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AULA 1 AUDITORIA TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIA Profª Sayrui Unoki de Azevedo 2 CONVERSA INICIAL Olá! Seja bem-vindo(a) a aula que contextualiza os fundamentos de auditoria que são essenciais para o entendimento da profissão de auditor. Nesta aula você irá conhecer as normas e os fundamentos de auditoria, o que são os papéis de trabalho e o relatório de auditoria, compreender a responsabilidade legal em auditoria, bem como saber diferenciar auditoria contábil, operacional e trabalhista. Desejo a você bons estudos! CONTEXTUALIZANDO A auditoria consiste em analisar de forma global todas as transações realizadas pela organização. Isso significa dizer que, ao auditor, compete analisar um grupamento de contas contábeis e não um aspecto específico como faz o perito. Isso se deve ao fato de que determinado setor da empresa certamente afetará outros setores correlacionados (BDO Trevisan, 2007). É difícil precisar quando começa a história da auditoria, pois toda a pessoa que possuía a função de verificar a legitimidade dos fatos econômico-financeiros, prestando contas a um superior, pode ser considerada como auditor. Os imperadores romanos nomeavam altos funcionários que eram encarregados de supervisionar as operações financeiras de seus administradores provinciais e lhes prestar contas verbalmente. Na França, no século III, os barões tinham que realizar leitura pública das contas de seus domínios, na presença de funcionários designados pela Coroa. Na Inglaterra, por ato do Parlamento, o rei Eduardo I dava direito aos barões de nomear seus prepostos. Ele próprio mandou verificar as contas do testamento de sua falecida esposa. A aprovação desses auditores é atestada em um documento que constitui um dos primeiros relatórios de auditoria, denominado "probatur sobre as contas". No Brasil colonial, tínhamos a figura do juiz colonial, o olho do rei, que era destacado pela Coroa portuguesa para verificar o correto recolhimento dos tributos para o Tesouro, reprimindo e punindo fraudes. [...] Mas o grande salto da auditoria ocorreu após a crise econômica americana de 1929. No início dos anos 30, é criado o famoso Comitê May, um grupo de trabalho instituído com a finalidade de estabelecer regras para as empresas que tivessem suas ações cotadas em bolsa, tornando obrigatória a Auditória Contábil Independente nos demonstrativos financeiros dessas empresas. (Costa, 2007, p.14) TEMA 1 – NORMAS DE AUDITORIA As normas de auditoria foram definidas pelo American Institute of Certified Puclic Accountants (AICPA), tendo sido adotadas pela maioria dos países, inclusive pelo Brasil. As normas de auditoria buscam estabelecer arquétipos técnicos para a devida qualificação tanto do trabalho de auditoria quanto da atuação do auditor e seu parecer. Ou seja, o objetivo das normas de auditoria é 3 garantir a todos os que dependem da opinião do auditor que foram observados todos os requisitos para a concretização do trabalho (Attie, 2011). Em outras palavras, pode-se dizer que normas de auditoria são as regras estabelecidas pelos órgãos reguladores que visam legitimar a profissão e as atividades desenvolvidas, determinando as premissas que devem ser seguidas pelos profissionais na sua atuação e no desenvolvimento do trabalho. Ressalta-se que as normas de auditoria se distinguem dos procedimentos de auditoria (que serão abordados no decorrer da disciplina). Os procedimentos de auditoria são as ações que serão executadas, e as normas de auditoria tratam das ações e dos objetivos do trabalho de auditoria, garantindo os atributos indispensáveis referentes ao profissional do auditor e sua avaliação pessoal pela averiguação realizada e o relatório emitido (Attie, 2011). No caso brasileiro, as normas de auditoria foram inicialmente formalizadas por meio da Resolução do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) n. 321, de 14 de abril de 1972. Ao longo dos anos, os profissionais de contabilidade e os órgãos de classe passaram a reivindicar a atualização dessas normas. Em decorrência disso, um trabalho envolvendo o CFC, o Instituto Brasileiro dos Contadores (IBRACON) – antigo Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IAIB) –, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central (Bacen) culminou na emissão, pelo CFC, da Resolução n. 700, de 24 de abril de 1991, aprovando a Norma Brasileira de Contabilidade – Normas de Auditoria Independente das Demonstrações Contábeis – NBC T 11, e, em 10 de maio de 1991, da Resolução CFC 700/1991, aprovando a Norma Brasileira de Contabilidade – Normas Profissionais de Auditor Independente – NBC P 1 e revogando a Resolução CFC 321/72. Em seguida, o cumprimento da NBC T 11 foi tornado obrigatório pelo Bacen, por meio da Circular n. 1957, de 10 de maio de 1991, e pela CVM, por meio da Instrução n. 145, da mesma data. A norma NBC T 11 – foi revogada pela Resolução 1203 de 03/12/2009, discorria sobre a “disposições gerais [...] em auditoria, [...] norma de execução dos trabalhos [...] e normas do parecer dos auditores independentes”. A norma NBC P1 – foi revogada pela Resolução NBC PA 11 de 13/12/2017, tratava da “competência técnico Profissional” do auditor independente, da “independência, [...] das responsabilidades do auditor na execução dos trabalhos, [...] dos honorários”, da “guarda da documentação”, do “sigilo [...] da utilização do auditor interno” e de especialistas”. 4 Com o advento da Lei n. 11.638/2007, que busca a harmonização contábil com as normas internacionais de contabilidade, houve a necessidade de descrição de normas de auditoria em forma de Resolução pelo CFC, concernente ao novo cenário delineado pela nova legislação. As normas de auditoria decorrentes da nova legislação da forma internacional da contabilidade e de seus atuantes ofereceram maior abrangência quanto à execução dos trabalhos relacionados às qualificações e competências necessárias para o desempenho da função de auditor (Attie, 2011). Faz-se relevante destacar alguns pontos contemplados na NBC PA 11 de 13/12/2017 que entrou em vigor a partir de 01/01/2019, cujo alcance é exclusivo, ao auditor registrado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Confidencialidade: Adotam-se, para a Revisão pelos Pares, as mesmas normas sobre confidencialidade aplicáveis a qualquer trabalho de auditoria independente, conforme definido pelo CFC. Neste contexto, os membros do CRE e das equipes revisoras ficam impedidos de divulgar qualquer informação obtida durante a participação na Revisão pelos Pares, em qualquer fase do trabalho. Independência: O Revisor e os demais membros da sua equipe devem ter independência em relação ao Revisado e aos clientes selecionados, de acordo com as definições previstas nas Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas e Profissionais editadas pelo CFC e, quando aplicável, em outras normas emitidas por órgão regulador. 23. Os membros da equipe revisora podem possuir investimentos ou grau de parentesco com executivos em posições-chave nos clientes do Revisado, porém, não podem participar do processo de revisão destes clientes. 24. São vedadas as revisões recíprocas entre auditores independentes (pessoas físicas e jurídicas) Competência e impedimentos do revisor - Para atuar como Revisor, o auditor deve se assegurar de que: (a) possui experiência técnica e recursos humanos compatível com a revisão a ser realizada. A compatibilidade refere-se, principalmente, à experiência dos revisores em trabalhos de auditoria de similar complexidade; (b) o auditor independente pessoa física e os profissionais responsáveis técnicos da firma de auditoria independente encarregados da revisão estejam devidamente registrados na CVM. Adicionalmente, todos os profissionais envolvidos no trabalho de revisão devemter registro no CNAI; e (c) caso o Revisado tenha em sua lista de clientes entidades regulamentadas que demandem habilitação específica, os membros da equipe revisora devem possuir habilitação para atuar em auditoria das respectivas entidades, quando forem alocados a revisões de tais 5 entidades, cabendo ao Revisado a responsabilidade pela verificação dessa habilitação. O auditor não pode atuar como Revisor nas seguintes hipóteses: (a) quando o seu registro estiver suspenso ou cancelado pela CVM, pelo CRC, ou quando estiver desautorizado a atuar como auditor por organismos oficiais controladores e reguladores de mercado; (b) quando o último relatório de revisão, no ano em que o Revisor foi submetido à Revisão, tiver sido emitido do tipo previsto nas alíneas (c) ou (d) do item 38; (c) quando, na condição de revisado, seu último relatório não tiver sido aprovado pelo CRE, exceto no caso em que a responsabilidade pela não aprovação do relatório tenha sido atribuída ao Revisor; (d) quando, na condição de Revisor, tiver trabalho de revisão não aprovado pelo CRE; (e) quando existir, no relatório de revisão emitido pelo Revisor, ressalva de limitação de escopo na execução dos seus trabalhos de revisão; (f) quando não tiver cumprido os prazos determinados pelo CRE na condição de Revisado ou Revisor; (g) quando não tenha sido submetido a sua primeira Revisão pelos Pares; (h) quando, por decisão fundamentada do CRE, a ressalva contida no último relatório de revisão sobre os seus trabalhos for considerada de natureza grave. Nessa situação o Revisado deve ser informado dessa condição; e (i) quando, nos últimos dois anos anteriores ao da revisão que pretenda fazer, não tenha executado ao menos um trabalho de auditoria independente. (Conselho Federal de Contabilidade, 2017). TEMA 2 – FUNDAMENTOS DE AUDITORIA (RISCO E RELEVÂNCIA, AMOSTRAGEM E PROCEDIMENTOS) 2.1 Risco e relevância O risco de auditoria é o risco de o auditor, por desconhecimento, não mudar sua opinião sobre dados que contenham erros materiais. Portanto, deve-se considerar o conceito de materialidade também em conjunto com o risco de auditoria. Os erros materiais podem surgir como resultado de: 6 1. Erros não intencionais, incluindo erros aritméticos, erros na aplicação dos Princípios de Contabilidade (Entidade; Continuidade; Oportunidade; Registro pelo Valor Original; Competência; Prudência) ou interpretação equivocada de fatos. 2. Erros intencionais, incluindo a declaração falsa ou omissão dos efeitos de eventos ou transações, falsificação de registros ou documentos, omissão de informações significativas, má aplicação intencional dos Princípios de Contabilidade e apropriação fraudulenta de ativos. Em toda e qualquer atividade existe risco. Os riscos envolvidos que podem comprometer o andamento e o resultado do trabalho do auditor devem ser cuidadosamente analisados e controlados para que o resultado da auditoria seja o mais satisfatório possível. Attie (2011, p. 81) define que o risco de auditoria é uma função dos riscos de distorção relevante e do risco de detecção. A avaliação dos riscos baseia-se em procedimentos de auditoria para a obtenção de informações necessárias para essa finalidade e evidências obtidas ao longo de toda a auditoria. A avaliação dos riscos é antes uma questão de julgamento profissional que uma questão passível de mensuração precisa. Os riscos de distorção relevante podem se apresentar na demonstração contábil em nível geral ou em nível de transações, saldos contábeis e divulgações. O risco de detecção, por sua vez, está associado à natureza, época e extensão dos procedimentos determinados pelo auditor para levar o risco de auditoria a um nível baixo aceitável. Dessa forma, para a eficácia do trabalho de auditoria é necessário um planejamento adequado, com a designação da equipe de pessoal apropriada ao trabalho, uso de ceticismo profissional, bem como de supervisão e revisão do trabalho de auditoria (Attie, 2011). A análise dos riscos de auditoria deve ser feita na fase de planejamento dos trabalhos. Para tornar o processo de raciocínio do risco de auditoria prático, pode-se considerar o modelo a seguir, que tem como base o pronunciamento de padrões de auditoria SAS 47 – Audit Risk and Materiality: Risco de auditoria = Risco inerente X Risco de controle X Risco de detecção http://www.icjce.es/images/pdfs/TECNICA/C03%20-%20AICPA/C311%20-%20Estudios%20y%20Varios/Interpretations%20of%20SAS%2047%20-%20Audit%20Risk%20and%20Materiality.pdf 7 Conforme definição da BDO Trevisan (2007, p. 146-147): Risco de auditoria: é o risco que a opinião do auditor seja imprópria sobre os dados ou demonstrações sobre as quais emite opinião. Risco inerente: é a suscetibilidade que uma conta, por sua natureza, tenha para ocasionar um erro material. Ou seja, não compete ao auditor reduzir o risco a zero, pois este não é objetivo do auditor dizer com segurança absoluta que as demonstrações estão totalmente livres de distorção relevante devido à fraude ou erro. Risco de controle: é o risco de que um erro material em uma conta não seja prevenido ou detectado em determinada época pelos controles da companhia. Risco de detecção: [...] é o risco de não detecção de erro material nas demonstrações através de procedimentos substantivos em auditoria. Fonte: Dooder/Shutterstock. 2.2 Amostragem Considerando os aspectos de eficiência, eficácia, risco e relevância em auditoria, é manifesta a indispensabilidade de selecionar, dentro de um universo em que se realiza a auditoria, os itens factíveis de representação do universo em que se está analisando. Isso permite ao auditor não analisar 100% do universo, o que tornaria o trabalho de auditoria inviável. Denomina-se amostragem o procedimento de seleção desses itens representativos (BDO Trevisan, 2007). São dois métodos possíveis de amostragem dos itens que serão objeto de testes de auditoria (BDO Trevisan, 2007): Não estatístico: deve ser aplicado de forma adequada e por pessoal experiente. Tem como vantagem produzir amostras de menor tamanho, aumentando a eficiência do trabalho do auditor. Contudo, por não constituir um método científico como o estatístico, tem menor aceitação quando submetido a julgamento de terceiros. Portanto, ao utilizar este método, deve-se consubstanciar muito bem como foi realizado. Estatístico: ao contrário do anterior, normalmente gera maior volume de amostras, podendo reduzir a eficiência do trabalho do auditor. Contudo, perante terceiros, sua aceitação é incontestável. Não se deve confundir o risco de auditoria, tratado neste tópico, com a auditoria baseada em riscos, que tem como objetivo direcionar o foco do trabalho para verificar tendências e condições que uma determinada organização possui para atingir seus resultados. 8 2.3 Procedimentos de auditoria Os procedimentos de auditoria constituem o caminho para a consecução do objetivo que se quer atingir com o trabalho de auditoria. Fonte: Roobcio/Shutterstock. 2.4 Amostragem No desempenho da atividade de auditoria há a necessidade de utilizar ferramentas de trabalho para viabilizar a formação de opinião do auditor. Portanto, cabe a ele identificar e atestar a validade das informações, utilizando procedimentos adequados e a apropriada extensão e profundidade de testes para fundamentar a opinião com fatos, evidências e informações possíveis, necessárias e materiais (Attie, 2011). Em outras palavras, Attie (2011) relata que procedimentos são investigações técnicas aplicadas, das quais o auditor se utiliza para realizar o seu trabalho e que, tomadas em conjunto, permitem a formação fundamentada de sua opinião sobre o trabalho realizado, de forma imparcial, isenta e inquestionável. A aplicação dos procedimentos de auditoria deve ser realizada,em razão da complexidade e volume das operações, por meio de provas seletivas, testes e amostragens, cabendo ao auditor, com base na análise de riscos de auditoria e outros elementos de que dispuser, determinar a amplitude dos exames necessários à obtenção dos elementos de convicção que sejam válidos para o todo. (NBC T 11, item 11.2.6.1) Se o auditor, durante a revisão analítica, não obtiver informações objetivas suficientes para dirimir as questões suscitadas, deve efetuar verificações adicionais, aplicando novos procedimentos de auditoria, até alcançar conclusões satisfatórias. (NBC T 11, item 11.2.6.6) Attie (2011) descreve os tipos de procedimentos de auditoria: 1. Exame físico: existência física do objeto ou item examinado. Fonte: Roobcio/Shutterstock. Se o objetivo é determinar se um bem existe, o procedimento (caminho) é inspecioná-lo fisicamente, ou seja, buscar prova material e satisfatória. Contagem de caixa, inventário de estoques, contagem de duplicatas a pagar ou a receber, dentre outros. https://www.shutterstock.com/pt/g/roobcio https://www.shutterstock.com/pt/g/roobcio 9 2. Confirmação: obtenção de declaração formal e imparcial de pessoas independentes à empresa e habilitados a confirmar. Deve considerar a data-base, amplitude do teste e tipo de confirmação: positiva com resposta formal, ou negativa com resposta em caso de discordância. Fonte: Roobcio/Shutterstock. 3. Exame dos documentos originais: exame dos documentos que comprovem transações comerciais ou de controle. Fonte: Roobcio/Shutterstock. 4. Conferência de cálculos: para constatação da adequação das operações aritméticas e financeiras, sendo a única forma de constatação de operações que envolvam somas e cálculos. Fonte: Roobcio/Shutterstock. 5. Exame de escrituração: composição dos saldos, servindo para formação ordenada de uma conta contábil em sua totalidade. Fonte: Roobcio/Shutterstock. 6. Investigação minuciosa: exame em profundidade da matéria auditada. Objetiva certificar que a matéria examinada ou informação recebida, no momento, é fidedigna. Fonte: Roobcio/Shutterstock. Confirmação de contas a receber com clientes ou contas a pagar com fornecedores, advogados, empréstimos com instituições bancárias etc. Exame de documentos de aquisição de matéria- prima, aquisição de imobilizado, vendas realizadas, contratos de empréstimos obtidos etc. Cálculo da listagem de estoque, razões das contas, equivalência patrimonial, depreciação de imobilizado, folha de pagamento, entre outras. Composição de matéria-prima, adições de imobilizado, despesas de viagens, entre outras. Exame minucioso de perda estimada de créditos de liquidação duvidosa, manutenção e reparos, despesa de viagens, entre outros. https://www.shutterstock.com/pt/g/roobcio https://www.shutterstock.com/pt/g/roobcio https://www.shutterstock.com/pt/g/roobcio https://www.shutterstock.com/pt/g/roobcio https://www.shutterstock.com/pt/g/roobcio 10 7. Inquérito: questionamento – é formular perguntas e obter respostas satisfatórias. É um dos procedimentos mais usados em auditoria. 8. Exame dos registros auxiliares: registros auxiliares são o suporte da autenticidade dos registros principais examinados. O auditor deve atentar para autenticidade e checar se não foram adulterados. Fonte: Roobcio/Shutterstock. 9. Correlação das informações obtidas: verificar se as informações estão sendo realizadas de forma adequada e compatível entre as áreas correlacionadas. Fonte: Roobcio/Shutterstock. 10. Observação: é indispensável, pois pode revelar erros ou deficiências. Fonte: Roobcio/Shutterstock. TEMA 3 – PROGRAMA DE AUDITORIA (PAPÉIS DE TRABALHO E RELATÓRIO) O programa de auditoria consiste na definição ordenada de objetivos e dos itens a serem esclarecidos no trabalho de auditoria. Ou seja, é o roteiro de procedimentos detalhados, destinado a orientar o auditor (Deckmann, 2016). Para consecução do trabalho delineado no programa de auditoria, o auditor se utiliza de papéis de trabalho, que são os registros dos serviços executados pelo auditor e se destinam a amparar o planejamento e a execução da auditoria, facilitando o processo de revisão do trabalho. Além disso, busca apoiar o registro das constatações do que foi executado, para que o objetivo final esteja em acordo com o parecer do auditor (Almeida, 2010). Attie (2011) relata que o papel de trabalho tem por finalidade permear a justificativa do trabalho feito e as conclusões alcançadas que serviram de base Controle de registro auxiliar de bens imobilizados, controle de estoques, vendas, recebimentos e pagamentos, contas a pagar, entre outros. Recebimento de duplicatas afetam contas a receber e disponível, depreciação de imobilizado afeta resultado e depreciação acumulada etc. Observação de itens obsoletos na contagem de estoque etc. https://www.shutterstock.com/pt/g/roobcio https://www.shutterstock.com/pt/g/roobcio https://www.shutterstock.com/pt/g/roobcio 11 para os relatórios ou pareceres sobre as demonstrações. Quando executado considerando seus aspectos fundamentais – a saber: completabilidade, objetividade, concisão, lógica e limpeza –, também servem como fonte de informação para consultas, permitindo adequada revisão para determinar se o serviço foi feito de forma efetiva e julgar a solidez das conclusões enunciadas, bem como poder facilitar o estudo e avaliação dos controles e avaliar o desempenho individual do auditor. Os papéis de trabalho formam o conjunto de formulário e documentos que contêm as informações e apontamentos obtidos pelo auditor durante seu exame, bem como as provas descrições dessas realizações; constituem a evidência do trabalho executado e o fundamento da sua opinião (Attie, 2011, p. 233). Os papéis de trabalho são essenciais para a organização e o andamento da auditoria, bem como para elaboração do respectivo relatório. O relatório de auditoria, por sua vez, é a peça fundamental em uma auditoria realizada, pois apresenta os resultados do trabalho de auditoria, o que foi examinado pela equipe e o que a empresa deverá melhorar ou modificar (Almeida, 2010). Ou seja, o relatório de auditoria deve conter os fatos apurados e de significância, as sugestões e recomendações para melhoras efetivas, demonstrando todos os acontecimentos no decorrer da auditoria para a entidade auditada (Attie, 2011). TEMA 4 – RESPONSABILIDADE LEGAL EM AUDITORIA Ao longo dos temas desta aula, comentou-se que a complexidade e o volume de informações com que se depara um auditor na execução de seu trabalho fazem com que este esteja atento ao risco, relevância e materialidade do que está sendo analisado, aplicando os procedimentos de auditoria a partir de testes e amostragem para determinar o quão abrangente será a análise para que este obtenha elementos para expressar sua opinião de forma convicta. Attie (2011, p. 16) declara que “a natureza, extensão e profundidade dos procedimentos de auditoria a serem aplicados dependem do tipo de investigação e da qualidade da prova a ser obtida”. Observa-se que a auditoria normalmente não tem como objetivo detectar fraudes ou erros intencionais. Contudo, o auditor, durante a execução do seu 12 trabalho, deve estar atento aos documentos analisados e analisar a relevância e os possíveis efeitos em caso de identificação de fraude. O auditor pode ser responsabilizado mesmo se não descobrir fraudes ou erros intencionais significativos, pois se considera uma forma de negligência na execução das normas de auditoria. Além disso, toda e qualquer fraude detectada deve ser comunicada à empresa auditada de forma sigilosa e confidencial (Attie, 2011). Para mais informações, a Resolução CFC n. 1207/2009, que aprova a NBC TA 240 – alterada pela NBC TA 240 (R1) de 05/09/2016, aborda com maisprofundidade a responsabilidade do auditor em relação à fraude, na conjuntura da auditoria das Demonstrações Contábeis. TEMA 5 – DIFERENÇA ENTRE AUDITORIA CONTÁBIL, AUDITORIA OPERACIONAL E AUDITORIA TRABALHISTA A auditoria contábil atua diretamente na contabilidade, verificando se o desenvolvimento das Demonstrações Contábeis é adequado, se necessita de ajustes ou se há erros. De acordo com Pereira e Nascimento (2005), a contabilidade constitui um significativo referencial para a descoberta e o tratamento de fraudes cometidas em empresas, pois ela mesma e seus relatórios podem ser utilizados como ferramenta para fraudar uma empresa ou o mercado em que esta atua. No delineamento da auditoria contábil, deve-se verificar se a empresa auditada adota os princípios de contabilidade na elaboração das demonstrações, tendo uniformidade na aplicação dos princípios de um exercício social para o outro (Almeida, 2010). A auditoria operacional consiste em revisões metodológicas de programas, organizações, atitudes ou segmentos operacionais dos setores públicos ou privados, com a finalidade de avaliar e comunicar se os recursos da organização estão sendo usados eficientemente e se estão sendo alcançados os objetivos operacionais. Resumindo, a auditoria operacional é um processo da avaliação do desempenho real, em confronto com o esperado, o que leva, inevitavelmente, à apresentação de recomendação destinada a melhorar o desempenho e a aumentar o êxito da organização (Araújo, 2004, p. 29). Independentemente do tipo de empresa, todas têm como objetivo o crescimento e a melhoria nos seus negócios e, consequentemente, precisam saber como investir. Para adquirir mais conhecimentos sobre investimento, as 13 organizações podem buscar orientação com um profissional de Contabilidade. Este indicará as melhores formas de investimento (Araújo, 2004). Supondo uma organização que precisa verificar, por exemplo, se é possível operacionalizar em máquinas e equipamentos ou cursos para os colaboradores, diante de maior incentivo para que eles produzam ainda mais, a empresa pode optar por uma auditoria operacional. Com a realização de uma auditoria operacional é possível certificar, por meio de uma investigação mais aprofundada, se os procedimentos da entidade auditada possuem falhas, erros ou possíveis fraudes. Adicionalmente, poderão avaliar se os procedimentos adotados estão trazendo os benefícios esperados à empresa (Deckmann, 2016). A auditoria trabalhista, por sua vez, é importante no auxílio da gestão da organização, evitando-se futuros passivos trabalhistas. Por meio dela, verifica-se a adequabilidade dos documentos que precisam estar à disposição em caso de necessidade e se cada procedimento é realizado de forma correta e confiável (Perez Junior et al., 2011). Os passivos trabalhistas ocorrem pela a falta do conhecimento jurídico das empresas nas mais diferentes esferas trabalhistas. Podem ser decorrentes de falha no pagamento de horas extras, adicionais e direitos que são negligenciados, dentre outros. Diante desses aspectos, percebe-se a relevância da realização de auditoria trabalhista nas empresas (Oliveira, 2012). A auditoria trabalhista visa revisar os documentos, cálculos e todos os procedimentos que são executados na organização, desde que relacionados à contratação, à permanência e até ao desligamento de um colaborador (Attie, 1986). É com a auditoria trabalhista que se verificam os dados relacionados a todos os colaboradores da empresa. Qualquer erro na área trabalhista pode trazer danos enormes para a organização, inclusive na esfera financeira, podendo gerar multa e processos judiciais. Muitas vezes, nos casos em que o funcionário se sente injustiçado ou enganado, este pode solicitar, via Ministério do Trabalho e Justiça, a revisão de seus direitos, independentemente dos motivos pelos quais seus direitos não foram pagos conforme a lei (Perez Junior et al., 2011). De forma geral, as organizações têm na auditoria uma ferramenta aliada para a revisão de seus processos na busca pela prevenção de multas e disputas judiciais, consequentemente prevenindo passivos trabalhistas futuros. 14 FINALIZANDO Nesta aula você conheceu o que são normas de auditoria e os pontos relevantes contemplados nas normas de auditoria independente, conforme a NBC P 1, bem como a responsabilidade legal em auditoria, em que o auditor também pode ser responsabilizado mesmo se não descobrir fraudes na execução do trabalho de auditoria. Aprendeu o que é risco de auditoria e que este está relacionado à relevância e à materialidade. Você também entendeu quais os métodos de amostragem, o que são e quais os tipos de procedimentos de auditoria. Além disso, você conheceu mais sobre papéis de trabalho e relatório de auditoria. Finalmente, compreendeu a diferença entre auditoria contábil, auditoria operacional e auditoria trabalhista. LEITURA COMPLEMENTAR Texto de abordagem teórica BUSSE, A.; MANZOKI, S. Auditoria de Recursos Humanos. Curitiba: InterSaberes, 2014. Leitura do Capítulo 2 – “A origem e a evolução da auditoria”. Texto de abordagem prática LÉLIS, D. L. M.; PINHEIRO, L. E. T. Percepção de auditores e auditados sobre as práticas de auditoria interna em uma empresa do setor energético. Revista Contabilidade & Finanças, São Paulo, n. 23 v. 60, p. 212-222, set./dez. 2012. Artigo disponível na base de dados Scielo: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519- 70772012000300006&lang=pt>. Acesso em: 7 jun. 2018. Saiba mais Vídeo: Função do Auditor | Novo Relatório do Auditor | Desafios Corporativos – Entrevista PwC Brasil. Entrevistado: Prof. Dr. Nelson Carvalho – FEA USP Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qj8dlpsRoa8>. Acesso em: 7 jun. 2018. https://www.estantevirtual.com.br/autor/Angela%20Busse%20e%20Simone%20Manzoki 15 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. C. Auditoria: um curso moderno e completo. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. ARAÚJO, I. da P. S. Introdução à auditoria operacional. Rio de Janeiro: FGV, 2004. ATTIE, W. Auditoria: conceitos e aplicações. São Paulo: Atlas, 2011. BDO TREVISAN. Apostila nº 4: Assistente I – Programa de Treinamento. São Paulo: BDO Trevisan, 2007. BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 dez. 2007. CFC – Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 321. Disponível em: <http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_321.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2018. _____. NBC TA 240 (R1) – Responsabilidade Do Auditor Em Relação A Fraude, No Contexto Da Auditoria De Demonstrações Contábeis, de 05/09/2016. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCTA240(R1).pdf. Acesso em: 26 set. 2019. _____. NBC PA 11 – Revisão externa de Qualidade pelos Pares, de 13/12/2017. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCPA11.pdf . Acesso em: 26 set. 2019. _____. NBC T 11 – Normas de auditoria independente das demonstrações contábeis. Disponível em: <http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/t11.htm>. Acesso em: 7 jun. 2018. _____. NBC P 1 – Normas profissionais de auditor independente. Disponível em: <http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/p1.htm>. Acesso em: 7 jun. 2018. DECKMANN, C. Auditoria trabalhista e a contribuição para a implantação do e-social. 131 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Contábeis) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí, 2016. OLIVEIRA, A. P. de. A importância da auditoria em recursos humanos para prevenção dos passivos trabalhistas no setor de RH das empresas. Semana 16 Acadêmica, Fortaleza, n. 18, jul. 2013. Disponível em: <https://semanaacademica.org.br/artigo/importancia-da-auditoria-em-recursos- humanos-para-prevencao-dos-passivos-trabalhistas-no system/files/artigos/artigopronto.pdf>.Acesso em: 7 jun. 2018. PEREIRA, A. C.; NASCIMENTO, W. S. do. Um estudo sobre a atuação da auditoria interna na detecção de fraudes nas empresas do setor privado no Estado de São Paulo. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, v. 7, n. 19, p. 46-56, 2005. PEREZ JUNIOR, J. H. et al. Auditoria das demonstrações contábeis. Rio de Janeiro: FGV, 2011.
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