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24 - outubro de 2008 11111 SSSSS Ano IX nº 24 - outubro 2008 A história da educação e o currículo escolar este Suplemento, optamos pela reflexão sobre o Currículo Escolar, por entender que, no momento atual da educação paulista, ela é oportuna e necessária. Contamos com os artigos A história da educação e o currículo escolar, de José Luís Sanfelice;Políticas para o Currículo Escolar: Significados e “... As disputas pelo currículo – sobre quais experiências serão representadas como válidas ou qual língua ou história será ensinada – são inquestionavelmente permanentes.” (Michel W. Apple*) Currículo Escolar: algumas reflexões José Luís Sanfelice (*) NNNNN enti a necessidade de relacionar o tema central – currículo escolar- com a história da educação, em especial a história da educação brasileira, para não perder a dimensão de historicidade que a abordagem exige. Minha preocupação estará centrada no entendimento do currículo escolar como uma produção histórica intencional. Desde as origens da educação, entendida sob a ótica da prática formal escolar, discutiu- se, mesmo que sob outras nomenclaturas e não necessariamente usando um conceito de currículo, quais conhecimentos, valores, comportamentos e habilidades aquela instituição deveria disponibilizar (impor?) aos educandos. Então, através do percurso histórico, é possível constatar-se como as propostas curriculares foram se alterando nos seus fundamentos filosóficos, quanto aos ideais pedagógicos, em relação à concepção de homem e, principalmente, no que diz respeito aos conhecimentos a serem socializados. Bastaria lembrar, sem ter que entrar em detalhes, quanto é antiga a discussão travada entre os defensores de uma orientação curricular voltada para a formação mais humanística e os adeptos de uma formação mais de caráter científico. Quanto já não se escreveu, também, sobre uma formação mais generalista ou uma formação mais especializada dos educandos? E a educação religiosa? Deve ou não fazer parte do currículo escolar (em especial da escola pública)? Desde quando esse debate está em pauta? Hoje se discute formação profissional, formação técnica, tecnológica e formação para o mercado. E qual currículo? É razoável lembrar também que os jesuítas, ardorosos combatentes da Reforma Protestante e ativos participantes da empresa colonial portuguesa no Brasil, discutiram durante muitos anos o conjunto das suas ações pedagógicas, o eixo do seu currículo de ensino, até que universalizaram seus procedimentos pela edição do Ratio Studiorum. Pode-se dizer Implicações para a Escola, de Mara Regina Martins Jacomeli; Reforma do Estado e política educacional: o contexto para a reforma curricular em tempos neoliberais, de Lalo Watanabe Minto; Currículo e Histórias de Vida, de Belmira Oliveira Bueno, Daiane Antunes Vieira Pincinato, Márcia Maria Brandão Santos; Escola e Currículo - A Discussão Necessária, de AbordagemAbordagemAbordagemAbordagemAbordagem EditorialEditorialEditorialEditorialEditorial *APPLE, Michael W. e colaboradores – Currículo, Poder e Lutas Educacionais, Porto Alegre: Artmed, 2008. que os jesuítas tinham bastante clareza do que queriam na educação e na catequese, dentro do processo da Contra-Reforma e de conquista européia sobre a América e os povos indígenas: formar cristãos, quadros da própria ordem religiosa e ilustrar parte das elites. Os propósitos jesuíticos junto à Coroa portuguesa, em certo momento, não foram mais partilhados integralmente pelo ministro Pombal (ilustração abaixo). Pombal não só expulsou os jesuítas do reino, mas também fundou escolas renovadas, reformulou outras, mudou currículos, tornou obrigatória a língua portuguesa e, no Brasil, instaurou as Aulas- Régias. Pode-se dizer que os objetivos do déspota esclarecido não visavam mais somente à formação de um homem cristão, mas sim do nobre de Estado, pelo menos na Metrópole. Em última instância era o Estado e a nacionalidade que deveriam sair fortalecidos, sob o comando das classes dominantes. Mais um exemplo e sem ser exaustivo: na história bem recente da educação brasileira, a ditadura civil-militar do capital, que ocupou o poder de Estado com o movimento golpista de 1964, fez profundas incursões na legislação e organização escolar, nos currículos e nos fins a serem alcançados pelos diferentes níveis e modalidades de ensino. Daquelas ações resultaram a Reforma Universitária de 1968 (Lei 5540/68) e a Lei de Diretrizes e Bases de n. 5692/71, dentre outras iniciativas. Os currículos de profissio- nalização com- pulsória, por e x e m p l o , foram logo Helena Machado de Paula Albuquerque; que abordam variadas questões sobre o currículo. Ainda, temos uma entrevista com Supervisor de Ensino sobre suas concepções de currículo e seu importante trabalho na Diretoria de Ensino. Finalmente, as resenhas de três obras sobre o assunto e sugestões de livros. Boa leitura! Comissão organizadora: Albino Astolfi Neto Eliene Bonetti Jairo de Carvalho Maria Antonia de O. Vedovato Maria Cecília Melo Sarno Maria de Lourdes de Cápua Maria José A. Rocha R. da Costa Rosângela Aparecida Ferini 24 - outubro de 200822222 impostos. Teríamos ainda como sinaliza- dores mais próximos de nós, todas as alterações curriculares feitas no transcorrer dos governos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula. Não é necessário continuar apontando, portanto, as inúmeras situações históricas em que as sociedades modernas, nas quais a educação formal se institucionalizou nas instituições escolares, repensam, reformulam, substituem, radicalizam em diferentes direções a orientação dos seus currículos escolares. Mas, já podemos expressar uma consideração: o currículo escolar é sempre produto de um contexto histórico determinado que, tendencialmente, será alterado quando as conjunturas sócioeconômicas e político- culturais se transformarem, dentro de um processo mais geral de permanências e mudanças da sociedade como um todo. É preciso ter clareza que, no desenrolar da construção histórica das sociedades capitalistas, sob o comando da revolução burguesa e já quando com a burguesia no poder, que a educação foi sendo pensada para esse tipo de sociedade que se caracteriza por determinado modo de produção, bem como para tudo que decorre de tal especificidade. O Estado, em tais circunstâncias, tornou-se estratégico. Com a produção histórica da escola estatal, no âmbito das sociedades capitalistas, desde os meados do século XVI, o Estado foi moldado, em especial pelo ideário burguês, para constituir-se no principal articulador da educação para o povo. Nesse empenho teve que superar as influências até então hegemônicas da Igreja Católica. Não obteve sucesso, por exemplo, na universalização da escola estatal primária com facilidade, sem contestações ou sem superar adversidades e contradições intrínsecas, produzidas por outros interesses de ideologias, grupos ou classes sociais. Mas, pode-se dizer que o Estado consolidou- se no papel de educador do povo, usando a educação formal da instituição escolar como o veículo de execução da referida tarefa. Consagraram-se, naquele contexto, os princípios da laicidade, da gratuidade, da escola única e gratuita para todos. É claro que não foi esse o único mecanismo utilizado para se proceder à sujeição do povo à nova ordem sócioeconômica e cultural. Em última instância: era preciso encontrar as formas pelas quais as classes trabalhadoras seriam preparadas para atenderem de forma pacífica e disciplinada às determinações do mundo do trabalho, sob a égide do capital. Tornou-se uma necessidade histórica pensar a escola estatal e o currículo escolar de forma intencional. Não se pode acusar a burguesia de ter agido com má-fé, pois ela tão somente foi, no limite, em busca dos seus interesses de classe e que não são exatamente os interesses de toda a sociedade ou de todas as classes. Veja-se, como um dos exemplos possíveis, o denominado Movimento da Escola Nova nos países centrais do movimento capitalista mundial. A educação foi “revolucionada”nos seus pressupostos e métodos, na busca de cientificidade, na concepção em torno da criança, no papel do professor, na organização escolar e, muito, mais muito mesmo, nos seus conteúdos curriculares disciplinares. Era, de certa forma, a busca de superação da considerada educação tradicional sob a influência religiosa, fosse ela católica ou reformada. Mas não se tratava de continuar a revolução rumo à liberdade, igualdade e fraternidade universais, pois era preciso, na ótica burguesa, consolidar a sociedade capitalista, cuja essência estrutural está baseada na exploração do trabalho pelo capital. A educação formal escolar e os currículos escolares precisavam atrelar-se a tais propósitos. Sabe-se dos reflexos do Movimento da Escola Nova no Brasil e, com grande freqüência, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, é considerado um marco da expressão daquele novo ideário educacional por estas terras. Sabe-se também que a realidade brasileira não era exatamente a realidade européia e que, conseqüentemente, os desfechos práticos do Movimento da Escola Nova por aqui e por lá, foram bem distintos. É preciso considerar que desde sempre, após o processo de colonização portuguesa, o Brasil atrelou-se à economia capitalista mundial, quer como colônia ou após sua “autonomia” política, mais formal do que real. No campo econômico, as determinações externas sobre o país e a sociedade foram e são ainda infinitas. A nossa História da Educação, portanto, aconteceu quer em decorrência das determinações externas, bem como das determinações postas pelas especificidades locais. Os currículos escolares aqui ministrados, por sua vez refletem, não de forma mecânica, mas sim tendencialmente, esta situação histórica. A escola estatal brasileira teve que responder às necessidades que foram se impondo para um país de economia subalterna, história da educação e constatar que se torna inevitável formular indagações. Por que temos currículos escolares considerados abrangentes, sólidos em conteúdos, alicerçados em bases filosóficas e científicas para as escolas consideradas formadoras de parte das elites? Escolas que circulam nos noticiários como sendo as melhores do país? E, por que temos currículos de aligeirado treinamento para uma precária formação profissional de jovens que irão, ainda muito jovens, ao mercado de trabalho? É porque as relações do capital com o trabalho, mediadas pelo Estado, determinam em última instância, os conteúdos curriculares voltados à formação de cidadãos que, sendo considerados formalmente iguais perante a lei, estão “destinados” socialmente a ocuparem diferentes postos, funções e papéis numa sociedade que, na ótica dos mais privilegiados, deve permanecer como está. Na história da educação brasileira mais recente, desde a ditadura civil-militar de 1964 até os dias de hoje, diferentemente do que imaginam alguns educadores, os mecanismos de controle sobre a escola estatal foram cada vez mais ampliados. Os discursos oficiais podem não revelar ou não referendar a constatação, mas ela é um fato. Depois da ditadura e, com o pretexto de se superar a legislação do arbítrio, se alterou profundamente o quadro institucional da escola estatal. Para não arrolar todos os indicadores que levam à constatação acima, aponto apenas alguns: o golpe dado para a aprovação da LDB de 1996, que usurpou e ignorou a proposta de projeto de lei que se produzia na sociedade civil; a municipalização do ensino estatal que sem ter apenas o propósito de deslocar a vigilância para o poder mais local, visa também outros objetivos de controle sobre o próprio município; o FUNDEF/FUNDEB; a reforma do ensino profissional; os PCNs; os Temas Transversais; os múltiplos sistemas de avaliação do aluno, da escola, do professor, dos gestores; as classificações comparativas de desempenho entre as unidades escolares; a anuência para que se adquira e consuma apostilas produzidas pelas empresas de ensino privado; os bônus salariais vinculados à produtividade; as metas “sugeridas” pelas agências multilaterais de financiamento e a imposição unificada de que vivenciou três séculos de práticas escravistas, que desenvolveu uma sociedade patriarcal, influenciado pela religião católica e, sempre, de profundas desigualdades sociais. Os currículos escolares, por exemplo, “teimaram” durante muito tempo em diferenciar as disciplinas e os conteúdos ofertados (impostos?) aos meninos e meninas que passaram a freqüentar escolas, mesmo que os representantes de ambos os gêneros pertencessem às elites. E diferenças curriculares muito mais profundas marcaram sempre a separação entre a “escola para os pobres” e “a escola para as elites”. Os exemplos retirados da História da Educação mostram, claramente, que os cur- rículos escolares não são desinteressados. É sempre possível dizer que não poderia ser de outra forma. O empenho do Estado em prover a educação formal de escolas estatais, com grande ônus de custos/investimentos em prédios, salários, formação de pessoal e gastos de consumo não pode limitar-se a um mero processo civilizatório. O Estado tem seus interesses para além disso, pois civilizar as novas gerações é o mínimo que se espera em termos de sobre- vivência da própria sociedade. O Estado não é uma instituição que se confunda com o governo de plantão. Ele é uma instituição mais permanente e de grande alcance sobre a sociedade. O Estado educa, vigia, julga, pune e, por complexos mecanismos histórico-sociais, ganhou legi- timidade para praticar a violência em certas situações, em especial quando defende a propriedade privada dos meios de produção em mãos do capital. Evidentemente, os aparelhos do Estado não se movem em abstrato, pois eles são acionados por seres humanos com identidade. Os governos, mais passageiros do que o Estado, instalam-se nele por caminhos considerados democráticos ou não e aí, o Estado que não existe em abstrato, atende aos interesses das pessoas, dos grupos ou das classes sociais que, conjunturalmente estiverem na hegemonia da sociedade. Em muitas situações há confrontos e, também por um processo de contradições intrínsecas, grupos não hegemônicos acabam por alcançar alguns dos seus interesses. Resta constatar que uma sociedade com tais características é incompatível com um regime político de democracia plena e menos ainda para a justiça social. Em educação, gradativamente, o Estado passou a discursar em prol da formação de um cidadão. E, qual seria o currículo escolar mais adequado para se formar um cidadão? Cidadãos considerados iguais perante a lei, mas de uma realidade sócio-econômica e cultural desigual. É só olhar pela janela que dá acesso à , 24 - outubro de 2008 33333 material didático-pedagógico produzido pelas Secretarias Estaduais de Educação. O controle está agora induzindo que cada docente da escola estatal seja um vigilante da produtividade e do desempenho dos demais docentes da sua unidade escolar. E por que aumentou o controle? Mostra a história que os Estados nacionais periféricos da globalização econômica ficaram menores e mais frágeis perante o movimento do capital transnacional, desde as últimas décadas do século XX. Nesse sentido os Estados cumprem agendas às quais aderem, sem grandes chances de resistências e com o consentimento das elites locais que se beneficiam do processo. O fenômeno da privatização dos serviços públicos, por exemplo, é um bom indicador. A perda dos direitos sociais conseguidos com muita luta dos trabalhadores no passado, seria outro indicador. A educação, por sua vez, tornou- se uma pauta presente nas discussões das cúpulas que comandam a nova organização mundial do trabalho. Do ponto de vista interno, ou seja, da atuação do Estado sobre a sociedade local, passou a ser necessário um maior controle. O Estado, precisa gerenciar, por exemplo, a miséria, o aumento do desemprego estrutural, o primeiro emprego e o acesso à escolaridade, dentre outras mazelas, com ações e programas que, mesmo sendo paliativos, tendem a diminuir o poder das tensõessociais geradas pelo desespero. Educar a mão-de-obra potencial que transita pela escola estatal, com uma oferta crescente de mão de obra feminina e juvenil, passou a ser uma meta. Os países periféricos da globalização econômica se tornam praticamente obrigados a formar muitos trabalhadores para o trabalho simples e que se constituirão em mão-de-obra barata para o capital transnacional que aqui implanta suas indústrias ou subsidiárias. Uma escolarização básica e uma (*) Prof. Titular em História da Educação no DEFHE/FE/UNICAMP. Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas “História, So- ciedade e Educação no Brasil - HISTEDBR. e-mail: sanfelice00@hotmail.com formação profissional média respondem a isso. Uma parte infinitamente menor dos traba- lhadores chegará à formação técnica e tecnológica para o trabalho mais complexo. E a orquestração de todo o propósito do capital, na educação, se realiza, em grande parte, pelo controle da escola estatal e pelo controle do currículo de toda a educação nacional. Finalmente cabe indagar: como, no Brasil, o Estado vem executando a sua tarefa? Bem, na conjuntura atual, por não se viver sob um mandato governamental resultante de nenhuma ditadura política, mas sim da ditadura do capital, busca-se o consentimento da sociedade para as ações que são empreendidas. O trabalho solidário, o voluntariado, os Amigos da Escola, a Escola Aberta, o Adote uma Escola, os estágios não remunerados pontuados nos currículos e outros mecanismos estão demonstrando sua eficiência. Participar de tais programas virou sinônimo de cidadania e conscientização política. Enquanto Políticas para o Currículo Escolar: Significados e Implicações para a Escola Mara Regina Martins Jacomeli (*) MMMMM uito oportuna a iniciativa do Sindicato-APASE em problematizar a temática do currículo escolar. Em tempo de ventos neoliberais, é urgente a articulação de um amplo movimento dos educadores para entender as propostas de determinadas políticas educacionais que chegam nas escolas, via currículo escolar. É com esse objetivo que debaterei com essa categoria profissional, no intuito de colaborar com a questão. No meu entendimento, as políticas para o currículo escolar são mecanismos fundamentais para a construção do consenso e da hegemonia do projeto de sociedade sob o capitalismo. Se fizermos uma análise mais detida sobre a legislação e os documentos que legitimam, por exemplo, os PCNs implementados nos anos seguintes após a promulgação da LDBEN de 1996, perceberemos uma reorganização do discurso liberal, ou neoliberal, em educação. Essa reorganização é que está por trás de propostas como aquela expressa por um “novo” currículo para o ensino fundamental, fortemente impregnado de conhecimentos valorativos, os Temas Transversais, dentre eles: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo e o da Pluralidade Cultural, que é a adoção das perspectivas e bandeiras do multiculturalismo pela escola. Vale a pena enfatizar que o discurso “oficial” brasileiro está em sintonia com as políticas mundiais adotadas em âmbitos sociais, econômicos e culturais do presente momento histórico, em que, na área educacional, se enfatiza que o papel da escola deve ser o de formar o “cidadão” para atuar numa sociedade democrática e globalizada. Esse “novo” momento social, segundo muitos de seus defensores, pede um novo conjunto de conhecimentos que ex- pressem a complexidade da sociedade globalizada. Entretanto, apesar da ênfase na concepção de que estamos compar- tilhando políticas educacionais extre- mamente “novas”, ou “pós-modernas”, como é o caso da proposta dos PCNs, elas são meramente uma adequação do que já foi discutido, no âmbito das ideologias educacionais liberais, por exemplo, pelos escolanovistas. Fazer esse tipo de afirmação e análise não implica assumir uma visão anacrônica de história. Implica entender, sim, que a “base” teórica é dada pelo liberalismo, mas essa “base” sempre foi reorganizada, a partir de questões e características próprias de cada tempo histórico e demandas sociais. A análise das aproximações dos PCNs e Temas Transversais, ou dos temas sociais, com as propostas escolanovistas, elucida como o liberalismo sempre utiliza a retórica salvacionista da sociedade por meio da escola. Em todos os momentos de crise do capitalismo, o discurso de transformação da escola como forma de mudar os homens e, conseqüentemente, a sociedade foi acionado, revivendo o mito da escola redentora e salvadora da humanidade. Nessa retórica, chamada por mim de liberal-escolanovista, as conquistas e o desenvolvimento da sociedade não se dariam pelas trans- formações das formas de produzir, mas sim, pela promoção via escola. Na abordagem liberal-escolanovista, a função da escola é de redistribuir os indivíduos, conforme o talento de cada um, não pelo privilégio de sangue ou outros, mas pela competência. A supervalorização do indivíduo escamoteia o fracasso, sendo que suas causas não teriam raízes nas questões de classes sociais, mas, sim, na capacidade de “vencer” de cada um. Para tanto, é fundamental a formação de “valores”, já que primeiro o indivíduo deve ser “convencido” de que não há nada mais possível e melhor de se fazer e acreditar, a não ser aquilo que é veiculado pela escola. E isso pode ser verificado nas propostas escolanovistas do começo do século XX. Como isso está se dando hoje? Como podemos entender as políticas em educação adotadas aqui para nossas escolas? No caso do Brasil e no caso da maioria dos países ocidentais, diretrizes das políticas educacionais, sob a égide do neoliberalismo e do discurso de globalização da sociedade capitalista, estão sendo ditadas por organismos multilaterais, como já dito. O marco da articulação de tais agências internacionais, como Banco Mundial, FMI, UNESCO etc., na explicitação de tais políticas, foi dado pela Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, que foi reproduzida pelo documento conhecido como Relatório Delors. A Conferência de Jomtiem teve como resultado a assinatura da Declaração Mundial sobre Educação para Todos e o Marco de Ação para a Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem. O Brasil foi signatário desses documentos e está isso, os currículos escolares vão se esvaziando em conteúdos, substituídos por práticas e saberes que cada vez auxiliam menos a pensar, entender e explicar a própria realidade, para nela se posicionar como um sujeito da história. Que fique claro: O Estado capitalista- burguês não nos ajudará a sairmos de tal situação. A principal prova contra ele é a precarização que vem fazendo das políticas de formação de professores. Estamos diante de um desafio; não é chegada a hora de educarmos o Estado e de tornarmos realmente pública, de interesse publico, a escola estatal? O Estado sabe muito bem o que está fazendo, e nós? Campinas, inverno de 2008 24 - outubro de 200844444 claro que o Banco Mundial foi o grande financiador das propostas educacionais para os países em desenvolvimento, entre os quais se encontra o Brasil. Se as agências internacionais ditam o quê e como devem os países em desenvolvimento investir para oferecer educação básica a todos, por outro lado, as reformas curriculares aplicam-se para todos, sem distinção de países desenvolvidos ou em desenvolvimento. A “nova” visão de currículo e, conseqüente, conhecimento que deve ser ministrado pelas escolas estão presentes em reformas educacionais pelo mundo afora. A impressão que nos causa é a de que há uma proposta comum de conhecimento que deve ser divulgada em todas as escolas, prin- cipalmente as do Ocidente. Do ponto de vista ideológico, é a conformação de todos para uma mesma realidade, sem discordâncias, já que, segundo o discurso neoliberal, não existe mais história, não há mais a possibilidade de uma sociedade socialista, a partir do fim da “guerra fria” e do “fim” dos embates ideológicos. Segundo essa mesma falácia, vivemos a supremacia da sociedade capitalista e com ela háde se ministrar os conhecimentos de valores para (con) formar os homens. Está configurado, portanto, uma das estratégias de consolidação da hegemonia burguesa, através das políticas educacionais brasileiras. De acordo com um dos mais importantes documentos sobre a política educacional mundial, como é o caso do “Relatório Delors”, da Unesco, o atual momento da sociedade expresso pela globalização, pede um “novo” conjunto de conhecimentos, principalmente conhecimentos com ênfase na formação social e ética e que prepare o indivíduo para ser “cidadão do mundo”. A questão que se coloca quanto ao conhecimento que deve ser ministrado na escola hoje, tem por pressuposto que o modelo de ciência até então vigente na sociedade está superado. Esse debate faz parte do embate posto pela chamada “crise de paradigmas”, em que se defende uma “nova” forma de conhecer e “construir” conhecimentos. Tal postura é referendada por adeptos da chamada pós-modernidade, os quais afirmam que, em função das grandes transformações econômicas, tecnológicas, culturais etc., as ciências e o conhecimento decorrentes estão passando por um processo de superação. A sociedade capitalista, agora sob a égide da globalização do mundo, da economia, da cultura e dos valores dos homens, evidencia que o conhecimento especializado não serve mais como referencial de aprendizagem. Afirmando que nós somos herdeiros da “racionalidade” e da cultura grega clássica, alguns defensores dessa perspectiva acreditam que tal herança deve ser repensada. Os conhecimentos advindos de conteúdos da Biologia, da Matemática, da Física, da História, por exemplo, fazem parte de uma seleção curricular que atendia aos interesses de uma pequena classe social da Grécia: os cidadãos gregos. Não atendiam aos interesses do homem comum, como os conhecimentos ligados ao trabalho manual, ao cotidiano, às mulheres. Não atendem hoje, também, por seu caráter extremamente elitista, aos interesses cotidianos da maioria da população. É isso que just i f ica a necess idade de “inversão” de valores e conteúdos a serem ministrados pela escola, com forte ênfase, agora, nos vários conhecimentos das chamadas “competências”. A pós-modernidade é entendida como um “paradigma” que reflete os anseios de “todos” na sociedade globalizada. Pós- modernidade e globalização, dessa forma, são faces de uma mesma moeda representativa da sociedade capitalista. A necessidade de uma nova forma de entender o conhecimento produzido pelas ciências é usada como justificativa para o empreendimento das reformas educacionais que vêm ocorrendo por todo o planeta, principalmente a necessidade de reformulação dos currículos. A proposta teórica de Edgar Morin, conhecida como teoria da complexidade1, tem encontrado grande simpatia nos meios acadêmicos, especialmente na área educacional. Sua perspectiva é uma das fontes teóricas inspiradora da visão de conhecimento, divulgada pelos PCNs, por exemplo. Nas análises desse autor vislumbramos muitas das justificativas do movimento da pós-modernidade, que expressam a dis- cussão de rom- pimento para- digmático das ciências, pro- blemática presente nas nossas reformas curriculares. A noção de “complexidade” discutida aqui no Brasil, a partir de teorizações de Morin, resumidamente, parte do princípio de que os conhecimentos produzidos pelas ciências modernas, com sua necessidade de explicações lógicas e certas, não dão conta de explicitar a “complexidade do real”. Lima (2003, p. 73) apresenta um quadro explicativo das relações do pensamento de Morin, em que aponta: a) as expressões/frases associadas com a abordagem: complexidade, incertezas, incompletude, acaso, transpenetração (relação todo parte segundo Pascal), junção/ligar/religar; b) os conceitos chaves associados com o paradigma: ordem, desordem, organização, transdisci - plinaridade, multidimensional, pensamen- to complexo, auto-eco-organização, an- tropossociologia; c) a filiação teórica: princípio dialógico e translógico (“integração da lógica clássica levando-se em conta os seus limites”), princípio da Unitas Multiplex (“escapando à Unidade abstrata do alto (holismo) e do baixo (reducionismo)”), teoria dos sistemas, teoria da informação, conceito de auto-organização. Morin teria como objetivos: “romper com o conhecimento parcelar, reducionista e simplificador e promover uma via que considera a confusão, a incerteza no pensar e fazer científico de maneira multidimensional”. Noronha (2002, p.35) afirma que o paradigma da complexidade, tendo como pressuposto uma realidade complexa, na qual se convive com processos dinâmicos reversíveis e irreversíveis, com determi- nações e indeterminações, precisa, portanto, de uma abordagem metodológica que abarque tanta complexidade. É aí que se encontra, de acordo com a autora, um grande problema, pois muitos pesqui- sadores correm o risco de fragmentar a realidade em vários aspectos particulares e isolados. Isso pode gerar, na interpretação teórica, a eliminação do entendimento das “relações sociais que individualizam e integram a chamada “complexidade”, negando que a totalidade histórica possa ser apreendida e que o conhecimento desta totalidade possa ser construído. Tanto os PCNs como as teorizações de Morin estão em sintonia, no meu entendimento, com o universo de interpretação dos ideólogos da sociedade capitalista. A presença de um discurso próximo das abordagens pós-modernas é bastante evidente. Uma das características das teorizações pós-modernas é a valorização do conhecimento que está mais próximo de nosso viver, de nosso cotidiano. Também estão presentes nas suas interpretações as assertivas que a pós-modernidade utiliza para referendar o “novo” momento da sociedade, que vivencia uma “viragem paradigmática”: a falência das grandes narrativas; a substituição do “antigo” conceito de totalidade defendida por teorias como o marxismo; a defesa de um conhecimento parcial e relativo; a crítica feita às ciências modernas que são responsabilizadas por todos os “males” sociais e ambientais verificados ao longo do século XX; a valorização do subjetivo, dos sentimentos humanos e outros. Cremos, portanto, que esse tipo de interpretação acaba por esconder as verdadeiras causas da crise que assola o capitalismo no atual momento histórico da sociedade, já que por trás de tais defesas está o que se camufla: entre outras coisas, e principalmente, o fato da sociedade ser estruturada em classes sociais distintas e antagônicas, em que poucos detêm o controle econômico, concentrando a maior parte das riquezas produzidas e relegando a maioria dos homens a uma miséria material extrema. Também as reformas educacionais, via alteração curricular, de uma maneira geral, têm enfatizado que um dos seus maiores objetivos é preparar o trabalhador para que ele saiba atuar num mundo marcado pelas transformações econômicas e sociais da atual fase de globalização do capitalismo. As transformações que estão ocorrendo no mundo do trabalho, com a mudança de paradigma organizacional do taylorismo/fordismo para o toyotismo, no nosso entendimento, têm influenciado as políticas educacionais, já que o discurso de expansão e de alteração do currículo da educação básica parte do pressuposto de que a escola precisa acompanhar tais mudanças para oportunizar escolarização adequada aos t raba lhadores . A reestruturação produtiva part iu da neces s idade de ins taurar mode los organizacionais alternativos que dessem respostas satisfatórias para superar a crise financeira, de mercado (de expansão e concorrência intercapitalista) e a crise social (conflitos políticos e capital- trabalho), verificadas nas décadas de 60 e 70 do séc. XX. Ao enfatizar o modelo japonês de trabalho como orientador das reformas curriculares, as políticas educacionais acabam cumprindo com um papel de desserviço na preparação do trabalhador, posto que não dá para conciliarem realidades sócio- econômicas e culturais tão diferentes. O discurso liberal dessas políticas educacionais acaba utilizando-se da antiga idéia de progressoeconômico e social pela via de acesso à escola para todos os 1 Outros autores que comungam do entendimento sobre o “paradigma da complexidade”: L. H. O. Carvajal – Historia de las civilizaciones -, D. Bohm – A ordem implícita e a ordem superimplícita -, I. Prigogine e I. Stengers – A nova aliança: metamorfoses da ciência. 24 - outubro de 2008 55555 trabalhadores, pois, ao não ter as condições objetivas para se projetar na divisão internacional do trabalho como país produtor de tecnologias em larga escala, tal qual os países mais desenvolvidos economicamente, incorpora o discurso salvacionista da sociedade via escola. Entretanto, o entrave para a realização desse novo projeto de formação para o trabalhador, de acordo com muitas falas do empresariado nacional, justamente se encontra, numa questão que faz parte da configuração cultural do povo brasileiro, ou seja, a grande diversidade cultural, que obstaculiza essa nova “visão de mundo” do sistema produtivo. Daí a importância da escola em passar determinados valores e comportamentos que ressignificariam o sentido de uma coesão social e cultural, quebrando as resistências dos traba- lhadores. Explicitando a afirmação acima, o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), da Confederação Nacional das Indústrias, afirma que é via escola e via Pedagogia da Qualidade que serão repassados os novos valores e atitudes pelo Brasil, expandindo a aceitação dessa cultura, que para esses expoentes só pode ser entendida em relação ao mundo do trabalho. E quais são esses valores e comportamentos ligados a uma nova perspectiva cultural? Aqueles que desenvolvam laços de solidariedade, de respeito e de valorização do sentimento de pertencimento de grupo. Para isso, o mesmo documento do IEL aponta que é fundamental o conhecimento da cultura oriental, em que estão presentes esses ingredientes na formação do indivíduo (Cf. ANDRADE, In: NEVES, 2000, p.72). A mesma idéia está presente no Relatório Delors, e não poderia ser de outro jeito, já que esse documento é o norteador das políticas educacionais pensadas para o século XXI. Ao abordar os quatro pilares da educação, quanto ao terceiro pilar, aprender a viver juntos, o documento afirma que ele representa um dos maiores desafios para a educação. Nele está posto que o mundo atual convive com a esperança no progresso da humanidade e com seu oposto, a violência. O século XX apontou em sua história um potencial destruidor sem precedentes, bem como conflitos por toda parte. Como então fazer que a educação seja capaz de evitar os conflitos e resolvê-los pacificamente? E a Comissão responde que é por meio de projetos comuns, pois assim as diferenças e os conflitos tendem a desaparecer. Surge então a idéia da diversidade cultural, essa sim deve ser conhecida para que acabem as intolerâncias entre os homens. À educação fica a responsabilidade de transmitir conhecimentos sobre a diversidade cultural humana e, ao mesmo tempo, fazer com que as pessoas compreendam suas semelhanças e a interdependência de todos os seres do planeta. É o que diz o Relatório Delors, ensejando a questão da tolerância, mecanismo interessante para não se discutir as diferenças sócioeconômicas. Sendo assim, a compreensão teórica dos PCNs e de outras várias reformas curriculares que “pipocam” pelo Brasil, ajuda os educadores a “desvelar” as retóricas oficiais e fazer com que os mesmos percebam o fato de que muitas “novidades” no âmbito da educação não passam de “velhas e gastas” ideologias, travestidas e cumprindo com o papel de hegemonizar a sociedade capitalista. Marilena Chauí nos ajuda a entender essa discussão quando aponta a necessidade de “desmascarar” a ideologia burguesa, pois... ... primeiro, tal ideologia afirma que a educação é um direito de todos, mas, na realidade, as contradições do Capitalismo não permitem a realização dessa “idéia”, ao separar trabalho intelectual do manual. Segundo, a idéia burguesa afirma que o Estado é um consenso da comunidade, da sociedade civil para garantir unidade e harmonia entre as classes sociais, enquanto se oculta que ele é um instrumento de uma classe particular (a dominante), uma forma de manutenção da divisão e das contradições de classe. O terceiro, a idéia burguesa de trabalho afirma que este dignifica o homem, escondendo que as condições reais de trabalho, na sociedade capitalista, desu- manizam, brutalizam, entorpecem o homem. (...) Haveria ainda nu- merosas outras “máscaras” (a democracia, por exemplo) a encobrir a realidade, e seria necessário desmantelar a ideologia por uma prática política nascida dos próprios explorados. E em uma prática desse tipo seria fundamental a crítica da ideologia, preenchendo os silêncios e as lacunas do discurso ideológico (CHAUÌ, apud SILVA E SILVA, 2005, p. 207). Para pensar as políticas educacionais no Brasil e em São Paulo É importante ressaltar que as medidas legais adotadas para a educação brasileira, desde a década de 1990, visam configurar e rearranjar o modelo de sociedade a uma pedagogia de hegemonia e de consenso em torno do ideário neoliberal de homem. Sendo assim, muitas ações foram efetivadas, como: reformas curriculares, formação de professores, processos de avaliação dos sistemas de ensino, entre outros. Dentre tais iniciativas, uma que tem chamado muito a atenção de educadores das redes públicas de ensino, ou melhor das redes estatais de ensino, é aquela que afirma um novo modelo de gestão escolar. Tal modelo, em consonância com a minimização do Estado no que diz respeito ao repasse de recursos financeiros, tem apostado em parcerias com a sociedade civil, na administração da escola, entre outras medidas que mostram a relação pervertida que se estabeleceu entre o que se entende por política pública e setor privado. É o caso, por exemplo, de parcerias estabelecidas com Ongs. De acordo com a Revista Nova Escola de junho/julho de 2007, as Ongs: “atuando em áreas diversas e trazendo soluções para os problemas que afetam o dia- a-dia da direção e de professores, (...) cumprem um importante papel: o de contribuir para a melhoria da aprendizagem dos alunos (p. 55)”. Da mesma maneira, outra medida, que busca atender aos anseios e ao discurso de mais qualidade para a escola estatal, é a adoção do chamado “apostilamento” das redes de ensino bancadas com recursos públicos. Uma das editoras que tem feito ampla divulgação de parceria com os sistemas de ensino de redes municipais, é a Editora Positivo. Sua propaganda tem enfatizado que sua proposta de apostilamento “revolucionará” o sistema educacional que o adotar. Para tanto, oferece no pacote “Sistema de Ensino Aprende Brasil (SABE)”, um centro de pesquisa, que diz contar com mais de 200 educadores “qualificados”; livros didáticos integrados; assessorias pedagógicas e um portal exclusivo com homepage personalizada para o município2. É interessante perceber que por trás dessa proposta está explícita a relação de incentivo à iniciativa privada, na geração de renda e desenvolvimento do mercado editorial. A idéia do “apostilamento” também está de acordo com as políticas do Banco Mundial para a Educação Básica. Nessas estratégias do Banco Mundial estão explicitadas em qual “rubrica”, tal qual uma empresa privada, deve o Estado investir para alcançar a educação de qualidade. Vejamos: A qualidade educativa, na concepção do BM seria o resultado da presença de determinados “insumos” que intervêm na escolaridade. Para o caso da escola de primeiro grau, consideram-se nove fatores como determinantes de um aprendizado efetivo (...): (1) bibliotecas; (2) tempo de instrução; (3) tarefas de casa; (4) livros didáticos; (5) conhecimentos do professor; (6) experiência do professor; (7) laboratórios; (8) salário do professor; (9) tamanho da classe. (...) ao mesmo tempo que desestimula a investir nos três últimos – laboratórios, salários docentes e redução do tamanho da classe -, recomenda investir nos primeiros e, especificamente, em três deles: a) aumentar o tempo de instrução, através da prolongação do ano escolar, da flexibilizaçãoe adequação dos horários, e da distribuição de tarefas de casa; b) proporcionar livros didáticos, vistos como expressão operativa do currículo e contando com eles para compensadores dos baixos níveis de formação docente. Recomenda aos países que deixem a produção e distribuição dos livros didáticos em mãos do setor privado, que capacitem os professores na sua utilização, além de elaborarem guias didáticos para estes últimos; e c) melhorar o conhecimento dos professores (privilegiando a capacitação em serviço sobre a formação inicial e estimulando as modalidades a distância) (BM, 1995, p. 51, apud Torres, 2000, p. 134). Todas essas políticas para a educação brasileira convergem para chegarmos a algumas conclusões: 1. Que vivemos um momento de construção de um consenso em torno das bandeiras sociais da ideologia neoliberal e a escola é um dos espaços de sua divulgação, principalmente pelos conhecimentos transmitidos; 2. O Estado brasileiro, tal qual todos os estados sob o capitalismo, desenvolvem e implementam as políticas públicas sociais, visando ao interesse de determinada classe social, qual seja, aquela que detém o controle dos meios de produção e de poder político; 3. Sob o discurso de implantação de uma educação de qualidade que visa emancipar os “cidadãos”, está a implementação de atividades econômicas que subsidiam a 2 Verificar essas informações em www.editorapositivo.com.br 24 - outubro de 200866666 iniciativa privada, portanto, é dinheiro público, que vem do povo, da gente comum, financiando e solidificando as empresas capitalistas. Nada mais injusto numa sociedade que prega a igualdade entre todos... Também tomo Gramsci para pensarmos, nós – os educadores – se queremos ser emancipadores ou homens-massa. Ele, ao discutir a filosofia da práxis, já apontava para a seguinte pergunta: “qual é o tipo de conformismo, do homem-massa do qual fazemos parte?” Quando a concepção de mundo não é crítica e coerente, mas ocasional e desagregada, pertencemos simultaneamente a UUUUU Reforma do Estado e política educacional: o contexto para a reforma curricular em tempos neoliberais Lalo Watanabe Minto (*) ma contradição ronda a educação brasileira hoje: nunca foi tão pronunciado o discurso que alça a educação à condição de solução para todos os problemas sociais, ao passo que as políticas efetivamente implantadas expressam o descontrole e o descaso efetivos do Estado para com os mais urgentes problemas educacionais. O tipo de educação que hoje se pratica expressa as condições objetivas da sociedade em que vivemos. É a educação de que necessita um país capitalista periférico, permeado por contradições que permitem a convivência tranqüila entre um discurso demagógico em prol da educação e o imperativo de “honrar os compromissos” com o capital internacional que são, precisamente, fatores limitadores de uma política efetivamente preocupada com a educação. Sabemos também que a atividade educativa é fundamental em qualquer formação social humana, tanto no sentido mais geral do seu caráter humanizador, como no sentido estrito das necessidades específicas de qualificação dos indivíduos. Estas duas dimensões, contudo, não são determinadas a priori. Ao contrário, resultam das condições sociais efetivamente existentes num certo período histórico. É sobre esta educação em sentido estrito – que, nas sociedades modernas, transformou-se em sinônimo de escola – que vamos tratar aqui. Inicialmente, poderíamos dizer que nessa determinação da educação pela sociedade capitalista destacam-se duas questões: a da abrangência da educação escolar e a do conteúdo desta escola, da formação por ela proposta e praticada. Neste último, em especial, nos deparamos com o problema do currículo. Mas vale o alerta: não se trata de pensar o currículo de forma “especializada”, mas em seu sentido social (historicamente produzido), o que se desvela à medida que o complexo educacional é desvelado. Faremos então uma síntese dos principais processos aqui implicados, adentrando, posteriormente, na questão do modo como o currículo hoje expressa as dimensões mais gerais de uma dada formação social e, nela, de uma política educacional específica. A educação como política social no Estado contemporâneo O contexto histórico no qual se produz a contradição citada no início, é o da destruição das bases objetivas das sociedades capitalistas do pós-2a Guerra Mundial. Em termos gerais, esta reestruturação decorre das mudanças no mundo da produção e das relações de trabalho ocorridas a partir dos anos de 1960. Mudanças concretizadas no processo permanente de transformação das forças produtivas, em vista da necessidade do capital expandir-se e acumular-se em escala mundial. A reestruturação capitalista tem, como um de seus requisitos básicos, o processo no qual o capital se apropria de setores não inteiramente dominados por sua lógica reprodutiva (a do lucro crescente). Os serviços estatais de interesse público, bem como as políticas sociais, tornam- se assim grandes oportunidades de negócios. A síntese ideológica desta necessidade é o neoliberalismo, que postula a necessidade do Estado ser mais eficiente, sobretudo no que se refere aos gastos sociais. Por isso, o discurso reformista mistificou a idéia de que, uma vez feito o “saneamento fiscal do Estado”, ampliar- se-ia a capacidade de investir em políticas sociais. O que vem ocorrendo efetivamente é o inverso disso: um processo de privatização cuja lógica é retirar os gastos sociais do orçamento estatal, reduzindo a esfera dos direitos sociais. Com o neoliberalismo busca-se construir um Estado máximo para o capital, no qual se impõe um novo tipo de política social de caráter assistencialista, gerida como atividade privada, que assume um tom de caridade e voluntarismo. O Estado passa a ser o gestor dos serviços que delega ao setor privado (ou à “sociedade civil”), o que implica transferência de responsabilidades: deixa de financiar atividades como a educação, reservando a si o papel de “avaliador” e “fiscalizador”; mas de uma avaliação e controle feitos por meio de critérios como os da gestão eficiente e do mercado. (SAVIANI, 2002, p. 23). No caso brasileiro, foi basicamente a Reforma do Estado que promoveu essa adequação jurídica-política à nova realidade do mundo da produção e da acumulação capitalistas. Suas dimensões foram dadas por reformas parciais: previdenciária, fiscal, tributária, trabalhista e social (saúde, educação etc.); e seu objetivo inadiável: tornar o Estado mais eficaz e funcional às demandas do capital. No interior dessa lógica, a educação é duramente atingida pelos interesses do capital e os organismos internacionais atuam como porta-vozes de tais interesses: por um lado, disseminando a idéia de que é necessário reformar (“modernizar”); por outro, impondo politicamente tais medidas, via formulação de diretrizes e estratégias1. Na forma histórica contemporânea do capital, expansão econômica associada a altos níveis de desemprego é plenamente possível. Dispensa-se, com isso, a promessa integradora da educação dos tempos do pós-2ª Guerra, quando educar-se era garantir ‘ascensão social’. Reinventa-se esta promessa agora, não mais como política social para o desenvolvimento nacional, mas para o simples desenvolvimento, expressão genérica da condição subordinada do país aos ditames do capital mundializado. A educação tem de ser promovida não como política de Estado, mas como aparato de acumulação do capital, mediado pela sua mercantilização crescente. Ao indivíduo cabe concorrer para que tenha a chance de ser “incluído” no seleto grupo que ainda conseguirá “ascender socialmente”. Na reforma educacional brasileira dois processos são indissociáveis: a reforma de cunho organizacional (promoção da gestão “eficiente”, enxugamento dos gastos públicos e direcionamento de recursos ao setor privado, privatização e controle via avaliação etc.); e a de cunho curricular (conteúdos e tipo de formação demandados na nova fase do capital). Ambas uma multiplicidade de homens-massa, nossa própria personalidade é compósita, de uma maneira bizarra: nela se encontram os elementos dos homens das cavernas e pr inc íp ios da c i ênc ia mai s moderna e progres s i s ta , preconceitos de todas as fases históricas passadas (...) Criticar a própria concepção de mundo, por tanto , s ign i f i ca torná- la unitária e coerente e elevá-la até o ponto atingido pelo pensamento mundial mais evoluído (Gramsci, 1999, p. 94). Pensemos nisso... Referências Bibliográficas: GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere. v. 1. Introdução ao estudo de filosofia. A filosofia de Benedetto Croce. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. JACOMELI, M. R. M. PCNs e Temas Transversais: análise histórica das políticas educacionais brasileiras. Campinas/SP: Alínea, 2007. LIMA, P. G. Tendências paradigmáticas na pesquisa educacional. Artur Nogueira/SP: Amil, 2003. NEVES, M. L. W. Educação e Política no limiar do séc. XXI. Campinas: Autores Associados, 2000. NORONHA, O. M. Políticas neoliberais, conhecimento e educação. Campinas/SP: (*) Professora do Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da Unicamp e pesquisadora do Grupo de Pesquisa “História, Sociedade e Educação no Brasil – HISTEDBR”. Editora Alínea, 2002. Revista Nova Escola, junho/julho de 2007. SILVA, K.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005 TORRES, R. M. Melhorar a qua l idade da educação bás ica ? As estratégias do Banco Mundial. In: De TOMMASI, L. e outros (Orgs.). O Banco Mundial e as políticas educacionais. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2000. 1 Para uma visão ampliada da reforma do Estado e da educação no Brasil, ver MINTO (2006, caps. 2 e 5). 24 - outubro de 2008 77777 abrangem todos os níveis de ensino, compondo um único processo2. O discurso da educação como solução para todos os males Vimos que a sociedade capitalista contemporânea se organiza de modo a tornar as determinações do capital (produção e realização do lucro) o único horizonte possível da reprodução social. É dessa forma que a ideologia neoliberal3 propõe novas funções para a educação, cujo objetivo é, de um lado, legitimar as desigualdades numa formação social altamente excludente; e, de outro, ampliar a lógica dual de uma educação que atende de forma diferenciada a diferentes segmentos da sociedade (as classes sociais). Para que a reforma educacional atendesse às demandas do mundo da produção e da reprodução sociais foi preciso, inicialmente, recolocar em pauta uma linguagem salvacionista. Em grande medida isso foi cumprido pelos organismos internacionais, que operam numa lógica de padronização, oferecendo verdadeiros pacotes educacionais aos ditos “países em desenvolvimento”. Interessa-nos destacar um dos elementos essenciais desses “pacotes”, referente à qualidade do ensino. Para isso, lembremos de algumas das recomendações do Banco Mundial (BM): 1) o professor é considerado apenas o quinto fator de importância na qualidade do ensino, que, ademais, é resumida a uma noção de “domínio de conteúdos” que enfatiza a formação em serviço (especialmente em programas de formação à distância) e não a formação inicial, considerada cara e ineficiente. Também não se reporta às condições de trabalho e remuneração dos docentes; 2) para piorar, esta visão de conteúdo, já empobrecida, é tomada como sinônimo de “livro didático”, ao qual se confere hegemonia por ser “insumo de baixo custo” e de “alto retorno” (relação custo-benefício). (TORRES, 2000). Vê-se que, somadas estas poucas recomendações, não se está longe de concluir que o professor é desnecessário no processo educativo, pois visto apenas como mais um dos “insumos” que dele participa. Nesse contexto a difusão de noções como empregabilidade, aprender a aprender e competências torna-se central no campo educacional. Nesta fase do capital, que se caracteriza pelo desemprego estrutural e pela crescente precarização das condições de trabalho, empregabilidade significa “transferir aos trabalhadores a necessidade de sua qualificação, que anteriormente eram em grande parte realizadas pelo capital” (ANTUNES, 2003, p.131). Igualmente, o aprender a aprender “sintetiza uma concepção educacional voltada para a formação, nos indivíduos, da disposição para uma constante e infatigável adaptação à sociedade regida pelo capital” (DUARTE, 2003, p. 11) e as competências são a sua outra face: mantém-se a idéia de fundo do construtivismo – de esquemas adaptativos construídos pelo sujeito na interação com o ambiente –, mas re- elaboradas à luz da necessidade premente de adaptação que não pressupõe mais o domínio de conhecimentos mínimos sobre o meio ao qual se adapta o sujeito. “Agora a questão da verdade é elidida”, diz SAVIANI (2007, p. 435), que acrescenta: a “pedagogia das competências” tem como objetivo “dotar os indivíduos de comportamentos flexíveis que lhes permitam ajustar-se às condições de uma sociedade em que as próprias necessidades de sobrevivência não estão garantidas”. Esse tecnicismo requentado, disseminado pelos organismos internacionais, visa promover justamente este deslocamento para o indivíduo, de modo que as condições mais gerais de sua própria existência jamais sejam anunciadas como problema. Na educação observa-se um “deslocamento do ensinar para o aprender e do formar para o treinar, com um tipo de ensino centrado no estudante e nas redes de educação à distância, por onde ele pode navegar e acessar a qualquer momento o estoque de informações disponíveis de modo ‘democrático’ e, com isso, compor sua ‘cesta básica’ de informações e de conhecimentos” (NORONHA, 2002, p. 70-1). O discurso da educação como solução para todos os problemas, articulado ao processo de reorganização das políticas sociais de modo a torná-las mais “afetas” ao mercado, permitem observar que o processo de privatização não é senão a própria expressão da reforma em curso: quando se desqualifica a ação do Estado na educação e se impõe uma ideologia que converte esta última em meio exclusivo de inserção no mercado de trabalho, a educação se transforma num campo altamente rentável, passível de grandes investimentos capitalistas. Impera a lógica da mercadoria: quem pode pagar, tem ‘acesso’; quem não pode, está ‘excluído’. A legislação educacional brasileira incorporou essas noções e esse discurso tecnicista, sobretudo após o marco legal da LDB/1996, que se complementa com a construção dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e das Diretrizes Curriculares dos ensinos médio e superior, bem como pela reforma da educação profissional4. Currículo: renovação pedagógica ou esvaziamento do ensino? Numa sociedade que privatiza crescentemente a educação, a concepção de ensino e de formação necessárias para uma plena adequação dos indivíduos, sua lógica não é mais do que aquela que prevê a simples ‘adaptação’. Por isso, o conceito de cidadania (e de educar para a cidadania) será o grande articulador das Diretrizes Curriculares Nacionais e dos PCNs. Se a cidadania pressupõe o atendimento de condições objetivas mínimas (acesso à saúde, à educação, à moradia etc.) e estas estão organizadas fundamentalmente na forma de mercadorias/ serviços no vasto mercado brasileiro, é preciso que o cidadão seja, antes de tudo, um consumidor de sua própria condição cidadã. No caso da educação, esta condição é duplamente articulada: de um lado, como consumo do serviço educacional (o acesso à escola), o que favorece o setor privado, uma vez que a política educacional oficial desqualifica o público (estatal) e beneficia o mercado; de outro lado, pelo tipo de mercadoria (o conhecimento) que se está consumindo. Ao que nos leva novamente à problemática do currículo: qual é o tipo de formação/treinamento, conhecimento/ saber que se demanda numa sociedade como esta? Estar íamos v ivendo na “sociedade do conhecimento”? DUARTE (2003, p. 11-2) responde negativamente a essa questão e destaca seu caráter ilusório. Isso se completa com a crítica das “pedagogias do aprender a aprender” e seu caráteradaptativo, cujo intuito é oferecer uma formação criativa: criatividade que “não deve ser confundida com busca de transformações radicais na realidade social, mas sim (...) em termos da capacidade de encontrar novas formas de ação que permitam melhor adaptação aos ditames da sociedade capitalista”. Organismos como o BM e a Unesco5 tornaram-se os grandes arautos das reformas educacionais porque traduziram tais necessidades em termos de diretrizes políticas gerais. Nesta perspectiva ideológica, “não é preciso que os indivíduos desenvolvam uma formação sistemática, ampla e profunda, tendo como base os conhecimentos socialmente significativos produzidos e acumulados pela humanidade. Nem mesmo é preciso que a escola propicie tal tipo de formação. O conhecimento estaria sintetizado e disponível a todos na rede, bastando a cada um ‘acessá-lo’” (NORONHA, 2002, p. 79-80). Política “social” neoliberal, discurso salvacionista da educação e privatização do ensino completam-se, portanto, com a questão do conteúdo (ou esvaziamento) do ensino. Juntos, formam o universo em que as mudanças no campo educacional tornam-se compreensíveis. A ilusão de que estaríamos vivendo numa “sociedade do conhecimento”, por suposto, apenas obscurece o sentido de tal transformação. Todo o constructo pós-moderno que dá suporte às teorias pedagógicas e que se refletem em propostas educacionais novidadeiras, ampara-se na idéia de um deslocamento dos conteúdos para os métodos e práticas, bem como do domínio dos recursos (meios) fundamentais do ensino, cuja expressão máxima é o construtivismo. Se, por um lado, é correto dizer que o domínio do instrumental é necessário, elevá-lo à condição de único (ou principal) suporte do processo educativo, é torná-lo absoluto, atemporal e aistórico. É separar forma de conteúdo, teoria de prática. Os PCNs, anunciados como uma proposta flexível (BRASIL. MEC, 1997, p. 13), também não podem ser considerados em si mesmos. Isto porque, somados a uma política de financiamento restritiva, a uma idéia de ‘autonomia’ escolar desvencilhada de recursos e infra-estrutura6, bem como a uma política de avaliação centralizadora e quantificadora de uma série de “índices” de qualidade da educação, tornam-se, efetivamente, verdadeiros mecanismos de aprisionamento dos conteúdos que compõe o currículo escolar. Eis porque se concebe para a educação um papel em que: “Não basta visar à capacitação dos estudantes para futuras habilitações em 2 Os diagnósticos que vêm orientando as reformas enfatizam essas duas dimensões, como que atribuindo dois níveis de “responsabilidade” pelos problemas educacionais: do currículo, o qual deve ser reformulado, e, da gestão, para a qual privatizar é a solução. 3 Por ideologia neoliberal denominamos todo o amplo conjunto de ideologias conservadoras – não só econômicas – que se desenvolvem nesta fase do capitalismo. 4 Não vamos tratar dessas mudanças em geral, mas enfatizar a proposta dos PCNs e, em seguida, aquelas que se referem à política de formação de professores. 5 Tomamos como base o documento conhecido como Relatório Jacques Delors (DELORS, 2001). 6 Vejamos a compreensão da atual Secretária de Educação de São Paulo: “Estamos enfrentando a desorganização pedagógica com várias ações (...) como a criação de um currículo para todas as séries, de disciplinas e as expectativas de aprendizagem. Ou seja, as escolas agora sabem o que devem ensinar aos alunos. Não significa que a escola não tenha autonomia. Ela continua escolhendo seus livros e seu projeto pedagógico. Mas isso tem de seguir os conteúdos básicos” (CASTRO, 2008). 24 - outubro de 200888888 termos das especializações tradicionais, mas antes trata-se de ter em vista a formação dos estudantes em termos de sua capacitação para a aquisição e o desenvolvimento de novas competências, em função de novos saberes que se produzem e demandam um novo tipo de profissional, preparado para poder lidar com novas tecnologias e linguagens, capaz de responder a novos ritmos e processos. Essas novas relações entre conhecimento e trabalho exigem capacidade de iniciativa e inovação e, mais do que nunca, ‘aprender a aprender’” (BRASIL. MEC, 1997, p. 34-5). Os conteúdos preconizados pelos PCNs dizem respeito à participação dos indivíduos na sociedade contemporânea e à sua plena adaptação a ela, ao que se convencionou chamar de “exercício da cidadania”. Nesta visão, ser cidadão significa: a) dominar certas ferramentas cognitivas para adaptar-se – nunca para transformar – à realidade vigente (a “cesta de informações”); e b) consumir os bens e serviços mínimos necessários à sobrevivência material. A tradução disso encontra-se na noção de equidade, pronunciada regularmente pelo BM, pela Unesco, pela CEPAL, pelo MEC, e, claro, incorporada pelos PCNs. Mas, afinal, qual é o tipo de conteúdo que prepara para o exercício dessa cidadania, para o usufruto de direitos sociais numa sociedade que restringe cada vez mais as já escassas conquistas do século XX, e que relega ao mercado a tarefa de oferecer os “bens” necessários à cidadania? Trata-se de um conteúdo escasso, simplificado, que mais apela à própria utilidade social (do certificado) do que promove qualquer tipo de retorno para os indivíduos (domínio de conteúdos). No fundo, retorno mesmo é aquele que beneficia aos grandes empresários, agora imbuídos da “responsabilidade social” de promover a conquista da cidadania, numa formação social tão desigual como a brasileira7. Por essa razão, os PCNs só se tornam funcionais quando apresentados como algo acima das relações sociais. Não por acaso, o “BM recomenda enfaticamente a elaboração e desenvolvimento do currículo como uma tarefa restrita ao poder central ou regional, sem participação local e sem formar parte do pacote de funções delegadas pela descentralização” (TORRES, 2000, p. 156). Para poder oferecer a todo o amplo quadro da organização da educação brasileira um formato definido – ainda que ‘flexível’, torna-se necessário apelar a um suposto “modelo ideal”. E tal como no formato mais adequado e coerente com a mercantilização da educação, este se dá pela via da padronização e do esvaziamento8. Eis o sentido da visão de currículo apresentada pelos PCNs, na qual: “os Temas Tranversais são os conhecimentos principais e os conteúdos das várias áreas devem servir para o trabalho com eles. O documento desloca o debate do conteúdo a ser ensinado para a forma de ser ensinado. (...). Ao professor, agora, cabe a tarefa de organizar os conteúdos das várias áreas em torno de temáticas escolhidas, atentando para não isolá-las e para enfatizar o exercício da cidadania” (JACOMELI, 2004, p. 102-3). Para alguns de seus defensores nota-se até a tentativa de sobrepor a noção de transversalidade à realidade, como uma simples determinação do pensamento, da subjetividade do educador, o que só pode ser formulado quando se despreza que a produção do conhecimento também tem uma história, vinculada necessariamente às condições objetivas das sociedades humanas, terreno da luta de classes e das relações sociais realmente existentes9. Formação de professores Uma das formas básicas de operacionalizar o esvaziamento da educação é mediante uma política de formação de professores também esvaziada. Por isso, este é um tema sempre enfatizado pelos organismos internacionais, que adotam a perspectiva tecnicista do custo-benefício, associando formação com o que se pensa ser o “rendimento” do processo educativo. Nesse sentido, FREITAS (2002, p. 148) alerta que as atuais políticas para a graduação e pós- graduação pretendem retirar a formação de professores do campo científico e acadêmico próprio da educação, localizando-a no “campo” da “epistemologia da prática”, isto é, das práticas educativas, o que nos leva aos problemas da fragmentação/especialização e do aligeiramento da formação inicial. Nas Diretrizes Curriculares do governo brasileiro, a discussão dos conteúdos e métodos das disciplinas é deslocada de modo restritivo, reduzida a um “processo de desenvolvimentode competências para lidar com as técnicas e os instrumentais do ensino (tecnologia) e da ciência aplicada no campo do ensino e da aprendizagem” (idem, p. 156). Já ARCE (2000, p. 55) critica a perspectiva construtivista na qual se postula que o professor deve ter “subtraídos da sua formação os conteúdos escolares em prol do desenvolvimento de habilidades que o levem a gerar autonomia do aluno”. Nota-se aqui que, também para o professor, vigora a tendência de individualização, forçando-o a tornar-se responsável pela própria formação/qualificação, ao sabor das novas relações de trabalho. Com isso, distancia-se de qualquer noção de projeto global de formação, atendendo apenas aos ditames da nova ordem econômica. Não é de estranhar, portanto, que o atual Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) reforce duas tendências que vêm promovendo o esvaziamento: tornar a educação à distância base dos cursos de formação de professores e, na esteira da diversificação institucional do ensino superior, retirá-la das universidades. Em síntese, pode-se afirmar que o esvaziamento da escola (conseqüen- temente, do currículo) corresponde às necessidades imanentes ao modo de produção capitalista hoje. É uma das formas pelas quais se busca (des)educar os indivíduos, naturalizando as determinações materiais do capital e as relações sociais por ela constituídas como as únicas possíveis: fazendo-as senso comum. Duas das tendências mais expressivas disso são: a) o esvaziamento em geral, como processo de simplificação dos conteúdos que compõem os currículos escolares. Ou seja, uma redução ao mesmo tempo absoluta e relativa, esta última referente ao pragmatismo e às propostas novidadeiras que assolam a educação. As noções de “pedagogia das competências” e “aprender a aprender” são alguns dos artifícios ideológicos associados a esta tendência; b) o esvaziamento no sentido da educação dominada pela lógica da mercadoria. Direito social converte-se em serviço, atendimento em oferta, qualidade em eficiência, igualdade em equidade. Aos extratos do capital que investem no ensino importa “servir aos poucos e sempre” a educação, o que converge plenamente com o aligeiramento da formação e a redução dos conteúdos: a lógica é oferecer um serviço simplificado, facilmente produzido e pouco dispendioso, que pressupõe profissionais pouco qualificados (professor torna-se “tutor”, “facilitador”), mas muito rentável quando associado a um discurso hegemônico que valoriza a educação10. Neste caso, as noções mais emblemáticas são: “aprender ao longo da vida”, “educação permanente”, “qualidade total” e “pedagogia de resultados”. Nessa lógica, a qualidade da educação passa a ser medida apenas pelos “indicadores da educação”, donde se vê que a ênfase conferida a isso nas propostas educacionais oficiais não é fortuita. Algumas conclusões: que escola, que currículo, que sociedade? Como pensar numa outra forma de organização da educação? Como escapar de uma política que se autodenomina flexível, mas que, em nome da ‘autonomia’ escolar, da ‘individualidade inata’ do sujeito e da ‘liberdade democrática’ de uma sociedade extremamente mercantilizada, impõe condições limitantes e castradoras para a educação? Sabendo que a educação não se constitui num problema em si mesmo, entendemos que o esvaziamento do conteúdo escolar é altamente prejudicial para a formação das futuras gerações. É necessário, então, resgatar uma concepção educacional e pedagógica que preze pelo aprendizado dos conteúdos historicamente produzidos e acumulados pela humanidade. Mas não se trata apenas disso: o significado e a importância de uma pedagogia de tal natureza residem na possibilidade de reverter o sentido de uma política educacional que vem promovendo a destruição das formas sistemáticas de transmissão dos saberes e conhecimentos e, com ela, a possibilidade de fazer com que cada um dos indivíduos seja também um portador da humanidade produzida ao longo da história. Urge definir uma política educacional adequada a esse fim e não subordinada aos ditames da acumulação de capital em escala global, que desvia recursos públicos em montantes crescentes para remunerar o capital financeiro e que, do ponto de vista curricular, impõe formatos pretensamente flexíveis, porém uniformizantes tanto quanto alienantes. Uma política que quebre o círculo vicioso da exigência de eficiência, pela via punitiva da avaliação, e que tenha nesta um mecanismo de efetiva melhora da qualidade, não servindo apenas para 7 Nada mais emblemático do que o “Compromisso Todos pela Educação”, acordo empresarial que serviu de base para muitas das proposições do atual Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). 8 Os imperativos de padronização, flexibilização e produtividade funcionais ao capital no campo educacional levaram GENTILI (1996) a comparar a educação com o funcionamento das lanchonetes de tipo fast food, analogia à qual denominou de “mcdonaldização” da escola. 9 Ver, neste sentido, a formulação de GALLO (2001, p. 34), que afirma suas diferenças para com a proposta dos PCNs, mas não deixa de aproximar-se dela em pelo menos dois aspectos: o caráter meramente adaptativo da educação e o distanciamento para com a realidade histórica, proclamada na hipótese de que as “grandes questões políticas” devem ser resolvidas “no campo do fluxo de informações”. 10 A indicação de que os alunos que chegam ao nível superior apresentam lacunas essenciais de formação é emblemática. A Folha de S. Paulo apresenta dados que atestam a ampliação da prática de oferecer “reforço” – sobretudo em português e matemática – nas instituições de ensino superior particulares do país, o que inclui renomadas instituições e não apenas aquelas reconhecidas por seu pouco rigor na seleção dos estudantes. Conhecimentos básicos que antes eram ensinados na escola básica passam a fazer parte dos currículos de cursos superiores (FACULDADES dão ‘supletivo’..., 2008). 24 - outubro de 2008 99999 atestar o dado, o consolidado, mas que seja ponto de apoio para o avanço contínuo e progressivo. Mas não se trata, aqui, de reinventar a roda. Sem reordenar as prioridades desta sociedade, não há como pensar numa outra política educacional. É preciso construir uma saída educacional que, de um lado, não repita o erro de pensar a educação como algo acima das relações sociais dadas e que a pense, por outro lado, não apenas como reprodução destas mesmas relações. Uma educação que, assumindo seus elementos de contradição, seja direcionada para produzir em cada um dos indivíduos, o máximo desenvolvimento de seus conhecimentos e capacidades, a saber, aquelas historicamente produzidas e acumuladas pela humanidade11. Numa sociedade que já vive os sinais de uma crescente barbárie social, esta tarefa é inadiável. Referências Bibiográficas ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho. CCCCC Currículo e Histórias de Vida Belmira Oliveira Bueno (*), Daiane Antunes Vieira Pincinato (**), Márcia Maria Brandão Santos (***) A história de vida é outra maneira de considerar a educação. Já não se trata de aproximar a educação da vida, (...) mas de considerar a vida como o espaço de formação. (...) A educação é assim feita de momentos que só adquirem o seu sentido na história de uma vida. (Pierre Dominicé) urrículo e histórias de vida têm bem mais em comum do que a primeira vista se poderia pensar. Ambos dizem respeito a percursos e experiências de vida, a trajetos percorridos, àquilo que documenta e testemunha o que alguém realizou, seja na escola, na profissão ou ao longo de toda uma existência. Partir desse ponto parece-nos importante, já que acostumados demais às palavras, acabamos muitas vezes por perder seus significados. No caso do currículo, essa perda desencadeou um movimento que já dura algumas décadas, cujo propósito foi o de analisar e recriar o seu sentido na escola. Com as histórias de vida algo semelhante também se deu. A história dessa abordagem também teve seus percalços e os modos de entender e usar essa abordagem é, ainda hoje, assuntopara polêmicas. Entendemos que sua apropriação na área da educação tem uma relação muito estreita com movimentos que visam promover mudanças na escola, ou mesmo, uma reinvenção dessa instituição. A escola é uma produção histórica forjada em outro momento, uma instituição criada nas sociedades européias dos séculos XVII e XVIII, portanto, a partir de outras referências espaços- temporais e concepções, de sociedade, indivíduo, cultura etc. A escola que viemos a conhecer – com sua organização, seriação e divisão de espaço e tempo, no que diz respeito aos alunos (separados por classes, turmas, séries) e, também, aos conhecimentos (separados por disciplina, subdivididos em conteúdos, ministrados em dias, horários e períodos pré- fixados) – é uma invenção relativamente recente, com pouco mais de dois séculos de história. Contudo, já deu provas exaustivas de sua obsolescência e desajuste às demandas da sociedade contemporânea. O desafio hoje é, pois, o de sermos capazes de reinventar a instituição escolar, cuja tarefa, por mais difícil que se apresente, urge ser enfrentada. Trata-se antes de mais nada de reexaminar sua função social e seu papel, hoje, assim como a concepção que dela fazemos e o que desejamos para nossos alunos e as gerações que estão por vir. A proposta deste texto é a de oferecer alguns elementos que possam contribuir com essa reflexão. Para tanto, retomamos alguns momentos do percurso que, no âmbito da história da educação, marcou o lugar da supervisão em sua relação com o currículo escolar, bem como o da entrada das histórias de vida na cena educacional. Espera-se que tais elementos possam ajudar a compreender mais as tantas vidas e histórias que se cruzam na escola, bem como a vida que se produz em cada escola. Supervisão escolar e currículo: os (des)encontros de duas histórias A trajetória da supervisão escolar, como campo de estudos no Brasil, já foi contada e recontada por importantes educadores, todos preocupados em compreender os caminhos e descaminhos dessa área e dessa função no magistério. Embora se possa considerar que a função supervisora tem sua origem na própria gênese da prática educativa, nas comunidades primitivas, em que a educação se dava de forma difusa e indiferenciada, é com o desenvolvimento das sociedades e aumento de sua complexidade que essa função se dissemina como forma de controle das práticas educativas informais. No campo da educação, esse processo se dá com o desenvolvimento dos sistemas formais de ensino, quando começa a figurar como parte integrante da organização escolar burocrática. De início, a supervisão foi exercida pelos inspetores escolares que, nos finais do século XIX e início do XX, tinham uma atuação voltada à transmissão e garantia de manutenção das normas de funcionamento da organização escolar. Por deterem os saberes da experiência acumulada, como balizadores do exercício da orientação do ensino, os inspetores escolares gozavam de respeito e legitimidade. Eram considerados os guardiões da tradição. Além de realizarem a função supervisora de orientação pedagógica, acompanhamento e controle das práticas docentes, também exerciam as funções administrativas de fiscalização e vigilância burocrática. No que tange às práticas docentes, o controle recaía, sobretudo, na cobrança ao cumprimento do programa oficial. Com as reformas educacionais que ocorrem na década de 1960, notadamente no Estado de São Paulo, um novo profissional especializado passa a atuar no interior das escolas: o orientador pedagógico. Esse foi o primeiro supervisor no sistema de ensino paulista. Com efeito, é com ele que nasce a supervisão escolar como um dos componentes da tríade supervisão/currículo/avaliação. Aos orientadores pedagógicos cabia o trabalho de viabilizar o currículo, interpretar as determinações legais e oferecer soluções criativas para as situações pedagógicas propostas. Em outras palavras, pode-se dizer que os guardiões da tradição foram substituídos pelos guardiões do currículo. O Programa de Assistência Brasileiro- Americana ao Ensino (PABAEE), acordo assinado em 1956, exerceu significativa influência no desenvolvimento do currículo no país. Dentre seus oito departamentos, um dizia respeito, especificamente, a Currículo e Supervisão. Esse departamento oferecia três disciplinas - currículo na escola elementar; supervisão do ensino na escola primária; e currículo e supervisão - todas enfatizando o como planejar e desenvolver currículos. A associação entre currículo e supervisão assinala, pois, uma ênfase sobre os aspectos instrumentais e técnicos do currículo. Na década de 1970, a influência americana no campo do currículo permanece com fortes São Paulo: Boitempo, 2003. ARCE, A. A formação de professores sob a ótica construtivista: primeiras aproximações e alguns questionamentos. In: DUARTE, N. (Org.). Sobre o construtivismo: contribuições a uma análise crítica. Campinas: Autores Associados, 2000. p. 41-62. BRASIL. MEC. Secretaria de Educação Fundamental. 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A visão tecnicista se propunha a garantir a eficiência e a produtividade. Com isso, o supervisor acabou por se tornar um técnico
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