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1 Curso Ênfase © 2019 DIREITO PREVIDENCIÁRIO – PHELIPE CARDOSO AULA12 SEGURADOS OBRIGATÓRIOS PARTE2 1. INTRODUÇÃO Estamos estudando os segurados obrigatórios do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e finalizamos a aula anterior com os empregados e agora prosseguiremos com as demais espécies de segurados obrigatórios. 2. SEGURADOS OBRIGATÓRIOS NO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL (RGPS) 2.2. DOMÉSTICOS Relativamente aos empregados, o conceito da lei de benefícios é muito mais amplo do que o conceito do direito do trabalho, contudo, no que tange aos domésticos, o conceito é o mesmo. Quanto aos trabalhadores domésticos, a lei previdenciária não traz um conceito diverso ou um elenco muito mais amplo do que o que é considerado trabalhador doméstico no âmbito do direito do trabalho. Podemos dizer que, quanto a espécie de trabalhadores domésticos, há uma identidade de conceito tanto na esfera trabalhista quanto na esfera previdenciária. 2.1.1CONCEITO DE TRABALHADOR DOMÉSTICO O conceito de trabalhador doméstico vigente é o do art. 1º da LC 150/2015, lei que regulamentou o direito dos trabalhadores domésticos. Art. 1º. Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que presta serviços de forma contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias por semana, aplica-se o disposto nesta Lei. Parágrafo único. É vedada a contratação de menor de 18 (dezoito) anos para desempenho de trabalho doméstico, de acordo com a Convenção no 182, de 1999, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e com o Decreto no 6.481, de 12 de junho de 2008. Sendo assim, de acordo com a lei, é trabalhador doméstico aquele maior de 18 (dezoito) anos que presta, por mais de 2 (dois) dias por semana, serviço de natureza contínua, subordinada, onerosa e pessoal a pessoa ou família no âmbito da residência em atividade sem fins lucrativos. Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso AULA12 Segurados Obrigatórios PARTE2 2 Curso Ênfase © 2019 É interessante a introdução do elemento temporal “por mais de 2 (dois) dias por semana”, sendo que, havendo trabalho doméstico por até 2 (dois) dias por semana, muito provavelmente haverá descaracterização do conceito de trabalhador ou reenquadramento desse trabalhador em outra categoria de segurado obrigatório, provavelmente um contribuinte individual, como veremos na sequencia do nosso estudo, haja vista que este trabalhador não terá um vínculo perene, mas terá um vínculo eventual como diarista ou autônomo, então o elemento temporal é importante, por mais de 2 (dois) dias por semana. Se não houver esse requisito, teremos o reenquadramento do doméstico em outra categoria de segurado obrigatório, provavelmente um contribuinte individual. 2.3. AVULSOS Tal como acontece com os trabalhadores domésticos, há uma identidade de conceitos, o mesmo conceito do direito do trabalho é transportado para o direito previdenciário. Nesse sentido, são trabalhadores avulsos aqueles que prestam serviços de natureza urbana ou rural a uma ou mais empresas sem vínculo de emprego e são intermediados pelo Órgão Gestor de Mão de Obra (OGMO) ou sindicato da categoria. É o mesmo conceito do direito do trabalho. 2.4. SEGURADOS ESPECIAIS Temos um conceito próprio e exclusivo do direito previdenciário, não há um equivalente na esfera do direito do trabalho, estamos tratando de um conceito específico no direito previdenciário, previsto no art. 11, VII do plano de benefícios previdenciários, detalhados em uma série de §§ do artigo. É um conceito bastante detalhado na lei de benefícios e é importante a leitura do inciso VII e dos §§ em razão do detalhamento e da incidência nas provas objetivas. VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de: a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade: 1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais; 2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades nos termos do inciso XII do caput do art. 2º da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, e faça dessas atividades o principal meio de vida; Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso AULA12 Segurados Obrigatórios PARTE2 3 Curso Ênfase © 2019 b) pescador artesanal ou a este assemelhado que faça da pesca profissão habitual ou principal meio de vida; e c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade ou a este equiparado, do segurado de que tratam as alíneas a e b deste inciso, que, comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo. § 1o Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos membros da família é indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento socioeconômico do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes. § 2º Todo aquele que exercer, concomitantemente, mais de uma atividade remunerada sujeita ao Regime Geral de Previdência Social é obrigatoriamente filiado em relação a cada uma delas. § 3º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social–RGPS que estiver exercendo ou que voltar a exercer atividade abrangida por este Regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade, ficando sujeito às contribuições de que trata a Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, para fins de custeio da Seguridade Social. § 4º O dirigente sindical mantém, durante o exercício do mandato eletivo, o mesmo enquadramento no Regime Geral de Previdência Social-RGPS de antes da investidura. § 5o Aplica-se o disposto na alínea g do inciso I do caput ao ocupante de cargo de Ministro de Estado, de Secretário Estadual, Distrital ou Municipal, sem vínculo efetivo com a União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias, ainda que em regime especial, e fundações. § 6o Para serem considerados segurados especiais, o cônjuge ou companheiro e os filhos maiores de 16 (dezesseis) anos ou os a estes equiparados deverão ter participação ativa nas atividades rurais do grupo familiar. § 7o O grupo familiar poderá utilizar-se de empregados contratados por prazo determinado ou de trabalhador de que trata a alínea g do inciso V do caput, à razão de no máximo 120 (cento e vinte) pessoas por dia no ano civil, em períodos corridos ou intercalados ou, ainda, por tempo equivalente em horas de trabalho, não sendo computado nesse prazo o período de afastamento em decorrência da percepção de auxílio-doença. § 8o Não descaracteriza a condição de segurado especial: Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso AULA12 Segurados Obrigatórios PARTE2 4 Curso Ênfase © 2019 I – a outorga, por meio de contrato escrito de parceria, meação ou comodato, de até 50% (cinqüenta por cento) de imóvel rural cuja área total não seja superior a 4 (quatro) módulos fiscais, desde que outorgante e outorgado continuem a exercer a respectiva atividade, individualmente ou em regime de economia familiar; II – a exploração da atividade turística da propriedade rural, inclusive com hospedagem, por não mais de 120 (cento e vinte) dias ao ano; III – a participação em plano de previdência complementar instituído por entidade classista a que seja associado em razão da condiçãode trabalhador rural ou de produtor rural em regime de economia familiar; e IV – ser beneficiário ou fazer parte de grupo familiar que tem algum componente que seja beneficiário de programa assistencial oficial de governo; V – a utilização pelo próprio grupo familiar, na exploração da atividade, de processo de beneficiamento ou industrialização artesanal, na forma do § 11 do art. 25 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991; e VI - a associação em cooperativa agropecuária ou de crédito rural; e VII - a incidência do Imposto Sobre Produtos Industrializados - IPI sobre o produto das atividades desenvolvidas nos termos do § 12. § 9o Não é segurado especial o membro de grupo familiar que possuir outra fonte de rendimento, exceto se decorrente de: I – benefício de pensão por morte, auxílio-acidente ou auxílio-reclusão, cujo valor não supere o do menor benefício de prestação continuada da Previdência Social; II – benefício previdenciário pela participação em plano de previdência complementar instituído nos termos do inciso IV do § 8o deste artigo; III - exercício de atividade remunerada em período não superior a 120 (cento e vinte) dias, corridos ou intercalados, no ano civil, observado o disposto no § 13 do art. 12 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991; IV – exercício de mandato eletivo de dirigente sindical de organização da categoria de trabalhadores rurais; V – exercício de mandato de vereador do Município em que desenvolve a atividade rural ou de dirigente de cooperativa rural constituída, exclusivamente, por segurados especiais, observado o disposto no § 13 do art. 12 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991; Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso AULA12 Segurados Obrigatórios PARTE2 5 Curso Ênfase © 2019 VI – parceria ou meação outorgada na forma e condições estabelecidas no inciso I do § 8o deste artigo; VII – atividade artesanal desenvolvida com matéria-prima produzida pelo respectivo grupo familiar, podendo ser utilizada matéria-prima de outra origem, desde que a renda mensal obtida na atividade não exceda ao menor benefício de prestação continuada da Previdência Social; e VIII – atividade artística, desde que em valor mensal inferior ao menor benefício de prestação continuada da Previdência Social. § 10. O segurado especial fica excluído dessa categoria: I – a contar do primeiro dia do mês em que: a) deixar de satisfazer as condições estabelecidas no inciso VII do caput deste artigo, sem prejuízo do disposto no art. 15 desta Lei, ou exceder qualquer dos limites estabelecidos no inciso I do § 8o deste artigo; b) enquadrar-se em qualquer outra categoria de segurado obrigatório do Regime Geral de Previdência Social, ressalvado o disposto nos incisos III, V, VII e VIII do § 9o e no § 12, sem prejuízo do disposto no art. 15; c) tornar-se segurado obrigatório de outro regime previdenciário; e d) participar de sociedade empresária, de sociedade simples, como empresário individual ou como titular de empresa individual de responsabilidade limitada em desacordo com as limitações impostas pelo § 12; II – a contar do primeiro dia do mês subseqüente ao da ocorrência, quando o grupo familiar a que pertence exceder o limite de: a) utilização de terceiros na exploração da atividade a que se refere o § 7o deste artigo; b) dias em atividade remunerada estabelecidos no inciso III do § 9o deste artigo; e c) dias de hospedagem a que se refere o inciso II do § 8o deste artigo. § 11. Aplica-se o disposto na alínea a do inciso V do caput deste artigo ao cônjuge ou companheiro do produtor que participe da atividade rural por este explorada. § 12. A participação do segurado especial em sociedade empresária, em sociedade simples, como empresário individual ou como titular de empresa individual de responsabilidade limitada de objeto ou âmbito agrícola, agroindustrial ou agroturístico, considerada microempresa nos termos da Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006, não o exclui de tal categoria Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso AULA12 Segurados Obrigatórios PARTE2 6 Curso Ênfase © 2019 previdenciária, desde que, mantido o exercício da sua atividade rural na forma do inciso VII do caput e do § 1o, a pessoa jurídica componha-se apenas de segurados de igual natureza e sedie-se no mesmo Município ou em Município limítrofe àquele em que eles desenvolvam suas atividades. Tratando do conceito de segurado especial de uma forma mais analítica, podemos conceituar como trabalhadores rurais de pequenas glebas de terra, a lei entende como pequenas glebas até 4 (quatro) módulos fiscais, bem como, também são segurados especiais os extrativistas e pescadores artesanais. Estão incluídos no conceito de segurados especiais o cônjuge ou companheiro desses trabalhadores bem como os filhos e os equiparados a filhos desde que maiores de 16 (dezesseis) anos e desde estes familiares trabalhem com o grupo familiar tendo participação ativa, é o que se denomina regime de economia familiar. Esses trabalhadores devem residir em um imóvel rural ou em um aglomerado urbano ou rural próximo do local de trabalho e esse trabalho na agricultura, extrativismo ou na pesca artesanal, deve ser em caráter de essencialidade, relevante, importante para o sustento do trabalhador e da sua família, não podendo ser algo a mais diante de outra profissão, precisa ser relevante e essencial. O trabalho, como dito, pode ser individual ou em regime de economia familiar. Pode haver auxílio eventual de terceiros, mútua colaboração, o que não pode acontecer é que esses trabalhadores trabalhem de maneira empresária, com empregados fixos, vínculos duradouros, mas pode haver mútua colaboração, auxílio de terceiros, ainda que remunerados, mas não de forma empresarial, não de maneira com quadro próprio de empregados. Pode haver, também, trabalho intercalado de natureza urbana, esse trabalhador, o trabalhador rural, extrativista, o pescador artesanal, podem de maneira eventual e intercalada, com a sua atividade principal, exercer algum trabalho urbano, isso é relativamente comum entre safra do pescador ou no período em que não há possibilidade de plantio, colheita, nessas situações em que não se consegue sobrevivência com seu trabalho típico, com seu trabalho principal, poderá buscar uma renda urbana, eventual, esporádica, intercalada com o seu trabalho, isso por si só não descaracteriza a condição de segurado especial. Esse é o conceito analítico de segurado especial e de forma sintética podemos dizer que o segurado especial é aquele pequeno agricultor, o extrativista ou pescador que trabalha de maneira rudimentar, em pequenas glebas, sozinho ou com auxílio da sua família, e o faz de maneira relevante e essencial para o seu próprio sustento, não faz, não utiliza uma organização Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso AULA12 Segurados Obrigatórios PARTE2 7 Curso Ênfase © 2019 empresarial, não possui quadro de empregados, contando, no máximo, com o auxílio eventual de terceiros, e nada impede que no período de estiagem, seca ou entre safra que busque uma renda urbana intercalada com a sua atividade principal, isso de maneira esporádica. Esse é o cenário do segurado especial, observem que quando falamos em segurado especial, estamos falando de uma espécie, gênero trabalhador rural, o conceito de trabalhador rural é bastante estrito, específico, e há outras espécies de trabalhadores rurais, nem todo trabalhador rural é segurado especial, mas todo segurado especial é trabalhador rural, vale dizer, no gênerotrabalhadores rurais podemos ter enquadramento como empregado rural, avulso rural, contribuinte individual rural ou segurado especial, que é espécie do gênero trabalhador rural, dada a especificidade do conceito. 3. ALGUMAS PECULIARIDADES Mencionamos que o segurado especial é o trabalhador rural, o extrativista e o pescador artesanal, surge a seguinte questão: 3.1. ÍNDIO O índio é segurado especial ou não? O índio tem o Estatuto do Índio, regime próprio de proteção dos indígenas, mas não há nenhuma distinção quanto a possibilidade de exercer na plenitude os seus direitos trabalhistas e previdenciários. Significa que, o índio, por si só, não recebe uma classificação, um enquadramento específico como segurado, isso irá depender da natureza do trabalho que vier a exercer. O índio pode ser qualquer segurado da previdência social, a única peculiaridade que há no que diz respeito ao índio é que se ele for segurado especial a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) emite a certidão comprobatória dessa condição de segurado especial, essa é a única peculiaridade quanto ao índio. 3.2. BOIA-FRIA O boia-fria não é segurado especial. O boia-fria, em regra, não é aquele indivíduo que trabalha em determinada gleba de terra, sua ou de terceiro, fixo, trabalha sempre naquele mesmo local, mesma gleba de terra, exercendo a lavoura ou fazendo extrativismo ou pesca artesanal. Por definição, o boia-fria é um trabalhador itinerante, é um trabalhador volante, que trabalha para diversas tomadores conforme a necessidade, a safra, conforme a demanda do mercado local, em rigor, o boia-fria seria um contribuinte especial, porque seria um verdadeiro trabalhador diarista, autônomo, mas sabemos a grande vulnerabilidade dessa categoria de Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso AULA12 Segurados Obrigatórios PARTE2 8 Curso Ênfase © 2019 trabalhadores, em razão disso, a jurisprudência estendeu aos boias-frias as mesmas prerrogativas dos segurados especiais no que se refere a questão probatória e requisitos de acessos a benefícios, significa que o boia-fria não é um segurado especial mas conta com as prerrogativas do segurado especial no que se refere a prova do seu trabalho e aos requisitos de acesso aos benefícios. Veremos ao longo do curso que os segurados especiais possuem peculiaridades no que se refere a forma de provar a sua atividade, a dispensa do recolhimento de contribuições, requisitos diferenciados para a aposentadoria por idade, enfim, essas “prerrogativas” que gozam os segurados especiais são extensíveis aos boias-frias, não porque são eles são segurados especiais na definição da lei, mas em razão da histórica vulnerabilidade social da categoria, por vezes, até maior do que a do próprio segurado especial. Nesse ponto, chegou-se a discutir se para o boia-fria a dispensa da necessidade de apresentar início de prova especial, esse entendimento chegou a prevalecer em um dado momento, mas o STJ pacificou em Recurso Repetitivo 1321493, Tema 554, que para o boia-fria não há dispensa do início de prova material, o boia-fria deve sim apresentar início de prova material, goza das prerrogativas probatórias de acesso a benefícios dos segurados especiais, portanto, deverá observar as mesmas regras, não sendo o caso de dispensar para eles o início de prova material, o que consistiria em privilégios, prerrogativas, ainda maior que a dos segurados especiais. Portanto, tanto os segurados especiais quanto os boias-frias devem realizar a prova da sua condição via documentos, via início de prova material corroborada por testemunhas. 3.3. GARIMPEIRO Garimpeiro não é segurado especial, sendo excluído da legislação da condição de segurado especial, provavelmente é o mais comum, é considerado contribuinte especial, não é segurado especial. A peculiaridade é que também conta com um redutor etário para fazer jus a aposentadoria por idade e isso não o torna um segurado especial. 4. DETALHAMENTOS DO ART. 11 (§§7º E 8º) Mencionamos que o art. 11 da Lei de Benefícios possui uma série de parágrafos com detalhamentos sobre a figura do segurado especial, vamos conhecer algumas dessas normas. Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso AULA12 Segurados Obrigatórios PARTE2 9 Curso Ênfase © 2019 §7º. O grupo familiar poderá utilizar-se de empregados contratados por prazo determinado ou de trabalhador de que trata a alínea g do inciso V do caput, à razão de no máximo 120 (cento e vinte) pessoas por dia no ano civil, em períodos corridos ou intercalados ou, ainda, por tempo equivalente em horas de trabalho, não sendo computado nesse prazo o período de afastamento em decorrência da percepção de auxílio-doença. §8º. Não descaracteriza a condição de segurado especial: I – a outorga, por meio de contrato escrito de parceria, meação ou comodato, de até 50% (cinqüenta por cento) de imóvel rural cuja área total não seja superior a 4 (quatro) módulos fiscais, desde que outorgante e outorgado continuem a exercer a respectiva atividade, individualmente ou em regime de economia familiar; II – a exploração da atividade turística da propriedade rural, inclusive com hospedagem, por não mais de 120 (cento e vinte) dias ao ano; III – a participação em plano de previdência complementar instituído por entidade classista a que seja associado em razão da condição de trabalhador rural ou de produtor rural em regime de economia familiar; e IV – ser beneficiário ou fazer parte de grupo familiar que tem algum componente que seja beneficiário de programa assistencial oficial de governo; V – a utilização pelo próprio grupo familiar, na exploração da atividade, de processo de beneficiamento ou industrialização artesanal, na forma do § 11 do art. 25 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991; e VI - a associação em cooperativa agropecuária ou de crédito rural; e VII - a incidência do Imposto Sobre Produtos Industrializados - IPI sobre o produto das atividades desenvolvidas nos termos do § 12. Esses parágrafos foram introduzidos por norma reformadora no plano de benefícios, positivando uma série de posicionamentos da jurisprudência sobre os segurados especiais. Trazem um elenco de situações que, se verificadas na prática, não descaracteriza a condição de segurado especial. Não descaracteriza a condição de segurado especial: · contratar trabalhadores eventuais a razão de até 120 (cento e vinte) pessoas por dia; · outorgar 50% (cinquenta) do imóvel para outro segurado especial; · exercer atividade turística na propriedade por até 120 (cento e vinte) dias por ano; · auferir renda na entressafra por até 120 (cento e vinte) dias por ano; Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso AULA12 Segurados Obrigatórios PARTE2 10 Curso Ênfase © 2019 · participar de cooperativa agropecuária; · ser dirigente de sindicato de categoria rural ou ser vereador no município; · utilizar processos de beneficiamento desde que rudimentar; · participação em plano de previdência privada da categoria; · ser beneficiário de programa assistencial do governo, receber um LOAS, bolsa- família, etc.; · receber pensão por morte, auxílio-acidente e auxílio reclusão desde que seja até 1 (um) salário mínimo; · exercer atividade artesanal e artística até um salário mínimo por mês; · participar de microempresa rural, desde que mantenha a atividade rurícola para subsistência. Vimos algumas previsões da lei que foram introduzidas como forma de consolidar a jurisprudência que foi solidificando a respeito desse assunto. Além das previsões da lei, temos súmula importantes sobre a compreensãodo segurado especial. Súmula 30, TNU. Tratando-se de demanda previdenciária, o fato de o imóvel ser superior ao módulo rural não afasta, por si só, a qualificação de seu proprietário como segurado especial, desde que comprovada, nos autos, a sua exploração em regime de economia familiar. A dimensão da propriedade rural não descaracteriza o regime de economia familiar do segurado especial, desde que preenchidos os demais requisitos necessários à sua configuração. A lei prevê como segurador especial o trabalhador rural que desenvolve trabalho rural em pequenas glebas de terra, até 4 (quatro) módulos fiscais. Às vezes, no caso concreto, a propriedade pode ser superior aos 4 (quatro) módulos fiscais e isso não descaracterizaria a sua condição como segurador especial. Presentes todos os requisitos, o tamanho da terra, por si só, pode ser relevado pelo julgador, muitas vezes a terra tem área não produtiva, área de preservação ambiental, uma série de questões a serem consideradas na equidade do caso concreto. Súmula 41, TNU. A circunstância de um dos integrantes do núcleo familiar desempenhar atividade urbana não implica, por si só, a descaracterização do trabalhador rural como segurado especial, condição que deve ser analisada no caso concreto. Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso AULA12 Segurados Obrigatórios PARTE2 11 Curso Ênfase © 2019 ü STJ (Seguridade social. Previdenciário e processual civil. Recurso especial interposto com base nas alíneas «a» e «c» do art. 105, III, da CF/88. Dissídio jurisprudencial não comprovado. Recurso conhecido somente pela alínea a do permissivo constitucional. Aposentadoria rural. Requisitos etário e cumprimento da carência. Desnecessidade de comprovação simultânea. Perda da qualidade de segurada quando do implemento da idade). ü STJ (Seguridade social. Previdenciário. Agravo regimental no recurso especial. Aposentadoria rural por idade. Segurada especial. Regime de economia familiar caracterizado). O trabalho urbano de um dos membros do grupo familiar não descaracteriza, por si só, os demais integrantes como segurados especiais, devendo ser averiguada a indispensabilidade do trabalho rural para a subsistência do grupo familiar. Havendo a situação de trabalho em economia familiar e um dos membros dessa família exerce atividade urbana totalmente dissociado da atividade de economia familiar, apenas esse trabalhador que foi par o meio urbano que será descaracterizado como trabalhador especial e não toda a família. Se uma pessoa exerce o trabalho urbano ela, e somente ela, deixará de ser segurada especial, o restante da família continuará sendo segurado especial. Somente haverá uma descaracterização completa do núcleo familiar se o trabalho urbano desse membro específico retirar por completo a relevância do trabalho rural, extrativista ou pesqueiro do grupo familiar. Dependendo do grau de renda, passa-se a sustentar a família, a agricultura, a pesca ou extrativismo, deixando completamente de ter relevância para a família, nesse caso, ocorrerá a descaracterização da família inteira, mas se não for essa situação peculiar e é o caso concreto que irá dizer, o trabalho urbano descaracteriza apenas o membro que o exerce. Súmula 46, TNU. exercício de atividade urbana intercalada não impede a concessão de benefício previdenciário de trabalhador rural, condição que deve ser analisada no caso concreto. O exercício da atividade intercalada não impede a concessão de benefício previdenciário ao trabalhador rural, condição que deve ser analisada no caso concreto. Essa condição da atividade intercalada já foi positivada nos §§ do art. 11, o segurado especial poderá, intercaladamente à sua atividade como segurado especial, exercer atividade urbano, desde que seja esporádico, eventual e limitado a 120 (cento e vinte) dias por ano. 5. CONTRIBUINTES INDIVIDUAIS Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso AULA12 Segurados Obrigatórios PARTE2 12 Curso Ênfase © 2019 Caracterizam uma espécie residual de trabalhadores, temos um conceito próprio no direito previdenciário, não há um conceito equivalente no direito do trabalho, a lógica do legislador previdenciário foi agrupar aqueles sem vínculo duradouro, sem vínculo perene com o tomador. Estão nessa categoria, basicamente os trabalhadores que trabalham por conta, sozinhos e de forma independente, ainda que prestem serviços para terceiros, mas não de maneira contínua, duradoura. São exemplos de contribuintes individuais: · autônomos, diaristas, eventuais; · empresários, microempreendedor individual; · cooperados de cooperativa de produção de trabalho; · notários e registradores, pois não estão vinculados ao regime próprio, trabalham em delegação, não há vínculo de provimento efetivo com o Estado e trabalham para si, não tem vínculo perene, são segurados obrigatórios na condição de contribuintes individuais; · médicos residentes; · ministros de confissão religiosa remunerados · síndicos remunerados; Há um julgado interessante do STJ que entendeu como síndico remunerado aquele que não recebe um salário, remuneração, mas que tenha dispensa do pagamento da taxa condominial mensal, logo, é contribuinte individual. · grandes produtores ou pescadores; aqueles que não se enquadram como segurados especiais. · magistrados da justiça eleitoral, fora do RPPS. Na Justiça Eleitoral há magistrados que são nomeados para exercem mandato e não possuem vínculo com o regime próprio. · conselheiros tutelares, de acordo com a reforma do regulamento prevista no Decreto 4.032/01. OBSERVAÇÃO: o segurado especial faz jus a benefícios independentemente do recolhimento de contribuições, basta ao segurado especial comprovar a sua atividade como segurado especial, ainda que não recolha. Nessa condição, contudo, fará jus à alguns benefícios e não a outros e com renda mensal no valor mínimo. Caso esse segurado especial queira fazer jus a outros benefícios ou a benefícios com valor acima do mínimo, a lei faculta que o segurado especial recolha contribuições como se fosse um contribuinte especial. A lei faculta que o segurado Direito Previdenciário – Phelipe Cardoso AULA12 Segurados Obrigatórios PARTE2 13 Curso Ênfase © 2019 especial, por vontade própria, recolha contribuições como se fosse um contribuinte individual, passando a ter direito a aposentadoria por tempo de contribuição e a outros benefícios com valor superior ao mínimo, a depender do montante de contrição que venha a recolher como se contribuinte especial fosse.
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