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PROJETO INTEGRADO MULTIDISCIPLINAR – PIM EXPERIMENTAÇÕES DE LINGUAGEM VISUAL E MULTIMÍDIA – ATHALANTA ESCRITÓRIO DA MODA Eduardo Faria Érika Moreira Fonseca Luís Carlos César Fraga Nadir Luz Lopes Élen Ferrai Vinicius Gomes Barbosa1 Prof. Júlio Alessi Profa. Fernanda Motta2 RESUMO A moda constitui uma força motora de vários setores da economia. Atual tendência de consumo, ela representa vários estilos e é influenciada por fatores sociais, econômicos e culturais. Nessa perspectiva de consumo, os catálogos de moda exercem grande influência, traduzindo o conceito da marca e despertando interesse pela compra de produtos. Como a moda está ligada a comportamentos culturais que se estabelecem por meio das relações sociais e de consumo existentes em cada período histórico, partiu-se desta linha de pesquisa para, posteriormente, conectá-la ao contexto da comunicação e, assim, ressignificá-la com base na linguagem visual. O foco principal deste projeto, portanto, está na interrelação entre conteúdos e metodologias de disciplinas do curso de publicidade e propaganda (laboratório de internet, comportamento do consumidor, fotografia, atendimento publicitário e metodologia de projeto), tendo-se como resultado final a produção de um catálogo comercial ou conceitual de moda, a partir de um projeto de negócios proposto para este setor. PALAVRAS-CHAVE: moda, projeto interdisciplinar, comportamento do consumidor, linguagem visual e mutimídia 1 Alunos do Curso Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda da Faculdade Promove de Sete Lagoas – Campus I 2 Professores Orientadores do Curso de Comunicação Social - Habilitação em Publicidade e Propaganda da Faculdade Promove de Sete Lagoas – Campus I. INTRODUÇÃO “A moda passa e o estilo fica”. Coco Chanel O homem descobriu que possuía a necessidade de se vestir ainda na pré-história, quando a sua própria pele já não era capaz de sustentar o calor do corpo, nas baixas temperaturas da era glacial. Atualmente, essa necessidade ganhou status de desejo. A vestimenta passou a ser mais ornamentada e ganhou variações que demonstram o caráter e o perfil do usuário. Com o passar dos anos, as peças de vestuário vêm sofrendo alterações significativas, de acordo com o contexto histórico ligado a cada época em suas dimensões sociais, culturais, econômicas e tecnológicas. As roupas passam a se diferenciar quanto a cortes, texturas, cores, estampas e acessórios. Assim como o homem da caverna necessitava mudar seu tipo de vestimenta de acordo com as condições climáticas; o indivíduo contemporâneo acompanha esse processo de variações, mas com muito mais condicionado por fatores expressivos de valor, ligados a status, diferenciação social, afiliação, dentre outros. Estabelece-se, assim, um novo conceito para o termo “moda”, simbolizando muito mais do que o “simples” ato de se vestir. Hoje, as pessoas não procuram apenas proteção, segurança, quando escolhem o que vestir. Suas escolhas exprimem valores, atitudes, estilos de vida, tornando o processo de criação muito mais complexo do que uma simples adaptação das vestimentas às estações do ano. E, nesse novo cenário, as estratégias de marketing absorvem todas as influências socioculturais e psicológicas associadas aos consumidores-alvo, carregando propostas de valor exclusivas e altamente valorizadas por eles. Parte-se do princípio que as pessoas buscam, cada vez mais, criar identidade com determinados grupos e se diferenciar de outros por meio do que vestem, elas utilizam a moda para se situarem no contexto sócio-econômico e cultural em que vivem. Nesse sentido, o marketing se aplica ao setor da moda, sendo que pesquisas embasam desde a concepção das coleções até o lançamento e divulgação de campanhas junto aos consumidores-alvo. Para que a moda criada possa criar identidade com ferramenta chamada comunicação. Neste ponto as grifes, estilistas, grandes marcas e confecções utilizam, de forma crescente, as ferramentas da comunicação integrada de marketing para associar ideias e conceitos aos produtos, gerando efeitos de identificação e mesmo de aspiração em relação a determinado estilo de vida. Inserida no planejamento da comunicação, a linguagem visual ganha crucial importância, sendo capaz de gerar os estímulos que criarão os “enredos” necessários para contar histórias que os consumidores valorizem. Catálogos fotográficos e editoriais ganharam uma dimensão artística, sendo o apelo estético um fio condutor por meio do qual se cria o elo entre as marcas e consumidores. O fotógrafo de moda deve ser capaz, portanto, de traduzir as tendências e conceitos trabalhados pelo estilista em imagens, e o publicitário deve alinhar todas estas mensagens, criando uma sinergia quanto aos conceitos aplicáveis à marca e representando-os nas campanhas de comunicação. Juntos, esses profissionais têm como objetivo seduzir o consumidor, atrair sua atenção para que ele considere as opções apresentadas como a melhor forma de representar sua posição diante da sociedade. O foco principal deste projeto, assim, está no desenvolvimento e integração das metodologias de disciplinas do curso de publicidade e propaganda (laboratório de internet, comportamento do consumidor, fotografia, atendimento e metodologia de projeto), tendo-se como desafio a criação de um conceito de negócio no setor da moda e a produção de um catálogo fotográfico digital, como forma de materialização deste conceito. Para fundamentar o projeto investiu-se, inicialmente, em pesquisa exploratória para entender a evolução da moda, os fatos históricos e transformações sociais que a influenciaram, bem como os desdobramentos decorrentes. Realizaram-se consultas a sites especializados, entrevistas com consultores de moda e análises de catálogos, editoriais e vídeos de diversas marcas. Por meio do estudo das obras dos grandes mestres das artes plásticas, foram identificadas técnicas de luz e sombra perceptíveis nos trabalhos fotógrafos de moda consagrados. Verificaram-se, ainda, de forma exploratória, indícios do impacto dos fenômenos culturais, sociais e econômicos nos modos, costumes e formas de se vestir das pessoas, em diversos períodos históricos (a sobriedade nos períodos de guerra, a libertação representada pelas conquistas de direitos pelas mulheres e pela entrada destas no mercado de trabalho, etc.). Por fim, uma fonte fundamental para o desenvolvimento deste trabalho foi o relato de aspectos psicográficos associados ao perfil feminino apresentado por França (2000). Ele serviu de base para a criação do conceito da marca Athalanta – releitura do mito da mulher executiva multitarefa, desenvolvida pelos autores deste trabalho. REFERENCIAL TEÓRICO A proposta de construção de um catálogo fotográfico digital vinculou-se ao conceito de negócio proposto e motivou a busca de referências artísticas e históricas e o adequado entendimento de dimensões socioculturais e psicográficas associadas ao universo feminino (comportamentos, atitudes, valores), de acordo com Samara & Morsch (2005). O primeiro catálogo de moda de que se tem notícia, de acordo com Santos (2009) é datado do século XIX, e foi produzido a pedido da Condessa de Castiglione pelos fotógrafos Mayer & Pierson. As fotos resultaram em um álbum com duzentos e oitenta e oito modelos de roupas que a condessa apreciava. Criava- se, assim, o primeiro projeto vinculando moda a fotografia; ou o primeiro book ou catálogo fotográfico de moda. Ainda de acordo com Santos (2009), no contexto brasileiro, o século XIX foi acompanhado por grandes mudanças na estrutura social, processo deflagrado, principalmente, a partir da chegada da família Real ao Brasil. A existência da corte passoua influir na vida da mulher do Rio de Janeiro, exigindo-lhe mais participação. Dentro deste contexto, a moda assumiu significativa importância para a mulher que morava nas cidades. As tendências européias eram copiadas e jornais e revistas começaram a reproduzir gravuras para deixar suas leitoras por dentro destas tendências. Nesse sentido, portanto, as fotografias de moda podem também ser consideradas como documentos ou fontes históricas e não somente como meras ilustrações de um catálogo. A fotografia de moda que não é uma fotografia qualquer, pois ela comporta unidades e regras específicas e forma, no interior da comunicação fotográfica, uma linguagem particular que tem seu léxico e sua síntese. A fotografia de moda deve ser pensada, consequentemente, como elemento de comunicação, carregando significados construídos a partir do desenvolvimento de uma linguagem específica, ou seja, a partir da “leitura” adequada do perfil da consumidora-alvo, não somente em suas dimensões demográficas (sexo, idade, renda, estado civil), mas também socioculturais e psicográficas (autoconceito, valores, estilo de vida, atitudes). Sendo a moda um fenômeno em constante mudança, a produção fotográfica tem como função registrar e acompanhar, com a mesma rapidez, as transformações sociais pelas quais vão passando as mulheres. Assim, a liberdade social buscada nos anos 20, o retorno do glamour e da sofisticação no pós-guerra e a rebeldia dos anos 60 e 70 são registros históricos capazes de ser percebidos e compreendidos por meio de análises fotográficas. Assim, Santos (2009) situa a fotografia de moda como um registro importante da cultura e da sociedade, em determinada época, revelador das aspirações, dos gostos e das proibições, não abarcando somente a descrição da moda e do estilo fotográfico, mas as influências artísticas, comerciais, sociais e culturais na moda. A moda como negócio A moda, de acordo com Cobra (2010), é mais do que um reflexo de estilo de vida. É, acima de tudo, um padrão a ser seguido. Nesse contexto, os profissionais de marketing estudam o comportamento do consumidor, procurando descobrir suas motivações de compra com o objetivo de desenvolver produtos que se transformarão em objetos de desejo. A moda é, na visão do autor (2010) um ambiente fortemente influenciado pela mídia, ela diferencia, valoriza e enriquece o ego das pessoas. Influi em comportamentos e é influenciada por eles. A moda atual é um negócio globalizado que acompanha as tendências da economia, estimulando o consumo e estabelecendo um ciclo de vida para os produtos que tende a ser cada vez mais curto. É fato que as pessoas não compram somente para satisfazer suas necessidades de cobrir o corpo, mas sim para atender a desejos subjetivos. Necessidades de afiliação social, status e realização explicam mais porque as pessoas consomem moda, nos dias atuais, do que qualquer outro aspecto. Assim, o comportamento do consumidor, sobretudo em suas dimensões socioculturais e psicográficas, passam a ser a base para o desenvolvimento de trabalhos publicitários na área. Na publicidade de moda, a visualização dos produtos, em contextos de consumo que criem identificação e aspiração, estimula o desejo de compra por parte das consumidoras. Os catálogos de moda se inserem nesse panorama, ao criarem uma ambientação e uma manifestação de estilo de vida que representam dimensões simbólicas fortemente associadas ao imaginário do público feminino de consumo. O catálogo fotográfico representa, portanto, instrumento poderoso para o negócio da moda pois faz com que o processo persuasivo seja endereçado, predominantemente, ao olhar: é promessa de beleza, sedução das aparências, ambiência idealizada antes de ser informação. Como produto publicitário, ele cria uma conexão entre os signos vinculados ao sistema de moda e os signos do sistema social, construindo narrativas carregadas de significados, o que atrai a atenção do consumidor-alvo. O catálogo fotográfico de modo é, portanto, acima de tudo, a “experimentação criativa” da construção de um ambiente, de uma atmosfera propícia ao consumo. Perfil de consumo da mulher contemporânea no país As mulheres brasileiras movimentam, hoje, R$ 1,3 trilhão em bens e consumo, formando o maior mercado consumidor do país. Administrando um montante superior à sua massa salarial, as brasileiras não apenas decidem e compram diretamente, mas também influenciam e controlam parte dos salários masculinos. E, mais do que a própria renda, elas gerenciam o orçamento familiar como um todo. Em segmentos de produtos específicos como vestuário elas detêm 83% das decisões de compra (Petterie & Maletta, 2010). A mulher contemporânea pesquisa os melhores preços, quer estar em dia com moda e estilo, cuida da saúde e estética, preza pela praticidade e concede espaço, em seu dia a dia, para produtos que venham ao encontro de suas necessidades, que vão desde as mais básicas às mais complexas, de ordem sociocultural e psicológica. Seu principal desafio é equilibrar vida pessoal e profissional, sendo que ela acumula tarefas e vivencia uma rotina corrida. A internet é a principal mídia consumida - são 31 milhões de mulheres na web - e 93% delas usam rede social. Na hora de comprar, ela está atenta à qualidade dos produtos e aos conceitos e valores que as marcas transmitem3. A mulher contemporânea é estereotipada como "supermulher" e se sente pressionada, considerando este um padrão de excelência inatingível que soa 3 Disponível em: http://www.bolsacorp.com/pt/area/2-pesquisa/ falso, distante da realidade e gera angústia (Al-Assal, 2010) 4. Isso parece explicar porque as mulheres são, cada vez mais, intuitivas e detalhistas em suas escolhas, uma vez que elas constroem significados por meio do consumo de moda, buscando fugir do estereótipo de “supermulher” e criar seu autoconceito, fazendo uma ressignificação de sua posição na sociedade, a partir de escolhas mais pessoais, emocionais. A emoção, portanto, é um ingrediente que cria conexão entre as mulheres e as marcas, fazendo que com elas se lembrem mais delas, que cogitem inseri-las em suas escolhas de consumo para manifestarem sua visão de mundo, valores e atitudes junto à sociedade e aos grupos sociais em que se inserem. ANÁLISE DO MERCADO REGIONAL O termo SWOT é uma sigla formada pelas iniciais das palavras inglesas: Strengths (forças), Weaknesses (fraquezas), Opportunities (oportunidades) e Threats (ameaças) 5. A análise SWOT é uma ferramenta de gestão e planejamento que permite uma avaliação do mercado para embasar a tomada de decisões estratégicas, sinalizando os pontos fracos e fortes, as oportunidades e fraquezas que constituem o ambiente interno e externo em que a empresa atua. Por meio desta avaliação é possível estabelecer estratégias e metas, minimizar os efeitos negativos e potencializar a linha de ação para a melhoria do desempenho da organização. Assim, ao se analisar o mercado regional, considerou-se as seguintes dimensões que fundamentaram a concepção do projeto Athalanta Escritório da Moda: 4 Disponível em: http://www.santanderempreendedor.com.br 5 Disponível em: http://www.cedet.com.br/index.php?/Tutoriais/Marketing/analise- Oportunidades - Crescimento econômico da região. - Importância crescente das mulheres no contexto de consumo regional. - Ampliação da participação das mulheres no mercado de trabalho regional. - Novos investimentos empresariais na região. - Poucas marcas se preocupam em construir relacionamento com o consumidor- alvo. Ameaças - Crescente presença de marcas de âmbito nacional e internacional (via internet) no mercado regional, com grandes orçamentospara produções publicitárias e intensa visibilidade. - Consumidoras-alvo têm como referência marcas da capital, Belo Horizonte. - Crescentes investimentos em publicidade por parte das marcas regionais. Forças - Estabelecimento da marca Athalanta escritório de moda com base em análises socioculturais e psicográficas, e não apenas demográficas, das consumidoras- alvo. - Maior proximidade com as consumidoras-alvo pelo conhecimento do contexto regional em que elas se inserem. - Presença nas mídias digitais, representando comodidade e relacionamento contínuo com as consumidoras-alvo. Fraquezas - Marca nova no mercado, competindo com marcas regionais já consolidadas e com marcas nacionais/internacionais distribuídas regionalmente. - Poucos recursos financeiros para investimento. POSICIONAMENTO – O PROJETO ATHALANTA ESCRITÓRIO DE MODA É fato que a consumidora de moda não compra produtos, mas sim as emoções e o prestígio que a marca proporciona. Dentro desse novo contexto de presença intensiva das mulheres no mercado de trabalho, e da necessidade delas compatibilizarem a dimensão profissional com a pessoal, estabelece-se a proposta da marca ATHALANTA, que propõe fugir da “armadilha” da masculinização da figura feminina motivada por sua maior presença no mercado de trabalho, agregando feminilidade e sensibilidade ao conceito de mulher contemporânea difundido. A marca busca transmitir valores de conforto, elegância e prazer para que a mulher contemporânea se sinta realizada não apenas no âmbito profissional, sincronizando suas demandas por crescimento com o resgate da dimensão feminina, emocional. Palavras associadas à marca ATHALANTA são: realização, elegância, feminilidade, sensibilidade, prazer, bem-estar. A criação do conceito do negócio Athalanta Escritório da Moda Uma proposição interessante para estabelecer o conceito da marca ATHALANTA é recorrer à mitologia, sendo que esta serve para fazer refletir e reafirmar a identidade criada junto às consumidoras-alvo. Segundo Cobra (2010), a marca representa um conceito da marca ou produto na mente das pessoas e, em se tratando de moda, tem forte apelo onírico, imaginativo, com elos emocionais sendo estabelecidos. A marca do catálogo de Moda Primavera 2012 ATHALANTA foi desenvolvida, portanto, com base em um personagem feminino da mitologia grega denominado Atalanta. Segundo França (2000), a mulher Atalanta é aquela perfeitamente capaz de competir em pé de igualdade com os homens, que foca em sua carreira profissional, e que se encontra em desequilíbrio em sua vida pessoal, até que ser chamada a refletir sobre o real sentido de sua vida. QUADRO 1 – O mito de Atalanta Atalanta era uma heroína grega, protegida da Deusa Artemis, cujo prazer e objetivo principal na vida eram competir e vencer nas corridas e jogos. Não tinha tempo para o amor e opunha-se ao casamento. Cedendo a insistência do seu pai acerca da necessidade de descendentes para herdar o seu reinado, Atalanta aceita casar-se com um pretendente que a vencesse em uma disputa. O jovem Hipómenes que já era apaixonado por Atalanta e ciente da sua inabilidade atlética, recorreu ao templo de Afrodite – a deusa do amor – pedindo-lhe orientações de como vencer Atalanta nesta disputa e ganhar o seu coração. Afrodite entregou ao rapaz três pomos de ouro explicando-lhe que durante a corrida ele deveria jogá-las pausadamente pelo caminho de Atalanta. Ele assim o fez , e a cada pomo lançado, Atalanta atraída pelo brilho, reduzia o passo e apanhava o objeto para admirá-lo. Acabou sendo ultrapassada por Hipómenes que venceu a corrida e tornou-se seu esposo. Fonte: Blog Sutseg 6 6 Disponível em: http://sutseg.blogspot.com/2011/02/o-mito-de-atalanta-uma-bela-de-uma.html Na correria do dia a dia, a mulher Atalanta corre o risco de desaprender a ser criança, de sentir-se culpada ao relaxar. Obcecada pela questão “o que devo fazer?” ela pode acabar se esquecendo de se perguntar “o que quero fazer”. Para se realizar na vida pessoal, precisa perceber a importância de aproveitar a vida enquanto é tempo. Ela precisa renunciar a vencer a corrida, perceber que nem tudo na vida é uma competição, e que amar e ser amada também é fundamental para a felicidade. No caso do projeto, o mito de Atalanta, que se relaciona com o perfil da mulher focada em sua carreira profissional, constituiu a principal inspiração para o desenvolvimento da marca. De acordo com Bolen (1984)7, os arquétipos, que são moldes ou formas psíquicas presentes no inconsciente coletivo, encontram representação nos três pomos ligados ao mito de Atalanta, sendo forças que atuam no modo de pensar, ser e agir da mulher, modificando seus estados de consciência : Pomo 1: Consciência do Tempo que Passa No princípio da corrida, Hipómenes lançou o primeiro pomo de ouro no caminho de Atalanta, que se sentiu atraída pelo seu brilho e abrandou o passo para apanhá-lo. Hipómenes ultrapassou-a enquanto ela, encantada, observava o pomo que apanhara. Viu-se refletida nele, com o rosto distorcido pelas curvas do fruto e pensou: “Terei este aspecto quando envelhecer”. Muitas mulheres ativas não têm consciência da passagem do tempo até a meia- idade, quando os desafios da competição e a busca frenética por resultados se dissipam. Nesse momento, propõe-se à mulher contemporânea que ela perceba que não será eternamente jovem e que reflita sobre o caminho a sua qualidade de vida. 7 Bolen, Jean Shinoda. “As Deusas em cada Mulher”, Planeta Editora. Disponível em http://sutseg.blogspot.com Pomo 2: Consciência da Importância do Amor A seguir, Hipómenes lançou o segundo pomo. Atalanta, que tinha se concentrado de novo na corrida e ultrapassado Hipómenes sem esforço, parou para apanhar o segundo pomo de ouro de Afrodite. Foi tomada por recordações de Meléagro, o amante desaparecido. Afrodite provocou nela um profundo desejo de intimidade física e emocional. Quando este desejo se combina com a consciência da passagem do tempo, uma nova receptividade ao amor e à intimidade pode levar a mulher contemporânea a valorizar as relações de afeto e emoção. Pomo 3: Instinto de Procriação e Criatividade Já se via a linha de chegada quando Atalanta alcançou Hipómenes novamente. Estava prestes a ultrapassá-lo e a ganhar a corrida quando ele lançou o terceiro pomo de ouro. Atalanta hesitou meio segundo: deveria passar a linha e ganhar a corrida ou apanhar o pomo e perder? Optou por apanhá-lo no momento exato em que Hipómenes atravessava a linha, ganhando a corrida e conquistando a mão de Atalanta em casamento. O instinto de procriação de Afrodite (ajudada por Deméter) faz abrandar o passo de muitas mulheres ativas e orientadas para objetivos, na passagem dos trinta para os quarenta anos. Mulheres concentradas numa carreira são muitas vezes apanhadas desprevenidas pelo desejo urgente e irresistível de ter filhos. Este terceiro pomo de ouro também pode representar algo mais que a fertilidade biológica. Depois da meia-idade, a realização pode tornar-se menos importante. Em contrapartida, a criatividade simbolizada por Afrodite dirige-se para a transformação da experiência em qualquer forma de expressão pessoal. Segundo França (2000), o perfil da mulher moderna e independente, autônoma, sempre existiu. Ela apareceu na Grécia, em Roma, na Idade Média. Só que não era um personagem dominante. Ela estava escondida. O movimento feminista no século XX trouxe este personagem de volta. Nesse sentido, pode se falar de um “mito” da mulher moderna. Este perfil surgiu após a Segunda Guerra Mundial quando a mulher começou a se inserir em mercado de trabalho. Na prática, o mito da mulher moderna consisteem ela se tornar independente, auto-suficiente, sendo mãe, dona de casa e acumulando várias funções, ou seja, uma “supermulher”. A proposta expressiva de valor da marca ATHALANTA, desenvolvida para este trabalho, envolve convidar a mulher contemporânea a descobrir qual é a sua história, o que a realiza realmente, recuperando a dimensão feminina, em detrimentos de valores competitivos, e partindo para a cooperação. A ênfase está no equilíbrio entre vida pessoal e profissional, entre trabalho e prazer. A questão não está na quantidade do tempo, mas na qualidade. FIGURA 1 – Marca Athalanta Fonte: desenvolvida pelos autores. ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DA MARCA ATHALANTA Por se tratar da proposição de uma marca nova no mercado regional, envolvendo o lançando de uma coleção de roupas, adotou-se como estratégia de campanha o foco no produto, evidenciando diferenciais ligados a valores e estímulos emocionais para criar vínculos com a consumidora-alvo. Optou-se pelo desenvolvimento de ações na internet e nas mídias sociais pela facilidade de acesso ao público e pela possibilidade de fornecer conteúdos que estejam ligados ao universo deste e sejam por ele valorizados. Principais ações Desenvolvimento de um catálogo de moda online centrado nos valores representados no mito de Atalanta, utilizando-se como modelo uma personalidade reconhecida na região que personifica esta mulher que é mãe profissional, que sabe equilibrar as dimensões racionais e emocionais em sua vida. O catálogo completo está disponível através do link: Catálogo fotográfico Athalanta (clique em cima do link com o botão direito do mouse e escolha abrir link). FIGURA 2 – Imagens do Catálogo Fotográfico Fonte: desenvolvido pelos autores FIGURA 3 – Imagens do Catálogo Fotográfico Fonte: desenvolvido pelos autores Criação de plataformas digitais para interação com as consumidoras-alvo – Blog e página da marca ATHALANTA no facebook – enriquecendo a experiência da comunicação, com um baixo investimento. O blog criado está disponível através do link: escritório da moda (clique em cima do link com o botão direito do mouse e escolha abrir link). FIGURA 3 – Blog da marca Athalanta Fonte: desenvolvido pelos autores Produção de um vídeo ilustrativo do catálogo, disponível através do link: Vídeo Catálogo Athalanta (clique em cima do link com o botão direito do mouse e escolha abrir link). E registro do Making-Of do processo de produção, disponível através do link: Making of Athalanta (clique em cima do link com o botão direito do mouse e escolha abrir link). CONSIDERAÇÕES FINAIS Sendo o catálogo fotográfico de moda uma forma de registro histórico da cultura e comportamento feminino contemporâneo, sua “alma” precisa revelar mais do que simplesmente os atributos estéticos da mulher. Há fortes indícios de que a consumidora de moda não compra produtos, mas sim emoções, sentimentos e valores que a marca a marca evoca. A proposta da marca ATHALANTA é destacar a dimensão feminina e sensível da mulher contemporânea, muitas vezes “sufocada” por uma visão estereotipada da “supermulher” e da profissional altamente competitiva no mercado de trabalho. A marca propõe, portanto, o resgate de valores ligados à elegância, feminilidade, auto-realização e bem-estar que estão perdendo espaço no mundo de hoje para a imagem de uma mulher agressiva, masculinizada, desprovida de emoções. A realização do ensaio fotográfico proporcionou aos autores a prática das técnicas aprendidas nas disciplinas de Atendimento Publicitário e Fotografia. Destacam-se o planejamento de todos os processos de produção, a partir de um briefing, e as escolhas quanto à iluminação (medição, efeitos luz e sombra) e ao uso de lentes adequadas a cada circunstância, na composição e direção, tanto em locações externas e de estúdio. As vivências obtidas nas etapas de pré e pós- produção demonstraram a necessidade e importância do planejamento para a eficácia de resultados. Já as pesquisas para fundamentação do processo de desenvolvimento destes produtos midiáticos veio do estudo das teorias de comportamento do consumidor, da consideração de que o consumidor precisa ser compreendido em suas dimensões concretas e simbólicas, percebendo-se suas características demográficas, socioculturais e psicográficas. No que diz respeito à disciplina Laboratório de Internet, ela permitiu que se encontrasse o melhor contexto para veiculação do trabalho realizado, demonstrando que o ambiente digital é hoje um dos principais ambientes de negócios junto ao universo feminino de consumo, demandando planejamento adequado e estratégias coerentes de comunicação. Por fim, através da metodologia de projetos proposta na disciplina Projeto Integrador Multidisciplinar foi possível compreender que investir na devida divulgação de um projeto acadêmico é tão importante quanto planejá-lo e desenvolvê-lo. Compartilhando conhecimentos adquiridos e resultados obtidos, como os autores fizeram por meio deste artigo, demonstra-se um verdadeiro “espírito” científico, contribuindo-se para a ampliação do conhecimento acumulado nas áreas de comunicação e marketing. A partir dos resultados obtidos neste trabalho, abrem-se novas linhas de pesquisa e de experimentação prática que estimulam um aprendizado contextualizado na realidade sócio-cultural e econômica vigente, bem como ampliam os horizontes de todos os envolvidos, consolidando a valorização do conhecimento acadêmico produzido coletivamente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AL-ASSAL, Paulo. O que as marcas e a propaganda precisam saber sobre a mulher contemporânea. Disponível em: http://www.santanderempreendedor.com.br. Acesso em: 12/03/2010. ALMANAQUE DA FOLHA. Disponível em: http://almanaque.folha.uol.com.br/anos40.htm. Acesso em: 18/02/2011. A MODA NA PUBLICIDADE: apresentações com estilo e o estilo nas apresentações. Disponível em: http://bocc.ubi.pt. Acesso em: 18/02/2011. ANDION, Maria Carolina; Fava, Rubens.Planejamento Estratégico. Disponível em: http://www.fae.edu/publicacoes/pdf/empresarial/3.pdf. Acesso em: 11/05/2011. BOLEN, Jean Shinoda. As Deusas em cada Mulher. Planeta Editora. 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