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Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX HEMATOPATOLOGIA LINFOMA DE HODGKIN Conceitualmente, linfoma de Hodking é a proliferação de células atípicas denominadas células de Reed-Sternberg (RS) – também chamada de célula diagnóstica – ou de suas variantes em meio a substrato celular de aspecto inflamatório (geralmente linfócitos T). Em linfomas, principalmente linfonodais, quando for visualizado na biopsia que o linfonodo possui alteração de sua arquitetura normal (folículos linfoides com centro germinativo) inicia-se a suspeita de lesão proliferativa atípica e aí o patologista começa a procurar as células RS. Se forem visualizadas, sugere-se linfoma de Hodgkin. Porém, a ausência delas não é suficiente para destacar esse diagnóstico. Após a identificação dessa estrutura, é necessário fazer imunohistoquímica para subclassificar os linfomas. Morfologicamente, as células de Reed-Sternberg são muito grandes com citoplasma amplo, bi ou nucleada com nucléolo evidente e eosinofílico, se assemelhando a um olho de coruja. Além dessa célula, podem estar presentes células mononucleadas com nucléolo evidente chamadas de células de Hodgkin. Quando falamos que a célula é grande, estamos comparando com o tamanho de um linfócito normal. Figura 1 – Célula de Hodking Os linfomas de Hodgkin se originam de células linfoides B. Representam 1/3 de todos os linfomas. No Brasil, o pico de incidência é aos 30 anos de idade porém ele pode estar presente desde antes de 10 anos de idade. Geralmente a disseminação é por contiguidade sendo comum o comprometimento de cadeias vizinhas (cervicais, supraclaviculares e mediastinais*). Além disso, pode ter associação com infecção pelo Epstein Barr vírus principalmente em crianças e imunossuprimidos. *O acometimento mediastinal está presente apenas nos linfomas deHodgkin clássicos. Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX A tabela abaixo mostra as principais diferenças entre linfomas Hodgkin e Não Hodgkin. Linfoma de Hodgkin Linfoma não Hodgkin Progressão da doença Inicio mais frequente em linfonodos cervicais, progredindo por contiguidade. A progressão da doença não se faz necessariamente por contiguidade, podendo ocorrer acometimento sistêmico já ao diagnóstico, inclusive leucemização*. Localização do tumor primário Quase sempre nos linfonodos; acometimento extranodal significa tumor secundário. Não é infrequente o acometimento primário de órgãos extranodais, o que ocorre em até 40% dos casos; os sítios extranodais mais frequentes são estômago, anel de Waldeyer e pele. Estádio ao diagnóstico Mais frequentemente I e II. Depende do tipo histológico: nos linfomas indolentes e altamente agressivos, frequentemente no estádio IV; nos agressivo, estádios I, II ou III. Distribuição etária A partir de 10 anos, com pico aos 30 anos; a partir daí decresce. Distribuem-se por todas as faixas etárias, segundo o tipo histológico: linfomas indolentes acometem faixa etária mais avançada; os altamente agressivos atingem mais crianças e adultos jovens; os agressivos podem ocorrer em crianças e jovens, mas predominam em adultos mais velhos. Comprometimento do mediastino Relativamente frequente, sendo a forma esclerose nodular a principal. Raro, presente consistentemente nos tipos que se originam no timo: linfoma linfoblástico T/leucemia linfoide aguda T e linfoma de grandes células B primário do mediastino. *Leucemização: presença de células neoplásicas na corrente sanguínea. Isso muda o estadiamento e piora o prognóstico. Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Na classificação histológica os dois grandes grupos apresentam a célula RS com características morfológicas e imunofenotípicas diferentes. Os grupos são: Linfoma de Hodgkin clássico: marcador CD45 -, CD 30 e CD15 +. ∟ Esclerose nodular. ∟ Celularidade mista. ∟ Depleção linfocitária. ∟ LH rico em linfócitos. Linfoma de Hodgkin com predominância linfocitária nodular: CD20 e CD45 +. A tabela abaixo expõe uma diferença básica entre os dois grandes grupos histológicos. LH COM PREDOMINÂNCIA NODULAR LH CLÁSSICO DISTRIBUIÇÃO ETÁRIA Unimodal, principalmente em homens jovens. Unimodal. LOCAL COMPROMETIDO Principalmente linfonodos cervicais e ausente no mediastino. Linfonodos cervicais, mediastino, abdome e baço. ESTÁDIO AO DIAGNÓSTICO Geralmente estádio I Estádios variados, dependendo do tempo de doença. SINTOMAS B < 20% > 40% Sintomas B: febre, sudorese, emagrecimento de pelo menos 10% do peso nos últimos 6 meses. Além do estadiamento que é feito em relação ao tempo de doença, sempre será visualizado na frente do linfoma letra A ou B significando a presença ou a ausência de sintomas B, além da presença do número indicativo do estadiamento. O A quer dizer ausência de sintomas B, enquanto que a letra B indica a presença deles. Esses sintomas indicam pior prognóstico. De maneira geral, clinicamente nos linfoma de Hodgkin haverá aumento de um único grupo de linfonodos, geralmente na região cervical. Em jovens, é comum o Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX acometimento do mediastino, geralmente no tipo esclerose nodular. Na macroscopia, independente do subtipo estudado, os linfonodos apresentam superfície de corte homogênea e com consistência macia e na medida em que a lesão progride há aumento de proliferação fibrosa e o linfonodo fica mais firme. Além disso, as áreas de necrose faz com que esses linfonodos fiquem aderidos. Linfoma de Hodgkin com predominância linfocitária nodular Pode acometer qualquer faixa etária, porém o pico de incidência é na 4ª década de vida (30 e 40 anos de idade) e é mais frequente em homens. Na microscopia há intensa proliferação de linfócitos pequenos com distribuição vagamente nodular, em meio a células linfocíticas-histiocíticas (células inflamatórias do tipo linfócitos e histiocitos). Nesse caso não há associação com o Epstein Barr vírus. Esse grupo não é considerando um clássico porque ele não tem manifestações que são típicas do grupo de linfoma de Hodgkin. Linfoma de Hodgkin clássico a) Esclerose nodular É o tipo de LH mais comum. Ele acomete adultos jovens e crianças. Na microscopia haverá proliferação de faixas de tecido fibroso rico em colágeno (colagênico) delimitando nódulos celulares irregulares compostos por linfócitos, eosinofilos, plasmocitos e células RS. As células inflamatórias permeiam as células atípicas (RS). Abaixo, as regiões mais eosinofílicas são os feixes fibrosos colagênicos delimitando porções nodulares. No interior estão os linfócitos, eosinofilos, plasmocitos e células RS. Figura 2 – Microscopia esclerose nodular Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX b) Celularidade mista É o 2º tipo mais comum, sendo o que o mais se associa ao Epstein Barr vírus. Na microscopia haverá um aspecto celular heterogêneo com numerosos eosinófilos, plasmócitos, neutrófilos e macrófagos, menor número de linfócitos e grande quantidade de RS. Pode ou não apresentar fibrose difusa e irregular sem a formação de feixes. É o tipo que mais se associa ao Epstein Barr vírus. c) Depleção linfocítica É o menos comum. Há infiltrado inflamatório, mas ele não possui linfócitos por isso dizemos que ocorre uma depleção linfocitária associada a um grande número de RS pleomórficas. Assim, o tumor é composto de mais células atípicas do que células inflamatórias. A depleção de linfócitos faz com que o paciente fique imunocomprometido. Isso o caracteriza como o de pior prognóstico já que a pessoa apresenta risco aumentado para infecções. d) Rico em linfócitos É pouco frequente. Na microscopia haverá proliferação nodular ou difusa de linfócitos pequenos em meio a RS clássicas. → O que muda de um tipo de tumor para outro é a proporção entre células RS e célulasinflamatórias, além do tipo de células inflamatórias presentes. LINFOMA NÃO HODGKIN É bastante prevalente na população e alguns deles são muito agressivos. Inclui tanto os que se iniciam como tumores (linfomas) como os que são detectados pelo encontro de células malignas circulantes (leucemias linfoides). Importante lembrar que uma neoplasia que se inicia como tumor sólido pode leucemizar, porém isso é mais frequente em linfoma não Hodgkin do que no LH. Ele pode se infiltrar para medula óssea e/ou baço, assim sempre que se faz diagnóstico de linfoma é preciso fazer biopsia de medula óssea para avaliar se há ou não acometimento. → Qual a diferença entre linfoma e leucemia? No linfoma as células atípicas formam um tumor solido, enquanto que na leucemia essas células atípicas estão circulantes no organismo. Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Além disso, pode haver aumento volumétrico indolor de um ou mais linfonodos de qualquer cadeia. Geralmente no LH começa em cadeia cervical e, por contiguidade, se estende. No caso do não Hodgkin não há regra nesse acometimento linfonodal. Macroscopia: no início da doença ainda não há aderência entre os linfonodos e eles são bem separados e possuem consistência elástica. A medida que a doença progride, os linfonodos são fundidos entre si e ficam aderidos aos tecidos vizinhos, formando massas volumosas e com consistência elástica. Aos cortes, eles apresentam coloração branco-acinzentada, homogênea e com aspecto de “carne de peixe” pela presença de áreas friáveis. A divisão dos linfomas pode ser feita de acordo com os aspectos clínicos da lesão. Dependendo do aspecto clínico os tumores são englobados de acordo com o tipo histológico. Por exemplo, dentro de linfomas indolentes há alguns subtipos histológicos e no altamente agressivo há outros subtipos. A divisão clínica é feita em: Linfomas indolentes: ∟ Acometem idosos. ∟ Curso arrastado que progride lentamente. ∟ REGRA: ao diagnóstico já estão disseminados, por vezes até leucemizados. ∟ Pela baixa taxa de proliferação, eles apresentam péssima resposta à terapêutica. ∟ Pode-se cogitar conduta expectante. ∟ Subtipos histológicos: linfoma folicular e linfoma MALT. Linfoma MALT: é o linfoma associado a mucosa. Como exemplo clássico, temos o do estômago causado por H. pylori que pode ser de baixo ou de alto grau. O de baixo grau pode ser tratado com antibiótico. ∟ Micro: células neoplásicas com aspecto de linfócitos maduros e poucas mitoses. Linfomas agressivos: ∟ Acometem mais adultos, mas podem incidir em qualquer idade. ∟ O curso da doença é agressivo, assim o tratamento é necessário visto que leva ao óbito em pouco tempo. ∟ A leucemização ao diagnóstico não é comum. Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX ∟ Respondem bem à QT agressiva. ∟ Outras opções terapêuticas: transplante de medula óssea e uso de anticorpos humanizados. ∟ Subtipo histológico: linfoma difuso de grandes células B. ∟ Micro: células neoplásicas volumosas, maiores do que um linfócito maduro e se assemelham ao tamanho de blastos ativados do centro germinativo. Além disso, as mitoses são frequentes. Linfomas altamente agressivos: ∟ Ocorre principalmente em crianças. ∟ Curso altamente agressivo com óbito em poucas semanas ou meses. ∟ A medula óssea é frequentemente acometida ao diagnóstico. ∟ Pode haver comprometimento do SNC e, nesse caso, o tratamento é prolifático. ∟ Respondem à terapêutica altamente agressiva no primeiro plano de tratamento. ∟ O transplante de medula óssea é uma opção terapêutica. ∟ Subtipo histológico: linfoma de Burkitt. ∟ Micro: células neoplásicas com tamanho intermediário em relação aos dois grupos anteriores. As mitoses são muito frequentes. Linfoma folicular É um tipo de linfoma indolente. É o 2º tipo mais frequente de LNH no Brasil em pacientes idosos, em torno de 60 anos e não há predileção por gênero. Tem origem nas células linfoides B do centro germinativo. Ao diagnóstico, o paciente apresenta aumento progressivo de linfonodos periféricos e centrais (abdominais e torácicos), podendo se associar à esplenomegalia (leucemização pelo baço). Em 70% dos casos, a medula óssea está infiltrada. O diagnóstico é confirmado pela imunohistoquímica por meio da hiperexpressão de BCL2, que anti-apoptótico. Como esse marcador está com sua expressão aumentada, significa que não há apoptose nas células e o tumor é imortal. Assim, dizemos que nesse subtipo histológico está relacionado com redução da apoptose de células do centro germinativo por translocação t (14;18). Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX A clínica é de evolução lenta e geralmente é incurável. Cerca de 25 a 50% dos casos pode evoluir para linfoma difuso de grandes células B. O aspecto morfológico é o mesmo dos linfomas indolentes: células neoplásicas com aspecto de linfócitos maduros que se arranjam em aspecto nodular e poucas mitoses. Figura 3 – Linfoma folicular Linfoma difuso de grandes células B (LDGB) É um tipo de linfoma agressivo. É o linfoma mais comum, representando 30 a 40% de todos os linfomas não Hodgkin do Brasil. A média de acometimento é a 6ª década de vida, a partir dos 50 anos de idade. Tem origem nas células centrofoliculares ou nas células B ativadas pós-centro germinativo. Possui enorme variação morfológica, imunofenotípica e prognóstica. Clinicamente o paciente apresenta uma massa localizada – nodal ou extranodal – de crescimento rápido com ampla distribuição anatômica e etária. O acometimento extranodal pode ser: mucosa gástrica, anel de Waldeyer, baço e medula óssea. Como todo linfoma agressivo, na microscopia haverá proliferação de grandes células blásticas com cromatina frouxa, nucléolos evidentes e citoplasma basofilico. As células podem apresentar de 3 a 4x o tamanho do linfócito maduro. Figura 4 – LDGB Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Linfoma de Burkitt É a neoplasia originária de linfócitos B maduros do centro germinativo. É mais comum em crianças e adultos jovens, principalmente homens. No Brasil, a forma esporádica é frequente, sendo mais comum no TGI principalmente na região da válvula ileocecal e em 70% está associado a infecção pelo Epstein Barr vírus. Ele faz parte do grupo de linfomas altamente agressivos, mas respondem bem à quimioterapia em primeiro plano terapêutico. A linfonodomegalia cervical é comum em áreas endêmicas como a África. Microscopia: proliferação de células linfoides de tamanho médio, monomórficas com núcleos redondos e pequenos nucléolos. O citoplasma é basofílico e apresenta numerosos microvacúolos. Há alto índice mitótico e entre as mitoses atípicas, há macrófagos com corpos tingíveis (citoplasma claro, núcleo grande e cromatina frouxa) formando o aspecto em “céu estrelado”. O azul escuro do céu a noite são as células linfocíticas (neoplásicas) e as estrelas são os macrófagos com corpos tingidos. Na imunohistoquímica, o linfoma de Burkitt é CD20 +, CD10 +, BCL6 +, BCL2 -. Além disso, como estão associados à infecção pelo Epstein Barr vírus o genoma dele pode estar presente. Geralmente, ocorre translocação dos cromossomos 8 e 14 no gene MYC e isso também pode ser observado na pesquisa genética e molecular. Figura 5 – Aspecto de céu estrelado do linfoma de Burkitt O prognóstico dos linfomas em geral depende do estadiamento, da existência de manifestações clínicas e da presença ou ausência de grandes massas tumorais. O estadiamento está relacionado na tabela a seguir. Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX ESTADIAMENTO I: acometimento de apenas 1 linfonodo acima do diafragma. II: acometimento de mais de um linfonodo acima do diafragma. III: acometimento linfonodal acima e abaixo do diafragma. IV: leucemização – acometimento de medula óssea e/ou baço. A suspeita diagnóstica seinicia pela clínica, depois se faz biopsia com anatomopatológico. Em seguida, é preciso realizar a imunohistoquímica e a pesquisa genética para confirmar a suspeita. Assim, o diagnóstico requer uma biopsia adequada e ele deve ser confirmado antes de iniciar o tratamento. É necessário representação de tecido suficiente para avaliar as células e o padrão arquitetural. Essa biopsia pode ser aberta, fechada ou PAAF. A PAAF não é a melhor opção porque nela se faz avaliação citológica e não histológica: avalia aspectos celulares sem avaliação do padrão arquitetural. Caso o linfonodo periférico/superficial seja acometido, é ideal que se faça a ressecção dele todo.
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