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OBJETO DE ESTUDO PANDEMIA PELO COVID19

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FACULDADE PITÁGORAS 
KÁTIA REGINA ACCHAR DA CUNHA
OBJETO DE ESTUDO: PANDEMIA PELO COVID-19
ENTREVISTA SEMI ESTRUTURADA
GUARAPARI/ES
2020
OBJETO DE ESTUDO: PANDEMIA PELO COVID-19
INSTRUMENTO DE PESQUISA
· Perfil do(a) entrevistado(a)
· Sexo: feminino
· Faixa etária: 60 a 70 anos
· Estado civil: viúva
· Grau de escolaridade: Superior Completo
· Formação: Turismóloga
· Pós-graduação: Docência do Ensino Superior (UFRJ/RJ); Administração e Finanças Públicas (FIPAG/Guarapari-ES)
· Profissão: Professora Universitária
· Tipo de residência: apartamento 
· Tamanho aproximado da residência: 120m2
· Número de pessoas que habitam na residência: 1
· Objeto da pesquisa: pandemia pelo Covid-19
Analisar os reflexos do isolamento em relação ao emocional, e a nova forma de trabalho “Home Office”
1. No primeiro momento, como você recebeu a notícia da pandemia do Corona Vírus e da obrigatoriedade de se manter em casa? 
Temor - ante o desconhecido e suas consequências 
Em relação ao vírus:
Respeito – por se tratar de uma arma biológica 
Nojo – pelo seu viés ideológico comunista.
E relação à pandemia:
Estupefata com a inconsonância da comunidade científica, que age à revelia do juramento de Hipócrates. 
Refém das decisões políticas arbitrárias e sem qualquer lógica. 
Mantida sob controle: cerceada da liberdade de ir e vir por estar na faixa de risco.
2. Em algum momento sentiu medo?
Medo, não. Temor e revolta.
3. Como tem lidado com o tempo e a sua disponibilidade (manter o dia a dia ativo, seus momentos de lazer, atividade física) sem poder sair de casa? 
Passo a maior parte do tempo na frente do computador, produzindo meus materiais de sala de aula e exercícios para os alunos. Aproveito para ouvir músicas de qualidade, caminho pelo Face e desforro minha indignação nas pessoas do mal. Também leio meus e-mails e, por muitas horas, me distraio jogando canastra em um site específico.
Fora do computador: assisto os canais fechados como Discovery Home Health, HGTV, Food Network, e Netflix (filmes românticos e comédias). Canais abertos? Nenhum deles. Converso no telefone e mando zaps para muita gente. Ora arrumo os armários de roupa de cama, ora os armários da cozinha. Lavo roupas e passo pano com água sanitária e Lysoforme no piso do ap. Atualmente enveredei para o crochê, já que a sapatinha da minha máquina de costura está travada. Amo fazer coisas diferentes na cozinha, mas estou segurando a boca para manter a forma (porque senão será motivo de depressão pós-pandemia).
4. Como tem lidado com “estar sozinho”?
Morar sozinha é uma opção consciente de vida. Moro sozinha há mais de cinco anos e nunca me senti vulnerável, desprotegida. Mas agora, arbitrariamente, ser impedida de ir e vir, de conviver socialmente com as pessoas, principalmente em razão da faixa etária, tenho a sensação de estar totalmente desprotegida e refém dessa política nojenta que assola o Brasil e parte do mundo. É inaceitável e discriminatório. 
5. Que impacto esta pandemia pode causar na sua vida interna e externamente?
Sou Católica Apostólica Romana e professante de uma fé incondicional de amor a Deus sobre todas as coisas (e essa fé já produziu um milagre em outro momento muito difícil de minha vida). Quando criança, tive a oportunidade de ler dois livros clássicos Poliana e Poliana Moça, e com eles aprendi o sentido de resiliência. Me tornei resiliente e aplico a resiliência nos momentos mais difíceis e inesperados como o que estamos todos passando agora. 
Contudo, tenho plena consciência da minha condição humana de ser social e, como tal, de agente passível a certas vulnerabilidades. Então, no meu caso, internamente percebo o impacto da pandemia no processo de desbalanceamento relacional/afetivo (relações afetivas familiares, de trabalho, amorosas, tão bem representadas no terceiro patamar da Pirâmide de Maslow), pois muitas vezes essa necessidade é suprida por gestos simples como um aperto de mão, num abraço ou um tapinha nas costas, um beijo, olho no olho, entre tantos outros, já que os nossos órgãos dos sentidos nos comunicam muitas sensações, e que a internet não é capaz de suprir.
Com relação aos impactos externos, confesso que, por exercer uma atividade profissional, andar impecavelmente arrumada e ser desejada, ainda não tinha sentido na pele o tratamento pejorativo dispensado aos idosos. Mas, experiência é tudo! Quando saí para fazer as minhas unhas (são impecáveis) um dia desses, por diversas vezes ouvi: “por que esses velhos não ficam em casa”? “Estão querendo morrer”? “Que absurdo esses velhos andando na rua”! Aí, eu fui obrigada a me manifestar: “hei, você está falando de mim”? “Quer que eu vá embora para casa e deixe de gerar renda para você”? Espanto, pedidos de desculpas. Fala sério.
Para minimizar qualquer tipo de impacto, minha vantagem diferenciada está na pesquisa. Sou uma pesquisadora voraz, que utiliza o conhecimento científico e a experiência de vida para analisar as múltiplas fontes de informação e extrair daí a verdade dos fatos, cujos resultados possibilitam projetar uma visão de futuro. 
6. Normalmente, como você trata o mundo da mídia no seu dia a dia?
Procuro ver apenas o que me interessa. Buscar informações através de fontes mais fidedignas. Mesmo porque, meu filho inspeciona as matérias fake e briga comigo quando compartilho uma delas. Desconsidero as inverdades produzidas.
7. Mediante tantas notícias sendo divulgadas pelas mídias, como voce está agindo e reagindo a tudo isso?
Nietzsche (1981) disse: 
Podemos ver, sentir, viver a degradação, mas no momento que a denúncia é posta, postos ficamos, para, com aguerrida ferocidade, negarmos. Na sociedade da disfarçatez falar do que realmente importa pode ser considerado uma gafe. 
É flagrada a crise da modernidade e com ela a crise do sujeito.
Assim, à revelia do homem entorpecido e com suas misérias à mão, tendo que se haver com elas e se reinventar a si pela parte mais dolorosa da dor, prefiro optar pela máxima literária de Miguel de Cervantes: “Só padece de solidão quem se escusa das lutas de seu tempo”.
Em primeiríssimo lugar, é importante mante o cérebro saudável, e isso implica em menos poluição possível. Focar no que é positivo e produtivo. Fazer uma seleção das coisas que realmente valem a pena e descartar todo o lixo. 
Dentro dessa premissa, arregacei as mangas para defender a facção do bem, com unhas e dentes. 
8. De repente você se viu diante de um novo cenário de trabalho: home office (totalmente digital). Quais foram os impactos iniciais? Como está o processo de adaptação a essa nova metodologia? 
Mudança brusca de metodologia. Tutoriais e mais tutoriais explicativos. Nenhum suporte pessoal ou treinamento. Tudo puramente instrucional. No meu entendimento, deveria haver uma prestação de serviço individualizado (respeitando todas as normas de segurança e medidas cabíveis de contato), mas as pessoas deveriam ter recebido treinamento.
Para mim, foi o momento mais desgastante do isolamento social. Precisei apelar para a ajuda do meu neto.
Enfim, cumpro o meu compromisso profissional dentro das novas normas estabelecidas.
A gente aprende....
9. Aceitaria continuar a desenvolver o seu trabalho desta forma?
Olha, se for a exigência, cumpra-se. Jamais me dou por derrotada.
10. Qual sua análise crítica com relação ao novo cenário do trabalho no Brasil, e no seu trabalho atual?
O Brasil é um país de dimensões continentais e com um alto índice de analfabetismo. Então há de se entender o uso de tecnologias a distância para atendimento das necessidades de aprendizado e conhecimento por parte daqueles que não tem oportunidade de aulas presenciais.
Por outro lado, procuro analisar os locais considerados centro de referência mundial em educação e, nesse momento, cito da Finlândia.
Lá, o professor é considerado uma autoridade incontestável e respeitado. As aulas começam às 8h30min e vão até às 15h ou 16h, com 15min de intervalo entre as aulas. Não há escola particular. O professor é mediador das explicações dos temas tratados. Uma equipede 12 jovens brasileiros foi testar o modelo educacional da Finlândia e a visão deles é a seguinte:
As carteiras são em formato de trapézio, e permitem que os alunos se juntem, formem ilhas. O professor é mais um meio de consulta”, explica o estudante. “Lá, a autonomia é incentivada. E, com autonomia, você aprende mais – e do seu jeito.” Para Júlia, muito dessa autonomia vem do estilo de lição de casa, que prioriza pesquisas e não a resolução de exercícios. “Vários alunos levam computador para a aula. E os professores também orientam a fazer pesquisas e levar para discutir em sala. Há uma conexão maior com a realidade do que aqui. Essa foi a grande diferença (Fonte: Disponível em: <https://revistaeducacao.com.br>, 2017. Acesso em: 11 abr. 2020).
11. Quais as suas expectativas futuras?
Estamos vivendo um momento crítico de luta pelo poder e, diferentemente as guerras até então sofridas, a arma agora é totalmente silenciosa e letal.
As guerras são desdobramentos ápices de uma conjuntura de conflitos, e seus efeitos danosos não se resumem ao acontecimento em si, mas tem ecos letais que ressoam do passado e ecoam para o futuro (COSTA, 2007). 
Numa época como a nossa, palco de lutas entre grandes correntes ideológicas, de domínio para áreas agricultáveis e abundância de água potável, o Brasil torna-se o epicentro do furacão. Principalmente considerando que grande parte da população, propositadamente despreparada ao longo dos últimos trinta anos, facilmente corrompida pela fome e pelo desemprego, é massa de manobra.
Viciados pelo desenvolvimento tecnológicos alucinantes, de experiências comunicacionais que a mais fina imaginação jamais poderia supor a poucas décadas atrás, estamos irremediavelmente só, circundados pelo anônimo de uma normalidade afogada na miséria da desumanização, da produção e do consumo pelo consumo.
A pandemia vai provocar uma crise generalizada: econômica, social, política, cultural, institucional e a desestruturação da família. 
Com tudo isso, ainda não conseguiram abalar a nossa “Fé em Deus” e a “Esperança” na interseção de Nossa Senhora. 
Conclusão:
Ao longo desta entrevista foi observado que o conhecimento, leitura e a pesquisa do entrevistado sobre o assunto pode trazer uma forma mais ponderada de analisar os fatos presentes buscando sempre respostas para justificar os fatos e as mudanças simultâneas de viver o dia a dia em isolamento.
Contudo, nota-se que mesmo tendo todo o conforto possível ao seu redor para os dias em isolamento, os seus dias estão muito difíceis, pois existe a necessidade da locomoção fora do seu lar, e mais ainda, a necessidade da conversar pessoalmente com pessoas. 
Estamos numa metamorfose de emoções e sentimentos que nos causam medo, insegurança e incerteza. 
AUTO-OBSERVAÇÃO:
A entrevista foi realizada com uma pessoa conhecida, e isto trouxe uma certa dificuldade, pois gerou um bate papo de amigos no qual eu tive que efetuar o distanciamento internamente sem que a entrevistada percebesse a minha análise.
No decorrer da conversa e a cada pergunta abordada foi importante me manter anônimo nas opiniões, mas sempre mostrando respeito para o sentimento exposto, e buscando o acolhimento adequado. O saber ouvir, sem emitir opiniões que mudasse o foco, foi um exercício constante em todos os assuntos que foram abordados acima.
Observei que o tema não se esgota, nem era nossa pretensão, pelo contrário, abriu-se possibilidades de novos questionamentos, o que nos incitou a curiosidade e a questionamentos posteriores, ou seja, ter um novo bate papo.

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