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Fisiopatologia do câncer I Prof. MSc. Brunno Pinho Currículo - Bacharel em farmácia (Cesupa); - Especialista em farmácia hospitalar e farmácia clínica (Instituto Racine-SP); - Especialista em farmacologia clínica (UFPA); - Especializando em metodologias ativas (Unama); - Mestre em ciências farmacêuticas (UFPA). Sumário - Cuidados paliativos - Tumores benignos x malignos. Caso clinico J.A.B., 70 anos, está internado há cerca de 25 dias na enfermaria de clínica médica. Internou para investigação de síndrome consumptiva de início há 5 meses. A hipótese diagnóstica é de CA de cólon, com metástase hepática, pulmonar e óssea. Após avaliação da equipe de Oncologia, foi decidido a não realização de quimioterapia ou de outras medidas, devido ao estágio avançado da doença e provável não funcionalidade da terapia. Caso clinico Paciente evolui com dor de grau 8 em EVA, alimenta-se pouco e apresenta constante cansaço. Há 5 dias está com tosse produtiva, febre, dispneia e exames laboratoriais confirmam pneumonia. Em uso de ATB de amplo espectro, porém com baixa resposta clínica-laboratorial. Caso clinico 1) O que podemos fazer pelo paciente? 2) O paciente está em cuidados paliativos? O que seria essa modalidade de cuidado? 3) Qual poderia ser a sua contribuição profissional para esse caso? Cuidados paliativos “(...) é uma abordagem para a melhoria da qualidade de vida de pacientes e familiares que enfrentam uma doença ameaçadora à vida, através da prevenção e do alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce e impecável avaliação e tratamento da dor e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais.” (OMS, 2007) Cuidados paliativos - OMS indica a ocorrência de 8,2 milhões de mortes por câncer em 2012 e estima 13,2 milhões em 2030; - Estima-se que 650 mil indivíduos necessitem recorrer a essa modalidade de cuidado, sendo 80% relacionados com câncer; - Resolução n. 41/2018 (MS) regulamente diretrizes para a organização dos cuidados paliativos no SUS. Cuidados paliativos Princípios (1) Alívio dos sintomas; (2) Morte como processo natural; (3) Não se trata de eutanásia, suicídio assistido e nem de distanásia; (4) Aspectos psicoespirituais e cuidado global do paciente; (5) Proporcionar vivência mais próxima da realidade do paciente. Cuidados paliativos Princípios (6) Suporte familiar; (7) Abordagem multiprofissional; (8) Atuação na qualidade de vida; (9) Início concomitante com medidas de prolongamento de vida. Cuidados paliativos Quando e para quem iniciar? - Ao diagnóstico de qualquer doença ameaçadora à vida. Cuidados paliativos Critérios de referência do paciente com câncer – Lancet (2016) 1. Síntomas físicos graves (ex.: dor, dispneia ou náusea, com ESAS> ou =7); 2. Sintomas emocionais graves (ex.: Depressão, ansiedade, com ESAS: ou =7); 3. Paciente solicita eutanásia; 4. Sofrimento espiritual ou existencial; 5. Necessidade de assistência na tomada de decisão ou planejamento de cuidado; Cuidados paliativos Critérios de referência do paciente com câncer – Lancet (2016) 6. Paciente solicita cuidados paliativos; 7. Presença de delirium; 8. Presença de metástases cerebrais ou leptomeníngeas; 9. Presença de compressão medular; 10. Três meses após diagnóstico de CA avançado ou refratário a tratamento, em paciente com sobrevida menor ou igual a 1 ano; 11. Diagnóstico de CA avançado em progressão, em vigência de QT de segunda linha. Cuidados paliativos Atuação equipe multiprofissional Cuidados paliativos Atuação equipe multiprofissional Fisioterapia - Atenção para limitações funcionais; - Prevenção de síndrome de imobilização; - Metas envolvem preservação da função motora e melhora da independência funcional. Cuidados paliativos Atuação equipe multiprofissional Enfermagem - Traça plano de cuidados, envolvendo uso de medicações e dispositivos e realização de curativos; - Orienta adequação de residência e instrui cuidadores; - Estímulo ao auto-cuidado. Cuidados paliativos Atuação equipe multiprofissional Farmácia - Avaliação da adequação de estratégias terapêuticas; - Orientação a familiares sobre importância da adesão e da auto- medicação; - Assegura o acesso a medicamentos e o seu uso racional. Cuidados paliativos Atuação equipe multiprofissional Biomedicina - Adequação de procedimentos de coleta, manuseio e transporte de amostras biológicas; - Ajuste de fluxos e celeridade em processos para auxiliar tomadas de decisão. Caso clinico 1) O que podemos fazer pelo paciente? 2) O paciente está em cuidados paliativos? O que seria essa modalidade de cuidado? 3) Qual poderia ser a sua contribuição profissional para esse caso? Tumores benignos x malignos Caso clinico J.P.B., 51 anos, sexo masculino, foi atendido em serviço de saúde com queixa de lesão nodular em região cervical anterior, percebido há 3 meses e de crescimento lento e progressivo, sem outros sintomas. Ao exame físico, evidenciou-se formação de consistência endurecida ao nível da cartilagem cricóide, indolor, móvel à deglutição, sem outras massas ou linfonodos aumentados. Caso clinico O exame laringoscópico indireto não evidenciou lesão em orofaringe, supraglote ou glote. TC evidenciou lesão hiperdensa, circunscrita e com pequena área calcificada. Caso clinico Perguntas 1) A lesão é um tumor? 2) O tumor é benigno ou maligno? Por que? 3) Quais as principais diferenças entre TU benignos e malignos? Nomenclatura Neoplasia (ou Neoplasma) - Significa “novo crescimento”; - Massa anormal de tecido, com crescimento excessivo, não coordenado e persistente; - O termo se iguala a palavra Tumor; - Pode ser dividido em benigno ou maligno. Nomenclatura Benignidade x Malignidade - Características micro e macroscópicas são inocentes; - Gera nódulos localizados, podendo em algumas situações serem responsáveis por doenças graves. Nomenclatura Benignidade x Malignidade - Referidos coletivamente como câncer; - Lesão possui característica invasiva e de destruição de estruturas adjacentes, podendo se disseminar para sítios distantes; - Possui risco importante de morte. Tumores Composição básica - Células neoplásicas clonais (parênquima); - Estroma reativo feito de tecido conjuntivo, vasos sanguíneos e células imunes. Tumores Tumores Tumores Parênquima // Estroma - Crescimento dependente do estroma; - Suporte estromal escasso promove a formação de tumor mole e carnoso; - Maior quantidade de estroma promove a formação de TU desmoplásicos. Nomenclatura TU benignos mesenquimais - Sufixo –oma à célula de origem. - Ex.: Fibroma (tecidos fibrosos) e condroma (tecido cartilaginoso); - Exceções: melanócitos: melanoma (maligno) gliócitos: glioma (maligno). Nomenclatura TU benignos epiteliais - Apresentam maior complexidade, pois classificação depende de células de origem, ou padrão micro/macroscópico; - Ex.: (1) Epitélio glandular: Adenoma (2) Epitélio com aspecto macroscópico f formando papilas: Papiloma. Nomenclatura TU malignos mesenquimais - Sufixo –sarcoma à célula de origem; - Ex.: Fibrossarcoma, condrossarcoma e rabdomiossarrcoma. Nomenclatura TU malignos epiteliais - Termo carcinoma associado à célula de origem; - Variedade de tecido epitelial no corpo torna a nomenclatura comum, mesmo em diferentes regiões; - Ex.: CA de epiderme, CA de células dos túbulos renais e CA de céls de revestimento do TGI. Nomenclatura TU malignos epiteliais - Complementação do nome pode apresentar mais informações sobre o CA; - Ex.: (1) Carcinoma de céls. escamosas; (2) Adenocarcinoma. Nomenclatura TU de céls. sanguíneas e céls. relacionadas - Células hematopoiéticas: Leucemias; - Tecido linfoide: Linfomas. Nomenclatura TU mistos - Normalmente céls. Parenquimatosa possuem semelhança, pois derivam de uma única célula (monoclonal); -Incomumente ocorre diferenciação divergente de duas linhagens, criando tumores mistos. Nomenclatura Teratomas - Oriundos de céls. Totipotentes, com possibilidade de posterior diferenciação; - Mimetizam tecidos como ósseo, muscular, epitelial e adiposo. Critérios de diferenciação entre tumores benignos e malignos Características do TU Critérios TU benigno x TU maligno - Diferenciação celular e anaplasia; - Taxa de crescimento; - Invasão local; - Metástases. Diferenciação e Anaplasia - Correspondência morfofuncional entre céls. parenquimatosas e céls. do parênquima neoplásico; - Falta de diferenciação é denominada anaplasia. Diferenciação e Anaplasia - TU benignos, normalmente, são bem diferenciados; - Apresentando taxa de mitose reduzida e configuração normal; - Ex.: Lipoma Diferenciação e Anaplasia - TU malignos apresentam variedade de diferenciação; - Diagnóstico morfológico de malignidade em TU bem diferenciado é de grande dificuldade; - Por sua vez, a falta de diferenciação é considerada marca registrada da malignidade. Diferenciação e Anaplasia Características associadas a anaplasia: - Pleomorfismo: variação de tamanho e forma Diferenciação e Anaplasia Características associadas a anaplasia: - Morfologia nuclear anormal: Razão núcleo- citoplasma alterada de 1:6 a até 1:1 Diferenciação e Anaplasia Características associadas a anaplasia: - Intensa atividade mitótica Diferenciação e Anaplasia Características associadas a anaplasia: - Céls. gigantes tumorais Diferenciação e Anaplasia Metaplasia e displasia (1) Substituição de um tipo celular por outro; (2) Crescimento desordenado. Tumores benignos x malignos Taxa de crescimento - Ciclo celular desordenado porém não acelerado; - Determinada por três fatores: (1) Tempo de duplicação das céls. Tumorais; (2) Fração das céls. Tumorais que se encontram no grupo replicativo; (3) Taxa com que as células são perdidas ou morrem. Taxa de crescimento - Existem diferentes taxas de crescimento dentro de TU malignos; - A taxa de crescimento das céls. tumorais determina a susceptibilidade do TU à quimioterapia; - Taxa pode variar com o tempo, devido a fatores como estimulação hormonal, suprimento sanguíneo e outros. Invasão local - Importante característica para diferenciar TU malignos de benignos; - Maioria dos TU benignos não são invasivos, principalmente devido à formação de cápsula fibrosa; - TU malignos não reconhecem barreiras anatômicas, infiltrando-se em tecidos adjacentes. Metástase - Implantes tumorais descontínuos com o tumor primário; - Assinalam de forma inequívoca um TU maligno; - Em geral, quanto mais agressivo o TU maior a chance de metastizar; - Vias de disseminação podem ser por implante direto, disseminação linfática e/ou hematológica. Caso clinico Perguntas 1) A lesão é um tumor? 2) O tumor é benigno ou maligno? Por que? 3) Quais as principais diferenças entre TU benignos e malignos? Principais diferenças Características Benigno Maligno Diferenciação/anaplasia Bem diferenciado; estrutura típica do tecido original Indiferenciado e com anaplasia; estrutura atípica Taxa de crescimento Progressivo e lento Errático, lento ou rápido Invasão local Massas coesivas, expansíveis e bem demarcadas Massas expansíveis que se infiltram no tecido vizinho Metástase Ausente Presente Bases moleculares do câncer Caso clinico H.C.L., 60 anos, sexo masculino, branco, casado, aposentado, natural e procedente de Altamira. Comparece à consultório com queixa de astenia, fadiga e perda de peso. Refere ter sorologia negativa para HIV, porém não sabe informar sobre resultado de outras sorologias. Refere hábito etilista, tabagista (1 maço/dia), consumo frequente de carne assada e de amendoim. Caso clinico Ao exame físico: Fígado palpável, indolor, de bordas irregulares, superfície nodular e consistência endurecida. USG: Nódulo de caráter heterogêneo, com regiões de diferentes graus de ecogenicidade, localizado em lobo hepático direito. Caso clinico Perguntas 1) O TU é benigno ou maligno? 2) O TU apresenta relação com seus hábitos de vida? 3) Quais hábitos de vida apresentam risco para o desenvolvimento de TU? 4) Qual o mecanismo carcinogênico de desenvolvimento tumoral? Bases moleculares do câncer - A base da carcinogênese envolve o dano genético não letal em célula única (monoclonal); - Danos genéticos afetam quatro classes de genes reguladores: (1) Proto-oncogenes; (2) Genes supressores de tumores; (3) Genes de regulação de morte programada; (4) Genes de reparo de DNA. Bases moleculares do câncer - Carcinogênese ocorre em várias etapas, resultando do acúmulo de múltiplas mutações em genes alvos; - Mutações ocasionam sete alterações fundamentais que determinam o fenótipo maligno. Bases moleculares do câncer Alterações fundamentais (1) Autossuficiência no crescimento; (2) Insensibilidade aos sinais inibitórios de crescimento; (3) Evasão da apoptose; (4) Potencial de replicação ilimitado; (5) Estímulo à angiogênese; (6) Capacidade de invasão tecidual e de metastizar; (7) Defeitos no reparo do DNA. Bases moleculares do câncer Autossuficiência no crescimento - Oncogenes x Proto-oncogenes; - Genes relacionados com a proliferação celular; - Alteração de proto-oncogenes promovem a hiperproliferação celular. Bases moleculares do câncer Bases moleculares do câncer Bases moleculares do câncer Insensibilidade à inibição de crescimento - Genes supressores de tumores; - Moldam rede regulatória de controle de proliferação; - Rede regulatória reconhece o estresse genotóxico e responde finalizando a proliferação. Efeito pós-mutação pontual de p53: - Anulação da capacidade transcricional; - Perda da capacidade de ligação e ativação de outros genes. As funções da p53 podem ser inativadas por mutações somáticas e hereditárias, também por ação de proteínas virais. Bases moleculares do câncer Evasão da apoptose Bases moleculares do câncer Potencial de replicação ilimitado: telomerase - Encurtamento de telômeros limita a capacidade de duplicação celular; - Desativação de pontos de checagem ativa mecanismo complementar e promove a catástrofe mitótica; - Célula neoplásica reativadora de telomerase, consegue escapar de mecanismos de limitação de replicação. Bases moleculares do câncer Angiogênese Bases moleculares do câncer Angiogênese - TU podem estimular neoangiogênese a partir de capilares previamente existentes; - Formação de vasos anormais garante o suporte de oxigênio e nutrientes; - Céls. Endoteliais estimulam o crescimento tumoral. Bases moleculares do câncer Invasão e metástase Bases moleculares do câncer Invasão da matriz extracelular (MEC) (1) Relação das interações célula-célula do tumor; (2) Degradação da MEC; (3) Ligação a novos componentes da MEC; (4) Migração das células tumorais. Bases moleculares do câncer Disseminação vascular e instalação TU (1) Formação de massas TU; (2) Adesão ao endotélio; (3) Caminho inverso ao de invasão da MEC. Bases moleculares do câncer Defeitos no reparo do DNA - Proteínas de reparo não são oncogênicas, porém anormalidades permitem mutações em outros genes; - Existem três tipos de sistemas de reparo de DNA: (1) Reparo do pareamento errôneo; (2) Reparo de excisão de nucleotídeos; (3) Reparo de recombinação. Caso clinico Perguntas 1) O TU é benigno ou maligno? 2) O TU apresenta relação com seus hábitos de vida? 3) Quais hábitos de vida apresentam risco para o desenvolvimento de TU? 4) Qual o mecanismo carcinogênico de desenvolvimento tumoral? Agentes cancerígenos Agentes cancerígenos Agentes cancerígenos Carcinogênese química - Processo ocorre em múltiplas etapas: (1) Iniciação (2) Promoção Carcinógenos Ligação ao DNA Reparo celular Morte celular Lesão permanente / célula iniciada Célula pré-neoplásica Neoplasma maligno Agentes cancerígenos Carcinogênese por radiação - Radiação na forma de raios UV ou de ionização eletromagnética; - Período longo de latência do dano e efeito cumulativo. Radiação Mecanismo de carcinogênese UV Indução da formação de dímeros de pirimidina no DNA Ionizante Mecanismo direto de dano ao DNA ou indireto de formação de radicais livres Agentes cancerígenos Carcinogênese microbiana - Vírus oncogênicos de RNA (HTLV-1); - Vírus oncogênicos de DNA (HPV, EBV e HBV). Vírus Tumor HPV (Tipo 1, 2, 4 e 7) Papiloma HPV (Tipo 16 e 18) Carcinoma de céls. Escamosas do colo uterino EBV Linfoma de Burkitt e de Hodgkin e carcinomas H. pilory Adenocarcinomas gástricos Defesa do hospedeiro contra tumores Imunidade tumoral Vigilância imunológica tumoral - Evidências indicam um efeito protetor do sistema imune contra tumores; - Antígenos tumorais: 1. Produtos de genes mutados; 2. Proteínas celulares superexpressas ou expressas de forma aberrante; 3. Produtos de vírus oncogênicos. Imunidade tumoral Mecanismos efetores tumorais - Linfócitos T citotóxicos: Reconhecimento de antígenos tumorais via MHC classe I; - Natural killer: Reconhecimento de antígenos induzidos por estresse e dano ao DNA; - Macrófagos: Fagocitose de células tumorais; - Anticorpos monoclonais. página 97 Obrigado Brunno Pinho brunnogpinho@gmail.com www.educatechbrasil.com
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