do litisconsorte que recorreu, podendo ele desistir a qualquer momento do recurso. A doutrina majoritária entende que a desistência gera a inexistência jurídica do recurso interposto, sendo irrelevante questionar se ele era ou não admissível. A decisão que reconhece o pedido de desistência tem natureza declaratória, gerando efeito “extunc”, ou seja, a partir do momento em que a desistência é informada no processo o recursa passa a não mais existir. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 12 Caso o tribunal, desconhecendo a desistência do recorrente, julgue o recurso, terá praticado ato juridicamente inexistente, considerando-se que o recurso já não mais existia. 2º Renúncia Art. 999. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte. A renúncia, ao contrário da desistência, somente pode ocorrer antes de interposto o recurso. A renúncia ao direito de recorrer poderá ocorrer de forma expressa, quando a parte, por escrito ou oralmente, na audiência na qual a decisão foi proferida informa da sua renúncia. Também poderá ocorrer de forma tácita, quando a parte simplesmente deixa de recorrer dentro do prazo recursal. Ademais, a renúncia pode ser parcial ou total. Não havendo especificação, considera-se que a renúncia atinge o direito recursal como um todo. A lei, assim como na desistência, afirma que a renúncia independe da anuência da parte contrária. Apesar da omissão legal, a renúncia também não depende da concordância do litisconsorte, seja qual for sua natureza. A renúncia, contudo, não prejudica o direito de recurso dos demais litisconsortes. 3º Concordância Art. 1.000. A parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer. Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem nenhuma reserva, de ato incompatível com a vontade de recorrer. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 13 O dispositivo legal em questão versa sobre o fenômeno da aquiescência, o qual gera uma preclusão lógica, impedindo a admissão do recurso, em respeito ao princípio da boa fé objetiva. A aquiescência ocorre quando a parte que poderia recorrer pratica um ato, sem nenhuma reserva, incompatível com a vontade de recorrer. Difere da renúncia porque o ato praticado não se volta de maneira direta à abdicação da vontade de recorrer, mas sim a demonstrar a concordância com a decisão, de forma que a impossibilidade de recorrer aqui é uma consequência lógica do ato de concordância. É um caso exemplar de aplicaçãoda chamada preclusão lógica. A aquiescência, assim como a renúncia, somente é possível dentro do interregno entre a intimação da decisão recorrida e o prazo final para interposição do recurso. O art. 1.000 estabelece que para a ocorrência da aquiescência, a parte “não poderá recorrer” da decisão. Assim, caso a parte interponha recurso e após a interposição dele manifeste sua concordância com a decisão, tornará o recurso prejudicado, mas não pela aplicação do art. 1.000 do CPC, mas por outro instituto. 2.2.5. Pressupostos extrínsecos de admissibilidade recursal a) Tempestividade: Todo recurso tem um prazo determinado em lei, ocorrendo preclusão sempre que vencido o prazo legal sem a sua devida interposição. O novo CPC tornou os prazos recursais mais homogêneos, prevendo em seu art. 1.003, §5º, que todos os recursos passam a ter prazo legal de 15 dias (úteis), salvo os embargos de declaração, que continuam com o prazo de 05 dias. Ressalta-se que o NCPC, em seu art. 190, permite que as partes celebrem acordo procedimental, sendo possível a alteração dos prazos recursais com tal acordo. Respeitando-se a isonomia, a doutrina entende que tanto a majoração quanto a redução dos prazos recursais são passíveis de acordo. Por outro lado, o magistrado poderá, unilateralmente, majorar qualquer prazo recursal, nos termos do art. 139, VI, o que também se aplica ao prazo recursal. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 14 Com relação ao termo inicial de contagem dos prazos recursais, o CPC dispõe o seguinte: Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão. §1º - Os sujeitos previstos no caput considerar-se-ão intimados em audiência quando nesta for proferida a decisão. §2º - Aplica-se o disposto no art. 231, incisos I a VI, ao prazo de interposição de recurso pelo réu contra decisão proferida anteriormente à citação. Assim, a regra é que o prazo para interposição dos recursos tenha início da data em que as partes são intimadas da decisão. Ressalta-se que em se tratando de processo eletrônico, o prazo inicia-se no primeiro dia útil subsequente à publicação, que será considerada no primeiro dia útil subsequente a disponibilização da informação no diário oficial eletrônico (Ex: se a intimação sai no DO na segunda, a intimação é considerada publicada na terça e o prazo se inicia na quarta, considerando que todos os dias em questão sejam úteis). O MP, a DP e Advocacia Pública possuem a prerrogativa de intimação pessoal, que poderá ocorrer, nos termos do art. 183, §1º, do CPC, por carga, remessa ou meio eletrônico. Nessa situação, o prazo inicia-se com o recebimento dos autos na instituição respectiva. Caso a decisão recorrível tenha sido proferida em audiência, todos os sujeitos previstos no art. 1.003, caput. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 15 Se for o caso, entretanto, de participantes do processo que tenham a prerrogativa de intimação pessoal, a jurisprudência diverge sobre o assunto, sendo certo que alguns entendem que o prazo começa a correr após a intimação pessoal na audiência (art. 1003, §1º, NCPC) e outros que afirmam que o prazo somente começa a contar após a intimação com remessa dos autos (art. 186, §1º c/c art. 183, §1º, ambos do NCPC). A matéria, nesta data (mês de maio de 2017), está pendente de julgamento pela sistemática do Julgamento de Recursos Repetitivos (vide Resp 1349935 e HC 296759). No caso de recurso a ser interposto por réu contra decisão proferida antes de sua citação, aplicam-se as regras do art. 231, I a VI. Assim, o prazo recursal será contado da juntada do aviso de recebimento (AR) se a intimação for pelo correio; da juntada do mandado, se a intimação for por oficial de justiça; da data da intimação por ato do escrivão ou do chefe de secretaria e do dia útil seguinte ao fim da dilação assinada pelo juiz, quando realizada por edital. Em sendo o recurso enviado pelos correios, a tempestividade é aferida pela data da postagem: §4º - Para aferição da tempestividade do recurso remetido pelo correio, será considerada como data de interposição a data de postagem. Com esse dispositivo, encontra-se atualmente superada a redação da Súmula 216 do STJ, a qual afirmava que “a tempestividade de recurso interposto no Superior Tribunal de Justiça é aferida pelo registro no protocolo da Secretaria e não pela data da entrega na agência do correio.” Ressalta-se ainda que o NCPC superou a antiga jurisprudência de alguns tribunais superiores, no sentido de considerar intempestivos os recursos interpostos antes do início do prazo para recorrer, os chamados recursos prematuros: Art. 218. (…) Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 16 §4º - Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo. Ainda em relação a tempestividade, o CPC prevê hipótese em que, de forma excepcional, o prazo recursal poderá ser interrompido, devolvendo-se à parte recorrente a íntegra do prazo depois de encerrada a causa de interrupção: Art. 1.004. Se, durante o prazo para a interposição do recurso, sobrevier o falecimento da parte ou de seu advogado ou ocorrer motivo de força maior que suspenda o curso do processo, será tal prazo restituído em proveito da parte, do herdeiro ou do sucessor, contra quem começará a correr novamente depois da intimação. b) Preparo: O preparo recursal diz respeito ao custo financeiro da interposição do recurso. O STJ entende que todas as despesas devidas na interposição do recurso são consideradas preparo. O CPC estabeleceu a regra da comprovação imediata do recurso. Dessa forma, o recorrente deve comprovar o recolhimento do preparo no momento da interposição do recurso: Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção. §1º - São dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos Municípios, e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 17 A lei, contudo, isenta de preparo as Entidades da Administração Direta e as autarquias. Também são isentos os beneficiários da assistência judiciária (inclusive pessoa jurídica). §2º - A insuficiência no valor do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, implicará deserção se o recorrente, intimado na pessoa de seu advogado, não vier a supri-lo no prazo de 5 (cinco) dias. Nos termos da legislação, sendo recolhido o preparo em valor inferior ao efetivamente devido, deverá o juízo intimar o apelante, abrindo-se um prazo de 05 dias para complementação dos valores. Caso seja feita a complementação em valor ainda inferior ao devido, o recurso será deserto, não se admitindo a abertura de novo prazo para o recorrente. Pouco importará o valor que tenha sido efetivamente recolhido e o valor a recolher, bastando que haja algum valor a recolher. §3º - É dispensado o recolhimento do porte de remessa e de retorno no processo em autos eletrônicos. §4º - Orecorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o recolhimento em dobro, sob penade deserção. O §4º cuida de uma situação diversa da descrita no §2º. Aqui, trata-se da hipótese em que o recorrente não recolheu nenhum valor de preparo. Nesse caso, será intimado na pessoa de seu advogado, devendo recolher em dobro o valor do preparo. Apesar da omissão legal, entende-se que o recorrente terá o prazo de 05 dias para fazê- lo. No recolhimento, não será possível a complementação, de forma que se o recorrer, aqui, deixar de recolher o valor na íntegra, terá seu recurso inadmitido por deserção, conforme §5º. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 18 §5º - É vedada a complementação se houver insuficiência parcial do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, no recolhimento realizado na forma do § 4°. §6º - Provando o recorrente justo impedimento, o relator relevará a pena de deserção, por decisão irrecorrível, fixandolhe prazo de 5 (cinco) dias para efetuar o preparo. §7º - O equívoco no preenchimento da guia de custas não implicará a aplicação da pena de deserção, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida quanto ao recolhimento, intimar o recorrente para sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias. c) Regularidade formal: Cada recurso possui requisitos formais específicos, que devem ser preenchidos para que ele seja admitido. Contudo, é possível indicar alguns requisitos formais genéricos aos recursos de modo geral. Em respeito ao princípio da dialeticidade, todo recurso deve ser atacado especificamente o fundamento da decisão recorrida, sendo que no processo civil exige- se que a interposição já vem acompanhada das razões recursais. Além das razões e do pedido, o recorrente deve identificar as partes. Em regra, salvo nos casos de embargos de declaração na lei dos juizados especiais (Art. 49, da Lei 9.099/95), os recursos devem ser escritos. Ademais, exige-se em regra ainda a capacidade postulatória (presença de advogado). O recurso em questão deve ser assinado, mas em razão do princípio da instrumentalidade das formas, a ausência de assinatura deve ser considerado vício sanável. No caso de recursos com duas peças (interposição e razão), a ausência de assinatura em somente uma das peças deve ser considerada mera irregularidade, sem maiores consequências processuais. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 19 Da mesma forma, cumpre mencionar que, segundo Superior Tribunal de Justiça vinha entendendo que, “na instância extraordinária é inexistente recurso interposto sem assinatura do signatário da petição” (AgInt no AREsp 968752 / SP). No entanto, o CPC/15 passou a prever a possibilidade de regularização de víciosprocessuais não considerados graves nos recursos, nos termos do artigo 932, Parágrafo único, do artigo 1029, § 3º, e do artigo 76. Ocorre que a aplicação destes dispositivos somente será aplicada aos recursos interpostos contra decisões publicadas após o início de sua vigência (18/03/2016), em observância ao princípio tempusregitactum (AgRg no AREsp 684634 / SP). Outro ponto importante diz respeito à distinção da assinatura digitalizada da assinatura eletrônica. Enquanto a assinatura digitalizada é feita por meio do simples escaneamento da assinatura do titular, a assinatura eletrônica é baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora Credenciada. O STJ entende que o recurso realizado por meio de assinatura digitalizada é inexistente, somente admitindo o uso da assinatura eletrônica (Resp 1.442.887/BA). 2.3. RECURSOS EM ESPÉCIE I) Apelação a) Cabimento Art. 1.009. Da sentença cabe apelação. Nos termos do caput do art. 1.009, pouco importa a espécie de procedimento ou processo, havendo uma sentença, seja terminativa ou de mérito, contra ela caberá apelação. Essa regra, contudo, possui 03 exceções, nas quais haverá sentenças, contra as quais não caberá apelação: a) Nos juizados especiais,há expressa previsão legal de cabimento de recurso inominado contra a sentença (Art. 41, da Lei 9.099/95); Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 20 b) Na Lei de Execuções Fiscais é previsto o cabimento de embargos infringentes contra a sentença proferidas em execuções fiscais de valor igual ou inferior a 50 OTN (Art. 34 da Lei 6.830/80); c) Por fim, o próprio CPC contém uma exceção à regra, indicando o cabimento de recurso ordinário constitucional contra sentença proferida em processo em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, de outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no Brasil (Art. 1.027, II, “b”, CPC). b) Objeto da impugnação: Nos termos do §1º, as questões não resolvidas na fase de conhecimento não impugnáveis por agravo de instrumento, serão suscitadas em preliminar de apelação interposta contra sentença ou nas contrarrazões de tal recurso: §1º - As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões. É de se salientar, contudo, que a impugnação com base nesse §1º, só será admitida se tal decisão não tiver sido objeto de mandado de segurança. É verdade que mesmo com o uso do mandado de segurança, não haverá preclusão, que é um fenômeno endoprocessual (ocorre dentro do processo) e o mandado de segurança possui natureza de ação. Haverá, contudo, coisa julgada material a respeito da questão, o que impedirá a reabertura de sua discussão em sede de preliminar de apelação ou contrarrazões. No caso de alegação em preliminar de apelação, o apelado já será intimado para contrarrazoara impugnação da decisão interlocutória e da sentença. Já no caso da alegação ocorrer em contrarrazões, o apelante deve ser intimado para responder no prazo de 15 dias. Haverá, nesse caso, a estranha situação das contrarrazões de contrarrazões: Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 21 §2º - Se as questões referidas no §1º forem suscitadas em contrarrazões, o recorrente será intimado para, em 15 (quinze) dias, manifestar-se a respeito delas. §3º - O disposto no caput deste artigo aplica-se mesmo quando as questões mencionadas no art. 1.015 integrarem capítulo da sentença. Diante dessa situação, salvo as decisões interlocutórias impugnáveis por agravo de instrumento, a apelação passa a ser o recurso cabível das sentenças e das decisões interlocutórias proferidas durante o procedimento. c) Procedimento 1º) Aspectos Gerais: A apelação é um recurso interposto perante o primeiro grau de jurisdição, ainda que o juízo sentenciante não possua competência para seu juízo de admissibilidade: Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá: §3º - Após as formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade. Atualmente, a competência para a realização do juízo de admissibilidade é exclusiva do tribunal de 2º grau. A exclusão do juízo de admissibilidade dos juízes de primeiro grau ocasionou algunsinconvenientes. Inicialmente, como o juízo não tem mais competência para fazer o juízo de admissibilidade, pode-se dizer que também não o terá para declarar os efeitos pelo quala Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 22 apelação foi recebida. Havendo dúvidas sobre os efeitos da apelação, a doutrina defende que seja feito um questionamento ao tribunal de segundo grau, com distribuição livre e geração de prevenção, em aplicação analógica do disposto no art. 1.012, §3º, I, do CPC. O segundo problema diz respeito à realização do juízo de retratação no caso de apelação. É que o juízo de retratação somente pode ser realizado após o juízo de admissibilidade. Assim, o CPC criou um paradoxo: o juízo de admissibilidade é exclusivo do tribunal, contudo, o juízo de retratação somente pode ser feito pelo juízo de primeiro grau. A doutrina tem entendido que nas situações em que o próprio CPC permite a retratação há uma competência implícita para o juízo de admissibilidade. A competência implícita, nesse caso, é limitada a um juízo positivo de admissibilidadepara realizar a retratação. Caso não faça a retratação, não poderá deixar de receber a apelação. Salienta-se que a doutrina majoritária vem entendendo que no caso em que o juízo de primeiro grau considerar a apelação intempestiva, não poderá se retratar: Enunciado nº 293 do FPPC: Se considerar intempestiva a apelação contra sentença que indefere a petição inicial ou julga liminarmente improcedente o pedido, não pode o juízo a quo retratar-se. 2º Procedimento no 1º grau de jurisdição A interposição do recurso de apelação é feita perante o próprio juízo prolator da sentença, no prazo de 15 dias, aplicando-se a regras do art. 180 e 229 do CPC. O recurso pode ser interposto pelo correio, sendo considerada como data da interposição o dia da postagem (Art. 1.003, §4º, CPC). Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 23 Os requisitos formais mínimos da petição inicial estão na lei, devendo o apelante preencher 04 requisitos mínimos: Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá: I - os nomes e a qualificação das partes; II - a exposição do fato e do direito; III - as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade; IV - o pedido de nova decisão. Apesar do inciso IV falar em pedido de nova decisão, é certo que houve uma impropriedade técnica do legislador, uma vez que nem sempre o pedido será nesse sentido, já que o pedido poderá ser anulação, integração ou de reforma da decisão apelada. Sempre que se pede a anulação da decisão não haverá nova decisão, uma vez que a decisão que anula a causa não pode ser qualificada de nova decisão, já que a causa deverá ser decidida por nova decisão. Ademais, nos casos do art. 1.013, §3º, III, o pedido será de julgamento originário de pedido não enfrentado, não havendo, assim, pedido de nova decisão, mas de complementação da decisão impugnada. Uma vez interposta a apelação, o juiz sentenciante deverá intimar o apelado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 dias: Art. 1.010. (…) §1º - O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias. Com ou sem resposta do apelado, o processo será remetido ao tribunal de 2º grau. 3º Procedimento no tribunal de 2º grau Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 24 A apelação deverá ser distribuída imediatamente a um relator, que decidirá se julgará o recurso de forma monocrática ou colegiada: Art. 1.011. Recebido o recurso de apelação no tribunal e distribuído imediatamente, o relator: I - decidi-lo-á monocraticamente apenas nas hipóteses do art. 932, incisos III a V; II - se não for o caso de decisão monocrática, elaborará seu voto para julgamento do recurso pelo órgão colegiado. A distribuição, nesse caso, deverá ser feita de acordo com o regimento interno do tribunal, observando-se a alternatividade, o sorteio eletrônico e a publicidade: Art. 930. Far-se-á a distribuição de acordo com o regimento interno do tribunal, observando-se a alternatividade, o sorteio eletrônico e a publicidade. Em sendo o caso de aplicação do art. 932, III, IV e V, o relator negará conhecimento, provimento ou dará provimento ao recurso por decisão unipessoal, recorrível por agravo interno no prazo de 15 dias. O CPC estabelece ainda que após a elaboração do voto, os autos serão apresentados ao presidente que designará dia para julgamento, ordenando a publicação da pauta no órgão oficial: Art. 934. Em seguida, os autos serão apresentados ao presidente, que designará dia para julgamento, ordenando, em todas as hipóteses previstas neste Livro, a publicação da pauta no órgão oficial. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 25 Ao contrário do previsto no CPC/73, no atual CPC não há mais a previsão de revisor, de forma que o único julgador que terá contato prévio com os autos antes do julgamento é o relator. 4º Novas questões de fato Excepcionalmente, admite-se o “novumiudicium”, permitindo a alegação de novas questões de fato: Art. 1.014. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior. Nos termos do art. 1.014, para que se aleguem novas questões de fato, é necessário que: a) não criem uma nova causa de pedir, não proposta no primeiro grau; b) desde que o apelante prove que deixou de alegá-las por motivo de força maior. Segundo a melhor doutrina, existem quatro situações em que a força exigida pela lei estaria presente, o que justificaria a alegação de fatos novos: a) fatos supervenientes, ocorridos após a publicação da sentença; b) ignorância do fato pela parte, com a exigência de motivo sério e objetivo para que a parte desconhecesse o fato; c) impossibilidade de a parte comunicar o fato ao seu advogado, desde que haja uma causa objetiva para justificar a omissão; d) impossibilidade do próprio advogado em comunicar o fato ao juízo, desde que demonstrado que a omissão foi causada por obstáculo insuperável e alheio à sua vontade.Em sendo admitido pelo Tribunal a alegação de novas questões de fato, Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 26 deverá se oportunizar a parte a possibilidade produzir provas do alegado. Tratando-se de prova documental, a produção ocorre no próprio tribunal, abrindo-se vista à parte contrária para manifestação no prazo de 15 dias (Art. 437, §1º, CPC). No caso de prova oral ou pericial, aplica-se por analogia o disposto no art. 972 do CPC, delegando o tribunal sua função probatório ao juízo de primeiro grau por meio da expedição de carta de ordem. d) Julgamento imediato do mérito 1º Introdução Art. 1.013. (…) §3º - Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando: I - reformar sentença fundada no art. 485; II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação.O §3º do art. 1.013 adotou a chamada teoria da causa madura, permitindo ao tribunal julgar o processo que estiver em condições de imediato julgamento. Apesar de a lei exigir para sua aplicação que a causa esteja em condições de imediato julgamento, essa exigência somente se aplica à hipótese prevista no inciso I, já que somente no caso de anulação – e não reforma, como erroneamente previsto na lei -, da sentença terminativa, é necessário se analisar no caso concreto se o processo já pode ser julgado ou deve ser devolvido ao primeiro grau para a tomada de alguma providência antes da prolação da decisão de mérito. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 27 Nos demais incisos essa questão não aparece, uma vez que nesses casos não há uma sentença prematuramente proferida, mas sim uma sentença viciada proferida no momento adequado. 2º teoria da causa madura Para que seja aplicada a teoria da causa madura, nos termos do art. 1.013, §3º, I, do CPC, o processo deve estar em condições de imediato julgamento. Nessecaso, sendo anulada a sentença terminativa, poderá o tribunal passar ao julgamento originário do mérito da ação. Aqui, há anulação e não a reforma da sentença, cabendo ao tribunal, após julgar o mérito recursal, passar a julgar, de forma originária, o mérito da ação. O STJ entende que não há aqui violação ao princípio da ampla defesa, nem mesmo impede a parte de obter o prequestionamento, o que poderá ser conseguido com a interposição de embargos de declaração (Resp 874.507/SC). A aplicação da teoria da causa madura depende exclusivamente de uma circunstância: sendo anulada a sentença de primeiro grau em razão do equívoco do juiz em extinguir o processo sem resolução do mérito, o tribunal passará ao julgamento sempre que o único ato a ser praticado for a prolação de uma nova decisão de mérito da demanda. Havendo qualquer outro ato a ser praticado antes da prolação da nova decisão, o tribunal deverá devolver o processo ao juiz de primeiro grau. Em razão disso, não se aplica a teoria da causa madura aos casos de indeferimento da petição inicial. O STJ entende que a teoria da causa madura esta incluída na profundidade do efeito devolutivo do recurso, sendo admissível a “reformatio in pejus” do apelante (AgRG no Ag 867.885/MG). 3º Hipóteses de novo julgamento do mérito da ação pelo tribunal Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 28 Nos casos dos incisos II, III e IV, do §3º, do art. 1.013, tem-se uma sentença de mérito viciada anulada pelo julgamento da apelação com a permissão ao tribunal de, ao invés de encaminhar o processo ao juízo de primeiro grau para a prolação de nova sentença, julgar imediatamente o mérito da ação. O inciso II versa sobre sentença “extra petita” ou “extra causa petendi”: II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; Nesses casos, o processo não deve retornar ao primeiro grau, cabendo ao tribunal, após a anulação da sentença, julgar novamente o mérito da ação. No caso de sentença “ultra petita” (não há sentença “ultra causa petendi”), também haverá uma incongruência entre os limites do pedido e a sentença, mas nesse caso não há como se aplicar o dispositivo legal em razão da previsão de seu “caput”. Não haverá aqui decisão desde logo de mérito, porque constatado o tribunal ser a sentença “ultra petita” anula-se apenas a parte excedente da decisão. A segunda hipótese de julgamento imediato pelo tribunal ocorre nos casos de sentença “citra petita”, é dizer, nos casos em que o juízo de primeiro grau deixa de decidir um ou mais pedidos formulados pela parte: III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; Por fim, a última hipótese de julgamento imediato diz respeito a sentença sem fundamentação: IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 29 II) AGRAVO DE INSTRUMENTO a) Introdução: O CPC/15 excluiu expressamente o cabimento de agravo retido, além prevê que o cabimento de agravo de instrumento está limitado às hipóteses previstas na legislação (Art. 1.015, CPC). É se ressaltar, contudo, que o próprio CPC previu que é possível a utilização de agravo de instrumento em outras hipóteses legais. Assim, o rol de hipóteses previsto no art. 1.015 não é exaustivo, sendo possível que outros artigos do próprio CPC, bem como leis especiais, prevejam outras hipóteses de cabimento de agravo de instrumento. O CPC previu diversas hipóteses de cabimento de agravo de instrumento não constantes do art. 1.015, o que é plenamente admissível em razão da autorização constante no inciso XIII do dispositivo, que estabeleceu o cabimento do recurso em outras situações expressamente referida em lei. O primeiro caso de cabimento previsto no CPC na situação de decisão terminativa que diminui objetivamente a demanda: Art. 354. Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 485 e 487, incisos II e III, o juiz proferirá sentença. Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput pode dizer respeito a apenas parcela do processo, caso em que será impugnável por agravo de instrumento. Outra hipótese de cabimento de agravo diz respeito à decisão que indeferir o pedido de afastamento da suspensão do processo determinada em razão de julgamento repetitivo de recurso especial ou extraordinário: Art. 1.037. (…) §13 - Da decisão que resolver o requerimento a que se refere o Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 30 § 9º caberá: I - agravo de instrumento, se o processo estiver em primeiro grau; As decisões interlocutórias que não puderem ser impugnadas por agravo de instrumento não são irrecorríveis, o que representariam uma nítida ofensa ao princípio do devido processo legal. Essas decisões não precluem imediatamente, devendo ser impugnadas em preliminar de apelação ou nas contrarrazões desse recurso, nos termos do art. 1.009, §1º, do CPC. b) Cabimento Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I - tutelas provisórias; O inciso I admite o cabimento do recurso contra as decisões sobre a tutela provisória, é dizer, qualquer decisão que conceder, negar, modificar ou revogar a tutela dessa espécie (antecipada, cautelar e evidência). Nessa hipótese de cabimento não bastará a natureza interlocutória da decisão, importando também sua autonomia, pois, se decidir a tutela antecipada na sentença, o recurso cabível será a apelação, nos termos do art. 1.013, §5º, do CPC. II - mérito do processo; O inciso II é confirmação legal de que o atual CPC permitiu a figura da chamada decisão interlocutória de mérito. III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem; IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica; Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 31 V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; VI - exibição ou posse de documento ou coisa; VII - exclusão de litisconsorte; VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivoaos embargos à execução; XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, §1º; Todos esses casos versam sobre hipóteses em que não há sentido ou utilidade em rever a decisão em grau recursal somente em caso de apelação. XIII - outros casos expressamente referidos em lei. Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário. c) Instrução do recurso – peças obrigatórias e facultativas O nome agravo de “instrumento” demonstra que a peça do recurso deverá ser acompanhada de um instrumento, formado, em regra, por cópias de peças já constantes dos autos principais. Isso porque, em que pese a regra seja a instrução do instrumento por peças já constantes dos autos, é permitido ao agravante instruir o recurso com documentos que ainda não fazem parte do processo, conforme dispõe o art. 1.019, II: Art. 1.019. Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído imediatamente, se não for o caso de Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 32 aplicação do art. 932, incisos III e IV, o relator, no prazo de 5 (cinco) dias: II - ordenará a intimação do agravado pessoalmente, por carta com aviso de recebimento, quando não tiver procurador constituído, ou pelo Diário da Justiça ou por carta com aviso de recebimento dirigida ao seu advogado, para que responda no prazo de 15 (quinze) dias, facultando-lhe juntar a documentação que entender necessária ao julgamento do recurso. Isso porque, ao conceder ao agravado a possibilidade de juntar documentos novos, que entender necessário ao julgamento do recurso, a doutrina entende que, em aplicação do princípio da isonomia, é possível que o agravante também assim o faça. A obrigatoriedade de instrução do agravo com um instrumento decorre do fato de esse recurso ser distribuído diretamente ao tribunal para o seu julgamento, permanecendo os autos principais no primeiro grau de jurisdição. O agravo de instrumento fará novos autos, não tendo os desembargadores acesso aos autos principais no julgamento do recurso. Conhecer a origem da exigência da instrução do processo é fundamental para entender a exceção prevista no art. 1.017, §5º: Art. 1.017. (…) §5º - Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam- se as peças referidas nos incisos I e II do caput, facultando-se ao agravante anexar outros documentos que entender úteis para a compreensão da controvérsia. Isso porque em sendo eletrônicos os autos é possível que o tribunal tenha acesso aos autos por ocasião do julgamento, sendo dispensável, portanto, que o agravante junte aos autos as peças obrigatórias e a declaração de inexistência de Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 33 documentos, permitindo a ele que anexe outros documentos que entender úteis para a compreensão da controvérsia. Registra-se que a dispensa prevista quanto à instrução do recurso não se limita aos incisos I e II, alcançado também as peças facultativas estabelecidas no inciso III. A cópia das peças que instruirão os autos, independentemente de sua natureza, dispensa a autenticação, cabendo ao advogado declarar tal autenticidade, o que não exige dele a declaração individualizada em cada peça, bastando uma declaração genérica no próprio corpo do agravo: Art. 425. Fazem a mesma prova que os originais: IV - as cópias reprográficas de peças do próprio processo judicial declaradas autênticas pelo advogado, sob sua responsabilidade pessoal, se não lhes for impugnada a autenticidade; No CPC de 73, a jurisprudência do STJ era no sentido de que todas as peças obrigatórias já deveriam ser apresentadas no momento da interposição do recurso, havendo a regra da preclusão consumativa para proibir a juntada posterior, nem mesmo quando apresentadas dentro prazo pela lei para o recurso. Esse entendimento não mais se aplica no atual CPC. O próprio CPC estabelece que antes de inadmitir o recurso, o relator tem o dever de intimar o recorrente para que tenha a oportunidade, no prazo de 05 dias, de complementar a documentação exigida: Art. 932. Incumbe ao relator: Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível. O estabelecido no parágrafo único do art. 932 vale para qualquer recurso, contudo, não satisfeito com essa disposição, estabeleceu um dispositivo próprio para o agravo de instrumento, também nesse sentido: Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 34 Art. 1.017: (...) §3º - Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, deve o relator aplicar o disposto no art. 932, parágrafo único. d) Peças obrigatórias Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída: I - obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado; As peças referidas no inciso I somente são obrigatórias se existirem efetivamente no caso concreto, uma vez que não se pode obrigar a juntada de peças que não compõem os autos principais no momento da interposição do recurso. Dessa forma, em sendo uma das partes a Fazenda Pública ou o Ministério Público, não há que se falar na juntada de sua procuração, que não existe. O CPC estabelece que eventual ausência de peça obrigatória deve ser declarada pelo patrono, sob pena de sua responsabilidade pessoal: II - com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal; Em relação a cópia de certidão de intimação da decisão recorrida, o STJ entende que, mesmo sendo obrigatória, é dispensável a sua apresentação, se for possível Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 35 a comprovação da tempestividade recursal de outras formas, como, por exemplo, quando entre a data da decisão e a interposição do recurso não se passou o prazo do recurso (Resp 1.278.731). e) Peças facultativas Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída: III - facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis. Nos termos do CPC, as peças facultativas são aquelas que o agravante reputar úteis ao processo. A permissão legal é ampla, permitindo-se a juntada de todas as peças que de alguma forma auxiliem o agravante a convencer os julgadores de suas argumentações recursais. A ausência de uma dessas peças não gera qualquer vício formal ao recurso, sendo perfeitamente possível que o agravante se sagre vitorioso no processo, mesmo sem tê-lo instruído com as peças facultativas. f) Peças essenciais Entre as peças facultativas, existem aquelas que não são somente úteis à pretensão do agravante, mas constituem pressupostos indispensáveis para que o tribunal consiga entender a questão que deverá enfrentar no julgamento do recurso. Assim, existem algumas peças que, apesarde não serem obrigatórias por expressa previsão legal, são essenciais para que o tribunal possua conhecimento mínimoa respeito do que está sendo tratado nos autos, considerando que ele não tem acesso aos autos principais durante o julgamento do agravo de instrumento. O STJ, na vigência do CPC de 73, pacificou o entendimento de que a ausência dessa espécie de Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 36 peça gera o não conhecimento do recurso, por sua inadmissibilidade, afirmando que a sua ausência torna o recurso inepto (Resp 471.930/SP). A doutrina entende, contudo, que antes da decretação de inadmissibilidade, deverá o relator realizar a intimação prévia do agravante e da concessão a ele de um prazo de 05 dias para juntada das peças que o relator ou o órgão colegiado entender como essenciais à compreensão da controvérsia. g) Informação da interposição do agravo perante o primeiro grau Art. 1.018. O agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo, de cópia da petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação dos documentos que instruíram o recurso. §1º - Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a decisão, o relator considerará prejudicado o agravo de instrumento. §2º - Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência prevista no caput, no prazo de 3 (três) dias a contar da interposição do agravo de instrumento. §3º - O descumprimento da exigência de que trata o §2º, desde que arguido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo de instrumento. A lei estabeleceu, no §3º, que, não sendo os autos eletrônicos, o agravante deverá informar o juízo, no prazo de 03 dias a contar da interposição do agravo, de sua propositura. Caso não seja informado ao juízo sobre a interposição do agravo nesse prazo, poderá o recurso de agravo não ser conhecido pelo tribunal, se o fato for arguido e provado pelo agravado até o final do prazo das contrarrazões (Resp 859.573/PR) ou no primeiro momento em que falar nos autos (Resp 594.930/SP). Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 37 Trata-se de um pressuposto de admissibilidade do agravo dependente de manifestação da parte, já que só haverá a inadmissibilidade aqui se o fato for alegado e provado pela parte contrária. A comprovação do descumprimento pelo descumprimento da norma pelo agravante poderá ser feita pelo agravado da seguinte maneira: a) não havendo qualquer informação nos autos principais, o fará por meio de certidão a ser obtida junto ao cartório judicial; b) havendo informação intempestiva, a prova será produzida de forma mais simples, com a mera juntada da cópia da peça de informação. h) Procedimento 1º Propositura O recurso de agravo de instrumento tem o prazo geral de interposição de 15 dias (Art. 1.003, §5º, CPC), sendo competência do tribunal de segundo grau (TJ ou TRF). O CPC previu, de forma exemplificativa, quatro formas de interposição do agravo de instrumento: Art. 1.017. (…) §2º - No prazo do recurso, o agravo será interposto por: I - protocolo realizado diretamente no tribunal competente para julgá-lo; II - protocolo realizado na própria comarca, seção ou subseção judiciárias; III - postagem, sob registro, com aviso de recebimento; IV - transmissão de dados tipo fac-símile, nos termos da lei; Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 38 2º Distribuição O agravo de instrumento, independentemente de sua forma de interposição, será distribuído imediatamente a um relator no tribunal competente para seu julgamento. Na falta de um prazo previsto especificamente pela lei, a doutrina entende que a distribuição deverá ocorrer no prazo de 48 horas. 3º Negativa de seguimento liminar Após a distribuição do agravo de instrumento, o relator poderá, como primeira opção, negar seguimento ao recurso de forma monocrática, desde que presente ao caso uma ou mais situações previstas nos incisos III e IV, do art. 932 do CPC: Art. 932. Incumbe ao relator: (…) III - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida; IV - negar provimento a recurso que for contrário a: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; A decisão do relator poderá ter por objeto a negativa de conhecimento (juízo de admissibilidade), prevista no inciso III, do art. 932, ou o não provimento (juízo de mérito), previsto no inciso IV. Tal decisão monocrática, que coloca fim ao processo de agravo de instrumento, é recorrível por agravo interno para o órgão colegiado, no prazo de 15 dias, nos termos do art. 1.021, do CPC. 4º Tutela de urgência Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 39 Não sendo o caso de negativa de seguimento liminar o relator analisará o pedido de tutela de urgência, desde que haja pedido expresso nesse sentido, sendo vedada sua concessão de ofício. Art. 1.019. Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído imediatamente, se não for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV, o relator, no prazo de 5 (cinco) dias: I - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão; 5º Intimação para apresentação de contrarrazões Art. 1.019. (…) II - ordenará a intimação do agravado pessoalmente, por carta com aviso de recebimento, quando não tiver procurador constituído, ou pelo Diário da Justiça ou por carta com aviso de recebimento dirigida ao seu advogado, para que responda no prazo de 15 (quinze) dias, facultando-lhe juntar a documentação que entender necessária ao julgamento do recurso; 6º Oitiva do Ministério Público Art. 1.019. (…) III - determinará a intimação do Ministério Público, preferencialmente por meio eletrônico, quando for o caso de sua intervenção, para que se manifeste no prazo de 15 (quinze) dias. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 40 O disposto nesse inciso somente se aplica aos casos em que o MP atua como fiscal da ordem jurídica. Caso o MP autue no processo, será agravante ou agravo e já terá se manifestado nos autos. 7º Julgamento do Agravo Art. 1.020. O relator solicitará dia para julgamento em prazo não superior a 1 (um) mês da intimação do agravado. O prazo de um mês previsto no art. 1.020 para julgamento do agravo é impróprio, não havendo qualquer nulidade caso haja a superação do prazo. Em respeito ao princípio do contraditório, as partes devem ser intimadas da inclusão no recurso na pauta do julgamento. III) Agravo contra as decisões interlocutórias de 2º grau III.1) Agravo interno a) Cabimento Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal. Nos termos da lei, toda decisão monocrática proferidapelo relator pode ser impugnada por recurso de agravo interno, dirigido para o respectivo órgão colegiado, é dizer, para o órgão que teria proferido o julgamento colegiado caso não tivesse ocorrido o julgamento unipessoal do relator. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 41 Isso ocorre porque, para facilitar o procedimento ou em razão da urgência da situação, o relator recebe uma delegação legal para agir em nome do órgão colegiado. Em razão do “caput” do art. 1.021 não fazer qualquer distinção, o agravo interno será cabível quando houver decisão monocrática do relator em julgamento de qualquer espécie de recurso, ação ou reexame necessário. Ademais, não havendo restrição na lei, é irrelevante a natureza da decisão monocrática, podendo ela ser uma decisão interlocutória ou até mesmo uma decisão final. b) Procedimento Art. 1.021. (…) §1º - Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os fundamentos da decisão agravada. Nos termos do §1º, não basta ao recorrente apenas repetir os argumentos contidos no recurso ou pedido julgado monocraticamente. É preciso que ele impugne de forma especificada os fundamentos da decisão agravada. O agravo deverá ser dirigido a um relator, o qual deverá determinar a intimação do agravado para se manifestar no prazo de 15 dias: §2º - O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para manifestar-se sobre o recurso no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual, não havendo retratação, o relator levá-lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta. É possível que ocorra o juízo de retratação, fenômeno processual típico de qualquer recurso de agravo. Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 42 §3º - É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão agravada para julgar improcedente o agravo interno. Relator do agravo interno não pode simplesmente "copiar e colar" a decisão agravada: É vedado ao relator limitar-se a reproduzir a decisão agravada para julgar improcedente o agravo interno. O novo CPC proibiu expressamente esta forma de decidir o agravo interno (art. 1.021, § 3º) (STJ –REsp 1.622.386-MT) §4º - Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará o agravante a pagar ao agravado multa fixada entre um e cinco por cento do valor atualizado da causa. A redação legal do §4º faz parecer que o mero julgamento de improcedência do recurso, em julgamento unânime, já seria suficiente para fazer incidir a multa prevista no artigo. A doutrina, contudo, entende que não é possível sancionar um legítimo exercício de direito processual tão somente porque a pretensão foi unanimemente rejeitada. Dessa forma, não basta apenas que o recurso seja julgado improcedente de forma unânime, é necessário que a improcedência também seja manifesta: Enunciado nº 358 do FPPC: A aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, exige manifesta inadmissibilidade ou manifesta improcedência. Existe, contudo, uma hipótese em que, mesmo que haja manifesta improcedência do recurso, não será possível a aplicação da multa. Em algumas Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 43 situações, a interposição de agravo interno no tribunal poderá ser a única forma de legitimar o uso dos recursos especial ou extraordinário pelo agravante. Sendo o agravo interno uma espécie de recurso ordinário e exigindo o esgotamento das vias ordinárias para o manejo os recursos extraordinários, poderá não haver alternativa ao agravante que não seja o manejo do agravo interno. Diante dessa exigência do sistema recursal, os tribunais devem se limitar a punir o agravante na hipótese de manifesta inadmissibilidade de seu recurso. Entende-se por manifesta inadmissibilidade, a ausência flagrante e indiscutível de um dos pressupostos de admissibilidade recursal, é dizer, um vício formal que se pode notar de plano, sem maiores dificuldades. §5º - A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito prévio do valor da multa prevista no § 4ª, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que farão o pagamento ao final. Os §§ 4º e 5º estabelecem uma dupla sanção ao agravante: a) a aplicação de multa a ser fixada entre 1% a 5%, do valor atualizado na causa. Para a fixação da multa deverá se analisar o grau de abuso do recurso. b) condicionar o depósito do valor da multa em juízo para que futuros recursos sejam recebidos, criando-se um pressuposto de admissibilidade recursal específico para essa situação. Todos estão sujeitos à aplicação da multa, mas em relação ao condicionamento do depósito do valor da multa em juízo, o CPC dispensou a Fazenda Pública e o beneficiário da justiça gratuita, que deverão fazer o pagamento da multa apenas ao final do processo. Essa regra é contrária ao entendimento do STJ no CPC de Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 44 73, o qual considerava que a Fazenda e os beneficiários da justiça gratuita deveriam realizar o depósito prévio do valor da multa. Em que pese o §5º não mencione o Ministério Público, a doutrina entende que ele também estaria dispensado do depósito prévio, uma vez que quem suporta o ônus da condenação do MP é a Fazenda Pública, Estadual ou Federal. Assim, em sendo a Fazenda isenta do depósito, também o será o Ministério Público. III.2) Agravo em recurso especial e recurso extraordinário Em sua redação originária, o CPC/2015 extinguia o agravo do art. 544 do CPC de 73, já que o tribunal de 2º grau, ao menos em regra, não mais fazia o juízo de admissibilidade dos recursos especial e extraordinário, limitando-se a intimar o recorrido para apresentação de contrarrazões. Contudo, antes mesmo de sua entrada em vigor, o novo CPC foi alterado, tendo sido reintroduzida no sistema a competência dos tribunais de 2º grau para realizar o juízo de admissibilidade dos recursos especiais e extraordinários. Assim, caso o presidente ou o vice-presidente do tribunal realize um juízo negativo dos recursos especiais ou extraordinário, proferindo decisão monocrática que nega seguimento os recursos, caberá o recurso de agravo interno para o próprio tribunal, ou agravo em recurso especial ou extraordinário, para os tribunais superiores: Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo quando fundada na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos. Quem define o cabimento do agravo do art. 1.042 do CPC, são os §§ 1º e 2º do art. 1.030, do mesmo diploma legal: Curso de Prática Jurídica Cível Aula 2 |Tema: Recursos| Professora: Roberta Ramos 45 Art. 1.030. (...) §1º - Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso V caberá agravo ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042. §2º - Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno, nos termos do art. 1.021. Assim, caberá agravo interno das seguintes decisões: Art. 1.030. (...) I – negar seguimento: a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional
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