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Direito Processual Civil III - caderno

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Fernanda Kraychete
DIREITO PROCESSUAL CIVIL III 
Priscilla de Jesus
e-mail: priscilla_sjesus@hotmail.com
DA ORDEM DOS PROCESSOS NO TRIBUNAL
Introdução
O CPC de 2015 tem um capítulo que trata do que se chama de ordem dos processos no tribunal. Ele é composto dos arts. 929 a 946, e esses dispositivos disciplinam a tramitação de quaisquer processos no âmbito de qualquer tribunal (ação originária, remessa necessária, incidentes, etc.).
Ao lado desses dispositivos, somam-se os regimentos internos dos tribunais. Os regimentos internos também disciplinam a tramitação de processos no tribunal. Esses regimentos disciplinam não apenas a tramitação, não apenas a parte procedimental, mas também tratam de competência dos órgãos fracionários do tribunal.
O tribunal é um órgão formado por vários outros. Esses órgãos fracionários têm competências internas previstas nos regimentos. A competência do tribunal em si é disciplinada por lei em sentido amplo, especificamente nas constituições, federal e estaduais. Entretanto, a competência interna, dos seus órgãos fracionários, tem previsão no seu regimento interno.
Então, o CPC e os regimentos internos dão a base para o estudo do tema da ordem dos processos no tribunal. 
Protocolo, registro e distribuição
Art. 929. Os autos serão registrados no protocolo do tribunal no dia de sua entrada, cabendo à secretaria ordená-los, com imediata distribuição.
Esse dispositivo trata de três eventos que acontecem no tribunal quando uma ação, recurso ou incidente lá chega: protocolo, registro e distribuição. 
Quando o processo chega no tribunal, independentemente de qual seja esse processo, em primeiro lugar haverá o protocolo desse processo no tribunal, o processo será protocolado. A finalidade do protocolo é a identificação da data em que o processo é apresentado no tribunal
O protocolo nada mais é do que um livro oficial, só que esse livro pode ser físico ou eletrônico. 
Parágrafo único. A critério do tribunal, os serviços de protocolo poderão ser descentralizados, mediante delegação a ofícios de justiça de primeiro grau.
Desse dispositivo se extrai que o protocolo poderá ser feito diretamente no tribunal ou em ofícios da justiça de primeiro grau, se houver na localidade, a descentralização no serviço de protocolo. Então, o protocolo poderá ser feito diretamente no tribunal, ou então poderá ser feito em ofícios da justiça de primeiro grau, se houver essa descentralização de protocolo.
Ex: admite-se que o requerimento de expedição de precatório seja protocolado no ofício de justiça de primeiro grau, e este ofício remeterá o requerimento ao tribunal, que é o órgão competente para dar prosseguimento ao precatório. 
Ex: na justiça federal de primeiro grau pode protocolar recursos volumosos e a própria justiça de primeiro grau manda para o TRF. 
Após o protocolo, o processo será registrado no tribunal. O registro deve ser feito no mesmo dia em que realizado o protocolo, e o registro tem como finalidade tornar pública a apresentação do processo no tribunal. A partir do registro, a sociedade e as partes já podem tomar ciência de que um processo foi iniciado no tribunal
Depois do registro deve ser feita a distribuição. A distribuição deve observar a alternatividade, o sorteio eletrônico e a publicidade. Em primeiro lugar, a distribuição tem que ser feita imediatamente depois do registro. Além disso, a distribuição deve ser alternada. Exige-se alternatividade para que haja uma distribuição equânime dos trabalhos entre os órgãos do tribunal, para que um órgão não fique mais sobrecarregado do que o outro. 
Além de ser alternada, é preciso que a distribuição seja aleatória. A distribuição alternada e aleatória é atingida através de um sorteio: os processos distribuídos no tribunal serão sorteados para que se garanta a alternatividade e a aleatoriedade. Exige-se a aleatoriedade para que não haja burla ao princípio do juiz natural. 
Pode-se dizer, então, que a distribuição tem como finalidade salvaguardar o juiz natural, mas também tem como finalidade dar publicidade à vinculação de um processo a determinado órgão fracionário e/ou a determinado julgador, que normalmente é chamado de relator. É com a distribuição e somente a partir dela que se consegue identificar o órgão julgador e o relator ao qual o processo se vincula
OBS: em tese, o protocolo, o registro e a distribuição devem acontecer na mesma data, e devem acontecer imediatamente após a apresentação do processo. 
Conexão e prevenção
Também é possível se falar em conexão no âmbito de processos que tramitam no tribunal. Em relação às ações originárias (de competência do tribunal), aplica-se o regime da conexão padrão. Contudo, em relação aos incidentes, aplica-se o parágrafo único do art. 930.
Art. 930. Far-se-á a distribuição de acordo com o regimento interno do tribunal, observando-se a alternatividade, o sorteio eletrônico e a publicidade.
Parágrafo único. O primeiro recurso protocolado no tribunal tornará prevento o relator para eventual recurso subsequente interposto no mesmo processo ou em processo conexo.
Se em um processo foi interposto um agravo de instrumento, foi distribuído e caiu para um desembargador X. posteriormente a este julgamento, foi interposta uma apelação (outro recurso nesse mesmo processo). A apelação, portanto, irá para o primeiro relator, em razão do art. 930
Havendo prevenção do relator, os recursos subsequentes serão distribuídos por dependência ao mesmo relator, que já recebeu o primeiro recurso relativo àquele processo ou ao processo conexo. 
OBS: conexão é uma relação de afinidade que as causas possuem
Em regra, a competência dos órgãos do tribunal (órgãos fracionários), inclusive do relator, é uma competência em razão da matéria, em regra, e, em alguns casos, em razão da pessoa, que são exemplos de competências absolutas. 
Quando há a prevenção, a competência do relator é funcional: o legislador entende que como ele já conhece o caso, já julgou recurso referente ao mesmo caso e, em razão disso, ele deverá melhor exercer as funções nesse caso. Destaca-se que a competência funcional também é uma competência absoluta
Prevenção é uma técnica para definir um juiz competente dentre vários relativamente/abstratamente competentes. 
OBS: a conexão gera a prevenção. Recursos conexos são recursos interpostos num mesmo processo ou em processos conexos, segundo a lei. Em havendo recursos conexos, haverá a prevenção do relator que recebeu o primeiro recurso. 
Em havendo prevenção, o recurso será distribuído por dependência e será encaminhado para o mesmo relator, que terá competência funcional e, portanto, absoluta. Entretanto, apesar de se tratar de competência absoluta, as partes e o MP só poderão suscita-la até antes do julgamento do processo. O órgão julgador também pode conhecer de ofício, também até antes de ele julgar. 
A incompetência absoluta pode ser alegada a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição. Entretanto, no tribunal é preciso que a incompetência absoluta seja alegada até antes do julgamento, sob pena de preclusão. Entretanto, se a incompetência for em razão da pessoa ou da matéria, continua podendo ser alegada a qualquer tempo, só existe exceção para a incompetência por função.
OBS: litispendência é a identidade entre ações, tríplice identidade: quando mais de uma ação tem mesmas partes, causa de pedir e pedido, e uma delas deve ser extinta (aquela que foi protocolada depois). Na conexão há um vínculo de semelhança e, em razão disso, a lei traz consequências. A primeira delas é a reunião dos processos no juízo prevento
Em tese, a conexão e a prevenção são instrumentos mais importantes para o tribunal, de economia de função e tempo, pois o julgador prevento já conhece o caso e economiza tempo e trabalho. em tese, não haver a prevenção não é prejudicial para as partes, pois elas receberão ainda assim a prestação jurisdicional
Essa mesma regra de prevenção e conexão vem sendo aplicada aos mandados de segurança impetradoscontra decisão judicial. Mandados de segurança conexos, de competência originária do tribunal, contra decisões do mesmo processo, serão julgados pelo mesmo relator
Os mandados de segurança conexos ocorrem quando são impetradas contra decisões de um mesmo processo. 
No âmbito dos recursos dos incidentes em tribunal, o relator continuará prevento mesmo que ele já tenha julgado ou inadmitido o primeiro recurso recebido. No regramento da conexão em primeiro grau você só pode reunir processos conexos até o momento da sentença. Aqui nos recursos, ainda que o recurso já tenha sido julgado, o relator continuará prevento
Conceitos fundamentais: voto, julgamento, acórdão e ementa
O tribunal é um órgão colegiado e, internamente, ele é formado por vários órgãos fracionários que também são colegiados, ou seja, o tribunal é formado internamente por órgãos fracionários compostos por vários julgadores. 
Em razão disso, os julgamentos que ocorrem no tribunal são, em regra, colegiados. No julgamento colegiado, são apresentados votos por todos os julgadores
Os votos são as manifestações dos julgadores que fazem parte do órgão fracionário do tribunal. Esses votos formam o que se chama de acórdão. 
O acórdão nada mais é do que uma decisão colegiada, que é composta por vários votos, por várias manifestações dos julgadores. O termo acórdão, como o próprio nome sugere, vem da expressão “chegar a um acordo”. Na verdade, o acórdão é uma reunião de votos vencedores que apontam na mesma direção
O CPC de 2015 criou uma ficção jurídica e passou a prever que o acórdão também será composto pelo voto vencido, pelo voto divergente. Sendo assim, o voto vencido também faz parte do acórdão para todos os efeitos, inclusive para fins de prequestionamento.
O voto vencido tem algumas finalidades no julgamento. A primeira delas é orientar a futura superação de entendimento de um tribunal. A segunda finalidade é revelar que determinada questão ainda não está pacificada, e que continua sendo objeto de discussão. 
Há duas espécies de voto vencido. Há o voto vencido em que o julgador apenas discorda do resultado em que chegou o voto vencedor, sem questionar as suas razões. Esse voto vencido não tem muita importância, sobretudo do ponto de vista da formação dos precedentes e da superação dos precedentes, porque ele não afasta as razões do voto vencedor, apenas discorda do resultado, mas sem rebater ponto a ponto as razões do voto vencedor. 
Por outro lado, há o voto vencido em que o julgador discorda do resultado, rebatendo um a um os fundamentos do voto vencedor. Esse sim é o voto vencido que consegue atender às finalidades de orientar a superação de entendimento do tribunal, e de informar para a sociedade que aquela questão ainda não está pacificada. Então, essa é a hipótese de precedente que importa para a teoria de formação e superação de precedentes. 
Há ainda decisões em que os julgadores concordam com o resultado, mas apresentam fundamentos diferentes. Essas decisões são chamadas de decisões plurais, e esses votos são votos concorrentes: o resultado é unanime, mas os fundamentos são variados, o que gera uma fragilidade no acórdão. 
Por isso, Freddie sugere que nos precedentes formados por IRDR, por incidente de assunção de competência e incidente de arguição de inconstitucionalidade do tribunal, o relator deve redigir uma sugestão de acórdão e deverá disponibilizar para os outros julgadores, para que esses outros julgadores complementem e se chegue a uma real unanimidade. 
A decisão do tribunal, decisão colegiada, independente do seu conteúdo, será chamada de acórdão. Essa decisão, assim como qualquer outra, tem que ter relatório, fundamentação e dispositivo. 
Além disso, o acórdão tem que ter ementa. A ementa também é parte do acórdão, é uma parte do acórdão criada depois de encerrado o julgamento, que resulta no acórdão. A ementa é um resumo do acórdão. Nela, devem ficar claras todas as discussões a respeito das questões fáticas e jurídicas ocorridas no acórdão. Além disso, a ementa deverá indicar os fundamentos determinantes do acórdão, a tese adotada no acórdão. 
Se existirem fundamentos distintos, todos devem ser indicados, ou então um voto médio, uma média ponderada dos votos. O voto vencido não aparece na ementa, só no acórdão. 
A falta da ementa não gera invalidade do acórdão, porque a ementa é posteriormente ao julgamento, ela não interfere na sua validade, não gera nulidade. Entretanto, a falta da ementa poderá ser matéria de embargos de declaração de alguma parte, a parte embarga para que haja complementação do acórdão. 
A falta da ementa poderá ensejar a nulidade da intimação do julgamento ou do acórdão. Pode ser que, em razão da falta da ementa, as partes não tenham condições de identificar que seu prazo para eventual recurso está correndo.
Depois do julgamento, publica-se o que se chama de resenha do julgamento. Depois disso, o relator ficará com a atribuição de lavrar o acórdão, escrevê-lo. Depois da redação do acórdão será publicada a ementa e, a partir daí, será possível contar o prazo para interposição de eventual recurso. 
O CPC prevê que não havendo publicação do acórdão em 30 dias, serão publicadas as notas taquigráficas e, a partir disso contará o prazo para recurso. Notas taquigráficas são os registros do escrevente no momento do julgamento.
Art. 944. Não publicado o acórdão no prazo de 30 (trinta) dias, contado da data da sessão de julgamento, as notas taquigráficas o substituirão, para todos os fins legais, independentemente de revisão.
Parágrafo único. No caso do caput, o presidente do tribunal lavrará, de imediato, as conclusões e a ementa e mandará publicar o acórdão. 
Tutela provisória: 
Art. 299. A tutela provisória será requerida ao juízo da causa e, quando antecedente, ao juízo competente para conhecer do pedido principal.
É possível formular pedido de tutela provisória no Tribunal. Esse pedido pode ser formulado em ações de competência originária do tribunal (MS, Reclamação Constitucional) e também em sede de recurso. 
O pedido de tutela provisória no Tribunal deve ser dirigido ao Relator, e a decisão proferida pelo Relator sobre esse pedido é recorrível, que será o Recurso de Agravo Interno. 
Ao formular o pedido de tutela provisória, devem ser demonstrados os requisitos de fumus bonis de iuris, periculum in mora, ou seja, os requisitos das verossimilhanças das alegações e do perigo da demora. Esse pedido pode ser formulado incidentalmente (depois de interposto o recurso ou iniciada a ação), mas também pode ser antecedente (antes de iniciar a ação). 
*Não há uma previsão literal no CPC no sentido de que cabe tutela provisória em caráter antecedente em sede de recurso, mas parece ser possível. 
A tutela provisória no Tribunal pode ser como objetivo a obtenção de um efeito suspensivo, mas também pode ter como objetivo uma providência que tenha sido já negada. Nesses casos, fala-se em busca do efeito ativo. 
Ex. uma pessoa é condenada em R$ 10.000,00 em sede de sentença. Interpõe apelação, e terá efeito suspensivo. A sentença foi mantida, condenando. A pessoa entra com Resp/ReEx, que não tem efeito suspensivo. Por isso, a pessoa pode pedir a tutela provisória no tribunal. Será o efeito suspensivo da tutela provisória, pois o objetivo é que não produza efeitos. 
Ex. Impetra-se MS contra ato ilegal da administração pública que inabilitou ilegalmente um licitante, formulando o pedido de tutela provisória para que suspenda-se os efeitos ou que permita que ele participe da fase seguinte. Mas a tutela provisória é negada (decisão interlocutória), e interpõe um agravo de instrumento, com uma tutela provisória com o pedido que foi negado. 
Produção de provas:
É possível que sejam produzidas provas no Tribunal, tanto em ações de competência originária quanto em recursos que tramitam no Tribunal. 
O Tribunal não apenas revisa eventuais provas produzidas no processo, mas também pode produzir novas provas. 
Existem alguns fundamentospara se reconhecer o poder instrutório ao Tribunal. 
O primeiro fundamento é o art. 370 do CPC: Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito.
Os membros do Tribunal (desembargadores e ministros) também são juízes, então também se aplica esse dispositivo a eles. Ainda, deve ser interpretado em conjunto com o art. 932, I: Art. 932. Incumbe ao relator: I - dirigir e ordenar o processo no tribunal, inclusive em relação à produção de prova, bem como, quando for o caso, homologar autocomposição das partes;
Segundo fundamento: no curso do processo, é possível suscitar fatos supervenientes, que ocorreram após iniciado o processo, inclusive no Tribunal. Se o fato superveniente depender de prova, é preciso que o Tribunal exerça o seu poder instrutório, com base no contraditório e na ampla defesa. O CPC fala na possibilidade de suscitar fatos supervenientes. 
O terceiro fundamento é o art. 435 do CPC: Art. 435. É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos novos, quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos. Fala-se apenas em prova documental, mas tem que ser possível qualquer tipo de prova no tribunal. 
A doutrina traz, mas os Tribunais são contrários à produção de provas. 
Relator:
O Tribunal é um órgão colegiado formado por vários órgãos fracionários que também são colegiados. E existe uma razão de ser do Tribunal ser um órgão colegiado, porque lá as decisões proferidas, em regra, devem ser colegiadas. Porém nem todas as providências referentes a cada processo que tramita no Tribunal serão adotadas de forma colegiada. Às vezes, um membro específico do Tribunal, em cada caso, ficará com uma atribuição de adotar algumas providências específicas, e esse membro é o Relator. 
O Relator é uma figura que concentra algumas atribuições próprias. O relator é aquele que primeiro analisa a causa, que compreende a controvérsia, elaborando o que se chama de relatório. Além disso, é o Relator que adota providências referentes ao saneamento de vícios no processo (ex. falta de procuração, devendo intimar para que o advogado do recorrente supra o vício). Também é o responsável pela produção de provas, se for necessário. É o relator que analisa o pedido de tutela provisória. 
Nas ações de competência originária, o relator tem ainda mais atribuições, sendo responsável por deferir ou indeferir a petição inicial, podendo julgar liminarmente improcedente o pedido, e determinar a citação do réu. 
Para que o relator possa exercer essas atribuições, a ele precisam ser reconhecidos alguns poderes: (i) o primeiro poder é o poder de organização e gestão do processo, e no exercício desse poder, alguns atos serão praticados pelo relator, um deles será a intimação do Ministério Público para fazer intervenção no processo em tribunal, também será ele quem delimita os poderes do amicus curiae, dilação de prazos processuais e inverter a ordem de produção de provas no processo, previne e reprime; (i) o segundo poder é o instrutório, é ele quem conduz a produção de provas; (iii) o terceiro poder é o decisório. 
No exercício do poder decisório, o relator proferirá algumas decisões: 
Em primeiro lugar, o relator homologará autocomposição que seja celebrado no âmbito do tribunal. A autocomposição pode ocorrer a qualquer tempo no processo, e o juiz deve sempre estimular. Quando a autocomposição acontece no primeiro grau, ela será homologada por sentença, mas pode ser que não haja composição até antes da sentença, e que o acordo seja celebrado depois de proferida a sentença. Se isso acontecer, a competência para homologação desse acordo será do relator do tribunal, se ainda houver prazo recursal. Se não houver prazo recursal (se a sentença tiver trânsito em julgado), advindo o acordo, o acordo será homologado pelo juízo da execução (primeiro grau). 
Em segundo lugar, o relator apreciará o benefício da justiça gratuita. Se o relator indeferir, cabe o recurso de Agravo Interno. Se o relator deferir o benefício da justiça gratuita, não cabe recurso, apenas caberá um pedido de revogação do beneficio. 
Em terceiro lugar, no exercício do poder decisório, o relator apreciará pedido de tutela provisória, proferindo uma decisão recorrível por agravo interno. 
Em quarto lugar, o relator julgará prejudicado, ou inadmitirá recursos. Quando o relator declara prejudicado um recurso, ele, em realidade, está inadmitindo um recurso em razão da ocorrência de um fato superveniente, que inviabiliza o julgamento do mérito recursal. Também há inadmissão quando o recurso não questiona especificamente as questões da decisão recorrida, entre outras razões. 
Havendo algum vício sanável que enseje a inadmissão do recurso, antes de que seja inadmitido o recurso, o recorrente deverá ser intimado para que ele corrija o vício, ou preste informações. 
Existe também no Tribunal um direito à emenda do recurso. Esse direito à emenda tem algumas características: 
(i) será exercido quando existir um vício sanável, não cabendo, por exemplo, a falta de interesse recursal e a falta de repercussão geral no Recurso Extraordinário; (ii) no exercício desse direito, não é possível modificar causa de pedir e pedido recursais; (iii) é preciso que seja oportunizado o exercício desse direito antes da inadmissão do recurso; (iv) o relator concederá um prazo de 5 dias para que o vício seja sanado. 
Em quinto lugar, no exercício do poder decisório, o relator poderá julgar sozinho o mérito do recurso, dando ou negando o provimento a ele. Em regra, o recurso tem que ser julgado de forma colegiada. Em situações específicas, o relator poderá julgar sozinho, para acolher o recurso ou para não acolhê-lo. 
O relator poderá julgar sozinho para negar provimento ao recurso, independentemente de intimação do recorrido para contrarrazões, quando o recurso for contrário à súmula do STF, STJ ou de Tribunal local; quando o recurso for contrário a decisões proferidas pelo STJ e STF no julgamento de recursos repetitivos; e quando o recurso for contrário a decisões proferidas em incidente de resolução de demanda repetitiva e de assunção de competências. Ou seja, se o recurso contrariar precedentes obrigatórios. 
Em sexto lugar, o relator também poderá proferir decisões finais no exercício da sua competência originária. O relator pode julgar um mandado de segurança indeferindo totalmente a petição inicial. Ele também poderá proferir decisões parciais de mérito. 
Em sétimo lugar, no exercício do poder decisório, o relator também poderá proferir pronunciamentos com conteúdos interlocutórios. Ex. autorizar uma intervenção de terceiros, o ingresso de um assistente simples, ingresso do amicus curiae. 
Proibição de decisão surpresa: 
O art. 10 do CPC diz que o juiz não pode julgar em grau algum de jurisdição a respeito de fato ou de direito em relação aos quais as partes não falaram, ainda que a questão possa ser conhecida de ofício. Desse dispositivo, se extrai o princípio do contraditório que veda a prolação de decisão surpresa. Esse dispositivo se aplica também no âmbito do tribunal, e se aplica em conjunto com o art. 933: 
Art. 933. Se o relator constatar a ocorrência de fato superveniente à decisão recorrida ou a existência de questão apreciável de ofício ainda não examinada que devam ser considerados no julgamento do recurso, intimará as partes para que se manifestem no prazo de 5 (cinco) dias.
Embora o 933 fale apenas sobre fatos supervenientes, ele deve ser interpretado de forma ampla para abarcar qualquer questão suscitada no tribunal, ou conhecida de ofício pelo juiz em relação às quais não tenha havido manifestação das partes, sob pena de violação ao contraditório. 
Julgamento:
9.1. Colegialidade das decisões: Em regra, as decisões do tribunal são colegiadas e as decisões são proferidas em sua sede, mas é possível que as decisões sejam proferidas em ambiente eletrônico.9.2. Composição dos órgãos fracionários/órgão julgador do tribunal: 
O poder judiciário possui uma estrutura hierarquizada, inclusive sendo composto por instâncias. Juízes, desembargadores e ministros são todos magistrados. Mas os desembargadores e os ministros chegam a tal posição depois que passam por promoções na carreira (merecimento/tempo). 
Por conta disso, tem-se que o órgão julgador no tribunal deve ser composto por magistrados que tenham passado por essa promoção na carreira. O tribunal local deve ser composto por desembargadores, e não por juízes de primeiro grau. Apesar disso, existem decisões no STJ e no STF no sentido de que não ofende o princípio do juiz natural o fato de um órgão julgador no tribunal ser composto, por sua maioria, por juizes de primeiro grau convocados, desde que sejam respeitados os atos normativos gerais e abstratos que tratam dessa convocação. 
9.3. Relatório, Pauta, Publicação e Julgamento:
Quando o processo chega no tribunal, ele será registrado, distribuído e encaminhado ao relator. O relator tomará conhecimento da controvérsia e vai elaborar o relatório. Quando o relator tem o primeiro contato com o processo, ele fica vinculado ao processo e deve participar do julgamento do caso.
Depois de feito o relatório, o processo será encaminhado para a secretaria do órgão e, após o pedido do presidente do órgão, será incluído em pauta para julgamento. Essa pauta de julgamento tem que ser publicada no Diário Oficial e deve se respeitar uma anterioridade, devendo a pauta ser publicada com, pelo menos, 5 dias de antecedência da data em que designada a sessão de julgamento, além de ser afixada na sala em que será realizada. Se a pauta não for publicada ou se esse prazo não for respeitado, pode-se questionar a validade do julgamento. Também poderá ser questionada se a pauta não for publicada em nome de todas as partes e seus respectivos advogados. Mas somente ocorrerá essa invalidade se houver efetivamente o prejuízo.
Existem algumas situações em que não é obrigatória a publicação da pauta de julgamento. A primeira situação ocorre quando opostos embargos de declaração, eles forem julgados na primeira sessão do órgão, não haverá necessidade de inclusão ou publicação do julgamento. A segunda situação ocorre se o julgamento for anulado ou adiado, sendo o processo decidido ou julgado na sessão seguinte, não haverá necessidade de inclusão ou publicação na pauta. 
Uma vez publicada a pauta de julgamento, nada impede que as partes tenham acesso aos autos do processo, até porque elas podem querer preparar a sustentação oral, mas deverá ser feita na secretaria/cartório do tribunal. 
A pauta a ser publicada no diário oficial precisa indicar o dia e a hora do julgamento, para que as partes possam comparecer acompanhadas de seus advogados. 
9.4. Sustentação oral: 
Na sessão de julgamento será assegurado o direito de sustentação oral. A sustentação oral garante o exercício do contraditório e da ampla defesa nos julgamentos no tribunal. O art. 937 do CPC diz que na sessão de julgamento, depois da exposição da causa pelo Relator, o Presidente do Órgão fracionário dará a palavra, sucessivamente, ao recorrente, ao recorrido e, nos casos de intervenção, ao membro do MP, pelo prazo improrrogável de 15 minutos para cada um, com o objetivo de que sustentem suas razões. 
Diz o art. 937 que a parte pode sustentar oralmente as suas razões no tribunal. Tanto o recorrente como o recorrido pode fazer sustentação oral, que é feita pelo advogado da parte, por ter capacidade postulatória. Nunca houve dúvida que o recorrente tem o direito de sustentar oralmente no tribunal. Por outro lado, em relação ao recorrido, no CPC/39 dizia-se que o recorrido não podia fazer sustentação oral se ele não tivesse apresentado contrarrazões ao recurso do seu adversário. No CPC/73, o recorrido passou a poder fazer sustentação oral, independentemente de ter apresentado contrarrazões, fazendo a sustentação oral com base na sentença, que lhe foram favoráveis. Também o CPC/2015 vem nessa linha, de modo que, hoje, o recorrido pode fazer sustentação oral, independentemente de ter apresentado contrarrazão. 
Além do recorrido, o Ministério Público também poderá apresentar sustentação oral quando ele atuar como fiscal da ordem jurídica. Também terá esse direito se ele for parte do processo, mas há quem diga que o Ministério Público como parte não poderá fazer sustentação oral se, no caso, houver intervenção de outro órgão do Ministério Público como fiscal da ordem jurídica. 
Também pode sustentar oralmente os terceiros que tenham feito intervenção no processo, virando parte, através do seu advogado. A sustentação oral ocorrerá depois da exposição da causa pelo relator e antes de que seja proferido o voto por ele. O presidente dá a palavra a quem vai sustentar e, posteriormente, os julgadores irão proferir seus votos (se a outra parte não for sustentar oralmente). Primeiro será dada a voz ao recorrente, depois ao recorrido e por ultimo o Ministério Público como fiscal da ordem jurídica, conferindo a cada um 15 minutos.
Se no processo existir litisconsortes representados por advogados distintos, vinculados a escritórios de advocacia distintos, o prazo de 15 minutos será dobrado para 30 minutos sendo divididos para todos, mesmo que o processo seja digital. Essa regra de prazo em dobro ela só se aplica, de acordo com o CPC, nos casos de processos físicos, mas quando o processo é digital, a regra do prazo em dobro não se aplica. 
O pedido de sustentação oral pode ser formulado por escrito ou oralmente. Se for formulado por escrito, o pedido deverá ser protocolado nos autos do processo, e deverá ser juntado aos autos, para que o órgão saiba que haverá sustentação e se programe. Os regimentos internos dos tribunais informam o prazo de antecedência para que seja formulado o pedido, que geralmente de 2 dias. 
Até antes do início da sessão de julgamento poderá ocorrer o pedido de sustentação oral ao Presidente do órgão, se for um pedido oral. Os tribunais, no entanto, estabelecem na própria pauta que é publicada que os pedidos de sustentação oral deverão ser feitas 30 minutos antes do início da sessão. 
Não é em todo recurso que cabe sustentação oral. Ela geralmente é cabível na Apelação, no Recurso Ordinário, no RESP, no REXT, nos Embargos de Divergência, no Agravo Interno interposto contra decisão que extingue Mandado de Segurança, Ação Rescisória e Reclamação Constitucional, no Agravo de Instrumento interposto contra decisão que versa cobre tutela provisória. 
Cabe sustentação oral em algumas ações de competência originária no Tribunal: ação rescisória, Mandado de Segurança e reclamação constitucional. 
Remessa necessária ocorrerá quando for proferida sentença contra a Fazenda Pública, e será encaminhado ao tribunal automaticamente, mesmo que a Fazenda Pública não recorra, dizem que é um “recurso de ofício”. Não há uniformidade na doutrina, há quem diga que cabe sustentação oral na remessa necessária, sob o argumento que o CPC não veda expressamente e porque deve ser privilegiado o contraditório e ampla defesa, mas há quem diga que não é possível, pois não há o que ser sustentado pela Fazenda Pública, já que a sentença lhe foi desfavorável. 
Não haverá sustentação oral nos embargos de declaração, no agravo interno (salvo nos casos de agravo interno interposto contra decisão que extingue ação rescisória, mandado de segurança e reclamação constitucional) e no agravo de instrumento (salvo nos casos de agravo de instrumento interposto contra decisões que versem tutela provisória). 
Embora o CPC não diga expressamente, também cabe sustentação no agravo de instrumento interposto sobre decisão interlocutória que verse sobre mérito do processo. 
Existem situações em que o legislador prevê que caberá agravo de instrumento contra decisões que versem sobre mérito do processo. Isso acontece, por exemplo, com a previsão no sentido de que cabe AI contra decisão que decreta falência, sendo umadecisão de mérito do processo. 
Cabe, ainda, agravo de instrumento contra decisões parciais de mérito. Uma decisão, por exemplo, que extingue parcialmente o processo em razão da prescrição é uma decisão parcial de mérito. 
Essas decisões (decisão que decreta falência e decisão parcial de mérito) são decisões cujo conteúdo pode também ser conteúdo de uma sentença. 
A doutrina admite, portanto, no agravo de instrumento nesse caso, a sustentação oral, mesmo que não seja expresso no CPC. 
Para que seja possível o exercício do contraditório através da sustentação oral, é possível que a pauta de julgamento seja publicada, para que a parte e o advogado possam ter ciência da data e da hora do julgamento, podendo comparecer e sustentar oralmente. 
No âmbito da sustentação oral nos tribunais vem se admitindo a celebração de negócios jurídicos processuais, inclusive atípicos (sem previsão na lei). Ex. negócio jurídico processual para reduzir o tempo da sustentação oral; dispensa de leitura do relatório na sessão de julgamento; dispensa da sustentação oral por advogado que defenda interesse da parte, em relação a qual o voto beneficie; outorgar substabelecimento oral para um advogado que vai realizar a sustentação oral e que até então não estava constituído nos autos. 
Admite-se sustentação oral por vídeoconferência ou através de outro sistema de transmissão de sons ou imagem. Se ocorrer dessa forma, é preciso o pedido de sustentação oral que seja feita, pelo menos, um dia de antecedência do julgamento. 
9.5. Pedido de vista: 
Qualquer julgador, inclusive o relator, que não se sentir preparado para proferir imediatamente o seu voto na sessão de julgamento, poderá realizar o pedido de vista do processo. Esse pedido de vista poderá ser de dois tipos: (i) em mesa, situação em que o julgamento será brevemente suspenso e logo em seguida retomado; ou (ii) em gabinete, situação em que o julgamento será adiado por até 10 dias. Passados os 10 dias do pedido de vista em gabinete, o processo deverá ser reincluído para ser julgado na sessão de julgamento seguinte. Se aquele que fez o pedido de vista não liberar o processo para inclusão em pauta de julgamento nesse prazo, ou ainda se essa pessoa não pedir prorrogação desse prazo, o presidente do órgão requisitará o processo para que ele seja julgado na sessão de julgamento seguinte. 
9.6. Juízo de admissibilidade e juízo de mérito: 
Toda demanda se submete a um duplo juízo: primeiro, a demanda se submete a um juízo de admissibilidade. Sendo positivo o juízo de admissibilidade, passa-se para o juízo de mérito. Isso também acontece no tribunal, passando por um duplo juízo. 
Se o juízo de admissibilidade for negativo, diz-se que o recurso não foi conhecido, inadmitido. Se o juízo de admissibilidade for positivo, diz-se que o recurso foi conhecido, deu-se seguimento ou admitido. 
No juízo de mérito, as expressões são diferentes. Diz-se que o recurso foi acolhido ou não acolhido, provido ou não provido. 
O julgamento, em regra, é colegiado, e dele advém um acórdão. O acórdão deverá versar sobre esses dois juízos. Todos os julgadores votam em ambos os juízos, mas existem situações em que o relator poderá fazer o juízo de admissibilidade. Ainda que o julgador seja vencido em alguma questão de admissibilidade, ele votará ainda no mérito. 
O acórdão, portanto, deverá ter, pelo menos, dois capítulos. Em relação a um capítulo pode haver unanimidade e em relação ao outro capítulo, pode não haver unanimidade. Isso é importante para que se avalie de que parte da decisão se vai recorrer, ou que parte será submetida à técnica de ampliação do colegiado. Essa técnica é aplicável quando o julgamento, no tribunal, é não unânime. 
9.7. Técnica de ampliação do colegiado: 
O art. 942 do CPC prevê que quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, em número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos julgadores. 
Até o CPC/73, falava-se no Recurso de Embargos Infringentes, que foi extinto no CPC de 2015, sendo substituído pela Técnica de Ampliação de Julgamento no Colegiado. Esse recurso era cabível nos casos em que o julgamento fosse não unânime. 
Discute-se, em doutrina, qual a natureza jurídica dessa técnica. A quem diga que se trata, em realidade, de um recurso, mas que não seria voluntário, e sim de ofício. O próprio tribunal encaminha a questão para julgamento em um colegiado formado por mais membros. Outra parte da doutrina entende que essa técnica não é recurso, trata-se apenas de um procedimento que deve ser observado pelo tribunal para que o julgamento se complete validamente, em alguns casos. Diz essa segunda doutrina que, quando o julgamento da apelação é não unânime, o julgamento não acaba e não há lavratura de acórdão, tendo que prosseguir por um colegiado ampliado. 
Tanto esse julgamento não acaba que contra uma decisão não unânime não se pode interpor recurso. Só se pode interpor recurso depois que a apelação é julgada pelo colegiado ampliado. 
Aplicando-se essa técnica, se a apelação não puder ser julgada na mesma sessão com o colegiado ampliado, terá que ser designada uma nova sessão da qual participarão julgadores em número suficiente para possibilitar a inversão do resultado do julgamento. A apelação é julgada por 3 julgadores, para ser possível a inversão, portanto, deve ser convocado mais 2. 
Se for necessária a designação de uma nova sessão de julgamento, abrir-se-á nova possibilidade de sustentação oral. 
Essa técnica também é aplicável no julgamento não unânime da ação rescisória quando o resultado for a rescisão da sentença. Não acontece na apelação, pois independe do resultado não unânime da apelação. 
Também se aplica ao julgamento não unânime do agravo de instrumento quando houver reforma da decisão que julgar parcialmente o mérito. 
Não se aplica essa técnica ao incidente de assunção de competência, ao incidente de resolução de decisões repetitivas, à remessa necessária e ao julgamento não unânime proferido pelo pleno ou órgão especial do tribunal. 
9.8. Voto médio: 
O julgamento colegiado pode ser unânime ou não unânime. Quando o julgamento é unânime, todos os julgadores votam no mesmo sentido. Quando o julgamento é não unânime, fala-se em julgamento por maioria, havendo votos vencedores e voto(s) vencido(s). É possível, também, que no julgamento colegiado, não se alcance o julgamento unânime nem o julgamento por maioria e, nesse caso, fala-se em divergência de votos. Quando há votos divergentes, para que se chegue a uma conclusão do julgamento, é preciso que se extraia um voto médio. 
A divergência de votos pode ser quantitativa ou qualitativa. 
- A divergência quantitativa ocorre quando cada julgador indica um valor referente a um pedido formulado pela parte. Quando há divergência quantitativa, há duas maneiras de se extrair o voto médio: (i) na primeira forma, o voto médio será aquele em que se indicou um valor intermediário; (ii) na segunda maneira, extrai-se o voto médio a partir da operação de soma de todos os valores, que será dividido pelo número de julgadores. 
- A divergência qualitativa ocorre quando cada um dos julgadores indica um resultado diferente para o julgamento do recurso. A resolução dessa divergência é mais problemática, havendo duas formas possíveis de solução: (i) a primeira maneira é o rejulgamento desse recurso; (ii) a segunda forma possível, e que para Priscila é a maneira mais acertada, é a ampliação do colegiado prevista no art. 942 do CPC. 
9.9. Proclamação do resultado: 
Depois que todos os julgadores proferem os seus votos no tribunal, o que ocorrerá depois da sustentação oral, se houver, o Presidente do Órgão julgador fará a proclamação do resultado. Se o Presidente, no momento da proclamação do resultado, tiver alguma dúvidacom relação à conclusão do julgamento, ele poderá, na própria sessão, pedir esclarecimentos aos julgadores do caso e às próprias partes, que falarão com intermediação dos seus advogados. Se subsistir algum equívoco na proclamação do resultado, não sendo ele sanado na própria sessão, nada impede que as partes oponham embargos de declaração para questionar o equívoco. 
9.10. Modificação do voto: 
O voto poderá ser modificado até a proclamação do resultado. No entanto, uma vez proclamado, qualquer alteração de voto só poderá ser feito através de julgamento de embargos de declaração opostos pelas partes ou, até mesmo de ofício, quando for um erro material ou de cálculo. 
TEORIA GERAL DOS RECURSOS
1. Conceito de recurso: 
Na acepção mais restrita, recurso é um meio de impugnação de uma decisão no mesmo processo em que essa decisão foi proferida. 
O recurso, uma vez interposto contra uma decisão, prolonga o estado de litispendência de um processo, formando um incidente recursal, continuando pendente, mas, em regra, em outra instância. 
Como o recurso é interposto no mesmo processo em que proferida a decisão recorrida tem-se que as ações autônomas de impugnação de decisão não são considerados recursos (ex. ação rescisória, mandado de segurança). 
O recurso representa o direito de ação exercido, em regra, no Tribunal. 
O direito à interposição de recurso é um direito potestativo, porque, uma vez exercido impõe a instauração de um incidente recursal do qual decorrem algumas situações jurídicas processuais (direitos processuais). Um dos direitos é o direito de se obter tutela jurisdicional no âmbito recursal. Assim como o direito de ação, o direito de interposição do recurso é um direito complexo, pois é fonte de outros direitos (prestação jurisdicional, intimação do julgamento, sustentação oral das razões recursais). 
2. Princípio do duplo grau de jurisdição:
Discute-se em doutrina se é possível falar no princípio do duplo grau de jurisdição, porque a CF não prevê expressamente esse princípio. Apesar disso, é possível se extrair esse princípio implicitamente da constituição. 
A CF prevê que o poder judiciário se organiza em uma estrutura hierarquizada. Nessa estrutura, há uma sobreposição de órgãos jurisdicionais, existindo órgãos jurisdicionais superiores (ex. STJ, STF), tribunais locais (ex. tribunais de justiça, tribunais regionais federais) e os órgãos jurisdicionais inferiores de primeiro grau. É dessa estrutura hierarquizada, extraída da constituição federal, que se retira implicitamente o princípio do duplo grau de jurisdição. 
O duplo grau de jurisdição assegura que uma decisão proferida pelo judiciário seja revista por um órgão jurisdicional integrante de uma instância superior em relação a qual o órgão que proferiu a decisão recorrida se vincula. 
Esse princípio, no entanto, não é absoluto, por algumas razões: (i) há causas de competência originária do STF no bojo das quais não é possível interpor recurso a ser julgado por uma instância superior, que sequer existe no Brasil. Isso não significa que são irrecorríveis essas decisões, mas não serão objeto de recurso que será julgado por uma instância acima do STF, porque não existe essa instância no Brasil; (ii) existem decisões recorríveis por recursos de competência do mesmo órgão jurisdicional que proferiu a decisão recorrida, ou ainda recursos que são de competência de turma julgadora composta por juízes de primeiro grau. 
Ex. Embargos de declaração opostos contra decisão do STF; Embargos infringentes de alçada é um recurso de pouca casuística, é um recurso cabível para sentença de primeiro grau proferida em sede de execução fiscal cujo valor não exceda 300 reais, que é julgado pelo próprio juiz de primeiro grau. 
Ex. Recursos inominados nos Juizados Especiais são julgados por um colegiado de juízes de primeiro grau. 
3. Sistema de impugnação das decisões judiciais:
O sistema de impugnação das decisões judiciais é composto pelos recursos, pelas ações autônomas de impugnação e pelos sucedâneos recursais. 
Recurso é um meio de impugnação de decisão judicial utilizado no mesmo processo em que a decisão foi proferida. Com o recurso, há apenas um prolongamento da litispendência. 
A ação autônoma de impugnação, por outro lado, é um meio de impugnação de decisão judicial que forma processo autônomo, desgarrado do processo em que proferida a decisão impugnada. São exemplos de ações autônomas de impugnação a ação rescisória, a reclamação constitucional, mandado de segurança contra ato judicial.
Por fim, os sucedâneos recursais são meio de impugnação judicial que não são nem recursos nem ações autônomas de impugnação. Assim, é um conceito residual. São exemplos de sucedâneos recursais o pedido de reconsideração, o pedido de suspensão de liminar (meio político que pode ser utilizado pela Fazenda Pública). 
4. Classificação dos recursos: 
O art. 1.002 do CPC diz que a decisão pode ser impugnada, no todo ou em parte. Analisando-se esse dispositivo, chega-se a conclusão que os recursos podem ser parciais ou totais. 
O recurso parcial é aquele que impugna um trecho da decisão judicial. Se uma decisão versar sobre mais de uma questão, cada questão será decidida em um capítulo, e esses capítulos são unidades em que se divide a decisão, podendo versar sobre questões processuais, de mérito ou ambos. 
Os capítulos de uma decisão podem, ainda, ser dependentes ou independentes entre si. O capítulo é independente quando ele permanece, independentemente da permanência dos demais. Ex. o tribunal pode manter um capítulo e manter outro, não ocorrendo interferência entre os capítulos. Por outro lado, o capítulo é dependente do outro quando a sua subsistência depende dos demais capítulos da decisão.
Os capítulos de uma decisão podem versar sobre um objeto composto ou sobre um objeto passível de cisão. Os capítulos que versam sobre objeto composto são capítulos que versam sobre pedidos cumulados. Os capítulos de uma decisão também podem versar sobre objetos passíveis de divisão, ou seja, o objeto é passível de divisão quando ele se submete a algum tipo de medida (ex. quantificação, pesagem). 
Ex. ajuizamento de ação buscando o valor de indenização de cinquenta mil reais. Se o juiz condenar o réu ao pagamento de quarenta mil, há dois capítulos nessa decisão: o capítulo que acolheu os quarenta mil e o capítulo que rejeitou dez. 
Isso é importante para fins de análise do recurso parcial. O recurso é parcial quando ele é interposto contra um trecho, um ou alguns capítulos passíveis de impugnação. 
Se o recurso questionar apenas uma parte da decisão, a parte não impugnada da decisão forma coisa julgada, formando preclusão, cabendo ação rescisória. 
O recurso total, por outro lado, é aquele que questiona a totalidade do conteúdo impugnável da decisão. 
A segunda classificação é aquela que divide os recursos em (i) recurso de fundamentação livre; e (ii) recurso de fundamentação vinculada. 
No recurso de fundamentação livre, pode ser veiculada qualquer crítica à decisão judicial recorrida. O recorrente pode suscitar qualquer erro que tenha sido cometido pela decisão recorrida. São recursos de fundamentação livre, por exemplo, a apelação, o agravo de instrumento, o agravo interno.
Por outro lado, o recurso de fundamentação vinculada é aquele em que só podem ser veiculadas críticas específicas à decisão recorrida. Não poderá, portanto, ser suscitada qualquer equívoco que tenha sido cometido pelo juiz, só podendo ser vinculados erros previstos em lei, sendo chamados de Recursos de Fundamentação Típica, porque a lei dirá que tipo de crítica poderá ser veiculada nesses recursos. Ex. Embargos de Declaração, só cabendo para os casos de erro material, omissão, obscuridade ou contradição. 
5. Atos passíveis de recurso: 
São recorríveis os pronunciamentos judiciais de conteúdo decisório. Os despachos que não tem conteúdo decisório, portanto, não podem ser objeto de recursos. 
São irrecorríveis osatos ordinatórios, que são atos praticados pelo escrivão ou pelo Chefe de Secretaria, por delegação do juiz. 
A sentença é uma decisão que encerra uma fase do procedimento em primeiro grau e é, em regra, recorrível por apelação.
A decisão interlocutória, por outro lado, é decisão que não encerra uma fase do procedimento em primeira instância e é, em regra, recorrível por agravo de instrumento. 
O acórdão é uma decisão colegiada, proferido, em regra, pelo tribunal ou por turma recursal, e é recorrível, em regra, por recurso especial e/ou extraordinário. 
A decisão monocrática ou unipessoal é uma decisão proferida por um desses membros específicos e é recorrível por agravo interno. 
O acórdão e as decisões monocráticas ou unipessoais podem ter conteúdos interlocutórios ou finais. 
6. Desistência de recurso:
Todo recurso é uma demanda, e como toda demanda, pode ser revogado. A revogação do recurso é a sua desistência. Essa revogação pode ser feita até antes do início do julgamento do recurso, e essa pode ser feita por escrito ou na sustentação oral. A desistência pressupõe um recurso já interposto. 
A desistência do recurso independe de homologação do órgão jurisdicional, produzindo efeitos imediatos. Também não depende de consentimento da parte contrária. 
A desistência é uma conduta determinante, porque a sua prática coloca aquele que desistiu em uma situação jurídica desfavorável. Se a conduta é determinante, ela só pode produzir efeitos para aquele que a praticou. Se o litisconsórcio for unitário, no entanto, a desistência só produzirá efeitos para todos se todos os litisconsortes manifestarem a desistência. Então, se algum não concordar, o recurso subexiste, só sendo extinto se todos desistirem. 
Se a desistência for manifestada, o recurso será extinto sem a resolução do mérito, em razão de sua revogação. É possível que a desistência seja parcial, e somente parte do recurso será extinto. É possível que haja mais de um recurso (apelações recíprocas), e que só haja desistência para um deles. Se só houver a desistência de um recurso, os demais prosseguirão para julgamento. 
Há quem diga que a desistência do recurso pressupõe poder especial do advogado. E se ele não tiver, a desistência será ineficaz, podendo o tribunal julgar o recurso. Outros dizem que o art. 105 não elenca a desistência de recurso como ato que dependa de poder especial para ser praticado. 
Às vezes, a desistência do recurso pode gerar como consequência a manutenção de uma decisão de mérito contrária aos interesses daquele que desistiu. Em razão disso, há quem diga que, em casos como esses, além do advogado ter poder especial para desistir, tem que ter poder especial para transigir (negociar). 
Se houver desistência do recurso ocorrerá o que se chama de fato impeditivo do direito de recorrer. Isso significa que, desistindo-se de um recurso, a parte fica impedida de renovar aquele recurso, ainda que haja prazo recursal. 
Não se confunde a desistência do recurso com a desistência da ação, tendo características diferentes. A desistência da ação depende de homologação para produção de efeitos, mas a desistência do recurso, não. A desistência da ação precisa de consentimento do réu, se ele já tiver sido citado, e a desistência do recurso nunca depende do consentimento da outra parte. A desistência da ação gera extinção do processo sem resolução do mérito, e a desistência do recurso não necessariamente gera extinção do processo. Se a decisão recorrida tiver feito a resolução do processo com resolução do mérito, e houve a desistência do recurso, haverá a manutenção da sentença com resolução do mérito. 
7. Renúncia de recurso e aceitação da decisão: 
A renúncia é o ato por meio do qual se manifesta a vontade de não interpor o recurso. A renúncia pressupõe-se que o recurso ainda não foi interposto, e abre-se mão da sua interposição. 
Em tempos de negócios jurídicos processuais, vem se admitindo a renúncia condicionada. Antes da entrada em vigor do CPC de 2015, só poderia se falar em renúncia quando já existisse o direito à interposição do recurso. Com a entrada em vigor do NCPC isso mudou um pouco, começando a se admitir a renúncia condicionada (negociação da renúncia quando o direito à interposição do recurso sequer existe).
Ex. se o juiz homologar o acordo, a parte renuncia o direito de recorrer, podendo transitar em julgado mais rapidamente, acelerando o procedimento. 
A renúncia é um fato extintivo do direito de recorrer. Feita a renúncia, e sendo interposto o recurso, esse recurso será inadmissível. A interposição de um recurso quando houve a renúncia viola a boa-fé objetiva. A preclusão lógica impede que o recurso seja julgado no mérito, devendo ser inadmitido de imediato. 
Por outro lado, a aceitação consiste na manifestação no sentido de que a parte se conformou com a decisão proferida. A aceitação pode ser expressa ou tácita. A aceitação expressa é aquela que diz expressamente que aceitou a decisão. Na aceitação tácita, a parte pratica um ato incompatível com a vontade de recorrer. 
Importante ressaltar que o cumprimento de uma decisão interlocutória não impede e não extingue o direito da parte interpor o agravo de instrumento. Trata-se de uma tutela sumária, que produz efeitos de imediato (agravo de instrumento não tem efeito suspensivo) e a parte não pode deixar de cumprir uma ordem judicial. Portanto, nas decisões interlocutórias, o simples fato delas serem cumpridas, não significa que haja uma aceitação tácita da decisão. 
Havendo aceitação, o recurso não será admitido. 
8. Juízo de admissibilidade:
8.1. Introdução:
Toda demanda, inclusive o recurso, se submete a um juízo de admissibilidade. No juízo de admissibilidade examina-se se o recurso está preparado para ser avaliado no mérito. Se o recurso não estiver apto para o julgamento de mérito, será proferido um juízo negativo de admissibilidade, e fala-se que o recurso não foi conhecido, ou que foi negado seguimento ao recurso, ou não admitido. Por outro lado, quando o juízo de admissibilidade é positivo, ou seja, quando o recurso é apto para julgamento de mérito, fala-se que o recurso é/foi conhecido, admitido ou que foi dado seguimento ao recurso. 
-Requisitos Intrínsecos: Os requisitos intrínsecos são a categoria de requisitos de admissibilidade recursal em que são examinadas a própria existência de direito ao recurso.
- Requisitos Extrínsecos: Os requisitos extrínsecos são a categoria de requisitos de admissibilidade recursal em que examina-se a forma como o direito é exercido.
8.2. Requisitos intrínsecos: 
8.2.1. Cabimento: duas perguntas são formuladas: (i) o recurso existe? (ii) o recurso é adequado ao questionamento da decisão impugnada? No âmbito do cabimento, pode-se falar em um princípio e duas regras. 
O primeiro princípio é o Princípio da Fungibilidade Recursal. De acordo com esse princípio, um recurso pode ser recebido como se outro fosse, tendo como fundamento a ideia de aproveitamento dos atos processuais. 
Para que seja possível a aplicação da Fungibilidade, alguns requisitos devem ser preenchidos. 
O primeiro requisito é o requisito da dúvida objetiva a respeito de qual o recurso cabível contra determinada decisão, ou seja, uma dúvida que paira em doutrina e em jurisprudência. Com entrada em vigor do novo CPC, muitas dúvidas objetivas surgiram. Ex. cabimento de agravo de instrumento. 
O segundo requisito é a ausência de erro grosseiro. O erro grosseiro é aquele injustificável na escolha do recurso, inexistindo, portanto, dúvida objetiva nesse caso. Se houver uma dúvida objetiva, não haverá um erro grosseiro. 
O terceiro requisito é que o recurso interposto incorretamente deve ter o mesmo prazo do recurso que deveria ter sido interposto. Esse requisito não é mais tão importante hoje, porque houve uma uniformização dos prazos recursais (15 dias para todos os recursos, com exceção dos embargos de declaração, que tem prazo de 5 dias). 
Há a Regra da Unirrecorribilidade ou SingularidadeRecursal. De acordo com essa regra, só é cabível um recurso contra uma decisão. Essa regra tem exceção, podendo caber, simultaneamente, recurso especial e recurso extraordinário contra a mesma decisão. Os embargos de declaração são recurso cabível de qualquer decisão, então também é considerada uma exceção. Porém, discute-se em doutrina se é possível interpor, simultaneamente, pela mesma parte, embargos de declaração e o recurso principal. Para Priscila, não seria possível, mas há quem defenda que sim. 
De acordo com a Regra da Taxatividade, os recursos devem estar previstos em um rol taxativo legal. Regimento interno não pode criar recurso, um negócio jurídico processual também não pode. O recurso precisa ter previsão em lei em sentido estrito. 
8.2.2. Legitimidade: tem legitimidade para interpor recurso: (i) a parte; (ii) o terceiro prejudicado; e (iii) o Ministério Público. 
O termo parte deve abarcar não apenas autor e réu, devendo abarcar também todo aquele que ingressa no processo, virando parte, como o assistente simples, assistente litisconsorcial, denunciado, etc. 
O assistente simples atuará quando o assistido for revel, ou de qualquer forma omisso no processo, e somente vai interpor recurso se o assistido não o fizer. Se houver um ato de manifestação de vontade do assistido, no sentido de que ele não irá interpor recurso, o assistente se vincula a essa vontade, e também nesse caso não poderá interpor recurso. 
O assistente litisconsorcial não se vincula à vontade do assistido. 
O amicus curiae também é parte, mas nem sempre ele terá legitimidade para interpor recurso, tendo poderes processuais bem reduzidos. Esse só poderá opor embargos de declaração e pode recorrer de sentença que julga incidente de resolução de demanda repetitiva. Embora a lei não fale expressamente, tem-se admitido que o amicus curiae recorra de decisões que julgam recurso especial ou extraordinário repetitivo e a que indefere a sua intervenção. 
O terceiro prejudicado também tem legitimidade para interpor recurso, sendo uma modalidade de intervenção de terceiro. Quando o terceiro recorre, ele o faz alegando que é titular da relação jurídica discutida em juízo ou que é titular de uma relação jurídica conexa àquela discutida em juízo, ou ainda que é legitimado extraordinário para defesa do interesse discutido em juízo. 
Também tem legitimidade para recorrer o Ministério Público, seja ele parte ou fiscal da ordem jurídica. 
8.2.3. Interesse recursal: o interesse recursal deve ser analisado sob duas dimensões. 
A primeira dimensão é a dimensão da utilidade. Recurso útil é aquele que pode colocar o concorrente em uma situação jurídica mais favorável do que aquela decorrente da decisão recorrível. Não é que o recurso necessariamente colocará o recorrente em uma situação melhor, mas poderá colocá-lo. 
Existem decisões que tem fundamento em matéria constitucional e infraconstitucional. Se contra essa decisão for interposto um recurso especial, apenas fundamentado em lei infraconstitucional, mesmo que o recurso seja provido no STJ, ele será inútil, porque não mudará a decisão, que tem fundamento também na lei constitucional. 
A segunda dimensão é a dimensão da necessidade, e o recurso será necessário quando ele for o único meio para se alcançar a melhoria da situação jurídica do recorrente. Ex. contra uma decisão de saneamento pode ser apresentada uma petição de esclarecimentos pela parte. Se interposto o recurso, esse não terá necessidade. 
Costuma-se relacionar o interesse recursal com o fato da sucumbência. Costuma-se dizer que tem interesse aquele que foi derrotado/sucumbente. Entretanto, nem sempre o interesse estará relacionado á sucumbência, pois poderá haver interesse mesmo que não haja sucumbência, tendo como exemplo quando uma parte é vitoriosa na ação e ingressa com um embargo para corrigir o nome dela.
Na ação coletiva, uma decisão só transita em julgado se tiver havido o esgotamento de provas. Se uma ação coletiva for julgada improcedente, o réu ganhou, mas nessa ação, o juiz disse que a improcedência foi em razão de não haver provas suficientes. O réu pode recorrer dessa situação, dizendo que as provas foram suficientes, e por isso cabe a coisa julgada. 
Um terceiro pode interpor recurso. Até então ele não era parte do processo, não podendo, portanto, ganhar ou perder, mas ele pode ter interesse recursal. 
No caso de cumulação imprópria de pedidos subsidiária. Nessa cumulação, formula-se mais de um pedido, estabelecendo-se uma ordem de preferência entre eles. Se o juiz acolher o pedido subsidiário, rejeitando o pedido principal, a parte ganhou, mas tem um razão de recorrer. 
Tradicionalmente, se entende que só há interesse recursal existe quando se questiona uma decisão por meio de recurso buscando a alteração do dispositivo da decisão. Mais modernamente, esse entendimento começou a ser modificado, admitindo-se que há interesse recursal na interposição de um recurso quando ele tem por finalidade a modificação da fundamentação da decisão, ainda que a alteração da fundamentação não gere alteração do dispositivo. 
Pode ser que uma parte interponha um recurso para contribuir para a fundamentação de um precedente. 
8.2.4. Fatos impeditivos ou extintivos do direito de recorrer:
Também requisito intrínseco um fato negativo. Existem fatos que não devem ocorrer para que o recurso seja admissível. Esses fatos são os chamados os fatos impeditivos ou extintivos do direito de recorrer. 
São exemplos de fatos impeditivos a desistência do recurso, a renúncia ao direito sobre o qual se funda a ação, o reconhecimento da procedência do pedido. Se esses fatos acontecerem, o recurso será inadmissível. 
São exemplos de fatos extintivos do direito de recorrer a renúncia do recurso e a aceitação do recurso. 
8.3. Requisitos extrínsecos:
8.3.1. Tempestividade: 
O recurso deve ser interposto no prazo. O CPC de 2015 unificou os prazos recursais, sendo de 15 dias, com exceção dos embargos de declaração, que é de 5 dias. Os prazos devem ser contados em dias úteis. 
O termo inicial do prazo é a intimação do recorrente. Em regra, a intimação é veiculada em Diário Oficial eletrônico em nome do advogado ou da sociedade de advogados. O CPC prevê que a modalidade preferencial de intimação é a eletrônica, que pode ser feita de várias formas, a depender do sistema. Quando a intimação é eletrônica, alguns Tribunais vêm dispensando a veiculação da intimação no Diário Oficial eletrônico. 
O STJ decidiu que, havendo disponibilização da intimação no diário e, cumulativamente, a intimação eletrônica, deve prevalecer como termo inicial do prazo a data da publicação da intimação no diário. 
O prazo se inicia um dia útil depois da publicação, e a publicação é o primeiro dia útil subsequente à disponibilização. A data que aparece no Diário é a data da disponibilização. 
Uma vez enviada a intimação eletrônica, e não sendo ela lida em 10 dias corridos, a intimação será considerada realizada ao final desse prazo, e o prazo recursal se inicia dai. Se dentro dos 10 dias for aberta a intimação, começa a contar no dia útil subsequente ao que foi aberto. 
Há quem defenda que o tribunal deve sempre veicular as intimações pelo Diário Oficial, ainda que eles enviem as intimações eletronicamente. Mas isso não é feito em todos os tribunais, e tem tribunais que intimam apenas eletronicamente. 
O recurso pode ser protocolado em cartório, em sistemas integrados de protocolo, ou eletronicamente. 
A tempestividade do recurso é aferida a partir da data do protocolo. Quando o recurso é interposto pelos correios, a data da postagem é a que deve ser considerada para fins de tempestividade. 
Se um recurso for protocolado dentro do prazo, mas em um órgão jurisdicional equivocado, há quem entenda que esse recurso poderá simplesmente ser encaminhado para o órgão correto, valendo a data do protocolo originário para fins de análise da tempestividade.
A intimação da Fazenda Pública é feitaatravés do seu órgão de representação (chamado de advocacia pública). Essa intimação deve ser sempre pessoal e por meio de carga, remessa ou intimação eletrônica. Uma vez intimada pessoalmente, a Fazenda terá 30 dias para recorrer (CPC/73 dizia que o prazo era dobrado apenas para recorrer, enquanto o CPC/15 diz que o prazo da Fazenda Pública é dobrado para qualquer manifestação, inclusive para contrarrazões).
O prazo em dobro também se aplica para a Defensoria e Ministério Público, e se estende aos núcleos de prática jurídica vinculados às faculdades de direito e às entidades que prestam assistência judiciária gratuita em convênio com a Defensoria Pública. A intimação pessoal é necessária tanto para a fazenda quanto para o Ministério Público e Defensoria.
Também terão prazo em dobro os litisconsortes patrocinados por advogados distintos, advogados esses vinculados a escritórios de advocacia distintos, se o processo for físico*. 
É possível que a decisão seja proferida antes mesmo do advogado seja constituído no processo. Se isso acontecer, a intimação para o recurso se dará por uma das formas do art. 231, CPC, a exemplo da intimação pelos Correios ou Oficial de Justiça, sendo dirigida a intimação à parte. 
O terceiro também pode interpor recurso e terá o termo inicial igual ao da parte.
Se o órgão julgador tiver dúvidas acerca da tempestividade, antes de inadmitir ele deve intimar o recorrente para se manifestar. 
O CPC diz expressamente que o feriado local que possa alterar a data de vencimento do prazo deve ser comprovado pelo próprio recorrente no ato de interposição. Se o feriado sequer for mencionado, o relator poderá inadmitir o recurso. 
8.3.2. Regularidade formal: 
Existe um conjunto de formalidades que deve ser respeitado na interposição do recurso, que é chamado de regularidade formal. 
São regularidades formais no âmbito recursal a instrução do agravo de instrumento com cópia de alguns documentos obrigatórios, a instrução de recurso especial fundado em divergência com cópia da decisão paradigma, a formulação do pedido recursal, a formulação da causa de pedir recursal, a impugnação específica das razões da decisão recorrida (dialeticidade recursal), a assinatura do recurso por pessoa dotada de capacidade postulatória, a formulação escrita do recurso, dentre outros. 
O vício de regularidade formal é, em regra, um vício sanável. O art. 932, parágrafo único diz que, antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá um prazo de 5 dias ao recorrente para que seja sanado o vício ou complementada a documentação exigida. 
8.3.3. Preparo:
O preparo é o adiantamento das despesas processuais para o processamento do recurso. O preparo engloba as despesas postais, que é o chamado porte de remessa e retorno e a taxa judiciária. As despesas postais não serão devidas se o recurso se processar em autos eletrônicos. 
O preparo deve ser comprovado no ato de interposição do recurso. Pode ser que o procedimento interno do tribunal preveja outro momento para a comprovação do preparo. Se o regimento for omisso, aplica-se o CPC (no momento da interposição do recurso). Nos juizados especiais estaduais, o preparo pode ser comprovado em até 48 horas após a interposição do recurso. 
O preparo não será devolvido em nenhuma hipótese, ainda que o recurso seja inadmitido. 
Existem alguns problemas que podem surgir referentes à realização: 
(i) erro no preenchimento das vias de pagamento: esse erro não deve ensejar a inadmissão do recurso. Se o órgão julgador tiver dúvidas a respeito da realização do preparo, ele deve intimar o recorrente para que ele faça prova de que as despesas foram pagas. Esse entendimento ganhou mais força com o CPC de 2015. 
(ii) realização do preparo em valor insuficiente: é aquele feito em valor inferior àquele que deveria ter sido, e não deve gerar a inadmissão do recurso. Havendo esse vício, o recorrente deve ser intimado para complementar o preparo. Se ele não atender ao comando judicial, terá o recurso inadmitido. 
(iii) não realização do preparo: a não realização do preparo também não gera a inadmissão imediata. É uma novidade do NCPC. A não realização do preparo enseja a intimação do recorrente para realizar o preparo em dobro. Há uma penalidade àquele que não realiza o preparo. Se o recorrente intimado deixa de fazer o preparo em dobro, ou se ele realiza o preparo de modo insuficiente, o recurso será inadmitido. 
A inadmissão de um recurso por falta de preparo é chamada de deserção. É possível que seja relevada a pena de deserção quando o recorrente comprovar que deixou de fazer o preparo por justo impedimento. Ex. grave bancária ou indisponibilidade de sistema online dos bancos. 
Vem se admitindo que, protocolando-se um recurso no último dia do prazo, dentro do horário de expediente do tribunal, mas já passado o horário do expediente bancário, seja comprovado o preparo no primeiro dia útil seguinte. 
Nem todo recorrente precisa pagar o preparo, sendo alguns dispensados do preparo, quais sejam o (i) Ministério Público, (ii) a União, (iii) os Estados, (iv) os Municípios, (v) o Distrito Federal, (vi) Autarquias Públicas e os (vii) beneficiários da Justiça Gratuita (inclusive o assistidos da Defensoria Pública). 
O benefício da justiça gratuita concedida no início do processo é válido para todo seu curso, inclusive para os incidentes, mas nada impede que o recorrente faça o pedido pela primeira vez o benefício da justiça gratuita no seu recurso, deixando de pagar o preparo. 
Alguns recursos não dependem de preparo. Estão dispensados do preparo os embargos de declaração, o agravo interno, o agravo em recurso especial, o agravo em recurso extraordinário e os embargos infringentes de alçada. 
8.4. Natureza do juízo de admissibilidade:
O juízo de admissibilidade positivo tem natureza declaratória.
O juízo de admissibilidade negativo, segundo uma parte da doutrina tem natureza constitutiva, tendo efeitos ex nunc (não retroativos efeitos prospectivos).
Para outra parte da doutrina o juízo de admissibilidade tem natureza declaratória, produzindo efeitos ex tunc (efeitos retroativos). 
Se se entender a que o juízo de admissibilidade negativo tem natureza declaratória com efeitos ex tunc considerar-se-á que o trânsito em julgado se deu 15 dias depois da intimação da decisão decorrida. 
Ex. recurso é interposto no prazo incorreto, é intempestivo. Mas o tribunal só verifica isso 3 anos depois, e inadmite o recurso pela intempestividade. Por esse entendimento da natureza jurídica declaratória e efeitos ex tunc, o trânsito em julgado ocorreu, então, há 3 anos, não havendo mais prazo para ação rescisória. Esse entendimento é minoritário, mas é possível. 
Existe uma corrente intermediária que entende que somente o juízo de admissibilidade negativo fundado em intempestividade e em manifesta falta de cabimento produz efeitos retroativos. 
9. Juízo de mérito: 
Sendo positivo o juízo de admissibilidade será realizado o juízo de mérito do recurso. Enquanto no juízo de admissibilidade se analisa o preenchimento de requisitos de admissibilidade recursal, no juízo de mérito a análise recai na causa de pedir e no pedido recursal. 
Se o pedido recursal for acolhido, dá-se provimento ao recurso. Se o pedido recursal for rejeitado, nega-se provimento ao recurso. 
Enquanto o juízo de admissibilidade pode, em alguns casos, ser realizado no juízo a quo (origem) e também no juízo ad quem (tribunal), ou seja, no juízo de origem e no juízo do tribunal, o juízo de mérito é, em regra, analisado pelo tribunal competente para o julgamento recursal (ad quem). 
De fato, alguns recursos se submetem a um duplo juízo de admissibilidade. Primeiro, o recurso se submete a um juízo de admissibilidade provisório. Se esse for positivo, realiza-se um segundo juízo de admissibilidade definitivo. O primeiro juízo de admissibilidade (provisório) é feito pelo juízo de origem, ou seja, aquele que proferiu a decisão recorrida.O juízo de admissibilidade definitivo, por outro lado, é feito pelo juízo ad quem, ou seja, o juízo que tem competência para julgar o recurso. No CPC/73, a regra era o juízo duplo de admissibilidade (ex. apelação passaria por um juízo duplo de admissibilidade). Com o CPC/2015, somente os recursos especiais e extraordinários se submetem a esse juízo duplo de admissibilidade. Os demais recursos se submetem apenas a um único juízo de admissibilidade, que é feito pelo juízo ad quem. 
Com relação ao juízo de mérito, ele é sempre único, e sempre será realizado pelo juízo ad quem. 
Em alguns casos, o juízo a quo e o juízo ad quem são o mesmo. Isso ocorre com os embargos de declaração. 
O juízo de mérito do recurso recai sobre a causa de pedir e o pedido recursal. A causa de pedir recursal é o fundamento de um pedido de reforma*, de anulação*, de esclarecimento, ou de integração da decisão recorrida. 
A causa de pedir do pedido de esclarecimento é a obscuridade e/ou a contradição. 
A causa de pedir de um pedido de integração é a omissão. 
A causa de pedir de um pedido de reforma da decisão recorrida é um erro de julgamento, o chamado error in iudicando. Haverá erro de julgamento quando a decisão recorrida aprecia mal uma questão fática ou jurídica. É um erro que se extrai do conteúdo da decisão. Haverá erro de julgamento quando o juiz, por exemplo, interpreta equivocadamente um direito objetivo, aplicando incorretamente a norma dele extraída; quando o juiz valora mal a prova produzida no processo; quando o juiz interpreta equivocadamente os fatos descritos no processo. 
O erro de julgamento fundamenta o pedido de reforma da decisão recorrida. 
A causa de pedir do pedido de anulação da decisão recorrida é um erro de procedimento, o chamado error in procedendo. Haverá erro de procedimento quando existir um vício na forma ou na atividade que gerou a produção da decisão recorrida. Haverá erro de procedimento quando, por exemplo, o juiz julga sem ter dado a oportunidade que uma das partes se manifestasse sobre uma das provas produzidas no processo, violando o contraditório; quando o juiz deixa de fundamentar a sua decisão, haverá um vício de forma. 
É possível que haja cumulação de pedidos recursais, podendo ser própria e imprópria. Na cumulação própria, formula-se mais de um pedido, sendo que todos podem ser acolhidos. Imagina-se que uma decisão tem 2 capítulos, e ela quer reformar ambos os pedidos, há uma cumulação de pedidos. Poderá acolher um e rejeitar outro, acolher os dois ou rejeitar os dois. 
Na cumulação impropria, formula-se dois pedidos, mas só um pode ser acolhido. Isso ocorre quando requer a anulação ou a reforma desse capítulo. Não há como se pedir a anulação e a reforma de um mesmo capítulo, a cumulação tem que ser imprópria, pois somente um desses pedidos poderá ser acolhido. 
Geralmente, o pedido de anulação é formulado em caráter principal, e em caráter subsidiário formula-se o pedido de reforma. Nada impede, no entanto, que a parte cumule pedidos de forma imprópria, invertendo a ordem, pois pode ser que o erro de procedimento (anulação) seja menos evidente, e o erro de julgamento (reforma) seja mais evidente. 
No julgamento de mérito do recurso, profere-se uma decisão que terá o condão de substituir a decisão proferida. Por isso que se fala em juízo substitutivo. Fala-se em juízo substitutivo quando, ao julgar o mérito de um recurso, profere-se uma decisão de provimento ou de negativa de provimento ao recurso, decisão essa que substitui aquela recorrida. Isso é importante para fins de contagem de prazo prescricional da execução, decadencial da rescisória, pois quando ocorre o juízo substitutivo, o termo inicial será exatamente do trânsito em julgado da decisão. 
Há quem fale no juízo rescindente, para a situação em que, julgando o mérito do recurso, dá-se provimento a ele para anular a decisão recorrida. Em casos de juízos rescindentes, é possível que o próprio órgão que julgou o recurso profira nova decisão sem o vício de procedimento. 
10. Princípio da reformatio in pejus:
O princípio da reformatio in pejus não tem expressa em lei, mas não é admitido com tranquilidade pela doutrina e pela jurisprudência. De acordo com esse princípio, também chamado de princípio de reformação para prejudicar, do julgamento de um recurso não poderá advir situação jurídica mais desfavorável ao recorrente do que aquela que lhe foi imposta pela decisão recorrida. 
Se apenas uma parte recorre, do julgamento desse recurso a sua situação jurídica não pode ser piorada. Havendo recursos recíprocos, no entanto, é possível que do julgamento do recurso de uma parte decorra uma situação mais desfavorável à outra parte. 
Embora o princípio da proibição da reformatio in pejus não tenha previsão legal, ela decorre de um requisito de admissibilidade recursal, que é o interesse recursal. Para que um recurso seja admitido, é preciso haver interesse. O interesse se configura quando do julgamento do recurso possa haver uma melhora da situação jurídica da parte. Se não puder advir melhora, o recurso é inadmissível por falta de interesse. 
Se não é possível interpor recurso na falta de interesse, não há outra postura que se possa aceitar do órgão julgador que não a manutenção da situação jurídica ou a melhora dessa situação. 
Há um enunciado de súmula 45 do STJ: No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a condenação imposta à Fazenda Pública. Embora esse enunciado faça referencia apenas à fazenda pública e reexame necessário, ele pode ser utilizado analogicamente em casos que envolvam outras partes ou recursos. 
11. Efeitos:
11.1. Impedimento ao trânsito: O recurso prolonga o estado de litispendência do processo. O recurso impede o trânsito em julgado. Por isso que se diz que uma vez interposto o recurso, a coisa julgada não poderá ser formada. Se for interposto um recurso parcial, a parte não impugnada da decisão transita em julgado. A outra parte, que foi objeto de recurso, não transita em julgado. 
 
TEORIA GERAL DOS RECURSOS - continuação
11. Efeitos:
11.1. Impedimento ao trânsito em julgado: O recurso prolonga o estado de litispendência do processo. O recurso impede o trânsito em julgado. Por isso que se diz que uma vez interposto o recurso, a coisa julgada não poderá ser formada. Se for interposto um recurso parcial, a parte não impugnada da decisão transita em julgado. A outra parte, que foi objeto de recurso, não transita em julgado.
11.2. Suspensivo:
O efeito suspensivo é aquele que prolonga o estado de ineficácia da decisão recorrida. Em realidade, não é a interposição do recurso que suspende os efeitos da decisão recorrida. O simples fato de uma decisão ser recorrível por recurso dotado de efeito suspensivo automático/legal já torna essa decisão ineficaz, impedindo a mera recorribilidade que a decisão produza efeitos imediatos. 
Proferida uma decisão recorrível por recurso dotado de efeito suspensivo automático/legal, ela não produz efeitos imediatos. Se dentro do prazo recursal for interposto esse recurso, o estado de suspensividade da decisão, que já existia, se mantém. Se, por outro lado, dentro do prazo recursal, não for interposto recurso, haverá o trânsito em julgado e a produção imediata de efeitos. 
Esse trâmite ocorre quando o recurso é dotado de efeito suspensivo automático – ex: apelação
Qualquer recurso pode produzir esse efeito suspensivo. Alguns têm efeito suspensivo legal, mas há também o efeito suspensivo atribuído pelo órgão jurisdicional – agravo de instrumento, agravo interno, recurso especial e extraordinário (em regra), etc. 
Em razão disso, há quem prefira chamar esse efeito suspensivo de efeito obstativo. Quando se fala em efeito suspensivo, fica parecendo que essa decisão em algum momento produz efeitos e estes são suspensos. Nem sempre isso acontece. Quando a decisão é recorrível por recurso dotado de efeito suspensivo automático, os efeitos não acontecem imediatamente após a decisão. Só acontecem após o julgamento

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