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Inovação Tecnológica e Inteligência Competitiva: Um Processo Interativo Lia Krücken-Pereira Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Eng. de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina lia@enq.ufsc.br Fernanda Debiasi Mestre em Eng. de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina fdebiasi@eps.ufsc.br Aline França de Abreu, PhD Professora do Programa de Pós Graduação em Eng. de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina aline@eps.ufsc.br Endereços para contato: Lia Krücken-Pereira LCP/EQA/CTC/UFSC Campus Universitário Trindade, CP 467, CEP 88040-970 tel. 55-048-3319554 - fax 55-048-3319687 e-mail: lia@enq.ufsc.br Aline França de Abreu IGTI/EPS/CTC/UFSC Campus Universitário Trindade, CP 467, CEP 88040-970 tel. 55-048-3317030 - fax 55-048-3317000 e-mail: aline@eps.ufsc.br Resumo: A Inteligência Competitiva tende a assumir um papel cada vez mais destacado no mercado atual, caracterizado por fatores como alta competitividade, clientes e consumidores cada vez mais exigentes, redução da vida útil de produtos e serviços e alta velocidade de desenvolvimento de tecnologias. Para as organizações, a Inteligência Competitiva surge como uma forma de disponibilização de informações que possam ser utilizadas como apoio para o processo de tomada de decisão e revertidas em vantagens competitivas. Neste contexto, a Inteligência Competitiva assume papel relevante para os processos e estratégias de Inovação Tecnológica. O principal objetivo deste trabalho é discutir a inter-relação entre a Inteligência Competitiva e a Inovação Tecnológica. Desta forma, duas abordagens são apresentadas: a Inteligência Competitiva como geradora de Inovação Tecnológica e esta, por sua vez, como ferramenta para o processo de Inteligência Competitiva. Palavras-chave: inteligência competitiva, inovação tecnológica, conhecimento, estratégias tecnológicas, organização Inovação Tecnológica e Inteligência Competitiva: Um Processo Interativo 1 Introdução O fator chave para o sucesso de uma organização é entregar a seus consumidores produtos ou serviços com maior valor agregado possível (performance / preço) atendendo suas necessidades, em menor tempo e melhor que a concorrência. A concorrência é um fator crítico para o sucesso ou fracasso das organizações, determinando como as atividades de uma organização devem ser conduzidas para garantir o sucesso a longo prazo da mesma. Muitas das grandes empresas vêm desenvolvendo ou aprimorando seus processos de inteligência, pois cada vez mais acredita-se que informações relevantes e rápidas são fundamentais para a tomada de decisões estratégicas. Dentre os diversos tipos de inteligência da organização citados na literatura, a Inteligência Competitiva está voltada para uma questão chave: informação externa e estratégias de inteligência possibilitando inovação (Mensch apud Pozzebon e Freitas, 1998). Segundo Tyson (1998) a Inteligência Competitiva tem evoluído para um processo híbrido de Planejamento Estratégico e atividades de pesquisa de mercado, estruturando processos de coleta e análise de informações de forma sistemática e rotineira. Assim, o presente artigo aborda a relação interativa entre a Inteligência Competitiva e a Inovação Tecnológica: a necessidade de se utilizar inovações tecnológicas para acelerar o processo de Inteligência Competitiva com o objetivo de coletar, analisar e distribuir informações relevantes para a organização o mais rápido possível. Por outro lado, aborda a Inteligência Competitiva como ferramenta de análise da indústria trazendo informações como tendências tecnológicas e participando das decisões de estratégias tecnológicas da organização em questão. 2 O Processo de Inovação Tecnológica Diversas definições para processo de Inovação Tecnológica podem ser encontradas na literatura (Valeriano, 1985; Sheth e Ram, 1987; Tornatzky e Fleischer, 1990; Markides, 1997, dentre outros). Apesar dos diferentes focos de abordagem, os diversos autores salientam que esse processo envolve mudanças que sempre trazem incertezas, dificuldades e riscos, apesar de serem vitais para a sobrevivência das organizações. Tornatsky e Fleischer (1990) consideram que o processo de Inovação Tecnológica envolve o desenvolvimento e a introdução de ferramentas derivadas do conhecimento através das quais as pessoas interagem com seu ambiente. Valeriano (1985) define Inovação Tecnológica sob um ponto de vista fundamentalmente econômico: “a Inovação Tecnológica é o processo pelo qual uma idéia ou invenção é transposta para a economia", ou seja, ela percorre o trajeto que vai desde esta idéia, fazendo uso de tecnologias existentes ou buscadas para tanto, até criar o novo produto ou serviço e colocá-lo em disponibilidade para o consumo ou uso. Uma Inovação Tecnológica pode ser incremental ou radical. A Inovação Tecnológica Incremental se adequa geralmente ao contexto da organização que está adotando-a, bem como a seus valores e crenças, necessitando de poucas adaptações nos processos já existentes na organização para sua implementação. Já a Inovação Tecnológica Radical introduz conceitos completamente novos para a organização, necessitando da criação de processos completamente novos, muitas vezes a extinção de processos existentes, além de envolver, algumas vezes, a mudança de valores da organização. Logicamente, a Inovação Tecnológica Radical envolve muito mais incertezas, resistências e, consequentemente, riscos. 3 A Inovação Tecnológica como um Processo de Geração e Utilização de Conhecimento A Inovação Tecnológica pode ser analisada como um processo constituído por diversas fases, desde a pesquisa para desenvolvimento da tecnologia até a utilização da inovação pelo usuário de forma rotineira. De forma genérica, durante a fase de desenvolvimento, o processo de Inovação Tecnológica passa pela pesquisa, desenvolvimento, avaliação, manufatura e disseminação (Tornatsky e Fleischer, 1990). Já a fase de utilização pode segue as etapas: conhecimento da inovação, persuasão, decisão, implementação e confirmação (Rogers, 1995). A figura 1 sintetiza o Processo de Inovação Tecnológica definindo quem executa cada fase. Focalizando a geração de conhecimento, Guimarães (1998) define o processo de inovação como uma síntese de conhecimentos diversos, integrados à base privada de conhecimento de uma empresa através de um processo de aprendizagem. Este processo demanda duas condições básicas: a oportunidade tecnológica e a apropriação de benefícios gerados pelas atividades inovativas, atuando simultaneamente. A autora salienta a importância do contexto social, de como uma interação social pode gerar conhecimento e como o curso do desenvolvimento tecnológico é moldado por estas interações. Drucker (1998) considera que a inovação deve ser uma prática sistemática e apresenta como fontes de inovação: pesquisa e desenvolvimento, ocorrências inesperadas, necessidades do processo, incongruências, mudanças no mercado ou indústria, mudanças demográficas, mudanças na percepção e novos conhecimentos. Em todas as fontes de inovação citadas, a informação tem papel relevante, tanto na sua forma tácita como explícita, endógena ou exógena à organização. Tal observação implica que quanto maior o aproveitamento das informações que chegam na organização e quanto mais sistematizada sua busca e disseminação, maior a probabilidade de se aproveitar as oportunidades de inovação. Dependendo do contexto, essas fontes podem assumir diferentes níveis de importância com o tempo. As três últimas fontes de inovação citadas por Drucker representam oportunidades existentes no ambiente externo da empresa. Mudanças demográficas representam oportunidades de inovação devido a mudanças no número de pessoas - sua distribuição etária, educação, ocupações, localização geográfica – e, portanto, requerem informações de fundo social, econômico e demográfico.São consideradas como um investimento de baixo risco e de grande retorno. Mudanças na percepção podem constituir grandes oportunidades de inovação. Uma mudança de percepção não altera os fatos, mas sim seu significado, rapidamente. As conseqüências dessa mudança de visão são concretas, podem ser definidas e exploradas. Informações sobre tendências de mercado e mudanças nos hábitos dos consumidores são de extrema importância. Inovações baseadas em novos conhecimentos diferem dos outros tipos de inovação devido ao tempo que tomam, suas taxas de ocorrência e aplicabilidade, bem como mudanças que provocam na organização. O processo baseia-se na identificação do novo conhecimento emergente e na sua transformação em tecnologia utilizável. O tempo que leva para uma inovação deste tipo chegar ao mercado é longo - algo como 50 anos - e envolve vários tipos de conhecimento. Constatado que uma inovação é tanto conceitual como perceptiva, a Inteligência Competitiva pode ser vista como uma ferramenta para o processo de inovação, pois possibilita observar o mercado, analisar as estratégias de seus competidores e suas repercussões, o comportamento e as tendências dos consumidores, seus valores, expectativas e necessidades. A capacidade de uma organização em inovar está relacionada à incorporação de conhecimento em seus processos e produtos e as vantagens econômicas advindas do controle deste conhecimento. Assim, conhecimento é a chave para a inovação, seja ela tecnológica ou não. Figura 1. Processo de Inovação Tecnológica. Fonte: Adaptado de Rogers (1995); Tornatsky e Fleischer (1990). 4 Conceito de Inteligência Competitiva O conceito de Inteligência Competitiva é antigo e vem sendo praticado inconscientemente por muitas organizações. Nota-se uma certa imprecisão, pois muitas expressões são empregadas como sinônimos de Inteligência Competitiva : “Business Intelligence”, “Intelligence Économique”, “Competitor Intelligence”, etc. Segundo Jacquet (1999), os resultados de uma pesquisa feita na França pela agência Pouey mostrou que 69% das 250 pequenas e médias empresas francesas questionadas praticam inteligência econômica sem saber, utilizando termos como: "informação estratégica", "vigília estratégica, técnico-econômica ou da concorrência", "informação de negócios". Para as organizações, a Inteligência Competitiva é “colocar à disposição informações úteis de origem econômica, financeira, comercial, jurídica e legislativa, científica e técnica”. É a sensibilização da organização para a utilização da informação, que se reverte em vantagem competitiva (Comité pour la Competitivité et la Securité Économique, 1995). Uma visão mais abrangente do conceito de Inteligência Competitiva é dada por Rothschild (apud Richard Combs Associates, 1999) que a define como “uma maneira de pensar”. Gilod et. al (1999) conceitua Inteligência Competitiva como a atividade de monitoramento do ambiente externo da empresa para a coleta de informações que sejam relevantes para o processo de tomada de decisão da organização (apud Richard Combs Associates, 1999). Jakobiak (1998) apresenta a Inteligência Competitiva como o conjunto de ações coordenadas que envolvem pesquisa, tratamento e distribuição de informações úteis aos atores econômicos, visando sua exploração. Observa-se que diversos autores salientam a diferença entre a prática da Inteligência Competitiva e da espionagem. A Inteligência Competitiva utiliza apenas informações públicas, que podem ser legalmente e eticamente identificadas e acessadas (Malhotra, 1996). Assim, a informação que sempre foi considerada como subproduto das atividades empresariais torna-se a base da organização. Segundo Bogliolo (1998), a informação é a única fonte de valor de uma organização. Para uma efetiva compreensão e interpretação da informação, possibilitando que a mesma resulte em tomadas de decisão, são necessários tanto o conhecimento tácito como o explícito (Skyrme, 1998). Além disso, reconhecer uma informação valiosa no mercado ou transformar dados em informações, relacionando-as a um conhecimento prévio, é um processo complexo, que envolve constante aprendizagem. Portanto, é importante ressaltar o papel do capital humano da organização, ou seja, das capacidades de seus indivíduos, salientado por diversos autores através de conceitos que envolvem, entre outros fatores, a inteligência humana: “Absorptive Capacity1” (Cohen, 1990), “Learning Organizations 2” (Skyrme, 1998; Bogliolo, 1998), "Knowledge Management3" (Thil, 1998). Os motivos para a crescente e acelerada difusão da Inteligência Competitiva provêm da situação econômica e política atuais. Sob este aspecto, cita-se as políticas de exportação/importação, que conduziram muitas organizações a uma situação de guerra, ou seja, a um mercado altamente competitivo, ao invés da antiga estabilidade de mercado proporcionada pelas barreiras legislativas e alfandegárias vigentes anteriormente. Pode-se representar graficamente a Inteligência Competitiva como a Figura 2. Figura 2. Representação do Processo de Inteligência Competitiva. O processo de Inteligência Competitiva permite à organização identificar ameaças competitivas, eliminar ou reduzir surpresas, reduzir o tempo de reação, identificar oportunidades latentes, gerenciar clientes, antecipar necessidades e desejos dos consumidores, monitorar as estratégias dos concorrentes, difundir as informações na organização, preservar a vantagem competitiva, monitorar as tecnologias em desenvolvimento, dentre outras ações. Entre as empresas mais respeitadas pelos seus trabalhos com Inteligência Competitiva pode- se citar: Motorola e General Eletric; Microsoft; Hewlett-Packard; IBM e AT&T; Intel; 3M; Xerox; Merck; Coca-Cola e Chrysler (Health, 1996). Segundo o consultor Bill DeGenaro, citado por Health (1996), o que diferencia, por exemplo, a Motorola das demais empresas é o comprometimento da alta gerência e diretoria com a Inteligência Competitiva. Seus executivos acreditam na importância da Inteligência Competitiva para todo o processo de decisão. Um exemplo de ação relacionada a Inteligência Competitiva da Motorola é o monitoramento de informações em embaixadas e órgãos governamentais de países onde atua. Informações sobre os planos de investimento de países como o Japão orientam as estratégias da empresa para trabalhar mais próximo aos fabricantes e clientes, fortalecendo sua posição competitiva. 5 Elementos da Inteligência Competitiva As principais etapas da Inteligência Competitiva definidas por Jakobiak (1998) são apresentadas no gráfico a seguir. A estrutura do sistema é constituída por três famílias ou redes de atores intervenientes: os observadores (REDE 1), os especialistas (REDE 2) e os decisores (REDE 3). Figura 3. Principais atividades da Inteligência Competitiva. Fonte: Adaptação de Jakobiak (1998). Os papéis desenvolvidos pelos profissionais de cada uma das três redes são fundamentais. Através da figura 4, pode-se visualizar como esses papéis interagem entre si. Observadores ou gatekeepers são indivíduos que têm como força monitorar o ambiente e traduzir a informação técnica em uma informação compreensível para o grupo de pesquisa (Cohen, 1990). Os especialistas em tecnologia da informação são responsáveis pelo tratamento dos dados coletados de forma a difundir seletivamente as informações, ao invés de simplesmente transferi- las aos diversos setores da organização. Seu papel é de suma importância. Figura 4. Configuração das redes de profissionais envolvidos no processo de Inteligência Competitiva. Fonte: Adaptação de Jakobiak (1998). As atividades desenvolvidas em cada etapa do processo de Inteligência Competitiva são apontadas por diversos autores e apresentadas no quadro sinóptico a seguir (Jakobiak, 1998; Bruno, 1999; Davis, 1997; Grenetier, 1998). Quadro 1. Atividades desenvolvidas em cadaetapa da Inteligência Competitiva. ETAPA ATIVIDADES PESQUISA Busca em fontes de informação 1. Gerais: periódicos, enciclopédias, teses, patentes, bases de dados e internet. 2. Específica: informações públicas mas pouco difundidas, informações informais e informações internas COLETA Definem-se três categorias de coleta: 1. Coleta consecutiva a uma pesquisa em base de dados (procura por referência, documentos originais) 2. Coleta periódica de certos dados (relatórios anuais da organização, catálogos de fornecedores de equipamentos para novas tecnologias, matéria-prima, novos produtos etc. 3. Coleta como um processo contínuo (agentes que trazem informações para a organização devido a sua força social): técnicos, clientes, engenheiros de projetos, concorrentes, pesquisadores, comerciantes, responsáveis de marketing, participantes de feira, exposições, eventos da área, agentes da rede de venda etc. São os chamados “outros observadores” na Fig. 4, que desempenham um papel vital. DIFUSÃO Existem duas formas de difusão: 1. Difusão de informações brutas – secundárias (referência) ou primárias (documentos completos); 2. Difusão de informações estruturadas (relatórios, comunicações, programas, jornais internos, boletins); A difusão se dá em diferentes níveis, conforme o papel hierárquico dos indivíduos e a confidencialidade da informação. EXPLORAÇÃO Tratamento É a operação que transforma dados em informações, ou seja, agrega valor a dados dispersos. Existem três tipos de tratamento a serem considerados: ü Tratamento específico, conforme os critérios do destinatário (usuário final); ü Tratamento de análise estratégica; ü Tratamento de informática. Análise / Validação ü Análise é o estudo aprofundado da documentação para recuperar as informações essenciais que possam auxiliar a tomada de decisão ou ações estratégicas; ü Validação é a verificação das fontes e credibilidade dos dados. UTILIZAÇÃO É a tomada de decisões de importância estratégica para a organização, como por exemplo: ü Novos projetos de pesquisa; ü Novos programas de desenvolvimento; ü Acordos de cooperação; ü Transferência de tecnologia, venda ou compra de licença; ü Compra / venda / arrendamento de unidades de produção; ü Atividades de benchmarking; ü Uso ofensivo da informação; ü Reação às intenções / ações da concorrência. 6 A Inteligência Competitiva como ferramenta de auxílio na definição das estratégias tecnológicas de uma organização No cenário atual, devido a concorrência cada vez mais globalizada e as constantes mudanças, tanto internas à organização quanto externas a ela, é imprescindível que informações vitais para os processos de tomada de decisão sejam disponibilizadas no tempo ideal para os responsáveis por estes processos. Dentre as diversas decisões a serem tomadas por uma organização encontram-se decisões relacionadas a estratégias tecnológicas, definindo, por exemplo, como, quando e se uma inovação tecnológica deve ser adotada ou desenvolvida. Neste contexto, a Inteligência Competitiva torna-se um processo fundamental, possibilitando a identificação de oportunidades de inovações, novas tendências tecnológicas, estratégias dos competidores, clientes e fornecedores, antecipação de necessidades etc. Dentre as ferramentas e técnicas usadas na Inteligência Competitiva podem ser citadas: "benchmarking competitivo4", "inteligência defensiva5", engenharia reversa6, observações in- loco (Malholtra, 1996). Um exemplo que mostra claramente a aplicação da Inteligência Competitiva é o caso dos fabricantes de computadores, ramo no qual a engenharia reversa nos produtos concorrentes é uma prática comum. Através da desmontagem e observação das estruturas de produtos comercializados, pode-se implementar inovações em produtos - como a utilização de componentes plásticos em substituição aos tradicionais, confeccionados em metal. Através da ánalise e do melhoramento das estratégias utilizadas em produtos concorrentes pode-se reduzir custos (em relação à produção, aos materiais utilizados, aos investimentos em pesquisa e desenvolvimento), melhorar características funcionais dos produtos (peso, desempenho, tempo útil etc). Novamente observa-se a importância de respeitar a fatores éticos e a propriedade industrial, normalmente estabelecida através de patentes. 7 A Inovação Tecnológica como ferramenta para a Inteligência Competitiva Como visto anteriormente, o processo de Inteligência Competitiva busca coletar, analisar e distribuir informações relevantes sobre indústria, clientes, competidores, tendências etc, no menor tempo possível. A velocidade com que os outputs da Inteligência Competitiva vêm sendo requisitados também é dinâmica, aumentando a cada dia. Para que o processo de Inteligência Competitiva possa responder às necessidades na velocidade desejada, ferramentas tecnológicas apropriadas se fazem necessárias. Uma grande dificuldade inerente a esse processo é a sistematização dos diferentes tipos de dados e informações de forma a disponibilizá-los, avaliar seu valor, pertinência e nível de interdependência, contextualizando-os às transformações sociais e econômicas do mercado. Bruno (1999) classifica os diferentes tipos de informação em científicas, técnicas, tecnológicas, econômicas, ambientais, de segurança, regulamentares, jurídicas e comerciais. Como pode-se prever, a estrutura dessas informações não são padronizadas e necessitam de diferentes suportes (papel, bases de dados, internet, comunicação oral etc.) Pozzebon e Freitas (1998) ressaltam a necessidade de se desenvolver "um ambiente que forneça informações internas, informações externas, informações sobre as percepções dos clientes e consumidores, e que permita análises e simulações, enfim, um ambiente integrador das informações disponíveis para o sucesso da organização e que crie condições para usuários pró- ativos". Segundo o autor, tais ambientes vêm sendo gradativamente implementados nas organizações com base em métodos voltados para a identificação de dados estratégicos e aspectos críticos dos negócios. Concluindo, a Inteligência Competitiva vem provocando inovações na área de tecnologia da informação, pois os sistemas de informações tradicionais não possibilitam lidar com dados informais, contextos, ambigüidades, significados, formatos heterogêneos. Além disso, o processo de Inteligência Competitiva é global e sistemático, não possui linearidade e pode mudar de orientação ou objetivo em função de conhecimentos adquiridos durante sua evolução. Desta forma, cria-se uma interação entre a Inovação Tecnológica e a Inteligência Competitiva, uma precisando da outra para sua sobrevivência. Focalizando-se estritamente o caso da tecnologia da informação como suporte para a Inteligência Competitiva e esta, por sua vez, como ferramenta para a busca de Inovações Tecnológicas para a tecnologia da informação, pode-se observar como ocorre esta interação na figura 5. Figura 5. Processo interativo entre a Inteligência Competitiva e o processo de Inovação Tecnológica na tecnologia da informação. Pode-se citar como exemplo de ferramenta tecnológica para a Inteligência Competitiva o caso do software PUZZLE®, apresentado por Lesca (1996). Basicamente, as vantagens de se utilizar esse software residem na sua capacidade de armazenamento, permitindo composições e validações das informações armazenadas ou elaboradas; no seu formato, o qual aceita todo formato de informação - texto, imagem, voz; na possibilidade de realizar múltiplos arranjos de informações através de diversos vínculos de causalidade, analógicos, de contigüidade etc; na possibilidade de verificar a coerência das informações agrupadas e na possibilidade de acessar de forma rápida e fácil as informações derivadas. Segundo o autor, este software atende três necessidades práticas: fornecer representações significativas, dinâmicas, referentes ao ambiente daempresa sem conceitos pré-definidos; orientar a escuta do ambiente da empresa, ou seja, tornar mais seletiva e objetiva a escuta do ambiente e, por conseqüência, permitir aumentar a eficácia e a dinâmica da Inteligência Competitiva e deduzir informações inacessíveis de forma direta. O conceito de puzzle, que deu nome ao software citado acima, é juntar as peças em desordem de um quebra-cabeças, montando representações significativas para o usuário final - o responsável pela tomada de decisão. No contexto utilizado por Lesca et al (1996), puzzle se refere a "uma metodologia de tratamento de sinais fracos e um sistema aplicativo (software) que sustenta esta metodologia". 8 Considerações finais A Inteligência Competitiva tende a assumir um papel cada vez mais destacado no mercado atual, caracterizado por fatores como alta competitividade, clientes e consumidores cada vez mais exigentes, redução da vida útil de produtos e serviços e alta velocidade de desenvolvimento de novas tecnologias. Teoricamente todas as organizações têm acesso às mesmas informações, que atualmente estão disponibilizadas em grande volume, o que pode ser utilizado como vantagem competitiva por algumas organizações e funcionar como barreira para outras. As organizações estão plenas de informações, mas têm muito pouca inteligência. Segundo Lesca et al (1996) dados e informações não se qualificam como inteligência até que eles tenham sido processados por uma mente humana que sabe quais questões precisam ser respondidas. É neste cenário que um programa de Inteligência Competitiva bem estruturado tem papel fundamental para sustentar a vantagem competitiva de uma organização, possibilitando otimizar o uso das informações. Por exemplo: o direcionamento de ações estratégicas maximizando a segurança de sucesso, a criação de uma postura proativa ao invés de reativa da organização em relação ao mercado. Portanto, é crucial que uma organização disponibilize recursos para investimentos em tecnologia da informação como suporte e investimentos no capital humano da organização de forma a desenvolver as capacidades e habilidades dos indivíduos para colaborar e possibilitar a manutenção de um sistema de Inteligência Competitiva . Notas 1 Absorptive Capacity: habilidade de explorar (avaliar e utilizar) conhecimentos externos com base em conhecimentos prévios. (Cohen,1990) 2 Learning Organizations: organização em constante processo de aprendizado, com objetivo de aumentar sua flexibilidade e adaptação a mudanças, buscando garantir sua sobrevivência em um mercado altamente imprevisível e mutável. (Bogliolo, 1998) 3 Knowledge Management: um dos conceitos citados é o esforço de buscar, manter, filtrar e disseminar o conhecimento dentro de uma organização. (Thil, 1998) 4 benchmarking competitivo: é usado para comparar as operações de uma organização às de seus concorrentes. 5 inteligência defensiva: envolve o monitoramento e análise das atividades da própria organização e como seus concorrentes e indivíduos as vêem. 6 engenharia reversa: adquirir informações sobre um produto (ou serviço) - como é produzido, custo e qualidade, partindo do produto acabado. Bibliografia Bogliolo, D. KM, Knowledge Management - 1/3. 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