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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Teorias e Técnicas do Jornalismo Audiovisual na Imprensa Esportiva Técnicas de Narração em TV e Rádio Responsável pelo Conteúdo: Prof. Esp. Jesse Antonio do Nascimento Filho Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Introdução; • O Interior é Rico em Produzir Nossos Narradores; • Nos Dias Atuais; • A Dicção; • A Respiração; • A Emoção; • Fugindo do Óbvio; • A Preparação para a Transmissão; • A Grande Estrela da Companhia. Fonte: Getty Im ages Objetivos • O Narrador Esportivo é a grande atração de uma Transmissão Esportiva, seja ela na TV, seja no Rádio; • Ele é o responsável por cativar o telespectador e o ouvinte e precisa fugir da obviedade, principalmente, na TV; • A profissão permite profissionais com estilos diferentes e que, ao longo do tempo, tornam-se uma “grife”; • Desvendar um pouco dessa profissão e falar sobre o surgimento e a necessidade rápida de lapidar um profissional nos dias de hoje, e também sobre as técnicas que o profissional da narração precisa conhecer para desenvolver o trabalho dele da melhor maneira possível. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl- timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Técnicas de Narração em TV e Rádio UNIDADE Técnicas de Narração em TV e Rádio Contextualização O Narrador Esportivo de Rádio e TV não narra só Futebol. Ele deve estar apto e muito bem preparado para transmitir qualquer tipo de evento, mesmo fora da área esportiva. Muitas Rádios e Televisões costumam apostar nesse profissional em transmissões de Carnaval, por exemplo, devido à facilidade na descrição do que se passa na passarela do Samba. Mas voltando à Narração Esportiva, é importante ficar atento ao estilo das trans- missões que ocorrem no Rádio e na TV. Não necessariamente você precisa copiar, mas é sempre bom ter um parâmetro de que linha pode ser seguida para ser um profissional de sucesso. Por exemplo, eu sempre gostei da narração pelo Rádio, pela maneira inigualável que esse o veículo permite ter. O narrador precisa ter o dom de mexer com a emoção e com a imaginação do ouvinte. O narrador tem a missão de fazer o ouvinte se sentir parte do todo. Osmar Santos, José Silvério, Oscar Ulisses, Luís Roberto e Fiori Gigliotti são nomes marcantes do Rádio. Na TV, a narração é mais fria e o narrador tem mais dificuldade de ter a linguagem fácil do Rádio. Galvão Bueno, Milton Leite e Luciano do Valle são nomes que conseguiram se sobressair. Mas para mim, o narrador de TV mais marcante e que tinha uma linguagem especial para o Futebol é Silvio Luiz. 6 7 Introdução A Narração Esportiva é algo que mexe com o imaginário das pessoas. Muito mais, ainda, quando o veículo é o Rádio. Quem nunca ouviu os garotos, ainda pequenos ou mesmo na pré-adolescência, narrar trechos de uma partida de Futebol nos campos amadores das cidades brasileira, na quadra, na rua, no videogame ou mesmo no Futebol de botão? Pode até ser que isso tenha rareado nos últimos anos, mas é inegável que locutores como Galvão Bueno, Luís Roberto, Cléber Machado, José Silvério, Osmar Santos, Os- car Ulisses, Éder Luís, Pedro Luís, Waldir Amaral, José Carlos Araújo, Pedro Ernesto Denardin, Willy Gonser, Alberto Rodrigues, Osvaldo Reis, enfim, fizeram e ainda fazem parte do imaginário dos meninos e, porque não dizer, das meninas que gostam do Es- porte em todo o território nacional. Que criança apaixonada por Futebol nunca usou um bordão desses e de outros ícones da Narração Esportiva do Brasil? A decisão por ser Narrador Esportivo começa bem cedo, na maioria dos casos. É mais ou menos como acontece com os jogadores de Futebol. Não que no meio do caminho não possa haver a oportunidade de abraçar a causa. Pode, mas não é tão comum. E hoje, as necessidades da mídia também mudaram; tornaram-se mais imediatas, mesmo trabalhadas, vamos dizer assim. Dá certo? Até dá, mas o tempo dirá e falaremos disso ao longo da nossa jornada. Os narradores são a grande estrela da Companhia. Eles são os maestros, que regem um time, e a coordenação de tudo isso é a sintonia fina e justa com os demais membros da equipe. Na respiração dele, por exemplo, o repórter entra em ação, uma vinheta é dispa- rada... ele dá o tom. O Interior é Rico em Produzir Nossos Narradores Desde criança, ouvi que os grandes narradores esportivos, não só eles, “nasciam no interior”, no caso em questão, no interior do estado de São Paulo. E ao fazer uma pesquisa rápida, naquela ocasião, percebi que essa era mesmo a lógica e aquele sonho de menino de ser Narrador Esportivo tinha uma razão a mais de ser. 7 UNIDADE Técnicas de Narração em TV e Rádio Eu, de Jacareí, terra de grandes nomes para o Rádio Paulistano, como Darci Reis (locutor da Rádio Bandeirantes SP), Loureiro Júnior (comentarista da Jovem Pan SP) e Angelo Ananias (repórter e apresentador das Rádios Globo e CBN), tinha motivos para acreditar que poderia sair de Jacareí para trabalhar na Rádio Globo, em São Paulo. Lá chegando, depois de alguns anos, percebi, de fato, que não só o interior de São Paulo, mas o interior do Brasil é farto em revelar grandes nomes para a TV e para o Rádio brasileiros. Uma rápida pesquisa, em todo o Brasil, vai nos levar a narradores consagrados do meio. Seria injusto da minha parte citar nomes e esquecer algum grande profissional que tenha marcado época. Acredito que isso se deve ao fato de que, no interior, as transmissões no Rádio, prin- cipalmente, eram o grande sparring dos profissionais. Há alguns anos não faltavam eventos esportivos a serem cobertos. Eram jogos ama- dores de Futebol, jogos das indústrias, jogos regionais, transmissão de partidas do time da cidade, que participava de torneios oficiais em âmbito estadual ou mesmo nacional de basquete, vôlei e futsal. Sem dúvida, isso forjava o bom profissional e ele já chegava pronto fazer acontecer em um grande centro, como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Paraná, Recife, Belém, Salvador etc. A ida ao grande centro, no entanto, era(é) o sonho de muitos que almejaram(am) uma carreira de sucesso. Chegar à emissora de Rádio, ligar o microfone e ser aprovado era o começo de uma grande história, como acontece(u) com muitos. Antes, havia muito da técnica, da intimidade com o microfone, com o meio no qual se pretendia fazer carreira. Atualmente, muita coisa mudou. Nos Dias Atuais Nos dias atuais, a necessidade crescente de novos narradores esportivos fez com as grandes emissoras, de Rádio e de TV, começassem a ter jovens talentos no seu time. É verdade que a caminhada não é das mais fáceis, porque é preciso paciência para lapidar um narrador. O que demorava alguns anos antes (a formação relatada acima), agora, é para seis meses, um ano. O Mercado tornou-se dinâmico. A técnica de antes, agora, é forjada ao longo do tempo. Não pode haver demora. E aquele profissional que está no interior percebe logo cedo a oportunidade de entrar em uma grande emissora, sejaela de Rádio, seja de TV. A necessidade da transmissão de vários eventos esportivos pela TV fechada faz a hora e a oportunidade; antes rara, agora está aberta a todos e a todos os estilos e gostos. 8 9 Mesmo a narração por mulheres é um Mercado restrito, mas no qual eu apostaria nos próximos anos. Não deixa de ser um nicho de Mercado interessante. As mulheres têm cada vez mais espaço na Mídia Esportiva e muitas delas entendem do riscado. É fato que o preconceito é grande, mas a barreira aos poucos será quebrada, como também já foi em muitas outras áreas das relações trabalhistas. Enfim, o jogo está aí para ser jogado! E para quem sonha, seja homem, seja mulher, hoje, a tecnologia permite fazer coisas que antes não era possível. Criar um canal de transmissão no Youtube ou montar uma Rádio on-line pode ser o início de uma bela caminhada. Esses canais são também uma espécie de trampolim para o Mercado competitivo que há nos grandes centros. Conheço vários colegas que saíram da web e hoje estão bem empregados em grupos importantes da nossa Mídia: Hoje em dia, não basta apenas que o profissional relate aquilo que está vendo diante dos seus olhos. O narrador necessita ser um ânco- ra das transmissões, saber editar e conhecer bem a competição que está transmitindo. Precisa passar ao torcedor na medida certa, sem esbarrar no histerismo que ocorre com alguns profissionais em épo- cas de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. Mesmo considerando as diferenças entre a narração no Rádio e na TV, uma coisa é comum a ambos os meios: o narrador precisa improvisar. (BARBEIRO; RAN- GEL, 2015, p. 66) A Dicção A dicção é um dos pontos fortes do Narrador Esportivo. O profissional da Área preci- sa ser claro na pronúncia daquilo que fala. E como fala muito rápido, no caso do Rádio, necessita ter habilidade para não deixar as palavras embolarem. Pena que muitas emissoras de Rádio e de Televisão do nosso país não investem no profissional, para que ele faça sessões de fonoterapia em alguns momentos da carreira, porque é o profissional dessa área que vai pontuar uma série de aspectos que irão trazer melhora significativa no uso da fala. No começo da minha carreira, não tinha noção da diferença que o Fonoaudiólogo faria na minha vida. Quando cheguei ao Rádio, em São Paulo, considerava que tinha uma dicção limpa, e de fato era assim, mas precisava melhorar em vários aspectos. Foi como voltar a aprender a falar e as sessões fizeram enorme diferença ao longo da minha caminhada. 9 UNIDADE Técnicas de Narração em TV e Rádio O grupo Globo, tanto no Rádio quanto na TV, sempre prezou pelo cuidado com os profissionais e eu estive em algumas ocasiões em sessões de fonoterapia. Eu precisava saber colocar a voz, dar a entonação certa, aprender a respirar, melho- rar a dicção, enfim, foi uma boa recauchutagem, que recomendo a todos os Jornalistas Esportivos e mesmos àqueles que não sejam. Comunicar-se bem, ser claro, objetivo e preciso é fundamental para o narrador. Destravar a língua, cuidar das cordas vocais e aprender técnicas que forçarão em menor quantidade o aparelho fonador é algo que pode fazer a diferença na sua carreira como Locutor Esportivo. A Respiração A respiração é um componente fundamental na Narração Esportiva de Rádio e de Televisão. A “melodia da transmissão” (altos e baixos na colocação do tom de uma transmis- são – Não podemos narrar um lance na defesa como se ele fosse a bola do jogo) – por assim dizer, tem muita relação com a respiração, que está relacionada ao movimento do diafragma que, no entanto, é tema muito negligenciado pelos narradores esportivos. Poucos profissionais da área, no entanto, têm a exata noção de como esse é um de- talhe que irá trazer mais harmonia para a transmissão de uma partida de Futebol e vai deixá-lo mais íntimo do ouvinte ou do telespectador. A Transmissão Esportiva linear, que tem o mesmo tom o tempo inteiro, cansa o narra- dor e o ouvinte. É algo muito estridente e que certamente compromete a qualidade de uma Transmissão Esportiva. Nesse sentido, é importante que os profissionais da Área, que não tenham a indica- ção de fonoterapia na Empresa, possam investir em algumas sessões para fazer a dife- rença no Mercado de trabalho. O resultado do trabalho com um bom profissional será percebido em pouco tempo. No Material Complementar, existem informações importantes a respeito da respira- ção. Mesmo não sendo algo específico para a Narração Esportiva, vale a pena conferir. As Emoções e a respiração: Ouça a análise da fonoaudióloga Leny Kyrillos, na Rádio CBN. A gente costuma negligenciar muito a respiração e sua importância para a nossa saúde. Do ponto de vista simbólico, respirar é trocar com o meio ambiente. Disponível em: https://glo.bo/2G7npKT 10 11 A Emoção Para quem gosta de Esportes, não há emoção melhor do que ouvir os eventos transmi- tidos pelo Rádio. O narrador tem o poder de mexer com a imaginação do público que o acompanha. Já na TV, a emoção precisa ser bem dosada, por causa das imagens. É preciso entender que a emoção não pode ser contagiante, vez que há uma linha muito tênue nesse sentido e a emoção é a própria alma do Esporte. Cometer exageros na transmissão de Eventos Esportivos pode levar a conflitos éticos. 0Os locutores precisam entender que nem toda partida de Futebol é uma decisão de Copa do Mundo e nem toda a disputa de 100 m rasos é uma prova na qual o locutor pode carregar na emoção, por ter apenas 11 segundos, no máximo, de transmissão, na prova final. É óbvio que o locutor se sente contagiado pelo bastidor do evento. Esse contágio, naturalmente, acontece em momentos marcantes, como a disputa por um título, um clássico, uma decisão de um torneio importante, como no vôlei, no basquete, nos Jogos Olímpicos, na Copa do Mundo, mas também tem o outro lado da moeda. Os locutores são portares de notícias não tão boas. Imagine, a corrida que vitimou o piloto Ayrton Senna. Os locutores ali presentes, Galvão Bueno, pela TV Globo, e Luís Roberto de Múcio, pelo Sistema Globo de Rádio, sabiam que o momento era grave. Ouça o trecho de quando Senna bateu na curva Tamburello, em Ímola, Itália, narrado por Luís Roberto. Disponível em: https://youtu.be/qy-VXpIuIm4 Outras situações como a morte de Serginho, do São Caetano, no Estádio do Morumbi, e a queda de alambrado em um Estádio, como aconteceu em São Januário, entre Vasco da Gama x São Caetano, são situações que mexem com as emoções dos locutores. Nesse aspecto, sai de campo todo aquele clima “festivo”, por assim dizer, e entra um clima de consternação. O locutor precisa saber dosar as emoções para não se contagiar nem numa situação, nem noutra. Nesses casos, é manter a frieza, controlar as emoções e ir atrás da notícia. O telespecta- dor e o ouvinte querem um relato objetivo e fiel aos fatos. Ele, sim, deve tirar as conclusões. Agora, chorar e se sentir abalado por um fato que acontece e não se esperava é natural do ser humano. Hoje, a transparência é total e o público saberá entender. 11 UNIDADE Técnicas de Narração em TV e Rádio Fugindo do Óbvio Os Locutores Esportivos mais tradicionais da TV e do Rádio acabam por ditar um padrão de transmissão, que é copiado pelos mais jovens. Isso acontece nas mais diferentes regiões do Brasil, quando o assunto é Rádio, e também a TV, em âmbito nacio- nal, tem esse poder. Não que um padrão não possa ser copiado. Acredito que esse é o caminho; afinal, determinada figura sempre pode nos inspirar. No meu caso, por exemplo, a grande inspiração, no começo da carreira, quando havia decidido que gostaria de ser narrador esportivo, no Rádio, a grande inspiração foi Luís Roberto, apesar de admirar bastante outros locutores como Osmar Santos, Vanderlei Ribeiro e Paulo Soares. Figura 1 – Com Luís Roberto e Renato Marsglia Fonte: Acervo do Conteudista Eu via no Luís o modelo de transmissão ideal para o Rádio, conhecedor profun- do daquilo que estava transmitindo,com ritmo, colocações e a dose certa de emoção. Ele também inspirava pela desenvoltura com que conduzia a apresentação de Programas Esportivos no Rádio. É evidente que, no começo da carreira, sem as observações pertinentes de um profissio- nal mais qualificado, não seria possível atingir um grau de maturidade suficiente para estar presente em grandes emissoras do país. O mais importante nesse aspecto é ter humildade e reconhecer que é possível crescer a todo momento. A partir desse crescimento, é possível deixar aquele modelo de transmissão que o inspirava para poder imprimir um estilo diferente. Infelizmente, porém, nota-se que muitos profissionais têm copiado outros e, no meio do caminho, sem a devida orientação, acabam por ser uma cópia “fajuta” e mal sucedida daquele que pretendeu copiar. 12 13 Na narração esportiva, principalmente, é preciso inovar e criar. O veículo, por si só, permite que isso seja feito. Na TV, o melhor caminho é fugir do óbvio e saber que existe espaço para um público novo, que busca mais intimidade com aquele que passa a mensagem. Estar bem informado é um diferencial importante, mas, infelizmente, no Rádio, não tem existido, por parte da maioria, o estudo para a transmissão de eventos esportivos. Na TV, os locutores são bem mais preparados e existem equipes de produção que são responsáveis por municiar os locutores com todas as informações relacionadas ao evento que será transmitido. A equipe de apoio é muito maior do que aquela existente no Rádio. A transmissão no Rádio sempre será um sucesso, vez que ela mexe com a imaginação do ouvinte. A transmissão pela Internet (webRádio) tende a se consolidar, principalmente, aquela que tiver transmissão com muita interatividade com o ouvinte. Já a TV precisa criar um modelo que a deixe no topo da pirâmide em ordem de im- portância nas transmissões esportivas. O Improviso O improviso, no Rádio e na TV, na realidade, é um componente básico na transmissão de eventos esportivos. O locutor que improvisa é bem preparado e não faz da transmissão algo que vá colocar em risco a credibilidade dele e da emissora para o qual trabalha. Ao contrário do que a própria palavra diz, improvisar não significa deixar de estar preparado para circunstâncias de uma transmissão. Pelo contrário, é preciso que o narrador seja um conhecedor profundo das regras do jogo, daquilo que está sendo dis- putado, dos atletas que estão em ação e, de maneira geral, do bastidor daquilo que será levado ao público. Improvisar é estudar e praticar. Como o locutor esportivo, tanto na TV como no Rádio, sempre está ao vivo, ele adquire vocabulário e conhecimento pertinente àquilo que será levado ao ar, facilitando o improviso ao longo do tempo. Outra característica importante para a base de um improviso é a visão global sobre o assunto. Não adianta o jornalista se preocupar apenas com o evento e esquecer das consequências que aquilo pode ter pos- teriormente. A locução da derrota de um time, por exemplo, pode mudar radicalmente se aquele placar representar o rebaixamento da equipe em questão. (SCHINNER, 2004, p. 36) Gostaria de trazer mais uma reflexão da fonoaudióloga Leny Kyrillos para enriquecer nosso estudo. Ela não fala exatamente sobre o improviso na Narração Esportiva, mas o que ela fala precisa ser levado a sério e refletido. 13 UNIDADE Técnicas de Narração em TV e Rádio Comunicação de improviso e os perigos dos lugares comuns. Comunicação constrói per- cepção. Expressões batidas e que se repetem constroem uma ideia de falta de repertório. ‘‘Com certeza’’, ‘‘na verdade’’, ‘‘veja bem’’ e ‘‘empoderamento’’ são algumas delas. A ideia é identificar lugares comuns e evitar. O improviso deve ser preparado. https://glo.bo/2G7oAKj As Brincadeiras A descontração é um ponto importante das Transmissões Esportivas, principalmente, no Rádio. O responsável pela coordenação desse ponto é o narrador. Na TV, vez ou outra, acontece, mas é bem menos frequente, porque existe a imagem. Nos dois veículos, no entanto, o narrador precisa ser habilidoso e ter raciocínio rápido para não perder o controle da situação. Geralmente, no Rádio, o locutor está bem entrosado com a equipe com a qual vai trabalhar e, como o trabalho é quase diário, fica mais fácil ajustar a sintonia. O contato e a intimidade entre os profissionais é bem maior. A descontração é uma linha muito tênue e precisa ser feita por quem sabe fazer. Tentar ser engraçado pode comprometer a credibilidade do narrador, do repórter, do comentarista e de quem não fizer com propriedade as colocações no momento certo. Segundo Barbeiro e Rangel (2015, p. 71), “Bom humor só atrapalha em velório. Fora disso é condimento necessário para as transmissões, desde que moderado. O editor- -executivo deve alertar o apresentador se ele estiver se excedendo”. Outro detalhe que chama atenção em muitas transmissões são as brincadeiras de mau gosto. São brincadeiras, muitas vezes internas, do dia a dia da redação, com as quais o ouvinte não está acostumado e, ao ouvi-las, fica sem saber do que realmente se trata. No Rádio, há muitos exemplos. Na TV, isso acontece em menor escala, mas ocorre, principalmente, nos Programas de Debate, nos quais alguns comentaristas querem ser as grandes estrelas do espetáculo. E vira, realmente, um espetáculo teatral, chega a ser cômico, para a tristeza de grande parte da crônica esportiva. Portanto, brincar e descontrair de forma moderada faz parte do jogo e o narrador precisa ter habilidade para conduzir essa situação. Narradores Esportivos: Humor nas transmissões. Disponível em: http://bit.ly/2UDBFp3 A Preparação para a Transmissão O mínimo que se espera do Narrador Esportivo de Rádio e TV é que ele esteja pre- parado para as transmissões e para os programas. 14 15 Atualmente, não há desculpas. A Internet é forte aliada e só não busca conheci- mento quem não quer. Há programas específicos que detalham as condições de jogadores, de times e de campeonatos. Além do Youtube, no qual o narrador pode se ater alguns minutos para conhecer melhor os times, os atletas e as competições. Ainda assim, se tudo isso não funcionar, basta recorrer aos companheiros de reda- ção, aos assessores de Imprensa e aos colegas da Imprensa. O Narrador Esportivo precisa estar muito bem preparado, vez que é a grande estrela da Companhia. Ele fala para milhares de telespectadores e ouvintes e uma colocação errada pode afetar a credibilidade dele e da emissora. Em grandes Veículos de Comunicação, os locutores recebem, ainda, vasto material que trata especificamente do evento que vai ao ar. Mas acredite, apesar de todas essas informações disponíveis, ainda há profissionais que chegam aos locais de transmissão sem nenhuma anotação e/ou conhecimento da- quilo que vão transmitir. A preparação dos locutores esportivos em grandes Veículos de Comunicação está relacionada ao aquecimento vocal. Essa é uma importante tarefa para evitar problemas com as cordas vocais. Você pode afirmar que isso não acontece na maioria dos veículos do interior do Brasil, e vou dizer que é uma grande verdade. Mas saiba que esses heróis que empunham o microfone de Rádios e TVs regionais, muitas vezes, não têm noção de que esse é um aspecto importante. Visitar o fonoaudiólogo é fundamental para que ele oriente o que deve ser feito. Esse profissional, certamente, vai passar uma lista de exercícios que irão melhorar sensivelmente a maneira como o narrador vai lidar com os aspectos ligados à coloca- ção da voz. Ter alinhado com a Coordenação da Emissora e do Departamento de Esportes o que pode ser melhorado em uma transmissão também é papel do narrador. Ser inovador é um bom ponto de partida. Há várias possibilidades, como ser mais in- terativo e sugerir a criação de aplicativo por meio do qual o telespectador/ouvinte possa participar, entre outros. É preciso mais do que nunca que o locutor chame para si a responsabilidade nos canais sociais da Emissorae dele mesmo para o evento que narrará. Poucos têm feito isso de maneira eficaz, porque entendem que, nas Redes Sociais, existem os chamados haters, que disseminam o ódio pela Internet, mas isso precisa ser relevado. O bom gerenciamento da ferramenta só traz benefícios. 15 UNIDADE Técnicas de Narração em TV e Rádio Há também toda a logística que envolve a transmissão de um evento, seja ele in loco, seja off-tube. Nos eventos no próprio local, o locutor precisa de condução. Quando é um jogo na cidade da emissora, ou ele vai com a equipe, ou em condução própria. Fora da cidade, vai com a equipe, com carro alugado, motorista ou de táxi. Off-tube Nas transmissões off-tube, que são aquelas feitas do Estúdio, os narradores ficam em frente a um aparelho de TV e narram pela imagem que recebem. Essas transmissões são feitas devido à economia de custos, pela falta de estrutura dos Estádios ou mesmo pela segurança dos jornalistas. É evidente que a transmissão via estúdio descaracteriza totalmente uma Jor- nada Esportiva. A frieza é a palavra que melhor define esse tipo de transmissão, vez que não existe contato com o público, não se tem o panorama de todo o Campo de Jogo – e não estou falando só de Futebol – e também o jornalista fica notadamente frustrado pelo fato de ter de transmitir no Estúdio; afinal de contas, a graça é estar presente no evento. Mas são ossos do ofício. O locutor na transmissão do Estúdio precisa estar atento para não cometer erros, que serão bem mais naturais do que se ele estivesse no lugar do evento. Ver o jogo pela TV não é garantia de saber qual é o jogador que está com a posse de bola ou quem fez o gol, por exemplo. No Estádio, é quase uma obrigação, e nos momentos de dificuldade, recorre à cor do cabelo, da chuteira e a algum detalhe que ficou marcante para ele durante o jogo. Enfim, o off-tube é um limitador. Narração offtube: verdades sobre a prática. Disponível em: http://bit.ly/2GlKARZ A Grande Estrela da Companhia Não há dúvidas de que o narrador é a grande estrela de uma Equipe Esportiva. Nas décadas passadas, no Rádio, eles notadamente tinham uma importância ímpar, que foi se perdendo com o advento das novas Tecnologias, mas ainda são capazes de colocar brilho nos olhos e mexer com a emoção de milhares de pessoas. Com lingua- gem única, atraía em torno do Rádio uma multidão de pessoas ávidas por ouvir uma partida de Futebol. 16 17 Mais recentemente, assim como na TV, os narradores também passaram a exercer a função do âncora, que é o profissional que apresenta um Programa/Transmissão de Futebol e aciona os principais repórteres e membros de uma Equipe Esportiva. A TV ganhou muita importância de 20 anos para cá, e isso fez com que os narra- dores dos canais abertos e dos fechados, naturalmente, ocupassem lugar de destaque na Mídia Esportiva. Alguns têm grande relevância, como os da Rede Globo de Televisão (Galvão Bue- no, Cléber Machado, Luís Roberto), até pelo que representa a Emissora no cenário esportivo atual. Ela é grande detentora dos direitos de transmissão das principais competições mundiais. Luciano do Valle, Sílvio Luís, Jota Júnior, Marco Antônio, Luís Alfredo, Geraldo José de Almeida, Fernando Solera e Joseval Peixoto também tiveram/têm grande im- portância no cenário da Narração Esportiva do Brasil. 17 UNIDADE Técnicas de Narração em TV e Rádio Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Manual de Redação CBN TAVARES, Mariza. Manual de Redação CBN. São Paulo: Globo, 2011. História do Lance!, Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo STYCER, Maurício. História do Lance!, Projeto e prática do jornalismo esportivo. Ala- meda, 2015. Manual dos Locutores Esportivos SHINNER, Carlos Fernando. Manual dos Locutores Esportivos. São Paulo: Panda Books, 2004 Leitura Desafios do Jornalismo na Era dos Megaeventos Esportivos http://bit.ly/2GgLRtv 18 19 Referências BARBEIRO, H; RANGEL, P. Manual do Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2006. (E-book). COELHO, P. V. Jornalismo Esportivo. 4.ed. São Paulo: Contexto, 2011. (E-book). OYAMA, Thaís. A arte de entrevistar bem. São Paulo: Contexto, 2017. SHINNER, Carlos Fernando. Manual dos Locutores Esportivos. São Paulo: Panda Books, 2004 19