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1 PROTOCOLO DO PRONTO SOCORRO DE PEDIATRIA DA SANTA CASA DE LIMEIRA . 2 SUMÁRIO 1. RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR EM PEDIATRIA .............................................. 4 2. CHOQUE ................................................................................................................................... 9 3. ASMA AGUDA ........................................................................................................................ 14 4. ANAFILAXIA............................................................................................................................ 18 5. CRISE CONVULSIVA FEBRIL ............................................................................................ 21 6. TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO ........................................................................... 25 7. CETOACIDOSE DIABÉTICA ............................................................................................... 30 8. QUEIMADURAS ..................................................................................................................... 36 9. ATENDIMENTO INICIAL AO POLITRAUMATIZADO ...................................................... 43 10. DISTÚRBIOS DO RITMO CARDÍACO ........................................................................... 50 11. PROCEDIMENTOS EM EMERGÊNCIA PEDIÁTRICA ............................................... 63 12. EMERGÊNCIAS ABDOMINAIS ....................................................................................... 78 13. DISTÚRBIOS DA COAGULAÇÃO: plaquetas e fatores de coagulação ................... 89 14. ANALGESIA E SEDAÇÃO................................................................................................ 94 15. DISTÚRBIOS ELETROLÍTICOS.................................................................................... 100 16. RESFRIADO COMUM ..................................................................................................... 114 17. OROFARINGE VIRAL ..................................................................................................... 114 18. IVAS DE ETIOLOGIA VIRAL.......................................................................................... 115 19. GRIPE (INFLUENZA) ...................................................................................................... 116 20. SINUSITE BACTERIANA AGUDA ................................................................................ 118 21. OTITE MÉDIA AGUDA .................................................................................................... 120 22. OTITE EXTERNA ............................................................................................................. 121 23. RINOBRONQUITE VIRAL .............................................................................................. 122 24. GASTROENTERITE VIRAL AGUDA ............................................................................ 123 25. INTOXICAÇÃO ALIMENTAR ......................................................................................... 124 3 26. FEBRE SEM FOCO / PRÓDOMOS VIRAIS................................................................ 125 27. ITU NÃO COMPLICADA ................................................................................................. 126 28. PNEUMONIA BACTERIANA .......................................................................................... 127 Paciente em condições de tratamento ambulatorial............................................................... 127 29. IMPETIGO OU PIODERMITE ........................................................................................ 128 30. ABCESSOS CUTÂNEOS / FURÚNCULOS ................................................................ 129 31. MONILÍASE ORAL E GENITAL (“SAPINHO”) ............................................................ 130 32. AMIGDALITE BACTERIANA AGUDA .......................................................................... 131 33. URTICÁRIA ....................................................................................................................... 132 34. ECZEMA ATÓPICO ......................................................................................................... 133 35. ASMA BRÔNQUICA ........................................................................................................ 134 36. LARINGITE AGUDA VIRAL (CRUPE) .......................................................................... 135 37. CONJUNTIVITE VIRAL E BACTERIANA .................................................................... 136 38. EPIGLOTITE BACTERIANA OU SUPRA-GLOTITE .................................................. 137 39. LARINGOTRAQUEOBRONQUITE VIRAL AGUDA (CRUPE VIRAL) ..................... 139 40. MANEJO DA GASTROENTERITE AGUDA EM CRIANÇAS ................................... 141 41. TRANSPORTE DE CRIANÇA GRAVE ........................................................................ 148 ORIENTAÇÃO AOS FAMILIARES DE PACIENTES QUE SOFRERAM TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO................................................................................................................ 163 42. SEQUÊNCIA RAPIDA DE ENTUCAÇÃO .............................................................................165 4 1. RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR EM PEDIATRIA INTRODUÇÃO Em criança, está indicada na parada cardiorrespiratória (PCR) e na bradicardia com hipoperfusão (freqüência cardíaca menor que 60 batimentos por minuto com sinais de choque sem melhora de oxigenação adequada). A seguir serão descritas as manobras utilizadas na ressuscitação cardiopulmonar (RCP) pediátrica. ABERTURA DE VIAS AÉREAS O relaxamento dos músculos do pescoço, da parede posterior da faringe e da língua, devido à inconsciência e hipoxemia, é a causa de obstrução aérea. Para que as vias aéreas fiquem pérvias, a cabeça deve ser inclinada ou o mento, elevado. Esse procedimento deve ser executado com suavidade tanto maior quanto menor for a criança, tomando-se o cuidado de não hiper estender excessivamente o pescoço, não pressionar os tecidos moles abaixo do pescoço e nem fechar a boca. Para manter a cabeça em posição, pode-se colocar um coxim pequeno sob a nuca ou ombro da criança. Nos casos de trauma apenas o mento deve ser elevado, sem inclinação da cabeça. RESPIRAÇÃO ARTIFICIAL 5 Há várias maneiras de realizar a respiração artificial, mas independentemente da técnica, a ventilação artificial deve ser suave, evitando-se fluxos altos de oxigênio e ventilação muito rápidas. A freqüência respiratória não deve ultrapassar 20 por minuto. A ventilação com bolsa-valva-máscara é a técnica de respiração inicial de preferência até que a intubação traqueal seja realizada. Neste caso, uma máscara de tamanho adequado é adaptada à face da criança envolvendo a boca e o nariz, sendo a ventilação realizada através de uma bolsa-vala conectada à fonte de oxigênio, cujo fluxo deve variar de 10 a 15 L/min. A intubação traqueal deve ser realizada prontamente nos casos de PCR e bradicardia com hipoperfusão se não houver retorno imediato da respiração espontânea. De uma maneira geral, as cânulas de intubação traqueal para crianças abaixo de 8 anos são desprovidas de cuff. O diâmetro interno das cânulas varia com as diferentes idades, conforme descrito na tabela 1.1. Tabela 1.1 Cânula Traqueal Idade da Criança Tamanho da Cânula Recém-Nascido prematuro 2,5 a 3 Recém-Nascido termo 3 a 3,5 1 mês a 1 ano 3,5 a 4 Acima de 1 ano idade emanos + 4 sem cuff 4 idade em anos + 3 sem cuff 4 COMPRESSÃO TORÁCICA A circulação artificial é realizada através da compressão torácica, a qual deve ser iniciada na ausência de pulso central ou quando este está franco e numa freqüência menor de 60 por minuto. A técnica para fazer a compressão torácica varia com a idade da criança: • Em recém-nascidos: o socorrista deve envolver o tórax do recém- nascido com as mãos, colocando os polegares sobre o esterno e os outros dedos 6 sobre a coluna. Nessa faixa etária a relação compressões/ventilação deve ser de 3/1; • Nas crianças de 1 mês a 1 ano: a técnica de preferência é a mesma empregada em recém-nascidos; • Nas crianças de 1 a 8 anos: essa técnica exige que a criança esteja sobre uma superfície dura e o socorrista de pé bem acima da criança, mantendo os braços esticados durante a compressão; • Nos pacientes acima de 8 anos: utiliza-se a mesma técnica empregada para adultos, onde o socorrista posiciona uma mão sobre a outra para fazer a compressão. A freqüência da compressão torácica deve ser ao redor de 100 por minuto. Se o paciente está intubado, a compressão torácica deve ser sincronizada com a respiração. A partir da realização da intubação traqueal, a compressão deve ser contínua, sem interrupção para a ventilação (exceto no período neonatal). ACESSO VASCULAR O melhor acesso vascular é aquele que não atrapalha as manobras de ressuscitação e oferece o maior calibre, entretanto, a ante cubital mediano no membro superior e o ramo da safena ao nível do maléolo medial são s preferenciais. A via intra-óssea é outra forma extremamente útil de alcançar o acesso vascular. A punção é realizada de preferência na porção proximal da tíbia ou distal do fêmur com agulha apropriada ou agulha de punção de medula óssea. Drogas lipossolúveis como epinefrina, atropina, lidocaína e naloxone podem ser administradas pelo tubo traqueal para alcançar as veias peribrônquicas. Para aumentar a absorção as drogas devem ser diluídas em 3 a 5 ml de solução salina e imediatamente após a administração realizar ventilação com pressão positiva. Durante a RCP a punção da veia femoral é a técnica mais segura e acessível. 7 FARMACOTERAPIA A epinefrina: recomenda-se como primeira dose intra-óssea ou intravenosa: 0.01 mg/kg => 0,1 mL/kg da epinefrina 1:10.000 (solução obtida através da dissolução de 2 ml de epinefrina pura, 1:1.000, em 9 ml de água destilada em solução fisiológica). As doses subseqüentes devem ser iguais à primeira; entretanto, em situações especiais devem ser consideradas doses 10 a 20 vezes maiores: 0,1 a 0,2 mg/kg => 0,1 a 0,2 mL/kg de epinefrina pura (1:1.000). OBS: a epinefrina é inativada em solução alcalina, portanto não deve ser administrada junto com bicarbonato de sódio. Na presença de acidemia a ação da adrenalina é diminuída, assim a ventilação deve ser adequada para que não ocorra acidose respiratória. A atropina: a dose recomendada é 0,02 mg/kg/dose, sendo a dose mínima 0,1 mg e máxima 0,5 mg na criança e 1,0 mg nos adolescentes. A mesma dose pode ser repetida após 5 minutos. A vasopressina: não há dados para avaliar a sua eficácia e segurança em crianças e lactentes até o momento. O benefício da utilização do bicarbonato de sódio não está comprovado. Entretanto, esta medicação pode ter efeito na parada cardíaca prolongada ou nas crianças que já tinham acidose metabólica previamente. O bicarbonato está indicado em hiperpotassemia e intoxicação por antidepressivos tricíclicos. Preconiza-se a dose de 1 mEq/kg/dose: 1 mL/kg do bicarbonato de sódio 8,4% ou 3 mL/kg da solução de 3%. Para os recém-nascidos recomenda-se 0,5 mEq/kg/dose. O cálcio tem papel no tratamento da hipocalcemia, hiperpotassemia e hipermagnesemia. Nestas situações recomenda-se 5 a 7 mg/kg de cálcio elementar o que equivale a 0,5 a 0,75 mL/kg de gluconato de cálcio a 10% (1 mL = 9 mg). A hipoglicemia deve ser tratada com glicose a 25% na dose de 2 a 4 mL/kg, que oferece 0,5 a 1 g/kg de glicose. 8 A amiodarona: na parada cardíaca está indicada na fibrilação ventricular e taquicardia ventricular sem pulso. A dose é 5 mg/kg em bolo, e a mesma dose pode ser repetida, quando necessário, não devendo exceder 15 mg/kg/dia. A lidocaína: situações de fibrilação ventricular e taquicardia ventricular sem pulso. A dose inicial é 1 mg/kg, seguida, se necessário, de infusão contínua de 20 a 50 meg/kg/minuto. TERAPIA ELÉTRICA As pás de adultos (8 a 9 de diâmetro) são adequadas para crianças acima de 10 kg; abaixo deste peso devem ser usadas pás menores. As pás nunca devem ser aplicadas diretamente na ele da criança; pasta ou gel apropriados devem ser utilizados para proteger a pele. A quantidade de energia a ser utilizada em crianças não está bem estabelecida. Preconiza-se a dose inicial de 2 J/kg; senão houver reversão da fibrilação ventricular usa-se 4 J/kg e, se necessário, esta dose é repetida. 9 2. CHOQUE CONCEITO Choque é definido como um estado fisiopatológico em que um fluxo sanguíneo inadequado é incapaz de fornecer oxigênio e nutrientes para suprir as demandas metabólicas dos tecidos no nível celular. Pode ocorrer devido à falência circulatória diminuição do volume total circulante ou uma oferta inadequada de oxigênio. CLASSIFICAÇÃO / ETIOLOGIA • Compensado: quando a criança apresenta pressão sistólica normal com sinais e sintomas de choque, ou seja, com perfusão tecidual e orgânica inadequados. • Descompensado: quando sinais e sintomas de choque são associados à hipotensão sistólica, ou seja, pressão sistólica abaixo do percentil 5% para a idade. • Hipovolêmico. • Distributivo: o choque séptico é a principal causa do choque distributivo. De acordo com seu estágio fisiopatológico, pode ser classificado em: a. Choque quente: alteração do nível de consciência, tempo de enchimento capilar rápido ( < 1 segundo), pele quente e seca e pulsos amplos com taquicardia. Reflete um débito cardíaco aumentado com diminuição da resistência vascular sistêmica; b. Choque frio: depressão do nível de consciência, cianose, pele fria e úmida, tempo de enchimento capilar lento (> 2 a 3 segundos) e pulsos finos. Representa um débito cardíaco geralmente baixo com diminuição da resistência vascular sistêmica; c. Choque refratário à fluidoterapia/dopamina: choque persistente apesar da ressuscitação fluídica com 60 mL/kg na primeira hora e dopamina 10 µg/kg/min; 10 d. Choque resistente à catecolamina: choque persistente apesar do uso de norepinefrina ou epinefrina; e. Choque refratário: choque persistente apesar do uso de agentes inotrópicos, vasopressores, vasodilatadores e da manutenção da homeostase metabólica e hormonal. Outras causas de choque distributivo incluem: o choque anafilático e o choque neurogênico. • Cardiogênico: principais etiologias são miocardite viral, insuficiência cardíaca nas cardiopatias congênitas e arritmias. Outras causas incluem intoxicações, choque séptico, contusão cardíaca, pós-operatório de cirurgia cardíaca e distúrbios metabólicos, tais como hipóxia, acidose, hipoglicemia, hipo ou hipercalemia e hipo ou hipercalcemia. • Obstrutivo: as causas mais importantes são o pneumotórax hipertensivo e o tamponamento cardíaco. • Dissociativo: principais causas são a intoxicação por monóxido de carbono e a metemoglobinemia. Tabela 2.1 Principais variáveis hemodinâmicas nos diferentes tipos de choque Débito Cardíaco Resistência Vascular Sistêmica Pressão Arterial Pressão Venosa CentralHipovolêmico N| ou Cardiogênico N| ou Obstrutivo N| ou Distributivo N| ou N| ou FISIOPATOLOGIA Os resultados finais, independentemente do fator desencadeante do choque, são alterações no metabolismo celular, ou seja, com a hipóxia tecidual ocorre anaerobiose com a liberação de uma cascata inflamatória que acaba por causar modificações na função e estrutura das células. Isso leva à dificuldade na 11 produção final de energia, causando a morte celular e conseqüente morte do organismo. QAUDRO CLÍNICO Os sinais iniciais do choque são: taquicardia, enchimentos capilar discretamente lentificado (> 2 a 3 segundos), irritabilidade ou ansiedade. Estes sinais refletem a compensação inicial do choque a fim de se manter o débito cardíaco e a perfusão tecidual de órgãos nobres (coração, rim e cérebro) adequados em resposta à hipovolemia (efetiva ou relativa), que o paciente apresente independentemente da etiologia do choque. Tabela 2.2 Quadro clínico do choque Choque Compensado Choque Descompensado Neurológico Ansioso, agitado Sonolência, estupor, coma Pressão arterial Normal ou aumentada Diminuída Freqüência cardíaca Aumentada Aumentada ou diminuída Freqüência respiratória Aumentada Aumentada ou diminuída Trabalho respiratório Levemente aumentado Muito aumentado, dispinéia Pele Normal, pálida Muito pálida, fria mamórea, cianótica Renal Normal ou discreta oligúria Oligúria, anúria EXAMES COMPLEMENTARES • Lactato arterial • Gasometria arterial • Hemograma • RX de tórax • Ecocardiograma • Função hepática • Dosagens hormonais • Culturas Tratamento: Monitorização hemodinâmica • Não-invasiva: em linhas gerais todos os pacientes devem ser monitorizados, observando-se rigorosamente as freqüências cardíaca e 12 respiratória, o nível de consciência, o tempo de enchimento capilar, a saturimetria, o débito urinário, a pressão arterial e a temperatura. Em alguns pacientes o débito cardíaco avaliado através do ecocardiograma pode ser necessário; • Invasiva: a. Pressão venosa central (PVC): lembrar que a ventilação mecânica, o uso de agentes inotrópicos e as alterações na complacência ou pós-carga do ventrículo direito podem alterar os resultados. b. Saturação do sangue venoso misto (SvO2); c. Pressão arterial invasiva. OFERTA DE OXIGÊNIO Oxigênio a 100% administrado por máscara ou ventilação mecânica. ACESSO VASCULAR O acesso venoso deve ser obtido o mais rápido possível, preferindo cateteres curtos e de grosso calibre em veias periféricas. Drogas vasoativas, preferir sempre que possível o acesso venoso central. FLUIDOTERAPIA Pode ser feita com solução cristalóide (ainda não existe um consenso sobre qual a melhor solução). No nosso meio, utilizamos a princípio o soro fisiológico. Iniciamos com bolus de 20 mL/kg (em até 20 minutos) até a normalização dos parâmetros clínicos. No choque hemorrágico, após a segunda expansão com cristalóide, pode administrar concentrado de hemácias na dose de 10 mL/kg. Em caso de choque cardiogênico utilizar inicialmente volumes menores (5 a 10 mL/kg); Sempre após a administração de volume observar débito urinário, freqüências cardíaca e respiratória, nível de consciência, enchimento capilar e pressão arterial. DROGAS VASOATIVAS 13 Vasopressores Dopamina (em doses de 10 a 20 µg/kg/min). Para o choque refratário a esta droga, pode-se utilizar norepinefrina ou epinefrina. A norepinefrina é utilizada para o choque quente, nas doses de 0,1 a 2 µg/kg/min. A epinefrina é utilizada nos casos de choque frio, nas doses de 0,1 a 2 µg/kg/min. No choque anafilático e no neurogênico utiliza-se a norepinefrina ou a epinefrina. Inotrópicos • A dobutamina (nas doses de 5 a 20 µg/kg/min); • A dopamina (nas doses de 5 a 10 µg/kg/min); • A milrinone ou amrinone: intra venosa em bolos (não deve exceder 10 mg/kg/24 horas). ▪ Neonatal: 0,75 mg/kg em 2-3 minutos seguidos de dose de manutenção de 3-5 µg/kg/min, podendo ser necessário repetir em 30 minutos. ▪ Crianças: 0,75 mg/kg em 2-3 minutos seguidos de dose de manutenção de 5-10 µg/kg/min, podendo ser necessário repetir em 30 minutos. 14 3. ASMA AGUDA DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO Asma é uma doença inflamatória crônica caracterizada por hiperresponsividade das vias aérea inferiores e por limitação variável ao fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou com tratamento. Tabela 3.1 pela intensidade da crise aguda na criança Leve / Moderada Grave Muito Grave Dispinéia Ausente ou leve; fala frases completas, deambula Moderada: fala frases incompletas/parciais. Lactante: choro curto, dificuldade para alimentar Grave: fala frases curtas, monossílabas; posição semi- sentada, grande dificuldade para se alimentar Consciência Normal Normal ou excitado Agitação, confusão, sonolência Freqüência Respiratória* Normal ou aumentada Aumentada Aumentada Uso da musculatura acessória Leve ou nenhuma retração intercostal Retrações acentuadas (subcostais e do esternocleidomastóide) Retrações intensas ou em declínio (exaustão) Ausculta Sibilos no fim da inspiração Sibilos ins e expiratórios Murmúrio inaudível. Entrada pobre de ar PFE (% do previsto) > 50% Entre 30% a 50% < 30% Saturação de O2 em ar ambiente > 95% 91% a 95% ≤ 90% PaO2 (ar ambiente) Normal Em torno de 60 mmHg < 60 mmHg PaCO2 < 40 mmHg Em torno de 40 mmHg > 45 mmHg A presença de vários parâmetros, mas não necessariamente de todos, indica a classificação geral da crise aguda da asma. *Freqüência Respiratória (FR) em lactante e crianças saudáveis: Idade < 2 meses 2 a 12 meses 1 a 5 anos 6 a 8 anos > 8 anos FR < 60 < 50 < 40 < 30 < 20 15 QUADRO CLÍNICO Tabela 3.2 pela intensidade da crise aguda na criança 0 1 2 Entrada de ar Simétrica Assimétrica Diminuída Sibilos Poucos e expiratórios Moderados (inspiratórios e expiratórios) Intensos ou ausentes na IRA grave com respiração paradoxal Uso de musculatura acessória Nenhum ou pouco Significativo Intenso ou respiração paradoxal Cianose Sem cianose Presente em ar ambiente Presente com FiO2 de 40 % Avaliação neurológica Normal Euforia ou depressão Coma TRATAMENTO DA CRISE Os broncodilatadores mais usados na prática clínica são os β –agonistas, classificados em agentes farmacológicos de curta ação, como o salbutamol, a terbutalina e o fenoterol, cujo efeito broncodilatador dura aproximadamente 4 a 6 horas, ou de longa duração, como o formoterol, com efeito até 12 horas. Brometo de ipratrópio efeito máximo entre 30 minutos e 1 hora após a administração. Corticosteróides sistêmicos mais utilizados a prednisona e a prednisolona por via oral ou sistêmica. Na via endovenosa, metilprednisolona, em substituição à hidrocortisona, em virtude do seu menor efeito mineralocorticóide. ASMA LEVE / MODERADA Nebulização com β2–agonista (Salbutamol: 1 gota/2 kg, máximo 5 mg – 2- gotas/dose ou Fenoterol: 1 gota/3 kg, máximo 2,5 mg – 10 gotas/dose) a cada 20 minutos até 1 hora. Opção para spray/inaladores de pó (200 a 300 µg/dose) a cada 20 minutos, até 1 hora (três doses). Uso alternativo de formoterol. 16 Se houver má resposta ou resposta incompleta ao esquema inicial, associar brometo de ipratrópio (125 a 250 µg/dose – 10 a 20 gotas) a cada nebulização, que deve ser contínua por uma hora, com fenoterol na dose de 1 gota/kg/hora. Introduzir prednisona via oral: 1 a 2 mg/kg/dose – máximo 40 mg. ASMA GRAVE O2 para Sat O2 ≤ 95%, fluxo de 6 L/min, e nebulização contínua com β2– agonista (Fenoterol: 1 gota/kg/hora) na primeira hora e associado a brometro de ipratrópio (125 a 250 µg/dose – 10 a 20 gotas) ma segunda hora. Introduzir prednisona ou prednisolona via oral: 1 a 2 mg/kg/dose – máximo 40 mg. Se houverresposta incompleta à terapêutica inicial, introduzir metilprednisolona por via endovenosa: 2 mg/kg/dose (ataque), seguido de 1 mg/kg a cada 6 horas; manter inalação contínua com fenoterol e brometro de ipratrópio e após melhora nebulização a cada 2 horas. Manter fonte de oxigênio contínua, através de cateter nasal ou máscara facial, se SatO2 ≤ 95%. Considerar hidratação com SF. Se não melhorar, indicar UTI. ASMA MUITO GRAVE Terbutalina subcutânea 0,01 mg/kg (máximo 0,3 mg/dose). Nebulização contínua com β2-agonista (fenoterol: 1 gota/kg/hora), com fonte de O2, fluxo de 6 L/min.(preferência para o SALBUTAMOL) Acesso endovenoso para uso de metilprednisolona: 2 mg/kg/dose (ataque), seguido de 1 mg/kg a cada 6 horas. Se não melhorar, indicar UTI, fazendo monitorização com cardioscópio e oximetria de pulso e introduzir sulfato de magnésio 25 a 50 mg/kg (máximo 2 g/dose) em 20 minutos. Controle rigoroso de pressão arterial. 17 Uso de β2-agonista (terbutalina/salbutamol) em infusão contínua endovenosa, na dose de ataque de 10 µg/kg/min, seguido de manutenção de 0,2 µg/kg/min, aumentando, se necessário em 0,1 µg/kg/min até o máximo de 1 µg/kg/min, enquanto aguarda transferência para UTI. Suspender se freqüência cardíaca > 200 bpm ou na presença de alterações cardiocirculatórias. OBSERVAÇÕES 1. Aminofilina não tem indicação como tratamento inicial. 2. O uso de β2-agonista por via endovenosa na unidade de emergência deve ser pelo menor período, até a transferência do paciente para UTI. 3. As indicações de intubação endotraqueal (tabela 3.3) Tabela 3.3 Indicações de intubação endotraqueal em paciente asmático em crise grave • Sensório alterado: falta de atenção, confusão ou sonolência. • Ausência de murmúrio vesicular apesar do esforço respiratório. • Acidose lática não resolvida ou piorando. • Elevação progressiva da PaCO2, com piora da dispinéia. • Diminuição progressiva dos valores de saturação de O2. • Sinais de fadiga dos músculos respiratórios. • Respiração paradoxal com alternância toracoabdominal. • Sudorese intensa em decúbito. INDICAÇÕES DE EXAMES • RX de tórax: não deve ser solicitado de rotina. É reservada para a suspeita clínica de pneumonia, pneumotórax, pneumomediastino, atelectasia, aspiração de corpo estranho ou internação por crise grave. • Gasometria. • Eletrólitos. 18 4. ANAFILAXIA INTRODUÇÃO Anafilaxia é uma síndrome clínica representada por uma severa reação alérgica sistêmica, mediada por anticorpos da classe IgE. Nas formas leves, pode-se observar comprometimento da pele; com prurido, urticária e angioedema. Já nas graves, podemos observar angioedema (laríngeo), náuseas, vômitos, dor abdominal, diarréia, hipotensão, arritmias, culminando num colapso cardíaco, de obstrução de vias aéreas ou ambos, levando o paciente à morte. ETIOLOGIA Tabela 4.1 Etiologia da anafilaxia Alimentos Amendoim, nozes, leite, frutos do mar, legumes, ovos, alimento que contenha fungo. Drogas Penicilinas, cefalosporinas, quimioterápicos, analgésicos, antitérmicos, antiinflamatórios não-hormonais. Picadas de insetos, vespas Gêneros Hymenoptera, sendo mais comuns picadas de abelhas. Agentes biológicos Hemoderivados, insulina, imunoglobulinas, extratos de alérgenos. Aditivos alimentares Glutamato monossódico, aspartame, corante carmim, corante tartrazina, conservantes benzoato de sódio. Látex Preservativos, elásticos de roupas, chicletes, toucas de natação, luvas descartáveis, cosméticos, drenos cirúrgicos, cateteres, tubos intravenosos. Radiocontrastes Diatrizoato, iodo. Outros Induzida pelos exercícios, idiopáticas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A maior parte das reações anafiláticas se inicia 30 minutos após a exposição ao alérgeno. O primeiro sintoma normalmente percebido é o de formigamento ao redor da boca e da face, em seguida sensação de calor, dificuldade de deglutição, aperto da garganta e no tórax. Pode haver fraqueza e sudorese com prurido disseminado. Ocorre, então, rubor, urticária, angioedema 19 com rouquidão, estridor laríngeo, disfagia, congestão nasal, prurido ocular, espirros e sibilância. DIAGNÓSTICO A história suspeita de anafilaxia e os exames clínicos levam ao diagnóstico. Quando ocorre perda de consciência e não há manifestação cutânea de anafilaxia, o diagnóstico diferencial deve incluir embolia pulmonar, arritmias cardíacas, intoxicação aguda, asma, hipoglicemia, reação vaso-vagal, mastocitose sistêmica, síndrome do pânico, distúrbios psicológicos, edema angioneurótico hereditário e aspiração de corpo estranho. TRATAMENTO Inicialmente deve-se estabelecer uma via aérea pérvia, e respiração e circulação adequadas do paciente. O paciente deve ser colocado em posição supina ou Tredelenburg; o oxigênio suplementar está indicado (100%, 4 a 6 L/min). A intubação endotraqueal pode ser necessária e está indicada a cricotireoidotomia, se houver obstrução completa de via aérea superior. A droga de escolha é a epinefrina aquosa, na diluição de 1:1000, na dose de 0,01 mL/kg (dose máxima de 0,3 mL na criança e de 0,5 mL no adulto por via intramuscular). Se necessário repete-se a dose duas ou três vezes com intervalos de 10 a 25 minutos. Nas reações graves com hipotensão severa, o acesso intravenoso é importante nos casos de necessidade de reanimação, e devido às grandes quantidades de volumes que deverão ser administrados: até 100 mL/min de solução salina isotônica (máximo 3 L no adulto). O uso de drogas vasoativas contínuas também se faz necessário nos casos de hipotensão refratária, epinefrina na dose de 0,1 µg/kg/min ou dobutamina, 5 a 20 µg/kg/min a fim de manter a pressão sistólica em torno de 80 mmHg. 20 O uso de agonistas de H1 como a difenidramina (Benadryl®) pode ser útil na hipotensão e urticária (1 a 2 mg/kg, máximo 50 mg) intramuscular e quando em conjunto com um agonista de H2 (ranitidina: 1 mg/kg ou cimetidina: 4 mg/kg) intravenoso pode ser mais eficaz que a difenidramina isolada. Corticóides são ineficazes na fase aguda, mas bloqueiam as recidivas imediatas (crises bifásicas). Usa-se metilprednisona (1 a 2 mg/kg até 75 mg/dose) ou prednisona oral na mesma dose ou hidrocortisona (5 mg/kg) a cada 4 ou 6 horas. 21 5. CRISE CONVULSIVA FEBRIL INTRODUÇÃO Durante subida rápida da febre acima de 39°C. em 85% dos casos é Tonico clônica generalizada, durante de segundos a 10 minutos (pode chegar a status). Se durarem mais de 15 minutos ou são focais ou são repetidas, deve-se suspeitar de causa orgânica. Rara em menores de 9 meses ou acima de 5 anos (pico entre 14 e 18 meses). Considerar e afastar a possibilidade de sepse, meningite e encefalite. TRATAMENTO Na maioria dos casos nenhum tratamento é necessário a não ser usar antitérmicos mais agressivamente nas doenças febris. profilaxia só em casos repetidos: Fenobarbital ou Valproato. Na febre: diazepam 0,3 mg/kg/dose x3 enquanto durar a doença febril (2-3 dias). ESTADO DE MAL EPILÉTICO (EME) NA INFÃNCIA INTRODUÇÃO Estima-se que 16% a 24% da população epilética infantil apresentem pelo menos um episodio de estado de mal convulsivo em sua evolução. O EME é uma emergência clinica que requer pronto reconhecimento e tratamento imediato. O uso de protocolos de conduta é uma alternativa eficiente para a uniformização dos procedimentos e drogas no intuito também de diminuir a morbimortalidade do EME. DEFINIÇÃO A tendência atual é considerar uma crise com mais de 5 minutos de duração como estado de mal epilético. 22 CLASSIFICAÇÃO • EME generalizado: o Convulsivo: tônico-clônico, mioclônico, tônico, clônico; o Não convulsivo: ausência, atônica. • EME parcial: o Simples: com sinais motores, visuais, somatossensitivos, autonômicos, psíquicos; o Complexo.FISIOPATOLOGIA Varias alterações sistêmicas ocorrem durante a convulsão. A hipoxia é uma ocorrência comum nos pacientes com EME e é responsável pela maioria das complicações observadas. Resulta da ventilação inadequada, salivação excessiva, secreções traqueais e do aumento de consumo de oxigênio pelo cérebro, evoluindo assim para acidose respiratória. A acidose metabólica secundária à glicose anaeróbica também é observada o intuito de aumentar a perfusão tecidual. Após os primeiros 30 minutos de crise, os mecanismos de compensação se tornam comprometidos. A pressão arterial tende a cair, ocorrem hipoglicemia e diminuição do fluxo sanguíneo cerebral que pode evoluir com edema cerebral e aumento da pressão intracraniana. As convulsões prolongadas também resultam em hiperpotassemia, aumento das enzimas musculares e mioglobinúria podem comprometer a função renal resultando em falência renal aguda. Seqüencialmente pode ocorrer coagulação intravascular disseminada (CIVD), arritmias e isquemia cardíaca com possibilidade de evolução para falência de múltiplos órgãos e sistemas, e conseqüente óbito. 23 ETIOLOGIA • Em recém-nascidos: distúrbios metabólicos (hipoglicemia, hipo/hipernatremia, hiperbilirrubinemia, erros inatos do metabolismo); tocotraumatismos, malformações do sistema nervoso central; síndrome de abstinência, principalmente em prematuros com internação prolongada. • Lactantes até 5 anos: febre, doenças metabólicas, doenças degenerativas, intoxicação, idiopáticas, tumores do sistema nervoso central e malformações anteriovenosas. • Em crianças com mais de 5 anos: excetuando-se a febre, todas as etiologias acima estão presentes, além de um nível inadequado de anticonvulsionantes em crianças previamente epilépticas e das intoxicações exógenas. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é clínico nos EME com manifestações convulsivas. Deve-se realizar a anamnese detalhada, exame físico geral e neurológico completo, além de triagens metabólicas, infecciosas, toxicológica, dosagem sérica de anticonvulsivantes e métodos de imagem (radiografias, tomografias computadorizada, ressonância nuclear magnética) na dependência da hipótese diagnóstica etiológica. Deve-se avaliar a possibilidade de meningite em todos os quadros de EME acompanhado de febre. TRATAMENTO Emergência clínica: desobstrução de vias aéreas, oxigenação e acesso vascular. A via preferencial é a endovenosa, pode-se usar como alternativa a via retal (diazepam 0,5 mg/kg/dose),não usar a via intramuscular (midazolam 0,2 mg/kg/dose) a ser usada por qualquer via.A via intra-óssea também pode ser utilizada. 24 Seqüência do tratamento medicamentoso anticonvulsivamente Progredir para o item seguinte caso não haja resposta ao uso da droga anterior: 1. Glicose em push: soto glicosado a 10%: 2 mL/kg; 2. Diazepam: 0,2 a 0,5 mg/kg/dose (não diluir), utilizar até três doses em inervalos de 5 minutos (máximo de 10 mg). Em recém-nascido opta-se pelo uso de fenobarbital sódico (20 mg/kg, na dose máxima de 30 mg/kg nas 24 horas), sempre pela via intravenosa; 3. Fenitoína: 20 mg/kg, endovenoso, em 20 minutos, diluído em solução fisiológica ou água destilada, com taxa de infusão de 1 mg/kg/minuto (máximo de 50 mg/minuto), podendo chegar até o máximo de 3- MG/kg/24 horas. Após este período iniciar a dose de manutenção com 5 a 10 mg/kg/dia; 4. Fenobarbital sódico: 15 a 20 mg/kg, endovenoso (máximo 300 a 400 mg), podendo chegar até 30 mg/kg/24 horas. Manutenção de 5 mg/kg/dia após 24 horas da dose de ataque. 5. Intubação orotraqueal e ventilação mecânica; 6. Tiopental sódico (5 mg/kg/dose seguido de infusão contínua de 20 a 40 µg/kg/minuto); 7. Midazolam (0,2 mg/kg/dose, seguido por infusão contínua de 0,2 mg/kg/hora). 8. Propofol (1 a 3 mg/kg/dose, seguido por infusão continua de 2 a 10 mg/kg/hora) seu uso é limitado em crianças por ocasionar acidose. 9. OBSERVAÇÃO:APÓS USAR DIAZEPAN SEM SUCESSO 2X,USAR O MIDAZOLAM. 25 6. TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO INTRODUÇÃO Temos já hoje no Brasil como principal causa de morte dos 5 aos 19 anos as causas externas. O traumatismo cranioencefálico (TCE), por sua vez, é o acidente mais prevalente nas crianças abaixo de 5 anos, em especial nas menores de 1 ano. FISIOPATOLOGIA O funcionamento básico do Sistema Nervoso Central (SNC) requer o adequado aporte de O2, glicose e demais nutrientes para o metabolismo basal do tecido cerebral. Para tanto, depende do Fluxo Sanguíneo Cerebral (FSC), garantido pela Pressão de Perfusão Cerebral (PPC), que é, por sua vez, fruto da diferença entre a Pressão Arterial Média (PAM) e a Pressão Intracraniana (PIC). A Hipertensão Intracraniana (HIC), se não tratada, pode culminar com a iminência de herniação do tecido cerebral, quando o organismo exibe a clássica tríade de Cushing: bradicardia, alteração respiratória e hipertensão arterial sistêmica. LESÕES TRAUMÁTICAS • Lesão do couro cabeludo. • Fraturas: subdivididas em quatro tipos: linear (a mais comum), cominutiva, afundamento ou diastática. LESÕES INTRACRANIANAS • Contusão cerebral: decorre de ação direta da curvatura óssea (abóboda) sobre os tecidos neurais e vasculares adjacente. O tratamento é geralmente clínico. 26 • Hematoma epidural: coleção de sangue no espaço extradural. O quadro clínico inclui “intervalo lúcido” e sinais localizatórios. O tratamento consiste na drenagem do hematoma por craniotomia. • Hematoma subdural: presença de sangue no espaço subdural. Pode ser agudo, subagudo ou crônico. Os casos agudos são cirúrgicos, com elevados índices de morbimortalidade. Os crônicos podem ser bilaterais e apontam para o diagnostico de Maus-Tratos na Infância (MTI). • Hematoma intraparenquimatoso: localizados profundamente no parênquima, relacionados a lesões com mecanismo de rotação. • Lesão Axonal Difusa (LAD): representada pelo cisalhamento das fibras mielínicas. O quadro clínico é representado por alteração no nível de consciência onde a TC pode ser normal. A forma leve é tradicionalmente conhecida como Concussão Cerebral. • Lesão Microvascular Difusa (LMD): trata-se do principal componente do dano cerebral, representado pelo “inchaço” cerebral. Esta é a lesão mais freqüente no TCE grave. • Perda neuronal seletiva. • Isquemia hipoxêmica. CLASSIFICAÇÃO Tabela 6.1 Glasgow Normal Modificada* Abertura ocular Espontânea Espontânea 4 Ao comando verbal Ao comando verbal 3 À dor À dor 2 Nenhuma Nenhuma 1 Resposta verbal Orientado Balbucios 5 Conversação confusa Choro irritado 4 Palavras inapropriadas Choro à dor 3 Sons incompreensíveis Gemidos à dor 2 Nenhuma Nenhuma 1 Resposta motora Obedece a comandos Movimento espontâneo normal 6 Localiza a dor Retirada ao toque 5 Flexão normal Retirada à dor 4 27 Decorticação Flexão anormal 3 Decerebração Extensão anormal 2 Nenhuma Nenhuma 1 *Para lactentes. Considera-se: • TCE leve: ECG de 14 ou 15; • TCE moderado: ECG entre 9 e 13; • TCE grave: ECG ≤ 8. TRATAMENTO Vítima de TCE segue também as prioridades estabelecidas no ABC da ressuscitação. Antes, independente da apresentação clínica à chegada, algumas informações da história clínica são indispensáveis: mecanismo do trauma (se queda, que altura; se acidente com carro ou bicicleta, que velocidade), tempo decorrido, relato de convulsão, perda de consciência (por quanto tempo). Antecedente de epilepsia e discrasias devem ser pesquisados, bem como possibilidade de intoxicação exógena (álcool, drogas). TCE LEVE Nesse contexto, de acordo com a Academia Americana de Pediatria, podem-se dividir os pacientes em três grandes grupos: a. Pacientes de alto risco: definidos como aqueles que apresentem qualquer dos sinais ou sintomas abaixo: • Rebaixamento do nível de consciência; • Alteração neurológicafocal; • Perda da consciência > 1 minuto; • Convulsão; • Fratura de crânio; sinais de afundamento de crânio ou de fraturas da base; • Abaulamento de fontanelas; • Irritabilidade inconsolável; • Vômitos persistentes (por mais de 6 horas). Destes, todos devem realizar TC de crânio. As lesões anatômicas de tratamento conservador (contusões, pneumoencéfalo) requerem, no mínimo 72 horas de observação hospitalar. 28 No caso de exame radiológico e clínico normais, pode-se dispensar o paciente com informações sobre sinais e sintomas a serem observados, desde que haja garantia de que esta observação será responsável e de que o acesso ao serviço médico para retorno é rápido e fácil. b. Pacientes de risco intermediário: aqueles com qualquer dos sinais ou sintomas abaixo: • Perda de consciência < 1 minuto; • Alteração de comportamento; • Historia de letargia ou irritabilidade; • Fratura identificada após 24 horas do trauma; • Vômitos esporádicos; • Quedas de mais de 1 m sobre superfície dura; • Mecanismo de trauma envolvendo grande energia cinética (bicicleta, acidente automobilístico); • Hematoma subgaleal; • Trauma não testemunhado (história pobre). • CRIANÇAS MENORES QUE 1 ANO. Para este grupo pode-se optar pela realização da TC ou manter observação clínica por 6 horas. Nos casos de hematoma subgaleal, recomenda- se ao menos o raio X para pesquisa de eventual fratura associada. Na opção por observação, após 6 horas, se sinais ou sintomas persistentes, torna-se obrigatória a TC. Se assintomático, pode-se liberar para casa, cumprindo os mesmos critérios de observação domiciliar citados acima. c. Paciente de baixo risco: aqueles que envolvem traumatismo onde: • Paciente assintomático; • Baixa energia cinética (quedas < de 1 m); • Mais de 2 horas do acidente; • Maiores de 12 meses. Para estes, garantidos os exames clínico-neurológicos normais, pode-se dispensar o paciente para casa sem exames, com as mesmas recomendações e observações acima. TCE MODERADO E GRAVE O manejo do TCE moderado e grave requer assistência em UTI. 29 PREVENÇÃO Prevenção é a palavra-chave no adequado controle de acidentes na infância. Por ultimo, atentar sempre para a possibilidade de maus tratos na infância. 30 7. CETOACIDOSE DIABÉTICA CONCEITO A CAD pode ser definida como um conjunto de alterações clínico- laboratoriais decorrentes da insuficiente ação insulínica e da concomitante hipersecreção dos hormônios contra-reguladores da insulina em resposta a alguma situação de estresse. EPIDEMIOLOGIA A CAD representa a forma de manifestação inicial do diabetes mellitus (DM) em 35 a 40% das crianças e adolescentes diabéticos. FISIOPATOLOGIA Na CAD a hiperglicemia, a cetonemia e a elevação da uréia plasmática (decorrente da redução do ritmo de filtração glomerular) resultam em elevação da osmolaridade plasmática, que pode ser calculada da seguinte forma: 2 (Na + K)(mEq/L) + glicose (MG/dL) + uréia (MG/dL) 18 6 A correção dos valores de sódio encontrados para valores reais de sódio é realizada através da formula abaixo e servirá para determinarmos se for <149 nM será eunatremico e se <135 nM hiponatremico e se <120 nM deverá ser corrigido para diminuir o risco de edena cerebral. Caso seja >150 será hipernatremico. Na corrigido = Na encontrado + Glicemia (mg/dL – 100 x 1,6 100 ETIOLOGIA As principais causas de CAD são infecções (virais ou bacterianas), falta de aderência ao tratamento e estresse emocional. 31 DIAGNÓSTICO O diagnóstico da CAD envolve a caracterização de alterações clínicas e laboratoriais. Os principais sintomas da CAD são: polidipsia, poliúria, noctúria, polifagia, anorexia, náuseas e vômitos, dor abdominal e perda ponderal. Na admissão ao serviço de urgência as principais alterações presentes no exame físico de crianças e adolescentes com CAD incluem hálito cetônico, rubor facial, desidratação, taquicardia, hipotensão, redução da perfusão periférica, hiperventilação (respiração de Kussmaul) e dor abdominal. Nos casos mais graves, além dos sinais e sintomas acima, devemos salientar as alterações do SNC: sonolência, rebaixamento do nível de consciência e coma. Fraqueza muscular e hipertermia podem ser encontradas durante a descompensação. A dor abdominal pode ser intensa a ponto de simular apendicite, pancreatite ou abdome agudo cirúrgico. Laboratorialmente a CAD caracteriza-se por: hiperglicemia (glicemia > 250 mg/dL), acidose metabólica (pH < 7,3 e/ou bicarbonato < 15 mEq/L) com elevação do ânion-gap e presença de cetonemia (cetonas séricas > 3 mg/dL ou fortemente positivas em diluição do soro > 1:2) e cetonúria presente na urina.. O diagnóstico diferencial da CAD envolve: acidose lática (por erro inato do metabolismo, por exemplo, onde o nível plasmático de lactato geralmente é > 7 mM/L); intoxicação por salicilato e teofilina; coma hiperosmolar; outras causas de acidose (acidose tubular renal, por exemplo). TRATAMENTO A princípio, como em qualquer abordagem inicial no serviço de emergência, deve-se avaliar a permeabilidade de via aérea e a integridade do sistema respiratório. Em seguida, a avaliação do sistema cardiocirculatório 32 permitirá a identificação de choque e se o mesmo encontra-se compensado ou não. Segue-se a avaliação da integridade neurológica do paciente. Assim que o paciente for admitido, deve ser colhida amostra de sangue para dosagem de glicemia capilar, glicemia plasmática, gasometria venosa, sódio, potássio, uréia, creatinina, cálcio, fósforo e hemograma. A presença de cetose e cetonuria . Se houver suspeita ou evidencia de infecção. Deve ser colhido um par de hemoculturas. A gasometria venosa e os níveis plasmáticos de Na/K devem ser avaliados pelo menos a cada 2 horas nas 12 horas iniciais terapêuticas,e dextrostix de hora em hora e checar todas a diurese para glicosúria e cetonuria. Considerar SNG e Foley se a criança estiver comatosa. HIDRATAÇÃO Inicialmente a terapêutica hidroeletrolítica tem por objetivo a reparação intravascular. Nesta primeira hora, deve ser administrado soro fisiológico (SF) no volume de 10 ml/kg, infundido por 60 minutos se estiver hipotenso usar 20 ml/kg. Se após a expansão inicial o paciente ainda apresentar sinais de contração intravascular, a conduta anterior deve ser repetida na hora seguinte. Quando o paciente apresentar-se com sinais de choque, deverá receber SF no volume de 20 mL/kg a cada 20 minutos, até o desaparecimento dos sinais clínicos de choque. Após esta fase de expansão (primeira hora) o paciente receberá soro de manutenção conforme regra de Holiday-Segar (da segunda à 24 hora) e repor o déficit, neste caso considerar desidratação de 5% a 7% e colocar 50 ml/kg a 70 ml/kg e descontar os 10 ml/kg infundido na primeira hora. NUNCA ULTRAPASSAR 4000 ml/m2 nas 24 horas. O valor total a ser reposto inclui a manutenção e o déficit ,sendo que a manutenção é dividida em 3 x iguais de 8/8 h e o déficit será dividido em 2 sendo a primeira metade corre em 8 horas e a outra metade em 16 h. O cálculo da superfície corpórea é realizado através da seguinte fórmula: 33 4 x Peso (kg) + 7 Peso (kg) + 90 Entretanto se o paciente for hipernatrênico usaremos o SF 0,45% e correr o volume do déficit metade em 12 hs e a outra metade em 24 hs,o volume da manutenção continua nas 24 horas. Quando a glicemia atingir valores próximos a 250 mg/dL e o paciente ainda necessitar da administração de insulina regular para bloqueio da cetogênese, o soro passará a ser constituído colocando glicose no soro restante para transforma-lo em SF 0,9%E SG 5%.EX:O VOLUME RESTANTE DE SF 0,9% ESTÁ EM 400 ML E PRECISA COLOCAR GLICOSE 50% PARA TRANSFORMAR EM 5%,PRECISA DE 20 GRAMAS DE GLICOSE OU SEJA,4 AMPOLAS DE GLIOSE 50%.Se a glicemia continuar caindo abaixo de 250 mg%,colocar glicose 7,5%,10%. INSULINOTERAPIA A insulinoterapia endovenosa contínua é realizada a partir da mistura de 100 mL de SF e 100 U de insulina regular, de modo que 1 mL da mistura contém 1 U de insulina regular. O equipamento a ser utilizado para a insulinoterapia endovenosa deve ser previamente lavado com a mistura, o que permite a sua saturação em insulina. Inicia-se a seguir a administração endovenosa contínua de insulina em bomba de infusão na dose de 0,1 U de insulina regular/kg/hora (ou 0,1 mL da mistura/kg/hora), que deverá permitir redução da glicemia de 60 a 80 mg/dL/hora. A glicemia capilar deve ser avaliada de hora em hora. Se a queda da glicemia for superior a 90 mg/dL/hora ou a glicemia for <150 mg com o soro com glicose 10%, a infusão de insulina deve ser reduzida para 0,075 U/kg/hora. Se persistir a queda da glicemia e ainda estiver com cetonuria, passar a velocidade para 0,05 U/kg/h. A reposição continua de insulina deve ser mantida até que a glicemia capilar tenha atingido valor ≤ 250 mg/Dl e fique sem cetonuria e acidose. 34 Elevações glicêmicas presentes após a suspensão da insulinoterapia contínua serão tratadas com insulina de ação rápida (insulina regular) ou ultra rápida (insulina lispro ou aspart) administradas por via subcutânea na dose de 0,1 e 0,15 U/kg, respectivamente. Somente será iniciada quando o paciente não estiver mais acidótico, ou seja, HCO3>15 mEq/dl, sem cetonemia ou com cetonuria negativa ou residual, bem clinicamente e apto a receber VO. REPOSIÇÃO DE POTÁSSIO A hipocalemia é considerada o distúrbio metabólico mais grave relacionado ao tratamento da CAD. Recomenda-se, portanto, a reposição de potássio a partir da segunda hora de tratamento, desde que a função renal esteja preservada, o paciente tenha apresentado diurese, a insulinoterapia tenha sido iniciada e a calemia seja inferior a 5,0 mEq/L,se for maior não colocar e monitorar o K+ de horar em hora,até que seja possível adicionar o potássio. O potássio é acrescentado ao soro na dose de 40 a 60 mEq para cada litro de soro administrado, respeitando-se o limite de infusão de 0,5 mEq/kg/hora. Normalmente a administração de potássio é realizada na forma de KCl 19,1% (1 mL= 2,5 mEq de potássio). REPOSIÇÃO DE BICARBONATO A reposição de bicarbonato também pode causar hipernatremia e hipocalemia e seu uso é controverso , de preferencia não usar. Recomenda-se, portanto, que na CAD, apesar da intensa acidose freqüentemente observada, a correção do bicarbonato seja feita apenas quando o pH for inferior a 7, com o intuito de se preservar o desempenho miocárdio. A quantidade de bicarbonato a ser administrada (em mEq) é calculada a partir da seguinte fórmula: (15 – bicarbonato encontrado0 x 0,3 x peso (kg). Inicialmente administra-se metade da quantia calculada em 2 horas, sendo a outra metade infundida se, na gasometria de controle, o pH for inferior a 7,1. 35 Com o intuito de se evitar hipernatremia e elevação da osmolaridade plasmática a solução de bicarbonato de sódio deve ser diluída em água destilada até que se torne isotônica. REPOSIÇÃO DE FOSFATO O seu uso é controverso, portanto, não usamos a suplementação de fosfato, e o seu excesso pode levar a hiperfosfatemia, hipocalcemia e hipomagnesemia. Por outro lado, a reposição de fosfato pode beneficiar pacientes em tratamento de CAD e que apresentem anemia, insuficiência cardíaca congestiva, pneumonia ou outras causas de hipoxia, bem como pacientes com níveis plasmáticos de fosfato inferiores a 1 mg/dL. Nestes casos, o fosfato será administrado na forma de KH2PO425% (1 mL = 1,8 mEq de fosfato/1,8 mEq de potássio). O volume de KH2PO425% será o necessário para fornecer 1/3 do potássio a ser reposto. COMPLICAÇÕES A complicação mais temida da CAD em crianças e adolescentes é o EDEMA CEREBRAL, que é uma ocorrência rara 1% dos casos de cetoacidose, geralmente 4 a 12 h após o início do tratamento. Os principais fatores de risco para o desenvolvimento de edema cerebral em crianças e adolescentes em tratamento por CAD incluem: • Idade inferior a 3 anos; • Administração de volume superior a 4L/m²/dia nas 24 horas iniciais de tratamento; • Administração de bicarbonato de sódio; • Hiperosmolaridade plasmática á admissão (> 375 mOsm/kg); • Queda de osmolaridade plasmática para valores inferiores a 272 mOsm/kg durante a terapêutica, decorrente de hiperhidratação e insulinoterapia excessiva; • Hiperglicemia acentuada (> 800 mg/dL) à admissão; • Hipernatremia relativa (Na corrigido > 145 mEq/L) à admissão; • Hiponatremia relativa (Na corrigido < 130 mEq/L); • Redução da pressão arterial de CO2 à admissão; 36 • Elevação da concentração plasmática de uréia à admissão. O tratamento do edema cerebral deve ser realizado da seguinte forma: • Administração de manitol: deve ser administração precocemente, na dose de 0,2 a 1 g/kg, por via endovenosa, em infusão por 30 minutos. De acordo com a resposta clínica, a dose pode ser repetida a cada hora; • Solução hipertônica (3%): pode representar alternativa ao manitol, devendo ser infundida na dose de 5 a 10 mL/kg, em 30 minutos; • Nos casos mais intensos: o paciente deve ser mantido em ventilação mecânica com o intuito de se estabelecer pressão arterial de CO2 em torno de 35 mmHg. Reduções maiores nos níveis plasmáticos de CO2 estão relacionadas à redução da perfusão cerebral e pior prognóstico. • A furosemida e a dexametasona: não têm eficácia comprovada no tratamento do edema cerebral. 8. QUEIMADURAS INTRODUÇÃO O atendimento às crianças vítimas de queimaduras no departamento de emergência representa desafio a toda equipe. Cerca de 10% dos pacientes internados por queimaduras são vítimas de maus tratos. Lesões com pontas de cigarro, marcas de ferro quente ou contato com outras superfícies quentes, queimaduras com líquido escaldante por imersão (limites bem definidos nas extremidades), lesões envolvendo períneo ou quando há dados conflitantes de história, falam a favor de lesões internacionais, devendo ser internados e notificados todos os casos. A lesão térmica provoca uma intensa resposta metabólica, mais que em qualquer outro tipo de doença ou trauma. Ocorre grande perda de fluídos corpóreos e pode haver sobrecarga nos sistemas cardíaco, pulmonar e renal. 37 Após a lesão, os mediadores liberados da ferida contribuem para a inflamação local e edema. Nas queimaduras acima de 10% a 15% da superfície corpórea, isso acontece não somente na área da lesão, mas também de forma sistêmica, ocorrendo hipovolemia, hipoproteinemia e edema. Há, então, uma redistribuição do fluxo renal, com vasoconstrição mesentérica e redução do fluxo sanguíneo renal. Se essas perdas não forem corrigidas, a criança evolui para choque hipovolêmico. Portanto, é fundamental a reanimação hídrica endovenosa imediata. CLASSIFICAÇÃO Quanto à profundidade da lesão. Figura 8.1 Quanto à extensão da queimadura. 38 Para o cálculo da superfície corpórea queimada (SCQ), incluem-se somente as lesões de segundo e terceiro graus. Multiplica-se a superfície corpórea total (SCT) da criança pela porcentagem de queimaduras, excetuando- se as lesões de primeiro grau. Em pediatria, utilizamos o diagrama adaptado de Lund e Browder (figura 8.2 e tabela 8.1). A gravidade da queimadura depende: a. Da extensão, profundidade e localização da lesão; b. Da idade do paciente; c. Dos agentes etiológicos envolvidos; d. Da presença de lesão inalatória; e. Da presença de outras lesões associadas; f. Se há doenças de base preexistentes. Segundo preconizaa American Burn Association, as queimaduras dividem- se em três categorias: -leves: são aquelas lesões de segundo grau que envolve menos de 15% da SCT em adultos e menos de 10% em crianças ≤ 10 anos ou adultos ≥ 50 anos e também as queimaduras de terceiro grau ≤2% SCT. Incluem-se somente lesões que não apresentem risco funcional e que não envolvam olhos, orelhas, face, mãos, pés, períneo ou superfícies articulares. Geralmente são seguramente acompanhadas ambulatorialmente. 39 Área do diagrama Idade em anos 0 1 5 10-15 A = ½ cabeça 9,5 8,5 6,5 5,5 B = ½ coxa 2,75 3,25 4 4,25 C = ½ perna 2,5 2,5 2,75 3 Figura 8.2 – Diagrama de Lund e Browder -moderadas: lesões de segundo grau de 10% a 20% da SCT em crianças e idosos e de 15% a 25% em adultos e também as de terceiro grau de 2% a 10%, que não impliquem risco funcional ou prejuízo estético dos olhos, das orelhas, da face, das mãos, dos pés, do períneo e das superfícies articulares. Os pacientes devem ser hospitalizados; - graves: classificam-se deste modo: • As lesões de segundo grau ≥ 20% de SCT em pacientes menores de 10 anos e maiores de 50 anos ou 25% em adultos; 40 • Lesões de terceiro grau maiores que 10% SCT; • Queimaduras envolvendo face, olhos, orelhas, mãos, pés, períneo ou grandes articulações, que possam causar prejuízo funcional e/ou estético; • Queimaduras químicas (por exemplo: cáusticos); • Queimaduras elétricas de alta voltagem (maiores que 1000V); • Queimaduras associadas à lesão inalatória ou a outros traumas; • Queimaduras em pacientes de alto risco, com doenças debilitantes de base. Tabela 8.1 Cálculo da porcentagem de queimadura Área Nascimento até 1 ano 1 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 anos Adulto Segundo grau Terceiro grau TOTAL Cabeça 19 17 13 11 9 Pescoço 2 2 2 2 2 Tórax anterior 13 13 13 13 13 Tórax posterior 13 13 13 13 13 Nádega dir. 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 Nádega esq. 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 Genitália 1 1 1 1 1 Braço dir. 4 4 4 4 4 Braço esq. 4 4 4 4 4 Antebraço dir. 3 3 3 3 3 Antebraço esq. 3 3 3 3 3 Mão dir. 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 Mão esq. 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 Coxa dir. 5,5 6,5 8 8,5 9 Coxa esq. 5,5 6,5 8 8,5 9 Perna dir. 5 5 5,5 6 6,5 Perna esq. 5 5 5,5 6 6,5 Pé dir. 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 Pé esq. 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 TOTAL INDICAÇÃO DE INTERNAÇÃO EM PACIENTES PEDIÁTRICOS • Queimaduras de segundo grau ≥ 10%. • Queimaduras de terceiro grau ≥ 2%. • Qualquer queimadura de segundo ou terceiro grau que envolva áreas críticas: face, mãos, pés, genitais, períneo ou grandes superfícies articulares. • Queimaduras circunferenciais de tórax ou extremidades (risco de síndrome compartimental e necessidade de escarotomia). • Queimadura química significativa. • Queimaduras elétricas de alta voltagem ou acidentes por raios. 41 • Traumas concomitantes (fraturas, traumatismo cranioencefálico, etc.). • Doenças de base preexistentes. • Suspeita de lesão inalatória. • Suspeita de maus tratos ou negligência. • Falta de suporte doméstico para cuidado da ferida, o que aumenta o risco de infecção e o aprofundamento da lesão. • Queimaduras leves infectadas. LESÃO INALATÓRIA A exposição aos gases aquecidos e a fumaça diretamente o trato respiratório. A lesão direta à via aérea resulta em edema que, associada ao edema generalizado das queimaduras extensas, pode evoluir rapidamente para obstrução alta e dificultar a intubação. Além disso, sempre que houver história de incêndio em espaço fechado, deve-se considerar o diagnóstico de intoxicação por monóxido de carbono (CO). TRATAMENTO Como em qualquer outro trauma, a conduta inicial é dividida em suporte de vida primário e secundário, iniciando-se com o ABC, de acordo com os protocolos do Advanced Trauma Life Support. Para a reanimação hídrica de crianças com mais de 10% SCT queimada, devem ser providenciados dois acessos venosos periféricos calibrosos, dando preferência às áreas não queimadas, deixando as áreas queimadas como segunda escolha. Se não houver sucesso nas tentativas iniciais de acesso vascular, deve-se partir para a via intra-óssea. Queimaduras mais extensas necessitam de acesso central. Se houver sinais de choque, infundir 20 mL/kg de Ringer Lactato ou soro fisiológico em bolus imediatamente, repetindo se necessário, antes de calcular o volume necessário para 24 horas. ANALGESIA E SEDAÇÃO Os opiáceos são a droga de escolha, em especial a morfina (0,1 mg/kg EV, com efeito durante 1 a 2 horas). A meperidina não tem sido recomendada no longe prazo devido ao risco de acúmulo de normeperidina, um metabólico tóxico que pode causar convulsões. O fentanyl é um opiáceo 80 vezes mais 42 potente que a morfina (2 µg/kg EV lento, seguido de infusão contínua de 1 a 10 µg/kg/h). Naloxone raramente é necessário, mas deve esta disponível para reverter os efeitos dos opiáceos (0,1 mg/kg até um total de 2mg EV ou IM). A ansiedade diminui a tolerância à dor. Freqüentemente, associamos midazolam (0,1 s 0,2 mg/kg), devido à sua ação de amnésia anterógrada, ansiolítica, psicosedativa, hipnótica e relaxante muscular. Pode ser aplicado por várias vias, inclusive retal e intranasal. IMUNOPROFILAXIA DO TETANO Indicada nas queimaduras = 10%. Todos os pacientes com história de imunização de tétano desconhecida ou que tiveram menos de três doses devem receber toxóide tetânico (0,5 ml) e imunoglobulina antitetânica (250U), administrados com diferentes seringas e em diferentes locais. FLUIDOTERAPIA O Ringer lacato é uma solução cristalóide isotônica preferível ao soro fisiológico quando grandes volumes são necessários, devido à sua menor concentração de sódio (130 mEql/l versus 154 mEq/l) e maior pH (6,5 versus 5), mais próximos aos níveis fisiológicos, além do efeito tampão do lactato matabolizado na acidose metabólica. Em pediatria utilizamos a fórmula de Galveston: 5.000 mL/m² SCQ/24h (perdas) + 2.000 mL/m² SCT/24h (manutenção) nas primeiras 24 horas, contando a partir do horário do trauma térmico e não da chegada ao departamento de emergência. Deve-se subtrair qualquer volume dado após o acidente, no transporte ou em outro serviço. Infundir metade do volume nas primeiras 8 horas após o acidente e metade nas 16 horas restantes. Não se adiciona potássio, uma vez que há uma grande liberação deste nos tecidos danificados, podendo precipitar hiperpotassemia. Em lactentes, devido às baixas reservas de glicogênio hepático, deve-se associar glicose 5% ao Ringer lactato para prevenção de hipoglicemia, reduzindo deste modo também o aporte de sódio. 43 Monitoriza-se a reanimação fluídica através dos sinais vitais, da pressão venosa central e do débito urinário, além do nível de consciência. O débito urinário é o dado mais sensível e, na ausência de mioglobinúria, 1 mL/kg/h reflete uma perfusão renal adequada. Após 24 horas, uma vez restabelecida a integridade capilar, o cálculo usado passa a ser: 3.750 mL/m² SCQ/24h + 1.500 mL/m² SCT/24 h. 9. ATENDIMENTO INICIAL AO POLITRAUMATIZADO INTRODUÇÃO A morte por trauma apresenta uma distribuição trimodal; aparecem três picos: • Primeiro pico: mortes imediatas (na primeira hora); • Segundo pico: mortes precoces (nas primeiras 4 horas); • Terceiro pico: mortes tardias (dias ou semanas após o trauma). 44 Os principais mecanismos de morte, logo após o trauma são: comprometimento das vias aéreas. Choque hipovolêmico e lesão do sistema nervoso central. A abordagem das vias aéreas é o componente mais crítico da reanimação inicial de uma criança traumatizada. Manobras de ressuscitação adequadas, diagnóstico precoce e tratamento efetivo das lesões com risco de vida melhoram o prognóstico e reduzem de formasignificativa as taxas de mortalidade. CLASSIFICAÇÃO DE GRAVIDADE Determinar a gravidade de um paciente vítima de trauma é fundamental. Crianças com trauma multissistêmico ou com alto risco de mortalidade (Escala de Trauma Pediátrico (ETP) ≤ 8 OU Escala de Traumatismo Revisada (ERT) ≤ 11 devem ser transferidas para centros especializados, como mostram as tabelas 9.1 e 9.2). Tabela 9.1 Escala de Traumatismo Pediátrico (ETP) Características do paciente Pontos + 2 + 1 - 1 Peso (kg) > 20 10 a 20 < 10 Via aérea Normal Permeável Não permeável Pressão Sistólica (mmHg) > 90 50 a 90 < 50 Sistema Nervoso Central Consciente Confusa Coma Ferimento aberto Nenhum Pequeno Grande Traumatismo esquelético Nenhum Fechado Múltiplos, abertos Tabela 9.2 Escala de Trauma Revisada (ERT) Escala de Coma de Glasgow Pressão Sistólica (mmHg) Freqüência Respiratória (respiração/minuto) Pontos 13 a 15 > 89 10 a 29 4 9 a 12 76 a 89 > 29 3 6 a 8 50 a 75 6 a 9 2 4 a 5 1 a 49 1 a 5 1 3 0 0 0 45 FISIOPATOLOGIA E MECANISMOS DE TRAUMA Trauma em criança é predominantemente fechado, e o acontecimento de vários órgãos de forma simultânea é freqüente. A incidência de trauma penetrante aumenta a partir da adolescência. As diferenças anatômicas e fisiológicas da criança em relação ao adulto deve ser conhecidas pelos médicos responsáveis pelo atendimento inicial, para evitar decisões e procedimentos incorretos. • Segmento cefálico • Face • Coluna cervical • Tórax • Abdome • Extremidades • Pelve ATENDIMENTO INICIAL O atendimento inicial da criança politraumatizada obedece à seqüência “ABCDE”, segundo rotina do curso Suporte Avançado de Vida em Pediatria, da American Heart Association: • A = airway = vias aéreas; • B = breathing = respiração; • C = circulation = circulação; • D = disability = avaliação neurológica; • E = exposure and enviromental control = exposição e medidas de prevenção contra frio e hipotermia. VIAS AÉREAS O estabelecimento de via aérea permeável com proteção simultânea da coluna cervical é muito difícil na criança vítima de trauma. As vias aéreas são facilmente obstruídas por corpos estranhos como sangue, muco e fragmentos de dente, e devem ser limpas e aspiradas com cuidado, eventualmente com pinças adequadas. 46 A intubação deve sempre ser precedida por ventilação com bolsa-máscara e oxigenação. A intubação endotraqueal pode ser difícil, porque o pescoço deve permanecer em posição neutra e não pode ser hiperextendido durante o procedimento. Se a criança está consciente, a administração de bloqueador neuromuscular de ação curta com sedação ou anestesia pode ser necessária, para evitar concomitante aumento de pressão intracraniana. As indicações (tabela 9.3): Tabela 9.3 Indicações de Intubação Parada respiratória Falência respiratória (hipoventilação, hipoxemia arterial apesar da suplementação de oxigênio e acidose respiratória) Obstrução de vias aéreas Escala de coma de Glasgow ≤ a 8 Necessidade de suporte ventilatório prolongado (lesões torácicas ou necessidade de exames diagnósticos) RESPIRAÇÃO A criança traumatizada deve receber oxigenação suplementar na maior concentração possível por meio de máscara. Se a respiração não for eficaz, instituir ventilação assistida com bolsa-máscara com reservatório para oferecer oxigênio a 100%. Uma sonda naso ou orogástrica deve ser introduzida tão logo seja controlada a ventilação. CIRCULAÇÃO Sinais de choque podem ser observados imediatamente ou evoluem lentamente. Se a hemorragia aguda exceder 15% do volume sanguíneo, sinais de falência circulatória estarão presentes, como taquicardia, diminuição dos pulsos periféricos, aumento do tempo de enchimento capilar e extremidades frias. 47 Hipotensão não ocorre antes da perda aguda de 25% a 30% do volume sanguíneo. Dois cateteres de grosso calibre devem ser instalados preferencialmente em membros superiores. A via intra-óssea é uma forma de acesso vascular se o acesso venoso não pode rapidamente ser obtido. Em caso de falha de acesso venoso ou intra-ósseo, a passagem percutânea de cateteres (femoral, subclávia ou jugular) ou a dissecção venosa devem ser realizadas de acordo com a experiência da equipe no atendimento. Se a perfusão sistêmica está inadequada, mas a pressão sanguínea está normal (choque compensado), está ocorrendo hipovolemia leve a moderada. A conduta é reposição de volume com bolus de 20 mL/kg de solução cristalóide (soro fisiológico ou Ringer lactato). Repetição de bolus de 20 mL/kg pode ser necessária, se não houver melhora de perfusão. Se sinais de choque persistem após infusão de dois bolus de solução cristalóide, deve-se indicar transfusão de sangue. A presença de hipotensão (choque descompensado) indica a perda de 25 a 30% ou mais de volume, com necessidade de reposição de sangue. Se sinais de choque persistir após infusão de dois bolus de solução cristalóide, deve-se indicar transfusão de sangue. A presença de hipotensão (choque descompensado) indica a perda de 25 a 30% ou mais de volume, com necessidade de reposição de sangue. Transfusão urgente também é necessária se a criança não responde à administração de 50 mL/kg de solução cristalóide isotônica, podendo ser indicada intervenção cirúrgica. Sangue deve ser administrado em bolus de 20 Ml/kg de sangue total, até melhora de perfusão sistêmica. Se o choque persiste, apesar do controle de hemorragias externas e da reposição de volume, é provável que ocorram hemorragias internas. 48 AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA Deve-se fazer um exame sumário das pupilas quanto ao tamanho, á simetria e à resposta à luz. O nível de consciência é avaliado através da correlação com a Escala de Coma de Glasgow. Índices ≤ 8 estão relacionados com mortalidade de 40% e seqüelas neurológicas graves. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA Pode-se empregar como sugestão, a regra AMPLA, dirigindo as informações para • Alergias; • Medicações; • História médica Pregressa; • úLtima refeição; • Atendimento no local do acidente, eventos que levaram à lesão, principal mecanismo da lesão, tratamento até o momento, tempo estimado de chegada. 49 50 10. DISTÚRBIOS DO RITMO CARDÍACO CONCEITO O conceito é amplo e destina-se a definir as condições onde há formação ou condução anormal do estímulo elétrico pelas estruturas do coração. CLASSIFICAÇÃO Síndromes bradicárdicas Considera-se bradicardia quando a freqüência cardíaca está abaixo do mínimo normal para a faixa etária (tabela 10.1): Tabela 10.1 Freqüência cardíaca e idade – limites normais Idade Freqüência cardíaca (bpm) Desperto Durante o sono Recém-Nascido 100 a 180 80s 160 1 semana a 3 meses 100 a 220 80 a 220 3 meses a 2 anos 80 a 170 70 a 120 2 anos a 10 anos 70 a 110 60 a 90 Acima de 10 anos 55 a 90 50 a 90 Bradicardia sinusal Figura 10.1 BLOQUEIOS ATRIOVENTRICULARES (BAV) Ocorre um retardo na condução ou interrupção da transmissão do impulso elétrico de origem atrial para os ventrículos. Podem ser devidos ao aumento do tônus parassimpático, à redução do tônus simpático (ex.: aspiração de vias 51 aéreas superiores, entubação, dor), a alteração eletrolíticas (ex.: hipo e hipercalcemia) e ao efeito de medicações (ex.: betabloqueadores, bloqueadores de canal de cálcio, digoxina, amiodarona). São classificados em BAV de primeiro, segundo e terceiro graus. • BAV de primeiro grau: as manifestações clínicas são efêmeras, quase nunca necessitando de tratamento. Figura 10.2 • BAV de segundo grau: a despolarização atrial é ocasionalmente bloqueada para os ventrículos. Divide-se em: ➢ Mobitz tipo I: aumento progressivo do intervalo PR até o bloqueio completo de um impulso (fenômeno de Wenckebach). Figura 10.3; ➢ Mobitz tipo II: interrupção súbita e isoladada onda P sem alargamento do intervalo PR prévio. (Síndrome de Stokes-Adams). Figura 10.4; ➢ Mobitz tipo III: interrupção da condução sem alargamento prévio de PR, porém de modo repetitivo. • BAV de terceiro grau ou total: ausência da condução dos impulsos atriais para os ventrículos, sendo o ritmo cardíaco determinado por escapes juncionais ou ventriculares. Figura 10.5. Figura 10.3 – Mobitz tipo I. 52 Figura 10.4 – Mobitz tipo II. Figura 10.5 – BAV total. EXTRA-SÍTOLES Podem ser de origem atrial ou ventricular, refletindo distúrbio elétrico isolado ou hiperexcitabilidade miocárdica por estimulação adrenérgica excessiva, distúrbios eletrolíticos, intoxicação medicamentosa, aumento do metabolismo ou expressão de patologia cardíaca propriamente dita. As manifestações clínicas são efêmeras, quase nunca necessitando de tratamento. Figura 10.6 Figura 10.6 – Extra-Sístole ventricular. Figura 10.7 – Extra-Sístole atrial. 53 SÍNDROMES TAQUICÁRDIACAS Taquicardias supraventriculares (TSV) São as arritmias mais freqüentes na faixa etária pediátrica. Em lactentes observam-se irritabilidade, prostração, palidez cutânea e hepatomegalia. Os tipos mais comuns são: • Taquicardia sinusal: ritmo regular, com ondas P positivas nas derivações D1, D2, D3 e a VF, decorrente do aumento da freqüência de disparos do nó sinusal; • Taquicardia atrial: impulso originado no átrio, associado à presença de tecido cicatricial local, hamartroma miocárdico, rabdomioma ou intoxicação digitálica. Figura 10.8. • Taquicardia juncional ectópica: rara, incessante, com QRS estreito, geralmente com freqüência entre 110 e 50, resulta de foco arritmogênico localizado no nó AV ou no feixe de His; • Taquicardia por reentrada nodal: decorre de um extra-sístole atrial cujo estímulo é bloqueado na via rápida, conduzindo o estímulo elétrico. É a taquicardia mais encontrada em crianças maiores de 10 anos. Figura 10.9. Figura 10.8 – Taquicardia Atrial. 54 Figura 10.9 – Taquicardia por reentrada nodal. • Taquicardia por reentrada atrioventricular: é o tipo mais comum das taquicardias supraventriculares do RN e nos primeiros anos de vida (Síndrome da Pré-excitação Ventricular), após as taquicardias sinusais. Os feixes anômalos podem ter capacidade de condução bidirecional entre o átrio e o ventrículo (Síndrome de Wolff-paarkinson-white) ou somente no sentido ventrículo-atrial. Figura 10.10. • Flutter atrial: ritmo com intensa reentrada restrita ao átrio direito com freqüência em torno de 300 bpm. Figura 10.11. Figura 10.10 – Taquicardia por reentrada atrioventricular. 55 Figura 10.11 – Flutter atrial. • Fibrilação atrial: rara em crianças com coração estruturalmente normal resulta de múltiplas áreas de reentrada dentro dos átrios ou de múltiplos focos ectópicos. Taquicardias ventriculares Denomina-se TV uma seqüência de três ou mais batimentos ectópicos de origem ventricular, com freqüência entre 100 e 250 bpm. As TVs são raras na criança. • TVs idiopáticas: ocorrem em coração estruturalmente normal. Classificadas em: ➢ TV idiopática do ventrículo direito. Figura 10.12 Figura 10.12 – TV VD. 56 Figura 10.13 – TV VE. • TV polimórfica: associada ao intervalo QT prolongado: ➢ Síndrome do QT longo congênito: ocorre síncope ou morte súbita, prolongamento do intervalo QT, surdez congênita ou não e transmissão hereditária por gene autossômico recessivo. No ECG, QT maior que 0,44 segundo e ondas T amplas, difásicas ou invertidas. Figura 10.14; ➢ Síndrome do QT longo adquirido: descrito no uso de fenotiazinas, antidepressivos tricíclicos, terfenadina, eritromicina, espiramicina, sulfametoxazol trimetoprim, ampicilina, adenosina, entre outros. Os critérios para o diagnóstico da síndrome do QT longo estão listados na tabela 10.2. Tabela 10.2 Critérios Diagnósticos para Síndrome do QT Longo Critérios maiores Prolongamento de QT (QTc > 450 ms) Síncope induzida por estresse Historia familiar da síndrome Critérios menores Surdez congênita Episódios de alternância da morfologia de onda T Baixa freqüência cardíaca para idade Repolarização ventricular anormal com onda T de morfologia bizarra. 57 Figura 10.14 – SD QT longo. Torsade de Pointes (figura 10.15) Figura 10.15 – Torsade de Pointes. Não associado ao intervalo QT prolongado Foram descritas três síndromes clínicas relacionadas síncope, morte súbita e taquicardia ventricular polimórfica na ausência do intervalo QT longo. • Síndrome da displasia arritmogênica do ventrículo direito. • Taquicardias ventriculares incomuns. • Taquicardia ventricular induzida por esforço. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito através da associação dos achados clínicos com o estudo eletrocardiográfico de 12 derivações. 58 TRATAMENTO Não farmacológico • Manobras vagais • Cardioversão: aplicação de descarga elétrica sincronizada com onda R, de 0,25 a 5 J/kg, através das pás ou eletrodos no tórax. Bloqueia a maioria das arritmias por reentrada. Quando realizada eletivamente, deve-se sedar o paciente. • Estimulação cardíaca transesofágica • Marca passo • Ablação por cateter • Cirurgia Farmacológicos Principais drogas antiarrítmicas Classe I – bloqueadores de canais de sódio • Classe IA: prolongam a repolarização, a duração do potencial de ação e são anticolinérgicos. ➢ Procainamida: administrada via endovenosa, na dose de 10 a 20 mg/kg em 20 minutos. Pode provocar hipotensão arterial. ➢ Disopiramida: na prevenção de recorrência, dose de 2 a 20 mg/kg/dose, de 8/8 horas, via oral. ➢ Quinidina: administrada via oral, na dose de 5 mg/kg/dose a cada 4 horas até a reversão da arritmia ou ocorrência de efeitos colaterais (vômitos, diarréia e TV polimórfica). • Classe IB: cinética rápida. ➢ Lidocaína: administrada na dose de 1 mg/kg em bolus repetida a cada 5 minutos. ➢ Mexiletina: na prevenção de recorrência, dose via oral de 1 a 5 mg/kg/dose, de 8/8 horas. 59 • Classe IC: cinética lenta: ➢ Propafenoma: administrada via endovenosa, na dose de 1 a 2 mg/kg em 5 minutos. Evitar em pacientes com bloqueios bifasciculares. Classe II – betabloqueadores Aumentam o período de refratariedade do nó AV. • Propanolol: administrado por via endovenosa, na dose de 0,1 mg/kg. Conta-indicado em crianças com hipotensão arterial, insuficiência cardíaca e doença pulmonar obstrutiva. Na prevenção de recorrência, dose via oral de 1 a 4 mg/kg/dose, de 12/12 horas. • Sotalol: na prevenção de recorrência, dose de 1,5 a 8 mg/kg/dose, via oral. Classe III – bloqueadores de canais K Prolongam a repolarização; antiadrenérgicos. • Amiodarona: atua no AV, átrio e vias acessórias. Administrada via endovenosa na dose de 5 mg/kg. Nos casos refratários, utilizar doses mais elevadas, de forma contínua: 10 mg/kg/dose com aumento progressivo diário até 40 mg/kg/dose, uma vez ao dia, via oral. Classe IV – bloqueadores de canais de cálcio • Verapamil: aumenta a refratariedade do nó AV, administrado via endovenosa, na dose de 100 a 150 mcg/kg em 5 minutos. Não usar em menores de 1 ano. • Diltiazem: aumenta a refratariedade do nó AV, com menor depressão miocárdica que o verapamil. Administrado na dose de 0,25 mg/kg, via endovenosa, em 2 minutos. 60 Outras • Adenosina: bloqueia temporariamente a condução pelo nó AV. Administrada em bolus, via endovenosa, na dose de 0,05 a 0,2 mg/kg/dose (dose máxima inicial de 6 mg). Efeitos colaterais: hipotensão, bradicardia. • Digoxina: administrada na dose de 20 a 30 mcg/kg nas 24 horas, sendo metade da dose inicialmente e ¼ da dose a cada 6 horas. Na prevenção de recorrência, dose via oral de 10 mcg/kg/d de 12/12 horas. • Atropina: droga parassimpatolítica, estimula os nós sinusal e atrial. Administrada
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