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ESTOMASINTESTINAIS FELIPE FEUCIO CO-AUTORES JOSE MAURO DOS SANTOS JOAO CARLOS DE OLIVEIRA HUMBERTO FENNER LYRA JR. Felipe Felicio - Professor titular de Cirurgia do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSCj. Professor titular da Academia Mundial de Medicina. Titular do Colegio Brasileiro de Cirurgioes. Titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. titular da Academia Catarinense de Medicina. Chefe do Servigo de Coloproctologia do Hospital Universitario da Universidade Federal de Santa Catarina (HU/UFSC). Jose Mauro dos Santos - Doutor pela Escola Paulista de Medicina. Professor adjunto do Departamento de Cirurgia da UFSC. Titular do Colegio Brasileiro de Cirurgioes. Titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Chefe do Servigo de Endoscopia do Servigo de Coloproctologia do Hospital Universitario da UFSC. Joao Carlos de Oliveira - Mestre em Ciencias Medicas pelo Centro de Ciencias da Saiide (CCS - UFSC). Professor adjunto do Departamento de Cirurgia da UFSC. Titular do Colegio Brasileiro de Cirurgioes. Titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Humberto Fenner Lyra Jr. - Residencia em Cirurgia Geral e Gastrenterologica. Residencia em Coloproctologia no Hospital de Clinicas da Universidade Federal do Parana (UFPR). Especialista em Cirurgia Geral, Cirurgia do Aparelho Digestivo e Coloproctologia. Medico do Servigo de Coloproctologia do Hospital Universitario da UFSC. INTRODUQAO IA palavra “estoma” origina-se do grego stoma, que significa “boca”. Dentre os estomas intestinais, Ias colostomias e as ileostomias sao os mais frequentes e consistem na abertura do colo e do Iileo, com desvio do conteudo fecal para o exterior.1 Outros estomas levam o nome do segmento |exteriorizado, como jejunostomias, cecostomias, transversostomias e sigmoidostomias. Historicamente, tem-se conhecimento de que, em 400 a.C., Praxagore, segundo relato de Coelius Aurelianus, apos o fracasso de medidas conservadoras, abriu o intestino de urn paciente, tendo esvaziado o seu conteudo e fechado a ferida. Posteriormente, em 1710, Littre, na Franga, foi o pri- PROACI | SEMCAD 150 ESTOMASINTESTINAIS co meiro a recomendar a realizagao de uma colostomia, em um caso de atresia anal em um bebe que acabou morrendo. Essa proposta foi recebida com ceticismo pela Academy Royal of Sciences. Em 1750, Cheselden, na Inglaterra, descreveu um caso de hernia umbilical rota com intestino gan- grenado exteriorizado, no qual fez ressecgao do segmento necrosado e deixou os bordos exterio- rizados na hernia. 0 paciente sobreviveu. Em 1776, Pillore, na Franga, realizou uma cecostomia planejada e, em 1793, Duret, tambem na Franga, foi o primeiro a realizar com exito uma colosto- mia em um bebe com anus imperfurado, exteriorizado na regiao ileolombar. So em 1850, Luke, na Inglaterra, realizou pela primeira vez uma colostomia abdominal.2 Os estomas do tipo colostomia e ileostomia tern indicagao de serem realizados em diversas doen- gas, como cancer colorretal, doenga diverticular do colo, doengas inflamatorias intestinais, incon- tinence anal, polipose adenomatosa familiar, colite isquemica, trauma, megacolo, actinismo e infecgoes perineais graves, e tambem como complemento de uma cirurgia, ou associada a ela, e em desvios urinarios.13 0 numero de colostomias definitivas tern diminuido, em razao do desenvolvimento dos grampea- dores intestinais, das pesquisas que tern melhorado a antibioticoterapia e tambem do aperfeigoa- mento das tecnicas cirurgicas. Por sua vez, ocorreu um aperfeigoamento do material usado pelos ostomizados e uma consideravel melhoria nos cuidados com esses pacientes.3'5 Do ponto de vista educacional, foram criados varios cursos de formagao de estomaterapeutas. Quando ocorre a construgao de um estoma em casos de emergence, este pode ser considerado um “seguro de vida” para o paciente. Por isso, mesmo pensando em diminuir o numero de reali- zagao de estomas, deve-se ter em mente as indicagoes precisas para a sua construgao, pois, em muitos casos, o estoma salva vidas. OBJETIVOS |Ao final da leitura deste capltulo, espera-se que o leitor seja capaz de: classificar os estomas intestinais quanto a sua finalidade, a sua urgencia, a sua duragao e ao seu tipo; reconhecer as indicagoes especlficas para cada tipo de estoma; dominar a tecnica cirurgica de construgao e fechamento de estomas; identificar as principais causas de complicagao nos procedimentos de construgao de estomas e os cuidados que se deve tomar para evita-las. |ESQUEMACONCEITUAL Estomas intestinais Classificagao dos estomas Tipos de ostomias Tecnica cirurgica para ostomias Repercussao fisiologica dos estomas Complicagoes das ostomias Cuidados com os estomas Caso clinico Conclusao Jejunostomia Colostomias lleostomias Fechamento dos estomas Erosoes cutaneas Retragao do estoma Necrose do estoma Prolapso do estoma Estenose do estoma Hernias paraestomais Fistula do estoma Hernia interna Carcinoma recidivante Sangramento Colostomia definitiva Colostomia temporaria lleostomia terminal lleostomia em alga PROACI | SEMCAD | « ESTOMASINTESTINAIS co CLASSIFICAQAO DOS ESTOMAS Os estomas intestinais podem ser classificados conforme a finalidade, a urgencia, a duragao e o tipo, como demonstrado no Quadro 1.24 Quadro 1 CRITERIOS DE CLASSIFICAgAO DOS ESTOMAS INTESTINAIS Finalidade descompressao de uma obstrugao desvio total do fluxo fecal perfuragoes intestinais finalidade alimentar Urgencia estoma de emergencia estoma eletivo estoma incidental Duragao estoma permanente estoma temporario Tipo estoma terminal estoma em alga estoma em dupla exteriorizagao TIPOS DE OSTOMIAS A seguir, veremos alguns tipos de ostomias, como: jejunostomias; colostomias; ileostomias. JEJUNOSTOMIA As jejunostomias tern menos complicagoes quando sao realizadas para descompressao de uma obstrugao intestinal ou quando sao realizadas por sonda com finalidade de alimentagao. Atualmente, e muito utilizada uma sonda enteral para alimentagao em pacientes cronicos e em pacientes graves que tern contra-indicagoes ou problemas de alimentagao via oral.2 O As jejunostomias altas ocasionam disturbios hidreletroliticos, com absorgao deficiente denutrientes e vitaminas, dificultando a recuperagao do paciente.Atualmente, na maioria doscasos, usa-se nutrigao parenteral ou, quando possivel, enteral, ficando as jejunostomias para indicagoes mais precisas.2'3'5 COLOSTOMIAS Colostomia definitiva As colostomias definitivas, como o nome sugere, sao aquelas que permanecerao por toda a vida com o paciente. As indicates para as colostomias definitivas ocorrem nas cirurgias em que o reto e ressecado, como na amputagao abdominoperineal do reto. Geralmente, as colostomias definitivas sao do tipo terminal, mas pode acontecer de uma colostomia em alga ser considerada definitiva, em virtude de o quadro clinico do paciente nao recomendar o fechamento do estoma, como no caso de urn paciente em estado terminal de doenga consuptiva, tipo cancer. Uma colostomia terminal tambem pode estar indicada como temporaria, por exemplo, j apos uma operagao de Hartmann que compreende uma retossigmoidectomia ou sigmoi- dectomia com colostomia terminal e sepultamento do coto retal. Colostomia temporaria As colostomias temporarias sao aquelas em que e possivel reconstruir o transito intestinal em urn outro tempo cirurgico e, geralmente, sao do tipo em alga (Figura 1). Figura 1 - Colostomia em dupla boca. Fonte: Arquivo de imagens do autor. PROACI | SEMCAD | « ESTOMASINTESTINAIS w © As colostomias temporarias sao indicadas como:protegao de anastomoses colorretais ou coloanais, nos casos de obstrugao do colo esquerdo; tempo cirurgico inicial, em urn procedimento de dois ou tres tempos, no tratamento de trauma retal e perineal; tratamento paliativo da neoplasia obstrutiva do colo com carcinomatose peritoneal ou multiplas metastases a distancia; parte do tratamento de processos infecciosos perineais graves. Os estomas chamados em canode espingarda sao, geralmente, realizados no colo em situagoes em que se deseja urn desvio total do fluxo intestinal, pois ocorre a exteriorizagao dos segmentos proximal e distal como do tipo terminal.4 Esse tipo facilita o fechamento do estoma. Em alguns casos, como nas hemorragias intestinais macigas de origem colonica (doenga diverticular ou an- giodisplasia), quando e realizada uma colectomia total, exterioriza-se o ileo e o retossigmoide juntos para facilitar o fechamento. Esse procedimento e semelhante ao estoma descrito como em cano de espingarda. Uma situagao diferente ocorre quando a boca proximal, o Ileo, e construlda, e o segmento distal, o sigmoide, tambem e exteriorizado distante do segmento proximal. Nesse caso, tem-se uma ileosto- mia terminal e uma fistula mucosa, que e como se chama o segmento distal. Em tal situagao, deve- se orientar para que os dois estomas sejam colocados distantes aproximadamente 10cm urn do outro, para facilitar a adesao das bolsas coletoras e tambem a reconstrugao do transito intestinal. ILEOSTOMIAS lleostomia terminal As ileostomias terminals sao indicadas como complementagao cirurgica nos casos de: colectomia total abdominal de urgencia, como na hemorragia digestiva baixa de ori- gem na doenga diverticular difusa do colo ou angiodisplasia, quando compromete todo o colo;1 proctocolectomia total nos casos de retocolite ulcerativa e na polipose adenomatosa familiar com cancer avangado no reto inferior em que esteja contra-indicada a reali- zagao de reservatorio ileal com anastomose ileoanal;1 cancer colonico sincronico do ceco e reto inferior e em casos de derivagoes uri- narias;1’3 quando for necessario construir uma ileostomia definitiva, pode-se faze-la com uma tecnica conhecida como ileostomia continente, que ajudara o paciente no controle e nos cuidados do seu estoma.3’6 Em virtude do grande numero de complicagoes dessa tecnica, sua indicagao sempre foi uma decisao controvertida, e sua construgao nunca alcangou unanimidade entre os cirurgioes. Ileostomia em alga As ileostomias em alga sao indicadas como protegao de anastomoses ileoanais, coloanais ou color- retais, ou quando ocorre perfuragao intestinal com peritonite, estando indicadas tambem na doenga de Crohn, com comprometimento da regiao perianal ou presenga de fistula retovaginal. 1. As ostomias podem ser classificadas quanto a finalidade. Assinale, dentre as alter- nates a seguir, aquela que apresenta uma ostomia classificada por esse criterio. A) Colostomia terminal. B) Colostomia para descompressao de uma obstrugao. C) Colostomia realizada nas urgencias. D) Colostomia realizada em urn tempo cirurgico. 2. Em uma cirurgia de amputagao abdominoperineal do reto, qual tipo de ostomia sera construida? A) Colostomia terminal no sigmoide. B) Colostomia em alga no transverso. C) Colostomia em dupla no descendente. D) Ileostomia e fistula mucosa. Respostas no final do capitulo TECNICA CIRURGICA PARA OSTOMIAS Quanto a abordagem tecnica, apesar dos progressos na construgao das ostomias, podem ocorrer problemas tanto com as ileostomias quanto com as colostomias. O 0 procedimento cirurgico de realizagao de estomas nao e tecnicamente dificil de fazer,mas deve ser feito com cuidado e seguindo tecnica apurada, procurando diminuir apossibilidade de complicagoes. Brooke foi o primeiro a descrever, em 1952, o procedimento de eversao com maturagao mucocu- tanea primaria, usado ate hoje (Figuras 2 e 3).2-4 Os principios obedecidos para alcangar o bom funcionamento da ostomia incluem os passos apresentados a seguir. PROACI | SEMCAD | « ESTOMASINTESTINAIS co WA 7;?TWh / a V > > i -Xl / =<:• A / > 1 . .11•x: \TUU. )w L V^&SISV./ Figura 2 - Fixagao do ileo. Fonte: Arquivo de imagens do autor. Figura 3 - lleostomia intestinal tipo Brooke. Fonte: Arquivo de imagens do autor. [1] Marcagao pre-operatoria do local do estoma (Figura 4), tendo em vista os seguintes aspec- ts: ponto alto de gordura infra-umbilical; localizagao atraves do musculo reto abdominal; local afastado de cicatrizes, linhas de incisao, cicatriz umbilical; garantia de visibilidade ao paciente. , 1 o /'AV, * tm ‘z f ", - y Figura 4 - Marcagao do local do estoma. Fonte: Arquivo de imagens do autor. [2] Abertura do tamanho de dois dedos (3,5cm) (Figura 5): uma abertura demasiado ampla expoe ao risco de hernia paraestomal e prolapso; ja uma abertura muito estreita produz sintomas obstrutivos e propensao a obstrugao pelo bolo alimentar.7 t. ) 1i i , . 'V,I 2CSl f r,/ (1 ( i <•••i f/ is; '/ AA / f1 i '' . /Jl U !is l/I tfJ l i' K i "i1 *f.k,k//V I Figura 5 - Diametro do orificio do estoma. Fonte: Arquivo de imagens do autor. [3] Asseguramento de uma boa extensao de ileo alem do nivel da pele (6cm, no caso das ileosto- mias), de modo que urn estoma com 3cm de comprimento seja produzido com a eversao. No caso das colostomias, o segmento exteriorizado e urn pouco menor. [4] Asseguramento de bom suprimento sanguineo (Figura 6) a extremidade cortada do intestino ime- diatamente antes da eversao. De outro modo, pode ocorrer necrose isquemica ou estenose tardia. Yw* .f T n x * «. 1 Figura 6- Suprimento sanguineo adequado. Fonte: Arquivo de imagens do autor. PROACI SEMCAD | 3 ESTOMASINTESTINAIS [5] Obliteragao da brecha mesenterica ou mesocolica internamente, suturando o bordo cortado aparede abdominal anterior. Isso evita hernia interna e volvo subsequente (Figura 7).7 Figura 7- Fechamento da brecha mesenterica ou mesocolica. Fonte: Arquivo de imagens do autor. Quanto aos segmentos intestinais exteriorizados para realizagao das colostomias, os mais utilizados sao o colo sigmoide e o transverso, pois tem boa mobilidade, facilitando o processo ci- rurgico. Quanto as cecostomias, a feitura da ostomia utiliza uma sonda, cujos cuidados sao dificeis e tra- balhosos em fungao da obstrugao frequente da sonda. Por isso, esses procedimentos estao sendo cada vez menos realizados, e a preference recai sobre a ileostomia. LEMBRAR Aileostomia e mais efetiva no funcionamento e mais facil de manusear, alem de facilitar o fechamento, quando transitoria. Ela nao oferece dificuldades para ser exteriorizada em virtude da mobilidade do intestino delgado. 0 acesso videolaparoscopico esta sendo utilizado na confecgao de estomas em varios casos, e seu uso apresenta boas perspectivas. Essa tecnica tem sido igualmente usada na reconstrugao do transito, como na operagao de Hartmann.8 FECHAMENTO DOS ESTOMAS Tanto a construgao como o fechamento dos estomas sao acompanhados de um percentual de complicagoes inerentes a qualquer cirurgia. Porem, nesses casos, acrescenta-se o fator infecgao, decorrente dos afluentes que comportam a flora mista de bacterias. Tecnicamente, o fechamento dos estomas em alga e realizado com o cuidado de nao WIestenosar o segmento intestinal. Em qualquer tipo de estoma, e necessario reavivar os bordos, ressecando uma tira que ficou em contato com a pele. Ja nos estomas terminals, o fechamento requer uma laparotomia ou um acesso videolaparoscopico, na operagao de Hartmann. No meio cirurgico, geralmente, usa-se a terminologia fechamento dos estomas para os estomas em alga e reconstrugao do transito, para os estomas terminals. © As Figuras 8 e 9, respectivamente, mostram o fechamento do estoma e o fechamento da parede abdominal. * */ . Nv :m (Lv'/.* A A\ r >V M * m NS\ v'* I. Figura 8 - Fechamento do estoma. Fonte: Arquivo de imagens do autor. Figura 9 - Fechamento da parede abdominal. Fonte: Arquivo de imagens do autor. PROACI SEMCAD « ESTOMASINTESTINAIS o 3. Qual deve ser o tamanho da abertura do estoma construido?A) 2cmB) 5cmC) 3,5cm D) 1cm Resposta no final do capitulo 4. Que cuidados especiais devem ser tornados no momento da marcagao do local da ostomia? 5. Por que se deve assegurar urn bom suprimento sangiimeo a extremidade cortada do intestino? 6. No que diz respeito a tecnica, qual a diferenga entre o fechamento dos estomas em alga e dos estomas terminals? REPERCUSSAO FISIOLOGICA DOSESTOMAS LEMBRAR | E de conhecimento geral que, quanto mais alto o estoma, maior e a perda liquida e de eletrolitos. Portanto, quanto aos disturbios hidreletroliticos, as ileostomias sao mais importantes do que as colostomias, e menos do que as jejunostomias. Ainterrupgao do transito digestivo na altura do intestino delgado leva a uma eliminagao liquida continua, ocorrendo alteragao na absorgao de sodio, agua, agucares, protelnas, calcio, magnesio, vitaminas, ferro e sais biliares. Como o fluor, o cloro, o bromo, o iodo, o sodio, o potassio e a agua tern no colo direito (ceco e ascendente) o ultimo segmento onde ocorre sua absorgao, as ileostomias devem ser acompanha- das de preocupagao com relagao a desidratagao, hipopotassemia e hiponatremia. Tambem no Neo ocorre a absorgao dos lipldeos e da vitamina B12. Por isso, as dietas dos ostomizados devem ser isentas de gorduras e ricas em ferro. E necessario tambem urn controle da anemia. Ja com as colostomias, a alteragao mais frequente e de ordem mecanica, pois o transito intestinal normal, que ocorre entre 18 e 72 horas, em fungao do mecanismo da evacuagao, apresentara uma eliminagao em periodos mais curtos, de forma incontrolavel. Em fungao disso, orienta-se ao pa- ciente utilizar o sistema de irrigagao como cuidado do estoma, para seu conforto. COMPUCAQbES DAS OSTOMIAS Sao muito frequentes as complicagoes cirurgicas que ocorrem apos a construgao dos estomas, dentre as quais se destacam as apresentadas no Quadro 2.2'3'57'9'10 Quadro 2 PRINCIPAL COMPLICAQOES NA CIRURGIA DE CONSTRUQAO DE ESTOMAS dermatite periestomal isquemia tissular retragao do estoma necrose prolapso estenose hernias paraestomais prolapso paraestomal do intestino delgado hernia interna ou encarceramento do intestino delgado sangramento abcessos fistula do estoma erosoes cutaneas recidiva da doenga subjacente no estoma carcinoma recidivante no estoma perfuragao do estoma disturbio metabolico decorrente de perdas, por meio do estoma Pode-se dizer que quanto maior for o cuidado ao se realizar urn estoma, menor o numero de com- plicagoes. Muito importante e a escolha do local do estoma, que deve ser marcado no abdome antes do inicio da cirurgia.1'3’4-6-10 Deve-se levar em conta o estado nutricional do paciente, pen- sando na adaptagao dos materiais coletores. PROACI | SEMCAD | ± 142 co < CO LU CO l LU o Em paciente obeso, nao se deve colocar o estoma perto da dobra da parede abdominal,procurando faze-lo urn pouco mais alto. Deve-se, tambem, evitar a construgao do estomaproximo a protuberances osseas e cicatrizes. De rotina, as orientagoes seguem uma linha que vai da espinha iliaca antero-superior a cicatriz umbilical, passando o segmento exteriorizado por entre as fibras do musculo reto anterior do ab- dome.34 Geralmente, a ileostomia e construida no quadrante inferior direito.1 Outro cuidado importante e na construgao adequada do estoma. 0medico deve ficar atento, pois, apesar de ser urn procedimento de facil execugao, os cuidados tecnicos evitam problemas futuros. Deve-se ter sempre em mente a adaptagao dos materiais utilizados na coleta fecal. A seguir, e feita uma analise de algumas das complicagoes das ostomias e suas causas. EROSOES CUTANEAS As erosoes cutaneas mais comuns nas ileostomias ocorrem mais frequentemente quando o esto- ma fica ao nivel da pele e proximo de pregas cutaneas de flexao ou de cicatrizagao, que dificultam a perfeita adaptagao das bolsas coletoras. Tambem sao causas de erosoes cutaneas a alergia ao material componente das bolsas (como resina, etc.), as trocas excessivas e desnecessarias da placa adesiva dos coletores, a ingestao de alimentos irritantes e acidos, e o cuidado incorreto do estoma pelo paciente.3'59'11 RETRAQAO DO ESTOMA A retragao do estoma tern origem na tecnica cirurgica quando este nao e maturado primeiramente ou quando ha mobilizagao insuficiente do mesenterio, principalmente nos pacientes obesos e com mesenterio curto. Sao tambem causas da retragao do estoma:1'911 sutura sob tensao; fixagao deficiente do intestino e seu mesenterio ao peritonio, a fascia e a pele; pontos muito apertados e proximos, comprometendo a irrigagao; presenga de infecgoes ou abscessos periestomais. NECROSE DO ESTOMA A necrose do estoma esta diretamente relacionada ao comprometimento do suprimento sanguineo, a torgao ou tensao do tubo intestinal e seu meso e a suturas muito apertadas no estoma. E possi- vel diminuir a ocorrencia dessa complicagao deixando o estoma bem irrigado, possibilitando uma boa mobilizagao do colo ou segmento ileal e realizando uma sutura mucoepidermica com pontos separados e nao muito apertados. PROLAPSO DO ESTOMA 0 prolapso do estoma e mais frequente nas colostomias (em especial, as em alga) do que nas ileostomias. Normalmente, com o peristaltismo, pode acontecer variagao no tamanho do estoma durante o dia, o que nao deve ser motivo de preocupagao. A causa do prolapso esta relacionada com a abertura grande na parede abdominal, ja que o recomendado e urn oriflcio permeavel a dois dedos, quando colostomia terminal, e a tres dedos, quando em alga ou duplo cano.u Outra causa do prolapso do estoma e a colocagao do estoma na incisao cirurgica principal, pois o risco de uma infecgao de parede facilita a formagao de hernia paraestomal, favorecendo o pro- lapso. Alem disso, essa complicagao pode decorrer da presenga de sigmoide ou alga redundante, com uma fixagao insuficiente do segmento intestinal no peritonio parietal, e da fixagao do esto- ma na parede abdominal ou exteriorizagao do omento junto com o segmento intestinal. Tambem o aumento brusco da pressao intra-abdominal (tosse, espirro, levantamento de peso) favorece o aparecimento de prolapso.1'4'5’911 ESTENOSE DO ESTOMA A estenose do estoma ocorre, geralmente, ao nivel da pele. A tecnica de exteriorizar o intestino e deixarformar aderencia com a parede abdominal provoca serosite, edema e reagao inflamatoria. A cicatriz vai provocar uma estenose. O 0 uso da tecnica de maturagao precoce (tipo Brooke ou Turnbull) ajuda a prevenir aestenose do estoma.2'49 Representam outras causas de estenose do estoma: abertura insuficiente da parede abdominal; presenga de infecgao ao redor do estoma ou trauma estomal; aumento de peso do paciente no pos-operatorio. HERNIAS PARAESTOMAIS As hernias paraestomais, que sao bastante frequentes, tern relagao com o orificio muito alargado na parede abdominal ou com a colocagao do estoma na incisao principal. Talvez a principal causa dessa complicagao seja a infecgao ou o abscesso periestomal, que tambem podem ser evitados com uma tecnica cirurgica asseptica. FISTULA DO ESTOMA A presenga de fistula do estoma esta relacionada com a ocorrencia de abscesso em algum pon- to perfurado na parede intestinal durante a construgao estomal. Outros fatores poderiam ser urn diverticulo perfurado ou urn trauma durante o processo de irrigagao que e utilizado nos cuidados com o estoma. PROACI | SEMCAD | £ ESTOMASINTESTINAIS HERNIA INTERNAA hernia interna ou encarceramento do intestino delgado decorre do espago peritoneal lateral quefoi deixado aberto ou cujo fechamento foi inadequado. CARCINOMA RECIDIVANTE A presenga de um carcinoma recidivante em uma colostomia pode ocorrer por implante durante a ressecgao primaria ou por tumor metacronico. SANGRAMENTO 0 sangramento do estoma no pos-operatorio ocorre devido a hemostasia deficiente. Quando ocorre tardiamente, pode ser causado por erosao da mucosa ou doenga recidivante, como no caso das doengas inflamatorias intestinais.2 CUIDADOS COM OS ESTOMAS Os estomas constituem uma modificagao no corpo do paciente e representam, para este, algo mui- to importante em sua vida. Por isso, deve-se oferecer ao ostomizado atengao e cuidados, que se iniciam ainda no hospital, prosseguindo em sua casa, e a seguir, no seu dia-a-dia comunitario. A^ Os estomas do intestino delgado requerem maiores cuidados locais, em virtude da grandequantidade de efluentes liquidos, com perdas significativas de agua, eletrolitose outros elementos, levando a desidratagao e a disturbios metabolicos. Adieta nos casos de estomas do intestino delgado deve ser bem controlada, procurando diminuir o volume eliminado e repor as perdas.2'35 Localmente, vai ocorrer maior comprometimento da pele periestomal, com possibilidade de dermatite exsudativa. Ja nas colostomias, e posslvel controlar melhor as perdas e o funcionamento, mas, quanto a reagao cutanea, existe o problema do contato com as fezes, que pode provocar uma escoriagao eczema- tosa, as vezes dolorosa e extensa.34 Os dispositivos utilizados para a coleta de excretas devem formar uma barreira entre a pele e o conteudo intestinal. 0 material desses coletores melhorou de qualidade, e ocorreu progressao no aperfeigoamento tecnico, oferecendo hoje maior conforto aos pacientes.3-5 Atecnica de irrigagao do estoma teve grande aceitagao nos Estados Unidos, sendo que na Inglaterra as indicagoes fo- ram mais restritas, especialmente quando ocorria estenose do estoma.3 No Brasil, a aceitagao foi considerada satisfatoria e, geralmente, os pacientes tern conhecimento dessa tecnica.12 Outro fator muito importante com relagao aos cuidados dos estomas e dos pacientes ostomizados foi a formagao de equipes multiprofissionais, que agregaram conhecimento em prol da saude dos mesmos. Do ponto de vista institucional, foram criados programas de atendimento ao ostomizado e grupos de apoio, alem de se efetuar um maior controle na compra e distribuigao dos coletores. Tambem houve um bom desenvolvimento no apoio psicologico, ajudando esses pacientes a conviver melhor em suas relagoes familiares, sociais e afetivas, esclarecendo possiveis duvidas sobre gra- videz, vida sexual, pratica de esportes, viagens, etc. Destacam-se tambem os cursos de formagao de estomoterapeutas que foram criados e muito tern colaborado na assistencia ao ostomizado. 7. Em fungao dos disturbios hidreletroliticos decorrentes da construgao de estomas intestinais, que cuidados especiais deve-se ter com o ostomizado apos a cirurgia? 8. Quais as principals causas da ocorrencia de erosoes cutaneas apos a construgao do estoma? 9. A retragao do estoma e uma complicagao que ocorre em virtude da: A) dificuldade de adaptagao das bolsas coletoras. B) localizagao inadequada do estoma. C) tecnica cirurgica inadequada. D) sutura muito frouxa do segmento. 10. Dentre as alternativas a seguir, assinale a que NAO apresenta uma causa de necrose do estoma. A) Torgao ou tensao do tubo intestinal. B) Suturas muito apertadas. C) Comprometimento do suprimento sangiimeo. D) Sutura mucoepidermica. Respostas no final do capitulo PROACI | SEMCAD | £ ESTOMASINTESTINAIS o 11. Relacione as colunas indicando as principals causas para as seguintes complica-goes cirurgicas que ocorrem apos a construgao dos estomas. Se necessario, relacionea mesma causa para mais de uma complicagao.(1) Prolapso do estoma ( ) Trauma durante o processo de irrigagao (2) Estenose do estoma ( ) Implante durante a ressecgao primaria (3) Hernias paraestomais ( ) Doenga recidivante (4) Fistula do estoma ( ) Colocagao do estoma na incisao cirurgica (5) Hernia interna principal (6) Carcinoma recidivante ( ) Hemostasia deficiente (7) Sangramento do estoma ( ) Abertura grande na parede abdominal ( ) Abertura insuficiente da parede abdominal ( ) Aumento de peso do paciente no pos-operatorio ( ) Erosao da mucosa ( ) Divertlculo perfurado ( ) Tumor metacronico ( ) Espago peritoneal lateral deixado aberto ou fechado de forma inadequada Resposta no final do capitulo 12. Quais as diferengas entre os cuidados especlficos exigidos pelos estomas do intestino delgado em comparagao com os exigidos apos as colostomias? CASO CLI'NICO Paciente do sexo masculino, 68 anos, procurou servigo medico com dor na fossa iliaca esquerda, de inicio subito, aumentando de intensidade em poucas horas.0 quadro era acompanhado de febre e alteragao do habito intestinal para obstipagao, sendo que houve urn episodio de mucorreia. Apos exames de raio X abdominal em varias posigoes e exame de sangue mostrando urn hemogra- ma infeccioso com desvio para a esquerda, o paciente foi encaminhado para tratamento cirurgico de urgencia. Aequipe medica fez urn procedimento conhecido como operagao de Hartmann, para urn quadro de diverticulite aguda abscedada. o 13. Em que consiste a operagao de Hartmann? 14. Que tipo de estoma foi realizado? 15. Como pode ser classificado o estoma realizado nesse paciente quanto a du- ragao? Respostas no final do capitulo CONCLUSAO Ao finalizar este capitulo, pode-se concluir que existem varios tipos de estomas, com diferentes indicagoes, sendo que todos apresentam urn percentual de complicagoes, muitas vezes problema- ticas. Salienta-se, tambem, o trabalho multiprofissional na atengao ao ostomizado. |RESPOSTAS AS ATIVIDADES E COMENTARIOS Atividade 1 Resposta: B Comentario: Quanto a finalidade, os estomas sao classificados nas seguintes categorias: para a descompressao de uma obstrugao, para desvio total do fluxo fecal, em perfuragoes intestinais e para alimentagao do paciente. PROACI SEMCAD $ 148 ^ Atividade 2<C| Resposta: A | Comentario: Em casos de amputagao abdominoperineal do reto, so podera ser realizada a colos- < tomia terminal, em virtude da ausencia de continuagao do transito intestinal pela falta do reto. 1 Atividade 3 Resposta: C Comentario: A abertura do estoma deve ter o tamanho de dois dedos (3,5cm). Uma abertura dema- siado ampla expoe ao risco de hernia paraestomal e prolapso, ao passo que uma abertura muito estreita produz sintomas obstrutivos e propensao a obstrugao pelo bolo alimentar. Atividade 9 Resposta: C Comentario: A retragao estomal decorre do uso de uma tecnica cirurgica inadequada na construgao do estoma, com sutura simples na pele, segmento intestinal curto, comprometimento vascular, ten- sao da sutura. A tecnica com sutura em maturagao precoce ajuda a evitar esse problema. Atividade 10 Resposta: D Comentario:A necrose do estoma esta diretamente relacionada ao comprometimento do suprimento sangulneo, a torgao ou tensao do tubo intestinal e seu meso e a suturas muito apertadas no estoma. A realizagao de sutura mucoepidermica, com pontos separados e nao muito apertados, e urn dos procedimentos que possibilita uma diminuigao na ocorrencia de necrose estomal. Atividade 11 Chave de respostas: 4; 6; 7; 1 e 3; 7; 1 e 3; 2; 2; 7; 4; 6; 5 Atividade 13 Resposta: A operagao de Hartmann consiste na ressecgao do segmento retossigmoideano com- prometido e na construgao de uma colostomia proximal, com fechamento do coto retal distal. Em urn quadro de inflamagao e abscesso de urn segmento intestinal, este deve ser ressecado, e a derivagao do transito intestinal deve ser efetiva. Atividade 14 Resposta: 0 tipo de estoma realizado no paciente apresentado foi uma colostomia terminal. Utilizou- se uma colostomia terminal porque ela desvia completamente o transito fecal. Atividade 15 Resposta: 0 estoma realizado e classificado, quanto a sua duragao, como temporario, porque o paciente, ficando curado do seu quadro inflamatorio, podera ter restaurado seu transito intestinal e voltara, entao, a evacuagao natural pelo anus. |REFERENCES 1 Araujo SE. Definigoes e tecnicas de estomas intestinais. Disponivel em: colorretal.com.br 2 Kretschmer KP. 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