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AULA 2 GESTÃO E LIDERANÇA EM AMBIENTES COMPETITIVOS Prof. Ademir Bueno 2 CONVERSA INICIAL A presente Rota de Aprendizagem tratará das teorias sobre liderança. Elas são várias, pois a liderança tem sido estudada por mais de um século. A maior parte das teorias que eram muito inflexíveis e fechadas em si mesmas não deram conta de explicar como se dá na prática a questão da liderança. Algumas dessas teorias não sobreviveram a alguns questionamentos científicos e caíram por terra. Mas sempre são feitas novas pesquisas e novas teorias são formuladas. Iniciaremos tratando da teoria dos traços, a qual diz que, para que alguém seja classificado como líder, é primeiramente necessário identificar os traços que são comuns à liderança. Após isso, estudaremos a teoria comportamental dos líderes, que defende que não existem traços de personalidade característicos à liderança; no entanto, quem quiser identificar um líder terá que observar seus comportamentos, afinal é por meio deles que a liderança se manifestará. Depois discutiremos a teoria contingencial, para a qual cada situação, ambiente, nível de comprometimento, conhecimento de tarefa e motivação requisitará um estilo, uma forma de agir por parte do líder. Depois, veremos os estilos de liderança e a autoliderança, ou seja, os caminhos para o seu desenvolvimento em termos pessoais. Cabe ao gestor da atualidade conhecer essas teorias e decidir com qual tem maior proximidade, para com isso colocá-la em prática com vistas a alcançar os melhores resultados de sua equipe. CONTEXTUALIZANDO Com a abertura da economia brasileira no início dos anos de 1990, a competitividade entre as empresas só aumentou. O mercado passou a exigir dos fornecedores maior qualidade e menores preços, os clientes se tornaram mais exigentes, as relações no interior de uma empresa se tornaram mais complexas e as pessoas foram estimuladas a trabalharem em equipe. Tudo isso obrigou as empresas a se preocuparem com seus gestores, especialmente com seus líderes, pois coube e cabe a eles fazerem a empresa chegar onde planeja, superando as dificuldades apresentadas pelo mercado e pelas próprias condições internas da própria. Conhecer as teorias de liderança é importante para que os gestores entendam qual mais se aproxima de sua forma de atuação. Com isso, é possível considerar as melhorias em aspectos ainda deficitários, além de investir naqueles que já trazem resultados positivos à empresa. 3 TEMA 1 – TEORIA DOS TRAÇOS As empresas são constituídas essencialmente de pessoas. Afinal, não há máquina, equipamentos ou utensílios de produção totalmente independentes do trabalho humano; ainda que haja produção automática, isso dependerá da mão de obra humana, nas atividades de programação, acompanhamento, conserto etc. As pessoas precisam de direção: precisam de um caminho para seguir, precisam ser continuamente reconduzidas para o sentido que foi traçada pela empresa. Para isso, se faz necessário a liderança; pessoas que tem por missão ser o ponto de referência para as demais. Por essa importância dentro das organizações é que já foram feitos vários estudos sobre tal tema. Ainda hoje, há estudos nesse sentido, na busca por entender qual é a essência da liderança, como se formam os líderes, o que é necessário para identificá-los e formá-los. Neste sentido, essa Rota discutirá as principais teorias a respeito do tema liderança. Nosso trabalho consiste em descrever essas teorias e seus principais argumentos. Não faremos, em nenhum momento, um julgamento sobre qual é melhor ou pior, qual está mais fundamentada ou não. O propósito é levar o leitor a conhecer as várias vertentes e internalizar e defender o ponto de vista que achar mais coerente. Comecemos pela Teoria dos Traços de Personalidade. Ela defende que os líderes apresentam características de personalidade muito semelhantes. Para essa teoria, o líder já nasce pronto. Essas características podem ser pessoais, intelectuais, emocionais e físicas. Chiavenato (2014, p. 4437) destaca as seguintes: 1. Habilidade de interpretar objetivos e missões 2. Habilidade de estabelecer prioridades 3. Habilidade de planejar e programar atividades de equipe 4. Facilidade em solucionar problemas e conflitos 5. Facilidade em supervisionar pessoas e equipes 6. Habilidade de delegar responsabilidades aos outros Desde a década de 1930, estudiosos vem se debruçando sobre os traços que podem ser identificados em indivíduos que exercem a liderança. Mas, quando outros estudos tentaram comprovar alguns resultados de pesquisa nesse campo, não houve sucesso. Assim, algumas pesquisas conseguiram identificar traços que fazem parte da atuação do líder; no entanto, ao se realizar novos estudos para 4 comprovar esses achados, não se obteve a devida comprovação esperada. Fato é que muitos estudos foram feitos para comprovar traços comuns da personalidade de líderes. Porém, a maioria não chegou a nenhuma visão conclusiva e segura. Segundo Robbins (2005), um estudo da década de 1990 descobriu-se sete traços que poderiam diferenciar os líderes de não-líderes, são eles: 1. Ambição e energia 2. Desejo de liderar 3. Honestidade e integridade 4. Autoconfiança 5. Inteligência 6. Elevado automonitoramento 7. Conhecimentos elevados para o trabalho A partir da década de 1990, surgiu uma novidade: os pesquisadores começaram a organizar esses traços com Base no Modelo Big Five, descrito abaixo. A conclusão foi que a maior parte dos traços identificados nos estudos sobre liderança podiam ser encaixados dentro das quatro dimensões do Big Five. Esse modelo, em contrapartida, também dava apoio consistente a certos traços como previsores de liderança (Robbins, 2005). O Indicador de Tipos Myers-Briggs, conhecido no mercado como Big Five, aponta cinco fatores ou dimensões básicas que servem de referência para a caracterização da personalidade humana. O Big Five é identificado especialmente na área de Gestão de Pessoas, como MBTI, as iniciais do instrumento de avaliação comportamental, o qual é composto de 100 situações. O respondente deve assinalar como se sente e age em cada situação. Ao concluir as respostas, o sistema de avaliação emitirá um relatório. Se perguntarmos para quem respondeu, o sujeito dirá que o mesmo deve ter equivalência de no mínimo 80%. Esse é um dos sistemas de avaliação presentes hoje no mercado de Gestão de Pessoas. Ele pode inclusive ser acessado/comprado por pessoa física que queira se conhecer um pouco mais, para a partir disso definir um plano de aperfeiçoamento e desenvolvimento pessoal. Os cincos fatores, segundo Robbins (2005, p. 91), são: 5 1. Extroversão. Pessoas extrovertidas são expansivas, sociáveis e assertivas. Por outro lado, temos as introvertidas, que são quietas e tímidas. 2. Amabilidade. Refere-se à propensão de o indivíduo acatar ideias dos demais. Essas pessoas são cooperativas, receptivas e confiantes. O oposto são as pessoas frias, desagradáveis e confrontadoras. 3. Consciência. Essa dimensão é uma medida de confiabilidade. Tem como características: responsabilidade, organização, confiabilidade e persistência. Pessoas que obtêm baixa pontuação neste item distraem-se facilmente, são desorganizadas e pouco confiáveis. 4. Estabilidade emocional. Pessoas com capacidade de enfrentar estresse. Pessoas com estabilidade emocional positiva tendem a ser calmas, autoconfiantes e seguras. Aqueles com pontuação negativa tendem a ser nervosos, ansiosos, deprimidos e inseguros. 5. Abertura para experiências. Refere-se ao interesse da pessoapelo que é novo. Pessoas extremamente abertas são criativas, curiosas e sensíveis artisticamente. Na outra ponta, as pessoas tendem a ser convencionais e se sentem melhor com coisas já familiares. A extroversão é o traço mais relevante de um líder que produz resultados positivos. Mas os estudos chegaram à seguinte conclusão: esse traço é importante para a manifestação da liderança, mas não está diretamente ligado à eficácia. A extroversão está vinculada à liderança porque pessoas mais sociáveis e dominantes têm por hábito se imporem em situação de grupo. Outros dois traços que se mostraram importantes na liderança foram consciência e abertura, mas não tanto quanto a extroversão. Já os traços de amabilidade e estabilidade emocional não se mostraram tão presentes e importantes para indicar liderança. Depois de vários estudos realizados com o intuito de verificar se os indivíduos que lideravam equipes tinham entre si traços de personalidade em comum, chegou-se a duas conclusões. Primeiramente: os traços podem identificar líderes se forem adequadamente classificados e organizados. Segundo, podem haver traços de personalidade que viabilizam o surgimento de líderes; porém, essas mesmas características não são garantia de que ele será um líder eficaz ou ineficaz em seu desempenho. 6 TEMA 2 – TEORIAS COMPORTAMENTAIS Como a teoria dos traços não conseguiu dar respostas a todas as questões relacionadas ao tema liderança, entre as décadas de 1940 a 1960 os cientistas se dirigiram para outro ponto: passaram a olhar e analisar os comportamentos manifestos, para entender se por meio deles era possível identificar a essência da liderança. Esse movimento ganhou o nome de Teorias Comportamentais. Para Robbins (2005), se a teoria dos traços estivesse totalmente correta, para se identificar líderes era necessário entender se os postulantes ao cargo tinham ou não traços de personalidade importantes para o sucesso da liderança. Eles já estariam prontos, só seriam contratados ou promovidos, e assim os traços se manifestariam e levariam o profissional e a empresa ao sucesso. De outro lado, se as teorias comportamentais fossem as melhores para explicar o fenômeno liderança, toda e qualquer pessoa poderia ser líder, bastava que para isso ela fosse treinada e capacitada para adequar o seu comportamento ao desenvolvimento do papel de líder. Pois, para a primeira teoria – a dos traços –, os indivíduos nascem com características de liderança, não sendo necessário treiná-los. Por outro lado, se há comportamentos específicos que caracterizam os líderes, a liderança poderia ser treinada. A vantagem da segunda abordagem é que sempre teríamos líderes prontos para assumir novos desafios, bastando para tanto treiná-los constantemente. Um estudo da Universidade Estadual de Ohio, no final dos anos de 1940, serviu de base para inúmeros outros estudos sobre as teorias comportamentais. Partindo de mais de 100 dimensões, os pesquisadores chegaram a duas categorias que são a base dos comportamentos de liderança descritos pelos colaboradores. Essas dimensões receberam os seguintes nomes: estrutura de iniciação e consideração: A estrutura de iniciação se refere à extensão em que um líder é capaz de definir e estruturar o próprio papel e dos funcionários na busca do alcance dos objetivos. A consideração é descrita como a extensão em que uma pessoa é capaz de manter relacionamentos de trabalho caracterizados por confiança mútua, respeito às ideias dos funcionários e cuidado com os sentimentos deles. (Robbins, 2005, p. 261) Ainda segundo Robbins (2005), trabalho, relações de trabalho e metas são os pontos principais vinculados à estrutura de iniciação. O líder com essa característica em alto grau define metas, delega atividades e espera que os desempenhos acordados sejam entregues na forma de resultados e cumpram os 7 prazos acordados. Se o líder também tiver alto grau de consideração, apoiará os seus colaboradores e a equipe para que possam dar o retorno esperado do seu potencial, em termos de conhecimentos, competências e habilidades. O líder que apresenta esses dois aspectos desenvolvidos tende a ter colaboradores mais satisfeitos e motivados. Na contramão, outros estudos foram realizados; chegou- se à conclusão de que somente esses dois fatores não dão conta de tudo, pois há fatores situacionais que devem ser levados em conta. Há um outro estudo, também citado por Robbins (2005), que se debruça sobre o mesmo objetivo da experiência discutida anteriormente. Ele foi feito na Survey Research Center da Universidade de Michigan, e buscou identificar as características comportamentais dos líderes que pudessem estar vinculadas com desempenhos superiores. Esse estudo chegou também a duas dimensões: orientação para o funcionário e orientação para a produção. Aqueles que possuíam orientação para o funcionário como ponto forte, de destaque, valorizavam e importavam-se com as relações interpessoais, ou seja, identificar e procurar atender às necessidades dos colaboradores e aceitar as diferenças entre os membros de um grupo. Por outro lado, aqueles que foram identificados como orientados à produção eram profissionais que se importavam mais com a parte técnica do trabalho do que com o lado humano. As pessoas eram vistas como um meio para se alcançar um fim – a produção. Nessa linha, Black e Mouton, segundo Robbins (2005) desenvolveram a representação gráfica de uma visão bidimensional dos estilos de liderança, propondo um Grid Gerencial ou Grid de Liderança, no mesmo estilo de “voltado à pessoa” e “voltado à produção”. Esse grid é uma forma gráfica de representar as pesquisas e os achados descritos anteriormente. A partir do grid, é possível montar e visualizar várias combinações/posições diferentes, que representariam estilos de liderança. Cada estilo, por sua vez, teria como resultado a forma de o líder pensar e agir em busca por resultados. O grid apresenta possibilidades de estilo, mas não acrescenta nada teoricamente sobre a essência/origem ou a base da liderança. Para finalizar, ainda se tratando de teorias comportamentais sobre liderança, destacamos o trabalho de pesquisadores da Finlândia e Suécia, que encontraram fatores pertinentes no comportamento de líderes orientados ao desenvolvimento. Essa característica está presente em líderes que valorizam a experimentação, buscam novas ideias, geram e implementam mudanças. Esse perfil está bem mais adequado aos dias atuais, tendo em vista concorrência, 8 novos mercados a serem explorados e novo grau de exigência dos consumidores. Tudo isso traz a necessidade de gestores não apenas focados nos colaboradores ou tarefas, mas também em processos, inovação, criatividade e mudança. Comportamento de liderança e desempenho de grupo foram dois aspectos que as teorias comportamentais conseguiram identificar, ainda que não tenham considerado as questões situacionais, as quais têm efeito sobre a atuação do líder e sobre os resultados alcançados por eles. É desse tema que trataremos na sequência. TEMA 3 – TEORIA CONTINGENCIAL-SITUACIONAL O tempo é o senhor de muita coisa. Em virtude dele as coisas se alteram, se reestruturam, se modificam, se transformam. Com as empresas, as coisas não são diferentes. Elas passam por diversas mudanças no decorrer do tempo; fatores econômicos, políticos e sociais acabam interferindo na forma de gestão, nos produtos, serviços, na abrangência de atuação e especialmente na forma de gestão. E o fator tempo talvez tenha influência ainda maior nas pessoas, pois elas vêm alteradas alteram sua visão de mundo, sua formade pensar e agir, à medida que mudam e se adaptam a novas realidades. Se tudo está em transformação, se tudo muda, não podemos esperar que a liderança continue a ser o que sempre foi, que se baseie nos mesmos comportamentos de tempos atrás, que se relacione da mesma maneira com o mundo. Assim, a liderança deve ser estudada de acordo com a realidade enfrentada, com as condições externas e com as mudanças ocorridas ao longo do tempo; para adaptar-se à realidade, é preciso agir ativamente, em prol do melhor resultado de sua equipe. O estilo de liderança e eficácia pode ser influenciado pela situação. Assim, o que pode funcionar muito bem na situação a, pode não ser adequado na situação b, e algo que deu errado na situação x pode dar excelentes resultados na situação y. Então, o cerne da questão aqui é entender em quais situações tal estilo funciona melhor que outro, em quais condições um determinado comportamento de líder e uma certa forma de atuação podem fazer a diferença no resultado final. Segundo Robbins (2005), Fiedler foi quem estruturou o primeiro modelo contingencial amplo sobre liderança situacional. Segundo esse modelo, o sucesso da atuação de um líder depende de dois fatores: estilo de liderança e grau de 9 controle da situação. Ele definiu um instrumento de avaliação para conhecer o estilo individual de liderança, se o líder estava mais voltado aos relacionamentos ou às tarefas. Para Fiedler, o estilo de liderança da pessoa é fixo; assim, se uma situação pede um líder mais voltado a tarefas, mas o ocupante do cargo tem um estilo mais centrado em relacionamentos, é preciso mudar a situação ou quem irá conduzi-la, sempre pensando na obtenção de melhores resultados. Para esse teórico, há três dimensões contingenciais que definem os fatores situacionais, e que resultam na eficácia ou não da liderança. São eles (Robbins, 2005, p. 264): 1. Relação entre líder e liderados. Grau de confiança, credibilidade e respeito dos membros do grupo para com seu líder. 2. Estrutura da tarefa. Grau de procedimentos estabelecidos no trabalho (ou seja, se as tarefas são estruturadas ou não). 3. Poder da posição. Grau de influência que um líder tem sobre as variáveis de poder, como por exemplo os poderes de contratar, demitir, tomar ações disciplinares e conceder aumentos salariais. Vamos lá: descoberta a tendência do líder, que pode ser mais voltada às tarefas ou aos relacionamentos, e verificadas essas três dimensões, o passo seguinte é fazer uma adequação entre eles em busca de um nível maior de eficácia na liderança. Mas essa visão tem uma limitação: primeiro, para Fiedler, o estilo de liderança é fixo, ele não muda ao sabor da situação; segundo, não é simples mudar a posição de pessoas/líderes conforme as características da situação. Outra possibilidade é mudar a situação para encaixar o estilo da liderança naquela realidade. Ambas as possibilidades acabam trazendo limitações à aplicação desta visão. Segundo Robbins (2005), Fiedler e outro cientista, Joe Garcia, reconceitualizaram a teoria original. Nesse novo momento, se detiveram sobre o papel do estresse como forma de desvantagem situacional e sobre o modo como a experiência e a inteligência influenciam a reação ao estresse. A esse modelo deram o nome de Teoria do Recurso Cognitivo. Nela, o estresse se contrapõe à racionalidade. Essa teoria também destaca que a experiência e a inteligência do líder podem diferir em situações de baixa ou alta pressão no ambiente. Assim, “em situações de alta tensão indivíduos brilhantes tem um desempenho de liderança pior do que aqueles menos inteligentes. Quando a tensão é baixa, os indivíduos mais experientes tem desempenho pior do que aqueles menos experientes.” (Robbins, 2005, p. 266). 10 Vejamos agora outra teoria situacional, uma das mais utilizadas para treinamento de líderes nos EUA, que foi desenvolvida por Hersey e Ken Blanchard. Essa teoria foca no liderado. A liderança bem-sucedida seria resultado da escolha de um estilo adequado; essa escolha, por sua vez, depende do nível de prontidão do liderado. A prontidão, aqui, refere-se à habilidade e disposição do liderado em executar determinada tarefa. Para essa visão/teoria, a forma como o líder trata seu liderado depende de seus níveis de maturidade e motivação. Quanto mais imaturo ou desmotivado estiver o liderado, mais incisivo, mais detalhista e claro deve ser o líder. Ao contrário, quanto mais maduro e motivado o liderado, menos necessidade terá o líder de permanecer ao lado do indivíduo e de ser direto ou incisivo em suas ordens e instruções. Essa teoria tem grande apelo popular, mas não devemos ir com tanta sede ao pote; segundo Robbins (2005), nem tudo que ela apregoa foi verificado em novas pesquisas. Ainda assim, trata-se de um dos melhores caminhos para entender e explicar a questão da liderança, pois considera a possibilidade de escolha de um estilo, levando em consideração o grau de maturidade e o nível de habilidade do liderado. Nesse sentido, Chiavenato (2014, p. 436) arremata: “Os elementos que caracterizam a liderança são, portanto, quatro: a influência, a situação, comunicação e os objetivos. Ou seja, a influência, em determinada situação, exercida por meio da comunicação, visa os objetivos a serem alcançados.” TEMA 4 – ESTILOS DE LIDERANÇA Os estudiosos White e Lippitt, citados por Chiavenato (2014), desenvolveram um estudo para compreender os efeitos dos estilos de liderança sobre os resultados e comportamentos dos trabalhadores. Os estilos estudados foram: autocrático, democrático e liberal (laissez-faire). A liderança autocrática refere-se ao líder centralizador, que toma decisões de forma unilateral, sem se preocupar com o impacto que terão em seu setor ou sobre as pessoas que trabalham com ele. Ele é dominador, manda ao invés de pedir, é explosivo, não se preocupa com quem está ao seu lado, não é motivador, pouco se interessa por seus funcionários como pessoas, acha que todos são substituíveis e não hesita em demitir ou dar feedback em público. Não é uma pessoa bem quista; alguns de seus superiores o apoiam 11 incondicionalmente, por isso, ele sente-se à vontade para ter esses comportamentos. Ele se sente e se comporta como o centro de todo o processo. Não é flexível. Não está aberto ao novo ou a novas ideias. Os colaboradores deste tipo de liderança tendem a pensar: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Os resultados desse tipo de liderança são: “Os grupos submetidos à liderança autocrática apresentaram maior volume de trabalho, com evidentes sinais de tensão, frustração e agressividade. (Chiavenato, 2014, p. 440) A liderança democrática acontece quando o líder é aberto à participação de seus colaboradores. Ele os valoriza, os ouve, lhes dá feedback no momento certo e de forma adequada, se preocupa com eles enquanto pessoas, se dedica para proporcionar condições ambientais, tecnológicas e materiais para que sua equipe se motive a oferecer o melhor de si, comemora as vitórias, traz reflexões nas derrotas, antes de realizar uma demissão dá feedback e acompanha para ver se há melhoria, recompensa aqueles que se destacam positivamente, corrige pessoas e redefine rumos. Ele defende sua equipe em relação a outras equipes e gestores. Sabe dosar energia e afabilidade. Tem excelente comunicação. Assim, “Os grupos submetidos à liderança democrática apresentaram boa quantidade de trabalho, qualidade surpreendentemente melhor, acompanhada de um clima de satisfação, de integração grupal, de responsabilidade e de comprometimento das pessoas.” (Chiavenato, 2014, p.441). Na liderança liberal, a equipe fica muito à vontade, e o líder não acompanha as tarefas, as dificuldades, os processos, os problemas e as soluções implementadas . Ele literalmente deixa fazer, não diz sim, nem não, só observa de longe. Não tem pulso firme, só comparece se é convocado pela equipe. Faz de conta que algumas coisas não são de sua responsabilidade. Não é um defensor voraz da equipe. Não se faz presente nos momentos de dificuldade. Não comemora as vitórias junto com a equipe. É visto como alguém sem pulso ou firmeza. Em relação aos resultados: “Os grupos submetidos à liderança liberal não se saíram bem quanto à quantidade e quantidade de trabalho, com fortes sinais de individualismo, desagregação do grupo, insatisfação, agressividade e pouco respeito ao líder.” (Chiavenato, 2014, p. 440). O Quadro 1 apresenta as principais características dos três tipos de liderança, com relação a tomada de decisão, programação de trabalhos, divisão do trabalho e comportamento do líder. 12 Quadro 1 – Características dos líderes Fonte: Elaborado com base em Paula, 2016. A Figura 1 revela onde está a ênfase, conforme o estilo de liderança. Com base nela, fica a questão: qual destes três estilos é o melhor, qual produz melhores resultados, qual fará as pessoas se sentirem mais motivadas? A resposta começa assim: todos os estilos podem dar resultados excelentes, isso irá depender de vários fatores, da empresa, de sua cultura, do grau de maturidade e de motivação dos colaboradores, do grau de conhecimento das pessoas sobre as tarefas, do tempo para alcançar as metas, entre outros fatores. Ou seja, esses estilos aliados à liderança situacional formam um par quase perfeito. 13 Figura 1 – Estilos de liderança Fonte: Cristo, 2017. TEMA 5 – AUTOLIDERANÇA O quanto você se conhece? O quanto sabe de si? O quanto domina seus sentimentos positivos e negativos? Como lida com as frustrações do seu dia a dia? Quais comportamentos apresenta que poderiam ser adequados para o exercício da liderança? Como as pessoas te vêm como gestor e líder de equipe? As respostas a essas questões estão ligadas ao autoconhecimento, ao entender- se melhor, a compreender quem você é, de onde vem, quais são seus pontos fortes e quais pontos devem ser desenvolvidos. Conhecer o que te faz feliz e infeliz, conhecer o que te motiva e desmotiva, o que te coloca para cima ou para baixo. Saber do seu potencial e de sua capacidade de realização. Ao investir em seu autodesenvolvimento, estará desenvolvendo características e um perfil de liderança, pois se tornará mais maduro e ciente de si e de sua atuação. Afinal, “a percepção de si mesmo é fundamental para guiar nossas decisões, planejar, organizar e realizar nossos objetivos, metas e sonhos, desenvolver nossas competências e habilidades e administrar nossas ações assertivamente.” (Marques, 2016). O que te faz feliz? Esse é um bom começo: iniciar sua jornada em busca de conhecer-se melhor respondendo a isso no seu dia a dia, seja na vida profissional, familiar ou social. O que te dá alegria, satisfação, realização? E não 14 pense em grandes coisas ou feitos que te fazem bem, pense em coisas pequenas, pois são elas que, somadas e agregadas, nos fazem mais alegres e felizes. A autorrealização é talvez um dos degraus mais altos a se alcançar como pessoa e profissional. Trata-se da capacidade de indivíduo realizar o que deseja sozinho, sem depender de instâncias exteriores; é a condição que a pessoa desenvolve de ter satisfação e de sentir-se plena, mesmo que as coisas à sua volta não estejam completamente perfeitas. Autorrealizar-se diz respeito à sensação de alcançar o que se busca, sem depender de outros. É uma independência na busca de sentir-se bem. Segundo a Pirâmide de Maslow (citada por Knapik, 2012), existem vários níveis de necessidades que nós, humanos, precisamos satisfazer. Iniciamos pelas fisiológicas, ligadas a alimentação, água, sexo, sono, entre outras. Depois que parte delas estiverem atendidas, passamos para o próximo nível, que é o de segurança, do corpo, do emprego, de recursos e outros. Na sequência, vem o nível de amor/relacionamento, vinculado às necessidades de amizade, família e intimidade sexual. Depois vem à estima, relacionada a autoestima e respeito dos e pelos outros. A seguir, vem o nível mais elevado, o de realização pessoal, que está ligado a moralidade, criatividade, espontaneidade, solução de problemas, ausência de preconceitos e aceitação dos fatos. É dentro desse nível que está a questão do pleno autoconhecimento: só se conhece bem quem atende às necessidades primárias e intermediárias, podendo dessa forma alcançar o topo da pirâmide. As nossas potencialidades corporais ou mentais devem ser exploradas constantemente, pois só sabendo até onde podemos chegar é que alcançaremos nosso máximo potencial. E sempre é possível dar um passo além, suportar mais uma dor, aguentar mais uma série de exercícios, aguentar aquele cliente, chefe ou colega de trabalho insuportável por mais uns minutos. Conhecer até onde conseguiremos chegar, onde está nosso limite, nos faz mais fortes e capazes de enfrentar novos desafios e dificuldades. Nossas limitações na verdade são pontos e aspectos com potencial de desenvolvimento: lembre-se, você aprendeu a andar de bicicleta na primeira vez que subiu em uma? Superou um limite na primeira vez que tentou? Transpôs um obstáculo maior do que estava acostumado antes de ter tentado várias vezes? Então, compreenda que nossas limitações são na verdade pontos com potencial de desenvolvimento, melhoria, aperfeiçoamento. Isso só será possível se você não esmorecer na primeira vez que tentar. E, uma vez que superar uma grande 15 dificuldade ou desafio, você se fortalecerá para enfrentar situações ou acontecimentos semelhantes. Nossos limites não estão no nosso corpo apenas, mas especialmente em nossa mente, pois é ela quem guia a nossa estrutura física e fisiológica. Assim, para superar um obstáculo, é preciso que sua mente esteja disposta a tal desafio, disposta a encontrar forças e energias que nem você sabia que tinha. E não estamos tratando de nada sobrenatural, mas sim falando da sua resiliência, que é a capacidade de se adaptar e ter resistência frente a dificuldades e obstáculos. Vejamos alguns caminhos que podem conduzir o indivíduo ao autoconhecimento: Sozinho. É o método mais barato e o mais difícil, pois não há custo para analisar-se e tentar se compreender melhor. Porém, é o mais limitado em termos de resultados, tendo em vista que provavelmente não possuímos todas as ferramentas e instrumentos para avançar nesta busca. Claro que as experiências boas e ruins, os sucessos e fracassos acumulados, os relacionamentos que vivemos contribuem para isso. Mas há de se ter em mente que é uma opção não muito efetiva para autoconhecer-se de forma profunda e consistente. Os livros de autoajuda, tão vendidos no Brasil, são uma iniciativa louvável, desde que o trabalho de autoconhecimento não se limite a isso; ainda assim, é um bom começo. É importante reconhecer que não há receitas prontas e totalmente eficazes que levem ao autoconhecimento. A cada técnica é possível aliar outras possibilidades, as quais discutiremos a seguir. Cursos. Aqui começam os investimentos necessários para dar passos mais largos em busca do autoconhecimento. Antes de iniciar um desses cursos disponíveis no mercado, reflita sobre conteúdo programático, carga horária, profundidade com a qual cada tema será tratado e especialmente reflita sobre o instrutor – vejaqual sua linha de pensamento filosófico, sua experiência, avaliação que obteve em outros cursos, quem o recomenda, quem o critica. Só avaliando adequadamente é que você fará uma escolha capaz de resultar em resultados positivos. Não precisa ser um curso com autoconhecimento no título; outros cursos ou treinamentos podem contribuir para que você se seja capaz de refletir sobre si; como exemplo, temos cursos de relacionamento interpessoal, feedback, liderança, comunicação, oratória, administração do tempo, administração de conflitos, entre outros que podem lhe ajudar a avançar e conhecer-se mais. 16 Exercícios/testes. Hoje em dia há vários exercícios/testes disponíveis na internet para quem deseja conhecer-se melhor. Em sua maioria, são simples e fáceis de realizar; porém, os resultados serão limitados se não forem feitos adequadamente e com certo nível de profundidade. Eles são um bom começo, mas não são suficientes. Há, por exemplo, instrumentos de Análise Comportamental baseados no DISC, sendo D=Dominância, I=Influência, S=Estabilidade, C=Conformidade1. Amigos. Essa talvez seja a técnica mais antiga e fácil que existe. Porém, seus resultados por vezes são superficiais, pois nossos amigos estão envolvidos emocionalmente conosco, não usam técnicas cientificas para nos ajudar, são sempre parciais e não conseguem ser totalmente francos. Assim, recomenda-se utilizar sua rede de amigos para conhecer-se mais, mas vá com cuidado e com baixa expectativa. Outra coisa importante, esteja preparado para receber feedback, pois você pode ter que escutar coisas amargas e difíceis de aceitar e entender inicialmente. Colegas de trabalho. São os que estão ao nosso lado no dia a dia. Nos conhecem melhor que ninguém, mas não estão preparados para oferecer feedback de forma adequada. É válido buscar ouvir suas opiniões, mas não deve-se achar que desta fonte haverá informações preciosas para melhorar a sua forma de ser e de agir. Equipe. Uma forma de melhorar o desempenho da liderança é estar atento aos feedbacks que a equipe da qual façamos parte nos dá, direta e indiretamente. Se observar com atenção, você irá perceber como as pessoas agem e reagem à sua presença, seus comportamentos, suas visões de mundo, seu desempenho. Com isso, terá a oportunidade de alterar aquilo que pode melhorar sua performance pessoal e técnica. Psicoterapia. Esse é o meio mais indicado para quem quer se conhecer melhor. No entanto, as pessoas, de forma geral, acham que fazer psicoterapia é coisa de louco, pura ignorância; se todas as pessoas fizessem terapia ao longo de suas vidas, o mundo seria melhor. Mas há grande resistência por parte das pessoas em procurar um profissional para pedir ajuda. Não precisa ser em momentos de extrema dificuldade, pode ser agora que está bem, equilibrado. Pois, quando enfrentar dificuldades 1 Para conhecer um pouco mais do DISC leia o seguinte artigo. MARQUES, J. R. O que é e como funciona o teste DISC. 2017. Disponível em: <https://goo.gl/Ha7q8i>. Acesso em: 14 fev. 2018. 17 já, estará pronto para suportá-las, vivenciá-las e superá-las. A psicoterapia pode ser conduzida por psicólogos ou psiquiatras, com formação em Psicologia e em Medicina (com residência em Psiquiatria), respectivamente. Eles dominam técnicas que facilitam a exposição de conteúdos inconscientes. Uma vez que tais conteúdos se tornam conscientes, desde que tragam consigo a carga emocional a qual estão vinculados, a pessoa é levada a trabalhar de forma mais tranquila com aquele aspecto. O fator mais relevante para o sucesso da psicoterapia é a isenção emocional do profissional, diferente do que acontece com nossos amigos, que, embora tenham boa vontade, estão envolvidos emocionalmente conosco. O tempo de duração do tratamento é livre e variável, cabe à pessoa e ao profissional discutirem qual seria o prazo mínimo necessário para trabalhar as queixas. A cobrança é feita por sessão e o valor tem por base a formação e a experiência do profissional. Coach. É o profissional qualificado que domina técnicas que ajudam o indivíduo a conhecer-se melhor como pessoa. Ainda que voltado ao seu desenvolvimento profissional, ele não é necessariamente um Psicólogo, pois pode ter formação em qualquer área do conhecimento. Basta que faça um curso para atuar, disponibilizando serviços a quem pretende aumentar seus conhecimentos sobre si, suas qualidades e potencialidades. O papel do coach não é o mesmo do psicoterapeuta: seu foco é o lado profissional da pessoa. Ele atua para que o indivíduo possa aperfeiçoar suas habilidades e competências profissionais. Com isso, poderá tornar-se uma pessoa melhor e um profissional de maior sucesso. Geralmente o trabalho dura 12 sessões. O custo varia de acordo com a formação, a experiência e com o quanto o profissional é conhecido no mercado. Buscar o autoconhecimento é dever de todos que pretendem avançar e crescer. Para se tornar um bom líder no mercado de trabalho, eis algumas competências gerais: 18 1. Conheça seu pessoal e sua empresa 2. Insista no realismo 3. Estabeleça metas e prioridades claras 4. Conclua o que foi planejado 5. Recompense quem faz 6. Amplie as habilidades das pessoas 7. Conheça a si próprio FINALIZANDO Nesta aula, tratamos inicialmente da teoria dos traços, que diz que o líder, independentemente de qualquer fator, pode ser classificado como tal a partir da identificação de traços que são comuns a todas as lideranças. Depois, estudamos a teoria comportamental, que afirma que não há traços de personalidade. Assim, quem quiser identificar um líder terá que observar os seus comportamentos, pois é por meio deles que a liderança se manifestará. Depois, discutimos a teoria contingencial, para a qual cada situação, ambiente, nível de comprometimento, conhecimento da tarefa e motivação terá um estilo, uma forma de agir própria do líder. Depois, estudamos os estilos de liderança e de autoliderança, ou seja, os caminhos para o desenvolvimento de um líder. O profissional que tiver uma compreensão ampla das teorias de liderança e suas tipologias poderá agregar à sua maneira de ser aquilo que achar mais adequado, e com isso poderá exercer a liderança de forma mais efetiva e produtiva. 19 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I, Administração nos novos tempos: os novos horizontes em administração. 3. ed. Barueri, SP: Manole, 2014. __________. Carreira você é aquilo que faz: como planejar e conduzir seu futuro profissional. São Paulo: Saraiva, 2006. __________. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2014. CRISTO, A. Liderança, poder e política. 2017. Disponível em: <https://goo.gl/gfgiFZ>. Acesso em: 26 fev. 2018. GARBELINI, V; M; P. Negociação e Conflitos. Curitiba: Intersaberes, 2016. KNAPIK, J, Gestão de Pessoas e Talentos. Curitiba: Intersaberes, 2012. MARQUES, J. R. O processo do autoconhecimento. 2016. Disponível em: <https://goo.gl/TQ4vbd>. Acesso em: 26 fev. 2018. PAULA, R. de. Quem são os líderes e o que fazem? 2016. Disponível em: <https://goo.gl/FZfrzQ>. Acesso em: 26 fev. 2018. ROBBINS, S. Comportamento Organizacional. 11 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.