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Modo de atuação dos fármacos - Aspectos celulares (excitação, contração e secreção)

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Farmacologia Geral 
Modo de atuação dos fármacos: Aspectos celulares 
Excitação, Contração e Secreção 
Regulação dos níveis intracelulares de cálcio 
Muitos fármacos e mecanismos fisiológicos opera, direta ou 
indiretamente, influenciando o [𝐶𝑎2+]𝑖 . 
 A maior parte do 𝐶𝑎2+ na célula em repouso está 
retira em organelas, especialmente no retículo endoplasmático 
(RE) ou sarcoplasmático (RS) e nas mitocôndrias, e o nível de 
[𝐶𝑎2+]𝑖 livre é mantido baixo. 
 O [𝐶𝑎2+]𝑖 é mantido baixo: 
a) Por mecanismos de transporte ativo que ejetam o 
𝐶𝑎2+ do citosol, através da membrana plasmática, e 
o bombeiam para o RE; 
b) Pela normalmente baixa permeabilidade das 
membranas plasmáticas e do RE ao 𝐶𝑎2+ . 
A regulação do [𝐶𝑎2+]𝑖 envolve três mecanismos principais: 
1. Controle da entrada de 𝐶𝑎2+; 
2. Controle da extrusão de 𝐶𝑎2+; e 
3. O movimento de 𝐶𝑎2+ entre o citosol e os locais 
de armazenamento intracelulares. 
 
Mecanismos de entrada de cálcio 
Existem 4 vias principais pelas quais o 𝐶𝑎2+ entra na célula 
através da membrana plasmática: 
1. Canais de cálcio controlados por voltagem; 
2. Canais de cálcio controlados por ligantes; 
3. Canais de cálcio operados pelas reservas; e 
4. Troca de 𝑁𝑎+ − 𝐶𝑎2+ . 
› Canais de cálcio regulados por voltagem → são altamente 
seletivos para o 𝐶𝑎2+, não conduzindo 𝑁𝑎+ ou 𝐾+, eles são 
ubíquos nas células excitáveis, permitindo que o 𝐶𝑎2+entre 
na célula sempre que a membrana for despolarizada como, 
por exemplo, por um potencial de ação prolongado. 
 Existem 5 subtipos distintos, que variam com relação 
à sua cinética de ativação de desativação, seu limiar de 
voltagem para ativação, sua condutância e sensibilidade aos 
agentes bloqueadores. 
1º. Canais L, são particularmente importantes na regulação da 
contração dos músculos cardíacos e liso; 
2º. Canais N, estão envolvidos na liberação de 
neurotransmissores e hormônios; 
3º Canais T, medeiam a entrada de 𝐶𝑎2+nos neurônios 
controlando, assim diversas funções dependentes de 𝐶𝑎2+, 
como a regulação de outros canais, enzimas etc; 
4º Canais P; 
5º Canais R. 
 Muitos fármacos afetam os canais de cálcio 
indiretamente através de sua atuação nos receptores 
acoplados à proteína G. 
› Canais regulados por ligantes → a maioria que são ativados 
por neurotransmissores excitatórios, é relativamente não-
seletiva, conduzindo íons de 𝐶𝑎2+e outros cátions. 
 O mais importante é o receptor de glutamato do tipo 
NMDA, que apresenta uma permeabilidade ao 𝐶𝑎2+ 
particularmente alta, sendo um contribuinte de grande 
importância para a captação de 𝐶𝑎2+ pelos neurônios pós-
sinápticos no SNC. 
 Outros mediadores, atuando em receptores ligados 
à proteína G, afetam indiretamente a entrada de 𝐶𝑎2+, 
principalmente regulando os canais de cálcio ou de potássio 
controlados por voltarem. 
› Canais de cálcio operados por armazenamento → estes 
canais estão localizados na membrana plasmática e se abrem 
para permitir a entrada de 𝐶𝑎2+ quando as reservas no RE 
estão reduzidas. 
 Pertencem ao grande grupo dos canais TRP 
(receptores de potencial transitório). 
 Eles podem amplificar o aumento do [𝐶𝑎2+]𝑖 , 
graças à liberação do 𝐶𝑎2+dos locais de armazenamento. 
 
Mecanismos de extrusão de cálcio 
O transporte ativo de 𝐶𝑎2+para fora da célula, através da 
membrana plasmática, para dentro da célula, através da 
membrana do RE ou do RS, depende da atividade de uma 
ATPase dependente de 𝐶𝑎2+ . 
 O cálcio também é retirado da célula em troca pelo 
𝑁𝑎+pelo mecanismo de troca 𝑁𝑎+ − 𝐶𝑎2+ . O 
transportador transfere 3 𝑁𝑎+ em troca de um íon de 𝐶𝑎2+, 
produzindo uma corrente resultante de despolarização então 
transporta o 𝐶𝑎2+ . O gradiente eletroquímico do 𝑁𝑎+, 
fornece a energia para a extrusão de 𝐶𝑎2+. Isso significa que 
uma redução no gradiente de concentração de 𝑁𝑎+, 
decorrente da entrada desse íon, reduz a extrusão de 𝐶𝑎2+ 
pelo transportador, levando a um aumento secundário no 
[𝐶𝑎2+]𝑖 . 
» Este mecanismo é importante no músculo cardíaco. « 
 O transportador também pode funcionar no sentido 
inverso se o [𝑁𝑎+]𝑖 aumentar excessivamente, resultando 
eu aumento da entrada de 𝐶𝑎2+ na célula. 
» O efeito da digoxina no músculo cardíaco é produzido dessa 
maneira. « 
 
Mecanismos de liberação de cálcio 
Existem 2 tipos principais de canais de cálcio na membrana 
do RE e RS que desempenham um papel importante no 
controle da liberação de 𝐶𝑎2+ dessas reservas: 
O receptor de trifosfato de inositol (𝑰𝑷𝟑𝑹) → é ativado pelo 
trifosfato de inositol (𝐼𝑃3), um segundo mensageiro produzido 
pela ação de diversos ligantes nos receptores acoplados à 
proteína G. O 𝐼𝑃3𝑅é um canal iônico regulado por ligante. 
Esse é o principal mecanismo pelo qual a ativação dos 
receptores acoplados à proteína G leva a um aumento do 
[𝐶𝑎2+]𝑖 . 
O receptor de rianodina (RyR) → importante no músculo 
esquelético. Eles são ativados por uma pequena elevação no 
[𝐶𝑎2+]𝑖 , produzindo o efeito conhecido como liberação de 
cálcio induzida por cálcio, que amplifica o sinal de 
𝐶𝑎2+produzido por outros mecanismos. 
› Outros segundos mensageiros 
Dois metabólitos intracelulares, a ADP-ribose cíclica (ADPRc) e 
o ácido nicotínico dinucleotídeo fosfato (NAADP), formados 
pelas coenzimas ubíquas nicotinamida adenina dinucleotídeo 
(NAD) e NAD fosfato, também afetam a sinalização de 𝐶𝑎2+ . 
 A sinalização anormal de 𝐶𝑎2+ está envolvida em 
muitas condições fisiopatológicas, com a morte celular por 
isquemia, alterações endócrinas e arritmias cardíacas, em que 
o papel do ADPRc e NAADP e sua interação com outros 
mecanismos que regulam o [𝐶𝑎2+]𝑖 estão sob intensa 
investigação. 
› Papel das mitocôndrias 
Em condições normais, as mitocôndrias acumulam 
𝐶𝑎2+passivamente, como resultado do potencial 
intramitocondrial, que é fortemente negativo em relação ao 
citosol. 
 
Calmodulina 
O cálcio controla funções celulares graças a sua habilidade de 
regular a atividade de diversas proteínas, incluindo as enzimas, 
canais, transportadores, fatores de transcrição, proteínas das 
vesículas sinápticas e muitas outras. 
 Uma proteína ligante de 𝐶𝑎2+serve de intermediária 
entre o 𝐶𝑎2+e a proteína funcional que está sendo regulada. 
A mais conhecida é a Calmodulina. 
 A Calmodulina é um dímero com quatro sítios de 
ligação de 𝐶𝑎2+ . Quando todos estão ocupados, ela sobre 
uma alteração conformacional, expondo um domínio 
hidrofóbico “aderente”, que atrai e mantém unidas muitas 
proteínas, afetando suas propriedades funcionais. 
 
Excitação 
A palavra excitabilidade descreve a capacidade de uma célula 
em apresentar uma resposta elétrica regenerativa do tipo 
tudo-ou-nada em resposta à despolarização de sua 
membrana, conhecida como potencial de ação. 
» No sistema nervoso, e no músculo estriado, a propagação 
do potencial de ação é o mecanismo responsável pela 
comunicação por longas distâncias a uma grande velocidade. 
 Nos músculos cardíaco e liso, ocorre uma atividade 
espontânea e rítmica. 
 Nas células glandulares o potencial de ação, onde ele 
ocorre, amplifica o sinal que faz com que a célula secrete seu 
conteúdo. « 
Em cada tipo de tecido as propriedades do processo 
de excitação refletem as características especiais dos canais 
iônicos que são responsáveis pelo processo. 
› Célula “em repouso” 
A célula em repouso na realidade não está em repouso, mais 
sim bastante ativa controlando o status do seu meio interno, 
o que requer um suprimento de energia. 
 Em condições de repouso, todas as células mantêm 
um potencial interno negativo. Isso ocorre porque: 
a) A membrana é relativamente impermeável ao 𝑁𝑎+; 
b) Íons de 𝑁𝑎+ são ativamente transportados para fora 
da célula em troca de 𝐾+por um transportador 
dependente de energia, a bom a de sódio (ou 
𝑁𝑎+ − 𝐾+ 𝐴𝑇𝑃𝑎𝑠𝑒). 
Com isso, a concentração [𝐾+]𝑖 é maior do que a 
extracelular, enquanto a de [𝑁𝑎+]𝑖 é menor. 
 Em muitas células, outros íons, especialmenteo 𝐶𝑙−, 
também são transportados ativamente e distribuídos de forma 
desigual nos dois lados da membrana. 
› Eventos elétricos e iônicos responsáveis pelo potencial de 
ação 
O potencial de ação é gerado pela combinação de 2 
processos: 
1º. Um aumento rápido e transitório da permeabilidade ao 𝑁𝑎+ 
que ocorre quando a membrana é despolarizada além de 
aproximadamente -60mV; 
2º um aumento mais lento e sustentado da permeabilidade ao 
𝐾+ . 
 Em razão da desigualdade nas concentrações de 
𝑁𝑎+e 𝐾+nos dois lados da membrana, um aumento na 
permeabilidade ao 𝑁𝑎+produz uma corrente de entrada de 
íons 𝑁𝑎+, enquanto um aumento na permeabilidade ao 𝐾+ 
causa uma corrente de saída desse íon. 
 Durante a gênese ou propagação fisiológica do 
impulso nervoso, o primeiro evento é uma pequena 
despolarização da membrana produzida pela ação de um 
transmissor ou pela aproximação de um potencial de ação 
passando pelo axônio. Em consequência, abrem-se os canais 
de sódio, permitindo a entrada de 𝑁𝑎+, o que despolariza a 
membrana mais ainda. Esse é, portanto, um processo 
regenerativo, e o aumento da permeabilidade ao 𝑁𝑎+ é 
suficiente para que o potencial de membrana fique próximo 
ao 𝐸𝑁𝑎+ . O aumento da condutância de 𝑁𝑎
+ é transitório, 
pois os canais são rapidamente desativados e a membrana 
retorna a seu estado de repouso. 
 Em muitos tipos de células, incluindo a maioria das 
células nervosas, a abertura de canais de potássio 
dependentes de voltagem contribui para a repolarização. Estes 
canais funcionam da mesma maneira que os canais de sódio, 
mas a cinética de sua ativação é cerca de 10 vezes mais lenta, 
e não são totalmente desativados. Isso significa que os canais 
de potássio abrem mais tarde do que os canais de sódio, 
contribuindo para o término rápido do potencial de ação. 
 Os canais de cálcio controlados por voltagem 
funcionam basicamente da mesma maneira que os canais de 
sódio, contribuem para a geração do potencial de ação em 
muitas células. A entrada de 𝐶𝑎2+ através dos canais de cálcio 
controlados por voltagem desempenha um papel muito 
importante na sinalização intracelular. 
Função dos canais 
Fármacos que alteram as características do canal, seja 
interagindo diretamente com o canal ou indiretamente, através 
de segundos mensageiros, afetam a função de muitos 
sistemas orgânicos, incluindo os sistemas nervoso, 
cardiovascular, endócrino, respiratório e reprodutor. 
› Mecanismos-chave envolvido na regulação das células 
excitáveis 
Em geral, os potenciais de ação são iniciados por correntes 
na membrana que causam a despolarização da célula. 
» Essas correntes podem ser produzidas pela atividade 
sináptica, pela aproximação de um potencial de ação vindo de 
outa parte da célula, por um estímulo sensorial ou pela 
atividade espontânea de um marca-passo. « 
 A tendência dessas correntes para iniciar um 
potencial de ação é governada pela excitabilidade da célula, 
que depende principalmente do estado dos canais de sódio 
e/ou cálcio controlados por voltagem e dos canais de potássio 
da membrana em repouso. 
» Qualquer evento que aumente o número de canais de sódio 
ou cálcio disponíveis, ou que reduza seu limiar de ativação, 
tende a aumentar a excitabilidade, enquanto, aumentando a 
condutância de repouso ao 𝐾+, ela se reduz. « 
› Dependência do uso e Dependência da voltagem 
Os canais controlados por voltagem existem em três estados 
funcionais: repouso (durante o potencial de repouso normal 
eles permanecem fechados), ativado (a despolarização breve 
favorece sua abertura) e inativado (estado de bloqueio devido 
a uma oclusão tipo alçapão do canal, efetuada por um 
apêndice móvel situado na porção intracelular da proteína do 
canal). Cada potencial de ação faz com que os canais passem 
por esse clico de três estados. 
 Muitos canais de sódio ficam no estado inativado 
depois da passagem do potencial de ação (depois que o 
potencial de membrana retorna a seu valor de repouso, os 
canais inativados retornam para o estado de repouso, ficando 
assim disponíveis para nova ativação). Enquanto isso a 
membrana está temporariamente refratária. A duração do 
período refratário depende da taxa de recuperação do estado 
de inativação. 
» Fármacos que bloqueiam os canais de sódio normalmente 
apresentam uma afinidade seletiva para um desses estados 
funcionais do canal, e, em sua presença, a proporção de canais 
no estado de alta afinidade é aumentada. « 
» Fármacos que se ligam fortemente aos canais inativados, 
favorecendo a adoção desse estado, são particularmente 
importantes, pois prolongam o período refratário, reduzindo a 
frequência máxima de geração dos potenciais de ação. « 
 Esse tipo de bloqueio é chamado de uso-
dependente, porque a ligação desses fármacos aumenta em 
função da frequência de disparo do potencial de ação, que 
governa a taxa pela qual canais inativados são gerados. 
» Em sua maioria, os fármacos que bloqueiam os canais de 
sódio são catiônicos no pH fisiológico, sendo afetados pelo 
gradiente de voltagem através da membrana celular, de forma 
que sua ação bloqueadora é favorecida pela despolarização. « 
 Esse fenômeno é conhecido como voltagem-
dependente. 
› Canais de sódio 
Na maioria das células excitáveis, a corrente de entrada 
regenerativa que inicia o potencial de ação resulta da ativação 
de canais de sódio controlados por voltagem. 
» Agentes terapêuticos que bloqueiam os canais de sódio 
incluem os anestésicos locais, fármacos antiepilépticos e 
antiarrítmicos. « 
› Canais de potássio 
Em uma célula em repouso, a membrana é seletivamente 
permeável ao 𝐾+ e o potencial de membrana é relativamente 
positivo em relação ao potencial de equilíbrio do 𝐾+ . Essa 
permeabilidade de repouso ocorre porque os canais de 
potássio estão abertos. Se mais canais de potássio se abrirem, 
ocorre a hiperpolarização da membrana e a célula é inibida. 
 Além de afetarem deste modo a excitabilidade, os 
canais de potássio também desempenham um papel 
importante na regulação da duração do potencial de ação e 
no seu padrão temporal de disparo. 
 Os canais de potássio são divididos em três classes 
principais: 
Canais de potássio controlados por voltagem → possuem seis 
hélices que atravessa a membrana, uma das quais funciona 
como sensor de voltagem, fazendo com que o canal se abra 
quando a membrana se despolariza. Alterações nesses canais, 
por mutação genética ou efeitos colaterais de fármacos, são 
a principal causa de arritmias cardíacas que podem causar 
morte súbita. 
Canais de potássio retificadores de entrada → assim 
chamados porque permitem que o 𝐾+ entre muito mais 
facilmente do que sai. Estes canais são regulados pela 
interação com proteínas G, e medeiam os efeitos inibitórios 
de muitos agonistas que atuam em receptores acoplados à 
proteína G. 
Canais de potássio com domínio de dois poros → eles 
apresentam retificação de saída, exercendo uma forte 
influência repolarizadora que se opõe a qualquer tendência de 
excitação. Eles podem contribuir para a condutância de 𝐾+ 
em repouso em muitas células, sendo suscetíveis à regulação 
através das proteínas G. 
 
Contração muscular 
Apesar de o fundamento molecular básico da contração ser 
diferente em cada caso, ou seja, a interação entre a actina e 
a miosina com a energia derivada do ATP e iniciada por um 
aumento do [𝐶𝑎2+]𝑖 , existem diferenças entre os três tipos 
de músculos (liso, cardíaco e estriado) responsáveis pelas 
diferentes reações a fármacos e mediadores químicos. 
 Essas diferenças envolvem: 
a) a conexão entre os eventos na membrana e o 
aumento do [𝐶𝑎2+]𝑖 ; 
b) o mecanismo pelo qual o [𝐶𝑎2+]𝑖 regula a 
contração. 
› Músculo esquelético 
O músculo esquelético possui um arranjo de túbulos T 
transversais que se estendem da membrana plasmática para 
o interior da célula. O potencial de ação da membrana 
plasmática depende de canais de sódios controlados por 
voltagem e se propaga do seu ponto de origem, na placa 
motora, para o restoda fibra muscular. 
 A membrana do túbulo T contém canais de cálcio 
do tipo L, que respondem à despolarização da membrana 
conduzida passivamente ao longo do túbulo T quando a 
membrana plasmática é invadida pelo potencial de ação. Esses 
canais de cálcio estão próximos dos receptores de rianodina 
na membrana do RS adjacente, e sua ativação causa a 
liberação de 𝐶𝑎2+ do RS. 
› Músculo cardíaco 
As células do músculo cardíaco não possuem túbulos T, e não 
existe uma conexão direta entre a membrana plasmática e o 
RS. 
A configuração do potencial de ação cardíaco varia 
nas diversas partes do coração, mas normalmente apresenta 
um “platô” que dura algumas centenas de milissegundos após 
a despolarização rápida inicial. A membrana plasmática contém 
muitos canais de cálcio do tipo L, que se abrem durante esse 
platô, permitindo a entrada de 𝐶𝑎2+ na célula, mas não em 
quantidade suficiente para ativar o mecanismo contrátil 
diretamente. Essa entrada inicial de 𝐶𝑎2+ atua nos RyRs para 
liberar 𝐶𝑎2+ do RS, produzindo uma onda secundária de 
𝐶𝑎2+ muito maior. Como os RyRs do músculo cardíaco são 
eles próprios ativados pelo 𝐶𝑎2+, a onda de [𝐶𝑎2+]𝑖 é 
regeneradora, um evento do tipo tudo-ou-nada. 
A entrada inicial de 𝐶𝑎2+que desencadeia esse 
evento é altamente dependente da duração do potencial de 
ação e do funcionamento dos canais do tipo L da membrana. 
› Músculo liso 
O potencial de ação do músculo liso é geralmente um 
acontecimento preguiçoso e vago. O potencial de ação é, na 
maioria dos casos, gerado pelos canais de cálcio do tipo L, 
constituindo uma rota importante para a entrada de 𝐶𝑎2+ . 
 Muitas células musculares lisas possuem canais de 
cátions controlados por ligante que permitem a entrada de 
𝐶𝑎2+ ao responderem aos transmissores. 
 As células musculares lisas também armazenam 
𝐶𝑎2+ no RE, de onde pode ser liberado quando o 𝐼𝑃3𝑅 é 
ativado. A liberação de 𝐶𝑎2+ e a contração podem ocorrer 
no músculo liso quando tais receptores são ativados, sem 
envolver necessariamente a despolarização e a entrada de 
𝐶𝑎2+ através da membrana plasmática. 
 O mecanismo contrátil do músculo liso é ativado 
quando a cadeia leve da miosina sofre fosforilação, soltando-a 
dos filamentos de actina. 
 
Liberação de mediadores químicos 
Os mediadores químicos que são liberados das células 
pertencem a dois grupos principais: 
a) mediadores que são pré-formados e armazenados 
em vesículas das quais são liberados por exocitose; 
b) mediadores produzidos em função da demanda e 
que são liberados através de difusão ou de 
transportadores presentes na membrana. 
Uma elevação no [𝐶𝑎2+]𝑖 inicia a exocitose e, também, é o 
principal ativador das enzimas responsáveis pela síntese dos 
mediadores difusíveis. 
 Alguns mediadores são formados a partir de 
precursores no plasma e dois exemplos importantes são as 
cininas e a angiotensina, peptídeos produzidos pela clivagem 
de proteínas circundantes. 
› Exocitose 
A exocitose, que ocorre em resposta a um aumento do 
[𝐶𝑎2+]𝑖 , é o principal mecanismo de liberação de 
transmissores nos sistemas nervosos periférico e central, 
assim como nas células endócrinas e mastócitos. 
 A exocitose envolve a fusão entre a membrana das 
vesículas sinápticas e a superfície interna da membrana 
plasmática. 
» Nos terminais nervosos especializados para transmissão 
sináptica rápida, o 𝐶𝑎2+ entra através de canais de cálcio 
controlados por voltagem, especialmente dos tipos N e P, e 
as vesículas sinápticas “ancoram” em zonas ativas. « 
 É comum que células secretoras, incluindo os 
neurônios, liberem mais de um mediador de diferentes 
conjuntos de vesículas. 
 As vesículas contendo transmissores rápidos estão 
localizadas junto às zonas ativas, enquanto as vesículas 
contendo transmissores lentos estão mais distantes. A 
liberação do transmissor rápido ocorre assim que os canais de 
cálcio próximos se abrem, antes que o 𝐶𝑎2+tenha chance de 
se difundir através do terminal, enquanto a liberação do 
transmissor lento requer uma difusão mais ampla de 𝐶𝑎2+ . 
 A liberação de transmissores rápidos ocorre a cada 
impulso, mesmo em baixas frequências de estimulação, 
enquanto a liberação de transmissores lentos só ocorre em 
respostas a altas frequências de estimulação. 
 Em células não excitáveis, o mecanismo lento 
predomina, sendo ativado principalmente pela liberação de 
𝐶𝑎2+ dos estoques intracelulares. 
› Mecanismo de liberação não vesiculares 
A acetilcolina, noradrenalina e outros mediadores podem 
escapar dos terminais nervosos a partir do compartimento 
citosólico, independente da fusão das vesículas, usando 
transportadores na membrana plasmática. 
 Fármacos, como as anfetaminas, que liberam aminas 
de terminais nervosos centrais e periféricos, deslocam a amina 
endócrina de suas vesículas de armazenamento para o citosol, 
de onde escapa através do transportador de monoaminas 
localizado na membrana plasmática. 
 O óxido nítrico e os metabólitos do ácido 
araquidônico são dois exemplos importantes de mediadores 
que são liberados por difusão através da membrana ou por 
extrusão mediada por carregadores, e não por exocitose. Os 
mediadores não são armazenados, escapando da célula assim 
que são sintetizados. 
 
Transporte epitelial de íons 
A secreção de fluidos envolve dois mecanismos distintos que 
geralmente coexistem na mesma célula e interagem entre 
sim. Os dois mecanismos estão envolvidos com o transporte 
de 𝑁𝑎+ e de 𝐶𝑙−, respectivamente. 
 No caso do transporte de 𝑁𝑎+, a secreção ocorre 
porque o 𝑁𝑎+ entra passivamente por uma extremidade da 
célula e é bombardeado ativamente na outa extremidade, e a 
água o segue passivamente. 
 Os canais epiteliais de sódio são regulados 
principalmente pela aldosterona, um hormônio produzido pelo 
córtex da supra-renal, que aumenta a reabsorção de 𝑁𝑎+ 
pelos rins. A aldosterona, age regulando a expressão gênica, 
causando um aumento na expressão de ENaC, aumentando, 
assim, a taxa de transporte de 𝑁𝑎+ e de fluídos. Os ENaC 
são bloqueados seletivamente por certos diuréticos, 
especialmente a amilorida. 
 O transporte de cloreto é particularmente importante 
nas vias aéreas e no trato gastrintestinal. Nas vias aéreas, é 
essencial para a secreção de líquido, enquanto no cólon ele é 
responsável pela reabsorção de fluidos, e a diferença está na 
disposição dos diversos transportadores e canais em relação 
à polaridade das células. 
 A molécula-chave no transporte de 𝐶𝑙− é o 
regulador da condutância transmembrana da fibrose cística 
(CFTR). 
 Tanto o transporte de 𝑁𝑎+ quanto o de 𝐶𝑙−são 
regulados por mensageiros intracelulares, principalmente o 
𝐶𝑎2+ e o AMPc, em que este último exerce seus efeitos 
ativando quinases protéicas, causando a fosforilação de canais 
e transportadores. O próprio CFTR é ativado pelo AMPc. 
 No TGI, o aumento na formação de AMPc causa um 
grande aumento na taxa de secreção de fluidos. A ativação 
de receptores acoplados à proteína G, que causam a liberação 
de 𝐶𝑎2+, também estimula a secreção, possivelmente 
através da ativação do CFTR.