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Doença pulmonar obstrutiva crônica Introdução: • Definição: ↪ É um termo que abrange uma série de condições patológicas que têm em comum a obstrução não totalmente reversível ao fluxo aéreo. • Doença comum, evitável e tratável. • Sintomas respiratórios persistentes e limitação do fluxo aéreo devido a obstrução das vias aéreas e/ou anormalidades alveolares geralmente causadas por exposição significativa a partículas e gases nocivos. • Limitação crônica do fluxo aéreo = mistura de doenças: ↪ Doenças das pequenas vias aéreas: bronquiolite obstrutiva, por exemplo. ↪ Destruição do parênquima: enfisema, por exemplo. • Inflamação crônica → alterações estruturais + estreitamento das pequenas vias aéreas + destruição do parênquima pulmonar. ↪ Disfunção mucociliar. • Síndrome descrita por 2 situações raramente observadas isoladamente: ↪ Enfisema pulmonar: aumento permanente e anormal dos espaços aéreos distais aos bronquíolos terminais, acompanhado de destruição de suas paredes, sem fibrose óbvia. Diagnóstico histopatológico! ↪ Destruição do parênquima: tosse produtiva por mais de 3 meses, durante 2 anos consecutivos. Causada por hipersecreção de muco, não necessariamente com obstrução ao fluxo aéreo. • Perda do VEF1 por ano: 15 a 30mL em pessoas normais. • Pacientes DPOC: perda anual aumentada em 2 a 5 vezes. Somente em 15% dos pacientes que fumam → indicação de envolvimento de componentes genéticos. • Asma + obstrução do fluxo aéreo completamente reversível: não possuem DPOC (9). • Asma + obstrução do fluxo aéreo sem remissão completa: possuem DPOC (6, 7, 8). • Bronquite crônica e enfisema + obstrução do fluxo aéreo (5) e se tiver asma (8). • Asma + tosse produtiva crônica = “bronquite asmática” (6). IESPC I • Bronquite crônica, enfisema ou ambas + não obstrução do fluxo aéreo: sem DPOC (1, 2, 12). • Obstrução ao fluxo aéreo com etiologia conhecida ou patologia específica: não possuem DPOC (10). Patologia: • O padrão de alterações patológicas depende: ↪ Padrão de alterações da doença subjacente (ex: bronquite crônica, enfisema); ↪ Suscetibilidade individual; ↪ Gravidade da doença; • Vias aéreas: ↪ Inflamação crônica (desbalanço entre as proteases lesivas ao epitélio respiratório e as antiproteases). ↪ Elastase, proteinase 3 e catpsina: proteases liberadas por polimorfonucleares e macrófagos → destruição do tecido conectivo = produção de enfisema. ↪ Elastase = inibida pela alfa-1-antitripsina. ↪ Aumento no número de células caliciformes. ↪ Hiperplasia das glândulas mucosas. ↪ Fibrose. ↪ Estreitamento e redução do número de pequenas vias aéreas. ↪ Colapso das vias aéreas devido à perda de amarração causada pela destruição da parede alveolar no enfisema. ↪ Presença de linfócitos T CD8+, neutrófilos e monócitos/macrófagos nas vias aéreas (difere da asma = predomínio de eosinófilos). • Parênquima pulmonar: ↪ Estruturas ditais ao bronquíolo terminal são afetadas (bronquíolo respiratório, ductos alveolares, sacos alveolares e alvéolos – conhecidos coletivamente como acinos). ↪ Parênquima pulmonar = estruturas distais ao bronquíolo terminal + capilares + interstício. ↪ Pneumotórax espontâneo em adultos jovens. • Vasculatura pulmonar: ↪ Hiperplasia íntima. ↪ Hipertrofia/hiperplasia do músculo liso (devido à vasoconstrição hipóxica crônica das pequenas artérias pulmonares). ↪ Perda das áreas associadas do leito capilar e à poda da vasculatura distal. • Alterações nos pacientes com DPOC: ↪ Aumento do volume residual e da capacidade residual funcional. ↪ Progressiva disfunção diafragmática devido à retificação da cúpula, o que pode levar a uma desvantagem mecânica na ventilação. ↪ Aumento da capacidade pulmonar total e, frequentemente, redução da capacidade vital. ↪ Vasoconstrição arterial pulmonar devido à hipoxemia, com aumento na pressão da artéria pulmonar. ↪ Endotélio com síntese diminuída de NO – deficiência da NO-sintase (efeito vasodilatador pouco significativo). ↪ Hipóxia + hipercapnia = aumento dos níveis de catecolaminas, renina e aldosterona → retenção de sal e água. ↪ Hipóxia + aumento do trabalho respiratório (diminuição da força da musculatura respiratória) + níveis aumentados de citocinas e TNF-β = perda significativa de peso (caquexia). Avaliação clínica: • Tabagismo: ↪ Fator de risco mais importante. ↪ Quantidade e duração contribuem para a gravidade da doença. ↪ Determinar a carga tabágica do paciente! ↪ Carga tabágica significativa > 10 anos-maço. ↪ Carga tabágica > 40 anos-maço de tabagismo = obstrução ao fluxo de ar na espirometria. • Outros fatores de risco: ↪ Fumaça passiva. ↪ Uso de combustível de biomassa. ↪ Trabalhadores de carvoaria ↪ Histórico de asma. ↪ Exposição a vapores ou pós orgânicos ou inorgânicos. ↪ Genética: deficiência de alfa-1-antitripsina. • Sintomas: ↪ Dispneia. Classificação do Medical Reserach Council (MRC) modificada de dispneia (mMR) Graus de dispneia Esforço físico 0 “Tenho falta de ar para realizar exercício intenso” 1 “Tenho falta de ar quando apresso o passo ou subo escadas ou ladeira” 2 “Preciso parar algumas vezes quando ando no meu passo ou ando mais devagar que outras pessoas da minha idade” 3 “Preciso parar muitas vezes por falta de ar quando ando perto de 100m ou poucos minutos de caminhada no plano” 4 “Sinto tanta falta de ar que não saio de casa, ou preciso de ajuda para me vestir ou tomar banho” ↪ Tosse crônica, tanto seca quanto produtiva. Início insidioso da produção de escarro, que ocorre inicialmente pela manhã, mas pode progredir ao longo do dia. ↪ Produção de escarro. Geralmente é mucoide, mas torna-se purulento durante as exacerbações. ↪ Infecção recorrente do trato respiratório inferior. ↪ Sintoma inicial mais comum: dispenia ao esforço. Eventualmente se torna visível com progressivamente menos esforço ou em repouso. ↪ Sintomas menos comuns: chiado e aperto no peito. ↪ A manhã geralmente é a pior hora do dia. ↪ Maioria dos pacientes: sobrepeso ou obesidade. ↪ Perda de peso: doenças mais avançadas = pior prognóstico. • Exame físico: ↪ No início da doença, em formas leves e moderadas, pode se normal ou mostrar apenas uma expiração prolongada ou chiado na expiração forçada. ↪ Hiperinsuflação (ressonância aumentada à percussão). ↪ Murmúrio vesicular fisiológico diminuído. ↪ Sibilos. ↪ Taquipneia. ↪ Taquicardia. ↪ Roncos difusos. ↪ Crepitações nas bases pulmonares. ↪ Sons cardíacos distantes (bulhas abafadas). ↪ Aumento do diâmetro anteroposterior do tórax (tórax em tonel). ↪ Diafragma deprimido com movimento limitado (percussão torácica). ↪ Uso de músculos respiratórios acessórios do pescoço e cintura escapular. ↪ Achados de cor pulmonale: edema de membros inferiores, hepatomegalia dolorosa, bulha pulmonar (P2) hiperfonética e palpável, sopro de insuficiência tricúspide. ↪ Expiração pelos lábios franzidos. ↪ Cianose e pletora podem surgir mais tardiamente. ↪ Distensão das veias do pescoço = aumento da pressão intratorácica, especialmente durante a expiração. Testes de função pulmonar: • Pedra angular da avaliação diagnóstica de pacientes com suspeita de DPOC. • Determinar a gravidade da limitação do fluxo aéreo, avaliar a resposta aos medicamentos e acompanhar a progressão da doença. • Espirometria: ↪ Antes e após a administração de broncodilatador. ↪ Avaliar se a limitação do fluxo de ar está presente e se é parcial ou totalmente reversível. ↪ DPOC: limitação do fluxo de ar irreversível ou apenas parcialmente reversível com broncodilatador. ↪ Somente em pacientes com sintomas sugestivos. ↪ Valores mais importantes: VEF1 (volume expiratório forçado no primeiro segundo) e CVF (capacidade vital forçada). ↪ Relaçãopós-broncodilatador do VEF1/CVF: determina se a limitação do fluxo aéreo está presente. ↪ VEF1/CVF pós-broncodilatador < 0,70 OURO: Gravidade da limitação do fluxo aéreo (com base no VEF1 pós-broncodilatador) Etapa Gravidade VEF1 (porcentagem prevista) Em pacientes com VEF1/CVF < 0,7 GOLD 1 Leve ≥ 80 GOLD 2 Moderado 50 a 79 GOLD 3 Forte 30 a 49 GOLD 4 Muito severo < 30 Radiografia de tórax: • Pode ser normal em formas leves de DPOC. • Não é útil para definir ou afastar o diagnóstico da doença. • Pode revelar diagnósticos associados ou diferenciais. • Importante para pacientes com exacerbação = obrigatória nessa situação. • Principais achados no RX para estabelecer diagnóstico de DPOC: ↪ Retificação do diafragma (sensibilidade de 30 a 40% e especificidade de 87%). ↪ Aumento do espaço retroesternal e retrocardíaco (sensibilidade de 32% e especificidade de 85 a 93%). ↪ Aumento do espaço retrocardíaco (sensibilidade de 23 a 29% e especificidade de 89 a 95%); ↪ Aumento do espaço entre as costelas. ↪ Sinais de hipertensão pulmonar. Eletrocardiograma: • Pode mostrar sinais de hipertensão pulmonar. • Onda P apiculada em DII, desvio do eixo para direita → indício de DPOC muito grave. • Durante exacerbação podem ser observadas arritmias atriais, sendo a taquicardia atrial multifocal a mais característica. Tomografia computadorizada de tórax: • Habitualmente desnecessária para diagnóstico e não deve ser solicitada de rotina. • Achado de enfisema, mas não define diagnóstico. ↪ Enfisema acinar proximal (centrolobular) = dilatação ou destruição anormal dos bronquíolos respiratórios. Associada ao tabagismo e trabalhadores de carvão. ↪ Enfisema acinar distal (paraseptal): ductos alveolares são predominantemente afetados. Sem relação com tabagismo e sem significado patológico. ↪ Enfisema paracinar (panlobular): aumento ou destruição de todas as partes do acino. Comum em deficiência de alfa-1-AT. Gasometria arterial: • Alterações relevantes da troca gasosa aparecem em fase avançada da DPOC.= exame dispensável na maioria das vezes. • Indicada para avaliar a gravidade da doença em pacientes com spO2 < 92%. • Hipercapnia surge em fase bem mais avançada. Diagnóstico diferencial: • DPOC: ↪ Surgimento na meia-idade. ↪ Sintomas paulatinamente progressivos. ↪ Longa história de fumo. ↪ Dispneia durante exercício. ↪ Limitação de fluxo aéreo amplamente irreversível. • Asma: ↪ Surgimento no início da vida, frequentemente na infância. ↪ Sintomas que variam de um dia para outro. ↪ Sintomas à noite e/ou de manhã cedo. ↪ Alergia, rinite e/ou eczema. ↪ História familiar de asma. ↪ Limitação do fluxo aéreo amplamente reversível. • Insuficiência cardíaca congestiva: ↪ Estertores crepitantes finos nas bases à ausculta. ↪ Radiografias de tórax que revelam cardiomegalia e edema pulmonar. ↪ Testes de função pulmonar que indicam restrição do volume, e não limitação do fluxo aéreo. • Bronquiectasia: ↪ Grande quantidade de expectoração purulenta. ↪ Comum associação à infecção bacteriana. ↪ Supuração crônica mais marcante. ↪ Estertores crepitantes grosseiros à ausculta/baqueteamento digital. ↪ Radiografias de tórax/tomografia que revelam dilatação brônquica e espessamento da parede brônquica. • Tuberculose: ↪ Surgimento em qualquer idade. ↪ Radiografias de tórax que revelam infiltração pulmonar ou lesões cavitadas. ↪ Confirmação microbiológica. ↪ Alta prevalência local de tuberculose. • Bronquiolite obliterante: ↪ Surgimento em indivíduos mais jovens, não fumantes. ↪ Possível história de artrite reumatoide ou colagenose. ↪ Tomografia com achado de mosaico respiratório acentuado na fase expiratória. • Panbranquiolite difusa: ↪ Predomina em asiáticos. Homens não tabagistas com sinusite crônica. ↪ Imagem com pequenos nódulos centrolobulares difusos e Hiperinsuflação. Classificação de risco: • GOLD gradação 1-4 + Grupo A-D. • Primeiro passo: ↪ Espirometria: VEF1/CVF pós-broncodilatador < 0,70. • Segundo passo: ↪ Avaliar a limitação do fluxo aéreo: • Segundo passo: ↪ Avaliar sintomas e risco de exacerbações: História de exacerbação moderada/grave ≥ 2 ou ≥ 1 hospitalização C D 0 a 1 e nenhuma hospitalização A B MMRC 0-1 CAT < 10 MMRC ≥ 0-1 CAT ≥ 10 Tratamento não farmacológico: • Abandonar o hábito de fumar! ↪ Medidas farmacológicas (bupropiona, terapia de reposição de nicotina e vareniclina ou combinação destas). ↪ Medidas não farmacológicas (exercícios, psicoterapia etc). • Indicar vacina anual para influenza e a cada 5 anos para pneumococo. • Indicar reabilitação pulmonar para os pacientes com sintomas persistentes, de classificação B, C e D. • Ensinar o paciente a utilizar e a se familiarizar com o dispositivo inalatório indicado. • Suplementação nutricional para pacientes desnutridos. • Atividade física regular. Tratamento farmacológico: • Objetivo principal das medicações: melhorar a qualidade de vida dos pacientes. • Broncodilatadores, glicocorticoides, metilxantinas e agentes anti-inflamatórios. • Broncodilatadores inaladas (beta-2-agonista e anticolinérgicos) são os personagens principais no DPOC. • Broncodilatadores de curta duração: ↪ Terapia de resgate. ↪ Indicado para todos os pacientes com DPOC. ↪ Mais recomendado o uso sob demanda. ↪ Beta-agonistas são os broncodilatadores mais efetivos no controle da Hiperinsuflação dinâmica da DPOC. ↪ Uso concomitante de anticolinérgicos sempre é recomendado. ↪ Beta-agonistas: 1. Salbutamol: atua preferencialmente nos receptores beta-2, ativando a adenilciclase e aumentando o AMP cíclico. Esse aumento causa relaxamento da musculatura brônquica e inibição da liberação de mediadores inflamatórios nos mastócitos. a. Aerossol: dose usual de 200 a 400 µg, com intervalo de 4 a 6 horas. No pronto- socorro: 200 a 400 µg a cada 20 min na primeira hora. b. Nebulização: de 10 a 20 gotas diluídas em 3 a 5ml de soro fisiológico, com intervalo de 4 a 6 horas. No Brasil, é a apresentação mais usada. 2. Fenoterol: tem índice de efeitos adversos um pouco maior do que o salbutamol. a. Aerossol: dose usual de 200 a 400 µg, com intervalo de 4 a 6 horas. No pronto- socorro: 200 a 400 µg a cada 20 min na primeira hora. b. Nebulização: de 10 a 20 gotas diluídas em 3 a 5ml de soro fisiológico, com intervalo de 4 a 6 horas. ↪ Anticolinérgicos: 1. Brometo de ipratrópio: diminui a ação da acetilcolina nas fibras pós-gangliônicas muscarínicas (M1 e M3) que terminam no epitélio, glândulas submucosas e musculatura lisa das vias aéreas, reduzindo assim o tônus broncoconstritor. a. Aerossol: dose usual de 2 a 3 puffs, de 400 a 600 µg com intervalo de 4 horas. b. Nebulização: de 20 a 40 gotas diluídas em 3 a 5ml de soro fisiológico, com intervalo de 4 a 6 horas. • Broncodilatadores de longa duração: ↪ Beta-agonistas – Long-acting beta-agonists (LABA): em linhas gerais, têm semelhanças com o salbutamol, o fenoterol ou a terbutalina inalatórios, exceto pela maior duração de ação, que é de 12 horas para o formoterol e o salmeterol e de 24 horas para o indacaterol, vilanterol e olodaterol. Todos são utilizados por via inalatória, 2 vezes ao dia para formoterol e salmeterol e 1 vez para os demais. ↪ Anticolinérgicos – Long-acting muscarinic antagonists (LAMA): são exemplos o tiotrópio, o glicopirrônio e o umeclidínio. Todos utilizados por via inalatória e agem por cerca de 24 horas, necessitando apenas de uma tomada diária. Não tem utilidade no tratamento dos sintomas agudos, apenas como fármaco de manutenção. • Terapia broncodilatadora combinada – LABA + LAMA: ↪ Permite aumento do grau de broncodilatação e menor efeito colateral quando comparada com a monoterapia em alta dose.↪ LABA + LAMA aumenta a VEF1, reduz exacerbações e reduz sintomas quando comparado a monoterapia. • Corticoides inalatórios: ↪ Uso mais restrito no manejo da DPOC (mesmos fármacos da asma). ↪ Eram utilizados em pacientes com exacerbações repetidas e VEF1 < 50%. ↪ Atualmente: risco aumentado de pneumonia em pacientes com DPOC em uso prolongado de corticoide inalado → restrição na recomendação. ↪ Indicado para paciente com tratamento LAMA + LABA já otimizado e que mantenham instabilidade clínica e pacientes assintomáticos, VEF1 < 50% e história de exacerbação. ↪ Pacientes com < 100 eosinófilos/mcL: pouca resposta aos corticoides inalatórios. ↪ Pacientes com > 300 eosinófilos/mcL: boa resposta aos corticoides inalatórios. ↪ Usar eosinófilo como biomarcador. • Metilxantinas: ↪ As xantinas são fármacos cada vez menos utilizados e ainda com muita controvérsia. ↪ Evidência de efeito broncodilatador discreto quando comparado ao placebo. ↪ Não há evidência de redução do número de exacerbações. ↪ Possui índice terapêutico muito baixo. ↪ Efeito ocorre por inibição da fosfodiesterase, causando acúmulo de AMP cíclico intracelular e consequente relaxamento do músculo liso das vias aéreas. ↪ Bamifilina é o fármaco ainda utilizado. ↪ Efeitos cardiovasculares bem indesejáveis. • Inibidor de fosfodiesterase-4 (roflumilaste): ↪ Fosfodiesterase (PDE) é uma enzima com propriedades inflamatórias e papel reconhecido na DPOC. ↪ As metilxantinas são os representantes clássicos desse grupo, mas não têm especificidade para a enzima. ↪ Roflumilaste: inibidor específico da PDE-4. ↪ Bem indicados para pacientes GOLD 3 e 4, com manifestações de bronquite crônica e com 2 ou mais exacerbações ao ano. ↪ Usado por via oral, em 1 tomada diária. • Mucolíticos: ↪ Uso regular de mucolíticos como N- acetilcisteína reduz exacerbação em população selecionada. • Antibioticoterapia com proposta anti-inflamatória: ↪ Azitromicina 3x por semana ou eritromicina 2x ao dia a longo prazo reduz exacerbação durante 1 ano. ↪ Pode elevar resistência bacteriana. ↪ Azitromicina parece ter melhor evidência positiva quando utilizada em ex-tabagistas. • Outras terapias anti-inflamatórias: ↪ Antileucotrieno não foi adequadamente testada em pacientes DPOC. ↪ Sinvastatina não está indicada nos pacientes DPOC, porém parece ter resultado positivo em alguns desfechos em pacientes DPOC utilizando estatina, devido a indicação cardiovascular e metabólica. • Reposição de alfa-1-antitripsina: ↪ Terapia com reposição venosa mensal ou quinzenal de enzima alfa-1-antitripsina parece reduzir a progressão da doença quando DPOC está relacionada a esta deficiência enzimática. Início do tratamento e seguimento: GRUPO C LAMA GRUPO D LAMA ou LABA se muito sintomático LABA + corticoide inalatório se eosinófilo sérico ≥ 300 GRUPO A Broncodilatador (curto ou longa) GRUPO B LABA ou LAMA Oxigênio domiciliar: • Melhora da sobrevida de paciente com DPOC → sempre indicada quando necessária. • Quando indicada deve ser utilizada por > 15 horas por dia. • Indicações: ↪ PaO2 < 55mmHg em repouso ou SatO2 < 88%, sem sinais de cor pulmonale. ↪ PaO2 entre 55 e 59mmHg em repouso ou SatO2 entre 88 e 90%, com sinais de cor pul.monale. • Titulação do oxigênio é feita ambulatorialmente. • Ofertar menor fluxo que garanta uma SatO2 > 90% em repouso. • Em repouso: usar esse valor. • Dormindo: 1 L a mais. • Em atividades físicas: 2 L a mais. • Momento ideal de avaliar a indicação: com a doença estável. • Após exacerbações, o paciente pode apresentar piora das trocas gasosas que serão revertidas em um período variável, entre 60 e 90 dias. Tratamento cirúrgico e por broncoscopia: • Cirurgia de redução pulmonar e bulectomia. para pacientes com grandes bolhas de enfisema, além do transplante pulmonar. • Colocação de válvula por broncoscopia também é uma opção para pacientes selecionados com enfisema avançado. • Pacientes com maior probabilidade de benefício na cirurgia de redução pulmonar: ↪ Enfisema predominante nos lobos superiores e baixa capacidade de exercício – por meio da ergoespirometria. ↪ Pacientes com VEF1 <20%, medida de DCO < 20% e hipertensão pulmonar: não são considerados elegíveis para cirurgia → fatores de maior mortalidade cirúrgica. • Redução pulmonar por meio das válvulas endobrônquicas: capacidade de fluxo unidirecional do ar. Permite apenas a saída do brônquio e não sua entrada. Por conseguinte, promovem também atelectasia daquele lobo pulmonar distal à sua localização. • Tratamentos com eficácia temporária, não devendo-se postergar a referência do paciente a um centro de transplante, se houver critérios para realização da cirurgia. • Indicação para transplante: ↪ Paciente com DPOC grave sem resposta aos tratamentos disponíveis, que não apresentem indicação para redução de volume e tenha BODE score entre 7 e 10. ↪ Paciente com VEF1 < 20%, sem alternativas terapêuticas, clínicas ou cirúrgicas, sem comorbidades, mas com menos de 65 anos e boas condições psicossocial e familiar. • Principal indicação para bulectomia: presença de dispneia em pacientes com bolhas de enfisema que ocupam, pelo menos, 30% do hemitórax. ↪ Outra indicação: história de pneumotórax. Prognóstico: • Grau de limitação funcional: escalas de dispneia ou distância caminhada no teste de 6 minutos. • Número de exacerbações. • Presença de hipoxemia/cor pulmonale. • Baixo peso – sugere maior estresse oxidativo associado à doença, etc. • Índice BODE: varia de 0 a 10 – maior escore, pior prognóstico. Valores ≥ 7: incluir na fila de espera de transplante de pulmão. B: body index. IMC/O: obstruction. VEF1/D: dyspnea. Graduação mMRC/E: exercise – distância percorrida no teste de caminhada de 6 minutos. Exacerbação: • Piora aguda dos sintomas respiratórios que resulta em necessidade de terapia adicional. • Causa comum de internação. • Infecções aparentam ter papel central. • Aumento dos eosinófilos nas vias aéreas (explica a melhora com corticoide). • Considerar etiologias não infecciosas: pneumotórax, síndromes coronarianas agudas, insuficiência cardíaca congestiva, embolia pulmonar, trauma, arritmia, etc. • Critérios para classificar a exacerbação – GOLD: ↪ Piora da dispneia. ↪ Aumento da produção de escarro. ↪ Escarro que se torna purulento. • Classificação da exacerbação: ↪ Leve: 1 dos critérios cardinais + 1 achado adicional, como infecção das vias aéreas superiores, febre sem causa aparente, sibilos, aumento da tosse, aumento na frequência respiratória ou frequência cardíaca em mais de 20% daquela de base. ↪ Moderada: 2 dos 3 critérios cardinais. ↪ Grave: 3 dos 3 critérios cardinais. • Avaliação da gravidade: sintomas + avaliação dos gases arteriais. • Espirometria não é adequada para avaliação da gravidade da crise. • Hipercapnia na gasometria não indica gravidade maior (alguns pacientes já apresentam no dia a dia pCO2 elevada pelo estadiamento avançado da doença – bicarbonato é cronicamente elevado para manter o pH em níveis normais). • Hipercapnia aguda: mecanismo de compensação do bicarbonato é inexistente → pH cai =acidemia. ↪ ↑ pCO2 e pH normal: gasometria não acresce gravidade. ↪ ↑ pCO2 e ↓ pH: exacerbação com gravidade extrema → correção do ph = ventilação não invasiva. • Internação X tratamento ambulatorial: ↪ Indicações de internação – consenso brasileiro: a. Insuficiência respiratória grave: aumento acentuado da dispneia, distúrbios de conduta ou hipersonolência, incapacidadepara alimentar-se, dormir ou deambular. b. Hipoxemia refratária ou hipercapnia com acidose: comparar com gasometrias prévias do paciente. c. Complicações, como tromboembolismo pulmonar, pneumonia ou pneumotórax. d. Insuficiência cardíaca congestiva descompensada ou descompensação de outra condição clínica associada. ↪ Considerar internação em pacientes estáveis, em caso de: a. Necessidade de procedimentos invasivos, como broncoscopia. b. Impossibilidade de acompanhamento no ambulatório no momento devido a problemas socioeconômicos. c. Procedimentos cirúrgicos que necessitem de drogas sedativas ou hipnóticas. • Objetivos do tratamento da exacerbação: ↪ Tratar a etiologia. ↪ Manter nível adequado de oximetria. ↪ Reduzir a resistência das vias aéreas. ↪ Melhorar a performance muscular. ↪ Prevenção de eventos subsequentes. • Broncodilatadores inalatórios: ↪ Pouca melhora espirométrica. ↪ Melhora significativa importante da dispneia. ↪ Eficácia de beta-2-adrenérgicos de curta duração e de anticolinérgicos → associação é melhor do que monoterapia. 1. Salbutamol ou fenoterol: de 10 a 20 gotas (de 2,5 a 5mg) em 2 a 5ml de SF – 3 inalações a cada 20 minutos ou mesmo contínuas, se o paciente estiver muito grave. Depois, aumentar o intervalo entre as doses, a cada hora, a cada 2 horas, e assim por diante, de acordo com a melhora. 2. Brometo de ipratrópio: de 20 a 40 gotas em 3 a 5 mL de soro fisiológico – 3 inalações a cada 20 minutos ou mesmo contínuas, se o paciente estiver muito grave. Depois, aumentar o intervalo entre as doses, a cada hora, a cada 2 horas, e assim por diante, de acordo com a melhora. 3. Diretrizes nacionais recomendam utilizar a combinação de beta-2-adrenérgico e anticolinérgico inalados no alívio da dispneia. Não há vantagem adicional de uso de beta-agonista sistêmico. • Antibióticos: ↪ Controvérsia com relação às indicações. ↪ Recomendação mais aceita é fornecer antibacterianos nas seguintes situações: a. Estigmas inequívocos de infecção bacteriana, por exemplo: foco pneumônico em radiografia. b. Exacerbação com secreção purulenta. ↪ Exacerbação grave da DPOC = aquela que necessita de admissão em UTI. Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae e Moraxella catarrhalis. ↪ Fatores de risco para evolução desfavorável: a. Idade > 65 anos. b. Dispneia grave. c. Comorbidade significativa – cardiopatia, diabetes mellitus com uso de insulina, insuficiência renal, insuficiência hepática. d. Mais de 4 exacerbações nos últimos 12 meses. e. Hospitalização por exacerbação no ano prévio. f. Uso de corticoide sistêmico nos últimos 3 meses. g. Uso de antibiótico nos últimos 15 dias. h. Desnutrição. Seleção de antibióticos na exacerbação do DPOC Grupos Antibióticos recomendados VEF1 > 50% sem fatores de risco Betalactâmico/inibidor de betalactamase, ou cefuroxima, ou azitromicina, ou claritromicina VEF1 > 50% com fatores de risco Quaisquer dos anteriores e levofloxacino, ou moxifloxacino, ou telitromicina VEF1 entre 35 e 50% Levofloxacino, ou moxifloxacino, ou telitromicina, ou betalactâmico/inibidor de betalactamase VEF1 < 35% Levofloxacino, ou moxifloxacino, ou betalactâmico/inibidor de betalactamase, e ciprofloxacino, se houver suspeita de Pseudomonas ↪ Prescrever, na maioria dos casos, por 5 a 7 dias. • Oxigênio: ↪ Pacientes com exacerbação da DPOC e SatO2 < 90%: receber oxigênio em menor fluxo necessário para manter a oximetria > 90%. ↪ DPOC grave ou muito grave (GOLD 3 e 4): risco de piora da acidose respiratória e da hipercapnia com uso de oxigênio em altos fluxos. ↪ Pacientes graves convivem adequadamente com a hipóxia – não necessário manter muito acima de 90%. • Corticosteroides: ↪ Indicado em qualquer exacerbação da DPOC, independentemente da etiologia. ↪ Uso recomendada por 5 a 7 dias, geralmente em doses baixas. ↪ 30 a 40mg de prednisona ou equivalente, sem necessidade de redução gradual do fármaco. ↪ Corticoide sistêmico melhora VEF1, melhora oxigenação, reduz tempo de convalescência e tempo de hospitalização. ↪ Corticoides inalados não tem utilidade na exacerbação da DPOC. • Mucolíticos: ↪ Papel limitado. ↪ Não há dados científicos que permitam seu uso rotineiro. • Metilxantinas: ↪ Não é mais recomendada na exacerbação por seus efeitos deletérios. • Ventilação não invasiva: ↪ BiPAP: indicada a todos com exacerbação da doença e insuficiência respiratória aguda, respeitadas as contraindicações. ↪ Principal objetivo: reduzir o trabalho respiratório por meio da oferta de 2 níveis de pressão positiva, um na inspiração, que é maior e outro na expiração, que é menor. ↪ CPAP: fornece nível único de pressão na inspiração e na expiração. Pode ser problemática a pacientes com hipercapnia acentuada ou acidemia importante. A pressão fornecida, útil na inspiração, pode aumentar o trabalho respiratório na expiração. ↪ Contraindicações: a. Parada respiratória. b. Instabilidade hemodinâmica – hipotensão, infarto do miocárdio e arritmias graves. c. Incapacidade de proteção das vias aéreas: vômitos, rebaixamento do nível de consciência, agitação psicomotora. d. Secreção excessiva com risco de aspiração. • Ventilação invasiva: ↪ Considerações para intubação orotraqueal: a. Grave dispneia com uso de musculatura acessória e movimento abdominal paradoxal. b. Frequência respiratória > 35 irpm. c. Hipoxemia que ameaça a vida: paO2 < 40mmHg ou paO2/FiO2 < 200. d. Acidose grave (pH < 7,25) e hipercapnia (paCO2 > 60mmHg). e. Parada respiratória ou complicações cardiovasculares – instabilidade hemodinâmica. f. Confusão, sonolência. g. Falência da ventilação não invasiva. h. Outras complicações, como sepse, embolia pulmonar, pneumonia, etc. ↪ Presença de alteração do nível de consciência, bradicardia ou iminência de parada cardiorrespiratória indica necessidade de intubação orotraqueal imediata. ↪ Inicialmente: sedação profunda e evitar bloqueadores neuromusculares. ↪ Deve-se manter o tempo expiratório o mais prolongado possível para evitar a permanência do volume excessivo ao final da expiração (auto- PEEP). ↪ Manter a frequência respiratória baixa (6 a 12irpm) e o tempo inspiratório curto ou fluxo elevado.
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