Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Elementos do Direito Penal Aula 04 Romulo Quenehen 2 TEORIA DO CRIME Crime: Fato Típico, Ilícito e Culpável O finalismo tripartido é majoritariamente a teoria admitida em nosso ordenamento. Se imaginarmos uma escada, o fato típico é o primeiro degrau. Esse critério se funda nos elementos que compõem a estrutura do crime. 3.7.1. Fato Típico (art. 13 ao 19 do CP) O comportamento típico tem relação com a conduta que implica um ato ou omissão que se encaixa nos pressupostos estabelecidos como um crime ou contravenção penal dentro de um código jurídico. Qualquer comportamento humano que não esteja previsto como crime na lei é considerado atípico. O fato típico é o 1º elemento do crime, resume-se em um fato material que se amolda a um tipo penal. O fato típico possui três elementos: conduta (dolosa ou culposa, omissiva ou comissiva), resultado (apenas nos crimes materiais), nexo causal (apenas nos crimes materiais). Esses três elementos estão presentes nos crimes materiais consumados. Nos crimes formais de mera conduta, prescinde-se do nexo causal e do resultado. a) Conduta É todo comportamento humano, positivo ou negativo (ação ou omissão; crime comissivo ou crime omissivo), consciente e voluntário, doloso ou culposo, dirigido a uma finalidade. Duas são as principais teorias que explicam a conduta: a teoria causalista e a finalista. Para a teoria causalista ou naturalística (Liszt Beling), o dolo e a culpa não estão na conduta, e, sim, na culpabilidade. O fato típico dá causa ao resultado, independente de dolo ou culpa na conduta do agente. Leva-se em consideração meramente a relação de causa e efeito. Deve-se analisar se o agente foi o 3 causador do resultado, se praticou a conduta descrita em lei como crime, e não se analisa o conteúdo da conduta, a intenção do agente na ação. A teoria finalista (Welzel) defende que a conduta é um comportamento humano, voluntário e consciente, dirigido a uma determinada finalidade. Para essa teoria, diferente do que ocorre com a teoria causalista, o dolo e a culpa estão dentro do tipo. No Brasil, prevalece o Finalista Tripartido. Excludente da Ilicitude da Conduta: apontam-se as seguintes hipóteses como de exclusão da ilicitude da conduta: Atos reflexos – involuntários Sonambulismo e hipnose – consciência Caso fortuito – vontade Força maior – vontade Coação física irresistível - não age com vontade Estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito Aplicação do princípio da insignificância. b) Resultado O resultado é a consequência provocada pela conduta do agente, e pode ser jurídico ou naturalístico. O resultado jurídico, ou normativo, é a lesão ou exposição a perigo de lesão do bem jurídico protegido pela lei penal. Constitui, simplesmente, a violação da lei penal, mediante a agressão do valor ou interesse por ela tutelado. Exemplo: no roubo, o interesse tutelado é o patrimônio; no homicídio, a vida. Os crimes são classificados em: dano e perigo (basta o risco). Exemplos de crimes de perigo e crimes de dano: Crimes de perigo: periclitação da vida ou saúde (art. 132, CP); incêndio. Crimes de dano: homicídio (art. 121, CP); roubo (art. 157, CP). O resultado naturalístico, ou material, é a modificação do mundo exterior provocada pela conduta do agente. São classificados em crimes materiais, formais e de mera conduta. Exemplos desses tipos de crime: 4 Crimes materiais: com resultado naturalístico – homicídio (art. 121, CP) e furto (art. 155, CP). Crimes formais: sem resultado naturalístico – extorsão mediante sequestro (art. 159, CP); concussão (art. 316, CP). Crimes de mera conduta: sem resultado naturalístico – ato obsceno (art. 233, CP); violação de domicílio (art. 150, CP). Em síntese, não há crime sem resultado jurídico (normativo), entretanto é possível crime sem resultado naturalístico. Conforme vimos nos exemplos, pode ocorrer nos crimes formais e de mera conduta. c) Nexo Causal (artigo 13, CP) Se, a partir da conduta praticada pelo agente, ocorre um resultado, e, se o resultado for derivado da conduta, teremos o nexo causal. É o elo que une a “conduta” ao “resultado”. Somente os crimes materiais possuem nexo causal. O Código Penal brasileiro adotou, como regra, a teoria da “conditio sine qua non”, a qual defende que causa é tudo aquilo sem o que o resultado não ocorreria. d) Tipicidade Corresponde ao enquadramento do “fato” à “norma”. Exemplo: “Pedro” atirou em “Bruno”. “Bruno” morreu. O fato se amolda ao art. 121 do CP. Ilicitude ou Antijuridicidade (art. 23 ao 25, CP) A Ilicitude, ou antijuridicidade, corresponde à contradição entre a conduta do agente e as normas jurídicas. O fato típico presume-se antijurídico até que se verifique a existência de alguma causa excludente da ilicitude. Não há crime quando o agente pratica o fato em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. 5 a) Causas excludentes da ilicitude (eximentes, justificantes, descriminantes) (art. 23, CP) Caso esteja presente uma excludente da ilicitude, estará excluída a infração penal. As excludentes mais importantes estão previstas no art. 23 do Código Penal: Estado de Necessidade (próprio e de terceiro) Legítima Defesa Estrito Cumprimento de Dever Legal Exercício Regular de Direito Culpabilidade (art. 21, 22, 26, 27, 28 do CP) Segundo o doutrinador Cleber Masson, culpabilidade é o juízo de censura que incide sobre a exteriorização da vontade do responsável por um fato típico. Trata-se de um pressuposto para aplicação da pena. Se adotada a concepção bipartida (crime enquanto fato típico e antijurídico), não integra o conceito de crime, estando fora de sua estrutura básica. Se adotada a concepção tripartida (fato típico, antijuridicidade e culpabilidade), integra o conceito de crime. a) Elementos/requisitos que integram a culpabilidade (art. 21, 22, 26, 27, 28 do CP). Os elementos que integram a culpabilidade são: imputabilidade: é a condição ou qualidade que possui o agente de sofrer a aplicação de pena; potencial consciência da ilicitude: o agente tinha a possibilidade de atingir o entendimento sobre o caráter criminoso da conduta que perpetrava; exigibilidade de conduta diversa: só há reprovabilidade se o agente pudesse agir de outra forma, mas optou conscientemente por praticar a ação penal. 6 Os elementos acima são cumulativos. Se algum deles estiver ausente, não se poderá impor pena ao agente. b) Elementos excludentes da culpabilidade (art. 21, 22, 26, 27, 28 do CP). As causas excludentes de imputabilidade acham-se nos artigos 26, 27 e 28 do CP. A causa excludente da potencial consciência da ilicitude está no art. 21, CP. E as causas excludentes da exigibilidade de conduta diversa encontram- se no art. 22, CP. As causas de exclusão da culpabilidade podem ser sintetizadas da seguinte forma: Imputabilidade: doença mental; doença mental retardado; doença mental incompleto; embriaguez acidental completa. Potencial consciência da ilicitude: erro de proibição inevitável (ou escusável). Exigibilidade de conduta diversa: coação moral irresistível; obediência hierárquica à ordem não manifestamente ilegal. Atenção: A coação moral (exclui a culpabilidade); a coação física (exclui o fato típico) e a obediência hierárquica se ilegal (exclui a culpabilidade art. 22) e se legal (exclui a ilicitude art. 23, III). Erro de Tipo, Erro de Proibição e Descriminante Putativa Erro é um juízo falso, um desacerto ou engano em relação a alguma coisa. Em direito penal, sobressaem-se duas espécies de erro: erro de tipo (art. 20, CP) e erro de proibição (art. 21, CP). A diferença entre erro de tipo e erro de proibiçãoestá na percepção da realidade. No erro de tipo, o agente não sabe o que faz, tem uma visão distorcida da realidade. Já no erro de proibição, a pessoa sabe o que faz, existe um perfeito juízo sobre tudo o que está se passando, mas há uma apreciação equivocada sobre a antijuridicidade. 7 No erro de tipo, o agente acredita que sua realidade está perfeita. Esse erro exclui o dolo e a culpa e o agente pode ser absolvido por excludente de tipicidade. No erro de proibição, o agente acredita que sua conduta não é crime. Esse erro exclui a pena. O exemplo clássico de erro de proibição é o caso dos dois irmãos que se casam supondo a inexistência de impedimento legal; caso eles desconhecessem o parentesco, estar-se-ia diante do erro de tipo. Na descriminante putativa, o agente supõe agir licitamente ao acreditar que estão presentes os requisitos de exclusão de ilicitude prevista em lei (art. 23, CP). Ou seja, ele acredita estar amparado pelo estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de direito. Referências BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. v. 1. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 2015. GRECO, Rogério. Curso de direito penal. v. I. 18 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016.
Compartilhar