Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
RECURSOS HUMANOS emAVANÇADOSTópicos Fábio Cássio Costa Moraes 2009 © 2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: IESDE Brasil S.A. IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. M827 Moraes, Fábio Cássio Costa. / Tópicos Avançados em Recur- sos Humanos. / Fábio Cássio Costa Moraes. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009. 176 p. ISBN: 978-85-387-0564-2 1. Administração de pessoal. 2. Recursos Humanos – Treina- mento. 3. Desenvolvimento organizacional. I. Título. CDD 658.3 Doutorando em Administração pela FEA/USP. Mestre em Economia pela PUC-SP. MBA em Recursos Humanos pela FIA/USP. Coach certificado pela Lambent do Brasil e membro da Comunidade Internacional de Coaching. Atuou como executivo de relacionamento com clientes e marketing. Professor universitário no IBMEC/SP, FIA/ USP e UNICID/SP. Autor do livro Formação de Competên- cias pelo IESDE. Diretor da Universidade do Cliente. Con- sultor organizacional especializado em planejamento estratégico, liderança, gestão de contact centers e gestão por competências. Fábio Cássio Costa Moraes Sumário O conceito de downsizing ..........................................................................................13 A necessidade de racionalização de recursos ................................................................................14 Downsizing e planejamento estratégico ..........................................................................................17 Três estratégias para implantação do downsizing ................................................................................18 O novo papel da liderança ....................................................................................................................19 O impacto para o emprego e para a empregabilidade ..............................................................20 O projeto de downsizing .............................................................................................27 O contexto do projeto ............................................................................................................................27 Planejamento .............................................................................................................................................28 Definição de metas ..................................................................................................................................32 Avaliação econômica ..............................................................................................................................33 Comitê do projeto ....................................................................................................................................34 O processo de comunicação ................................................................................................................34 O papel de Recursos Humanos: captação de talentos e capacitação ...................................35 Pontos-chave do projeto de downsizing ...................................................................................................35 Resizing .....................................................................................................................41 O conceito de resizing .........................................................................................................................................41 O ajuste drástico à realidade ................................................................................................................43 Criação do futuro da empresa .............................................................................................................47 A busca da eficácia operacional ..........................................................................................................50 Recapitulando ...........................................................................................................................................52 O conceito de terceirização ...............................................................................59 Atividades típicas para terceirização .................................................................................................60 Riscos da terceirização ............................................................................................................................62 Quarteirização ...........................................................................................................................................63 Terceirização e gestão de pessoas .....................................................................................................63 Um projeto de terceirização .................................................................................................................64 Terceirização e cooperativas de trabalho ........................................................................................65 Empowerment .........................................................................................................71 O conceito de empowerment ..........................................................................................................................71 O poder nas organizações.....................................................................................................................72 Empowerment: reinventando o poder ..............................................................................................73 O processo do empowerment .........................................................................................................................76 Empowerment e estilos de liderança .................................................................................................77 Empowerment e criatividade ................................................................................................................78 Princípios do coaching .................................................................................................85 O conceito de coaching ......................................................................................................................................85 Outras atividades de desenvolvimento diferentes do coaching ..................................................86 Mentoring ...................................................................................................................................................86 Origem do coaching ............................................................................................................................................87 Coaching, uma luta pela liberdade ....................................................................................................89 Coaching: explorando o presente e projetando o futuro ..........................................................91 Os sete princípios para trabalhar com metas .................................................................................92 Os benefícios do coaching ................................................................................................................................94 Ferramentas de mapeamento do coaching ....................................................101 O coaching e o processo evolutivo ..................................................................................................101 O que são ferramentas do coaching? ..............................................................................................102 Ferramentas de mapeamento ...........................................................................................................102Ferramentas de desenvolvimento e mensuração de resultados do coaching ...........................................................119 Ferramentas do coaching ................................................................................................................................119 Ferramentas de desenvolvimento do coaching ..................................................................................120 Coaching, um processo de várias conquistas ...............................................................................128 Mentoring ..............................................................................................................135 O conceito de mentoring .................................................................................................................................135 Diferença entre mentoring e outros papéis sociais ....................................................................136 Mentoring natural ...................................................................................................................................137 Mentoring acadêmico ...........................................................................................................................138 Programas de trainees .......................................................................................................................................139 Alguns exemplos de mentores ilustres da humanidade .........................................................142 Benchmarking ......................................................................................................149 O conceito de benchmarking ........................................................................................................................149 Japão, o exemplo clássico de benchmarking ........................................................................................150 Benchmarking e evolução tecnológica ...........................................................................................151 Benchmarking e mudança organizacional ....................................................................................154 O processo de benchmarking ........................................................................................................................156 Gabarito .................................................................................................................163 Referências ...........................................................................................................171 Anotações .............................................................................................................175 Apresentação Tópicos Avançados em Recursos Humanos é um livro que trata de temas fundamentais na gestão de pessoas nas organizações. As exigências dos mercados estão em constante mu- dança, os consumidores possuem instrumentos mais efica- zes para interagirem com as empresas, e vencem a competi- ção aquelas empresas que conseguem aliar suas estratégias competitivas ao desenvolvimento de competências es- senciais. Esse é o contexto deste livro: discutir os principais as- pectos que diferenciam as organizações em seus mercados. A aula 1 trata da prática do downsizing, que signifi- ca a racionalização de recursos que muitas vezes leva ao enxugamento e redução de pessoas nos quadros das em- presas. Também serão tratados assuntos como o planeja- mento de recursos, gestão de pessoas, redução de custos e impacto para o emprego. A aula 2 ilustra como implantar um projeto de down- sizing nas empresas e detalha cada uma das suas etapas. O projeto envolve várias tarefas importantes, como o diag- nóstico organizacional, criação do comitê do projeto, aná- lise econômica e negociação com os colaboradores. A aula 3 trata do resizing, um conceito criado a partir do downsizing e que procura definir racionalização de re- cursos, não como uma oportunidade para reduzir custos e pessoas, mas como uma forma de criar uma organização em seu melhor tamanho e eficácia, que muitas vezes não exige cortes de pessoas. A aula 4 buscará explicar a prática da terceirização ou outsourcing nas empresas. Esse recurso está sendo utiliza- do de forma crescente por organizações que pretendem focar no seu negócio principal e delegar para outras em- presas aquelas funções que são de suporte ao negócio. O desafio é saber como a terceirização pode impactar na gestão de pessoas, pois cria dois grupos distintos: os fun- cionários próprios e os terceirizados. A aula 5 irá detalhar o empowerment, que significa a divisão de poder entre gestores e subordinados. Como que as lideranças podem obter resultados de qualidade e ao mesmo tempo compartilharem as decisões e o mérito com suas equipes? Isso exige maturidade tanto da lideran- ça como de suas equipes e depende da existência de uma cultura que valorize a participação e o desenvolvimento humano. A aula 6 mostrará os princípios do coaching, que é uma prática utilizada de forma crescente nas empresas. Coaching é o processo que ajuda empresas, executivos e equipes a melhorar seu desempenho, alinhar metas pro- fissionais e pessoais e corrigir rumos de carreira. O coach, profissional que conduz o coaching, não tem as respostas, mas sabe fazer boas perguntas para que seu cliente en- contre o melhor caminho. A aula 7 detalhará as principais ferramentas utiliza- das no coaching. São práticas comportamentais e de au- toconhecimento que ajudam o cliente a entender aquilo que o motiva a fim de definir seus objetivos e escolhas de carreira. A aula 8 demonstrará como ocorre o processo de coaching, desde a negociação realizada na primeira sessão, passando pelo planejamento das ações, o uso das fer- ramentas e a avaliação final do projeto. A aula 9 tratará do mentoring, processo que muitas vezes se confunde com o coaching, mas que possui ca- racterísticas próprias. O mentor ajuda pessoas menos ex- perientes profissionalmente a se desenvolver e conduzir seus objetivos profissionais de forma mais efetiva, porque possui a experiência que falta aos seus aprendizes. A aula 10 explorará o conceito de benchmarking, que muitas vezes é entendido como uma imitação de uma prá- tica de sucesso. Os japoneses utilizaram de forma eficaz o benchmarking nos anos 50 e 60 do século XX, e supera- ram suas referências em industrialização e tecnologia, que foram os países ocidentais. 13 O conceito de downsizing IE SD E Br as il S. A . O downsizing pode ser traduzido como “redução de tamanho” ou “achatamento” da estrutura organizacional. Dessa forma, o conceito sempre foi associado a cortes de custos e à redução de postos de trabalho. É comum ouvir empresários dizerem que estão promovendo um downsizing em suas empresas em vez de um corte de pessoas. Robert Tomasko (1990) foi um dos autores do termo downsizing em seu livro Downsizing: reformulando sua empresa para o futuro. O autor afirma que o conceito tem sido usado de forma errônea porque deveria atacar o tamanho exagerado das empre- sas e os custos desnecessários. O erro foi considerá-lo uma solução para todos os pro- blemas das empresas que busca apenas o corte de custos e de pessoas quando muitas vezes o problema estava em processos fundamentais como o atendimento ao cliente ou a falta de inovação perante a concorrência. O downsizing deveria ser encarado muito mais como uma forma de reduzir a buro- cracia da empresa e sua lentidão para tomar decisões do que um simples enxugamento sem critérios e foco. Segundo Nunes (2008), muitos autores renomados como Peter Dru- cker e Charles Handy vieram a público lançar sua indignação contra o conceito estreito de downsizing. Michael Hammer, um dos pais de “reengenharia”, conceito ligado a revi- são de processos e melhoriadas empresas, muitas vezes confundido com downsizing, afirma sua indignação em relação à confusão entre os dois termos porque explica que a reengenharia deveria ser aplicada ao crescimento das empresas e não ao contrário. 14 Uma forma de verificar se o conceito está sendo utilizado de forma adequada é verificar se o seu objetivo é a redução de tarefas, funções que não produzem o valor esperado para o cliente e demais parceiros de negócio, e simplificar sua estrutura orga- nizacional tornando-a mais horizontal e próxima do cliente final. A necessidade de racionalização de recursos O sucesso do downsizing está na criação de um projeto de racionalização de re- cursos, no enxugamento de atividades de baixo valor e na transformação de uma or- ganização pesada numa estrutura ágil, produtiva e inovadora. A racionalização de recursos obriga que as empresas aperfeiçoem suas estruturas e melhorem seus principais processos como o processo produtivo, comercial, desen- volvimento de produtos e de atendimento ao cliente. Quando um gestor apresenta a função que gerencia, costuma mostrar o tradicio- nal organograma, onde exibem as funções de forma vertical, que distancia a empresa do cliente. Além de não mostrar os clientes, o organograma tradicional também não mostra os produtos e serviços que a empresa fornece aos seus clientes. Finalmente, também não é mostrado o fluxo de trabalho para que os produtos e serviços sejam entregues. Quando a empresa é pequena, a disposição vertical não causa tantos problemas, pois todos se conhecem e a agilidade acaba sendo uma característica necessária à sua sobrevivência. O perigo está quando a empresa começa a crescer e não percebe que precisará ganhar agilidade para não se tornar engessada. Figura 1. O a ut or . Empresa A Produção Desenvolvimento de produtos Marketing e vendas Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 15 O conceito de dow nsizing Quando os gerentes entendem suas organizações de forma vertical, tendem a gerenciar seus departamentos de forma isolada. A gerência de produção possui suas metas e objetivos muitas vezes incompatíveis com as necessidades de marketing e vendas, o que faz com que a empresa se torne menos competitiva e perca mercados e rentabilidade. Em estruturas verticais, os gerentes enxergam os outros gerentes da mesma em- presa como inimigos, pessoas implacáveis que existem para pressioná-los em relação a prazos, qualidade e flexibilidade. Cada gerente tentará defender os seus interesses e o cliente acaba sendo esquecido. A estrutura vertical faz com que os gerentes gastem muito tempo resolvendo seus problemas internos e a visão de empresa torna-se limitada. Uma competição negativa é criada entre os diversos departamentos da empresa e as pessoas fugirão das suas responsabilidades para que quaisquer riscos sejam evitados. A estrutura horizontal da empresa inclui os elementos que faltam na visão ver- tical: o cliente, o produto e o fluxo de trabalho, além de mostrar os relacionamentos internos entre clientes e fornecedores por meio dos quais são produzidos os produtos e os serviços. O a ut or . Especificações Novos produtos Novas ideias Pedidos Necessidades Pedidos Produtos Marketing Vendas Cliente Fábrica 1 Fábrica 2 Fábrica 3 Desenolvimento Pesquisa Figura 2. A estrutura horizontal elimina os “feudos” criados nas empresas e espelhados nos diversos departamentos que as compõem. Esse é um dos fundamentos do downsizing, 16 deixar as empresas mais horizontais e reduzir a quantidade de gerentes que enxer- gam seus departamentos como estruturas isoladas. Na figura 2, é possível se pensar na substituição dos gerentes de desenvolvimento, produção e marketing/vendas pelo gerente do cliente, pessoa responsável por todo o processo que afeta o cliente. Por essa razão o downsizing leva muitas vezes ao achatamento das organizações e redução dos níveis hierárquicos, pois eliminam-se estruturas ineficientes por outras mais dinâmicas e eficazes. Outras formas de racionalização de recursos Além do achatamento da estrutura organizacional, o downsizing racionaliza re- cursos por meio das seguintes mudanças: IE SD E Br as il S. A . Centralização das funções de apoio – as estruturas que prestam apoio às áreas de linha de frente tendem a ser centralizadas e prestam serviços a todas as áreas. Por exemplo, a área jurídica ou o recursos humanos pertencem nor- malmente a uma estrutura corporativa que atende a todas as demandas da organização. Essa estrutura racionaliza recursos e centraliza as decisões e polí- ticas da empresa. Terceirização – o downsizing foca nas funções principais da empresa, como vendas, produção e marketing e tende a delegar a terceiros funções de baixo valor agregado, que podem ser feitas com mais eficiência e menores custos Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 17 O conceito de dow nsizing por empresas especializadas. Exemplos: áreas de segurança patrimonial, lim- peza e transportes são típicos para terceirização. Automação de funções – o uso de tecnologia da informação, com a implan- tação de automação industrial e sistemas de gestão é outra forma importante utilizada no processo de downsizing para racionalizar os recursos da empresa. Funções realizadas por muitas pessoas podem ser substituídas com maior efi- cácia pela automação, que elimina funções de menor valor e cria outras com maior apelo estratégico. Downsizing e planejamento estratégico O processo de downsizing das empresas deve necessariamente estar alinhado ao planejamento estratégico. Na realidade, o downsizing representa um dos resultados do planejamento da empresa. Quando o planejamento estratégico realizado define que a empresa irá concen- trar os seus esforços na produção de uma linha específica de produtos, o resultado pode ser um processo de redução de linhas de produção e eliminação de estruturas organizacionais, que faz parte do downsizing. Exemplo de planejamento estratégico e downsizing Avaliação do ambiente Existência de muitos concorrentes nos segmentos onde a em- presa não possui diferenciais. O a ut or . Avaliação interna Deficiências tecnológicas nos segmentos de atuação da em- presa onde não possui diferenciais. Objetivos estratégicos Eliminação de linhas de produção e foco no produto chave da empresa. Oportunidade para downsizing Criação de plano de downsizing que conterá enxugamentos organizacionais e redução de linhas de produção. O exemplo anterior mostra que o downsizing ocorreu em função da decisão es- tratégica de eliminar linhas de produção que não permitiam à empresa ser competi- tiva. Caso essa mudança não represente transferir recursos para a linha de produção que será focada pela empresa, o downsizing culminará com a redução de funções e empregos. 18 Três estratégias para implantação do downsizing Em relação à estratégia para implantação do downsizing, Mendonça (2000) identi- fica três tipos de estratégias usadas pelas empresas, conforme observa-se a seguir. Estratégias de downsizing (M EN D O N ÇA , 2 00 0) Redução na força de trabalho: Redesenho organizacional: Sistêmica: Foco: trabalhadores. trabalhadores e unidades. missão da empresa. Elimina: pessoas. funções. processos. Tempo de implementação: curto prazo. médio prazo. longo prazo. Indicativos: redução de custos a curto prazo. redefine a produção. redefine a estratégia. Exemplos: aposentadorias, pro- gramas de demissão voluntária, demis- sões sumárias. fechamento de unida- des, transferências de pessoas para outras unidades. mudança na linha de produtos, eliminaçãode serviços prestados, mudança no direcio- namento da empresa. A estratégia de redução na força de trabalho é caracterizada, principalmente, pela eliminação ou enxugamento do número de empregados no quadro funcional. O pe- ríodo para a implementação dessa estratégia pode ser de curto prazo. Na estratégia de redesenho organizacional, o foco principal é a realização de cortes no próprio trabalho, eliminando-se, por exemplo, funções, níveis hierárquicos, grupos ou divisões e produtos, ao invés de reduzir apenas o número de trabalhadores. O redesenho organizacional é uma estratégia de médio prazo. Na estratégia sistêmica o seu foco está na modificação da cultura, atitudes e valo- res dos empregados, envolvendo a adoção do downsizing como um modo de pensar e não como apenas um programa ou um alvo a ser atingindo. O tempo necessário para a implementação dessa estratégia é o longo prazo. Essas três estratégias de downsizing não são mutuamente excludentes e podem ser implementadas simultaneamente, apesar da maioria das empresas adotarem apenas a abordagem da redução da força de trabalho. Mendonça (2000) também destaca a possibilidade de adoção de duas importan- tes perspectivas para a análise das estratégias de downsizing assumidas por uma or- ganização – a profundidade e a extensão. A profundidade é caracterizada pela imple- mentação de um grande número de ações do mesmo tipo, ou estratégia. Enquanto a extensão caracteriza-se pela implementação de uma grande variedade de estratégias. Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 19 O conceito de dow nsizing Desse modo, as estratégias de downsizing adotadas por uma organização podem apre- sentar maior ou menor nível de profundidade e de extensão. O novo papel da liderança O processo de downsizing obriga que as lideranças tenham uma nova postura profissional e que assumam novos papéis. Pode-se destacar as principais mudanças necessárias à liderança em tempos de downsizing: Visão de processos Capacidade do líder entender e dominar todo o processo de negócios. Isso obriga que o líder tenha tran- sitado por praticamente toda a organização e invista no relacionamento com as demais áreas da empresa, que devem trabalhar como uma única estrutura. Adaptabilidade O downsizing elimina estruturas, mas cria outras. Dessa forma, o líder pode estar à frente da área industrial e ser transferido para a área comercial. Essa situação faz com que o líder tenha domínio das principais funções da empresa e capacidade para se adaptar a novas responsabilidades. Negociação multifocal O líder que comandará as mudanças trazidas pelo downsizing deverá negociar a nova realidade com múltiplos agentes, desde os acionistas, até com os clientes e cola- boradores. O papel de negociador com múltiplos focos torna-se essencial para que o processo ocorra em todos os segmentos. Empreendedorismo O downsizing colocará em evidência a capacidade empreendedora do líder. Em muitas situações ele pode deixar de ser contratado para se tornar um empresário, li- derando uma área que foi terceirizada no processo. A postura de “dono do negócio” Is to ck P ho to . 20 também será colocada à prova quando o líder tiver que conduzir seus subordinados na mesma direção, incentivando a aprendizagem em todos os níveis. O impacto para o emprego e para a empregabilidade Dowbor (2006) destaca as principais mudanças que a nova realidade do traba- lho, caracterizada pelo downsizing, traz para o trabalhador e, consequentemente, para o emprego e para a empregabilidade. Os vínculos do emprego O downsizing e o processo de mudanças organizacionais trazem mudança nos vínculos do emprego. Muitos trabalhadores que exerciam suas funções com carteira assinada passam para contratos como pessoa jurídica, autônomos ou terceirizados. Essa mudança tende a reduzir os direitos trabalhistas e obriga que os trabalhadores tenham mais flexibilidade para atuarem em seu trabalho. A remuneração do trabalho A remuneração do trabalho que sempre foi primordialmente fixa passa a ter uma parte variável cada vez maior, ligada ao cumprimento de metas e resultados financei- ros. O trabalho ganha um vínculo maior aos resultados atingidos pela empresa. O tempo de trabalho O tempo torna-se mais flexível porque o esforço do trabalho está ligado a tarefas cada vez mais variáveis, o que requer uma flexibilidade maior na jornada de trabalho. Ph ot o O bj ec ts . Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 21 O conceito de dow nsizing O local de trabalho As novas tecnologias trazidas pelo downsizing permitem que o trabalho seja des- locado das instalações da empresa e possa ser realizado de forma crescente em outros ambientes, como a própria casa do trabalhador. As telecomunicações e a internet estão criando uma nova forma de trabalho: o teletrabalho. Trabalho e aprendizagem As mudanças trazidas pelo downsizing exigem que o trabalhador se adapte às novas funções e às responsabilidades. Essa realidade obriga que haja uma gestão eficaz do conhecimento nas organizações e estimule à aprendizagem para que o trabalhador esteja apto às novas funções num curto espaço de tempo. Texto complementar A criatividade da Era do Downsizing (KASSOY, 2008) Para as empresas, a criatividade nunca foi tão importante como agora. Seja para gerar alternativas de negócios, redesenhar processos ou reduzir custos, a inovação tornou-se fundamental. Entretanto, várias organizações percebem que seus funcionários estão deixan- do de dar sugestões, administrar bem as mudanças ou perceber oportunidades. É como se, na iminência de se tornarem náufragos, todos corressem para a canoa furada do continuísmo, correndo assim o risco de abandonar navios que facil- mente poderiam ser salvos. Por que isso está acontecendo? E por que em algumas empresas mais do que em outras? 22 A meu ver, a explicação não é difícil – comecemos com os estudos da pesquisa- dora americana Tereza Amabile. Segundo essa especialista, o funcionário que mais contribui com sua criatividade é o que possui o know-how específico de sua área, sabe gerar, avaliar e vender suas ideias e está altamente motivado. Know-how específico e know-how para criar podem ser observados ou adquiri- dos facilmente. Mas como fica a motivação numa era em que o fantasma do desem- prego paira sobre quase todos os ambientes? É fácil mudar sob a ameaça de “mudar ou perder o emprego”? Em muitos casos, esta ameaça é a mais pura realidade. Mas sem direcionamen- to, instrumentos e suporte psicológico, ela se transforma em pânico: um indivíduo, quando atemorizado, tende a se inibir – e, portanto não experimentar o novo. A mesma Tereza Amabile nos mostra, em estudos realizados em empresas america- nas, que a perda da criatividade foi um dos maiores prejuízos que o downsizing gerou. O que fazer então? Se o downsizing acontece, aconteceu ou pode vir a aconte- cer em qualquer organização, como ter funcionários criativos apesar dele? Não recomendo discursos delirantes, do tipo “tudo vai dar certo”, pois estes geram perda da credibilidade e/ou depressão a partir do primeiro contratempo. Acredito na construção da autoconfiança – alicerce da empregabilidade. Adquiri- da passo a passo, a autoconfiança cresce cada vez que uma pessoa realiza um novo de- safio e, portanto se percebe mais capaz. A realidade não é negada nem exacerbada. A empresa, através de seus líderes e das estratégias de RH, dá instrumentos para o desenvolvimento de seus colaboradores através de desafios e suporte à sua realização. Ela também prevê formas de se administrar o risco – seja através de simu- lações, que serviriam de ensaio, projetos-piloto ou grupos de validaçãode ideias. Há um espaço seguro para o erro, para testar ideias ou novos comportamentos. Afinal, se até os melhores atletas treinam e os maiores atores ensaiam, por que não dar esse espaço para os executivos, e melhor ainda, para profissionais em todos os níveis? Desafios às empresas que não faltam. Que tal aproveitá-los para gerar aprendi- zado e autoconfiança? Acima de tudo, o risco bem administrado garante o que as empresas mais querem: inovação com bons resultados. Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 23 O conceito de dow nsizing Atividades Explique as principais diferenças para a gestão entre uma estrutura organiza-1. cional vertical e uma horizontal. Relacione três formas de racionalizar recursos trazidos pelo 2. downsizing. Por que 3. downsizing não é simplesmente um corte de custos e pessoas na organização? 24 Qual a ligação entre 4. downsizing e planejamento estratégico? Ampliando conhecimentos ABRAHAMSON, Eric. Mudança Organizacional. São Paulo: Makron Books, 2006. Em Mudança Organizacional, o professor da Columbia Business School, Eric Abrahamson, argumenta que, embora a mudança seja necessária para que as com- panhias cresçam e prosperem, a dor que a acompanha não é. Em vez de eliminar e inventar do nada, a recombinação criativa atinge a mudança dando um novo uso para elementos organizacionais existentes. O autor delineia uma nova abordagem para a mudança – recombinação criativa – que contrasta fortemente com a abordagem de “destruição criativa” defendida pelos campeões das mudanças nas organizações nas últimas duas décadas. Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 25 O conceito de dow nsizing 27 O projeto de downsizing O contexto do projeto Downsizing pode ser traduzido como “enxugamento” e visa racionalizar os recursos de uma organização para que se torne mais competitiva. Infelizmente, downsizing tor- nou-se quase sinônimo de corte de pessoas, que muitas vezes é realizado sem critérios e sem uma análise detalhada da estratégia e dos resultados esperados. Dessa forma, empresas que promoveram um corte sumário de pessoas, sem a devida “inteligência” de que o processo necessita, tiveram resultados ruins, como a queda na qualidade dos seus produtos e serviços, equipes movidas pelo medo e clientes insatisfeitos. O foco do projeto deve melhorar o relacionamento da empresa com seus clientes, melhorar o desempenho dos seus colaboradores e trazer melhores resultados finan- ceiros e mercadológicos para a empresa em seu mercado. Para ilustrarmos o projeto de downsizing, criaremos uma empresa fictícia chamada “Fast Meal”, empresa especializada no fornecimento de máquinas automáticas para lan- ches rápidos, pequenas refeições e serviços de café, chamadas de vending machines. D iv ul ga çã o: V en di ng K in g. 28 Os clientes da Fast Meal estão preocupados em disponibilizar ao seu público uma opção prática e de baixo custo para o consumo de café e lanches durante o período de trabalho. Hospitais, laboratórios, empresas de call center e escritórios são clientes típicos da Fast Meal. A empresa cresceu significativamente nos últimos anos, conseguindo a liderança em seu mercado. Esse crescimento acelerado trouxe consequências negativas para a empresa, como: clientes insatisfeitos com o serviço de pós-venda e com o suporte for- necido pela empresa. O atendimento telefônico feito por auxiliares administrativos está sempre con- gestionado, a solução de problemas é lenta, dúvidas técnicas e comerciais são tratadas com morosidade e muitas vezes aquilo que o cliente quer saber não é respondido pela equipe de atendimento, além disso, o atendimento é ríspido e pouco eficiente. Em relação ao suporte técnico das máquinas a situação não é diferente. Reclama- ções de que as máquinas “engolem” o dinheiro dos consumidores sem entregar o produ- to são constantes. Após o acionamento da equipe técnica, existe muita demora para que a manutenção ocorra, e é muito comum as máquinas ficarem dias sem funcionamento. Esse contexto fez com que a empresa começasse a perder clientes e sofresse uma queda em seu faturamento. Contudo, seus custos continuavam no mesmo patamar, reduzindo a lucratividade da empresa. A empresa resolveu implantar um projeto de downsizing para reverter o quadro negativo, voltar a crescer e racionalizar seus custos. Planejamento O projeto de downsizing começa pelo levantamento das causas geradoras dos problemas encontrados pela empresa. No caso da Fast Meal foram listadas as seguin- tes causas: falta de integração entre a equipe de vendas e de pós-venda; inexistência de visitas aos clientes para a criação de um relacionamento pre- ventivo que evitasse reclamações e dúvidas; atendimento telefônico ineficaz que não resolvia os problemas dos clientes, além de apresentar rispidez e pouco envolvimento da equipe; Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 29 O projeto de dow nsizing demora no agendamento das visitas da equipe de suporte técnico, que fazia com que as máquinas ficassem sem funcionamento por muito tempo e com isso os clientes teriam que esperar muito para receberem a devolução do di- nheiro que ficava “preso” nas máquinas. Após o levantamento das causas geradoras dos problemas, a empresa detalhou um plano de ação para cada uma delas, que deu origem ao projeto de downsizing. Para o detalhamento do plano de ação, a empresa analisou o seu organograma, nas funções relacionadas ao cliente, e descobriu vários pontos de melhoria. Diretoria geral Gerência de vendas Equipe de vendas Gerência administrativa Equipe de atendimento Gerência operacional Equipe de suporte técnico O a ut or . Após a análise do organograma da empresa, ficou claro que as funções relaciona- das ao cliente estavam dispersas, o que fazia com que os momentos de contato entre a empresa e o cliente não tivessem uma estratégia unificada e as ações que deveriam melhorar a satisfação do cliente não ocorriam, aumentando a distância entre a empre- sa e seus clientes. 30 Falta de integração entre a equipe de vendas e pós-venda As três equipes que tinham contato com o cliente (equipe de vendas, atendimento e supor- te técnico), estavam ligadas a gerências diferen- tes. A gerência administrativa, que era responsá- vel por todo o fluxo administrativo da empresa também era responsável pelo atendimento ao cliente, função essencial para qualquer empresa. A gerência operacional, responsável pela engenharia e desenvolvimento de máquinas também era responsável pela equipe de suporte, que era tratada sem coordenação com as demais equipes que interagiam com o cliente. A primeira ação decidida pela empresa foi unificar as equipes de vendas e atendi- mento para que uma mesma gerência fosse responsável pelo relacionamento com o cliente, tanto no momento da venda como no serviço de pós-venda. Já a gerência de vendas passou a se chamar “gerência de relacionamento”. Inexistência de visitas ao cliente A antiga equipe de vendas foi substituída por “gestores de relacionamento” com a função de visitar clientes em potencial e seus clientes atuais, visando sanar dúvidas e resolver problemas de forma preventiva a fim de evitar reclamações do cliente. Essa nova equipe também deveria buscar novas oportunidades nos clientes atuais porque era mais interessante para a empresa aumentar as vendas nos clientes atuais do que partir para novos clientes, que necessitavam de maiores esforços de venda. Atendimento telefônico ineficaz A antiga equipe de atendimento, formada por assistentes administrativos foi substituída por umServiço de Atendimento ao Cliente (SAC) com pes- soas especializadas em atendimento ao cliente. Serão criados procedimentos e indicadores de qualidade como: o tempo de espera do cliente, nota de qualidade para o atendimento e acompa- nhamento do tempo de solução do problema. Ju pi te r I m ag es /D PI Im ag en s. Co m st oc k Co m pl et e. Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 31 O projeto de dow nsizing Demora no agendamento das visitas da equipe de suporte técnico A equipe de suporte técnico também foi transferida para a nova gerência de relacionamento com clientes, in- tegrada com as equipes de gestores de relacionamento e o SAC. Dessa forma os gestores de relacionamento poderiam acionar a equipe de suporte a partir das visitas aos clientes, e quando os clientes quisessem agendar visitas técnicas pelo telefone, ligariam para o SAC que agendaria a visita e ficaria responsável pelo acompanhamento da ocorrência técnica até o seu fechamento. Novo organograma da Fast Meal Diretoria geral Gerência de relacionamento Gestores de relacionamento Gerência administrativa SAC Gerência operacional Equipe de suporte técnico O a ut or . Co m st oc k Co m pl et e. Co m st oc k Co m pl et e. Ju pi te r I m ag es / D PI Im ag en s. Co m st oc k Co m pl et e. 32 Definição de metas Após o planejamento do projeto e da definição da nova estrutura organizacional, foram definidas metas a serem buscadas após o downsizing. As principais metas seriam: D iv ul ag aç ão V en di ng K in g. Vendas de novos produtos – os gestores de relacionamento terão como meta aumentar o volume de vendas dos clientes atuais em 10% nos primeiros dois meses de trabalho na nova estrutura. O aumento nas vendas ocorrerá pela diversificação dos produtos consumidos nas máquinas. Visitas dos gestores de relacionamento – cada gestor deverá visitar seus clientes uma vez a cada quinze dias, e poderá ser acionado a qualquer mo- mento por telefone caso os clientes tiverem algum problema grave ou não solucionado pelo SAC. Fechamento de ocorrências no SAC – todas as reclamações no SAC darão origem a uma ocorrência que deverá ser fechada em, no máximo, 48 horas com a resolução do problema do cliente de forma satisfatória. Solução de problemas técnicos – cada chamado técnico por problemas nas máquinas deverá ser solucionado em, no máximo, 12 horas com a devolução do dinheiro ao cliente no momento da visita técnica. Número de chamados técnicos – deverão ser reduzidos em 20% nos primei- ros dois meses. Esse processo estará integrado com a área de engenharia que deverá desenvolver novos componentes com maior durabilidade. Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 33 O projeto de dow nsizing Avaliação econômica A avaliação econômica é uma etapa fundamental no projeto de downsizing, onde será avaliado o impacto econômico do novo processo. É preciso avaliar os custos do processo antigo e do novo processo, bem como a quantidade de pessoas envolvidas. Avaliação dos custos Estrutura antiga Estrutra nova Quantidade Descrição Custos Quantidade Descrição Custos 12 Equipe de vendas R$36.000,00 8 Gestores de re- lacionamento R$32.000,00 10 Auxiliares ad-ministrativos R$16.000,00 8 Agentes de atendimento R$11.200,00 15 Técnicos de suporte R$39.000,00 12 Técnicos de suporte R$36.000,00 Total 37 R$91.000,00 28 R$79.200,00 O a ut or . A equipe antiga apresentava um custo total de R$91.000,00 com 37 colaboradores. A nova estrutura terá um custo total de R$79.200,00 com 28 colaboradores. A empresa economizará R$11.800,00 e reduzirá seu quadro de colaboradores em 9 pessoas. A pergunta que se faz é como a empresa consegue reduzir pessoas e melhorar a qualidade dos serviços prestados? Esse é o segredo do downsizing: foco. A empresa mudará sua forma de traba- lho, dando maior foco aos seus processos de negócios. Na estrutura antiga, a empre- sa possuía 12 vendedores com um salário médio de R$1.500,00 e o custo total era de R$36.000,00 {12 pessoas x R$1.500,00 x 2 (encargos sociais e impostos)}. Era um grupo disperso que não se preocupava em fidelizar seus clientes. Na nova estrutura, a empresa terá apenas 8 gestores de relacionamento, mas o salário médio passará a R$2.000,00 e o custo total cairá para R$32.000,00 {8 pessoas x R$2.000,00 x 2 (encargos sociais e impostos)}. Outro ponto importante no projeto é a introdução de pessoas com maior quali- ficação. No novo processo, os gestores de relacionamento terão um salário maior do que os antigos vendedores. Troca-se um grupo maior com pouco foco e qualificação por um grupo menor com foco e qualificação superior. Esse é o motivo que o downsi- zing pode gerar demissão de pessoas, pois o novo processo obriga que tenha maior 34 qualificação dos colaboradores. Reciclagem do antigo grupo pode ser a solução para que as demissões sejam evitadas e o excedente de pessoas pode ser transferido para outras tarefas na organização. Contudo, é importante salientar: O downsizing elimina as ineficiências e isso pode significar que as pessoas que não se adaptarem poderão perder seu emprego. Comitê do projeto Para garantir um processo transparente e com a aderência da empresa, o projeto de down- sizing deverá envolver o máximo possível de pes- soas, por meio de um comitê do projeto. O comitê deverá possuir representantes das áreas envolvidas para a análise das oportunidades de melhoria. Projetos grandes que mudarão radi- calmente a empresa e afetarão a vida de muitas pessoas devem envolver o sindicato dos trabalhadores da categoria afetada. Essa é uma medida que garante um processo justo e as reações serão minimizadas. Caso o projeto cause demissões, o comitê poderá negociar com a empresa um programa de demissões voluntárias, onde as pessoas receberão benefícios adicionais na demissão e orientação para recolocação. Essas medidas são eficazes e representam um importante grau de maturidade da empresa. O processo de comunicação Comunicar corretamente as mudanças que o projeto de downsizing trará é um ponto crítico no processo. Se não houver clareza nos impactos causados às pessoas, a empresa será dominada por boatos e por um clima de medo e ansiedade. Is to ck P ho to . Co m st oc k Co m pl et e. Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 35 O projeto de dow nsizing Quanto mais informações verdadeiras as pessoas receberem, mais tranquila será a implantação das mudanças. Devem ser agendadas reuniões com os colaboradores, di- rigentes da empresa e com o comitê do projeto. Palestras de conscientização também são importantes e devem contar com a presença do alto escalão da empresa para que tenham credibilidade. O papel de Recursos Humanos: captação de talentos e capacitação O profissional de recursos humanos será figura chave no projeto de downsizing. Isso ocorrerá porque as novas funções desenhadas farão com que a empresa tenha que investir na captação de novos talentos e na qualificação das pessoas que trabalha- vam no processo antigo. O setor de recursos humanos também deverá conduzir o processo de comunicação do projeto, monitorando o clima organizacional e o nível de estresse que o downsizing poderá gerar. Fazer downsizing não é algo simples para nenhuma empresa. Porém, quanto mais profissional e transparente for o projeto, mais fácil será para a organização conviver com a transição para as mudanças. Pontos-chavedo projeto de downsizing Recapitulando o que foi visto nesta aula, o projeto de downsizing exige: Foco no cliente ao desenhar o novo processo de negócios. Aumento da agilidade e da eficiência na empresa. Simplificação dos processos com aumento na qualificação das pessoas. Comunicação eficaz do projeto. Envolvimento de recursos humanos para a análise do novo perfil de profissionais de que a empresa irá precisar e manutenção de um clima organizacional adequado. 36 Texto complementar Retendo talentos no pós-downsizing (TREVOR, 2008) Manter os bons empregados após processos de downsizing – enxugamento da empresa – é um desafio para os profissionais de RH. Depois das demissões, o clima de desconforto mobiliza grande parte da equipe em busca de novas oportunidades fora da companhia e os que se despendem da diretoria nessa fase são justamente os que ela gostaria que ficassem. Os pesquisadores da University of Wisconsin-Ma- dison, Charlie O. Trevor e Anthony J. Nyberg, estudaram os processos de redução de empregados por mais de dois anos, e observaram como os departamentos de RH estão agindo para evitar o êxodo dos colaboradores. Cortar custos e melhorar a performance são, geralmente, o que motiva um processo de enxugamento. Mas o número de demissões pode se tornar maior do que o pretendido, alerta Trevor. Dentre as mais de cem empresas estudadas, e que passaram por downsizing, houve um caso extremo e digno de nota: um processo de demissão de 1% da força de trabalho gerou 31% de pedidos de desligamento voluntário. O número de demissões voluntárias é variável, e geralmente menor do que o exemplo. Boa parte, entretanto, é formada por profissionais oriundos dos programas de desenvolvimento de carreira. Isso acontece, acreditam os pesquisadores, porque esses programas aumentam o conhecimento dos empregados sobre o mercado ex- terno e as oportunidades existentes, e os tornam mais desejosos de buscar novas searas. “A empresa quer mantê-los; e práticas iluminadas de RH podem ajudar a fazê- -lo”, comenta o professor. Em entrevista ao CanalRh, Charlie O. Trevor conta quais são as alternativas que as empresas estão encontrando para manter os profissionais nas empresas. Canal Rh: Para fazer esse estudo, o Sr. e Anthony Nyberg analisaram dois anos de dados compilados sobre as empresas que pretendem ser incluídas no ranking anual da revista Fortune “100 Melhores Empresas para se Trabalhar”. A maioria delas passou por um processo de downsizing? Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 37 O projeto de dow nsizing Trevor: Como se afirma no documento, 38% da amostra de 267 empresas pas- saram por esse processo no ano em que as demissões foram medidas ou nos dois anos anteriores. Canal Rh: Durante os anos 1980 e início dos 1990, downsizing era uma prá- tica comum, porque grandes fábricas estavam se adaptando a uma nova reali- dade, com inovações tecnológicas, um mercado mais ágil e públicos personali- zados. E agora? As empresas ainda estão tentando reduzir? Trevor: Sim, mas não só na indústria transformadora. Empresas de todos os ramos passam por downsinzing, independentemente do setor industrial, do sucesso financeiro ou do tipo de empregados que contrata. A tentação de reduzir os custos trabalhistas é grande, especialmente com as pressões decorrentes de uma econo- mia mais global. Além disso, as empresas estão muitas vezes se reestruturando em resposta a um ambiente mais fluido, e o downsizing é muitas vezes uma parte desta reestruturação. CanalRh: Durante a pesquisa, vocês observaram que programas de desen- volvimento profissional foram associados a um maior volume de pedidos de demissão voluntária. Por que isso acontece? Trevor: O downsizing leva os profissionais a examinar suas opções internas e externas. Quando ele ocorre, o caráter de seleção e sinalização dos programas de progressão de carreira superam seus efeitos de conexão. Em parte, isso acontece porque a redução deixa os sobreviventes mais pessimistas quanto às possibilida- des de desenvolvimento de carreira. A melhor maneira de lidar com essa situação é enfatizando programas de RH que melhorem a percepção de justiça nos processos de demissões, e reforcem o desejo de permanência, reduzindo os desligamentos voluntários que acontecem pós-downsizing. CanalRh: O que traz mais influência às demissões voluntárias após o down- sizing: o sentimento de insegurança dentro da empresa ou o repentino “abrir os olhos” para o mercado? Trevor: São dois fatores que não se excluem. Em certa medida, é a inseguran- ça, a insatisfação e a desconfiança trazidos pelo downsizing que leva os trabalha- dores a darem uma boa olhada para o mercado e, posteriormente, a sair. Por outro lado, é provável que alguns empregados, posto o downsizing, abram os olhos e tomem melhor conhecimento das oportunidades de fora, mesmo não se sentindo inseguros. 38 CanalRh: Que ações de RH trouxeram um bom resultado? Trevor: O estudo mostrou que práticas que explicitam a justiça do processo de demissões, e que desenvolvem um senso de comunidade (pelo job embedded- ness, por exemplo), podem reduzir substancialmente o volume de demissões pós- downsizing. Nossa pesquisa não aborda a remuneração por desempenho, mas este também é um forte instrumento de retenção de talentos – e é um ponto crucial, já que os funcionários de elevada performance são os que a empresa tem mais inte- resse em manter. Essas práticas variam entre segmentos: serviços de assistência aos filhos, por exemplo, pode importar mais ao setor de serviços do que à indústria. As percepções, no entanto, se mantêm as mesmas em todos os diferentes tipos de em- presas: justiça, envolvimento, engajamento. Canal Rh: Não é desconfortável para os profissionais que permanecem na empresa essa intensificação dos benefícios, enquanto um número considerável de colegas de trabalho estão sendo despedidos? Como construir uma imagem de equidade e de justiça? Trevor: Sobreviventes ao downsizing não ficarão particularmente felizes, pelo menos por algum tempo. Mas a empresa quer mantê-los. E práticas iluminadas de RH podem ajudar a fazê-lo. Tratar com respeito e dignidade seus trabalhadores, permitindo-lhes participar nos processos de decisão, e partilhar informações rele- vantes, abertamente, com todos eles, podem ajudar a convencê-los de que estão trabalhando para um empregador justo. Atividades Por que o projeto de 1. downsizing deve ter o cliente como foco? Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 39 O projeto de dow nsizing Por que o projeto de 2. downsizing deve conter a revisão do organograma a empresa? Por que após o 3. downsizing a empresa consegue fazer mais e melhor com me- nos pessoas? Qual o papel da comunicação no projeto de 4. downsizing? Ampliando conhecimentos RIFKIN, Jeremy. O Fim dos Empregos. São Paulo: Makron Books, 2004. A economia global, segundo Jeremy Rifkin, vem testemunhando uma transfor- mação fundamental na natureza do trabalho, e esta remodelará a civilização do século XXI. Neste livro, Rifkin afirma que estamos adentrando em uma nova fase na história – uma fase caracterizada pelo declínio contínuo e inevitável do nível de empregos. Computadores sofisticados, robótica, telecomunicações e outras tecnologias da Era da Informação estão rapidamente substituindo os seres humanos em praticamente todos os setores e mercados. Fábricas e empresas virtuais quase despovoadas assomam no horizonte. Rifkin alerta que o fim dos empregos pode constituir o colapso da civiliza- ção como a conhecemos, ou assinalar os primórdios de uma grande transformação social e um renascimento do espírito humano. 41 Resizing O conceito de resizing Resizing significa “redefiniçãode tamanho”. Esse termo foi criado pelo argentino Rodolfo Eduardo Biasca (1995), professor e consultor de empresas, para diferenciar o processo de mudança do conceito de downsizing, que significa “enxugamento” e ficou marcado pelo fato de que as empresas, para se modernizarem, precisam encolher de tamanho. No conceito de resizing, Biasca defende que a empresa deve ter o tamanho, a estrutura e visão adequada à sua competitividade e isso não significa necessariamente diminuir a empresa e demitir pessoas. Os termos restructuring, downsizing, turnaround etc. começaram a surgir em função das crises e mudanças estruturais das economias mundiais nos anos de 1970, que forçaram as reestruturações nas empresas para se adaptarem ao novo contexto. O início do processo de mudanças ocorreu com a primeira crise do petróleo em 1973, que aumentou significativamente o preço do barril e criou condições desfavorá- veis para as empresas, provocando o início dos ajustes em suas estruturas. Co m st oc k Co m pl et e. 42 Em 1979, começam a ser difundidas as novas características das plantas indus- triais, projetadas para serem operadas de forma a aumentar a sua produtividade. A segunda crise do petróleo em 1979 contribuiu para que as empresas acreditassem que o mundo começava a se tornar imprevisível e turbulento e os padrões de consumo e o comportamento do consumidor também estava mudando. Os anos de 1980 trouxeram a valorização do dólar e o endividamento dos países do Terceiro Mundo. As nações tiveram que proceder a ajustes macroeconômicos e suas empresas também necessitaram de se adaptar à nova realidade, com mudanças na sua organização e em suas políticas comerciais e de produção. Nos países desenvolvidos a competição se acirrou, principalmente com a investida do Japão no mercado europeu e norte-americano. Nas grandes empresas multinacionais, os termos ajuste, adaptação e enxugamento come- çaram a se difundir e Robert M. Tomasko (1990) lançou o livro Downsizing: reformulando e redi- mensionando sua empresa para o futuro, no qual introduz a necessidade de reestruturação das empresas para competirem num mercado cada vez mais globalizado. A partir dos anos de 1990, o processo de re- estruturação das empresas tem eliminado vagas e mudado o papel das gerências, que se tornam mais estratégicas e polivalentes. Termos como outplacement (recolocação de pessoas demiti- das, principalmente gerentes e executivos) e out- sourcing (terceirização de funções nas empresas para seu fornecedor) começam a se difundir nos meios empresariais. As empresas se preocupam em diminuir de tamanho e a entregar para outras empresas funções menos estratégicas. Esse contexto impul- siona o setor de serviços em todo o mundo, que recebe um grande contingente de empregos da indústria. Atualmente, o setor de serviços é o maior empregador e se isso causou desemprego na indústria, por outro lado, criou muitas oportunidades de emprego em novas empresas que foram criadas para servir o setor industrial. Finalmente, após uma série de enganos de empresas que acharam poder reduzir de tamanho de forma indiscriminada, surge o termo rightsizing, defendendo o “tama- nho certo” das empresas, culminando com o termo resizing de Biasca (1995) que for- mula sua receita de mudança baseada em três princípios: inicialmente as empresas devem proceder a um “ajuste drástico” em suas estruturas, depois devem assegurar o sucesso no tempo por meio da “criação do futuro da empresa” e finalmente devem se preocupar com o êxito da sua “busca da eficácia empresarial”. Cr ea tiv e Co m m on s. Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 43 Resizing (B IA SC A , 1 99 5, p . 2 8) Figura 1. Ajuste drástico à realidade Criação do futuro da empresa Busca da eficácia operacional Primeira fase Segunda fase Terceira fase O ajuste drástico à realidade A primeira fase no processo de mudança das empresas, segundo o resizing de Biasca (1995), é o ajuste drástico à realidade. Essa fase é composta por três etapas: reestruturação profunda da empresa; revisão de suas estratégias; gestão do processo de mudança (mudança da estrutura e da estratégia). Reestruturação profunda Segundo Biasca (1995, p. 18), a estrutura de uma empresa é formada por seus as- pectos físicos (instalações, localização etc.), administrativos (procedimentos, organiza- ção), humanos, financeiros e legais. 44 Estrutura da Empresa Aspectos Variáveis Físicos Tamanho Localização Instalações Estoques Tecnologia utilizada Rede de distribuição Rede de fornecedores Administrativos Organização: alcance do controle; quantidade de níveis verticais; tipo de tarefas realizadas; integração entre áreas. Procedimentos: grau de complexidade; velocidade; mecanismos de melhorias. Humanos Cultura: base de poder; comportamentos; recompensas e castigos; compromisso com a empresa. Lideranças: estilo; grau de delegação; tipo de controles; habilidades gereciais. Financeiros Composição dos ativos e passivos Legais Tipo da sociedade (B IA SC A , 1 99 5, p . 1 9) Mudanças estruturais nas empresas não é algo que ocorre todos os dias. Muitas vezes acontecem antes de mudanças em sua estratégia, a fim de que a nova estrutura esteja adequada aos desafios que a nova estratégia trará. Antes de iniciar um processo de reestruturação, as empresas devem levar em con- sideração os seguintes aspectos: Reestruturar não é o mesmo que eliminar funcionários. Um corte indiscrimina- do de pessoas pode trazer mais problemas do que soluções para as empresas, pois poderá sobrecarregar as pessoas que permanecerem e tirar o foco daque- las funções que são realmente necessárias. Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 45 Resizing A reestruturação deve estar ligada à estratégia da empresa. Caso a empresa resolva diversificar sua produção, concentrar ou diferenciar seus produtos e serviços, ela deve criar uma estrutura alinhada com essas mudanças. Uma em- presa que decida diversificar e inovar sua produção deverá ter uma estrutura ágil e eficaz, com pessoas voltadas à inovação e com uma postura criativa. Reestruturar deve levar à simplificação e à transferência de atividades de menor valor. As empresas precisam eliminar as tarefas burocráticas, que em- perram suas decisões e transferir para terceiros, funções que não geram muito valor para o cliente e que podem ser feitas de forma mais eficiente por empre- sas especializadas. Na reestruturação, a empresa deve olhar para fora. É necessário que a empresa entenda o que o mercado busca, quais são as exigências dos clientes, quais as necessidades da comunidade atendida pela empresa e quais são as melhores práticas do setor no qual atua. Revisão da estratégia A revisão deve ser precedida de uma análise no ambiente interno e externo à empresa. Mudanças bruscas no ambiente podem requerer revisões estratégicas mais frequentes e amplas. Rever a estratégia de uma empresa significa repensar sua orien- tação, suas metas e a estratégia a seguir. Orientação da empresa: é preciso questionar os rumos que a empresa pre- tende seguir. A busca pela liderança pode fazer com que a empresa assuma uma postura agressiva em relação ao marketing praticado. A entrada em um novo mercado forçará com que a empresa incentive a inovação em sua estru- tura ou crie vantagens aos clientes que pretende ganhar. Metas: definem as ações que a empresa irá executar e isso poderá alterar sua estratégia. Quando é criada uma meta de desenvolver um novo produto, a em- presa poderá investir mais em pesquisa e desenvolvimento, contratar novos talentos e mudarsua política de incentivos. Estratégia: a definição da orientação da empresa e de suas metas levará a mudanças em sua estratégia. Existem dois níveis de estratégia que deverão ser considerados. O primeiro nível está ligado à corporação, isto é, ao tamanho da empresa, ao uso de tecnologia, à diversificação produtiva e às alianças estraté- gicas que fará com outras empresas. O segundo nível está ligado ao negócio que significa o nível de investimentos necessários, quais os mercados que irão competir e quais serão os seus diferenciais competitivos. 46 A gestão da mudança Após definida a nova estrutura que a empresa terá e seu novo direcionamento estratégico, é preciso conduzir o processo de mudança, que impactará na relação com a empresa e seus acionistas, colaboradores, clientes, fornecedores e demais parceiros. Um processo de mudança mal conduzido poderá levar a perdas de mercado, prejuízos e arranhões na imagem da organização. Essa é a fase mais crítica no resizing. As mudanças podem envolver diversos as- pectos na organização. Por exemplo: mudanças no processo produtivo, no design dos produtos, na forma como o trabalho é realizado, nas polí- ticas de recursos humanos, nos papéis dentro da organização, entre outros. A primeira etapa do processo de mudança é a resposta da seguinte questão: por que mudar? É preciso definir qual a necessidade de mudança, quem a está provocando e qual é o motivo. Uma nova exigência dos clientes pode ser o motivo da mudança e a empresa deverá escolher em que grau pretende mudar. A segunda etapa representa uma visualização do futuro. Qual será a nova missão da empresa? Como ficará sua rede de distribuição? Como seus clientes irão reagir à nova situação? É preciso calcular a amplitude do caminho a percorrer. A terceira etapa é a transição entre a situação que se quer mudar e a nova situa- ção, que trará uma nova realidade à empresa. A fase de transição deve levar em conta o planejamento da mudança, o grupo responsável por conduzi-la e os pontos críticos para a sua implementação. A quarta etapa é a administração do estado de mudança, onde serão tratadas as resistências internas e externas, monitorando o desempenho e o nível de rentabilidade da empresa. O processo de transição é crítico, pois pode trazer uma queda na perfor- mance da empresa. D ig ita l J ui ce . Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 47 Resizing Desempenho Situação anterior à mudança Situação após a consolidação da mudança Fase de adaptação com possível queda de desempenho Tempo O a ut or . Criação do futuro da empresa Após a primeira fase de reestruturação drástica, visando adequar a empresa às necessidades e às expectativas urgentes de seus clientes, a empresa precisa se preparar para o futuro a fim de evitar que seja pega de surpresa pelo processo contínuo de mudanças. Na fase “criação do futuro da empresa”, é feita uma análise detalhada do ambiente no qual a empresa está inserida. Isso é feito através de uma pesquisa do diagnóstico externo à empresa, na qual se detectam as mudanças de comportamento, entrada de novos competidores e demais ameaças e oportunidades. Análise do ambiente externo O diagnóstico do ambiente externo divide-se em: sondagem, análise e previsão. 48 Sondagem: consiste em mapear o macro e o microambiente nacional e inter- nacional para determinar as variáveis críticas à empresa. A análise do microambiente envolve: o estudo dos clientes, competidores e a es- trutura de mercado. Em relação aos clientes, é importante mapear os clientes atuais e potenciais e descobrir quais são suas necessidades atuais e aquelas não atendidas. Na análise dos competidores é preciso investigar quais recursos possuem, os sistemas que utilizam, como é a sua organização e qual estratégia estão seguindo. No mercado é necessário estudar o seu tamanho atual e potencial, sua es- trutura de custos, seu sistema de distribuição e as principais tendências. A análise do macroambiente envolve os fatores: socioeconômicos, sociais, cultu- rais e tecnológicos. Nos fatores socioeconômicos é importante saber qual o nível de atividade econômica do país, o nível de preços, a distribuição demográfica da popu- lação, a distribuição de renda, além de fatores locais, como o clima, ecolo- gia e as migrações internas. Em relação aos fatores sociais e culturais deve-se pesquisar a diversidade cultural, a inserção da mulher e de grupos sociais específicos no merca- do de trabalho, as mudanças no estilo familiar, a importância da quali- dade de vida para a população e os valores e costumes que norteiam os consumidores. Os fatores tecnológicos a serem pesquisados envolvem o uso da tecnolo- gia da informação, a biotecnologia, o uso de novos materiais e as novas formas de geração de energia. Análise: essa é uma etapa de reflexão, em que a história será analisada e serão prospectadas as tendências do ambiente. Serão investigadas as relações entre as variáveis, como produção, consumo, investimento e comércio exterior. Re- lações entre o salário real e o consumo também serão feitas, além do impacto da taxa de juros e a inflação, entre outras. Previsão: essa etapa procura prever o comportamento futuro das variáveis críticas do ambiente e avalia as mudanças no contexto da empresa. Serão utilizadas técnicas de prognóstico quantitativas (modelos econométricos, re- gressões e demais técnicas estatísticas) e quantitativas (estimativas da força de vendas, entrevistas com consumidores, pesquisas de mercado etc.). Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 49 Resizing (B IA SC A , 1 99 5, p . 2 89 ) Sondagem Análise Previsão Ambiente Mapa atual Relações Mapa futuro Diagnóstico externo Impulso inovador Após a empresa analisar o seu ambiente externo e se preparar para as ameaças e oportunidades existentes, é necessário que se projete ao mercado pela inovação. Se- gundo Biasca (1995, p. 323), “a inovação gera crescimento, aumenta a produtividade, prolonga vidas, gera empregos e enriquece experiências”. IE SD E Br as il S. A . 50 A inovação sistemática deve começar com a análise de oportunidades, ser sim- ples e dirigida a uma aplicação específica. Deve começar no presente e não para o futuro e requer talento e conhecimento. A inovação é um dos fundamentos da excelência, mas não garante que a empresa terá resultados favoráveis. A década de 1990, quando o conceito de resizing foi criado por Biasca (1995), foi marcada por inovações importantes na área tecnológica e na criação de novos serviços e formas de relacionamento da empresa com seus clientes. A segunda metade dos anos de 1990 trouxe o surgimento da internet, que representa atualmente uma mudança radical na forma das pessoas se relacionarem e interagirem com as empresas, obrigando o início de um novo ciclo dentro do resizing. A busca da eficácia operacional A terceira fase do resizing é a busca da eficácia operacional. Após a empresa ter se reestruturado e se preparado para a inovação, precisa manter uma operação eficaz, com uma estrutura ágil, excelência em serviços e uma postura inovadora. A eficácia operacional é dividida em duas etapas: a eficiência global; a qualidade total. Eficiência global O esforço para aumentar a eficiência da empresa deve responder a três questões básicas: onde concentrar os esforços? O que fazer? Como fazer? (B IA SC A , 1 99 5, p . 3 84 ) Análise Ideias Ação Onde concentrar os esforços? O que fazer? Como fazer? Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 51Resizing Análise: representa a situação da empresa em relação aos aspectos externos e internos. Os aspectos externos devem considerar a eficiência da empresa em relação à concorrência, seu posicionamento no mercado (por diferencia- ção ou baixo custo) e como a eficiência da empresa permite que acesse os mercados externos. Em relação aos aspectos internos, é preciso saber se a es- trutura da gestão da empresa é eficiente, se possui processos competitivos e como seus indicadores de desempenho posicionam a empresa em relação à concorrência. Ideias: essa etapa dedica-se à elaboração de ideias que gerem melhorias na empresa. As ideias buscam resolver dois tipos de problemas: analíticos e de criatividade. Os problemas analíticos são bem delimitados e a solução buscada é normalmente apenas uma e visa atender a questões de engenharia, produ- ção ou pesquisa operacional. Os problemas criativos não são bem delimitados e podem possuir várias soluções. Questões ligadas ao relacionamento pessoal, aos estilos de gestão e à cultura requerem soluções criativas e a eficácia deve ser medida por meio de indicadores precisos, como a rotatividade da empresa e o volume de reclamações dos clientes. Ação: nessa etapa serão colocadas em prática as ideias geradas na fase an- terior. A existência de um plano de ação é essencial para que as ideias sejam efetivamente implantadas. O plano de ação deve relacionar o problema a ser resolvido, a meta ligada ao problema, o responsável pelo plano, as tarefas re- lacionadas, os recursos envolvidos, os prazos e os custos equivalentes. Qualidade total Segundo Feigenbaum (apud BIASCA, 1995, p. 463): [...] a qualidade total é um sistema eficaz que integra o desenvolvimento da qualidade, a manutenção da qualidade e os esforços de melhoria da qualidade entre os diferentes setores da empresa, a fim de permitir a criação de produtos/serviços nos níveis econômicos possíveis e a plena satisfação do consumidor. Biasca (1995, p. 468) afirma que existem quatro princípios da qualidade total. O primeiro princípio da qualidade é a satisfação do cliente. É preciso priorizar a relação com o cliente e a empresa deve esforçar-se para atender às suas necessidades, desde que não comprometa o equilíbrio financeiro da empresa. O segundo princípio afirma que a qualidade é um negócio de todos. Isto é, toda a empresa e seus parceiros devem estar envolvidos no processo de qualidade. A alta direção deve patrocinar o processo, obter o comprometimento dos colaboradores e sensibilizar os seus fornecedores para que todo o processo funcione corretamente. 52 O terceiro princípio é a necessidade de novos comportamentos para a qualidade total. Isto significa que a qualidade total representa uma mudança cultural na empresa. As falhas devem ser evitadas, as reclamações sanadas e os processos aperfeiçoados continuamente. O quarto princípio implica na existência de ferramentas gerenciais para a qualida- de total. Todos os processos devem ser medidos e analisados por meio de ferramentas estatísticas, indicadores devem ser criados e avaliados e medidas corretivas e preventi- vas devem garantir a evolução do sistema. Recapitulando O conceito de resizing foi criado por Rodolfo Biasca em meados da década de 90 como resposta à propagação do conceito anterior de downsizing, que ficou marcado pelo corte de pessoas nas empresas. O resizing defende que a empresa deve possuir o tamanho adequado e deve rever sua estrutura constantemente, analisar o ambien- te externo e interno, preparar-se para a inovação e para a eficácia operacional. Dessa forma, a empresa estará apta para a nova realidade de consumidores mais exigentes e concorrência mais acirrada. Figura 1 – Resizing, segundo Rodolfo Biasca. O a ut or . O ajuste drástico à realidade Criação do futuro da empresa Busca de eficácia operacional Texto complementar Mágicos ou charlatões? (BLECHER, 2008) Em tempos de competição feroz, os gurus da gestão proliferam. É uma indústria que também alimenta os negócios de publicação de livros e seminários. Saiba distinguir os visionários dos falsos profetas Tó pi co s Av an ça do s em R ec ur so s H um an os 53 Resizing Se o líder da organização é incompetente, irá rodear-se, por certo, de colabora- dores ainda piores. “Será uma das frases bombásticas de Tom Peters? Não. Trata-se de um trecho de A Lei de Parkinson, lançado, em 1957, pelo acadêmico inglês C. Nor- thcote Parkinson. “O funcionário incompetente será promovido para uma posição onde não poderá impedir que o trabalho seja feito.” Será uma piada do bem-humo- rado Dilbert? Não, é um trecho do livro O Princípio de Peter, datado de 1969. “Boas maneiras, educação e até a formação específica contam menos em um cargo de di- reção do que resistência, determinação e tenacidade de buldogue.” São palavras de Lou Gerstner, o presidente-salvador da IBM? Não, é apenas um trecho do livro Shop Management, escrito, em 1903, pelo pioneiro americano Frederick Winslow Taylor, o “pai da administração cientifica”. O boomerang das teorias – Ideias como as que referimos vão e voltam. O con- ceito de gestão que foi moda no ano passado já perdeu a validade? Pouco importa. O leitor pode apostar que ressurgirá em força no futuro, devidamente reciclado e com embalagem de novidade. Veja-se o exemplo da liderança, um conceito que já foi objeto de mais de 5 mil estudos e que tem mais de 130 definições, sem que até hoje os especialistas tenham chegado a uma conclusão definitiva sobre o assunto. Bem-vindo ao mundo dos gurus da administração, uma torre de babel onde ninguém se entende e todos ganham muito dinheiro. As somas envolvidas parecem crescer na mesma proporção em que os conceitos se confundem. Manuais como How to Make in the Seminar Business ensinam aos potenciais candidatos quais os passos do sucesso para entrar nesse ramo auspicioso. As editoras de livros também lucram com o filão. Todos os anos são publicados 750 milhões de exemplares relati- vos a 2 mil títulos de gestão e negócios. Os livros são a parte mais importante desta engrenagem: colocam o autor em evidência e funcionam como um cartão de visitas para entrar no lucrativo circuito global de seminários. O boom de uma megaindústria – Este é o reinado de gente como Stephen Covey, autor do livro Os Sete Hábitos das Pessoas muito Eficazes, que já vendeu 9 mi- lhões de exemplares desde o seu lançamento, em 1989. O Covey Leadership Center, sediado no Estado de Utah (terra natal dos mórmones), faturou 100 milhões de dóla- res em 1996. Os seus formadores pregam uma espécie de reengenharia da alma. Os cursos são dirigidos a funcionários de mais de metade das 500 maiores companhias americanas. Há uma década atrás, o Covey Leadership Center era uma empresa com dois funcionários. Hoje é uma multinacional que emprega 800 consultores e opera em mais de 30 países. As palestras de Stephen Covey, considerado pela Time como uma das 25 personalidades mais importantes dos Estados Unidos, também são ven- didas em vídeo e áudio. Ao vivo, ele cobra 45 mil dólares por aparição. Um milagre! 54 Esta é também a Meca do histérico Tom Peters, ex-consultor da McKinsey, que se tornou multimilionário depois de escrever Na Senda da Excelência. Este best-seller, lançado nos anos 80, vendeu mais de 5 milhões de exemplares (um record abso- luto). Peters foi o primeiro guru a introduzir elementos do show business no negó- cio de conferências. Em palco, adota um estilo frenético que encanta as audiências. Hoje, cobra 60 mil dólares por palestra (faz em média 60 por ano). Mas bem poderá dizer-se que teve de suar muito para compensar esse valor. A sua consultoria, The Tom Peters Group, com sede na Califórnia, vive das receitas dos livros, vídeos e se- minários que têm a chancela do
Compartilhar