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Teoria_e_Prática_em_Psicopedagogia (1)

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1 
 
 
TEORIA E PRÁTICA EM 
PSICOPEDAGOGIA 
Circulação Interna 
 
 
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2 
Unidade I 
Conhecendo a Psicopedagogia: Um pouco de conceito, 
suas bases e fundamentação teórica 
Certamente, no decorrer deste curso, você já teve contato com o conceito de 
Psicopedagogia e conheceu as suas principais formas de atuação. Mas, para começar a 
nossa disciplina, é necessário rever alguns desses conceitos e contextualizar de que 
forma as teorias e práticas da Psicopedagogia Institucional podem colaborar com as 
práticas pedagógicas no cotidiano escolar. 
Comecemos, então, pela Psicopedagogia, no seu sentido amplo. A Psicopedagogia é 
uma área de estudo bastante recente, existindo há aproximadamente 30 anos no Brasil, e 
tem por objetivo estudar, compreender e intervir na aprendizagem humana. Ao contrário 
do que o senso comum imagina, a Psicopedagogia não se restringe ao estudo das 
dificuldades e dos distúrbios de aprendizagem, mas à aprendizagem de um modo geral, 
seja no seu estado normal ou patológico. Além disso, todos os seres humanos, em 
qualquer faixa etária, podem fazer uso da Psicopedagogia para aprender de forma mais 
eficaz ou compreender o seu próprio processo de aprendizagem. Afinal, se estamos 
suscetíveis ao ato de aprender desde que nascemos até o fim de nossas vidas, por que, 
então, a Psicopedagogia teria um limite de atuação? Ela está presente onde a 
aprendizagem acontece, ou seja, em todos os momentos e faixas etárias de nossas vidas. 
Assim como a aprendizagem pode estar presente em todos os momentos de nossa vida, 
as dificuldades que ela representa também podem surgir em qualquer nível de ensino. 
Desta forma, uma pessoa pode ter sido um ótimo aluno, com excelente rendimento 
escolar até o final do Ensino Fundamental e apresentar grandes dificuldades para 
aprender no Ensino Médio, ou até mesmo na universidade. Isso porque, mesmo com as 
estruturas cognitivas amadurecidas, um determinado assunto ou área de estudo pode se 
tornar árduo para a nossa aprendizagem, do ponto de vista afetivo, e reagimos negando-
a. 
É provável que o fato de as pessoas restringirem a Psicopedagogia ao trabalho com 
alunos portadores de dificuldades de aprendizagem também esteja relacionado à sua 
origem, pois ela surge como uma alternativa de intervenção nas dificuldades de 
aprendizagem. Sua origem também é atribuída aos argentinos. No entanto, Bossa (2000, 
p. 36) nos alerta sobre a origem do pensamento argentino acerca da Psicopedagogia, que 
está centrado na literatura francesa e se baseia em autores como Lacan, Mannoni, 
Françoise Dolto, Ajuriaguerra, Pichon-Rivière, dentre outros. A Psicopedagogia tem o 
seu início, portanto, na Europa, ainda no século XIX, quando surgiram as preocupações 
com os problemas de aprendizagem. Contudo, podemos afirmar que a Argentina tem 
uma importância considerável na difusão do pensamento psicopedagógico, 
especialmente na epistemologia convergente. Seus principais representantes são Jorge 
 
 
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3 
Visca, Alicia Fernandez e Sara Paín. Ainda na Argentina, a Psicopedagogia tem o seu 
eixo teórico em três áreas da Psicologia. São elas: a Psicologia Genética de Jean Piaget, 
A Psicanálise de Freud e a Psicologia Social de Pichon-Rivière. Posteriormente, muitas 
outras teorias contribuíram e enriqueceram a teoria psicopedagógica, tais como a teoria 
de Vygotsky, a psicogênese da língua, tão bem defendida por Ana Teberosky e Emília 
Ferreiro. No entanto, ressaltamos que o berço, a gênese, o nascimento da 
Psicopedagogia acontece, de fato, com essas três teorias: Psicanálise (Freud), Psicologia 
Genética (Piaget), Psicologia Social (Pichon-Rivière) e, é claro, com a herança francesa. 
Não podemos deixar também de citar os nossos representantes brasileiros, que tanto têm 
contribuído para o desenvolvimento da Psicopedagogia e produzido trabalhos de 
qualidade na área, tais como Maria Lúcia Weiss, Aglael Borges, Nadia Bossa, Beatriz 
Scoz e Heloísa Padilha, dentre outros. É importante também dizer que, no Brasil, a 
formação do psicopedagogo se dá por meio de cursos de pós-graduação lato sensu, 
enquanto na Argentina o curso é de graduação e teve o seu início na Universidade de 
Buenos Aires, há mais de três décadas. No entanto, podemos atuar em diversos espaços 
educacionais, não necessariamente com a função de “psicopedagogo”, mas com um 
olhar e uma postura psicopedagógica diante da aprendizagem. Por exemplo, quando 
compreendemos o ato de aprender como um processo contínuo e singular, quando 
entendemos de que maneira os processos afetivos de um aluno estão interferindo na sua 
aprendizagem e, ainda, quando preparamos nossas aulas pensando no desenvolvimento 
cognitivo de nosso público, como alguém que prepara uma roupa sob medida. 
Áreas da Psicopedagogia 
A Psicopedagogia vem evoluindo e crescendo bastante ao longo dos anos. Hoje, temos a 
Psicopedagogia Clínica, de caráter predominantemente curativo. Seu espaço de trabalho 
é o consultório e o atendimento individualizado é a forma mais comum. A 
Psicopedagogia Institucional possui caráter predominantemente preventivo, e 
normalmente a atuação ocorre com pequenos grupos de alunos, trabalhadores, pessoas 
em geral. 
 A área institucional se divide hoje em três formas de atuação: a escolar, a empresarial e 
a hospitalar. Ao longo das aulas, vamos nos aprofundar no estudo da Psicopedagogia 
Institucional Escolar, mas por hora podemos adiantar que ela surge na escola a partir 
das novas demandas da humanidade e das transformações históricas e sociais dos 
alunos, que a evolução da sociedade tem trazido até nós. Olhamos em volta e nos 
perguntamos qual o profissional da escola que poderá nos ajudar a solucionar os 
problemas de aprendizagem, o fracasso escolar, a formação continuada dos professores 
etc., já que a maioria dos profissionais da escola, quando busca em sua formação de 
base um referencial que ajude a solucionar especialmente os dilemas éticos, nem sempre 
encontra. A Psicopedagogia não é um elemento milagroso, mas, sem dúvida, é uma 
forma diferenciada de compreender a aprendizagem humana e atuar sobre ela, já que 
sempre analisará as situações procurando perceber o sentido cognitivo, afetivo e social 
de cada questão, bem como a interseção entre esses elementos. 
 
 
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4 
O atendimento psicopedagógico institucional escolar ocorre normalmente na escola, em 
grupos, não necessariamente grupos compostos por alunos da mesma série ou da mesma 
idade, já que o objetivo desta atuação é o desenvolvimento de habilidades e 
competências, não o de conteúdos. Aprender conteúdos deve ser uma conseqüência da 
intervenção psicopedagógica. E não um objetivo direto deste trabalho. 
A Psicopedagogia Institucional Empresarial ocorre nas empresas, procurando melhorar 
o desempenho dos profissionais que nela trabalham e também ajudando as pessoas a 
encontrar o seu potencial para desenvolvê-lo, visando o melhor aproveitamento possível 
de cada funcionário. Se compreendemos a aprendizagem humana como um processo 
contínuo, então é fato que ela também se faz presente na fase adulta. Se compreendemos 
ainda que a aprendizagem pode ocorrer em qualquer lugar, e que nenhum profissional, 
ao sair do seu curso de formação, está completo, podemos então conceber o ambiente de 
trabalho, seja ele qual for, como um espaço privilegiado de aprendizagem. A 
Psicopedagogia Institucional Empresarial pode ainda colaborar com profissionais que 
apresentem dificuldades de adaptação a novos cotidianos, a novas funções, já que isso 
também é aprendizagem humana. Pode, ainda, colaborar nos processos de seleção junto 
aos administradores de empresa e psicólogos empresariais, planejando, em equipe, 
processos de treinamentoque visem ao desenvolvimento do funcionário e da empresa. 
A Psicopedagogia Institucional Hospitalar é pouco conhecida e difundida no Brasil. Ela 
tem por objetivo colaborar com o desenvolvimento cognitivo das crianças e 
adolescentes que estejam acamadas ou internadas por longos períodos e, por isso, 
afastadas dos bancos escolares. A atuação da Psicopedagogia Institucional Hospitalar é 
junto ao leito e seu principal objetivo é reduzir as defasagens que o afastamento da 
escola provocou na criança hospitalizada. Atuamos no sentido de, no momento em que 
o paciente retornar à escola, ele possa acompanhar, da melhor forma possível, a turma. 
Esta fatia da Psicopedagogia ainda é pouco conhecida e praticada no Brasil e quando 
ocorre, normalmente, é executada por profissionais voluntários. 
Assim que começamos a definir as áreas de atuação da Psicopedagogia, você percebeu 
que falamos que a Psicopedagogia Institucional é predominantemente preventiva e a 
Psicopedagogia Clínica é predominantemente curativa. Por que será que utilizamos o 
termo predominantemente e não exclusivamente? Porque ocorre uma reciprocidade 
muito interessante nessas duas modalidades de intervenção psicopedagógica. No que diz 
respeito à Psicopedagogia Clínica, um profissional desta área é procurado geralmente 
quando o problema de aprendizagem já existe e é necessário uma intervenção curativa. 
No entanto, na medida em que essa intervenção ocorre e soluciona os problemas que ora 
se apresentam, tal procedimento evita que estes se avolumem ou se tornem mais 
complexos, deixando os alunos ou profissionais mais refratários às intervenções. Na 
mesma proporção, quando a Psicopedagogia Institucional atua, ela pretende, 
primeiramente, prevenir situa¬ções de dificuldades de aprendizagem e/ou de adaptação 
ao ambiente escolar ou profissional; mas, uma vez que o problema de aprendizagem já 
exista e suas raízes estejam situadas não no sujeito, mas no ambiente escolar ou 
profissional, na prática pedagógica dos professores, nas práticas administrativas ou, 
 
 
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5 
ainda, nos vínculos afetivos, a intervenção curativa grupal deve ocorrer no ambiente 
institucional. 
Durante muito tempo, concebemos os problemas de aprendizagem como aqueles que 
tinham como pano de fundo somente o componente biológico. Desprezamos os 
componentes afetivos, sociais e culturais que tanto interferem no ato de aprender. As 
crianças que não aprendiam eram comumente levadas ao médico, neurologistas e, na 
maioria das vezes, eram submetidas a exames neurológicos ou mesmo medicadas. É 
claro que uma criança pode de fato precisar de tratamentos médicos e possuir 
dificuldades de aprendizagem como uma conseqüência de alguma necessidade especial, 
mas, certamente, não é o caso da maioria. Temos a tendência a focalizar a causa do não-
aprender em nossos alunos, mas é necessário refletir também sobre as nossas práticas 
pedagógicas e todo o contexto que cerca o nosso educando, inclusive o familiar e o 
escolar. 
Sobre a epistemologia convergente 
A expressão epistemologia foi muito utilizada pelo professor Jorge Visca, na Argentina. 
Por definição, o termo epistemologia significa o estudo do conhecimento, da área, da 
matéria. A utilização da palavra convergente se justifica pela proposta de integração, de 
interdisciplinaridade que a Epistemologia Convergente propõe. Em outras palavras, para 
a Psicopedagogia, Epistemologia Convergente significa a integração de três escolas 
importantes para a base dos conhecimentos psicopedagógicos. São elas: a Escola 
Psicanalítica, a Escola Piagetiana e a Escola da Psicologia Social, de Pichon-Rivière. 
Essas três escolas convergem para um único ponto e a Psicopedagogia vai se utilizar da 
interseção deste saber. Todos nós nos lembramos das aulas de Matemática no início de 
nossa vida escolar. Nestas aulas, aprendemos o conceito de interseção e recordamos que 
ela significa o que há de comum entre pontos, conjuntos ou áreas. No nosso caso, ela 
representará o que há de comum entre essas três teorias. Você pode imaginar qual seria 
esse ponto de convergência? A aprendizagem! Cada qual com o seu enfoque e com a 
sua forma de perceber o homem e seus processos internos e externos. Dessa forma, é 
possível afirmar que a epistemologia convergente pode significar uma posição teórica, 
mas também pode representar uma prática (VISCA, 1987). Ou seja, podemos estudar as 
contribuições das três escolas e atuar sobre a aprendizagem dos nossos alunos de forma 
que os três enfoques teóricos (afetivo, cognitivo e social) sejam contemplados. 
 
EXERCÍCIOS DE CONCLUSÃO: 
 Quais são as áreas de atuação da Psicopedagogia no Brasil? Cite as 
características de cada uma delas. 
UNIDADE II 
 
 
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6 
Psicopedagogia institucional na escola: desafios e 
processos 
Agora que já sabemos como funciona a atuação da Psicopedagogia Institucional, vamos 
nos deter na atuação psicopedagógica institucional escolar e verificar de que maneira a 
Psicopedagogia, como teoria e prática, pode colaborar para o aperfeiçoamento de todos 
os profissionais da educação no cotidiano da escola. 
Se eu pedisse para vocês enumerarem agora todos os assuntos do cotidiano da escola 
que se configuram em desafios para os educadores de um modo geral, quais seriam 
esses assuntos? Vamos ficar longas horas conversando sobre eles, não é mesmo? Os 
desafios são proporcionais à complexidade do espaço escolar, pois a nossa maneira de 
dar aulas, a forma como elaboramos o nosso planejamento, a nossa avaliação, a forma 
como conversamos com um aluno que cometeu um ato de indisciplina, dentre outras 
atividades, traduzem a nossa forma de ver o mundo e, o mais importante, a nossa 
concepção de Educação. 
Todos nós, professores, já estudamos as tendências pedagógicas da educação brasileira 
e sabemos que, em cada período da história, o professor, o aluno e a direção da escola se 
comportam de uma maneira diferente. Da mesma forma, os métodos de ensino, os 
conteúdos que ensinamos não são os mesmos. Isso acontece porque a Educação está 
inserida num contexto muito mais amplo que é a sociedade e, é claro, ao mesmo tempo 
em que sofre influências desta, também ratifica ou colabora para a transformação de 
algumas práticas sociais. Em suma, para cada tempo, novos desafios. Podemos concluir, 
então, que a prática psicopedagógica deve, obviamente, apoiar-se em bases teóricas 
sólidas, mas deve também adotar um pensamento dialético e contextualizado, sob pena 
de se transformar em algo obsoleto para a Educação. 
Voltemos aos desafios presentes no ambiente escolar. São inúmeros, como já dissemos, 
mas, como o nosso curso não pretende esgotar nenhum assunto, ao contrário, pretende 
colaborar para o exercício da reflexão de questões aqui propostas e das que possam 
surgir, elegemos alguns desafios contemporâneos para iniciar a nossa conversa. São 
eles: 
1. o fracasso escolar; 
2. o currículo; 
3. o planejamento com enfoque psicopedagógico; 
4. a avaliação da aprendizagem; 
5. conselho de classe; 
6. trabalho com projetos; 
7. afetividade e aprendizagem; 
8. reuniões de pais; 
9. formação continuada de profissionais da educação; 
10. indisciplina na escola; 
11. inclusão. 
 
 
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7 
Fracasso escolar 
Eis um problema nacional. Por que tantas crianças e jovens não conseguem aprender? 
Especialmente no período da alfabetização, o problema do fracasso escolar tem tirado o 
sono dos professores. Ao analisar a questão, procuramos as causas no próprio aluno, 
muitas vezes atribuindo os seus resultados à falta de interesse, à ausência de 
investimentos na aprendizagem e até mesmo à existência de alguma deficiência que 
impede a aprendizagem de transcorrer normalmente. É comum também que o problema 
seja atribuído ao contexto familiar, às condições sociaisdo aluno e, ainda, à privação 
cultural. Todos esses fatores podem representar, certamente, causas para o não-
aprender. Ou, ainda, o fracasso escolar pode ter origem num conjunto de causas 
anteriormente apresentadas que se entrelaçam. No entanto, é preciso ter cuidado para 
não “responsabilizar” o aluno pelo seu fracasso escolar, pois nem sempre o problema 
está localizado no próprio sujeito. Recomenda-se que o professor também reflita sobre a 
sua prática pedagógica, especialmente sobre as atividades repetitivas e sobre as 
experiências de aprendizagem que são oferecidas, que nem sempre respeitam a 
individualidade dos alunos. Todos nós, crianças ou adultos, temos os nossos modelos 
próprios de aprendizagem e, dessa maneira, a aprendizagem torna-se um processo muito 
singular. 
Não se trata de buscar culpados para o fracasso escolar, nem de responsabilizar os 
professores, mas buscar alternativas que estão ao nosso alcance para solucionar o 
problema. Afinal, podemos trabalhar em conjunto com as famílias de nossos alunos, 
mas não podemos promover grandes alterações dentro desse contexto, podemos 
oferecer oportunidades de enriquecimento cultural na escola, mas não solucionar os 
problemas sociais e de privação cultural de nossos alunos. Então, a questão é: como 
podemos fazer com que o nosso aluno aprenda, apesar das adversidades? É nosso papel 
de educador buscar alternativas, e muitas delas são possíveis de serem realizadas dentro 
da escola. 
Aprender algo requer interesse pelo objeto; numa linguagem psicopedagógica, requer 
desejo. É preciso que a escola faça sentido na vida do aluno e que ele não pense que 
alguns nasceram para estudar e outros não, caindo nas armadilhas do sistema capitalista 
e neoliberal. Mas nós só conseguimos desejar aquilo que possui algum significado para 
nós. Aí entra o papel do professor na hora de eleger as oportunidades de aprendizagens 
significativas. Procurar mostrar para os alunos o sentido da educação e seus benefícios, 
bem como a necessidade de investimentos a longo prazo, também produz efeitos 
interessantes e, é claro, é bom evitar os discursos preconceituosos como “estudar para 
vencer na vida”, “estudar para ser alguém”. O mestre Paulo Freire pode nos ajudar a 
organizar um discurso de convencimento respeitoso e dialético sobre a importância do 
ato de estudar. 
Para a Psicopedagogia, cada um de nós aprende de uma forma diferente e o professor, 
na maioria das vezes, trabalha com números médios ou grandes de alunos. Assim, é 
impossível promover atividades individualizadas o tempo inteiro. Então, uma das 
 
 
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soluções seria oferecer o maior número possível de atividades diferenciadas para um 
mesmo conteúdo, dando oportunidade para as diferenças dos modelos de aprendizagem 
operarem. Também não podemos nos satisfazer se parte da turma aprende e parte não. 
Se alguns alunos não acompanham a turma, não devemos esperar pelos períodos oficiais 
de recuperação para fazer algo. É necessário pensar de que maneira podemos utilizar a 
epistemologia convergente, ou seja, a integração de áreas do conhecimento para 
oferecer oportunidades diferenciadas de aprendizagem para os alunos com dificuldades. 
O trabalho diversificado ainda é uma boa alternativa para que o professor tenha 
condições de dar maior atenção aos grupos de alunos com dificuldades. 
O currículo 
Seja qual for a escola, seja qual for a sociedade, uma coisa é certa: há um currículo 
definido para ser ensinado e que serve à sociedade no qual ele está inserido. Ou seja, a 
escola “presta serviços” à sociedade educando os seus cidadãos e entregando- os à 
sociedade para servi-la. Em contrapartida, a sociedade “diz” para a escola o que ela 
precisa ensinar aos seus cidadãos. Portanto, no momento da organização do currículo 
escolar, devemos nos perguntar o que precisamos ensinar aos nossos alunos de acordo 
com a nossa cultura. Isso nos faz concluir que nenhum currículo é neutro, ao contrário, 
está permeado de fatores sociais, políticos e econômicos. 
Organizar um currículo é tarefa de toda a escola e não só do professor, e não é apenas o 
componente sociopolítico que deve interferir na organização do currículo. Os 
componentes afetivos, cognitivos e biológicos também devem ser levados em conta na 
sua construção. É necessário que a escola fundamente o seu trabalho teoricamente e que 
construa um currículo adequado às condições afetivas, cognitivas e biológicas de cada 
grupo de alunos, pois, se ele for complexo demais para determinado nível de 
desenvolvimento, certamente estaremos “fabricando dificuldades de aprendizagem no 
ambiente escolar, mas se for aquém das possibi¬lidades do aluno, estamos impedindo 
que ele se desenvolva”. 
O planejamento com enfoque psicopedagógico 
O planejamento é uma das atividades mais privilegiadas do cotidiano escolar, pois ele 
representa um momento de reflexão sobre o que vamos ensinar, sobre os conteúdos que 
precisam ser fixados, revisados, ou, ainda, ensinados de uma outra forma. Conhecemos 
vários níveis de planejamento que se traduzem em planos, pois o planejamento é a 
atitude de planejar e o plano é a atividade. 
Normalmente, ao executarmos um planejamento, traçamos objetivos, estratégias ou 
procedimentos, recursos didáticos e avaliação. Em todos os níveis de planejamento, 
podemos encontrar essa estrutura básica, pelo menos. Outros aspectos podem ser 
acrescentados, tais como o tempo, o número de horas, os recursos de incentivação, os 
tipos de exercícios que serão aplicados etc. No entanto, os primeiros itens não podem 
faltar, pois representam o eixo de nossa ação pedagógica. 
 
 
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O papel da Psicopedagogia no planejamento escolar é refletir sobre as ações 
pedagógicas e suas interferências no processo de aprendizagem do aluno. No momento 
de formular os objetivos, devemos ter cuidado para que eles não se resumam à execução 
de atividades, já que devem promover um crescimento cognitivo de nossos alunos e 
construir competências e habilidades de utilização permanente nas suas vidas. É claro 
que nenhum objetivo geral (aqueles que são traçados para alcance a longo prazo) poderá 
ser alcançado em um dia de aula, mas, se o professor compreende o conhecimento como 
um processo de construção, ele terá em mente que nenhuma atividade tem um fim em si 
mesma, pois ela existe para funcionar como instrumento que leva ao alcance dos 
objetivos e para “provocar” a cognição dos nossos alunos. 
Quanto às estratégias (ou procedimentos), é importante refletir sobre qual a melhor 
forma de ensinar, ou melhor, a melhor forma de construir cada conhecimento junto aos 
nossos alunos. Já falamos que os modelos de aprendizagem são diferentes e que cada 
aluno tem o seu, e que, portanto, variar nas estratégias é fundamental, pois, dessa forma, 
as chances de atingir as diferenças individuais são maiores. 
A aprendizagem ocorre com mais facilidade quando sentimos prazer no ato de aprender 
e quando o conteúdo possui significado simbólico ou prático para nós. É aí que entra a 
criatividade do professor para organizar experiências de aprendizagem significativas, 
vibrantes, que envolvam os educandos. A experimentação também é uma ótima 
alternativa. Quando os alunos praticam, pesquisam ou experimentam, as chances de 
compreender as bases teóricas do conhecimento são maiores. Partir da prática para a 
teoria facilita a compreensão e evita a memorização sem compreensão. Por exemplo, ao 
ensinarmos uma fórmula de Física ou Matemática, podemos procurar fazer 
demonstrações práticas e deduções até chegarmos à fórmula em si. 
Uma queixa muito comum das escolas, em geral, é a falta de materiais e re-cursos 
técnicos para o desenvolvimento das aulas. É certo que os recursos ajudam bastante, 
especialmente na facilitação do dia-a-dia, colaborando para que a turma fique mais 
motivada, mas, para a Psicopedagogia,que valoriza muito o componente afetivo para a 
aprendizagem, os únicos “recursos” que não podem faltar são o desejo de aprender e o 
desejo de ensinar. Com materiais simples e com muita criatividade, professores e alunos 
podem construir mecanismos de grande utilidade para a aprendizagem. 
A avaliação contida no planejamento pode sugerir o final do processo, não é mesmo? 
Pode ser que de fato o seja, se quisermos, com esta avaliação, apenas saber se o que foi 
ensinado foi realmente aprendido. Mas a avaliação pode significar também o início do 
ciclo docente (planejamento, execução e avaliação), já que partiremos dela para planejar 
a aula seguinte. A avaliação nos dirá o que foi aprendido, o que precisa ser revisado, o 
que precisa ser fixado etc. Além disso, sonda a aprendizagem do aluno, mas também o 
que o professor ensina. 
É importante que fique claro que, ao avaliar, o professor não deve prestar atenção 
somente no aluno e sim na aprendizagem. Para isso, ele não precisa neces¬sariamente 
 
 
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fazer uso de testes e provas. Atividades de sala de aula, como trabalhos em grupo, 
exercícios, projetos e a observação do professor, podem dizer muito sobre a 
aprendizagem dos alunos. 
Avaliação de aprendizagem 
Vamos tratar, agora, de um dos assuntos mais polêmicos da educação: a avaliação. 
Historicamente, a avaliação tem sido usada por muitos educadores como instrumento de 
poder sobre o aluno, incentivando uma relação mercantilista com o saber. Ou seja, o 
aluno aprende a estudar para tirar o número de pontos que precisa para ser aprovado. O 
sentido da aprendizagem é o de troca pelos pontos, ou melhor, a nota é o salário pago 
pelo tempo dedicado ao estudo. Alguns alunos chegam a estudar para tirar somente os 
pontos necessários para a aprovação, deixando a idéia do estudo para o 
desenvolvimento intelectual e pessoal completamente de lado. 
Entendemos que a forma de avaliação que o professor escolhe é uma conseqüência de 
toda a sua prática pedagógica; portanto, se nas aulas há um incentivo à “decoreba” e à 
apreensão de idéias soltas, descontextualizadas, a avaliação não pode ser diferente. 
Pensemos, também, no absurdo que representa a utilização de médias para calcular a 
nota do aluno. Quando um aluno tira uma nota baixa e depois melhora o seu 
rendimento, a sua nota anterior é somada à nota mais alta e é feita a média aritmética 
entre elas. Ou seja, mesmo melhorando, o aluno sempre será punido pelo seu 
rendimento anterior. Ou, ainda, somamos e tiramos médias de resultados de áreas do 
conhecimento completamente diferentes. Isso seria justo? Por outro lado, se a escola 
esconde dos alunos a realidade das provas, o mundo mostrará, pois o estudante 
encontrará provas para ingressar na universidade (afinal, o vestibular ainda é uma 
realidade na nossa sociedade) e encontrará também os processos seletivos para ingressar 
no mercado de trabalho, ou para continuar sua carreira acadêmica, dentre outros 
momentos. Logo, se a escola também tem como função preparar o aluno para a vida, 
não tem o direito de negar-lhe a realidade. No entanto, podemos trabalhar com a 
avaliação humanizada, que é a proposta da Psicopedagogia. 
Vamos tratar de alguns princípios da avaliação humanizada. Se exercemos o magistério 
em uma sociedade que quantifica o conhecimento e o traduz em notas, não podemos nos 
contentar em aprovar um aluno que tirou média 5. Pense no absurdo que representa 
aprovar um aluno que aprendeu 50% do que ensinamos em sala. Ao compararmos o 
trabalho do professor com o de um médico, verificamos que nenhum médico se dá por 
satisfeito se o seu paciente estiver 50% curado, não é mesmo? Resta-nos lutar para 
“aumentar” esse percentual de aprendizagem dos alunos. Como? Oferecendo-lhes 
oportunidades de refazer a avaliação até que eles demonstrem que alcançaram um 
rendimento melhor porque suas dúvidas foram sanadas. 
A oferta de oportunidades diferenciadas de avaliação e não somente a utilização de 
testes e provas também pode contribuir e estimular a aprendizagem. Além disso, é 
importante que, ao formularmos essas situações de avaliação, procuremos sempre 
 
 
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baseá-las em situações concretas, presentes de fato no cotidiano. Tornar o aluno 
personagem da questão. 
Não podemos também abrir mão da auto-avaliação. Afinal, desenvolver a consciência 
crítica dos nossos alunos também é nosso dever e a auto-avaliação é um excelente 
recurso para o desenvolvimento da autoconsciência. A auto-avaliação pode ser feita 
desde a Educação Infantil, com utilização de desenhos e legendas. 
A utilização da avaliação qualitativa também é bem-vinda. Listar habilidades e 
comportamentos que desejamos trabalhar em nossos alunos e que, por causa da sua 
carga subjetiva não podem ser quantificadas, mas podem ser apreciadas e qualificadas 
pelo professor, podem dizer ao aluno coisas que as notas não conseguem dizer. 
Conselho de classe 
O conselho de classe é um momento de muita importância para a comunidade escolar e, 
infelizmente, é desperdiçado por muitos educadores. Há desperdício quando se 
transforma num momento de lamentações e de críticas improdutivas aos alunos. O 
conselho de classe deve ser visto como uma oportunidade (rara muitas vezes) de reunir 
professores de diferentes áreas para conhecer melhor os alunos, promover a integração 
do trabalho pedagógico e, acima de tudo, plane¬jar alternativas de intervenções 
psicopedagógicas para os alunos que estão com dificuldades para aprender. Como 
vimos nos itens anteriores, planejamento e avaliação são elementos indissociáveis e o 
conselho de classe é um momento de avaliação. É uma oportunidade de ação coletiva 
dos profissionais da escola não só para os problemas de aprendizagem como também 
para os problemas de indisciplina, administrativos e operacionais da escola. Contudo, 
não devemos permitir que o burocrático sufoque o pedagógico. 
Trabalhando por meio de projetos 
Muitos autores já trataram da importância de se trabalhar com projetos. Dewey já 
tratava do assunto e, dada a sua pertinência, o tema continua atual. A maior vantagem 
de trabalhar com projetos, segundo a maioria dos autores, é a possibilidade de integrar 
as diferentes áreas do conhecimento, bem como promover a integração entre os alunos e 
a autonomia intelectual. Além disso, os educandos aprendem a realizar pesquisa, 
estratégia pouco utilizada na escola ou utilizada de forma equivocada, pois a maioria 
das pesquisas escolares param na fase da coleta de dados. Os projetos devem surgir de 
um problema real e, portanto, devem ter seus temas originados de debates com os 
alunos. Não cabe ao professor criar os temas de projetos, sob pena de não oferecer 
sentido aos alunos. Ao eleger o tema, o professor direciona o grupo para a investigação, 
fase da pesquisa, posteriormente para a formulação dos assuntos aprendidos e, na última 
fase, temos a apresentação, e, portanto, a avaliação do trabalho. 
Afetividade e aprendizagem 
 
 
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12 
Pichon-Rivière, na Teoria do Vínculo, ressalta a importância deste para a aprendizagem. 
Todos temos exemplos, em nossa história de aprendizagem, de professores que, com 
sua afetividade, fizeram com que gostássemos de suas disciplinas e até tivéssemos 
facilidade de aprender por causa deles. Mas também tivemos a experiência contrária: 
professores que desprezavam a afetividade e dificultavam bastante o nosso aprender. 
Não é à toa que temos preferências por algumas disciplinas e temos aversão a outras. 
Como também não é à toa que escolhemos a profissão de educador. Diga-se de 
passagem, se fizemos esta escolha profissional, segundo a Psicopedagogia, é porque o 
nosso vínculo com a aprendizagem foi muito mais positivo do que negativo. 
Quando um aluno apresenta dificuldades para aprender,segundo a Psicopedagogia, uma 
das primeiras tarefas do educador é o resgate da auto-estima do educando, pois ninguém 
consegue aprender se não conseguir investir no ato de aprender, e ninguém consegue 
investir na própria aprendizagem se não tiver o desejo de aprender e acreditar nas suas 
possibilidades. Então, cabe ao professor oferecer aos seus alunos oportunidades de 
acerto, experiências positivas que os conduzam ao desejo de continuar aprendendo para 
continuar acertando. São raríssimos os casos de alunos que recebem o fracasso escolar 
como um desafio a ser superado, afinal, isso exige uma maturidade que a criança não 
possui. Será necessário que o professor presenteie o aluno com um recurso valioso e que 
nada custa: o elogio. Elogiar é altamente reforçador do sucesso. 
Reuniões de pais 
A sociedade mudou, assim como os nossos pais e alunos também mudaram. O número 
de mulheres no mercado de trabalho, em algumas regiões do Brasil, muitas vezes, é 
superior ao número de homens, sendo que muitas delas mantêm suas famílias sozinhas. 
Em suma, a família mudou bastante ao longo dos anos e isso nos faz pensar que as 
relações entre a escola e a família não podem ser as mesmas. 
É comum ouvirmos queixas, por parte das escolas, sobre a pouca participação dos pais 
na vida escolar dos filhos, inclusive que nas reuniões de pais a freqüência é baixíssima, 
e também é freqüente ouvir dos pais que a escola possui alguma falha e que gostariam 
de ser mais ouvidos pelos professores e equipe técnica. Refletir sobre esses 
desencontros é necessário para o bem da aprendizagem de nossos alunos. 
Alguns procedimentos muito simples podem ajudar no progresso dessas relações. 
Por exemplo, as reuniões podem variar de dia e horário, a fim de concentrar o maior 
número possível de pais. Ou, ainda, mantermos um horário fixo, depois de ter levantado 
a disponibilidade dos pais. As reuniões devem ser breves e respeitar o horário marcado. 
Além disso, é bom que tratemos dos assuntos coletivos, e os individuais devem ser 
agendados para uma conversa em particular. 
Quando se tem uma visão psicopedagógica, enxergamos os pais de nossos alunos como 
seres também em processo de aprendizagem e, por isso, em alguns momentos da 
reunião, cabem “prescrições”, sugestões de como os pais podem agir em casa para 
 
 
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conduzir os estudos de seus filhos, sem, com isso, tornarem-se professores particulares 
dos filhos. Muitos pais afirmam textualmente, especialmente quando o problema é o 
comportamento, que não sabem o que fazer com seus filhos. Devemos acreditar nesse 
“não saber” e colaborar com eles, oferecendo-lhes leituras, pequenos vídeos, estudos de 
caso, algumas atividades práticas, enfim, tornar a nossa reunião o mais produtiva 
possível. 
É importante, também, que as reuniões tenham momentos informativos e momentos 
formativos, isto é, de construção de saberes. Além disso, é bom que os pais possam ver 
algumas atividades que foram desenvolvidas pelos seus filhos e que saibam onde eles 
tiveram maior facilidade ou dificuldade, bem como informar como serão os próximos 
meses de aula e de que maneira eles podem participar. 
Se permitirmos que os pais de nossos alunos falem, vamos aprender com eles e 
descobrir talentos que podem ser úteis para a escola. 
Formação continuada de profissionais da educação 
Phillipe Perrenoud nos orienta que uma das competências do professor deve ser gerir a 
própria formação. Como profissionais da educação e da aprendizagem, sabemos que a 
nossa formação é um processo contínuo, sem fim. Participar das oportunidades de 
formação continuada oferecidas pelo nosso local de trabalho, bem como participar 
autonomamente de outros, é uma forma de aprimorar o nosso trabalho. 
As leituras de livros e periódicos diversos também são ótimos recursos, pois colaboram 
para que o professor passe de leitor para autor de conhecimentos e, por que não, um 
professor-pesquisador. Pedro Demo afirma que o professor que nunca foi pesquisador 
também nunca foi professor, pois ele torna-se um mero repetidor de informações, no 
lugar de produzir conhecimento. 
Indisciplina na escola 
Talvez um dos grandes desafios de nossos tempos: a construção dos limites e da ética 
dentro da escola. Um tema tão polêmico quanto importante, tanto que mereceu, em 
nosso estudo, uma aula específica. 
Temos notícias de que muitos professores, competentes em sua área, possuem 
dificuldades para desenvolver o seu trabalho em função do comportamento de seus 
alunos. A Psicopedagogia entende que esse comportamento pode ser um problema 
relativo de aprendizagem, com bases na afetividade do sujeito e na sua relação com o 
ato de aprender, e que, portanto, essa relação pode ser construída (ou reconstruída) por 
meio do vínculo afetivo entre professor e aluno. No entanto, a construção da ética na 
escola não pode ser uma atitude isolada do professor e sim projeto de toda a escola. É 
bom que o professor também reveja o seu procedimento, pois, se analisarmos o 
cotidiano de nossa escola, alguns alunos com problemas de indisciplina não agem de 
forma inadequada com todos os professores, mas com alguns. Isso nos faz pensar que o 
 
 
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problema também pode não estar no aluno nem no professor, mas na relação que os une, 
que é o conhecimento. 
Inclusão 
Inclusão é um tema bastante amplo, pois ela não se restringe aos portadores de 
necessidades especiais. Os excluídos nesse grande Brasil são muitos e as exclusões vão 
desde questões raciais e étnicas até os problemas de desemprego. O fracasso escolar 
também merece uma análise sobre inclusão, pois, na verdade, esses alunos “não estão na 
escola”. No entanto, como teremos uma aula específica sobre fracasso escolar, 
trataremos aqui brevemente do desafio da inclusão do portador de necessidades 
especiais na escola. 
Durante muito tempo, esses alunos estiveram fora da escola, recebendo uma educação 
segregada. Os professores, por sua vez, não recebiam, em seus cursos de formação, uma 
qualificação adequada para trabalhar com os portadores de necessidades especiais. No 
entanto, a inclusão se faz hoje uma realidade presente na maioria das escolas e, 
preparados ou não, esses professores estão recebendo os alunos especiais. 
É preciso sair do modelo de integração em direção ao modelo da inclusão, pois, 
enquanto a integração significa a abertura da vaga para o portador de necessidades 
especiais, mas não a adaptação da organização da escola para recebê-lo, a inclusão só é 
inclusão porque faz uma série de adaptações, de grande e pequeno porte, para melhor 
receber o aluno e promover a aprendizagem. 
Só podemos considerar um aluno de fato incluído quando ele está experimentando 
situações de aprendizagem, além da socialização. A socialização simplesmente não 
garante a inclusão de fato. 
Para promover a inclusão, é necessário, ainda, trabalhar junto à escola, à família e ao 
próprio sujeito. A família funciona como uma co-autora da inclusão, pois poderá ser 
como um elemento reforçador das aprendizagens realizadas na escola, além de prestar 
informações importantíssimas para os profissionais que cuidam e atendem seu filho. A 
formação continuada do professor para melhor prepará-lo para o atendimento aos alunos 
especiais também é muito necessária, pois o educador precisa compreender os caminhos 
da aprendizagem de seu aluno especial. Em outras palavras, o percurso psicopedagógico 
que ele faz, para melhor intervir. 
EXERCÍCIOS DE CONCLUSÃO: 
 
 Como você desenvolveria um planejamento com embasamento 
psicopedagógico? 
UNIDADE III 
 
 
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15 
Aprendizagem: o que é e como se processa na visão 
psicopedagógica 
 
Nesse capítulo, enfocaremos o objeto de estudo da Psicopedagogia e, certamente, o 
principal objetivo dos educadores: aaprendizagem. Como estudamos anteriormente, a 
Psicopedagogia busca o aperfeiçoamento das relações com a aprendizagem, bem como 
a melhor qualidade possível na construção da aprendizagem de alunos e educadores 
(WEISS, 2000). Mas, afinal, o que é aprendizagem? Como se processa? 
Muitos autores se preocuparam com o tema. Para Alicia Fernandez, por exemplo, todo 
sujeito tem a sua modalidade de aprendizagem e os seus meios para construir o próprio 
conhecimento, e isso significa uma maneira muito pessoal para se dirigir e construir o 
saber. Para a autora, esse processo inicia-se desde o nascimento e constitui-se em molde 
ou esquema, sendo fruto do nosso inconsciente simbólico. O desejo de aprender reside 
no inconsciente (BOSSA, 2000) e, é claro, é fruto da história de cada sujeito e das 
relações que ele consegue estabelecer com o conhecimento ao longo da vida. 
Para Sara Paín, a aprendizagem é resultado da articulação de fatores internos e externos 
do próprio sujeito, do organismo (substrato biológico), do desejo de aprender, das 
estruturas cognitivas e do comportamento em geral. Todos esses aspectos convergem 
para um mesmo objetivo que é o ato de aprender. Para esta autora, a aprendizagem 
possui algumas funções contraditórias. São elas: a função socializadora, a função 
repressora e a função transformadora. Vejamos como essas funções se definem: 
a) Função socializadora: a educação leva o sujeito a experimentar a vida em 
comunidade e faz ensaios de participação social no ambiente escolar. A escola trabalha 
dentro de um projeto social de homem e atua para que este seja o mais integrado 
possível no seu ambiente. Para viver em sociedade, é necessário que o homem faça uso 
do conhecimento produzido pela sua cultura. 
b) Função repressiva: na visão da autora, a aprendizagem possui essa função, já que 
o professor trabalha com limites claros e a escola é um espaço permeado de limites (o 
uso de uniformes, horários, programação de tarefas pedagógicas etc.). Além disso, não 
há espaço para a expressão plena do desejo de aprender porque, na maioria das vezes, as 
atividades são coletivas e um sujeito representa o limite do outro. 
c) Função transformadora: eis aqui o elemento de dicotomia das funções da 
aprendizagem, pois, ao mesmo tempo em que ela possui a função da manutenção da 
cultura (função socializadora) e de delimitar o sujeito (função repressora), a 
aprendizagem tem a função de libertar o homem a partir do conhecimento e, por 
consequência, transformar a sociedade. 
 
 
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Para Sara Paín, o não-aprender pode representar um sintoma e não um problema, pois, 
por meio dele, o professor pode ter contato com a modalidade de aprendizagem do 
aluno. 
Para Jorge Visca, a aprendizagem representa uma construção intrapsíquica, 
considerando os componentes genéticos e as diferenças nascidas da evolução da 
espécie, resultantes das pré-condições biológicas, das condições energético-estruturais 
(condições afetivas) e das circunstâncias do meio. É a compreensão da aprendizagem 
por meio da epistemologia convergente, ou seja, todos os aspectos do ser humano 
convergindo para um único ponto, que é a aprendizagem. Os obstáculos à aprendizagem 
segundo Jorge Visca nós estudaremos na aula sobre Dificuldades de Aprendizagem. 
Jorge Visca considera que, na Psicologia Evolutiva, encontramos as explanações 
behaviorista, piagetiana, psicanalítica etc., que não abordam a aprendizagem de maneira 
específica e nem o seu processo evolutivo. Acrescenta que o esquema evolutivo da 
aprendizagem postula: 
1. a existência de quatro níveis de aprendizagem: proto-aprendizagem, deute- 
roaprendizagem, aprendizagem assistemática e aprendizagem sistemática; 
2. que a aprendizagem se dá em função de aspectos energéticos e estruturais e pela 
tematização dos esquemas de ação; 
3. que o processo geral e as aprendizagens particulares respondem a princípios 
estruturais construtivistas e interacionais (Visca, 1987, p. 75). 
Vamos entender o que significa cada termo e abordagem. Comecemos pelos níveis de 
aprendizagem. 
a) Proto-aprendizagem - representa as primeiras aprendizagens que acontecem nas 
relações afetivas da criança com sua mãe. O mundo externo da criança se reduz à mãe 
ou ao adulto que a substitui. 
b) Deuteroaprendizagem - trata-se da concepção de mundo e de vida que se adquire por 
meio da convivência com a família. 
c) Aprendizagem assistemática - esta se dá pela interação da criança com uma 
comunidade maior que a família, como, por exemplo, o seu bairro. 
d) Aprendizagem sistemática - é aquela que ocorre pela interação com as instituições 
educativas que transmitem conhecimentos, atitudes e habilidades que a sociedade 
estima. 
É interessante comentar como Jorge Visca relaciona essas etapas da aprendizagem. Para 
o autor, desde que nascemos, inicia-se um processo de aparecimento e estabilização de 
condutas que permitem definir quatro níveis consecutivos de aprendizagem (são as já 
citadas: proto-aprendizagem, deuteroaprendizagem etc.). Vejamos que o autor utiliza a 
palavra “consecutivos”, o que significa que cada nível de apren¬dizagem ocorre após o 
 
 
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17 
outro, mas não elimina o anterior. Se a proto-aprendizagem consiste na aprendizagem 
dos vínculos e se dá, principalmente, com a mãe ou com a pessoa que a substitui, ela 
está baseada nos seus substratos biológicos, e a aprendizagem se da em forma de 
condicionamento, a partir dos estímulos biológicos. 
Quando a criança avança para o segundo nível, que é a deuteroaprendizagem, para Jorge 
Visa, é como se a placenta tivesse sofrido uma terceira mudança e ampliação. A 
primeira seria na ocasião do nascimento, a segunda na ocasião da proto-aprendizagem e 
a terceira na deuteroaprendizagem. Nesse segundo nível de aprendizagem, a criança tem 
contato com as estruturas de conhecimento e com a cultura do grupo em que vive. É o 
que Visca vai chamar de axiologia do grupo. O mesmo substrato biológico que servia à 
proto-aprendizagem servirá à deuteroaprendizagem. A proto-aprendizagem modificava 
o substrato biológico e a deuteroaprendizagem modificará a proto-aprendizagem. 
A aprendizagem assistemática, terceiro nível de aprendizagem, vai se efetuar pela 
interação da criança que atingiu a deuteroaprendizagem com a comunidade restrita 
(bairro, vizinhança, comércio local etc.), enquanto a aprendizagem sistemática ocorrerá 
nas instituições oficiais, eleitas pela sociedade para este fim e, obviamente, sofrerá 
influência de todos os níveis de aprendizagem anteriores. 
Como citamos bastante a participação do substrato biológico na composição da 
aprendizagem humana, é bom esclarecer que ele não é o único componente. Pelo 
enfoque dado à importância das interações, seja com a mãe, seja com a comunidade, é 
fato que o aspecto social, bem como a sua amplitude, favorece a aprendizagem. Além 
disso, para Visca, os aspectos estruturais e energéticos têm considerável implicação no 
processo. O termo energético diz respeito ao que nós, brasileiros, costumamos 
denominar de afetividade. Os argentinos preferem a utilização do termo energético. 
Dessa forma, se uma criança possui um bom vínculo com o objeto de aprendizagem, o 
investimento pode ser maior e o resultado muito favorável. Por outro lado, se o vínculo 
é inadequado, pode comprometer a aprendizagem. Mas existe uma terceira 
possibilidade: quando o vínculo é inadequado, afeta um determinado objeto, mas não 
afeta o núcleo essencial da aprendizagem, possibilitando que ela ainda se desenvolva. 
É muito importante que tenha claro como a aprendizagem se processa e como o 
conhecimento se constrói, para que a sua forma de ensinar seja respeitosa e eficaz, do 
ponto de vista psicopedagógico. O conhecimento não é cópia nem apropriação de algo 
que está fora de nós, mas uma construção (SOLÉ, 1998). Cabe ao professor, com visão 
psicopedagógica,ser um investigador dos processos de aprendizagem dos seus alunos. 
Para Fonseca (1995), a aprendizagem é o comportamento mais importante dos animais 
superiores e significa uma resposta modificada, estável, durável, interiorizada e 
consolidada no cérebro do indivíduo. Isso nos faz pensar sobre as confusões tão comuns 
entre aprendizagem e memória. Na escola tradicional, a memorização de informações 
era sinônimo de aprendizagem e o uso do conhecimento era pouco importante. Era 
valorizado, por exemplo, que o aluno soubesse o nome de todos os rios e afluentes da 
 
 
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18 
Bacia Amazônica, mas não se considerava se ele tinha adquirido uma noção espacial 
real e, ainda, uma visão crítica da utilização do meio ambiente. A visão psicopedagógica 
da aprendizagem concebe o conteúdo como instrumento para construir conhecimento, 
mas o conteúdo não pode ter um fim em si mesmo, principalmente porque ele é 
mutante. Portanto, interessa-nos que o aluno se aproprie dos conteúdos para construir 
estruturas mentais cada vez mais sofisticadas e aprenda a lidar e a buscar novos 
conhecimentos. 
Para aprender, é necessário que exista uma relação integrada entre o indivíduo e o seu 
meio, pois o produto aprendizagem é fruto de uma relação de condições externas e 
condições internas, por meio de um processo sensório-neuropsicológico (FONSECA, 
1995). Ainda para este autor, a aprendizagem envolve complexos processos 
neurológicos, reações químicas, atividades bioelétricas, arranjos moleculares das células 
nervosas, eficiências sinápticas, redes interneuronais, metabolismo protéico etc. 
 
Vamos Lêr? 
 “No ser humano, a aprendizagem é planificada, motivada, elaborada e avaliada, quase 
sempre dependente dos aspectos sócio-históricos”. 
Vítor da Fonseca 
Nossas reflexões sobre aprendizagem conduzem-nos sobre o saber e o não-saber; por 
isso, é importante ter claro que o que ensinamos e como ensinamos é uma decisão de 
cada sociedade. Cada cultura elege o que é importante e o que não é para os seus futuros 
cidadãos. Nessa medida, o conceito de fracasso escolar também pode variar de uma 
sociedade para outra. Não precisamos ir tão longe. O conceito do repertório do que deve 
ser ensinado e de seu formato também pode variar dentro de uma mesma cultura, de 
acordo com a proposta pedagógica de cada escola. 
A aprendizagem visa utilizar o potencial humano adaptativo, utilizando, para isso, todos 
os recursos, sejam internos ou externos. Isso acontece quando variáveis 
neurobiológicas, socioculturais e psicoemocionais estão em equilíbrio, pois a 
aprendizagem normal e satisfatória exige condições de integridade desses aspectos. 
Vejamos o que Vítor da Fonseca (1995) pensa sobre os “caminhos” da aprendizagem 
humana. Para ele, uma aprendizagem em situação ideal envolve um conjunto de 
sistemas psiconeurológicos que se dividem em três componentes de processamento: 
processamento sensorial, processamento cognitivo e processamento de conteúdo. 
Aprendizagem: o que é e como se processa na visão psicopedagógica 
Os sistemas de processamento sensorial são responsáveis pelo contato com a 
informação, seja pela visão, pela audição, pelo tato ou, ainda, por outras vias sensoriais. 
Já o cognitivo estabelece quatro níveis de experiências, que acontecem nessa ordem: 
 
 
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19 
percepção, imagem, simbolização e conceitualização. Significa que primeiro o ser 
humano seleciona e interpreta os dados por meio da percepção; depois, ele elabora uma 
imagem mental do objeto ou da sensação, mesmo quando já não existe a presença do 
objeto; posteriormente, é feita uma equivalência significativa e a representação interior 
da experiência; e por último, o processo de classificação e categorização da informação, 
por meio de sistemas de agrupamentos que permitem a formação de conceitos e 
construção do pensamento formal. O processamento de conteúdo exige a utilização dos 
hemisférios cerebrais, cada qual com a sua função. Enquanto o hemisfério realiza 
funções intra-hemisféricas e inter-hemisféricas, os resultados são os produtos do 
comportamento humano, tais como a fala, os movimentos e, posteriormente, a leitura e 
a escrita. 
A compreensão do processo de aprendizagem representa para o professor uma 
importante instrumentalização para a realização do seu trabalho, haja vista que ele 
poderá compreender não só como ela ocorre em condições normais, como também no 
seu estado patológico. Com isso, o professor será capaz de promover experiências 
diferenciadas de aprendizagem e também reconhecer quando algum aluno necessita de 
encaminhamentos ou acompanhamentos especializados dentro ou fora da escola. 
Para a Psicopedagogia, a nossa forma de ensinar possui uma relação direta com a nossa 
forma de aprender. São os modelos de aprendizagem que criamos ao longo da vida. 
Como é a sua forma de aprender? De que maneira você costuma aprender melhor? 
Para Ballús (2000), o professor deve procurar promover o respeito à diversidade e 
preocupar- se em propor aprendizagens significativas para todos os alunos, a fim de que 
adquiram o gosto pela aprendizagem e aprendam a aprender. Além disso, é importante 
que a escola seja uma instituição dinâmica voltada para a aprendizagem funcional, quer 
dizer, que tenha utilização prática no cotidiano, voltada para as tarefas que lhe foram 
atribuídas pela sociedade. Acrescentemos ao pensamento desta autora que uma das 
funções da educação é a função transformadora e que podemos também adotar uma 
posição dialética das funções que nos são atribuídas pela sociedade. 
Cada autor aqui exposto possui uma concepção de aprendizagem que certamente pode 
contribuir para a concepção de cada um de nós e fundamentar as nossas práticas 
pedagógicas. Podemos encontrar um ponto comum entre todos: é importante 
desenvolver no aluno um autoconceito positivo e a percepção da capacidade de 
aprender. 
EXERCÍCIOS DE CONCLUSÃO: 
 De que maneira a escola pode promover aprendizagens que correspondam às 
expectativas da sociedade sem se transformar em produtora de desigualdades 
sociais? 
UNIDADE IV 
 
 
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20 
A intervenção psicopedagógica institucional nas 
dificuldades de aprendizagem 
No tema passado, estudamos como ocorre a aprendizagem em condições normais, na 
visão de diversos autores. Pretendemos agora abordar as dificuldades de aprendizagem, 
a fim de melhor compreendê-las e poder intervir adequadamente na sala de aula. 
Alunos que não aprendem são sempre um desafio para nós, professores, não é mesmo? 
Para aquele que possui estas dificuldades, a situação não é menos difícil. Não conseguir 
acompanhar o seu grupo destrói a auto-estima e deixa o aluno à margem de um processo 
que deveria ser plenamente integrador. As causas do não-aprender podem ser diversas. 
Para Maria Lúcia Weiss, a prática psicopedagógica deve considerar o sujeito como um 
ser global, composto pelos aspectos orgânico, cognitivo, afetivo, social e pedagógico. 
Vamos entender a participação de cada aspecto na compreensão da dificuldade de 
aprendizagem. O aspecto orgânico diz respeito à construção biológica do sujeito; 
portanto, a dificuldade de aprender de causa orgânica estaria relacionada ao corpo. O 
aspecto cognitivo está relacionado ao funcionamento das estruturas cognitivas. Nesse 
caso, o problema de aprendizagem residiria nas estruturas do pensamento do sujeito. 
Por exemplo, uma criança pode estar no estágio pré- operatório e as atividades escolares 
exigirem que ela esteja no estágio operatório- concreto. O aspecto afetivo diz respeito à 
afetividade do sujeito e de sua relação com o aprender, com o desejo de aprender, pois o 
indivíduo pode não conseguir estabelecer um vínculo positivo com a aprendizagem. O 
aspecto social refere-se à relação do sujeito com a família, com a sociedade,seu 
contexto social e cultural. E, portanto, um aluno pode não aprender porque apresenta 
privação cultural em relação ao contexto escolar. Por último, o aspecto pedagógico, que 
está relacionado à forma como a escola organiza o seu trabalho, ou seja, o método, a 
avaliação, os conteúdos, a forma de ministrar a aula etc. Para esta autora, a 
aprendizagem é a constante interação do sujeito com o meio. Podemos dizer também 
que é a constante interação de todos os aspectos apresentados. Em contrapartida, a 
dificuldade de aprendizagem é o não-funcionamento ou o funcionamento insatisfatório 
de um dos aspectos apresentados ou, ainda, de uma relação inadequada entre eles. Uma 
rede de aspectos não-satisfatória para a aprendizagem. 
Da mesma forma que os aspectos relacionados podem justificar a dificuldade de 
aprendizagem, eles podem também servir de parâmetro para a organização de uma 
prática pedagógica eficaz e preventiva. 
Cuidado! Há uma tendência entre os educadores de localizar a causa do não-aprender 
sempre no aluno. Assim, dizemos que o aluno possui dificuldade de aprendizagem, o 
aluno não consegue aprender. Mas o problema pode não estar localizado no aluno. Pode 
estar, por exemplo, no método, e a dificuldade de aprendizagem, nesse caso, pode 
representar um termômetro de nossa prática pedagógica. 
 
 
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21 
Jorge Visca (1987, p. 58) afirma que a explicação dos fenômenos atuais deve ser 
buscada em causas atuais e o intento de explicar fenômenos contemporâneos somente 
pelo passado é reducionismo. Para este autor, as causas patológicas a-históricas que 
dificultam a aprendizagem são o obstáculo epistêmico, o obstáculo epistemofílico e o 
obstáculo funcional. Os obstáculos epistêmicos referem-se a duas alterações da estrutura 
cognitiva: a detenção do desenvolvimento e a lentidão, e é derivado do nível de 
operatividade do sujeito. Ninguém pode aprender além do que a sua estrutura cognitiva 
permite. O obstáculo epistemofílico refere-se ao vínculo afetivo que o aluno estabelece 
com a aprendizagem. Um vínculo inadequado, para Jorge Visca, pode dificultar ou até 
mesmo impedir a aprendizagem. O obstáculo funcional aparece como uma hipótese 
auxiliar e funciona como uma transitoriedade entre as explicações piagetianas e as 
explicações freudianas para o não-aprender. 
Maria Lúcia Weiss considera algumas hipóteses para o não-aprender de nossos alunos: a 
criança pode apresentar alguma dificuldade para aprender antes de entrar na escola, mas 
o problema não foi observado. Como a cultura em nossas escolas é a cultura 
conteudista, enquanto não há conteúdo, não há dificuldade. Mas será assim mesmo? 
Claro que não. As crianças podem dar sinais de dificuldade para aprender mesmo 
quando os conteúdos não fazem parte da vida delas, quando, por exemplo, demonstram 
muita dispersão, falta de habilidade com atividades do dia-a-dia etc. Ou, ainda, a 
dificuldade de aprendizagem se constitui dentro da escola, por causa de práticas 
pedagógicas inadequadas, ou quando a criança não tem a dificuldade de fato, mas uma 
crise temporária, como uma situação familiar que pode prejudicar a aprendizagem. O 
autor recomenda também que se busque uma adequação entre a escola e a criança, que 
veremos no texto complementar desta aula. 
Fonseca (1995) afirma que a investigação pedagógica já demonstrou que a resposta à 
instrução é diferente de criança para criança e de professor para professor, pois não se 
deve esquecer que os professores são tão diferentes quanto os alunos, e que o processo 
de ensino-aprendizagem é muito mais complexo do que parece à primeira vista. 
Acrescenta que a investigação é urgente, na medida em que pode facilitar a utilização de 
processos de individualização, bem como processos de integração. 
Ao avaliar os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, vamos encontrar 
diversas categorias. Haverá aqueles que de fato necessitam de uma intervenção clínica, 
seja psicológica, psicopedagógica, ou até mesmo, de ordem neurológica, mas haverá 
aqueles cujo problema pode ser resolvido dentro do contexto escolar, por meio de 
programas individualizados de ensino e de práticas pedagógicas diferenciadas. Dessa 
forma, a avaliação torna-se um elemento muito importante para traçarmos o caminho a 
seguir. Avaliar não para classificar, para rotular, mas para promover alternativas. 
Vamos refletir um pouco, nesse momento, sobre como agimos diante das dificuldades 
dos nossos alunos. É comum prestarmos maior atenção às dificuldades, pois elas saltam 
aos olhos com muito mais evidência que as potencialidades. No entanto, a 
Psicopedagogia recomenda uma ação diferente A intervenção psicopedagógica 
 
 
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22 
institucional nas dificuldades de aprendizagem desta: se um aluno nosso apresenta 
dificuldades, então é importante valorizar as suas potencialidades. Podemos começar 
nossos investimentos por onde ele costuma acertar mais. Assim, experimentando alguns 
sucessos, podemos abrir uma porta para a construção de um vínculo positivo com as 
demais áreas da aprendizagem que nosso aluno necessita aprimorar. Vamos descobrir os 
talentos de nossos alunos e nos concentrar neles! 
Podemos comentar outras sugestões para o trabalho com os alunos portadores de 
dificuldades de aprendizagem. Falamos em diversificar as práticas pedagógicas, mas 
será que isso também não inclui diversificar as práticas avaliativas? Existem muitas 
formas de avaliar nossos alunos, não necessariamente testes e provas. 
As teorias que embasam o construtivismo também podem ajudar o professor a 
compreender o conhecimento e a aprendizagem humana como um processo singular. A 
sala de aula é um espaço dialético, pois, ao mesmo tempo em que aprender é um 
processo individual, na escola, ele ocorre na coletividade. Cabe ao professor oferecer 
momentos de individualidade e momentos de coletividade na construção da 
aprendizagem. 
Organizar as turmas para o trabalho em grupo, juntando alunos que aprendem com 
facilidade e alunos que apresentam dificuldades, também pode ser uma boa alternativa, 
pois as crianças e os adolescentes “falam a mesma língua” e podem funcionar como 
professores particulares uns dos outros. 
A Psicopedagogia utiliza os termos “ensinante e aprendente” para denominar o par 
educativo que comumente conhecemos por professor e aluno. Mas quem é o ensinante e 
quem é o aprendente? A nossa primeira tendência é imaginar que o ensinante é o 
professor e o aprendente é o aluno, não é mesmo? Mas, para a Psicopedagogia, esses 
papéis se alternam o tempo inteiro, afinal, quem nunca aprendeu com um aluno? Qual o 
aluno que nunca ensinou nada ao professor? No processo de ensino-aprendizagem, 
também aprendemos sobre nós, sobre a nossa forma de ensinar. O outro nos serve de 
espelho. 
Como todo professor, queremos que os nossos alunos acertem sempre, mas é bom 
adquirir um novo olhar sobre o erro na aprendizagem. O erro é um indicador de como o 
aluno está pensando e como ele compreendeu o que foi ensinado. Analisando com mais 
cuidado o erro dos alunos, podemos elaborar a reformulação das práticas docentes de 
modo que elas fiquem mais perto da necessidade dos alunos. 
É importante que o professor reflita sobre as causas do fracasso escolar não para se 
culpar, mas para se responsabilizar. Responsabilizar-se significa abraçar a causa e 
procurar alternativas para solucionar o problema. Não podemos nos satisfazer com 
aprendizagens parciais. Procurar compreender como ocorre o conhecimento, os fatores 
que interferem na aprendizagem, seus diferentes estágios, e as diferentes teorias que 
podem transformar o trabalho do professor em processo científico, e assim ele 
percorrerá o caminho prática-teoria-prática. 
 
 
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Recomenda-se, também, que o professor, em conjunto com a equipeda escola, reflita 
sobre a estrutura curricular que está sendo oferecida e a compatibilidade com a estrutura 
cognitiva, afetiva e social do aluno. 
O professor deve, ainda, cuidar da linguagem que é utilizada em sala, para garantir uma 
comunicação eficaz com seus alunos. Muitas vezes, o aluno é originário de um 
ambiente onde há privação cultural em relação à escola, ou há diferença acentuada de 
cultura, causando conflito e dificuldade de comunicação. É comum ouvirmos de alguns 
familiares que o filho não nasceu para estudar. Será mesmo? Para Vygotsky, todos os 
seres humanos são capazes de aprender, mas é necessário que adaptemos a nossa forma 
de ensinar. 
O enfoque psicopedagógico da dificuldade de aprendizagem compreende os processos 
de desenvolvimento e os caminhos da aprendizagem. Compreende o aluno de maneira 
interdisciplinar, buscando apoio em várias áreas do conhecimento e analisa a 
aprendizagem no contexto escolar e familiar, e no aspecto afetivo, cognitivo e 
biológico. 
 
EXERCÍCIOS DE CONCLUSÃO: 
 Cite algumas alternativas para trabalhar com crianças portadoras de dificuldades 
de aprendizagem baseadas em práticas docentes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE V 
 
 
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Dificuldades de aprendizagem, fracasso escolar e práticas 
pedagógicas 
 
Se compararmos a Medicina com a Educação, vamos perceber que um médico, 
atualmente, não se utiliza dos mesmos meios que usava há 20 anos para realizar um 
diagnóstico, mas o ambiente da sala de aula mudou pouco. Será que estamos 
acompanhando o ritmo dos nossos alunos e principalmente o ritmo do conhecimento 
produzido pelo mundo? Creio que todos nós sabemos qual é a resposta para esta 
pergunta. 
Almeida (2002) afirma que, na década de 90, vivemos uma profunda transformação no 
cenário educacional, sendo que essas reformas possuem bases neoliberais. Tais 
concepções se mostram especialmente nos planos político-pedagógico, organizacional e 
de financiamento. 
Afirma que o discurso subjacente às ações reformistas é o de enfrentar os trágicos 
problemas educacionais, tais como as dificuldades de aprendizagem, a repetência e a 
evasão escolar. 
Para a abordagem tradicional da educação, a aprendizagem é um produto mecânico que 
ocorre por meio da transmissão de idéias selecionadas e a escola é o lugar onde se 
realiza a educação. O indivíduo é passivo e apenas recebe o conhecimento. Já para a 
abordagem sociocultural, a mais recomendada pelas autoridades em educação da 
contemporaneidade, o indivíduo se constitui sujeito à medida que toma consciência de 
sua história e se apropria da realidade, sendo um agente transformador da sua realidade, 
da sociedade e dele mesmo. A educação assume um caráter amplo e não se restringe às 
situações formais de aprendizagem, pois a educação é um ato político. 
Consideramos importante uma leitura social das dificuldades de aprendizagem para que 
não se cristalize a idéia de que o problema do não-aprender está localizado somente no 
aluno, ou no professor, ou no método. É claro que todas essas possibilidades existem, 
assim como o conjunto delas, mas uma leitura crítica dos modelos educacionais 
propostos que ratificam uma política de acumulação de riquezas para poucos, bem como 
uma política de desigualdade, pode ajudar a solucionar e desvelar as causas do não-
aprender. 
O percentual significativo das dificuldades de aprendizagem está centralizado na 
alfabetização de nossos alunos, ou quando já superaram esta fase, no uso corrente da 
língua materna. Vejamos, então, algumas considerações sobre os problemas que podem 
surgir nessa esfera, bem como algumas alternativas para o trabalho do professor. 
Primeiramente, vamos entender o termo dificuldades de aprendizagem como uma 
desvantagem para aprender, seja uma desvantagem cognitiva ou social. Um problema 
 
 
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bastante conhecido no universo da leitura é a dislexia, que se caracteriza pela 
dificuldade que a criança possui na área da leitura e da escrita. Muitas vezes, o aluno 
apresenta outras habilidades eficazes, bom rendimento em outras áreas do 
conhecimento, mas não consegue alfabetizar-se ou não apresenta um “bom uso” da 
língua materna. Pode haver um componente hereditário na dislexia e o tratamento deve 
ser feito por especialistas da área da saúde, pois, dependendo da gravidade, a dislexia 
caracteriza-se também como uma lesão neurológica e muitos alunos precisam fazer uso 
de medicamentos compensatórios. Uma outra característica da dislexia é a ausência da 
retenção da informação. A criança disléxica é capaz de aprender um assunto hoje e 
amanhã se comportar diante dele como se fosse o primeiro contato. Muitas vezes, são 
confundidos com alunos que não têm interesse ou atenção, mas, na verdade, a falta de 
concentração é apenas uma conseqüência e não o problema central. 
É muito importante que o professor, ao analisar as dificuldades de seus alunos, faça isso 
de maneira consciente, pois, no senso comum, encontramos profissionais da área de 
educação classificando crianças como disléxicas, quando, na verdade, há um forte hiato 
social e econômico entre o mundo do professor e o universo do aluno. As experiências 
de aprendizagem que são propostas pela escola não fazem sentido para o aluno e, 
portanto, não pode haver aprendizagem significativa. 
Figueiredo (2002) nos lembra que o fato de pertencer a um grupo social permite ao 
sujeito viver suas semelhanças, seus processos de identificação. Os grupos sociais 
compõem-se basicamente de diferenças e semelhanças, e isso é inegável, da mesma 
forma que é inegável que as diferenças trazem crescimento para o sujeito e para o 
grupo. A diversidade se faz presente tanto no plano social como no plano individual. 
A escola que possui uma proposta socializadora e integradora não pode, de maneira 
alguma, servir de reprodutora de desigualdades, especialmente utilizando-se do 
instrumentochave que é a nossa prática pedagógica. 
 
EXERCÍCIOS DE CONCLUSÃO: 
 Um tema bem polêmico é como facilitar a aprendizagem dos alunos de classes 
sociais menos favorecidos sem prejudicar a qualidade do ensino. De que maneira 
podemos agir nestas situações? Descreva algumas sugestões colocadas em 
prática por você. 
 
 
 
UNIDADE VI 
 
 
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Contribuições e operacionalização das teorias de Piaget e 
Vygotsky no cotidiano escolar 
 
Piaget e o desenvolvimento humano 
Jean Piaget destaca-se ainda atualmente devido à grande contribuição de seus estudos 
para o entendimento do desenvolvimento humano. Entenderemos aqui como 
desenvolvimento humano o desenvolvimento mental e o crescimento orgânico. 
Piaget demonstrou que a criança tem uma forma própria de ver o mundo e entender o 
que a cerca, e que, em cada faixa etária ou etapa de desenvolvimento, a concepção de 
mundo sofre alterações. 
Existem alguns fatores que interferem diretamente no desenvolvimento humano, como, 
por exemplo: a hereditariedade - o potencial humano também é estabelecido pela sua 
carga genética. Hoje sabemos que a hereditariedade influencia, mas não limita esse 
potencial. O crescimento orgânico também é um outro fator e diz respeito ao 
desenvolvimento físico da criança e o domínio do ambiente que ela passa a ter a partir 
do crescimento. A maturação neurofisiológica garante o desenvolvimento neurológico, 
e a sofisticação dos comportamentos e o meio influenciam na estimulação ambiental. É 
importante que, ao estudar a inteligência humana e a construção do pensamento, não 
esqueçamos que o homem é formado por diversos aspectos, como o físico-motor, o 
intelectual, o afetivo e o social. 
Piaget divide o desenvolvimento humano em períodos e estabelece uma faixa etária para 
cada um deles. É fato que as faixas etárias aqui apresentadas não são rígidas, mas 
servem de referênciapara os educadores. 
Período sensório-motor (0 a 2 anos) 
Como o nome já diz, a criança conquista o mundo por meio das sensações e das 
percepções. A inteligência, nessa fase, é prática e se manifesta por intermédio dos 
movimentos. Não há diferença entre o eu e o mundo, e o desenvolvimento muscular 
garante um domínio maior sobre o ambiente. 
Período pré-operatório (2 a 7 anos) 
O aparecimento da linguagem é a marca deste período e, por meio dela, a criança 
consegue expressar o seu mundo interior. O pensamento evolui por causa do 
aparecimento da linguagem e a realidade é transformada para atender às necessidades da 
criança. Necessidades do mundo simbólico. Nessa fase, a maturação neurofisiológica se 
completa e a criança adquire a coordenação motora. Há um grande interesse por 
atividades diversificadas e surgem os primeiros sentimentos morais. 
 
 
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Período das operações concretas (7 a 12 anos) 
Neste período, a criança abandona o egocentrismo e será capaz de cooperar com os 
outros, desenvolver trabalhos em grupo e, ao mesmo tempo, adquirir autonomia para o 
trabalho individual. As operações mentais se tornam mais sofisticadas e a criança é 
capaz de estruturar um planejamento para alcançar seus objetivos, tanto no plano físico 
como no plano mental. Surge a relação entre causa e efeito e a noção de número já pode 
ser construída. O sentimento de grupo e a capacidade de cooperação tornam-se fortes e 
facilitadores do trabalho em sala de aula. 
Período das operações formais 
A principal característica é a mudança do pensamento concreto para o pensamento 
abstrato, sendo possível realizar operações somente no plano mental. Nesta fase, por 
exemplo, o aluno já é capaz de compreender o conjunto Z dos números inteiros e 
realizar operações com números negativos, pois já existe a possibilidade de um número 
ser menor que zero. Do ponto de vista social, o adolescente interioriza as normas 
sociais, primeiramente rejeitando-as para, posteriormente, ocorrer uma adaptação a elas. 
É uma fase de muita reflexão sobre os conceitos sociais e o desejo de transformação. 
Afetivamente, o adolescente vive conflitos indispensáveis à sua constituição adulta. 
Vygotsky e o desenvolvimento humano 
Vygotsky nos trouxe propostas teóricas inovadoras sobre o pensamento e a linguagem. 
Um conceito importante na sua obra é o fato de as origens das formas superiores de 
comportamento, como a memória, a atenção e o pensamento, para esse autor, serem 
construídas nas relações sociais e não dentro do próprio sujeito. Esse homem que se 
constitui por meio das relações sociais não é um simples receptor de informações, mas 
um sujeito participante de sua história que interage com os seus pares. 
As propostas de Vygotsky foram elaboradas ao lado de Luria e Leontiev, e o 
desenvolvimento da criança compreendido por Luria é composto por três aspectos 
importantes. O aspecto instrumental refere-se à natureza mediadora das funções 
psicológicas complexas. Isso significa que não só respondemos aos estímulos do 
ambiente, mas modificamos esses estímulos e os transformamos em instrumentos para o 
nosso comportamento. Por exemplo, mudar um objeto de lugar dentro de casa para 
lembrar de levar um material importante para o trabalho no dia seguinte. O objeto que 
foi mudado de lugar estabelece uma mediação entre o estímulo, que é o próprio objeto, 
e o nosso comportamento. O aspecto cultural significa o conjunto de códigos que a 
sociedade cria para a solução de tarefas do cotidiano, e cada tarefa traz dentro de si uma 
série de subtarefas. Por exemplo, para tomar café, é necessário antes escovar os dentes. 
Para escovar os dentes, é necessário segurar a escova numa certa posição, colocar o 
creme dental etc. A linguagem é um dos códigos criados pela sociedade e indispensável 
para a humanidade. O aspecto histórico é utilizado para dominar o ambiente social e 
representa uma mistura do histórico com o cultural, pois todos os meios que o homem 
usa para o domínio do ambiente foram construídos pela civilização. 
 
 
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Os estudos de Vygotsky se concentraram, principalmente, na linguagem e no 
pensamento. Para o autor, a fala possui um desenvolvimento progressivo, pois 
inicialmente a criança mistura a fala com as suas ações, e o objeto, o brinquedo, por 
exemplo, é quem orienta a conversa. Posteriormente, ela utiliza a fala para se comunicar 
com os adultos e demonstrar o que está fazendo ou querendo. Somente mais tarde é que 
a fala deixa de ser um instrumento do comportamento e adquire um sentido amplo. 
A linguagem é, portanto, um meio de construção da cultura e toda ela representa um 
sistema de signos. Para Vygotsky, todo o desenvolvimento ocorre no plano das 
interações e, por isso, desde bem cedinho, quando a criança balbucia, este ato toca o 
adulto, que devolve com outro ato, seja um carinho, uma palavra, que por sua vez 
realimenta e enriquece o repertório da criança. Para Piaget, a linguagem também passa 
por fases. Quando a criança se encontra no período sensório-motor, por exemplo, ela se 
utiliza do monólogo e da ecolalia. No período operatório- concreto, ela transita entre o 
monólogo coletivo e a adaptação da informação que recebe de acordo com o seu mundo 
simbólico. Neste período, já existe um diálogo estruturado e, no período das operações 
formais, os diálogos adquirem formas de discussões, muitas vezes ideológicas, já que na 
adolescência há uma grande pre¬ocupação com temas como a justiça e a igualdade 
social. 
Um conceito muito importante da teoria de Vygotsky é o de zona proximal. A zona 
proximal dos nossos alunos não pode ser medida, pois representa o desenvolvimento 
que ainda está por vir. Além disso, cada ser humano possui uma zona proximal 
diferente, pois cada informação, cada contato com a realidade e, portanto, cada 
aprendizagem, altera a nossa zona proximal. Isso significa que o professor pode se 
posicionar perante o aluno considerando que o desenvolvimento ainda não aconteceu ou 
que a aprendizagem ainda está por vir. 
Enquanto Piaget trabalhou com o desenvolvimento retrospectivo, ou seja, o 
desenvolvimento que já ocorreu, Vygotsky considera o desenvolvimento prospectivo, 
que é o desenvolvimento que ainda está por vir. Para Piaget, os estágios de 
desenvolvimento do pensamento existem em qualquer cultura, mais ou menos na 
mesma época, e o que determina o limite de aprendizagem das crianças é a capacidade 
das estruturas mentais. Para Vygotsky, o cérebro humano possui uma característica 
muito importante que é a plasticidade cerebral. Significa que as capacidades de 
aprendizagem podem ser ampliadas, pois o cérebro é plástico e essa capacidade está 
ligada ao nível de interação social das crianças com o meio. A concepção de 
plasticidade foi muito importante para o trabalho que Vygotsky desenvolveu com 
crianças portadoras de deficiência e seu trabalho influenciou muito na atual 
compreensão de que todos são capazes de aprender. 
O surgimento da fala representa para Piaget o resultado de uma maturação biológica e 
das estruturas cognitivas, sendo um movimento do interior do sujeito para o mundo 
exterior. Para Vygotsky, o surgimento da fala representa que a criança se apropriou de 
 
 
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mais um aspecto do mundo exterior e o levou para dentro de si, num constante processo 
de interação. 
Em suma, enquanto Piaget enfatiza a maturação, as experiências concretas e a 
equilibração, Vygotsky enfatiza o aspecto interacionista, pois é por meio da interação 
social que os planos mentais superiores são construídos. 
Operacionalização das teorias de Piaget e Vygotsky no ambiente escolar 
Acredito que nenhuma teoria substitui inteiramente outra, pois o trabalho do professor é 
sempre interdisciplinar e pode buscar fundamentação teórica

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