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PESSOAS NATURAIS
Conceito de Personalidade Jurídica 
Ao estudar as relações jurídicas, vimos que ela contém duplicidade de sujeitos: ativo e o passivo. Qualquer dessas figuras denomina-se pessoa. A personalidade jurídica é um atributo essencial para ser sujeito de direito (art. 1º do CC). Para a teoria geral do direito civil a personalidade é uma aptidão genérica para titularizar direitos e contrair obrigações.
Início da Personalidade Jurídica da Pessoa Natural 
A personalidade jurídica tem sua medida na capacidade, que é reconhecida, num sentido de universalidade, no art. 1° do Código Civil, que, ao prescrever “toda pessoa é capaz de direitos e deveres”, emprega o termo “pessoa na acepção de todo ser humano, sem qualquer distinção de sexo e idade.
Proteção Jurídica do Nascituro 
Nascituro é o ente já concebido, mas ainda não nascido. Deixando de lado as discussões teóricas sobre o início da personalidade jurídica, é certo que a segunda parte do art. 2º do CC expressamente “põe à salvo os seus direitos”. Assim, pode-se afirmar que na legislação em vigor o nascituro:
a) é titular de direitos personalíssimos (como o direito à vida); 
b) Pode receber doação, conforme dispõe o art. 542 do CC: “A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita por seu representante legal”; 
c) pode ser beneficiado por legado e herança (art. 1798 do CC); 
d) pode ser-lhe nomeado curador para a defesa dos seus interesses (arts. 877 e 878 do CPC); 
e) O Código Penal tipifica o crime de aborto; 
f) tem direito a alimentos.
Capacidade de direito e capacidade de fato 
Por capacidade de direito, também conhecida como capacidade de gozo ou capacidade de aquisição, pode ser entendida como a medida da intensidade da personalidade. Todo ente com personalidade jurídica possui também capacidade de direito, tendo em vista que não se nega ao indivíduo a qualidade para ser sujeito de direito. Personalidade e capacidade jurídica são as duas faces de uma mesma moeda.
A capacidade de fato, ao contrário da capacidade de direito possui estágios definidos no próprio Código Civil. Ele distingue duas modalidades de incapacidade, a saber: a incapacidade em absoluta e a relativa. Trata-se de um divisor quantitativo de compreensão do indivíduo.
De acordo com o art. 3º do CC são considerados absolutamente incapazes:
a) os menores de 16 anos (art. 3º, I) 
b) aqueles que sofrem de doença ou deficiência mental (art. 3º, II) 
c) os que por causa transitória não puderem exprimir sua vontade (art. 3º, III)
De acordo com o art. 4º do CC são considerados relativamente incapazes:
a) os maiores de 16 e menores de 18 anos (art. 4º, I);
b) os ébrios habituais e os viciados em tóxico (art. 4º, II);
c) os deficientes mentais que tenham o discernimento reduzido (art. 4º, II); 
d) os excepcionais sem desenvolvimento mental completo (art. 4º, III) 
e) os pródigos (art. 4º, IV)
Emancipação 
Trata-se de um uma hipótese de antecipação da aquisição da capacidade civil plena antes da idade legal. Três são as formas de emancipação:
a) Emancipação voluntária – É aquela concedida por ato unilateral dos pais em pleno exercício do poder parental, ou um deles na falta do outro. 
b) Emancipação judicial – Realiza-se mediante uma sentença judicial, na hipótese de um menor posto sob tutela. Antes da sentença o tutor será, necessariamente, ouvido pelo magistrado (Código Civil art. 5º, parágrafo único, I, segunda parte). 
c) Emancipação legal – Ocorre em razão de situações descritas na lei. O art. 5º do CC nos traz as seguintes situações:
1- O Casamento; 
2- Exercício de emprego efetivo; 
3- Colação de grau em curso de ensino superior; 
4- Estabelecimento civil ou comercial, ou a existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor tenha economia própria.
Extinção da personalidade jurídica da pessoa natural 
A morte é o momento no qual a personalidade se extingue. Não se admite no ordenamento pátrio a hipótese de morte civil ou qualquer outro modo de perda da personalidade sem vida. Todavia é possível cogitar de uma presunção de morte, conforme se depreende da leitura do art. 7º do CC.
O referido dispositivo trata de duas hipóteses de morte presumida. A primeira trata da probabilidade extrema de morte daquele que se encontre em perigo de vida. (CC art. 7º, I). A segunda hipótese trata dos desaparecidos em campanha de guerra ou feito prisioneiro, caso não seja encontrado até 02 dois anos após o término da guerra (CC art. 7º, II).
Ausência das pessoas naturais 
Ausente é aquele que desaparece de seu domicílio, sem que dele se tenha notícias. Assim, para caracterizar a ausência a não-presença do sujeito deve somar-se com a falta de notícias.
A ausência é um processo no qual a proteção dos bens do desaparecido dá lugar à proteção dos interesses dos sucessores. Este processo tem três estágios, conforme a menor possibilidade de reaparecimento do ausente:
a) Declaração da ausência e curadoria dos bens; 
b) Sucessão provisória; e 
c) Sucessão definitiva.
PESSOA JURÍDICA
Conceito Natureza Jurídica. 
Requisitos para constituição da pessoa jurídica. Classificação. Desconsideração da personalidade jurídica. Responsabilidade das pessoas jurídicas. Extinção da pessoa jurídica. 
Personalidade jurídica das pessoas jurídicas 
Pessoas jurídicas são entidades diversas da pessoa natural, solenemente constituídas pela reunião de pessoas naturais ou de patrimônios, independentes da pessoa jurídica, inclusive com patrimônio e personalidade distintas das pessoas que a constituem, com determinado objetivo ou finalidade previsto no seu ato constitutivo, cuja ordem jurídica reconhece como sujeito de direitos e obrigações.
São grupos de pessoas (corporação) ou de bens (fundação) dotados de personalidade jurídica própria e constituídos na forma da lei para consecução de fins comuns. Têm individualidade própria com patrimônio e responsabilidade independente de seus membros, pois a lei lhes confere capacidade de serem sujeitos a direitos e deveres na esfera civil. 
Finalidade
Separação patrimonial, ou seja, o titular dos direitos e deveres da pessoa jurídica não se confunde com a de seus membros, pois será dotada de personalidade e patrimônio próprio. 
Requisitos de formação
a) vontade humana criadora: agrupamento de pessoas ou de bens; 
b) observância dos requisitos legais: ato constitutivo, registro e autorização (se o caso); 
c) licitude do objeto social;
d) finalidade. 
Natureza Jurídica 
São várias as teorias que buscam explicar a existência da pessoa jurídica. São elas: 
1. Teoria da ficção legal: a pessoa jurídica é uma ficção, uma criação da lei. 
2. Teoria da equiparação: a pessoa jurídica é um patrimônio equiparado, no seu tratamento, às pessoas naturais. 
3. Teoria da realidade objetiva ou orgânica: a pessoa jurídica é uma realidade social que o direito reconhece como organismo físico diverso das pessoas que a constituem.
4. Teoria da realidade das instituições jurídicas: a personalidade jurídica seria um atributo conferido pelo Estado. 
5. Teoria da realidade técnica: a personalidade jurídica seria um atributo conferida pela vontade humana criadora, dada a finalidade social atribuída a nova pessoa. 
Nosso Código Civil adotou uma teoria hibrida entre a realidade objetiva e da realidade técnica, pois constitui pela vontade com determinada finalidade e a lei reconhece como organismo distinto de seus membros. 
Início da personalidade jurídica 
A personalidade jurídica da pessoa jurídica se dá com o registro do seu ato constitutivo no órgão competente, ou seja, antes do efetivo registro a pessoa jurídica existe de fato, mas não existe de direto e, logo, não gozará das prerrogativas da separação patrimonial que permeia a distinção entre os titulares das obrigações da pessoa jurídica e natural. 
Destarte, o registro tem efeito constitutivo (ex nunc) e não meramente declaratório como o registro civil da pessoa natural (ex tunc). 
Início da existência legal da pessoa jurídica de direito público: decorre de fatos históricos, de criação constitucional, de lei ou de tratadosinternacionais. 
Início da existência legal da pessoa jurídica de direito privado: para sua constituição passa por duas etapas: 
A primeira fase (ato constitutivo) decorre de uma manifestação da vontade de criar uma entidade diversa de seus membros. Esta 1ª fase compreende dois elementos: o material e o formal. Há pessoas jurídicas que necessitam de autorização especial do governo, como as seguradoras e as administradoras de consórcio. 
A segunda fase é a do Registro Público. O registro do contrato da sociedade comercial é feito na Junta Comercial. As outras pessoas jurídicas devem efetuar seus registros no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas. 
Classificação
Podem ser classificadas quanto à nacionalidade, quanto à estrutura interna e quanto à função e capacidade. Vejamos cada uma delas: 
- Quanto à nacionalidade: nacionais e estrangeiras; 
- Quanto à estrutura interna: conjunto de pessoas ou corporação (universitas personarum, as associações, sociedades) e conjunto de bens ou fundação (uni versitas bonorum, no caso, as fundações); 
- Quanto à função e capacidade (art. 40 CC), dividem-se em pessoas jurídicas de direito público e pessoas jurídicas de direito privado.
As pessoas jurídicas de direito público, por sua vez, subdividem-se em: 
- Pessoas jurídicas de direito público externo (ONU, Nações Estrangeiras, Santa Sé), 
- Pessoas jurídicas de direito público interno de administração direta (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) e de administração indireta (autarquias e fundações públicas). 
Das pessoas jurídicas de direito privado 
Criadas por iniciativa de particulares. Art. 44 CC. São divididas em: 
1. Associações (arts. 53 a 61 CC) – LER 
2. Fundações Particulares 
3. Sociedades (simples ou empresariais) 
4. Organizações religiosas 
5. Partidos Políticos 
Vejamos cada uma delas: 
1. Associações: São conjuntos de pessoas e não tem fins lucrativos, mas somente religioso, moral, cultural, recreativo, desportivo e filantrópico. Art. 53 CC e 5º, XVII da CF/88. São criadas por estatutos que devem conter os requisitos do art. 54 do CC, sob pena de nulidade. Exemplos: Agremiações esportivas, entidades recreativas, APAE, Alcóolatras Anônimos, Mantenedoras das Santas Casas de Misericórdia, Maçonaria, Grêmios Estudantis, Creches, asilos, orfanatos (sem fins lucrativos). 
2. Fundações – Art. 62 a 69 CC. Universalidade de bens, livres de ônus ou encargos legalmente constituídos aos quais a ordem jurídica confere personalidade jurídica, com finalidade estipulada pelo fundador, desde que religiosos, morais, culturais ou assistenciais. O seu fim deve ser lícito, sem fins lucrativos; só sociais e de interesse público. 
Exemplos: Fundação São Paulo (Mantenedora da PUCSP), Fundação Roberto Marinho, etc. Sua criação passa por 4 fases: 
1ª- res erva de bens com indicação dos fins a que se destinam pelo seu titular/fundador, através de Escritura Pública ou testamento. 
2ª- elaboração do estatuto social. 
3ª- Aprovação do estatuto pelo Ministério Público (art. 65 CC) 
4ª- Registro Público no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas – art. 1150 CC; LRP art. 114, I e art. 45 do CC. Só a partir daí tem existência legal
3. Sociedades - grupos de pessoas que visam lucros com a atividade da pessoa jurídica. Subdividem-se em: 
a) Sociedades Simples – De uso exclusivo para o exercício de certas profissões ou pela prestação de serviços técnicos especializados (CC art. 997 e ss)
Exemplos: Advogados, médicos, pessoas que prestam serviços no ramo hospitalar ou escolar. 
b) Sociedades empresariais - De pessoas com fins lucrativos, mediante exercício de atividade mercantil, podendo ser divididos em: sociedade em nome coletivo; sociedade em comandita simples; sociedade em comandita por ações; sociedade limitada; sociedade anônima ou por ações. 
Exercem atividades econômicas organizadas para a produção ou para a circulação de bens ou de serviços (art. 966 CC). 
4- Organizações Religiosas – fins pastorais e evangélicos. São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. – art. 44, § 1º CC 
5 - Partidos Políticos – art. 44, §3º Cc 6- Sindicatos – tem natureza de associação civil (CF/88, art. 8º e CLT arts. 511 e 512) 
Desconsideração da Personalidade Jurídica ver arts. 47 a 50 CC e art. 133 a 137 NCPC. Art. 28, § 5º CDC 
Como alhures mencionado, a pessoa jurídica é titular de direitos e deveres e possui personalidade jurídica distinta de seus membros, logo, possui responsabilidade própria e patrimônio próprio para responder por seus deveres civis. Assim, permeada pelo princípio da separação patrimonial os bens das pessoas naturais que membros da pessoa jurídica não se confundem com os da pessoa jurídica. 
Entretanto, nos casos de comprovada confusão patrimonial entre o patrimônio dos sócios com os da pessoa jurídica ou em caso de desvio de finalidade ocorrerá o abuso da personalidade jurídica e, logo, poderá o juiz a requerimento de interessado aplicar a desconsideração da personalidade jurídica para alcançar o patrimônio pessoal dos membros com a finalidade de responder por seus deveres legais. Teoria do disregard (desconsiderar). 
Trata de ato meramente processual que não desconstitui a personalidade jurídica da pessoa jurídica, mas a desconsidera a fim de retirar a proteção patrimonial, naquele caso específico, para alcançar o patrimônio de seus sócios e, as sim, dar efetividade a uma obrigação ou um dever não cumprido. (Enunciado 51 CJF). 
REQUISITOS: 
- Requerimento (parte ou MP); 
- Intervenção judicial; 
- Desvio de finalidade ou 
- Confusão patrimonial (abuso de direito, fraude a lei, excesso de poder, violação dos estatutos, falência ou insolvência civil). 
Responsabilidade do autor do ato fraudulento: somente quem tenha praticado o ato (Enunciado 7 CJF).
Desconsideração inversa: Enunciado 283 CJF: transferência de bens do patrimônio pessoal ao patrimônio da pessoa jurídica para prejudicar terceiros. Aplica -se a teoria ao revés para garantir o cumprimento das obrigações civis. 
Entes Despersonificados 
Alguns entes não possuem personalidade jurídica, mas dada a peculiaridade de seu surgimento e sua natureza jurídica o ordenamento jurídico lhes atribui representação processual e regras de administração. São eles: 
a) massa falida; 
b) espolio; 
c) herança; 
d) condomínio. 
Fim da Personalidade Jurídica da Pessoa Jurídica 
Por se tratar de pessoa constituída por ato de vontade humana nada mais do que aceitável que da mesma forma se extinga, pois, bem a pessoa jurídica pode ser extinta de maneira convencional por vontade de seus membros; extinção legal: por determinação de lei, extinção administrativa: determinação do poder de polícia ou extinção judicial mediante processo de dissolução ou liquidação.

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