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TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA - Nilton Silva Jardim Junior

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TEORIA DA 
HISTÓRIA E 
HISTORIOGRAFIA
Nilton Silva Jardim Junior
O conhecimento 
histórico científico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Descrever o conhecimento histórico como ciência no século XIX.
  Caracterizar a escola metódica e o método histórico do século XX.
  Identificar a história científica a partir dos “homens do tempo”.
Introdução
Apesar de hoje definida como a ciência do homem no seu tempo, a 
história nem sempre foi assim. Durante muitos séculos, a história foi uma 
disciplina muito mais ligada à literatura e à formação da memória. Várias 
civilizações produziram relatos sobre o seu passado, orais ou escritos, mas 
sem preocupação com critérios de cientificidade. Porém, como veremos, 
no século XIX isso mudou.
Neste capítulo, você vai compreender como o movimento de formação 
das ciências sociais do século XIX, o Romantismo e suas relações com as 
unificações tardias do mesmo período contribuíram para a consolidação 
da história enquanto ciência. Para isso, será necessário falarmos não apenas 
da conjuntura do meio histórico e político, mas também do estágio de 
desenvolvimento da história na época e como se constitui a escola que a 
elevou à categoria de ciência. Também veremos as principais influências e ca-
racterísticas dessa escola, além das críticas posteriormente recebidas por ela.
Um século de paixões e o nascimento 
da ciência histórica
Se o século XVIII foi o “Século das Luzes”, o século XIX com certeza foi o 
“Século das Paixões”. Palco de grandes movimentos — como as unifi cações 
tardias (Alemanha e Itália), o movimento neocolonialista/imperialista, as 
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guerras napoleônicas, as independências das colônias americanas (inclusive 
o Brasil) — o século XIX foi sem dúvida um período defi nidor da história 
da humanidade. Se a Revolução Francesa e a queda da Bastilha marcaram a 
virada do mundo moderno para o contemporâneo, o “século das paixões” foi 
o responsável pelo desenvolvimento dessa nova era. Não sem motivo, o Ro-
mantismo foi a grande mola propulsora dessa época, infl uenciando a literatura, 
as artes plásticas e, de certa forma, a política. Num mundo onde vários países 
buscavam um sentimento de unidade e identidade, o nacionalismo romântico 
funcionou perfeitamente (HOBSBAWM, 1988).
Surgido no final do século XVIII, o Romantismo foi um movimento artístico, político e 
filosófico que teve seu auge no século XIX. Entre suas principais características estão o 
subjetivismo, o individualismo, o nacionalismo e o sentimentalismo (Figura 1). A partir 
desta última característica, podemos dizer que se contrapunha ao racionalismo do 
Iluminismo (HOBSBAWM, 1988).
Figura 1. A Liberdade Guiando o Povo, de Eugène Delacroix (1830), exposta no Museu 
do Louvre.
Fonte: File... (2019a, documento on-line).
O conhecimento histórico científico2
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Para além das fronteiras nacionais e sistemas de governo, é também nesse 
século que outro importante elemento do nosso tempo começa a se definir: a 
ciência. A revolução científica, iniciada com o Iluminismo no século anterior, 
passa a ganhar outros contornos a partir dessa época. Ciências sociais como 
a sociologia e a antropologia começavam a ser reconhecidas como tal (HO-
BSBAWM, 1988). Simultaneamente, a história gradativamente deixava de se 
tornar um ramo da literatura ligado ao que hoje compreendemos (DOSSE, 
2001). Para isso, foi fundamental o conceito de ciência positiva de Auguste 
Comte. Para Comte, a ciência deveria ser acima de tudo a investigação do 
real, feita a partir da observação, experimentação, comparação e classificação 
como métodos. Em sua visão positivista, os fenômenos sociais, assim como 
os fenômenos naturais, também respeitavam leis, o que serviu de base para 
que criasse a ciência que ele chamou de “física social”, e que posteriormente 
se tornou a sociologia. (FONTANA, 2004)
Os trabalhos de Comte tiveram grande eco entre estudiosos da época e serviram 
como referencial básico para a sistematização das ciências humanas. No campo da 
história, essas ideias ganharam força com Leopold von Ranke e, posteriormente, 
com a Escola Metódica na França, que serão analisados mais adiante.
É nesse cenário que a história começa a se moldar como ciência, nessa conjun-
tura que mesclava a consolidação das ciências humanas com a consolidação de 
dois importantes Estados nacionais. Com isso, a história acabará se caracterizando 
como uma ciência que vai buscar no passado elementos que ajudem na construção 
da unidade nacional. E se mantendo fiel ao discurso positivista de Comte, esse 
elementos serão suportados com documentos históricos produzidos na época 
pesquisada, as chamadas fontes primárias. Para Barros (2013, documento on-line): 
A atenção central à “fonte de época”, e a uma metodologia que a permitisse 
abordar com maior precisão, constituiu o vértice de partida do ideário histori-
cista, cumprindo notar que os historicistas sempre insistiram acertadamente em 
fazer notar que esta atenção às fontes deve ser acompanhada pela consciência 
de que qualquer documento ou texto foi um dia produzido por seres humanos 
sujeitos a contextos históricos e interesses específicos.
Sendo assim, como vemos nessa citação do professor José D'Assunção de 
Barros (2013), graças aos metódicos a imagem do historiador vai se firmar 
como a do profissional que vasculha arquivos e busca em antigos documentos 
embasamento para suas pesquisas. O tratamento das fontes primárias vai 
adquirir suma importância no fazer historiográfico, com a história deixando 
3O conhecimento histórico científico
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de ser um gênero literário para se tornar a ciência do homem no seu tempo. 
Com isso, a fidelidade ao documento histórico se torna a raison d'être do 
historiador, sendo necessária a elaboração de toda uma metodologia para a 
extração das informações contidas nos documentos.
A escola metódica e seu método: 
uma história “patriota”
Formada na França, a Escola Metódica tinha como principais nomes Charles-Victor 
Langlois e Charles Seignobos. Essa escola do século XIX tinha fortes características 
patriotas. No contexto da França pós-revolucionária, a ideia era organizar um 
novo modelo de história com base científi ca, capaz de se reconciliasse com um 
passado mais distante e fornecer um novo elemento de unidade nacional para a 
o contexto pós-Restauração a partir de 1815. Esse próprio sentimento de unidade 
nacional também embalava os historiadores franceses que buscavam fazer uma 
história voltada para a identidade nacional. Essa mesma motivação era percebida 
quando da unifi cação da Alemanha e Itália, que tinham como de suma importância 
a construção de uma narrativa que estabelecesse um elemento de unidade para 
nações que após séculos separadas estavam se unifi cando.
Realizadas em 1870 e 1871, as unificações da Itália e da Alemanha são comumente 
chamadas de unificações tardias, por terem ocorrido cerca de 500 anos depois de 
demais movimentos similares no continente europeu. Como forma de criar um senti-
mento de unidade nacional entre os povos das terras que estavam sendo anexadas, o 
resgate de mitos fundadores dos povos germânicos e italianos foi amplamente usado. 
Para entender melhor o caso alemão, você pode acessar o artigo “‘Hail Arminius: o 
pai dos alemães!’: a construção mítica da unificação alemã entre 1808 e 1875” (SILVA; 
ALBUQUERQUE, 2017) no link a seguir.
https://qrgo.page.link/QDtJx
Para isso, foi também fundamental a revista Revue Historique, publicada 
por Gabriel Monod e Gustave Charles Faganiez, a partir de 1876. Eles privi-
legiaram as fontes primárias como matéria-prima do trabalho do historiador, 
O conhecimento histórico científico4
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buscando fazer uma história com uma narrativa objetiva e neutra, privilegiando 
o documento e os métodos de análise como forma de comprovação. Gabriel 
Monod vinha propunhauma revista que fosse “[...] uma coletânea de ciência 
positiva e de livre discussão” (DOSSE, 2001, p. 17).
Outra importante influência para a Escola Metódica foi a do historia-
dor Ernest Lavisse, de quem Seignobos fora aluno e protegido (BURKE, 
1992). Nas palavras de François Dosse (2001, p. 18), Lavisse foi “[...] o 
grande mestre que vai reinar do final do século XIX e início do século XX”. 
Herdeiros de Jules Michelet, Lavisse, Monod e seus colaboradores da Revue 
Historique vão somar às ambições de uma história nacionalista uma proposta 
de história científica.
 Nesse contexto, foi de fundamental importância a figura do historiador 
alemão Leopold von Ranke (Figura 2). Seu trabalho influenciou não somente 
seus compatriotas como também os historiadores franceses, como os próprios 
fundadores da Revue Historique entre outros, que tiveram acesso a suas 
ideias quer por meio de publicações e congressos quer indo estudar na própria 
Alemanha, como Seignobos o fez.
Figura 2. Leopold von Ranke.
Fonte: File... (2019b, documento on-line).
5O conhecimento histórico científico
Grande parte desse interesse foi motivado pela derrota da França na guerra 
franco-prussiana, quando tais pensadores viram nesse intercâmbio uma opor-
tunidade de compreender as razões de tal revés, bem como uma forma de fazer 
sua pátria progredir científica e militarmente (PAYEN, 2011).
A guerra franco-prussiana ou franco-germânica foi um confronto entre o Império 
Francês e o Império Prussiano (atual Alemanha), entre 19 de julho de 1870 e 10 de maio 
de 1871. Parte importante do processo de unificação da Alemanha, a guerra começou 
com uma querela envolvendo a sucessão do trono espanhol e terminou com a vitória 
incontestável dos prussianos. Você pode encontrar mais detalhes no artigo “Do Império 
à Comuna: a guerra franco-prussiana e as revoltas de Paris” (VALLE, 2014).
Leopold von Ranke
Fundador da escola histórica alemã e Historiógrafo Real da Corte da Prússia, 
Ranke é frequentemente citado como o fundador da “história científi ca” (até então 
a história era considerada um ramo da literatura, muito mais próximo do que hoje 
chamamos de memória). Como critério de cientifi cidade, Ranke se utilizava da:
[...] análise integrada das diversas instâncias do documento — entre as quais 
a autenticidade, a veracidade, os modos de análise da própria informação 
que seriam sofisticados gradualmente — a própria coleta de documentação 
e constituição de novos tipos de fontes (na época de Ranke, essencialmente 
arquivísticas e ligadas à política, à diplomática e às instâncias institucionais) 
[...] um elemento que trouxe efetivamente um novo tônus àquela historiografia 
que agora se postulava como científica (BARROS, 2013, documento on-line).
Ranke tinha como prioridade o emprego de fontes primárias, o uso da 
história narrativa e foco em mostrar o passado como ele ocorreu. O assunto 
prioritário de suas obras era a política internacional e seus escritos tinham 
como método principal a citação das fontes primárias buscando o que chamava 
de “[...] tendências dominantes em cada século”; porém, ele não se limitava 
exclusivamente à política, escrevendo também sobre a Reforma e a Contrar-
reforma, história da sociedade, da arte e da literatura (BURKE, 1992, p. 18). 
Essa sua abordagem vai influenciar toda a Escola Metódica em sua busca de 
produzir uma história científica.
O conhecimento histórico científico6
Sendo assim, esse novo paradigma historiográfico vai estabelecer que a 
subjetividade deve ser controlada e o documento precisa sofrer dupla crítica: 
uma interna, operando por meio de raciocínio e analogia, e outra externa, 
propiciada pela erudição. Esses valores de objetividade científica atuarão 
também com anseios nacionalistas, como a reconquista de fronteiras exteriores 
e a pacificação do interior do país (DOSSE, 2001).
Uma ciência de homens no seu tempo
Ao amalgamar a busca por uma identidade nacional e o dever de construir uma 
ciência positiva do passado, a história feita pela Escola Metódica vai se fi rmar 
como uma ciência dos homens no seu tempo. Baseados no historicismo alemão, 
os pensadores franceses criaram uma ciência fortemente focada na abordagem 
(e respeito) de fontes primárias e nos grandes nomes da política, como vemos 
nesta passagem de Gabriel Monod (um dos fundadores da Revue Historique):
[...] A história do passado acaba por adquirir uma influência sobre a própria política, 
pois preside a esse movimento das nacionalidades que domina a política contem-
porânea. É pela história que os povos tomam consciência de sua personalidade. 
O movimento nacional alemão, o movimento nacional italiano, o movimento 
nacional tcheco, o movimento nacional húngaro, o movimento nacional eslavo, 
embora não tenham sido criados pela erudição histórica, nela encontraram, ao 
menos, um poderoso auxiliar, um núcleo de excitação, um ativo instrumento de 
propaganda. (MONOD, 1889 apud PAYEN, 2011, documento on-line).
Influenciados pelas ideias de Ranke e Comte, os historiadores faziam 
uma crítica ao modelo que chamado “História Mestra da Vida”. Segundo esse 
modelo, a “[...] história era, antes de mais nada, percebida como provedora 
de modelos de comportamentos. Ela deveria servir à instrução do leitor 
[...] considerada como uma reserva de exempla destinada à instrução e à 
edificação dos leitores” (PAYEN, 2011, documento on-line). Sendo assim, 
a história não tinha uma finalidade meramente explicativa, mas também 
moralizante, já que deveria fornecer exemplos de conduta para os cidadãos 
do país. Esta história de cunho mais analítico era vista pelos românticos como 
uma história “fatalista”, pois se concentrava em explicar os acontecimentos 
como produto de “determinantes sociais” (FONTANA, 2004). O rompimento 
com esse modelo já começara a ser ensaiado na França após a revolução, 
e teve nos trabalhos de Adolphe Thiers e François Mignet importantes 
precursores. No entanto, somente após 1876 é que se dará o rompimento 
7O conhecimento histórico científico
definitivo. Mesmo em importantes trabalhos como A História da França 
(1847), de Jules Michelet, ainda há a presença da abordagem literária, tão 
cara aos românticos, porém com um cunho mais identificado aos ideais do 
liberalismo burguês da França pós-revolucionária.
Foram os metódicos que romperam com essa ideia e se propuseram a fazer 
uma história calcada no rigoroso escrutínio das fontes e na crítica constante ao 
trabalho do historiador. Esses historiadores eram profundamente críticos do 
que denominavam “História Romântica”, pois identificavam nela uma “escrita 
histórica puramente factual desprovida de sentido” (DOSSE, 2001, p. 12).
Essa preocupação com a história como um elemento formador da unidade 
nacional, privilegiando a política e a biografia de grandes homens, já aparecia 
no trabalho de Ranke e do historicismo alemão. Bons exemplos são obras como 
História das Nações Latinas e Teutônicas de 1494 a 1514 (1824), Hardenberg 
e a História do Estado Prussiano de 1793 a 1813 (1877) e Memórias da Casa 
de Brandemburgo e História da Prússia (1847–1848). No caso dos analíticos, 
esse interesse fica evidente em obras como Introdução aos Estudos Históricos 
(Langlois, 1898), História do Povo Romano (Seignobos, 1902) e Estudos 
críticos sobre as fontes da história carolíngia (Monod, 1898). O próprio Ga-
briel Monod também já havia escrito livros de caráter mais biográfico, como 
Gregório de Tours (1872) e outro sobre um importante cronista do século VII, 
Fredegário (1895). Essa preferência pela história política e por uma história 
de grandes homens se tornou o principal foco das críticas feitas por Febvre e 
seu companheiros dos Annales, conforme veremos a seguir.
Para entender melhor sobre as aproximações da história romântica com a literatura tão 
criticadas pela Escola Metódica, uma boa recomendação de leitura é o artigo “Jules 
Michelet: um historiador às voltas com a crítica literária”, de autoria de Maria Juliana 
Gambogi Teixeira,que pode ser acessado pelo link a seguir.
https://qrgo.page.link/XnR4W
Crítica aos metódicos
Posteriormente, a Escola Metódica sofreu críticas, iniciadas por François 
Simiand em sua obra Método Histórico e Crítica Social. Discípulo do soci-
O conhecimento histórico científico8
ólogo Émile Durkheim (um dos “pais da sociologia”, junto com Max Weber 
e Karl Marx), Simiand atacava o que chamava de os três “ídolos da tribo dos 
historiadores”: o “ídolo político” (como ele chamava a eterna preocupação 
de se fazer uma história política, de fatos políticos, guerras, etc.), o “ídolo 
individual” (como ele chamava a ênfase exagerada em grandes homens) e 
o “ídolo cronológico” (como ele chamava o hábito do historiador se perder 
nas origens) (BURKE, 1992). Essas críticas vinham do caráter político, 
individual e cronológico caro aos historiadores dessa escola (em especial 
Charles Seignobos, que foi transformado em símbolo daquilo a que esses 
novos historiadores se opunham) e não tinham o mesmo apreço no âmbito 
das ciências sociais da época.
Além de Simiand, os fundadores da Escola dos Annales, Marc Bloch e Lucien 
Febvre, fizeram novas críticas. Sobre os ombros desses historiadores também 
pesava o trauma da Primeira Guerra Mundial, na qual eles viam o modelo ana-
lítico como parcialmente responsável pelo que viveram. Para Bloch e Febvre, o 
modelo nacionalista e político defendido por Ranke e também pelo metódicos foi 
corresponsável por toda aquela tragédia. O tom dessa crítica ficou meio dividido 
entre esses dois grandes nomes, sendo Febvre mais enfático. Porém, todos eles 
tiveram em comum as críticas ao historicismo alemão, em especial ao que eles 
consideravam uma história política (BRAUDEL, 2007) e uma história narrativa 
(REVEL, 1989). De acordo com Fontana (2004), ficava evidente que esse modelo de 
objetividade científica defendido pelo historicismo alemão e pela Escola Metódica 
era uma máscara para seu verdadeiro propósito de servir à educação das classes 
dominantes e de produzir uma visão de história nacional que pudesse ser ensinada 
e divulgada nas escolas. De qualquer forma, a Escola Metódica foi fundamental 
para elevar a história ao patamar de ciência, o que era inegável até mesmo para 
seus críticos da Escola dos Annales, como Bloch e Febvre.
Um bom exemplo das críticas que Bloch faz ao modelo analítico pode ser encontrado 
no artigo “A Força da Tradição: a persistência do Antigo Regime historiográfico na obra 
de Marc Bloch", de Tiago De Melo Gomes. Nele, porém, o autor fala não apenas das 
críticas que Bloch tinha aos analíticos, como também da presença dos próprios na 
obra dele. Você pode acessar o artigo pelo link a seguir.
https://qrgo.page.link/zgJ5H
9O conhecimento histórico científico
Se, por um lado, a Escola Metódica produziu uma história que pode tanto 
ser acusada de “ingênua” pela sua fé exagerada nos documentos e pela busca 
da neutralidade e imparcialidade quanto de “elitista” por sua predileção pelos 
grandes homens, pela política e pelos grandes fatos nacionais, por outro não 
podemos negar sua importância na maturação do estudo da história, afastando-a 
da literatura e buscando a profissionalização dos historiadores. Seu empenho 
em afastar-se do amadorismo dos historiadores românticos também foi de 
suma importância para o desenvolvimento de toda uma metodologia e uma 
ética de trabalho que, mesmo com certas atualizações e críticas, ainda hoje 
são empregadas. É bem verdade que, desde então, o universo documental 
acabou se ampliando, mas o trabalho do historiador ainda é feito a partir de 
documentos que servem de vestígios da época investigada e que devem ser 
criticados à exaustão. O escopo dos atores sociais também se expandiu, mas 
a história ainda é feita a partir de pessoas que tiveram relevância no período 
estudado (embora a disciplina tenha pedido muito do seu caráter personalista 
e por vezes biográfico). 
É com o final da Primeira Guerra que todo esse pensamento vai ser posto 
em cheque e um novo modelo será elaborado. Nos anos seguintes, a história 
dos metódicos, voltada à política, à narrativa e aos grandes homens, deu 
lugar a uma “nova história” que buscou ser uma história-problema, voltada a 
entender todos os aspectos da sociedade: uma História Total.
BARROS, J. A. Ranke: considerações sobre seu modelo historiográfico. Diálogos, v. 17, n. 
3, p. 977–1.004, 2013. Disponível em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos/
article/download/35976/18595. Acesso em: 14 ago. 2019.
BRAUDEL, F. Escritos sobre a história. São Paulo: Editora Perspectiva, 2007.
BURKE, P. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales 1929–1989. São 
Paulo: Editora UNESP, 1992.
DOSSE, F. A história à prova do tempo: da história em migalhas ao resgate do sentido. 
São Paulo: Editora UNESP, 2001.
FILE: Eugène Delacroix — La liberte guidant le peuple. Wikimedia Commons, the free 
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lacroix_-_La_libert%C3%A9_guidant_le_peuple.jpg. Acesso em: 14 ago. 2019.
O conhecimento histórico científico10
FILE: Jebens, Adolf — Leopold von Ranke (detail) — 1875. Wikimedia Commons, the free 
media repository, 2019b. Altura: 600 pixels. Largura: 433 pixels. Formato: JPG. Disponível 
em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jebens,_Adolf_-_Leopold_von_Ranke_
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FONTANA, J. A História dos homens. Bauru: EDUSC, 2004.
HOBSBAWM, E. J. A era dos impérios 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
PAYEN, P. A constituição da história como ciência no século XIX e seus modelos anti-
gos: fim de uma ilusão ou futuro de uma herança? História da Historiografia, v. 4, n. 6, 
p. 103–122, 2011. Disponível em: https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/
article/download/250/180. Acesso em: 14 ago. 2019.
REVEL, J. A invenção da sociedade. Lisboa: Difel; Rio de Janeiro: Bertand, 1989.
Leituras recomendadas
GOMES, T. M. A força da tradição: a persistência do antigo regime historiográfico na 
obra de Marc Bloch. Varia Historia, v. 22, n. 36, p. 443–459, 2006. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752006000200011&lng=e
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SILVA, D. G. G.; ALBUQUERQUE, M. C. “Hail Arminius! O Pai dos Alemães!”: a construção 
mítica da Unificação Alemã entre 1808 e 1875. Topoi (Rio de Janeiro), v. 18, n. 35, p. 330-355, 
2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-
-101X2017000200330&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 14 ago. 2019.
VALLE, C. O. Do Império à Comuna: a guerra Franco-Prussiana e as revoltas de Paris. 
In: ENCONTRO REGIONAL DA ANPUH-RIO: Saberes e Práticas Científicas, 16., 2014, Rio 
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rj.anpuh.org/resources/anais/28/1400267970_ARQUIVO_artigocompletoanpuhCami-
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11O conhecimento histórico científico

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