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ANA CAROLINA SBEGHEN MATHEUS – MEDICINA FASM Objetivo: identificar e quantificar a gravidade de uma doença associada capaz de trazer prejuízo a cirurgia e a evolução pós- op. Anamnese detalhada + exame físico minucioso + exames complementares. Período perioperatório: Período intraoperatório: até 48h de pós-op Periodo pós-operatório tardio: após 48h até 30 dias de pós-op. RISCO ANESTÉSICO-CIRÚRGICO Fazer 4 perguntas: O risco anestésico-cirurgico está acima da média para a cirurgia proposta? Quais são os exames complementares necessários para estimar com maior precisão esse risco? A cirurgia deve ser adiada, modificada ou contraindicada? Quais são as ações que devem ser implementadas para minimizar o risco? Fatores que influenciam o risco anestésico-cirurgico: 1. Risco Anestésico (ASA) ASA2: doença leve sem limitação funcional significativa. HAS bem controlada, DM sem complicação vascular, anemia, obesidade (30 < IMC < 40), gestação, tabagismo, consumo social de álcool. ASA3: doença com limitação funcional, mas não incapacitante. DM com complicação vascular, HAS não controlada, redução FE, marca-passo, IAM recente, AVC prévio. ASA4: angina instável, disfunção valvar grave, sepse, CIVD, doença renal aguda. ASA5: rotura aneurisma aórtico, politrauma, hemorragia intracraniana, isquemia intestinal. 2. Risco Cardiovascular índice de Risco Cardíaco – Estratificação de risco cardíaco para procedimentos não cardíacos Alto Risco (>=5%) - Cirurgia vascular de grande porte, cirurgia arterial periférica - Grandes cirurgias de emergência/urgência - Cirurgias prolongadas associadas a grande perda de sangue ou líquidos para 3º espaço Médio Risco (>1% e <5%) - Cirurgias intraperitoneais ou intratorácicas - Endarterectomia de carótida e correção endovascular de AAA - Cirurgia ortopédica - Cirurgia prostática - Cirurgia de cabeça e pescoço Baixo Risco (<1%) - Procedimentos endoscópicos - Procedimentos ambulatoriais - Cirurgia oftalmológica - Cirurgia plástica - Cirurgia de mama - Herniorrafias Índice de Risco Cardíaco Cirurgia de Alto risco - Cirurgia vascular - Cirurgia intraperitoneal ou intratorácica Doença Coronária Isquêmica - IAM prévio (clínico ou onda Q patológica no ECG). - Angina ou uso frequente de nitrato sublingual. - Teste provocativo de isquemia positivo. - Revascularização prévia, mas atualmente com angina. Insuficiência Cardíaca -Dispneia cardiogênica. - História de edema agudo de pulmão. - Terceira bulha ou estertores pulmonares. Relacionados ao Procedimento - Duração > 4h - Perda sanguínea >1500ml Invasão de cavidades (peritoneal, pleural) - Anestesia geral ou bloqueio neuraxial - Cirurgia de emergência Relacionados ao Paciente - Idade > 70 anos - DCV, pulmonar, metabólica (diabetes), renal ou hepática - Instabilidade cardiovascular ou respiratória ANA CAROLINA SBEGHEN MATHEUS – MEDICINA FASM - Radiografia de tórax com edema de pulmão. Doença Cerebrovascular - AVC prévio - AIT prévio DM - Em uso de insulina Doença Renal Crônica - Creatinina >2mg/dl RISCO DE MROTE CARDIACA - Nenhuma variável: risco de 0,4% - 1 variável: risco de 0,9% - 2 variáveis: risco de 6,6% - 3 ou mais variáveis: risco de 11% 3. Risco Pulmonar - Todos pacientes que serão submetidos a cirurgias não cardíacas, devem ser avaliados para possibilidades de complicações pulmonares - Infecção do trato respiratório superior, tosse, dispneia - Idade > 60 anos - DPOC - ASA > 2 - Cirurgia de emergência - Dependência funcional do paciente - Albumina sérica < 3,0 g/dl - Perda ponderal > 10% (dentro dos últimos 6 meses) - Volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) < 0,8 litros/segundo ou 30% do previsto - Ventilação voluntária máxima < 50% do previsto - PaCO2 ≥ 45 mmHg em repouso (ar ambiente) - PaO2 ≤ 50 mmHg em repouso (ar ambiente) - Insuficiência cardíaca congestiva - Alcoolismo - Diabetes em uso de insulina - Uso crônico de esteroides - Tabagismo - Diminuição do sensório - Insuficiência renal - História de AVC - Necessidade de transfusão pré-operatória > 4 unidades - Obesidade - Cirurgias de emergência/urgência, procedimentos >3h, cirurgia de reparo de AAA, cirurgia torácica, neurocirurgia e cirurgia de cabeça e pescoço, anestesia geral risco para complicações pulmonares pós-op - Alto risco complicações pulmonares: assistência fisioterapia, uso cateter nasogástrico - Espirometria pré-op de rotina e rx de tórax devem ser feitas em asmáticos, DPOC. - Recomendações para pacientes de alto risco para complicações pulmonares: interromper tabagismo por pelo menos 8 sem antes da cirurgia, asmáticos e DPOC devem receber glicocorticoides e broncodilatadores no período pré e pós-op e pneumonias infecciosas devem ser tratadas antes da cirurgia. EXAMES RPÉ-OPERATÓRIOS Solicitar em casos selecionados. Indivíduos assintomáticos, solicitar exames pré-op em algumas circunstâncias. Se exames laboratoriais normais de até 90-180 dias, não precisa repetir. Se existir doenças hepáticas, renas, respiratórias, endócrinas, infecção pelo HIV requerem exames pré-op dos últimos 30 dias. 1. Aspectos Médico-Legais Pedir exames demasiadamente no pré-op é desnecessário. 2. Quando solicitar exames e quais devem ser solicitados - Cirurgia cardíaca ou torácica: ECG, hemograma e plaquetas, eletrólitos, creatinina, ureia, glicemia, TP, TTP, RX tórax - Cirurgia Vascular: ECG, hemograma e plaquetas, eletrólitos, creatinina, ureia, e glicemia - Cirurgia intraperitoneais: ECG, hemograma e plaquetas, eletrólitos, creatinina, ureia, glicemia, e provas de função hepática - Cirurgia com perda esperada >2L de sangue: ECG, hemograma e plaquetas, eletrólitos, creatinina, ureia, glicemia, TP, TTP - Cirurgia intracraniana: ECG, hemograma e plaquetas, eletrólitos, creatinina, ureia, glicemia, TP, PTT - Cirurgia ortopédica (prótese): hemograma e plaquetas, eletrólitos, creatinina, ureia, glicemia, urinocultura e bacterioscopia pelo gram da urina - Ressecção transuretral da próstata ou histerectomia: hemograma, plaquetas, eletrólitos, creatinina ureia, glicemia. Indivíduos sem comorbidadades + procedimentos de baixo risco: muitas vezes não necessita de exames Principais exames pré-op em pacientes sem comorbidades e de baixo risco - Idade < 45 anos - nenhum exame. - Idade entre 45-54 anos - Eletrocardiograma (ECG) caso sexo masculino. - Idade entre 55-69 anos - ECG, hemograma e plaquetas. - Idade > 70 anos - ECG, hemograma e plaquetas, eletrólitos, creatinina, nitrogênio ureico (ou ureia) e glicemia. - Tabagismo independente da faixa etária - ECG. - Mulher em idade reprodutiva - beta-hCG urinário na manhã da cirurgia ANA CAROLINA SBEGHEN MATHEUS – MEDICINA FASM Se comorbidades, necessita de exames laboratoriais independentemente da idade. Exames dentro de 30 dias antes da cirurgia. Principais exames pré-op em pacientes com comorbidades - Obesidade Mórbida: ECG; hemograma com plaquetas; eletrólitos; e glicose - História de AVC: ECG; hemograma com plaquetas; eletrólitos; ureia e creatinina; e glicose - Câncer: ECG; hemograma com plaquetas; eletrólitos; ureia e creatinina; glicose; Provas de Função Hepática (PFH); Rx tórax; e marcadores tumorais - Uso de Anticonvulsivantes: Hemograma com plaquetas; PFH; níveis séricos de anticonvulsivante - Doença Cardiovascular: ECG; hemograma com plaquetas; eletrólitos; ureia e creatinina; e glicose - Doença Respiratória: ECG; hemograma com plaquetas; eletrólitos; ureia e creatinina; e Rx tórax - Diabetes: ECG; hemograma com plaquetas; eletrólitos; ureia e creatinina; glicose - Doença Hepática ECG; hemograma com plaquetas; eletrólitos; ureia e creatinina; glicose; PFH; e TTP e TP - Doença Renal ECG; hemograma com plaquetas; eletrólitos; ureia e creatinina; glicose;e TTP e TP - Lúpus ou outras Doenças Autoimunes: ECG; hemograma com plaquetas; eletrólitos; ureia e creatinina; e PTT e TP CONSIDERAÇÕES PRÉ-OPERATÓRIAS ADICIONAIS 1. Medicamentos Perguntar por todas as medicações utilizadas. Informações: - Anticoagulantes: cumarínicos (warfarina) deve ser suspenso até 5 dias antes da cirurgia eletiva, realizar o INR no pré-op imediato. INR<1,5 pode operar. Pode iniciar warfarin no dia seguinte da cirurgia. Pacientes que apresentam risco tromboembólico devem tomar até o momento mais próximo da cirurgia. - A heparina não fracionada deve ser iniciada em dose plena EV continua e mantida até 6h antes da cirurgia e pode ser reiniciada em 12-24h após cirurgia junto com warfarina. - Se uso de enoxaparina (baixo peso molecular), deve ser suspensa até 24h antes da cirurgia e reiniciada até 12-24h após - Se cirurgia de emergência em pacientes que utilizam warfarina, aplicar plasma fresco congelado 15-20ml/kg e aplicar 1 dose de vit K. - Se cirurgia de emergência em pacientes que utilizam heparina não fracionada, usar sulfato de protamina 1mg para cada 100mg de heparina - Uso de rivaroxaban, deve suspender de 2-3 dias antes da cirurgia e reinicio após hemostasia estiver adequada. Mesma coisa para dabigatran. - Anti-plaquetários: AAS em baixas doses (75-100mg) deve ser continuada durante todo o período perioperatório e portadores de doença isquêmica. - Na endarterectomia de carótida: manter AAS por todo período perioeratório - Se stent coronário ou eventos recentes de IAM, AVC: deve continuar - DAOP submetidos a cirurgia vascular infra-inguinal: continuar AAS - Uso para prevenção 2ª: riscos analisados pelo cirurgião e cardio - Os demais pacientes, devem suspender por 7-10 das antes do procedimento - Clopidogrel: risco de sangramento médio-elevado na cirurgia, deve ser suspenso cerca de 5 dias antes - AINEs: devem ser suspensos 1-3 dias antes da cirurgia - Anti-hipertensivos: suspensão de IECAS/BRA na manha do dia da cirurgia devido risco de hipotensão. BCC, betabloqueadores e agonistas alfa-2centrais devem ser mantidos até a manhã da cirurgia. Diuréticos normalmente suspensos na manhã da cirurgia. - Medicações para DM: hipoglicemiantes orais e drogas injetáveis não insulina são suspensos no dia da cirurgia (ultima dose na noite anterior da cirurgia). Pacientes com HbA1C<7% não necessitam de insulina para controle da glicemia. - Anti-depressivos ISRS: continuar medicações por todo o período perioperatório. Exceção neurocirurgia a droga deve ter dose reduzida progressivamente com a introdução de um novo antidepressivo. - Outros antidepressivos: sertralina, imipramia, devem ser adm até o dia da operação. MAOs devem ser suspensos 2 semanas antes. Principais drogas mantidas até o dia da cirurgia: anti- hipertensivos, betabloq, insulina, broncodilatadores, anticonvulsivantes, cardiotônicos, glicocorticoides. Estrógenos, tamoxifeno e agentes antiosteoporose: em cirurgias de alto risco tromboembólico, suspender medicamentos por 4-6 sem antes. 2. Tricotomia e Preparo da Pele Não tricotomizar paciente antes da cirurgia, caso necessário, apenas realizado no CC momentos antes da cirurgia. ANA CAROLINA SBEGHEN MATHEUS – MEDICINA FASM Preparo da pele em 2 tempos: solução antisséptica degermante e solução alcóolica. Ex.: polivinilpirrolidona-iodo (PVP-I) e clorexidina. 3. Cateterismo Aspiração gástrica no pré-op quando esvaziamento gástrico prejudicado (estenose pilórica, oclusão intestinal e cirurgias de emergência) devido ao risco de broncoaspiração no momento da indução anestésica. Cateterismo vesical feito quando necessidade monitoração da perfusão tecidual. Cirurgias pélvicas ou das vias urinárias tbm. 4. Antibiotecoprofilaxia Para diminuir a probabilidade de infecção no sitio cirúrgico no PO. O uso de material sintético (prótese) e reconstruções arteriais com próteses é indicado ATB. Incisões de osso, cx cardíaca, neurocirurgia, cirurgia vascular tbm é indicado. Nas cirurgias de classe I, principais agentes de infecção são os germes de pele (Staphylococcus aureus e Staphylococcus coagulase negativo) cefalosporina 1ª geração (cefazolina). Nas cirurgias classe II e III, deve fazer profilaxia. Ex.: procedimentos gastroduodenais, hepatobiliares cefazolina. íleo terminal, cólon e reto necessita de cobertura para gram negativo (E. coli) e anaeróbios cefoxitina (cefalo 2ª geração) ou uma fluoroquinolona e metronidaazol. E a dose? - 1ª dose adm junto com a indução anestésica ou um pouco antes; 2ª dose: adm num intervalo que corresponde a 2x a ½ vida da droga. Se houver hemorragias grandes, deve-se adm novamente o ATB. E quando interromper? Ao término da cirurgia ou estendida para alguns casos (cx cardíaca, neurológica, torácica, vasculares, de cabeça e pescoço, ortopédica). Cirurgias classe IV não necessitam de profilaxia ATB e sim de terapia antibiótica. Cirurgia limpa (classe I) Não traumática, sem inflamação, não há contato com TGI, trato genitourinario ou trato respiratório. Cirurgia potencialmente contaminada ou limpa- contaminada (classe II) Cx em TGI e respiratório Cirurgia contamina (classe III) Ferida traumática recente, extravasamento de conteúdo luminal de vísceras ocas, entrada no TGI ou TGU, infecção a distância Cirurgia infectada-suja (classe IV) Infecção bacteriana sem pus; acesso a tecido com coleção purulenta, ferida traumática com tecido desvitalizado, corpo estranho ou contaminação fecal 5. Avaliação Nutricional - perda de peso não intencional >10% do peso corpóreo em 6 meses ou de 5% em 1 mês significativo - pesquisar história de vômitos repetidos, disfagia, hiporexia ou anorexia - exame físico: atrofia de músculos temporais, de MMSS e de panturrilhas - sinais de desnutrição avançada: perda da bola de Bichat, caquexia e edema - medida antropométricas (IMC, peso, dobra cutânea tricipital e circunferência do braço) - laboratório: albumina (<2,2g/dl mau prognóstico) , pré- albumina e transferrina - o suporte nutricional pré-op pode ser benéfica para pacientes com malignidade no tubo digestivo e com perda ponderal significativa - nutrição enteral é a mais fisiológica e com < risco de complicação infecciosa, mas necessita de 4 sem para alcançar seu objetivo 6. Avaliação Hematológica Qualquer paciente anêmico deve ser investigado. Transfusão pré-op, quando fazer? Hb<6g/dl Hb 6-10g/dl na presença de doença isquêmica do miocárdio ou doença cerebrovascular Hb 6-10g/dl em procedimento com perda sanguínea aprox.. 30% da volemia Anamnese importante: identificar se problemas de hemostasia, histórico familiar de sangramentos anormais, equimoses, petéquias. Trombocitopenia: <100.000 impede cirurgias oftalmológicas e neurocirurgia; se <50.000 impede qualquer procedimento. Se Doença de von Willebrand (deficiência fator Vw – adesividade plaquetária na parede vascular) recomenda- se elevá-las com adm intranasal ou EV de vasopressiva ou do concentrado do fator. Perguntar se tem propensão a doença tromboembólica. Fator de risco: idade, obesidade, veias varicosas, tromboembolismo prévio, doença inflamatória intestinal, câncer, sd nefrótica, gravidez e uso de estrógeno.
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