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Abortamento · Definição - Pela OMS e pela FIGO é a expulsão ou a extração de concepto pesando menos de 500g, ou com menos 22 semanas (20) de gestação completas (154 dias). Pode ser espontâneo (sem causa aparente) ou provocado. · Incidência - A gravidez humana é processo deficiente porque 70% das concepções deixam de atingir (interrupção) a vitabilidade, com taxa de perdas de 50% antes da próxima falha menstrual (abortamento sub-clínico). Do ponto de vista clínico (gravidez diagnosticada pelo BHcG sanguíneo ou US) 15 a 20% das gravidezes terminam espontaneamente no 1º trimestre ou no início do 2º (<15sem) (abortamento clínico). · Etiologia - A grande maioria dos casos de abortamento espontâneo esporádico é determinada por cromossomopatias (50 a 60% dos casos). - A trissomia do 16 é a mais comum responsável por 30% dos casos de cariopatias. - As triploidias 69XXY 69XXX e a síndrome de Turner (monossomia X) cada uma delas com 10% dos casos. - Em natimortos de 5-12% apresentam defeitos cromossomiais, e os mais frequentes são as trissomias 21, 18 e 13. - Qualquer doença grave materna , traumatismo ou infecções, podem levar ao abortamento. As intoxicações somente o provocam depois de lesar inteiramente o organismo da mãe. - Patogenicamente o 1º evento que leva ao sangramento é a hemorragia na decídua basal, com posterior necrose tecidual: atua como foco irritante que estimula as contrações miometriais que levam a maior descolamento placentário Doença: tireóide, diabetes podem causar abortamento Aborto: hemorragia da decídua basal, forma um hematoma que é irritante e o útero contrai. · Ultra-som e diagnóstico do abortamento: - O uso do ultra-som trans-vaginal revolucionou o diagnóstico e o tratamento da gravidez inicial: - O saco gestacional é visualizado com 4,5 sem com 2 a 4 mm e cresce 1mm por dia. - O comprimento cabeça nádega: se desenvolve até 5mm=perda de 7,2%, se atingir 6-10mm=perda 3,3% e se atingir mais que 10mm=perda cai para 0,5%. - A vesícula vitelínica é a primeira estrutura a ser visualizada no saco gestacional antes mesmo do embrião, no início da 5ª sem. - BCF ou atividade cardíaca é a primeira prova da vitabilidade (5 s), a bradicardia fetal <85 bat/min entre 6 e 8 s = 100% de perda. - Hematoma intra uterino é área anecoica em forma de crescente entre a membrana coriônica e o miométrio. - Na gravidez inicial não ocorre fluxo sanguineo interviloso até o fim do 1º trimestre (10sem), na área central da placenta, vez que nas regiões periféricas há fluxo interviloso na gravidez normal de 8-9sem. A presença de fluxo interviloso (intraplacentário) prematuro ao doppler colorido antes de 10 sem o risco de abortamento será 4x > - Tratamento: pode dar progesterona, buscopan, mas para o abortamento não tem tratamento, nem repouso. Mas não se deve falar isso para a paciente. - Quando o trofoblasto invade endométrio e miométrio, ele invade as arteríolas e impede o fluxo placentário. No caso de abortamento, a invasão do trofoblasto é superficial, permitindo que o sangue da mãe invada o espaço interviloso. · Causas uterinas · Síndrome de Asherman · Miomas uterinos · Incompetência istmo cervical: 10 a 20% dos abortamentos de repetição. · Malformações uterinas. · Causa autoimunes : anticorpos antifosfolipidicos (anticoagulante lúpico e anticardiolipina): RCIU, DHEG, DPP, Prematuridade Síndrome de Asherman: quando faz muita curetagem, o útero gruda suas paredes. Tem que curetar de novo, ou fazer histeroscopia pra soltar e colocar um DIU para não colar de novo, e fazer ciclo artificial para o endométrio crescer de novo. · Drogas e agentes nocivos · tabagismo, +que 10 cigarros/dia · Álcool · Cafeina, pelo menos 500mg/dia · trauma · Formas Clínicas: Ameaça de abortamento: - É a gravidez clinicamente possível com sangramento vaginal de origem intra uterina, decorrente em geral de hematoma sub-coriônico após descolamento parcial da placenta. - Quadro clínico: dor em cólicas, colo fechado, metrorragia (nem sua quantidade ou aspecto permitem o diagnóstico diferencial ou prognóstico). Consideram-se os mais sérios os sangramentos precoces, de longa duração, escuros tipo “borra de café “. Tratamento: repouso e progesterona para relaxar o útero, anti espasmódico também. O tipo de sangramento não importa, e nem a quantidade. · Formas clínicas: Abortamento inevitável: - O quadro clínico é estabelecido quando o sangramento ocorre através do orifício interno do colo dilatado, especialmente se acompanhado de líquido amniótico após a rotura das membranas. Sangramento vivo com cólicas médias e ritmadas, colo uterino entreaberto. Inevitável: já perdeu Já esta perdendo líquido amniótico, ou esta saindo membrana. No US não tem mais embrião viável · Formas clínicas: Abortamento completo: - Quadro clínico com pouca ou diminuta hemorragia, dores discretas, eliminado concepto e anexos (ovo), colo entreaberto após a expulsão e fechado a seguir. - O diagnóstico ultra-sonográfico é aceito se a espessura endometrial for < 15mm. Tratamento: geralmente evoluem sem necessidade de esvaziamento cirúrgico. Expulsa sozinho · Formas clínicas: abortamento incompleto: - Significa que alguma parte do concepto ou da placenta foi expulso mas não na totalidade. - Quadro clínico com sangramento abundante, cólicas médias ou intensas, colo entreaberto. O sangramento não cessa e ocorre porque os restos impedem a contração uterina adequada. - São os mais propensos a infecção = abortamento infectado. - A USG =qualquer espessura endometrial ou tecido heterogêneo distorcendo o eco médio. Inevitável, sai o concepto, um pedaço da placenta, não para de sangrar e tem restos da gravidez. No US o endométrio está grande e com resto ovular Esse tecido que fica lá dentro é propensa à infecção, então tem que limpar, com curetagem ou aspiração · Tratamento do abortamento incompleto - Depende da idade da gravidez: - Até 16 sem: dilatação seguida de aspiração à vácuo ou curetagem. - Após 17 sem é alto o risco de perfuração pelas paredes finas=indução com ocitocina ou misoprostol (satisfatório em 70-95% dos casos) a seguir curetagem ou aspiração se houver retenção de anexos. AMIU: aspiração manual intra uterina. Chupa o que tem dentro do útero pelo vácuo. Após 17 semanas: pode perfurar as paredes do útero e introduzir coisas para dentro da parede. Ocitocina aumenta contrações. Misoprostol é um cytotec · Formas clínicas: Abortamento retido - Revela morte fetal precoce (antes de 20 sem) sem sangramento vaginal. O exame pélvico e o US fazem o diagnóstico. -O ovo anembrionado ou cego é o abortamento retido no qual não se identifica vesícula vitelínica, embrião ou bcf ao US trans-vaginal a partir de 6 sem de gravidez. - Após a morte do concepto, segue-se a expulsão em prazo não maior que 3 a 4 sem, passando desse tempo configura-se o abortamento retido. - Nas retenções prolongadas do ovo são 2 as complicações mais temíveis as coagulopatias e as infecções US: feto morto Ovo cego: tem todas as estruturas menos o feto Não se espera essas 4 semanas, porque pode dar infecção, é um tecido morto que está lá dentro · Tratamento do abortamento retido Antes de intervir fazer estudo hematológico com hemograma, coagulograma e fibrinogênio. Misoprostol (Cytotec) 800ug via vaginal (4cp = cada um tem 200ug), repetido após 24hs e se necessário esvaziamento cirurgico. · Formas clínicas: Abortamento infectado: - Pequena hemorragia misturada a fragmentos do ovo e corrimento, com dores intensas e contínuas, colo entreaberto, útero de consistência amolecida e mobilidade reduzida, acompanhado de febre e sinais de infecção (Blumberg+). Geralmente precedido de um abortamento incompleto ou quase sempre após interrupção provocada em más condições técnicas como introdução de sondas, hastes de laminárias ou manipulação instrumental. - Os germes são os existentes na flora normal genital e dos intestinos (cocos anaeróbios, E.coli, bacterioides, Clostridium perfringens ou Welchii) Um abortamento incompleto ou retido que se contamina Infecção ascendenteque vai para dentro da barriga e de anexos · Quadro clínico: É em 3 formas: · Tipo 1: mais comum com a infecção limitada ao conteúdo da cavidade uterina, febre pouco acima de 38°C, bom estado geral, sem sinais de irritação peritonial com toque vaginal e palpação bem tolerados, hemorragia escassa. · Tipo 2: em função da virulência do germe e do terreno, a infecção progride, agora localizada em todo o miométrio, paramétrio, anexos e compromete o peritônio pélvico. Temp em torno 39°C , paciente taquicárdica, desidratada, parestesia intestinal e anemia. Sinais de peritonite pélvica, o exame pélvico é praticamente impossível pela dor, útero amolecido colo entreaberto eliminando secreção fétida. · Tipo 3: Forma extremamente grave, é a infecção generalizada, com peritonite, septicemia e choque séptico, geralmente decorrente do acometimento por gram negativos (E.coli) e menos comumente pelo Clostridium que piora muito o prognóstico. Pulso rápido filiforme, hipotensão, desidratação acentuada, anemia. Podendo ocorrer endocardite, miocardite e subsequente falência do órgão. · Tratamento do abortamento infectado: 1)-Antibioticoterapia de largo espectro com anaerobicida (Clindamicina 800-900mg EV 8/8hs ou Metronidazol 0,5 – 1g de 6/6hs EV) associado a um aminoglicosídeo Gentamicina 1,5mg/Kg de peso EV 8/8hs. 2)-Ocitócicos: ocitocina, derivados ergóticos. 3)-Sangue, solutos glicosados, salinos isotônicos, Ringer c/lactato, em função da anemia, desidratação da depleção de eletrólitos. 4)-Clostridium = apressar o esvaziamento do útero se necessário TAH c/ anexectomia bil, de nada vale a curetagem. 5)-Tratamento do choque. 6)-Os abscessos serão drenados pelo fundo de saco posterior ou pela via alta dependendo da sua localização, feita pela USG. · Formas Clínicas: Abortamento habitual: - É definido como 2 ou 3 interrupções sucessivas da gravidez, ocorrendo em 1% das mulheres em idade reprodutiva. - Apenas em 50% das vezes se encontra etiologia definida: fatores genéticos 2- 4% (um dos parceiros tem defeito estrutural cromossomial balanceada), insuficiência luteínica (progesterona <10ng/ml), Causas endócrinas como hipotireoidismo, diabetes. Anticorpos antifosfolípides como no lúpus de 3 a 15% . Mal -formações uterinas 10 a 15% das mulheres com abortamento habitual precoce. Abortamento habitual: diagnóstico além da história e do exame físico a propedêutica utilizada é feita fora da gravidez. · Ultra-sonografia 3D. · Histerossalpingografia. · Hemograma completo e coagulogama. · Biópsia de endométrio (24° - 26°dias do ciclo). · Detecção do lupo anticoagulante e dosagem de anticardiolipina (significativo quando IgG>20) se positivo tratar com heparina e aspirina em baixa dosagem. · Investigação genética do casal. Nas anomalias uterinas, o útero é menor · Formas clínicas: Incompetência istmo cervical: É a falência do sistema oclusivo da matriz, de tal modo que a cérvice não se mantém fechada, tornando-se incapaz de manter o produto da concepção até o final da gravidez. Incidência 1/1000 partos. Ausência de hemorragia, dores discretas ou ausentes, ausência de febre, útero com volume proporcional a idade da gravidez, colo curto, dilatado e às vezes com as membranas deiscentes. · A interrupção da gravidez se dá por um ou mais dos seguintes mecanismos A dilatação istmocervical estimula diretamente as contrações uterinas. Ficam as membranas sem anteparo, constituindo a bolsa das águas, o que facilita a sua ruptura. O contato do ovo com a cavidade vaginal leva a contaminação das membranas, fator de amniorrexe e de infecção amniótica. As conizações cirúrgicas , a Laser ou CAF tão usadas para tratamento das NIC podem estar ligadas a etiologia de alguns abortamentos e partos pré termo, determinando incompetência istmo cervical. · Diagnóstico: antes e durante a gravidez Anamnese: antecedentes de amputações altas do colo, dilatações rudes para curetagens, partos trabalhosos e fórceps, passa facilmente a Vela de Hegar nº 6 ou maior. Histerografia na fase pré menstrual, é considerado incompetente canal de espessura > 1cm. Histeroscopia fecha o diagnóstico. Durante a gravidez: colo pérvio ao toque, mas o que faz o diagnóstico é pela USG com o comprimento do colo e herniação do saco gestacional. Vela de Hegar: dilata o colo para fazer curetagem Colo pérvio ao toque. · Tratamento: fora da gravidez e durante ela · Fora da gravidez é a operação de Lash. · Durante a gravidez: feito em torno de 14sem, o colo não deve estar completamente apagado, a dilatação inferior a 3cm e as membranas sem abaulamento considerável. Operação de Shirodkar foi a pioneira hoje a mais usada é a técnica de Mac Donald = sutura em bolsa ao nível da junção cervico-vaginal com fio de mersilene nº 3. Quando a cérvice está muito curta ou amputada ou diltação superior a 4cm usa-se a técnica de Benson que só de ser realizada por cirurgião experimentado devido sua complexidade e alto risco. Operação de Lash: estrangula o colo Pontos chave: 1. O abortamento espontâneo ocorre em 10-15% de todas as gestações reconhecidas clinicamente. 2. As cromossomopatias são responsáveis por 50-60% dos abortamentos espontâneos do 1º trimestre. A trissomia 16 é a mais comum. 3. Mulheres com abortamento de repetição devem ser testadas para anticorpos lupo anticoagulante e anticardiolipina, afirmativo o diagnóstico da síndrome anticorpo antifosfolipidico o tratamento na gravidez será heparina e aspirina em baixa dosagem. 4. É controversa a associação entre defeito na fase luteínica e perda habitual da gravidez. Se o diagnóstico for aventado deve ser confirmado pela biópsia de endométrio. 5. O suporte na fase lútea com progesterona não está provado ser proveitoso. 6. Casais com abortamento de repetição devem ser rastreados para anomalias cromossomiais balanceadas. 7. Mulheres com abortamento habitual e útero septado deverão sofrer ressecção histeroscópica do septo. 8. Em cerca de 50% das vezes não se consegue identificar qualquer causa para o abortamento habitual. 9. Mulheres com abortamento habitual de causa ignorada devem ser aconselhadas no sentido de que a probabilidade de gravidez normal, sem qualquer tratamento, é da ordem de 60-70%. 10. A incompetência istmo cervical é uma das principais causas de abortamento tardio ou de parto pré termo habitual (interrupção a partir de 16 sem). O tratamento padrão é a cerclagem do colo uterino pela técnica de Mac Donald, realizada com 14 sem de gravidez. [Type text] [Type text] [Type text] 1 Carolina Folini
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