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Disciplina de INOVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ Prof. Marcus Vinicius de Araújo Fonseca Da Cadeia de Valor à Constelação de Valor Planejando Estratégias Interativas - Trechos de artigo publicado na Harvard Business Review de jul/ago 1993. Por Richard Normann e Rafael Ramírez. Estratégia é a arte de agregar valor. Ela proporciona a estrutura intelectual, os modelos conceituais e as idéias que permitem que os gerentes de uma empresa identifiquem oportunidades de agregar valor para o consumidor e de entregar esse valor com lucro. Sob essa ótica, estratégia é a maneira pela qual uma empresa define seu negócio e através da qual reúne os dois únicos recursos que realmente importam na economia de hoje: conhecimento e relacionamento, ou seja, as competências e os consumidores de uma organização. Mas, em um ambiente competitivo que muda rapidamente, a lógica fundamental da agregação de valor é a própria mudança, que ocorre de modo a tornar o raciocínio estratégico claro, simultaneamente, mais importante e difícil. Nosso modo de raciocinar sobre valor está baseado nas pressuposições e nos modelos de uma economia industrial. Segundo essa visão, toda empresa ocupa uma posição na cadeia de valor. Numa direção, os fornecedores entram com inputs. Na outra, a empresa, então, agrega valor a esses inputs antes de passá-los adiante para o próximo membro da cadeia, o consumidor (seja outra empresa ou o consumidor final). Analisando por essa perspectiva, a estratégia é primordialmente a arte de posicionar uma empresa no lugar certo da cadeia de valor – o negócio certo, os produtos e segmentos de mercado certos, as atividades certas para agregar valor. Hoje, no entanto, essa forma de compreender o valor está tão fora de moda quanto a velha linha de montagem, com que tanto se parece, assim como a visão de estratégia que a acompanha. A competição global, mudando mercados, e as novas tecnologias estão abrindo novos modos de criar valor. As opções disponíveis para as empresas, consumidores e fornecedores estão proliferando de um modo com que Henry Ford nunca sonhou. Claro que mais oportunidades também significam risco maior. Previsões baseadas em projeções do passado se tornam pouco confiáveis. Fatores que sempre pareceram periféricos se revelam agentes principais de mudança dos mercados-chave da empresa. Invasores de setores antes sem relação mudam as regras do jogo da noite para o dia. Em um ambiente competitivo tão volátil, a estratégia não é mais uma questão de posicionar um grupo de atividades em uma cadeia de valores. Cada vez Disciplina de INOVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ Prof. Marcus Vinicius de Araújo Fonseca mais, empresas de sucesso não se limitam a criar valor, elas o reinventam. O foco da análise estratégica delas não é mais a empresa, nem mesmo a indústria, mas o próprio sistema de criação de valor, dentro do qual vários agentes econômicos – fornecedores, parceiros, aliados, consumidores – trabalham juntos para co-produzir valor. Sua missão estratégica principal é a reconfiguração dos papéis e do relacionamento entre essa constelação de agentes para mobilizar a produção de valor através de formas diferentes e entre novos participantes. O objetivo estratégico que domina todos os passos é criar um estreitamento cada vez maior entre competências e consumidores. Para explicar de outro modo, empresas bem-sucedidas encaram a estratégia como uma inovação social sistemática: um contínuo planejar e replanejar sistemas de administração complexos. Ikea: A Riqueza de Concretizar Novas Idéias Para dar um exemplo do que isso significa, considere a história da transformação da Ikea, uma pequena empresa sueca de móveis que vendia pelo correio, na maior varejista de mobílias do mundo. Em uma indústria na qual poucas empresas cruzam as fronteiras do país de origem, a Ikea criou uma rede mundial com mais de 100 lojas. Em 1992, essas lojas foram visitadas por 96 milhões de pessoas e geraram uma receita de US$ 4,3 bilhões. Elas transformaram a Ikea em uma máquina de crescimento e lucro, com uma média de crescimento anual de 15% nos últimos 5 anos e margens de lucro que os observadores estimam ficar entre 8% e 10% – altas o bastante para permitir que a empresa crescesse sem ter que recorrer ao mercado de ações. Nesse ponto, os elementos principais da fórmula de sucesso da Ikea são bem conhecidos: móveis de design escandinavo simples e de excelente qualidade; fornecedores mundiais de partes; móveis desmontados que os consumidores transportam e montam sozinhos; lojas gigantescas nos subúrbios das cidades com grande estacionamento e amenidades como cafés, restaurantes e até creche. Parte do que a Ikea economiza em componentes de baixo custo, armazenamento eficiente e auto-serviço ela repassa aos consumidores na forma de preços mais baixos, entre 25% e 50% menores do que os da competição. No entanto, concentrar-se no custo e no preço baixo da Ikea é ignorar o verdadeiro significado da inovação trazida pela empresa. A Ikea consegue manter o custo baixo porque, de forma sistemática, vem redefinindo os papéis, os relacionamentos e as práticas organizacionais do negócio de móveis. O resultado é um sistema de administração integrado que cria valor ao reunir as Disciplina de INOVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ Prof. Marcus Vinicius de Araújo Fonseca várias capacidades dos participantes de modo mais eficiente e eficaz do que jamais foi possível. Para começar, veja a relação da Ikea com os consumidores. A empresa oferece aos compradores mais do que preços baixos. Oferece uma nova divisão de trabalho que funciona mais ou menos assim: se os consumidores concordarem em assumir algumas tarefas tradicionalmente executadas pelo fabricante e pelo varejista – a montagem dos produtos e a entrega em domicílio –, a Ikea promete vender produtos de excelente design a preços significativamente baixos. Todos os aspectos do sistema de administração da Ikea são cuidadosamente pensados para tornar mais fácil para o consumidor assumir esse papel. Por exemplo, a Ikea imprime mais de 45 milhões de catálogos todo ano em 10 idiomas diferentes. Apesar de o catálogo mostrar apenas 30% a 40% dos quase 10 mil produtos da empresa, cada cópia se transforma num "roteiro", explicando o papel de cada ator no sistema de administração da empresa. Isso acontece também nas lojas Ikea. Há carrinhos de bebê disponíveis de graça, creche supervisionada e áreas de lazer para as crianças, assim como cadeiras de rodas para os deficientes e os idosos. Há cafés e restaurantes para fregueses que queiram comer algo. A idéia é fazer da Ikea mais do que uma loja de móveis - um local em que se possa passear com a família. Na porta da frente, os consumidores recebem catálogos, fita métrica, lápis e bloco de notas. Isso os ajuda a fazer sua escolha sem o auxílio de um vendedor. Os produtos são agrupados de forma não só a exibir cadeiras e mesas, mas designs para espaços vitais. Além disso, cada produto tem etiquetas simples e fáceis de ler com o nome e o preço do produto, as dimensões, o material, as cores disponíveis, instruções de como cuidar dele e o ponto dentro da loja em que podem ser comprados e recebidos. Depois do pagamento, os consumidores colocam suas compras em um carrinho para levá-los até o carro. Se a embalagem não couber, a Ikea empresta ou vende a preço de custo um bagageiro para o teto do carro. A Ikea quer que o consumidor entenda que seu papel não é consumir valor, e sim criá-lo. A Ikea oferece às famílias mais do que móveis co-produzidos, oferece co-produções para a melhoria da vida familiar – cobrindo tudo, desde decoração de interioresaté informações e equipamento de segurança, seguro e a possibilidade de ir às compras como opção de lazer. Disciplina de INOVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ Prof. Marcus Vinicius de Araújo Fonseca Chamar esses serviços de amenidades seria subestimar seu significado central na intenção estratégica da Ikea: entender como o consumidor pode criar seu valor e criar um sistema de administração que permita à empresa fazer isso melhor. O objetivo da Ikea não é aliviar o consumidor de certas tarefas, mas mobilizá-lo para fazer com facilidade coisas que nunca fez. Em outras palavras, a Ikea inventa valor possibilitando que os clientes desempenhem atividades de criação de valor. Como diz o folheto de uma empresa, "riqueza é a possibilidade de concretizar suas idéias". Para mobilizar os clientes a criar valor, a Ikea também tem que mobilizar seus 1.800 fornecedores, localizados em mais de 50 países no mundo todo. Para manter a sua parte da divisão de trabalho, a Ikea tem que encontrar fornecedores que possam oferecer tanto um custo baixo quanto alta qualidade. Ela toma muito cuidado na hora de encontrar e avaliar fornecedores em potencial e de prepará-los para assumir seu papel no sistema de administração da Ikea. Trinta escritórios de compras no mundo todo procuram candidatos. Depois, os designers no escritório central, no quartel-general da Ikea em Älmhult, na Suécia, que trabalham 2 ou 3 anos à frente da atual linha de produção, decidem quais fornecedores vão lhes entregar quais partes. Quando se tornam parte do sistema Ikea, os fornecedores de longo prazo não apenas ganham acesso ao mercado global, como também passam a receber assistência técnica, equipamento em regime de leasing e aconselhamento sobre como elevar a qualidade de sua produção ao nível do mercado mundial. Esse esforço começou no início dos anos 60,quando a Ikea passou a comprar componentes de um fornecedor polonês. Hoje, a Ikea trabalha com aproximadamente 500 fornecedores no Leste Europeu. Lá, assim como em outros lugares, a empresa tem um papel fundamental na melhoria da estrutura de administração e da qualidade de fabricação de seus parceiros. Por exemplo, a companhia emprega por volta de 12 técnicos em uma divisão chamada Ikea Engineering para dar assistência técnica aos fornecedores. O departamento de serviços administrativos, com base em Viena, mantém um banco de dados que ajuda os fornecedores a encontrar matéria-prima e os apresenta a novos parceiros. Enfim, o que vale para o relacionamento da Ikea com os consumidores também se aplica aos seus processos administrativos internos, desenhados para espelhar e apoiar a lógica de todo o sistema de criação de valor. Um bom exemplo é o sistema logístico altamente eficiente da Ikea. Disciplina de INOVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ Prof. Marcus Vinicius de Araújo Fonseca A insistência da empresa para que os fornecedores mantenham o custo baixo tem duas conseqüências importantes. Primeiro, o fornecimento de componentes é bem disperso. O assento e o encosto de uma cadeira podem estar na Polônia, as pernas na França e os parafusos que vão segurar tudo junto podem estar na Espanha. Segundo, a empresa tem de fazer pedidos em grande quantidade. Os dois fatores são imperativos para que a Ikea tenha um sistema eficiente de pedido de partes, integrando-as em um produto e entregando-o à loja – minimizando o custo de estoque durante todo o processo. O centro de todo esse sistema é a rede de 14 depósitos Ikea no mundo todo. O maior, com 135 mil metros quadrados, em Älmhult, guarda itens suficientes para decorar 30 mil apartamentos de 3 quartos. A maioria dos pedidos é feita eletronicamente. As registradoras das lojas Ikea por todo o mundo passam informações para o depósito mais próximo, assim como para a central de operações em Älmhult, onde sistemas de informação supervisionam e analisam as vendas e as entregas no mundo todo. Sendo gigantescos, esses depósitos são muito mais que simples instalações para armazenamento de estoque. Em vez disso, operam como pontos de controle logístico, centros de consolidação e eixos do tráfego de mercadorias. Eles desempenham um papel pró-ativo na integração de oferta e demanda, reduzindo a necessidade de estocar a produção por longos períodos, mantendo o custo da unidade baixo e ajudando as lojas a antecipar a necessidade de um produto, evitando que fique em falta. A Ikea é mais do que um elo na cadeia de valor agregado. É o centro de uma constelação de serviços, bens e design. A imagem das redes com valor agregado não consegue captar a complexidade dos papéis e relacionamentos desenvolvidos no sistema de administração da Ikea. A empresa não se posiciona para agregar valor em um ponto qualquer de uma seqüência predeterminada de atividades. Em vez disso, a Ikea se propôs a reinventar de forma sistemática o valor e o sistema de administração que repassa esse valor para todo um elenco de agentes econômicos. O acordo co-produtivo, em que há divisão de trabalho, oferecido pela empresa aos consumidores e fornecedores, força ambos a pensarem no valor de um novo modo – segundo o qual os consumidores também são fornecedores (de tempo, trabalho, informação e transporte), os fornecedores são também consumidores (dos serviços administrativos e técnicos da Ikea) e a própria Ikea deixa de ser uma simples comerciante para se tornar a estrela central em uma constelação de serviços, bens, design, gerenciamento, suporte Disciplina de INOVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ Prof. Marcus Vinicius de Araújo Fonseca e até entretenimento. O resultado: é plausível dizer que a Ikea conseguiu agregar mais valor por pessoa (consumidor, fornecedor e funcionário) e assegurar um lucro final mais expressivo a partir de – e para – seus recursos financeiros e humanos do que quase todas as empresas em todas as áreas de atuação. A Nova Lógica do Valor A extraordinária inovação administrativa da Ikea foi possível graças a uma transformação fundamental no modo como o valor é criado. Mas o que é essa nova lógica do valor e quais são as implicações dela para os executivos de hoje? Para responder a essas perguntas, comece com a simples observação de que qualquer produto ou serviço é na verdade o resultado de um complicado grupo de atividades: incontáveis transações econômicas e acordos institucionais entre fornecedores e consumidores, empregados e gerentes, equipes de especialistas técnicos e administrativos. Na verdade, o que geralmente percebemos como sendo o produto ou o serviço são atividades congeladas, manifestações concretas das relações entre os agentes de um sistema de criação de valor. Para enfatizar como todos os produtos e serviços se baseiam em atividades, preferimos chamá-los de "ofertas". Toda revolução econômica redefine o papel e o relacionamento em que se baseiam as ofertas. Isso aconteceu na Revolução Industrial, quando os avanços tecnológicos na aplicação de energia de forma útil tornou possível o sistema de fábricas com sua divisão de trabalho altamente especializada. Hoje, sob o impacto da tecnologia da informação e a conseqüente globalização de mercados e da produção, novos métodos de combinar atividades para formar ofertas estão produzindo novas oportunidades para a criação de valor. Uma das conseqüências desse fenômeno é que a própria distinção entre produtos físicos e serviços intangíveis está acabando atualmente. A Ikea oferece um produto ou um serviço? A resposta é nenhum dos dois – e ambos. Poucas são as ofertas que podem ser claramente definidas como uma coisa ou outra hoje em dia. Cada vez mais, envolvem alguma combinação complexa dos doispapéis. Pegue como exemplo uma transação econômica conhecida de todos: uma retirada de dinheiro da conta bancária de alguém. Não faz muito tempo que Disciplina de INOVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ Prof. Marcus Vinicius de Araújo Fonseca essa transação era considerada um serviço, uma troca pessoal entre um consumidor, que se dirigiu à agência de seu banco, e um caixa, que atendeu o pedido do cliente. No entanto, durante a última década, esse serviço tradicional foi inteiramente modificado pela aplicação da tecnologia da informação. Hoje, a maioria dos saques se dá em máquinas de atendimento eletrônico. Essa mudança reconfigurou a transação em duas direções. Primeiro, o cliente está engajado em uma atividade de auto-serviço não muito distinta daquela executada pelo comprador dos móveis Ikea. Segundo, muita atenção é dedicada a projetar, fabricar e manter instrumentos de apoio ao auto-serviço: os próprios caixas eletrônicos, os cartões usados pelos clientes para acessá-los, a rede de computadores que liga a máquina ao sistema de informação e de contas do banco. Essa não é uma mera mudança de tecnologia ou mesmo da própria transação. É uma transformação em todo o sistema de criação de valor. A cena, o roteiro, os papéis dos atores importantes foram modificados. Quando os caixas eletrônicos foram implementados, alguns observadores duvidaram de que os clientes fossem fazer o papel que lhes cabia. Os críticos especularam que os clientes resistiriam a essa tentativa da parte dos bancos de lhes complicar a vida com mais trabalho, que os clientes insistiriam em manter a interação pessoal com o caixa. Esse tipo de crítica errou por uma razão muito simples. A reconfiguração da transação de retirada de dinheiro oferecia aos clientes um valor qualitativo novo. Em destaque, estava o fato de ela eliminar limitações tradicionais de espaço e tempo. Os clientes não precisavam mais ir à agência durante o horário comercial. Passaram a poder pegar seu dinheiro a qualquer hora e, com a proliferação dos caixas eletrônicos, praticamente em qualquer lugar. Por isso, a maioria dos clientes optou pelo caixa eletrônico e se adaptou a ele rápida e facilmente. Tanto é que, nos Estados Unidos de hoje, poucos se lembram das longas filas que se formavam nos bancos nas tardes de sexta-feira, quando os clientes corriam para depositar o pagamento ou sacar dinheiro para o fim de semana. O que há de tão diferente assim nesse novo tipo de valor? Um modo útil de descrever a mudança é dizer que o valor tornou-se mais denso. Pense na densidade como uma forma de medir a quantidade de informação, conhecimento e outros recursos que um agente econômico tenha à disposição a qualquer momento para influenciar sua própria capacidade de criar valor. O valor se tornou mais denso à medida que mais e mais oportunidades de criação de valor ficaram embutidas em cada oferta. Uma visita a uma loja Ikea não tem Disciplina de INOVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ Prof. Marcus Vinicius de Araújo Fonseca como único objetivo a compra, é entretenimento. Os caixas eletrônicos não permitem apenas que as pessoas saquem dinheiro, mas que façam isso a qualquer hora, praticamente em qualquer lugar. Um relógio Swatch não dá apenas as horas, possibilita ao seu dono se expressar através da moda (o que explica o fato de o cliente médio da Swatch na Itália ter 6 relógios). A nova lógica do valor impõe às empresas três implicações estratégicas: ¨ Primeiro, em um mundo no qual o valor não ocorre em cadeias seqüenciais, mas na forma de complexas constelações, o objetivo das empresas não é apenas fazer algo de valor para ou pelo consumidor, é mobilizar o consumidor a tirar vantagem da densidade oferecida e criar seu próprio valor. Por isso, os caixas eletrônicos foram tão bem recebidos, apesar das críticas. E é por isso que a Ikea se tornou a maior vendedora de móveis do mundo. Em outras palavras, as empresas não competem mais umas com as outras. Em vez disso, são as ofertas que competem pelo tempo, pela atenção e pelo dinheiro dos consumidores; ¨ Segundo, o que é verdadeiro para as ofertas individualmente também se aplica aos sistemas de criação de valor. À medida que as ofertas se tornam mais complexas e variadas, o mesmo acontece com os tipos de relacionamento necessários para produzi-las. Uma empresa sozinha raramente fornece tudo relacionado à oferta. Em vez disso, as ofertas mais atraentes envolvem consumidores e fornecedores, aliados e parceiros, em novas combinações. Como resultado, a principal missão estratégica é a reconfiguração do relacionamento e dos sistemas de administração; ¨ Terceiro, se a chave para criar valor é a co-produção de ofertas que mobilizem o consumidor, então a única fonte verdadeira de vantagem competitiva é a capacidade de conceber todo um sistema de criação de valor e fazer com que funcione. A Ikea cria mais valor porque mobiliza mais atividades – de consumidores e de fornecedores. Redistribui atividades entre os agentes para que se combinem melhor. Para vencer, uma empresa tem que redigir o roteiro, mobilizar e treinar os agentes e fazer do consumidor o juiz do sucesso ou fracasso. Para continuar a vencer, a empresa tem que iniciar um diálogo com os consumidores para repetir a mesma performance indefinidamente e manter suas ofertas competitivas. Disciplina de INOVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ Prof. Marcus Vinicius de Araújo Fonseca O objetivo não é apenas criar valor para o consumidor, é mobilizar o consumidor a criar seu próprio valor a partir das várias ofertas da empresa. As empresas criam valor não só quando produzem ofertas mais inteligentes, mas ao fazerem com que seus consumidores (e fornecedores) fiquem mais inteligentes também. Para fazer isso, as empresas têm que reavaliar e replanejar constantemente suas competências e relacionamentos para manter seus sistemas de criação de valor maleáveis, atuais e abertos. Na nova lógica do valor, esse diálogo entre competências e consumidores explica a sobrevivência e o sucesso de algumas empresas e o declínio e fracasso de outras.