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As crianças e os adolescentes no Brasil e as Políticas Públicas é este a ser entregue 16 02 2019

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As crianças e os adolescentes no Brasil e as Políticas Públicas – Uma análise sobre a discussão da redução da maioridade penal e do processo de implementação de um novo modelo 
 
 
 SILVIO CESAR MANFRIM CESAR AUGUSTO BANA 
 
 
RESUMO 
 
A redução da maioridade penal tornou-se uma discussão urgente na sociedade principalmente quando pesquisas de opinião pública apontam que há um clamor social pelo rebaixamento da maioridade penal, o que não é diferente no Senado onde tramitam diversas Propostas de Emenda à Constituição (PEC‟S) sugerindo a adoção desta medida como solução para a criminalidade e violência. Com base na emergência desta temática, pretende-se contextualizar as primeiras políticas públicas para os adolescentes, bem como o advento da PEC que defende mudanças na legislação desta população, além de discutir os argumentos contrários a esta medida, expostos por setores que atuam no âmbito dos direitos da criança e do adolescente. 
 
Palavras-chave: Adolescente, Ato Infracional, Política pública. Maioridade Penal, 
Psicologia.1 
 
ABSTRACT 
 
The reduction of the criminal majority has become an urgent discussion in society, especially when public opinion polls indicate that there is a social outcry for lowering the age of the criminal, which is not different in the Senate where several Proposals for Amendment to the Constitution (PEC)) suggesting the adoption of this measure as a solution to crime and violence. Based on the emergence of this theme, it is intended to contextualize the first public policies for adolescents, as well as the advent of the PEC that advocates changes in the legislation of this population, in addition to discussing the arguments against this measure, exposed by sectors that work in the scope rights of children and adolescents. Palavras-chave: Penalty of death. Teenager. Infraction act Public policy. Psychology2. 
 
 
 
 
1Pós-Graduando em Políticas Públicas.Email:cesarsilvio80@yahoo.com.br 
2Cesar Augusto Bana cesar.bana@fce.edu.br 
 
 
 
 
Crianças e Adolescentes, Direitos e Políticas Pública 
 
1. Introdução 
 
O texto da redução da maioridade penal adquiriu maior urgência em termos de discussão científica a partir da tramitação no Senado de diversas Propostas de Emenda à Constituição (PEC's) que possibilita a desconsideração da inimputabilidade penal de maiores de dezesseis, quatorze e até doze anos de idade. O conteúdo das PECs ganhou contornos mais intensos nas últimas eleições, defensor declarado da redução da maioridade penal, o presidente Jair Bolsonaro tem sido efusivo nas críticas ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei que dispõe sobre a proteção integral para menores de 18 anos. Mas a profundidade da reforma a ser implantada nos próximos anos ainda não foi detalhada publicamente pelo futuro chefe do Executivo. No seu plano de governo, o assunto é abordado em uma única frase: reduzir a maioridade penal para 16 anos. Após a vitória nas urnas, Bolsonaro reconsiderou diminuir para 17 anos, embora tenha vontade de endurecer a punição para adolescentes infratores já a partir dos 14 anos. 
 
A proposta de reduzir a maioridade está pautada no entendimento de que os adolescentes que cometem ato infracional oferecem risco a sociedade e por isso, precisam ser encarcerados. Este entendimento advém da concepção jurídica de 'menoridade' que norteou a organização dos primeiros serviços assistência e proteção a infância e adolescência, em 1921. Estes serviços dirigiam-se as crianças e adolescentes considerados 'menores', em situação irregular, como os abandonados e delinquentes. Os tratamentos destinados aos mesmos restringiam-se a internação em estabelecimentos que visavam à correção e a disciplina, uma vez que a concepção jurídica de 'menoridade' se referia a sujeitos que ofereciam risco à sociedade. Percebe-se que o próprio ordenamento jurídico orientava o imaginário coletivo ao entendimento de “menor‟ enquanto sujeitos que possuem capacidade de cometer infrações. Desta forma, a legislação regulamentava a internação de menores marginalizados, promovendo uma espécie de faxina social. 
Aconteceram no decorrer da história várias transformações dentre elas a criação do Estatuto da Criança e Adolescentes – ECA[footnoteRef:1], lei 8069/90. Onde considera crianças, pessoas entre 0 a 12 anos incompletos e adolescentes, entre 12 e 18 anos de idade. [1: ECA-Estatuto da Criança e do Adolescentes.Lei 8069/90 ] 
O protesto pela redução da maioridade penal pauta-se na premissa de que o tratamento para os ditos 'menores' se refere ao encarceramento, como solução para diminuir a violência. Desconsidera-se assim os direitos assegurados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, citado acima e pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE[footnoteRef:2] (Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 e Lei 12.594, de 18 de janeiro de 2012) as quais defendem que o Estado deve facultar as condições para o pleno desenvolvimento da adolescência. [2: SENASE-Lei 8069/90, O Estado atribuições para adolescência ] 
Consequentemente, pretende-se, contextualizar as políticas públicas referentes à criança e ao adolescente, abordar a proposta de redução da maioridade penal no Congresso Nacional, além de discutir os argumentos contrários e favoráveis a esta medida. 
 
2. Desenvolvimento 
 
A política pública para a população infanto juvenil, as primeiras políticas públicas para crianças e adolescentes referem-se ao Código de Menores promulgado em 1927, fundamentado na Doutrina de Situação Irregular, dirigindo-se aos 'menores' considerados abandonados, carentes e infratores. Esta representação do adolescente como “menor” referia-se à criança e ao adolescente pobre que perambulava pelas ruas e cujo destino era a delinquência. 
Assim, todo sistema legislativo voltado para criança e adolescente estava organizado em torno da punição de “delinquentes” e não no atendimento àquele que transgrediu uma norma (VOLPI, 1997)[footnoteRef:3]. [3: Todo Sistema Legislativo voltado para criança e adolescente (VOLPI,1997) ] 
 
 A organização responsável pelo estabelecimento da política do bem-estar do 'menor' referia-se ao SAM - Serviço de Assistência ao Menor cujas instalações eram inadequadas e os 'menores' encontravam-se em condições promíscuas. Havia despreparo dos técnicos, além de violência física contra os internos. Representando descaso do Estado com o atendimento das crianças e dos adolescentes. Por essa razão “o SAM transformou-se em sinônimo de horror” (GOMIDE, 2009, p. 16). Com o intuito de se opor ao tipo de atendimento oferecido no SAM, foi fundada, em 1964, a FUNABEM – Fundação Nacional do Bem-Estar do menor. O objetivo deste órgão consistia na reintegração do 'menor' à sociedade. Apesar deste objetivo, as condições submetidas aos internos foram denunciadas em 1980: estes sofriam maus tratos referentes à violência física e psicológica (GOMIDE, 2009) 
 Na década de 80, os movimentos sociais foram reorganizados no Brasil após mais de vinte anos da ditadura militar. A sociedade mobilizou-se em prol da consolidação de um Estado Democrático. Houve também militância em busca dos direitos e reivindicações no que se refere ao atendimento das políticas públicas à criança e ao adolescente, convergindo assim às demandas daquele setor na forma de um estatuto aprovado em 1990, o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente (VOLPI, 1997). 
 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera adolescentes pessoas entre 12 e 18 anos de idade, sujeitos de direitos e pessoas em situação peculiar de desenvolvimento. Destaca ainda que: 
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absolutaprioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, além de deixá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL,1990, p.23). 
 
 No que se refere ao ato infracional, não caracterizado enquanto crime, o ECA ressalta que somente os adolescentes são passíveis de cometê-lo, em face às peculiaridades que lhe cercam. Desta forma cabem aos adolescentes cumprirem as chamadas medidas socioeducativas, cujo objetivo é a reinserção social e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários (BRASIL, 1990). 
 As[footnoteRef:4] medidas socioeducativas são as seguintes: “Advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, inserção em regime de semiliberdade e internação em estabelecimento educacional” (BRASIL, 1990, p. 41). [4: As medidas socioeducativas (Brasil,1990, p.41) ] 
Com relação à medida de internação, vale ressaltar que o ECA determina que esta seja exceção e que deve ser aplicada ou mantida somente quando evidenciada sua necessidade. É uma medida considerada grave pelo caráter privativo de liberdade devendo ser breve e excepcional. A internação[footnoteRef:5] consiste em oferecer as condições adequadas para a ressocialização do adolescente, através de práticas educativas (BRASIL, 1990). [5: A internação consiste em oferecer as condições adequadas (BRASIL,1990) ] 
Ao praticar as medidas socioeducativas, considera-se as características da 
infração e as circunstâncias sociofamiliares, para possibilitar que o adolescente supere sua condição de exclusão por meio da reinserção na sociedade. Além disso, os programas socioeducativos devem respeitar as peculiaridades de cada pessoa em desenvolvimento, bem como assegurar proteção (BRASIL, 1990). 
Cumprir com os princípios estabelecidos pelo ECA representou desafio no qual os conceitos legais deveriam ser transpostos para a prática com vista na sua efetivação. Desta forma, as instituições socioeducativas teriam que priorizar a execução das novas leis voltadas aos adolescentes, considerando as suas peculiaridades e ao mesmo tempo distinguindo-se do sistema prisional – tanto no que se refere às instalações físicas quanto na própria dinâmica institucional. O fim proposto é o de oportunizar aos adolescentes uma ressignificação dos seus padrões de socialização (ZAPPE, 2011). 
Contudo, a realidade das instituições socioeducativas estava distante do das diretrizes do ECA, as mesmas encontravam-se em condições de superlotação, insalubridade, estruturas inadequadas, além de ausência de propostas claras de funcionamento operacional. Ademais, acrescenta-se a gravidade de circunstâncias como tortura física e psicológica, abusos sexuais, maus tratos, isolamento dos adolescentes, incomunicabilidade, humilhação e excesso de medicalização (CFP, 2010) 
 Perante desta situação, foi aprovada em janeiro de 2012 a lei 12.594/12 que instituiu o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE,[footnoteRef:6] com o objetivo de regulamentar a execução das medidas socioeducativas (BRASIL, 2012). [6: SINASE regulamentar execução medidas socioeducativas (BRASIL,2012) ] 
O SINASE prioriza a municipalização dos programas em meio aberto e a 
regionalização dos programas de privação de liberdade a fim de garantir o direito à convivência familiar e comunitária dos adolescentes, bem como as especificidades culturais. Para isso considera-se a intersetoralidade e a corresponsabilidade da família, da comunidade e do Estado no compromisso partilhado para avançar na garantia da absoluta prioridade da criança e do adolescente. As formulações das diretrizes do SINASE, viabilizam-se as condições possíveis para que o adolescente que comete ato infracional deixe de ser considerado como problema e torne-se prioridade social (BRASIL, 2006). 
 
2.1 A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL 
 
A primeira Proposta de Emenda à Constituição (PEC) referente à redução da maioridade penal foi formulada em 1993 pelo deputado Benedito Domingos 
(PP/DF) que propôs a consideração da imputabilidade penal do maior de 16 anos de idade (PEC 171/93)[footnoteRef:7]. Além dessa proposta, mais trinta PEC'S foram realizadas no sentido de rebaixar a maioridade penal para 16, 14 e até 12 anos de idade. Os argumentos que embasam as propostas são diversos, entre eles, a alegação de que o adolescente tem discernimento para votar e, consequentemente, para compreender o caráter lesivo dos seus atos, o que os obrigam a respondê-los na esfera penal, além de enfatizar que o ECA não pune o adolescente e que por isso, os mesmos cometem atos infracionais (CAMPOS, 2009). [7: (PEC 171/93) Redução da Maioridade Penal 
 ] 
 O pretexto para defender a redução da maioridade mostra que, mesmo decorridos vinte e quatro anos, o Estatuto da Criança e do Adolescente ainda não foi assimilado pela maioria da população, que o compreende apenas enquanto proteção oferecida ao adolescente que comete ato infracional. 
Assim, faz parte do imaginário coletivo como sendo um instrumento de incentivo à delinquência e de impunidade (MARQUES, 2011). 
 Nesse sentido a mídia corrobora para o descrédito do ECA, ao espetacularizar a violência, defendendo a criminalização dos adolescentes e atribuindo a esses mesmos sujeitos os altos índices de violência. 
Expõe-se ainda que os mesmos são “protegidos” pela lei e não respondem pelos atos cometidos. (HAGE; ARAUJO, 2013). 
 Em abril de 2013, após “um latrocínio cometido por um adolescente” na capital paulista, o instituto de pesquisa Datafolha consultou a opinião dos paulistanos, a respeito da proposta de redução da maioridade penal. O resultado mostrado foi, caso houvesse uma consulta à população adulta brasileira a respeito da redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos, 87% votariam a favor da redução. Na comparação com levantamentos anteriores, a taxa de apoio à redução da maioridade oscilou três pontos e alcançou o índice mais alto da série histórica (era 84% nas pesquisas de 2006 e 2003). Atualmente a PEC 171/93 encontra-se nas pautas de discussões da Comissão de Cidadania e Justiça (CCJ) aguardando as deliberações. Consulta popular, 93% dos paulistanos votariam a favor da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. 
O Datafolha constatou que o apoio da população em relação a este tema tem crescido, já que as pesquisas de 2003 e 2006 apontavam respectivamente índices de 83% e 86% favoráveis a diminuição da maioridade penal (DATAFOLHA, 2013). 
 
Desta forma, o clamor pela redução da maioridade vem demonstrar com as PEC's e com a espetacularização da mídia, representa a ênfase em adotar práticas punitivas e excludentes por meio do encarceramento de jovens, além da desresponsabilização do Estado e da sociedade em assegurar os direitos dos adolescentes previsto no ECA e no SINASE (CAMPOS, 2009). 
 
2.2 ARGUMENTOS CONTRÁRIOS À REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL 
 
Vale ressaltar que diversos setores que atuam no âmbito dos direitos humanos têm apresentado argumentos contrários à medida de redução da maioridade, como o Ministério da Justiça, a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, o Departamento da Criança e do Adolescente e o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA)[footnoteRef:8] posicionam-se contrários à redução da maioridade penal. [8: (CONANDA) Posicionamento Contrário a redução maioridade penal ] 
 Após uma audiência pública, estes órgãos sistematizaram os argumentos que deram origem ao livro A razão da idade: mitos e verdade. Entre as alegações, destaca-se aquela que considera a redução da maioridade penal uma contravenção à Constituição Federal e às normativas internacionais; além disso ressaltou-se que os adolescentes autores de atos infracionais, na sua maioria, não tiveram seus direitos fundamentais garantidos, sendo fundamental a implementaçãodas políticas públicas consolidadas na legislação vigente, tais como a Proteção Integral e a prioridade absoluta de crianças e adolescentes previstas no ECA e no SINASE (BULHÕES, 2001). 
 Outro argumento contra a redução da maioridade penal diz respeito à sua inconstitucionalidade. É o que destaca o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcus Vinícius Furtado, ao enfatizar que a inimputabilidade do adolescente com idade inferior a dezoito anos faz parte das garantias individuais e estão entre as cláusulas pétreas da Constituição Federal, só podendo ser modificadas por uma nova Assembleia Nacional. 
Além disso, o mesmo destacou que o Estado deve efetivar as políticas públicas da população infanto-juvenil com investimentos na educação, lazer, na reinserção dos adolescentes no meio social e no mercado de trabalho (OAB, 2013). 
 
 Neste sentido, o Conselho Federal de Psicologia (CFP)[footnoteRef:9] divulgou em junho de 2013 parecer contrário à aprovação da redução da maioridade penal. Ressaltouse que o Estado brasileiro tem fracassado em oportunizar o desenvolvimento saudável às crianças e aos adolescentes por meio da garantia de direitos, que não se soluciona a violência por meio da culpabilização e punição, mas sim pela ação das instâncias sociais, políticas, econômicas e psíquicas que a produzem. Foi enfatizado ainda o caráter pedagógico das medidas socioeducativas, norteando o desenvolvimento humano saudável, em contraposição às práticas repressivas de reclusão. [9: Conselho Federal de Psicologia parecer contrário a maioridade penal ] 
Reduzir a maioridade penal, assim, seria tratar os efeitos e não a causa da violência (CFP, 2013). 
 
 Entretanto, um grupo de parlamentares permanece defendendo a redução da maioridade penal de 18 anos para 16 anos, mesmo com os posicionamentos contrários à redução apresentados por diversos setores que atuam no âmbito dos direitos da criança e do adolescente. A alegação[footnoteRef:10] é que essa medida representa os anseios da sociedade, tendo como base as pesquisas de opinião pública (ARANTES, 2013). [10: Alegações, medidas que representa anseio da sociedade (ARANTES,2013) ] 
 Vale ressaltar que os atos[footnoteRef:11] cometidos por adolescentes representam falhas nas políticas sociais básicas, no lazer, na escola, no Estado e na sociedade (CASTRO, 2002). Entretanto, este lado da moeda não é considerado pelos parlamentares e pela opinião pública que defendem o encarceramento do adolescente. [11: Atos feitos por adolescentes, falhas nas políticas sociais (CASTRO,2002) ] 
 Ao defender esta proposta como solução para a violência, reduz-se o fenômeno à esfera individual, encobrindo as determinações históricas, políticas, econômicas e psicossociais da violência. A mídia também contribui para esse entendimento ao espetacularizar o crime e omitir o contexto sócio histórico no qual o ato infracional foi cometido, tratando-o a partir de causas pessoais. Desta forma, o diálogo e a discussão sobre as multideterminações da violência não são proporcionados (TEIXEIRA, 2013). 
Cabe evidenciar ainda que a situação do sistema socioeducativo é ignorada na discussão sobre a redução da maioridade penal. É o que aponta Zappe (2011), quando afirma que a maioria dos adolescentes que cumpre medida de internação no Brasil encontram-se em celas superlotadas, sem as mínimas exigências de salubridade e dignidade. Os socioeducadores não possuem formação continuada e a dinâmica institucional está voltada para a repressão e punição dos adolescentes. Desta forma, o sistema socioeducativo não tem como prioridade o caráter educativo assegurado no ECA. 
Assis sendo, a realidade dos estabelecimentos socioeducativos atesta a 
distância entre o que é previsto em lei e o que é colocado em prática. Assim, vale destacar que apesar do ECA e do SINASE serem criticados e apontados como legislações que conferem apenas a proteção ao adolescente que comete ato infracional, eles ainda não foram efetivamente implementados. 
 
3. Conclusão 
 
 A redução da maioridade penal representa um retrocesso a desresponsabilização do Estado em cumprir com o dever de assegurar Políticas Públicas para a população infanto-juvenil, conquistadas através dos movimentos sociais e consolidadas no ECA e no SINASE[footnoteRef:12]. Com isso, esta proposta se contrapõe aos avanços dos direitos humanos ao resgatar a política da situação irregular excludente e estigmatizadora, ou seja, ao propor a faxina social dos adolescentes ainda considerados 'menores' que oferecem risco a sociedade e que precisam ser encarcerados. [12: ECA-SINASE Conquistas através dos movimentos sociais e consolidadas ] 
 Por este motivo, é urgente a problematização e desnaturalização da responsabilidade individual do adolescente autor de atos infracionais por meio do esclarecimento das múltiplas determinações da violência e das condições nas quais os adolescentes cometem os atos infracionais. 
 É por isso que a exploração desta temática se torna urgente no âmbito científico nas mais diversas áreas, uma vez que contribui com argumentos esclarecedores para a sociedade, que tornem possível a compreensão de que o aprisionamento de jovens não reduz a violência, e que as políticas públicas são fundamentais para a superação das condições sociais dos adolescentes. Este entendimento torna-se crucial para que a sociedade clame pela garantia de diretos e de acesso a oportunidades, considerando os adolescentes enquanto sujeitos de direitos e não 'menores marginalizados'. 
 
4. Referências Bibliográficas: 
 
ARANTES, E. M. M; Sobre as propostas de redução da maioridade penal. In: Conselho Federal de Psicologia, redução da maioridade penal: socioeducação não se faz com prisão. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2013, p. 9-13. 
BRASIL. Lei. 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da criança e do adolescente. Brasília: CONANDA, 1990. 
BRASIL. Lei n 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). Brasília, 2012. 
BRASIL. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). Brasília: Secretaria Especial de Direitos Humanos. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, 2006. 
BOLHÕES, A. N. A. et. al. A razão da idade: Mitos e Verdades. Brasília: MJ/SEDH/DCA, 2001. 
CAMPOS, M. S. Mídia e Política: a construção da agenda nas propostas de redução da maioridade penal na Câmara dos Deputados. Opinião Pública, 15(2), 478-509, 2009. Disponível em: . Acesso em: 12 novembro 2014. 
CONSELHO FEDERAL DA OAB. OAB Nacional e Abrinq juntas contra a redução da maioridade penal. Disponível em: . Acesso em: 17 outubro 2014. 
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Referências técnicas para atuação de psicólogos no âmbito das medidas socioeducativas em unidades de internação. Brasília: CFP, 2010. 
CONSELHO NACIONAL DO MINISTERIO PUBLICO. Um olhar atento ás Unidades de internação e semiliberdade para adolescentes- Resolução n 67/2011. Brasília: Conselho Nacional do Ministério Público, 2013. 
CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Nota pública sobre a redução da maioridade penal. Disponível em:. Acesso em: 10 dezembro 2014. 
DATAFOLHA. Maioridade Penal. Disponível em: . Acesso em: 10 janeiro 2015. 
GOMIDE, P. I. C. Menor infrator: a caminho de um novo tempo. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2009. 
HAGE, S. M; ARAÚJO, M. N. Pela consolidação dos marcos legais que asseguram direitos às crianças, adolescentes e jovens brasileiros. In: Conselho Federal de Psicologia, redução da maioridade penal: socioeducação não se faz com prisão. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2013, p. 9-13. 
MÁRQUES, F. T. Intolerâncias e in (ter) venções: “menores” e “crianças” no imaginário social brasileiro. Revista Latino-americana de Ciências Sociales, Ninez y Juventud. v.9, p. 797 – 809, 2011. Disponível em:. Acesso em: 14 dezembro 2014. 
SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS. Atendimento Socioeducativoao adolescente em conflito com a lei: Levantamento Nacional. Disponível em: . Acesso em: 10 janeiro 2015. 
TEIXEIRA, M. de L. Ti; Redução da maioridade penal... mais uma vez!; in: Conselho Federal de Psicologia, redução da maioridade penal: socioeducação não se faz com prisão. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2013, p. 19-21. 
VOLPI, Mário. [org.]. O adolescente e o ato infracional. São Paulo: Cortez Editora,1997. 
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GAUCHAZH Segurança Grupo RBS Jornalismo, Radio, TV. 
 
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