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Ficha F
Depois do Movimento Moderno: Implicações ao nível da cidade Ocidental
O período “heróico” do Movimento Moderno coincidiu essencialmente com os anos entre guerra do século XX. Na Alemanha, Holanda, União Soviética e França, um conjunto de arquitectos praticam um estilo em que dominam o volume sobre a forma, a composição assimétrica, o despojo ornamental e a rejeição do “Legado Histórico”, em edifícios isolados recorrendo às mais modernas técnicas construtivas: o betão armado, o aço e o vidro. No seio da Bauhaus, Neo-Plasticismo ou Construtivismo, esses traços comuns figuravam nos edifícios que Henry-Russell Hitchcock e Philip Johnson seleccionam em 1932 para a exposição “Modern Architecture”, no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.
Ao novo estilo arquitectónico, aplicação culminante de um século de investigação no âmbito da moderna tecnologia construtiva resultante da Revolução Industrial, Hitchcock e Johnson darão o nome, especialmente divulgado nos países anglo-saxónicos, de International Style.
Em 1928, já na Europa se havia iniciado o Congresso Internacional de Arquitectura Moderna (CIAM), sob a figura tutelar de Le Corbusier. Procurava-se debater o discurso moderno da Arquitectura e do Urbanismo, com um certo sentido de programa do “movimento”, unitário e disciplinado. Frank Lloyd Wright, por exemplo, era olhado com alguma desconfiança, em virtude da sua prática “individualista” e “romântica”.
Um par de décadas mais tarde, a reavaliação dos conceitos modernistas da Arquitetura vai contudo ser desenvolvida nos mais variados e dispersos pontos do planeta, como por exemplo com o português Pancho Guedes, radicado em Moçambique. É justamente nesse sentido que um grupo internacional de arquitectos iniciado em 1953 sob o nome “Team X”, liderado por Aldo Van Eyck, Alison e Peter Smithson, Bakema e Kandilis, veio trazer ao debate um apelo à necessidade de uma Arquitectura visualmente mais complexa, humana e plural. Em consequência, 1959 assiste à dissolução do CIAM, numa época em que o próprio Le Corbusier se encontra já na fase mais lírica da sua prática projectual.
A contestação coincidia, não por acaso, com aceitação e adopção por parte do poder institucional, privado ou público, em todo o Mundo Ocidental, e mais além, do Estilo Internacional, e quando Brasília e Chandigarh são construídas, já o International Style se havia banalizado na prática projectual da maioria dos gabinetes de projecto, por ocasião da explosão demográfica e expansão territorial das grandes urbes do Hemisfério Norte do terceiro quartel do século.
Robert Venturi (Complexidade e Contradição na Arquitectura, 1966) e Aldo Rossi (A Arquitectura da Cidade, do mesmo ano) vão agora consagrar, na Teoría e na Prática, um regresso à intencionalidade das formas tradicionais, recuperando o papel significante da Arquitectura, enquanto veículo de significados históricos, políticos, sociais e culturais. A metáfora, a alegoria, o símbolo, o poder, serão projectados por uma prática projectual pós-moderna, que ocupará um vazio linguístico deliberadamente assim deixado pelos pensadores do modernismo: vazio. Na “machine-à-habiter” de Le Corbusier, como em qualquer outra máquina, é mesmo indesejável a existência da dupla leitura de uma arte que se queria pura e transparente de significados.
No contexto da cidade, reintroduz-se o sentido de continuidade – um palimpsesto que se escreve continuadamente ao longo dos séculos e das gerações, feita de arquiteturas que manifestam os anseios, expectativas e condições de vida dos seus habitantes. Recupera-se o sentido genuíno da arquitetura, como aliás em outras áreas da vida humana, nem que a genuinidade, num sentido filológico, se faça a martelo e à-posteriori. A linha é seguida ao seu extremo pelos “historicistas” irmãos Krier, e vive-se o tempo da “mousse” de chocolate «caseira», o doce «da avó» e as batatas «da Tia Maria», o restaurante «típico» e o turismo «de habitação». Só que as batatas «da Tia» são feitas em grandes superfícies industriais, o turismo «de habitação» se faz dentro de edifícios novos e perfeitamente insossos, e os frontões «históricos» de Ricardo Boffill são feitos em finas folhas de concreto armado em cadeias de pré- fabricação, para colocação em cenários “edénicos” sub-urbanos que as pessoas têm tanta vontade de usar como os mais criticados conjuntos do Estilo Internacional, que pelo menos depositava fé numa utopia que não era apenas visual.
Os hotéis dos anos ’60, como o defunto Estoril-Sol, ou as decadentes zonas turísticas do mediterrâneo espanhol como Torremolinos ou Benidorm, dão lugar a preferências mais «cultas» de lazer em turismos de habitação em ambientes rurais, ou concretizações por vezes francamente bizarras, como o «histórico» empreendimento de Port-Grimaud, na Riviera francesa: uma aldeia turística portuária, repleta de encanto e buganvílias, que se inicia na muito Histórica década de ’60. No Algarve, Portugal tem também uma “Old Village”, cheia de frontões e templos gregos, que nem por isso deixam de ter Internet, ar- condicionado e TV-Cabo – tudo muito mais confortável que o autêntico sítio
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Ficha F.doc
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arqueológico romano que se pode(ria) visitar mais abaixo, próximo da Marina (de Vilamoura).
Os resultados visíveis do Pós-Modernismo (designação convencionada para todo um conjunto de experiências extremamente diversificadas ocorridas no derradeiro quartel do século XX) vão então oscilar entre divagações Neo- Clássicas a Neo-Racionalistas, com cambiantes por vezes regionalistas (as “escolas”...) mas sem deixar de materializar obras de um histrionismo e de um facilitismo gratuito francamente lamentáveis, onde ocupam lugar de destaque o omnipresente Philip Johnson, e seus compatriotas Charles Moore e Michael Graves. Este último, entrevistado há meia-dúzia de anos, desejava alterar certas partes da sua residência em Princeton, New Jersey, por achá-las too post- modern. Vive-se uma época conturbada de Pós-Revolução portuguesa, na Arquitectura como no País, que atribui por exemplo o mais antigo Prémio de Arquitectura nacional (o Valmor) a um conjunto urbanístico novo, de qualidade conceptual e construtiva francamente duvidosa...
Se o Pós-Modernismo – que não se pode nem deve circunscrever ao campo da Arquitetura – defende (pontualmente com genuínas boas intenções e resultados) uma continuidade do passado, ele resvala no entanto com facilidade para um plano medíocre, e a procura de uma aparência mais “fofinha” leva a que no próprio Brasil, no qual Reyner Banham reconhece o aparecimento de uma primeira forma verdadeiramente nacional da prática do Movimento Moderno, prolifere ao longo das ultimas décadas do Século XX um estilo arquitetónico “mediterrânico”, ao qual os colegas de além-mar denominam jocosamente “mauditerrânico”. 
Os anos sucedem-se, e o grande arquiteto português, Tomás Taveira, vive um fim de carreira dedicado aos estádios do Euro-2004, ainda além dos mais delirantes sonhos de um Venturi ou Koolhas. O seu companheiro catalão que a imprensa internacional da arquitetura, na voragem incontrolável de criar novos astros do mundo da arquitectura, votou tão depressa ao ostracismo quanto há 20 anos o entronizou, curiosamente segue hoje um rumo similar, especializando-se em aeroportos. E Eisenman, Liebeskind e Gehry, estarão bem vistos dentro de 20 anos???!!!...
As Experiências dos Olivais
Nas proximidades do "Bairro Borboleta" (Encarnação), da autoria do Arquiteto Paulino Montez, em que edificaram 1130 habitações, vai a Câmara Municipal de Lisboa ver-se forçada pelo Decreto-Lei 42454 de Agosto de 1959 a proceder à realização de uma quantidade muito elevada de nova Habitação Social, a um ritmo muito elevado. Existindo um primeiro plano de 1955 da autoria dos Arquitectos Guimarães Lobato (chefe de equipa), Sommer Ribeiro e Pedro Falcão e Cunha, a urbanização dos Olivais Norte abrangia 1889 fogos para
8.500 habitantes.
Bairro de Olivais Norte
Experiência-piloto para o plano que mais tarde se realizará a Sul, o Gabinete Técnicode Habitação da Câmara Municipal de Lisboa convida figuras conhecidas da arquitectura nacional para contribuírem com projectos para os diversos edifícios: João Abel Manta, Nuno Teotónio Pereira, Braula Reis, Palma de Melo, Vítor Palla, etc.
Em 1960 o bairro estava pronto a habitar, mas a escassez de habitação social ainda não se achava resolvida totalmente. Assim, e recolhida a experiência de Olivais Norte, vai o município lançar-se a uma tarefa mais ambiciosa: o Bairro de Olivais Sul.
"O Gabinete Técnico da Habitação foi criado pela Câmara Municipal de Lisboa a fim de dar cumprimento às obrigações decorrentes da entrada em vigor do Decreto-Lei nº. 42 454. Este Diploma representa para a capital do País a fase actualmente mais evoluída dum longo processo tendente a resolver o problema
sempre instante da habitação económica. Compete ao Município, segundo o que nele se determina «a preparação dos programas de trabalho, a elaboração dos projectos e a direcção e fiscalização das obras» o que efectivamente se traduz por uma vasta gama de obrigações, que vão desde as expropriações necessárias, aos estudos de urbanização que os fundamentam; desde a obtenção dos projectos dos edifícios, aos planos anuais por que serão distribuídos, e por último até às respectivas obras de concretização."1
A escolha das zonas da cidade que ficariam sob a alçada da nova legislação recaiu sobre as malhas de Olivais e Chelas, já reservadas, tanto no plano De Gröer, como no plano director do extinto G.E.U., para fins habitacionais susceptíveis de interessar uma parte da população activa da faixa marginal do Tejo. Quanto aos Olivais verifica-se até a circunstância favorável da maioria dos terrenos se encontrar já na posse da Câmara como resultado da política de aquisições em larga escala promovida por Duarte Pacheco."
"Trata-se de facto, quer pela extensão das áreas abrangidas, quer pelo número de fogos anualmente previstos, cerca de 3000, do programa mais ambicioso que em Lisboa até agora se intentou."
Célula B de Olivais-Sul
1 "Olivais-Sul". Gabinete Técnico de Habitação. Câmara Municipal de Lisboa.
Sob chefia do Arquitecto José Rafael Botelho, vão então trabalhar e projectar os arquitectos Vasco Croft, Carlos Duarte, Nuno Portas, Bartolomeu Costa Cabral, e mais uma vez Nuno Teotónio Pereira, entre muitos outros.
"Os edifícios dispõem-se ao longo do terreno sem lhe alterarem os aspectos essenciais, antes acentuando as suas características. Os edifícios em torre foram em geral implantados nos pontos altos ou de forma a propiciar uma leitura rítmica das cumeadas; nas encostas, procurou-se uma aderência das construções ao relevo, que razões de ordem económica e climática justificavam, mas que igualmente e deliberadamente se pretendem entroncar na continuidade da melhor tradição da arquitectura e arte urbana da cidade."
Olivais-Sul surge num momento de charneira da arquitetura do passado recente. Um certo desgaste dos modelos do movimento moderno, já bem ultrapassado o seu período "heróico" da primeira metade do século, dá lugar a uma atitude mais pluralista, anunciando as tendências de pós-modernidade das décadas de setenta e oitenta, evidente na frase acima citada, em que se alude à tradição e à arte urbana da cidade. Os arquitetos responsáveis por cada célula do bairro agem com um elevado grau de liberdade, assim como os projectistas dos edifícios a executar. No dizer do arquitecto Nuno Portas, a cada projectista era concedida a faculdade de actuar um pouco à sua vontade, o que acabou por se traduzir numa diversidade e numa ausência (que o projectista lamenta) de uma linha programática tão coerente como aquela que descobrimos em Olivais Norte.
A Cidade Ocidental Contemporânea: A Urbanidade Virtual e o Pós-11 de Setembro
Na passada década de ’60, o norte-amerciano Alvin Toffler avança com a teoria da “terceira vaga”. De acordo com este autor, a história da civilização humana havia conhecido uma primeira vaga, há 10.000 anos, quando o homem começara a praticar a agricultura; a segunda vaga correspondera à industrialização, que começara na segunda metade do século XVIII na Europa. No seu entendimento, partes do planeta encontravam-se todavia numa primeira vaga – faixas em que a industrialização se encontrava ainda ausente, como a maior parte da África, partes significativas da Ásia e da América do Sul, e até mesmo da Europa. Noutras regiões do mundo, dava-se a industrialização: recordemos que recentemente na China ainda se fabricavam locomotivas a vapor…
Durante o século XIX, e boa parte do século XX, a industrialização tinha-se entretanto propagado, com práticas e hábitos de produção, comércio e consumo que apontavam para a produção em massa, a especialização da mão- de-obra e a standardização, que funcionavam numa lógica de economias de escala: o alargamento dos mercados propiciava a produção massiva de produtos homogéneos, cujo preço baixava à medida que as quantidades produzidas eram maiores. Com o passar dos anos, o artesanato produzido à pequena escala, as diferenças regionais e os hábitos de consumo seriam gradualmente substituídos por modelos gigantescos de produção global, e toda a humanidade acabaria a voar em mega-linhas aéreas como a Panam, a comer MacDonald’s, e a comprar automóveis Austin.
Escritores de ficção científica como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, H.G. Wells, Aldous Huxley ou George Orwell previam um aumento exponencial do sistema industrial de produção em massa. O seu erro fora o de seguir uma linha de conduta do mercado mundial que na verdade se iria inverter bruscamente na segunda metade do século XX.
A humanidade começa a sofrer de tédio perante a normalização da vida urbana, da existência previsível e regrada (social e urbanísticamente) da vida moderna – tema que merece a reflexão existencialista do francês Jean Paul Sartre, em «A Náusea». O filósofo sente um vigor renovado e um elemento de surpresa nas partes negligenciadas da cidade:
Estou na esquina da Rue Paradis, junto ao poste de iluminação. A tira de asfalto interrompe-se subitamente. A escuridão e a lama estão do outro lado da rua. Atravesso a Rue Paradis. Ponho o meu pé direito numa poça de água, a minha meia está ensopada; o meu passeio começa. [...] Estou com frio, as minhas orelhas doem; devem estar encarnadas. Mas já não me sinto; estou vencido pela pureza que me rodeia; nada está vivo, o vento assobia, as linhas rectas voam na noite. O Boulevard Negro não tem o ar indecente das ruas burgesas, oferecendo as suas desculpas aos passantes. Ninguém se incomodou em enfeitá-lo: são simplesmente as traseiras. [...] A cidade esqueceu-o. Por vezes um grande camião côr de lama atravessa-o trovejante à velocidade máxima. Ninguém sequer comete assassinatos aqui; faltam assassinos e vítimas. O Boulevard Negro é deshumano. Como um mineral. Como um triângulo. É uma sorte haver um boulevard como este em Bouville. [...] A Náusea ficou por aqui, na luz amarela. Estou contente[...].
A Pan-Am, apesar da dimensão da sua frota, abriu falência, e uma empresa inexistente na altura em que Toffler escreve “A Terceira Vaga” chamada Microsoft tornou-se a mais próspera companhia do mundo - porque um senhor chamado Bill Gates começara numa oficina de vão-de-escada a produzir e vender “soft-ware”: um bem bastante estranho que não existe fisicamente, e que
serve para colocar em funcionamento a grande ferramenta do mundo pós- moderno – o computador.
No mundo político-económico entretanto, o Pós-Liberalismo, de que o famoso economista John Maynard Keynes constitui figura central, tinha posto em prática no mundo ocidental uma política económica de intervenção vigorosa do Estado, funcionando como regulador da Economia. Keynes procurava (como outros pós-liberalistas) uma orientação de preocupação com o bem-estar e a justiça social, na esteira das alterações do quadro político de meados do século XIX, quando os governos centrais começaram a tomar medidas – também do ponto de vista da urbanística – contra o capitalismo desenfreado doperíodo Liberal.
Contudo, figuras como Milton Friedman na segunda metade do século XX promovem uma onda de Neo-Liberalismo, propondo a substituição da postura keynesiana de intervenção do estado por uma atitude mais liberalizante, em que gradualmente se daria lugar a uma economia de mercado generalizada. Trata- se já de um período “pós-moderno”, em que as “utopias” se vêem relegadas para os livros de história. O movimento moderno assiste à última reunião e encerramento oficial do CIAM.
A terceira vaga seria agora uma revolução da informação e do conhecimento. Vendem-se conceitos e ideias, e com a “Internet” podemos comprar virtualmente (no duplo sentido do termo) produtos de lojas que não existem, e cujo “stock” aparente tão-pouco existe. São empresas virtuais que não possuem sede, e que se limitam a possuir uma rede de contactos que lhes permite em tempo real obter virtualmente tudo o que o freguês pretende. Virtuais serão também algumas das personagens mais ouvidas dos finais do Milénio, como o indolente Homer Simpson (Bart! Go to your room!) e seu irreverente filho – criações surpreendentes num dos mais puritanos países do Mundo Ocidental do ainda mais irreverente, e hoje multi-milionário, Matt Groening, cujo sucesso só pode dever-se ao olhar sincero com que espreita a sociedade humana moderna.
· Há tempos, um programa musical de um popular canal de televisão internacional era apresentado por um apresentador “virtual”, desenhado em 3-D por computador.
O trabalhador do mundo da terceira vaga já não será o especializado empregado do “mundo industrial”, e para muitos profissionais, chegará o dia em que mudam de área de actuação: veja-se o Engº. Jardim Gonçalves, do mais bem sucedido banco português, o Millenium BCP, que numa dúzia de anos se torna a principal entidade bancária do sistema privado em Portugal, ultapassando “relíquias” de um mundo da “segunda vaga” como o Banco Português do Atlântico ou o Banco Nacional Ultramarino. Jardim Gonçalves começa a sua carreira como engenheiro civil, dirigindo obras no Porto de Leixões, para acabar conduzindo um banco comercial, para enfim ver metido em apuros, na vertiginosa dança de cadeiras que é a acelerada realidade bancária, financeira, económica, tecnológica e sociológica…
Assim, no mundo da terceira vaga, sistemas tão próprios do mundo industrial como os partidos políticos começam a cair em descrédito, à medida que grupos de pressão ganham espaço sob a forma das chamadas Organizações Não- Governamentais.
As inovações científicas como a clonagem, reproduz biológicamente aquilo que a informática já realiza há décadas: a multiplicação de “originais”. 
Os países novos, mesmo na Europa, surgem a cada ano, à medida que abstracções do mundo da “segunda vaga” como a Jugoslávia se fragmentam em pequenos mercados regionais – Croácia, Eslovénia, etc. – numa lógica descentralizadora que contraria as expectativas de George Orwell.
Politicamente, como dizia o actor americano Warren Beatty há tempos, os “líderes” já não são pessoas que têm opiniões própria, sinceras e desinteressadas sobre o mundo, mas antes seguidores da corrente dominante. Vivendo-se uma época de sondagens, nas quais o político deve estar consistentemente com boas médias, o importante deixa de ser fazer a coisa certa, mas antes fazer aquilo que as pessoas desejam que ele faça.
Na linha cómica, convém ainda recordar o modo como os Prof. Freitas do Amaral e Dr. Mário Soares, entrevistados em separado em plena campanha presidencial, nos anos ’80, e sem dúvida devidamente preparados pelos seus assessores mais jovens, manifestavam a sua predilecção pela música de intervenção “soft” do rocker americano Bruce Springsteen, naquele tempo muito bem visto pela juventude – quando essa mesma juventude desconfiava, porventura com razão, que nenhum dos dois podia fazer a menor idéia de quem pudesse ser o cantor.
As consequências para a cidade são um estado de sítio essencialmente operativo, no qual se procuram por várias vias (o neo-classicismo, o regionalismo, o desconstrutivismo, o high-tech ou mesmo o canibalismo social e arquitectónico) basicamente pragmáticas resolver o ordenamento das urbes, porque à fé em modelos de organização sócio-espaciais como o Movimento Moderno (como antes a Cidade Jardim, ou a Cidade Linear) sucede uma postura materialista realmente carente de conceitos…
Num mundo da arquitetura em que os profissionais já não se revêem na etiqueta pós-modernista, e certamente também já não na modernista - dando a sensação de que já não há vontade, tempo nem dinheiro (e tempo é dinheiro) para acreditar sequer na História (como no pós-modernismo), e em que a cidade e a arquitectura entraram no plano do espectáculo (vidé novo Parque Mayer, Ground Zero de Nova Iorque, Museu do Mundo Hebráico ou Guggenheim de Bilbau), que rótulo nos poderá ser colado?
Pergunta-se: numa época em que a tecnologia, barata e disponível, permite uma utilização não adequada ao bem comum; veja-se o caso do ataque aéreo às torres gémeas nova-iorquinas, deixando toda a economia mundial em estado de sitio, como poderá o homem continuar a acreditar em utopias urbanas?! …

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