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Ana Clara Paiva Tutoria 1 – Defesa 1- Explicar o papel da barreira imunológica: As células do sistema imune inato servem como sentinelas para detectar microrganismos e células danificadas nos tecidos e realizar várias funções essenciais para a defesa contra os microrganismos. Algumas células formam barreiras físicas que impedem as infecções. Diversos tipos celulares expressam os vários receptores de padrão de reconhecimento e, após o reconhecimento de PAMPs e DAMPs, as células respondem com a produção de citocinas inflamatórias e proteínas antivirais e com a morte de microrganismos ou células infectadas. Além disso, algumas destas células da imunidade inata são críticas para a estimulação de subsequentes respostas imunes adaptativas. Superfícies epiteliais intactas formam barreiras físicas entre os microrganismos do ambiente externo e os tecidos do hospedeiro; além disso, as células epiteliais produzem substâncias químicas antimicrobianas que impedem a entrada de microrganismos. As principais interfaces entre o ambiente e o hospedeiro mamífero são a pele e as superfícies de mucosas dos tratos gastrointestinal, respiratório e geniturinário. Estas interfaces são revestidas por contínuas camadas de células epiteliais especializadas que desempenham muitas funções fisiológicas, incluindo a prevenção da entrada de microrganismos. A função da barreira protetora é, em grande parte, física. As células epiteliais são muito próximas umas às outras, bloqueando a passagem de microrganismos por entre elas. elas. A camada externa de queratina :que se acumula com a morte dos queratinócitos da superfície cutânea bloqueia a penetração microbiana em camadas mais profundas da epiderme. O muco, uma secreção viscosa contendo glicoproteínas chamadas mucinas, é produzido pelas células epiteliais respiratórias, gastrointestinais e urogenitais. As vias respiratórias filtram de forma eficaz as partículas do ar que se introduzem no organismo. Os canais tortuosos do nariz, com as suas paredes cobertas de muco, tendem a eliminar grande parte da substância que entra. Se entretanto um microrganismo atinge as vias aéreas inferiores, o batimento coordenado de umas saliências semelhantes a pêlos (cílios) cobertas de muco transportam-no para fora do pulmão. A tosse também ajuda a eliminar esses microrganismos. Por outro lado, o tubo gastrointestinal dispõe de uma série de barreiras eficazes, que incluem o ácido do estômago e a actividade antibacteriana das enzimas pancreáticos, da bílis e das secreções Ana Clara Paiva intestinais. As contracções do intestino (peristaltismo) e o desprendimento normal das células que o revestem ajudam a eliminar os microrganismos prejudiciais. Resumindo: As superfícies epiteliais intactas têm junções de ocluentes que não deixam brechas pra invasão. Existem barreiras químicas e barreiras físicas. Os epitélios e leucócitos locais produzem peptídeos que atuam como antibióticos naturais: defensinas e catelicidinas principalmente. As defensinas: produzidas pelas células epiteliais de superfícies mucosas e por leucócitos que contem grânulos, tem toxicidade direta, destruindo os microorganismos, e indireta, ativando células da resposta inflamatória. As catelicidinas : liberadas pelos neutrófilos, pele, mucosa gastrointestinal e respiratória agem de forma semelhante. A mucosa: libera mucina ( glicoproteínas) que atuam recobrindo e imobilizando os antígenos, que são auxiliados pelos cílios que expulsa o antígeno previamente imobilizado. As mucosas gastrointestinais liberam substancias acidas, diminuindo o ph e causando desnaturação A lagrima e a saliva são barreiras, pois além da ação mecânica, possuem enzimas com ação antibacterianas, como lisozimas e a fosfolipase A. 2- Diferenciar imunidade inata da adquirida e as moléculas/células que participam de cada uma. O sistema imunológico envolve um conjunto de células e moléculas que atuam de forma coordenada na defesa do corpo humano contra substancias danodas. Os mecanismos ativados em resposta a essa substancias são classificados em : (1) Forma inicial e imediata, a qual chamamos de imunidade inata ou natural (2) Outra forma tardia, que aparece após alguns dias, a qual chamamos de imunidade adquirida ou adaptativa. O mecanismo de imunidade inata constituem a PRIMEIRA linha de defesa do nosso organismo e responde APENAS à MICROORGANISMOS INFECCIOSOS ou produtos de células lesadas. Ele inclui estruturas celulares e bioquímicas de defesa que, constitucionalmente, já estão prontas para atuar ou são ativadas rapidamente. Eles não se caracterizam pela especificidade contra um determinado agente infeccioso, e sim pela identificação de estruturas que são comuns a grupos de microorganismos, a exemplo o lipopolissacarideo ( LPS) presentes na parede celular de bactérias gram-negativas. Ana Clara Paiva Além de não haver diferenciação entre discretas composições das substâncias estranhas, não há geração de memoria imunológica. A resposta imune natural celular consiste em dois tipos principais de reações: Inflamação: que refere-se ao processo de recrutamento de leucócitos e proteínas plasmáticas do sangue, seu acúmulo nos tecidos e sua ativação para destruir os microrganismos. Muitas dessas reações envolvem citocinas, que são produzidas por células dendríticas, macrófagos. Os principais leucócitos recrutados na inflamação são os fagócitos → neutrófilos e monócitos (que se diferenciam em macrófagos). Eles expressam em sua superfície receptores que se ligam aos microrganismos e os ingerem, destruindo-os nas vesículas intracelulares com radicais reativos de oxigênio e nitrogênio e enzimas lisossômicas. Defesa antiviral: consiste em uma reação medida por citocinas, em que as células adquirem resistência à infecção viral, e na destruição pelas células NK das células infectadas por vírus. Os microrganismos são capazes de resistir a essas reações de defesa nos tecidos e podem entrar no sangue, onde são reconhecidos pelas proteínas circulantes da imunidade natural. Entre elas estão as proteínas só sistema complemento. Quando essa via é ativada por superfícies microbianas, são gerados produtos de clivagem proteolítica, que medeiam as respostas inflamatórias, revestem os microrganismos para fagocitose intensificada e lisam diretamente os microrganismos. A imunidade adquirida também chamada de adaptativa, envolve mecanismos que se caracterizam pela resposta específica ao antígeno. O antígeno precisa estar presente. Após a exposição, há alterações nas funções de determinadas células para que aquele antígeno, responsável pelo estimulo à resposta seja eliminado. Os mecanismos de defesa não estão prontos, esperando o patógeno aparecer. Eles são montados em resposta a presença deles, a qual garante uma resposta resolutiva mais rápida em um próximo contato com aquele mesmo antígeno. As principais características das respostas imunes adaptativas são: especificidade, diversificidade, memoria, especialização, expansão clonal, autolimitação e hemostasia. é quando o sistema utiliza 3 estratégias principalmente, para combater os microrganismos: → Os anticorpos, que secretados ligam-se aos microrganismos extracelulares e bloqueiam a sua habilidade de infectar as células do hospedeiro, promovendo sua ingestão e subsequente destruição pelos fagócitos. → Os linfócitos Th (aumentam a capacidade microrganismos que são inacessíveis aos anticorpos e à destruição fagocítica. → Os linfócitos T citotóxicos (CLT) destroem as células infectadas pelos microrganismos que são inacessíveis aos anticorpos e à destruição fagocítica. O objetivo daresposta adquirida consiste em ativar um ou mais mecanismos de defesa contra microrganismos diversos que podem estar em diferentes localizações anatômicas. Todas respostas imunes adaptativas desenvolvem-se por etapas: • Captura e apresentação dos antígenos microbianos • Reconhecimento dos antígenos pelos linfócitos • Ativação dos linfócitos T e eliminação dos microrganismos intracelulares (imunidade celular) • Memória imunológica Ana Clara Paiva 3- Explicar o Sistema Complemento e suas respectivas vias, e relacioná-las com as respostas inata e adquirida. O sistema complemento é composto por um monte de proteínas que fica circulando pelo sangue. Essas proteínas plasmáticas geralmente estão interagindo com nossos tecidos e células, mas sem desencadear respostas imunes. Quando algumas destas proteínas encontram certas moléculas em células ou tecidos lesados, a coisa muda de figura. Inicia-se uma cascata de eventos moleculares que culminam com a ativação de vários mecanismos efetores de defesa. Consiste em um conjunto de várias proteínas, muitas delas com atividade enzimática, mas secretadas no plasma na forma inativa ( zimógenos). Quando ativadas, essas se ancoram em superfícies celulares ou complexos multimoleculares ( a exemplos de complexo antígeno- anticorpo) Uma parte delas atua para incentivar o processo inflamatório, enquanto a outra atua na destruição de microrgranismos. Essas proteínas ativas hidrolisam (quebram), umas as outras sequencialmente. Cada hidrolise leva a uma nova hidrolise e à ativação de novas proteínas, gerando uma reação de cascata, pois bem, a hidrolise de uma proteína do complemento é necessária para que se tenha substrato para a hidrolise da próxima O sistema complemento deve ser considerado um coringa para nossa imunidade, visto que pode atuar como mecanismo efetor tanto do sistema imune inato, como adaptativo Sua ativação pode ser iniciada por três vias: 1. Uma efetiva na imunidade adaptativa humoral ( a via clássica) 2. Duas imunidades natural ( via alterativa e a via das lectinas) O que difere essas três vias de ativação é a forma como elas se iniciam. A via final resultante da ativação de qualquer uma dessas três é comum que é a PRODUÇÃO DE C3B Percebe-se que todas acabam fazendo com que a proteína C3 seja quebrada em C3b e C3a. O C3b serve de substrato para clivagem de C5, dando origem a C5b e C5a Obs: você perceberá que os fragmentos terminados na letra ´a` geralmente são menores, sendo que aqueles liberados para o plasma, enquanto os terminados na letra ´b` são maiores e permanecem ligados aos antígenos, formando os complexos subsequentes. Vias de Ativação: Todas as três vias são capazes de clivar a proteínas C3, que é abundante no plasma, gerando os fragmentos C3b e C3a. O fragmento C3a é um dos subprodutos que estimula inflamação, enquanto que o C3b liga-se covalentemente a superfícies celulares microbianas ou a complexos imunes. O complexo enzimático capaz de clivar C3 é denominado C3-convertase. A partit da clivagem de C3, também são formados complexos enzimáticos capazes de clivar proteína C5, denominado C5- convertase. Resumindo: A via alternativa: vai ser ativada na superfície das bactérias e o seu reconhecimento vai está presente na própria molécula por células de proteínas Ana Clara Paiva A via clássica: vai ser ativada pelos anticorpos que vão estimular a produção cada vez maior de vários anticorpos para combater os antígenos Via das lectinas: vão ser ativadas pelos carboidratos por meio da manose que auxiliam os anticorpos. As proteínas circulam de forma inativa no plasma, elas podem se ativar pelo contato com antígenos ou complexos moleculares. Via alternativa : por compor o conjunto de mecanismos de defesa da imunidade inata, obviamente ela não depende de anticorpo, essa via é capaz de se iniciar por contato direto com microorganismo. A clivagem espontânea por hidrolise de C3 origina as moléculas de C3b e C3a. - A C3a é liberada no plasma e atuará estimulando os processos inflamatórios - a C3b sofre alteração conformacional e passa a expor um grupo tioéster, que é responsável pela ligação covalente com as superfícies celulares Como esse processo é espontâneo, se não ocorrer ligação com o C3b em nenhuma superfície, esse fragmento instável é hidrolisado e, consequentemente inativado, e a continuação do sistema complemento é interrompida. O fator D cliva o fator B deixando Ba e Bb. O fragmento Bb permanece associado à C3 e o Ba é liberado. O complexo resultante dessas clivagens e ligações, o C3bBb, é a C3- convertase da via alternativa. Ou seja, C3b+Bb= C3-convertase Obs: a proteína Properdina (P) evita que a C3-convertase seja clivada, permanecendo ativa por mais tempo Via clássica: É dependente de anticorpos. Mesmo não se ligando diretamente ao anticorpo, depende da ligação do anticorpo IgM ou IgG ao antígeno. O que você não pode esquecer é que a presença do anticorpo ligado ao antígeno é essencial para a ativação da via clássica Essa via não se inicia com a clivagem da proteína C3. Na verdade, a ativação começa com a ligação de outra proteína, a C1 se ligando ao domínio Ch12 do anticorpo IgG ou ao Ch3 de IgM, onde o C1q é responsável por essa ligação *C1q é responsável pela ligação do anticorpo *C1r, que cliva e, consequentemente, ativa C1s. A C1s torna-se capaz de clivar outra proteína do complemento, que é a C4 O C4b atua como se fosse a C3 da via alternativa Sua função é clivar o C5 e iniciar as etapas terminais da ativação do complemento, com a formação do complexo de ataque à membrana (MAC) Via das lectinas : Não dependem da presença de anticorpos. A interação se dá através da lectina ligadora da manose (MLB) e das MASPs. Lectinas são proteínas solúveis que, estruturakmente, se assemelham ao C1q, e se ligam a determinados carboidratos . algumas lectinas têm afinidade por carboidratos presentes em microorganismos A lectina capaz de se ligar a manose é denominada lectina ligadora de manose (MBL). Ana Clara Paiva Serina-protease associadas à MBL(MASP), as MASPs 1,2,3 são estruturalmente semelhantes a C1r e C1s e também quando ativadas clivam C4 e C2. Ou seja, na via clássica vimos que C1q se liga ao anticorpo, enquanto aqui vemos as MASPs se ligando as lectinas Resultado? Temos um complexo de C4b + C2a= C4b2a. ou seja, a C3-convertase da via das lectinas é exatamente a mesma da via clássica. A partir desse ponto, as duas vias são idênticas, incluindo a composição da C5- convertase Etapas finais da ativação do complemento: Após a formação do C5- convertase, as três vias de ativação caminham para um objetivo comum, que é a destruição direta do microrganismo, enquanto que o C3a e o C5a foram liberados para o plasma para o interticio e irão atuar estimulando o processo inflamatório. E o C3b também exerce o papel de opsonização, o sistema complemento já auxiliou a resposta imunológica contra microrganismos e células danificadas funções do sistema complemento Ativação da resposta inflamatória Ativação da opsonização Faz a citólise mediada pelo MAC Facilitam a eliminação de microrganismos pelo baço e fígado Ativação das células B 4- Definir PAMPS PAMP’s são padrões moleculares associados ao patógeno (ao causador da doença). Diferentes microrganismos expressam diferentes PAMP’s. Essas estruturas incluem ácidos nucleicos que são exclusivos dos microrganismos, tais como RNA de fita dupla encontrado em vírusem replicação e sequências de DNA não metiladas (sem grupo metila CH3-), encontradas em bactérias, características de proteínas que são encontradas em microrganismos, tais como iniciação por N- formilmetionina, que é típica de proteínas bacterianas e lipídios complexos e carboidratos que são sintetizados pelos microrganismos, mas não por células de mamíferos tais como Ana Clara Paiva lipopolissacarídeos (LPS) em bactérias Gram- negativas (de coloração vermelha), ácido lipoteicóico (polímeros de ribose ou de glicerol ligados por fosfatos) em gram-positivas (de coloração roxa) e, oligossacarídeos com resíduos de manose terminal encontrados em glicoproteínas de microrganismos, mas não em glicoproteínas de mamíferos. Enquanto o sistema imune inato evolui para reconhecer somente um número limitado de moléculas que são únicas aos microrganismos, o sistema imune adaptativo é capaz de reconhecer muitas substâncias estranhas diferentes sendo ou não produtos dos microrganismos. 5- Explicar a opsonização em células e microrganismos é o processo que consiste em fixar imunoglobulinas, permitindo então a fagocitose. Neutrófilos e macrófagos expressam receptores que reconhecem especificamente microrganismos, e a ligação dos microrganismos a esses receptores é o primeiro passo na fagocitose, alguns desses receptores de reconhecimento de padrão, incluindo lectinas de tipo C e receptores scavenger podem contribuir para a fagocitose somente de organismos que expressam padrões moleculares particulares, tais como manose (um açúcar da série de carboidratos de 6 carbonos). Os fagócitos também têm receptores de alta afinidade para certas opsoninas, incluindo moléculas de anticorpo, proteínas de complemento e lectinas plasmáticas; esses receptores são críticos para a fagocitose de muitos microrganismos, incluindo moléculas de anticorpo, proteínas de complemento e lectinas plasmáticas. A IGG é responsável pela ativação do sistema complemento, ela é mediada por células dependentes de anticorpo, é responsável pela imunidade neonatal e autoinibição do linfócito B. Uma das mais importantes opsoninas é a C3b porque a ligação dessa proteína a receptores específicos em macrófagos e neutrófilos, facilitam a digestão. O reconhecimento dos microrganismos por qualquer uma das três vias do complemento resulta em recrutamento sequencial e montagem de proteínas adicionais do complemento em complexos de proteases, um desses complexos é a C3b convertase que cliva a proteína central em C3a e C3b. O fragmento maior, C3b se torna covalente ligado à superfície microbiana onde a via do complemento foi ativada. O fragmento menor C3a é liberado e estimula a inflamação agindo como quimiotático para neutrófilos. O C3b se liga a outras proteínas de complemento para formar uma protease (C5 convertase) que se cliva em C5a e C5b, a C5a induz alterações nos vasos sanguíneos que os fazem extravasar proteínas plasmáticas e fuídos para os locais de infecção. A C5b inicia a formação de um omplexo de proteínas do complemento C6, C7, C8 e C9 que são montados em um poro da membrana denominado complexo de ataque da membrana (MAC) causando a lise das células onde o complexo é ativado. 6- Explicar a fagocitose mediada por receptores Os leucócitos expressam receptores de Fc que se ligam às regiões constantes de anticorpos e, assim, promovem a fagocitose de partículas cobertas de Ig e liberam sinais que regulam as atividades dos leucócitos; outros receptores de Fc medeiam o transporte de anticorpos para diversos locais. Os receptores de Fc para diferentes isotipos de cadeia pesada são expressos em muitas populações leucocitárias e apresentam diversas funções na imunidade. Dentre esses receptores de Fc, aqueles que são mais importantes para a fagocitose de partículas opsonizadas são os receptores para as cadeias pesadas de anticorpos IgG, chamados receptores Fcγ. Os receptores Fcγ foram classificados em três grupos, I, II e III, com base em suas afinidades para as cadeias pesadas de diferentes subclasses de IgG. Diferentes receptores de Fc também são expressos em distintos tipos celulares. Em geral, os imunocomplexos contendo IgG1 e IgG3 se ligam eficientemente a receptores de Fc, ativando-os, e os imunocomplexos contendo IgG2 não se ligam bem. IgG4 possui uma afinidade muito baixa para ativar os receptores Fc, e a função biológica desse anticorpo não é muito bem compreendida. A ligação à maior parte dos receptores Fc resulta em ativação celular, exceto o FcγRIIIB, que é um receptor inibitório. Todos os receptores Fcγ contêm uma cadeia de ligação ao ligante, denominada cadeia α, que reconhece as cadeias Ana Clara Paiva pesadas da IgG. As diferenças observadas em relação à especificidade ou afinidade de cada FcγR para os diversos isotipos de IgG baseiam-se nas distinções na estrutura dessas cadeias α. Todos os receptores Fc são ativados de forma ideal por anticorpos ligados aos seus antígenos e não por estas moléculas livres, circulantes. Em todos os FcRs, exceto o FcγRII, a cadeia α está associada a uma ou mais cadeias polipeptídicas adicionais envolvidas na transdução de sinal. As funções de sinalização do FcγRII são mediadas pela cauda citoplasmática desse receptor de cadeia única. Os três grupos principais de receptores Fc IgG-específicos apresentam múltiplas isoformas que podem ser diferentes entre si na estrutura e na função. FcgRI (CD64): é o principal receptor Fcγ em fagócitos. É expresso em macrófagos e neutrófilos e liga-se a IgG1 e IgG3 com alta afinidade (Kd de 10- 8 a 10-9 M). Em camundongos, o FcγRI liga- se preferencialmente a anticorpos IgG2a e IgG2b/2c. A grande região aminoterminal extracelular da cadeia α que se liga ao Fc dobra-se em três domínios Ig-símile em tandem. A cadeia α do FcγRI é associada a um homodímero, ligado por dissulfureto, de uma proteína de sinalização chamada de cadeia γ do FcR. Esta cadeia γ também é encontrada nos complexos de sinalização associados a FcγRIII, FcαR e Fc RI. A cadeia γ possui apenas uma porção extracelular aminoterminal curta, mas uma grande porção citoplasmática carboxiterminal, que é estruturalmente homóloga à cadeia ζ do complexo receptor de células T (TCR). Como a cadeia ζ do TCR, a cadeia γ do FcR contém um motivo de ativação imunorreceptor com base em tirosina (ITAM), que faz o pareamento do agrupamento de receptores para ativar as proteinoquinases de tirosina. O FcγRI, da mesma forma que o receptor de alta afinidade para IgE, está constantemente saturado com seus ligantes de Ig. A ativação de receptores Fc requer que os receptores estejam agrupados no plano da membrana, e o agrupamento e sua consequente ativação pelo FcγRI são mediados pela ligação cruzada de moléculas de IgG ligadas ao receptor a antígenos multivalentes. A transcrição do gene FcγRI e sua expressão nos macrófagos são estimuladas pelo interferon-γ (IFN-γ). Os isotipos de anticorpo que se ligam de melhor maneira a receptores Fcγ (como IgG2a em camundongos) também são produzidos, em parte, como um resultado da troca de isotipo de células B mediada por IFN-γ. Além disso, o IFN-γ estimula diretamente a atividade microbicida de fagócitos. FcγRII (CD32): liga-se a subtipos de IgG humana (IgG1 e IgG3) com uma afinidade baixa (Kd 10-6 M). Em humanos, a duplicação de genes e a diversificação resultaram na geração de três formas, chamadas FcγRII A, B e C. Estas isoformas possuem domínios extracelulares e especificidades de ligantes semelhantes, mas diferem na estrutura da cauda citoplasmática, na distribuição celular e nas funções. O FcγRIIA é expresso pelos neutrófilos e fagócitos mononucleares e participa da fagocitose de partículasopsonizadas, ao passo que o FcγRIIC é expresso em fagócitos mononucleares, neutrófilos e células NK. As caudas citoplasmáticos do FcγRIIA e do FcγRIIC contêm ITAMs e podem emitir um sinal de ativação de fagócitos quando há agrupamento de partículas ou células revestidas por IgG1 ou por IgG3. O FcγRIIB é um receptor inibitório expresso em células mieloides e em células B, sendo o único receptor de Fe em células B. Sua função será descrita mais adiante. FcγRIII (CD16): também é um receptor de baixa afinidade para IgG. A porção de extracelular de ligação ao ligante do FcγRIII é semelhante à do FcγRII em estrutura, afinidade e especificidade para IgG. Esse receptor existe em duas formas, codificadas por genes separados. A isoforma FcγRIIIA é uma proteína transmembrânica expressa principalmente em células NK. A isoforma FcγRIIIA associa-se a homodímeros da cadeia γ do FcR, homodímeros da cadeia ζ do TCR ou heterodímeros compostos da cadeia γ do FcR e da cadeia ζ. Essa associação é necessária para a expressão na superfície celular e para a função desses FcRs, porque os sinais de ativação intracelular são liberados através das ITAMs dessas cadeias de sinalização. A isoforma FcγRIIIB é uma proteína ligada a glicofosfatidilinositol (GPI) expressa em neutrófilos; ela não medeia a fagocitose ou dispara a ativação de neutrófilos, e sua função é mal compreendida. 7- Descrever os mecanismos de ação das células NK (Natural Killers) Ana Clara Paiva As células natural killer (NK) e outros leucócitos ligam-se a células revestidas com anticorpo pelos receptores de Fc e as destroem. Esse processo é chamado de citotoxicidade mediada por células dependente de anticorpos (ADCC). Foi descrito pela primeira vez como uma função das células NK, as quais utilizam seus receptores de Fc, FcγRIIIA, para se ligar a células revestidas com anticorpo. O FcγRIIIA (CD16) é um receptor de baixa afinidade que se liga a moléculas de IgG agregadas dispostas sobre as superfícies das células, mas não se liga a moléculas circulantes de IgG monomérica. Dessa maneira, a ADCC só acontece quando a célula-alvo está revestida com moléculas de anticorpo e a IgG livre no plasma não ativa as células NK nem compete eficazmente com a IgG ligada a células para a ligação a FcγRIII. O acoplamento do FcγRIII a célulasalvo revestidas com anticorpo ativa as células NK para que elas sintetizem e secretem citocinas, como o IFN-γ, bem como para liberar o conteúdo dos seus grânulos, os quais medeiam as funções de morte deste tipo de células. A ADCC pode ser prontamente demonstrada in vitro, mas seu papel na defesa do hospedeiro contra os microrganismos não está definitivamente estabelecido. É provável que seja um mecanismo importante para a eliminação de células que são revestidas por determinados anticorpos monoclonais terapêuticos, como as células B e as células tumorais derivadas de células B que são direcionadas por um anticorpo anti-CD20. 8- Apontar algumas doenças decorrentes da falha do sistema imunológico (doenças do Sistema Complemento e respostas inatas e adquiridas) Síndrome da hiper-IgM ligada ao X: maioria dos casos é ligada ao X e causada por mutações em um gene localizado no cromossomo X que codifica uma proteína (CD154, ou ligante de CD40). Na síndrome da hiper-IgM ligada ao X, as células T mostram escassez de ligantes CD40 funcionais e não podem enviar sinais paras as células B realizarem a troca de classes de Ig. Desse modo, as células B produzem apenas IgM; os níveis de IgM podem estar normais ou elevados. Os pacientes com a forma ligada ao cromossomo X da síndrome podem sofrer de neutropenia grave e apresentar, durante a infância, pneumonia opor pneumocysstis jirovecii. O tecido linfático é muito pequeno porque sinalização deficiente do ligante CD 40 não ativa as células B. Por outro lado, as características clínicas são similares às da agamaglobulinemia ligada só X e incluem infecções bacterianas piogênicas sinopulmonares durante os 2 primeiros anos de vida. A suscetibilidade a Cryptosporidium sp pode estar aumentada. Muitos pacientes morrem antes da puberdade e os que vivem por mais tempo geralmente desenvolvem cirrose ou linfomas de células B. Síndrome de Chédiak-Higashi: é uma síndrome autossômica recessiva rara caracterizada por lise deficiente de bactérias fagocitadas, resultando em infecções respiratórias recidivantes e outras infecções, além do albinismo oculocutâneo. Toll-like receptors (TLR): é uma família de receptores envolvidos com o reconhecimento direto de componentes de patógenos (fungos, bactérias e vírus). Pacientes com defeitos nesse receptores ou suas vias de sinalização vem sendo descritos dentro das Imunodeficiências Primárias. O diagnóstico está fundamentado principalmente nos seguintes critérios: • História familiar para imunodeficiência caracterizada por infecções de repetição ou óbitos precoces nos tios e/ou primos • Quadro de infecções de repetição por micobactérias, Haemophilus influenzae, Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes, Streptococcus pneumoniae • Outras manifestações: doença de Crohn, síndromes febris periódicas, desordens autoimunes sistêmicas. Doença granulomatosa crônica: se caracteriza por leucócitos que não conseguem produzir compostos ativos de oxigênio e por defeitos na função microbicida das células fagocíticas. As manifestações incluem infecções recorrentes; lesões múltiplas granulomatosas de pulmões, fígado, linfonodos e tratos gastrointestinal e geniturinário; abscessos; linfadenite; hipergamaglobulinemia; velocidade de hemossedimentação elevada; e anemia. O diagnóstico se faz por avaliação da produção de radicais de oxigênio nos leucócitos mediante o teste de explosão Ana Clara Paiva oxidativa por citometria de fluxo. O tratamento se faz com antibióticos, antifúngicos e interferon gama; transfusões de granulócitos podem ser necessárias. Esclerose múltipla: é uma doença inflamatória crônica, provavelmente autoimune. Por motivos genéticos ou ambientais, na esclerose múltipla, o sistema imunológico começa a agredir a bainha de mielina (capa que envolve todos os axônios) que recobre os neurônios e isso compromete a função do sistema nervoso. A característica mais importante da esclerose múltipla é a imprevisibilidade dos surtos. Em geral, a doença acomete pessoas jovens, entre 20 e 30 anos, e provoca dificuldades motoras e sensitivas. Artrite reumatóide: Artrite reumatoide é uma doença inflamatória crônica, autoimune, que afeta as membranas sinoviais (fina camada de tecido conjuntivo) de múltiplas articulações (mãos, punhos, cotovelos, joelhos, tornozelos, pés, ombros, coluna cervical) e órgãos internos, como pulmões, coração e rins, dos indivíduos geneticamente predispostos. A progressão do quadro está associada a deformidades e alterações das articulações, que podem comprometer os movimentos. Não se conhecem as causas da doença, que afeta duas vezes mais as mulheres do que os homens entre 50 e 70 anos, mas pode manifestar-se em ambos os sexos e em qualquer idade. A forma juvenil tem início antes dos 16 anos, acomete número menor de articulações e provoca menos alterações no exame de sangue. Lúpus eritematoso: é uma doença rara autoimune, ou seja, na qual o sistema imunológico reage contra as células da própria pessoa, causando danos que podem ser nos órgãos internos (rim, pulmão, coração, cérebro e articulações) ou somente na pele. Afeta mais as mulheres que os homens, e mais adultos jovens que crianças e idosos. Trata-se de uma doença crônica em que é importante o tratamento contínuo e monitorização para avaliar a atividade da doença. Como a pele é afetada em80% dos pacientes, o médico dermatologista é frequentemente o responsável pelo diagnóstico. 9- Descrever a ativação da via clássica do Sistema Complemento culminando na inflamação mediada pelas anafilaxinas (C3a, C4a C5a) e a lise celular pelo complexo de ataque às membranas Os fragmentos proteolíticos dos complementos C5a, C4a e C3a induzem inflamação aguda, ativando mastócitos, neutrófilos e células endoteliais (Fig. 13-17, B). Todos os três peptídios ligam- se a mastócitos e induzem a desgranulação, com a liberação de mediadores vasoativos como a histamina. Esses peptídios também são denominados anafilatoxinas porque as reações de mastócitos que desencadeiam são características de anafilaxia (Cap. 20). Em neutrófilos, C5a reforça a motilidade, a adesão firme às células endoteliais e, em altas concentrações, o estímulo do burst respiratório e da produção de espécies reativas de oxigênio. Além disso, C5a pode atuar diretamente sobre as células endoteliais vasculares e induzir aumento da permeabilidade vascular e expressão de Pselectina, o que promove a ligação de neutrófilos. Essa combinação de ações de C5a em mastócitos, neutrófilos e células endoteliais contribui para a inflamação nos locais da ativação do complemento. O C5a é o mediador mais potente de desgranulação de mastócitos; C3a é cerca de 20 vezes menos potente; e C4a, aproximadamente 2.500 vezes menos potente. Os efeitos pró- inflamatórios de C5a, C4a e C3a são mediados pela ligação dos peptídios aos receptores específicos em vários tipos celulares. O receptor de C5a é o mais bem caracterizado. Ele é um membro da família de receptores acoplados à proteína G. O receptor de C5a é expresso em muitos tipos celulares, incluindo neutrófilos, eosinófilos, basófilos, monócitos, macrófagos, mastócitos, células endoteliais, células musculares lisas, células epiteliais e astrócitos. O receptor de C3a também é um membro da família de receptores acoplados à proteína G. A lise mediada pelo complemento de organismos estranhos é mediada pelo MAC (Fig. 1317, C). A maioria dos patógenos desenvolveu durante sua evolução paredes celulares espessas ou cápsulas que impedem o acesso do MAC em suas membranas celulares. A lise mediada pelo complemento parece ser essencial apenas para a defesa contra alguns poucos agentes patogênicos que são incapazes de resistir à inserção do MAC, como bactérias do gênero Neisseria, que possuem paredes celulares muito delgadas.
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