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1 2 EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA MÓDULO II INTRODUÇÃO O Curso de “Educação Especial Inclusiva” visa aprofundar os conhecimentos e compreender que a educação especial está inserida na escola regular transformando a escola em um espaço para todos. Ela favorece a diversidade na medida em que considera que todos os alunos podem ter necessidades especiais em algum momento de sua vida escolar. Portanto, a opção por este tipo de Educação não significa negar as dificuldades dos estudantes. Pelo contrário. Com a inclusão, as diferenças não são vistas como problemas, mas sim uma realidade social, que pode ampliar a visão de mundo e desenvolver oportunidades de convivência a todas as crianças. Apresentando aos educadores, procedimentos e estratégias que possibilitem desenvolver uma prática pedagógica inclusiva nos ambientes da escola, principalmente na sala de aula. Este curso oferece através de um diversificado material, os métodos e práticas direcionadas a educação especial inclusiva; abrangendo as concepções relacionadas ao convívio social e estruturação de atendimento e suporte para efetivar a educação das pessoas com deficiência. Conforme, Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva; tem-se o objetivo de garantir o atendimento educacional a todo o aluno, independente de suas potencialidades e/ou necessidades. É neste documento que está proposto o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, os transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação em escolas comuns, sem nenhuma restrição. Conforme diretrizes nacionais – LDB 3 deixa bem específico que incluir é lei. Recusar um aluno com deficiência, segundo a lei federal 7.853, de 24/10/89, em seu art.8, caracteriza-se crime. De acordo com Decreto 3.298/99 da política nacional para integração dos portadores de deficiência estabelece: a matrícula compulsória de pessoas com deficiência, em cursos regulares, a consideração da educação especial como modalidade de educação escolar que permeia transversalmente todos os níveis e modalidades de ensino, a oferta obrigatória e gratuita da educação especial em estabelecimentos públicos de ensino, dentre outras medidas. Sistema de colaboração e cooperação nas relações sociais, formando uma rede de auto ajuda na escola; Estabelecimento de uma infraestrutura de serviços; Parceria com os pais; Ambientes educacionais flexíveis; Facilitação do acesso físico dos portadores de deficiência; Condições adequadas de trabalho para a equipe técnica dedicada ao projeto de inclusão; Fornecimento de informações apropriadas a respeito das dificuldades da criança, de seus processos de aprendizagem e de seu desenvolvimento social e individual aos professores da classe comum; Compreensão, por parte dos professores, da necessidade de ir além dos limites que as crianças se colocam, no sentido de levá-las a alcançar o máximo de suas potencialidades; Oferecimento de novas alternativas aos professores, no sentido de implementar formas mais adequadas de trabalho. 4 http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/31872 DO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO AO PROCESSO DE INCLUSÃO Para uma maior compreensão das polêmicas que envolvem a idéia dos processos de integração ao processo de inclusão, Mantoan (2003, p. 22) sugere importantes reflexões que podem favorecer uma melhor compreensão desses paradigmas educacionais. A discussão sobre integração e inclusão provoca dúvidas devido aos significados semelhantes, porém, ambos se referem às situações de inserção no ensino regular de maneiras diferentes e se divergem nos fundamentos teórico- metodológicos. Para iniciar a discussão ela faz o seguinte registro sobre o processo de integração escolar: Os movimentos em favor da integração de crianças com deficiência surgiu nos Países Nórdicos, em 1969, quando se questionaram as práticas sociais e escolares de segregação. Sua noção de base é o princípio de normalização, que não sendo específico da vida escolar, atinge o conjunto de manifestações e atividades humanas e todas as etapas da vida das pessoas, sejam elas afetadas ou não por uma incapacidade, dificuldade ou inadaptação. No processo de integração escolar o aluno participa das atividades escolares na sala de aula do ensino regular e também do ensino de escolas especiais. 5 Assim sendo, esse aluno transita no sistema escolar regular e especial, em todos os tipos de atendimento, ou seja, classes especiais em escolas comuns, ensino itinerante, sala de recursos, classes hospitalares, ensino domiciliar e outros. Neste sentido, o aluno é submetido a um processo parcial de inserção, pois o sistema segrega quando oferece serviços educacionais de forma diferenciada para alguns em lugares especiais, ou seja, a escola não muda como um todo, mas os alunos precisam se deslocar, e mudar para se adaptarem às exigências de um sistema que prima pela homogeneização e nivelamento da aprendizagem. Assim sendo, o processo de integração tem por objetivo inserir um aluno ou um grupo de alunos, que já foi anteriormente excluído. O sistema de integração na escola denota situações de seleção e discriminação, pois nem todos os alunos com deficiência cabem nas turmas de ensino regular. Há, infelizmente, resistências por parte de algumas escolas em aceitar a presença de pessoas que possuem características marcantes, sejam elas físicas ou mentais. E a situação é mais constrangedora, ainda, quando a escola nem se quer avalia as reais condições do aluno de participar das atividades cotidianas do espaço educativo. Considerando esta situação, percebe-se que a escola não muda, não avalia suas estruturas, não mexe no sistema que já se encontra enraizado em idéias inflexíveis e rigidamente registradas num modelo cultural que parece se apresentar resistente a mudanças. Em situações onde a integração escolar é o único caminho que a escola adota, concebe-se uma proposta de trabalho menos holística, pois os objetivos educacionais são reduzidos para compensar as dificuldades de aprendizagem, os currículos são adaptados e as avaliações são especiais limitando a capacidade de transgressão dos limites individuais, ou seja, é predeterminada a quantidade de conhecimentos que o aluno consiga prender. 6 Com base nesta afirmação, pode-se entender que num sistema de ensino no qual não se acredita na capacidade do ser humano de ser mais e de aprender sempre fica clara a situação de exclusão. A integração escolar pode ser entendida como o “especial na educação”, ou seja, a justaposição do ensino especial ao regular, ocasionando um inchaço, desta modalidade, pelo deslocamento de profissionais, recursos, métodos e técnicas da educação especial às escolas regulares. (MANTOAN, 2003, p. 23). A ideia acima revela que o objetivo da integração escolar se limita a inserir o aluno na escola regular sem mudanças e abolição dos serviços segregados da educação especial. Além disso, essa modalidade exige que o aluno é que se adapte às exigências do sistema que já encontra alojado. No caso da inclusão escolar, o tratamento das diferenças tem uma política de organização que se baseia no princípio da igualdade. Esta no sentido de favorecer o direito a ter direitos iguais. Pois a Constituição Federal prescreve no seu Art. 5º que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. O registro deste artigo é claro e objetivo no que se refere aos direitos de qualquer cidadão ter os mesmos direitos. 7 http://acessibilidadesaudeeinformacao.blogspot.com.br/2015/08/escola-inclusiva- melhora.html A ESCOLA INCLUSIVA Neste sentido, caberia a qualquer escola investir na organizaçãode seu sistema de ensino pautado na ideia de inclusão. Sobre a questão da inclusão escolar, Mantoan (2003) também sugere uma importante contribuição para as escolas brasileiras, no momento em que discute conceitos, alternativas de melhoria da qualidade do ensino e favorece um novo olhar sobre a questão da valorização das diferenças individuais no espaço da sala de aula e na escola. Ela enfatiza que para a escola ser inclusiva precisa partir de um bom projeto pedagógico que começa pela reflexão. Um bom projeto valoriza a cultura, a história e as experiências anteriores da turma. O processo de educação inclusiva exige de fato mudança de paradigma educacional. Exige que chegue ao fim a subdivisão do ensino especial e ensino regular. Pois é direito de qualquer pessoa, ocupar um espaço na escola pública, e ou, na sociedade, seja em qualquer tempo ou espaço, considerando as normativas instituídas em lei. A partir do momento que se instaura a educação inclusiva no meio educativo haverá obstáculos reais a serem transpostos, pois os impactos da inclusão numa cultura já instalada podem provocar insegurança, insatisfação, medo e aversão ao processo. Além disso, essa nova visão inclusiva de trabalho vai abalar a rotina da 8 massificação dos programas prontos e indiscutíveis e das classes especiais nas escolas que passarão a não existir mais. Assim sendo, todas as turmas da escola inclusiva se constituirão em espaços da diversidade. Espaço para as trocas culturais, para o respeito à capacidade de cada aluno para aprender dentro do seu tempo. Tais afirmações podem gerar insegurança e até mesmo descrédito de alguns professores que não acreditam neste modelo de educação. A educação inclusiva vai, com certeza, mexer com conceitos, paradigmas e culturais cristalizadas de que não é possível trabalhar na perspectiva da igualdade. Mitler (2003) apud Cláudia Werneck que salienta com propriedade a seguinte contribuição “Traga dúvidas e incertezas, doses de ansiedade, construa e desconstrua hipóteses, pois aí reside a base do pensamento científico do novo século. Um século cansado de verdades, mas sedento de caminhos.” Nessa reflexão presencia-se a emergência de mudanças, de posturas científicas e complexas. O sujeito dessa sociedade atual não pode mais conviver com verdades prontas e incontestáveis. É preciso caminhar para frente em busca de novas ideias e resolução para os problemas que afligem. A realidade atual requer mudança de antigos para novos paradigmas. A transição do processo de integração e inclusão passa por momentos de desafios, incertezas, conflitos, medos e acima de tudo insegurança de se lançar ao novo. Neste sentido, Mitler (2003) apud Morin (2000), que sugere com pertinência a seguinte ideia que poderia servir de relação com essa transição de processos: Estamos numa época em que temos um velho paradigma, um velho princípio que nos obriga a disjunta, a simplificar, a reduzir, a formalizar sem poder comunicar aquilo que está disjunto e sem poder conceber os conjuntos ou a complexidade do real. Estamos num período “entre dois mundos”: um que está prestes a morrer, mas que não morreu ainda, e outro, que quer nascer, mas que não nasceu ainda. Estamos numa grande confusão, 9 num desses períodos angustiantes, de nascimentos que se assemelham aos períodos de agonia, de mortes. A atualidade da era do conhecimento, da globalização e da complexidade imprime muitos desafios para a escola. Sem contar a questão da diversidade cultural que a cada dia evolui com as novas ideias, com as experiências e com as transformações que ocorrem na sociedade de maneira muito rápida. Toda essa mudança tende a provocar certa angústia nos professores que se sentem como se estivessem sempre defasados diante da sala de aula. Mantoan (2003) apud Mitler (2000), salienta que os professores do ensino regular se consideram despreparados e incompetentes para lidar com as diferenças nas salas de aula, especialmente, ao atendimento de alunos com deficiência, pois seus colegas especializados sempre se distinguiram por realizar unicamente esses atendimentos e exageraram essa capacidade de fazê-lo aos olhos de todos. De acordo com a autora pode-se analisar que há por parte dos professores certa insegurança para lidar com situações que fogem da normalidade da prática comum do cotidiano. O fato dos colegas especializados exagerar na excelência da sua prática acaba favorecendo aos professores da escola regular de ensino o sentimento de incompetência. Vale a pena lembrar que mesmo a partir de alguns acontecimentos como seminários e congressos destinados a discutir a educação inclusiva percebe- se que a prática da inclusão total e irrestrita é incipiente nas escolas regulares. Muitas tentativas de inclusão escolar se tornam experiências frustrantes devido a ações que não encontram novas alternativas de mudanças que favoreçam uma real educação inclusiva. A importância central em torno desta discussão está no fato de que a exclusão e a discriminação devem ser extintas da escola. Todos os alunos devem ter as mesmas chances de acesso aos conhecimentos e às atividades realizadas pela escola. É preciso que se reconheça que a igualdade é direito de todos. Que a inclusão é dever da escola e que os profissionais que 10 atuam no espaço educativo reconheçam que as diferenças existem e que elas devem ser incluídas dentro da escola para favorecer a riqueza da multiplicidade cultural e dos princípios éticos da valorização humana. A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PARA EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA Historicamente, a escola se caracterizou pela visão da educação que delimita a escolarização como privilégio de um grupo, de instituições especializadas, escolas especiais e classes especiais. Essa organização, fundamentada no conceito de uma exclusão que foi legitimada nas políticas e práticas educacionais reprodutoras da ordem social. A partir do processo de democratização da educação, evidencia-se o paradoxo inclusão/exclusão, quando os sistemas de ensino universalizam o acesso, mas continuam excluindo indivíduos e grupos considerados fora dos padrões homogeneizadores da escola. Assim, sob formas distintas, a exclusão tem apresentado características comuns nos processos de segregação e integração que pressupõem a seleção, naturalizando o fracasso escolar. A partir da visão dos direitos humanos e do conceito de cidadania fundamentado no reconhecimento das diferenças e na participação dos sujeitos, decorre uma identificação dos mecanismos e processos de hierarquização que operam na regulação e produção das desigualdades. Essa problematização explicita os processos normativos de distinção dos alunos em razão de características intelectuais, físicas, culturais, sociais e linguísticas, entre outras, estruturantes do modelo tradicional de educação escolar (BRASIL, 2008). Quanto à educação especial, esta se organizou tradicionalmente como atendimento educacional especializado substitutivo ao ensino comum, evidenciando diferentes compreensões, terminologias e modalidades que levaram à criação desenvolvimento”(BRASIL, 11 2008). Breve retrospectiva da educação especial no Brasil. Já comentamos que o atendimento brasileiro às pessoas com deficiência teve início na época do Império com a criação de duas instituições: Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Instituto dos Surdos Mudos, em 1857, atual Instituto Nacional da Educação dos Surdos – INES, ambos no Rio de Janeiro. No início do século XX, é fundado o Instituto Pestalozzi – 1926 –, instituição especializada no atendimento às pessoas com deficiência mental; em 1954, é fundada a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE; e, em 1945, é criado o primeiro atendimento educacional especializado às pessoas com superdotação na Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff2.Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com deficiência passa ser fundamentado pelas disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 4.024/61, que aponta o direito dos “excepcionais” à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de ensino. (1892-1974) Psicóloga e pedagoga russa que fixou residência no Brasil, a partir de 1929, a convite do governo do estado de Minas Gerais, no contexto da operacionalização da reforma de ensino conhecida como Reforma Francisco Campos - Mário Casassanta. Grande pesquisadora e educadora da criança portadora de deficiência, foi pioneira na introdução da educação especial no Brasil, onde fundou a primeira Sociedade Pestalozzi, iniciando o movimento pestalozziano brasileiro (CAMPOS, 2003). A Lei nº 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961, ao definir ‘tratamento especial’ para os alunos com “deficiências físicas, mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados”, não promove a organização de um sistema de ensino capaz de atender as necessidades educacionais especiais e acaba reforçando o encaminhamento dos alunos para as classes e escolas especiais. 12 Em 1973, é criado no MEC, o Centro Nacional de Educação Especial – CENESP –, responsável pela gerência da educação especial no Brasil, que, sob a égide integracionista, impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas com deficiência e às pessoas com superdotação; ainda configuradas por campanhas assistenciais e ações isoladas do Estado. Nesse período, não se efetiva uma política pública de acesso universal à educação, permanecendo a concepção de ‘políticas especiais’ para tratar da temática da educação de alunos com deficiência e, no que se refere aos alunos com superdotação, apesar do acesso ao ensino regular, não é organizado um atendimento especializado que considere as singularidades de aprendizagem desses alunos. Eis que com a promulgação da Constituição Cidadã de 1988, esta traz como um dos seus objetivos fundamentais, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º inciso IV). Define, no artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No seu artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola”, como um dos princípios para o ensino e, garante, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208). Em 1990, a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8069/90, reforça em seu artigo 55, os dispositivos legais supracitados, ao determinar que “os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”. Também, nessa década, documentos como a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994), passam a influenciar a formulação das políticas públicas da educação inclusiva. Em 1994, é publicada a Política Nacional de Educação Especial, orientando o processo de ‘integração instrucional’ que 13 condiciona o acesso às classes comuns do ensino regular àqueles que “(...) possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais” (BRASIL, 1994, p. 19). Ao reafirmar os pressupostos construídos a partir de padrões homogêneos de participação e aprendizagem, a Política não provoca uma reformulação das práticas educacionais de maneira que sejam valorizados os diferentes potenciais de aprendizagem no ensino comum, mantendo a responsabilidade da educação desses alunos exclusivamente no âmbito da educação especial. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências e; a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa escolar. Também define, dentre as normas para a organização da educação básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[...] oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames” (art. 37). Vamos nos centrar então na Política Nacional para Educação Especial e a seguir comentaremos sobre outras legislações que vieram embasar o preconizado por esta. 14 POLÍTICA NACIONAL PARA EDUCAÇÃO ESPECIAL A legislação passa necessariamente por uma política nacional, portanto, vamos nos situar para falar de políticas nacionais, na década de 1990, que caracterizou-se como um período de reformas, quer seja no âmbito do Estado ou na especificidade da área da Educação, considerada naquele contexto como campo privilegiado para a manutenção das relações sociais. Tais reformas atingem todos os setores da educação, dentre eles, a Educação Especial. Do ponto de vista da presença da Educação Especial no aparelho do Estado brasileiro, a Secretaria de Educação Especial – SESPE, extinta no Governo Fernando Collor de Mello, foi retomada pelo Governo Itamar Franco com a mesma denominação, mas de sigla SEESP (GARCIA; MICHELS, 2011). A Educação Especial tinha como orientação o documento intitulado Política Nacional de Educação Especial (1994), o qual apresentava como fundamentos a Constituição Federal (1988), a de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 4.024/61), o Plano Decenal de Educação para Todos (1993) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). A proposição política, naquele momento, tanto para a educação como para a Educação Especial, tinha como princípios a democracia, a liberdade e o respeito à dignidade. A Educação Especial, em meados dos anos 1990, orientava sua ação pedagógica por princípios específicos, quais sejam: Normalização (que pode ser considerada a base filosófico- ideológica da integração); Integração (que se refere a valores como igualdade, participação ativa, respeito a direitos e deveres); Individualização (que pressupõe a adequação do atendimento educacional a cada portador de necessidades educativas especiais, respeitando seu ritmo e características pessoais); Interdependência (envolve parcerias entre diferentes setores); 15 Construção do real (para atender as necessidades do alunado); Efetividade dos modelos de atendimento educacional (envolve três elementos: infraestrutura, hierarquia do poder e consenso político em torno das funções sociais e educativas); Ajuste econômico com a dimensão humana (valor que se deve atribuir à dignidade dos portadores de necessidades especiais como seres integrais); Legitimidade (participação direta ou indireta das pessoas portadoras de deficiência na formação de políticas públicas, planos e programas) (brasil, 1994). Até aqui, Garcia e Michels (2011) observam que o princípio da integração foi apresentado como organizador da política para a área. Por outro lado, 1994 também foi o ano de promulgação da Declaração de Salamanca que, segundo muitos intelectuais da área, substituiria o fundamento integracionista pelo inclusivista. Entretanto, como indica Bueno (2008), a introdução do termo inclusão em substituição à integração, no Brasil, está constituída de problemas em relação à tradução do referido documento. Segundo o autor, a primeira tradução impressa da Declaração de Salamanca, publicada pela Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – CORDE –, em 1994,assumia uma orientação integradora. Já em 2007, essa mesma coordenadoria altera essa tradução com a substituição de integração por inclusão, o que gera um dilema conceitual e de fundamentação de política (BUENO, 2008). Outro marco para a educação especial, também da década de 1990, já vista, é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB – nº 9394/96, que trouxe um capítulo específico com três artigos para tratar da Educação Especial. Nessa nova lei, o atendimento a alunos deficientes é dever do Estado e sua educação deve ser pública, gratuita e preferencialmente na rede regular de ensino. Porém, o que rege a lógica da obrigatoriedade do atendimento ao aluno com necessidades especiais ainda são as parcerias, como mostra documento da Secretaria de Educação Especial que afirma: “É 16 necessário ampliar o nível de participação social na implementação do atendimento, buscando-se todas as forças existentes na comunidade” (BRASIL, 1994, p. 29) Na LDB nº 9394/96, a Educação Especial está definida como modalidade de ensino destinada aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino. É indubitável o avanço da discussão sobre integração, porém, é importante destacar que o termo “preferencialmente” abre a possibilidade de que o ensino não ocorra na rede regular, mas que permaneça nas instituições especializadas. Além disso, a lei indica no Artigo 58, parágrafo 1º, que haverá, quando necessário, serviços especializados na escola regular, mas não há referência sobre quem define sua necessidade. No 2º parágrafo do mesmo artigo, está prescrito que as modalidades de atendimento foram da classe comum da rede regular serão aceitas quando, pelas condições específicas do aluno, a integração não for possível. Desta forma, criam-se instrumentos legais para manter alunos considerados com condições graves de deficiência em instituições especializadas. Muito pertinente o comentário de Garcia e Michels (2011, p.108) acerca da ambiguidade dessa reforma educacional nos anos 90. Vejamos: Se por um lado o Governo Federal traçou as políticas que objetivaram a integração das pessoas com necessidades especiais, por outro, delegou aos Estados, Municípios e às ONGs, as medidas que assegurariam tal política. De forma resumida, são objetivos da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: Acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; Transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; 17 Oferta do atendimento educacional especializado; Formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; Participação da família e da comunidade; Acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e, Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (brasil, 2008). Mas quem são mesmo esses alunos? Alunos com deficiência são aqueles que têm impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que em interação com diversas barreiras podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. Alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada criatividade, grande envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse. Dentre os transtornos funcionais específicos estão: dislexia, disortografia, disgrafia, discalcolia, transtorno de atenção e hiperatividade, entre outros. DIRETRIZES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL Em 1999, vimos surgir a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência/Decreto 3298 que estabeleceu a matrícula compulsória nos cursos regulares; a oferta obrigatória e gratuita da educação especial em 18 estabelecimentos públicos de ensino; a consideração da educação especial como modalidade de educação escolar, permeando todos os níveis e modalidades de ensino; dentre outras medidas. Em 2001, foi a vez do Plano Nacional de Educação, a Lei nº 10172, que estabeleceu objetivos e metas para a educação das pessoas com necessidades educacionais especiais (hoje já estamos no Plano para o decênio 2011-2020). Logo no início dos anos 2000, o Conselho Nacional de Educação – CNE – promulgou a resolução que institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001). Tal documento, com caráter de lei, passa a regulamentar os artigos presentes na LDB nº 9.394/96, que já instituía a Educação Especial como modalidade educacional, o Atendimento Especializado aos alunos com necessidades especiais na rede pública iniciando desde a educação infantil, ou na faixa etária entre zero e seis anos. Se a LDB nº 9.394/96 propôs um atendimento especializado, preferencialmente na rede regular, a Resolução CNE/CEB 2/2001, em seu artigo 7º indicou a educação de sujeitos com necessidades especiais na escola regular. Suprimiu-se o “preferencialmente” e foi acrescentada a noção segundo a qual os alunos da Educação Especial poderão, extraordinariamente, ser atendidos em classes ou escolas especiais. A mudança do texto legal – retirou-se o “preferencialmente” e acrescentou-se o “extraordinariamente” – manteve a histórica lógica dual integrado/segregado, modificando, contudo, sua intensidade (GARCIA; MICHELS, 2011). A Resolução CNE/CEB nº 2/2001 (BRASIL, 2001) ganhou importância por normatizar no Brasil as premissas inclusivas que estavam no debate internacional e, ao mesmo tempo, expressou o modo pelo qual a política nacional incorporou um conjunto de ideias que se firmaram como hegemônicas no campo da Educação Especial. 19 Em relação à definição do público-alvo das políticas de Educação Especial, a Resolução CNE/CEB 2/2001 utilizou a terminologia “alunos com necessidades especiais”, os quais são definidos como todos aqueles que apresentarem dificuldades de aprendizagem, com ou sem correlação com questões orgânicas. Contudo, tal definição, a exemplo das indicações encontradas na Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), abriu o foco de atenção para uma diversidade de sujeitos muito grande e fora das características de atuação da Educação Especial no Brasil (GARCIA; MICHELS, 2011). Em 2002, foi a vez de se reconhecer a língua brasileira de sinais como meio legal de comunicação e expressão (Lei nº 10.436/02) bem como vimos a Portaria nº 2678/02 aprovar normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do braille em todas as modalidades de educação. Impulsionando a inclusão educacional e social, o Decreto nº 5.296/04 regulamentou as Leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promoção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Nesse contexto, o Programa Brasil Acessível, do Ministério das Cidades, é desenvolvido com o objetivo de promover a acessibilidade urbana e apoiar ações que garantam o acesso universal aos espaços públicos. O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, visando ao acesso à escola dos alunos surdos, dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular, a formação ea certificação de professor, instrutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para alunos surdos e a organização da educação bilíngue no ensino regular. Em 2007, é lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE –, reafirmado pela Agenda Social, tendo como eixos a formação de professores para a educação especial, a implantação de salas de recursos multifuncionais, a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, acesso e a permanência das pessoas com deficiência na educação superior 20 e o monitoramento do acesso à escola dos favorecidos pelo Benefício de Prestação Continuada – BPC. No documento do MEC, ‘Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas’, é reafirmada a visão que busca superar a oposição entre educação regular e educação especial (BRASIL, 2014). Contrariando a concepção sistêmica da transversalidade da educação especial nos diferentes níveis, etapas e modalidades de ensino, a educação não se estruturou na perspectiva da inclusão e do atendimento às necessidades educacionais especiais, limitando, o cumprimento do princípio constitucional que prevê a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola e a continuidade nos níveis mais elevados de ensino (2007, p. 09). Para a implementação do PDE, é publicado o Decreto nº6.094/07, que estabelece nas diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, a garantia do acesso e permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo seu ingresso nas escolas públicas (BRASIL, 2014). Tem muito mais! O Decreto nº 6571/08, incorporado pelo Decreto nº 7611/11, institui a política pública de financiamento no âmbito do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB –, estabelecendo o duplo cômputo das matrículas dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Visando ao desenvolvimento inclusivo dos sistemas públicos de ensino, este Decreto também define o atendimento educacional especializado complementar ou suplementar à escolarização e os demais serviços da educação especial, além de outras medidas de apoio à inclusão escolar (BRASIL, 2014). Com a finalidade de orientar a organização dos sistemas educacionais inclusivos, o Conselho Nacional de Educação – 21 CNE – publica a Resolução CNE/CEB, 04/09, que institui as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado – AEE – na Educação Básica. Este documento determina o público-alvo da educação especial, define o caráter complementar ou suplementar do AEE, prevendo sua institucionalização no projeto político- pedagógico da escola. O caráter não substitutivo e transversal da educação especial é ratificado pela Resolução CNE/CEB nº 04/10, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e preconiza em seu artigo 29, que os sistemas de ensino devem matricular os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado – AEE –, complementar ou suplementar à escolarização, ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de AEE da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. O Decreto nº 7084/10, ao dispor sobre os programas nacionais de materiais didáticos, estabelece no artigo 28, que o Ministério da Educação adotará mecanismos para promoção da acessibilidade nos programas de material didático destinado aos estudantes da educação especial e professores das escolas de educação básica públicas. O Decreto nº 7611/2011 define como público da Educação Especial os estudantes com deficiências, Transtorno Global do Desenvolvimento-TGD e Altas Habilidades/Superdotação- AH/SD. É dever do Estado garantir a esses estudantes um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, etapas e modalidades, assim como oferecer aprendizado ao longo de toda a vida e combater as práticas de exclusão no sistema educacional e a segregação sob alegação de deficiência, conforme dispõe o Decreto 7611/2011. A fim de promover políticas públicas de inclusão social das pessoas com deficiência, dentre as quais, 22 aquelas que efetivam um sistema educacional inclusivo, nos termos da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, instituiu-se, por meio do Decreto nº 7612/11, o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver sem Limite. A Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do espectro Autista é criada pela Lei nº 12.764/12. Além de consolidar um conjunto de direitos, esta lei em seu artigo 7º, veda a recusa de matrícula a pessoas com qualquer tipo de deficiência e estabelece punição para o gestor escolar ou autoridade competente que pratique esse ato discriminatório. Ancorada nas deliberações da Conferência Nacional de Educação – CONAE/ 2010 –, a Lei nº 13.005/14, que institui o Plano Nacional de Educação – PNE –, no inciso III, parágrafo 1º, do artigo 8º, determina que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios garantam o atendimento às necessidades específicas na educação especial, assegurado o sistema educacional inclusivo em todos os níveis, etapas e modalidades. Com base neste pressuposto, a meta 4 e respectivas estratégias objetivam universalizar, para as pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, na faixa etária de 04 a 17 anos, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado. O AEE é ofertado preferencialmente na rede regular de ensino, podendo ser realizado por meio de convênios com instituições especializadas, sem prejuízo do sistema educacional inclusivo (BRASIL, 2014). Documentos legais não nos faltam, essa é a verdade, mas igualmente, o que se constata é que na prática cotidiana não conseguimos atingir as metas propostas, de todo modo, percebam que pelo menos a terminologia veio se modificando e atendendo às questões de respeito ao ser humano, ganhando em contornos conceituais e estruturais. Ainda em consonância com os instrumentos legais mencionados, Pitta (2008) nos lembra que diversos documentos norteadores foram elaborados, desencadeando 23 ações de reflexão e reestruturação das práticas educacionais desenvolvidas no país no atendimento ofertado às pessoas com necessidades educacionais especiais. Dentre estes documentos, destacam-se: ● “Saberes e Práticas da Inclusão na Educação Infantil” (2003) – garantindo condições de acessibilidade física e de acessibilidade a recursos materiais e técnicos apropriados a suas necessidades reais; ● “Educação Profissional – Indicações para a Ação: a Interface Educação Profissional/Educação Especial” – estimula o desenvolvimento da qualidade da gestão escolar na remoção de barreiras atitudinais, arquitetônicas e educacionais na formação do cidadão com necessidades especiais; ● “Direito à Educação – Subsídios para a Gestão do Sistema Educacional Inclusivo” – que apresenta os subsídios legais para a construção de sistemas educacionais inclusivos, normal devido a abordagem de métodos e processos especializados, respeitando as limitações e as características pessoais de uma pessoa com deficiência mental (FURLAN; ARAÚJO; PERALTA, 2010). A PEDAGOGIA DA NEGAÇÃO x EDUCAÇÃO NA DIVERSIDADE Acreditamos existir dois elementos e/ou características na Educação Especial que somados às condições oferecidas pelo Estado favorecem o desenvolvimento dos alunos dentro de suas limitações. São eles: apagar a idéia da pedagogia da negação e educar na diversidade sobre os quais temos o dever de lançar algumas reflexões. A educação é uma das formas de disseminar o direito de igualdade,isto é, de permitir a todos, as 24 mesmas condições de competição numa sociedade. A cultura imposta pela educação tem por finalidade desenvolver o intelecto de uma pessoa, tornando-a capaz de competir em uma sociedade no âmbito profissional e cultural (FURLAN; ARAÚJO; PERALTA, 2010). Nesse contexto, a Educação Especial é uma modalidade, um processo que visa promover o desenvolvimento das potencialidades de pessoas com necessidades educativas especiais e que abrange os diferentes níveis e graus do sistema de ensino, fundamentando-se em referenciais teóricos compatíveis com as necessidades específicas de seus alunos. Como dizem Kirk e Gallagher (1987, p. 33): [...] nem todas as crianças aprendem e se desenvolvem no mesmo ritmo, reagem emocionalmente do mesmo modo, e vêem ou ouvem igualmente [...] as crianças ‘deficientes’ abandonavam a escola porque não conseguiam competir com as crianças normais e as escolas não estavam organizadas para elas. Pois bem, vamos então partir da Pedagogia da negação, bem explicada por Gomes, Poulin e Figueiredo (2010). Para eles, alguns professores privilegiam o caminho das aprendizagens mecânicas quando atuam junto aos alunos que apresentam deficiência intelectual. Ao invés de apelar para situações de aprendizagem que tenham raízes nas experiências vividas pelo aluno, atividades essas capazes de mobilizar seu raciocínio, propõem atividades baseadas na repetição e na memória. Frequentemente, essas atividades são desprovidas de sentido para os alunos. Esses professores privilegiam o caminho das aprendizagens mecânicas sob o pretexto de que os alunos os quais apresentam deficiência intelectual manifestam numerosas dificuldades nos processos de aprendizagem que eles agem pouco no mundo no qual evoluem e, enfim, sob o pretexto de que os alunos antecipam o fracasso e não se apoiam sobre seus conhecimentos quando estão em situação de aprendizagem ou de resolução de problemas. 25 Agindo desta maneira, tais professores se comportam como se não reconhecessem no aluno que apresenta deficiência intelectual um sujeito capaz de crescimento e de afirmação. Seu acompanhamento pedagógico parece respaldado por uma concepção de aluno que se apoia sobre a ideia de insuficiência ou de lacuna, mesmo de falta no que diz respeito ao raciocínio. Os professores não reconhecem nesse aluno capacidades cognitivas as quais convém mobilizar para favorecer a melhor interação com o meio onde ele vive. Consequentemente, eles negam um aspecto absolutamente fundamental do desenvolvimento humano, a saber, o intelectual. Em suma, eles se fecham em uma pedagogia da negação. Uma pedagogia que não reconhece o potencial dos alunos, sobretudo daqueles que apresentam deficiência intelectual e que, consequentemente, causa prejuízos para as suas aprendizagens e autodeterminação. A Pedagogia da negação encontra sua fonte na superproteção, que é um parente próximo da rejeição. A superproteção de um professor em relação a um aluno que apresenta deficiência intelectual pode se manifestar de várias maneiras. São exemplos: Quando o professor propõe frequentemente Atividades que não provocam dificuldades verdadeiras para o aluno, com medo que ele perca a motivação para aprender ou com receio que ele não seja capaz de realizar a atividade; Quando aprova o trabalho do aluno sem que o aluno tenha demonstrado um esforço para a realização dele; Quando resolve o problema no lugar do aluno, logo que ele apresenta dificuldades; Quando o professor não desafia o aluno, provocando dúvida, contrapondo ideias; Quando o professor coloca na mochila do aluno o material necessário para os deveres e para as lições de casa ou quando resolve a tarefa para o aluno, ele está atuando sob o princípio da pedagogia da negação. 26 É importante considerar que uma das grandes responsabilidades do professor de sala de aula, bem como do professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE), consiste no desenvolvimento intelectual e da autonomia do seu aluno. O desenvolvimento intelectual do aluno com deficiência deve ser objeto de preocupação constante do professor. A inteligência deve ser estimulada e educada para que ele possa evoluir. E o aluno que apresenta deficiência intelectual não escapa à regra. Mesmo o aluno que apresenta uma necessidade de apoio importante ou intenso, pode tirar proveito de intervenções educativas destinadas a favorecer ou estimular o desenvolvimento de suas estruturas intelectuais. Os exemplos, neste sentido, são numerosos na literatura científica. Diante dessa realidade, Gomes, Poulin e Figueiredo (2010) afirmam ser inadmissível que a Pedagogia da negação continue a fazer adeptos entre os professores que têm a responsabilidade pela educação dos alunos. Um exemplo de atividades inadequadas é quando o professor impõe aos alunos longos exercícios de multiplicação com ajuda de tabuadas sem que tenham construído o sentido da multiplicação. Os alunos podem dar respostas corretas apoiados apenas na tabuada, de forma mecânica, copiando resultados, sem compreender o sentido da operação. Nem todos os alunos que apresentam deficiência intelectual chegam a assimilar as operações de multiplicação e de divisão e a compreender o sentido destas. Este professor seria mais bem sucedido em sua ação pedagógica, se tivesse como objetivo o desenvolvimento lógico- matemático de seus alunos, se propusesse atividades de aprendizagem próximas aos interesses deles com base nas experiências vivenciadas por eles. Deste modo, o professor, provavelmente, teria contribuído mais para o desenvolvimento dos alunos e permitido a eles aprendizagens mais significativas. 27 A qualidade da vida social e profissional das pessoas que apresentam deficiência intelectual repousa em boa parte sobre bases que são o desenvolvimento intelectual e as aprendizagens significativas que teve na escola e fora dela. Quando o professor percebe a capacidade de o aluno aprender, ele empreende ações que possibilitam essa aprendizagem. Uma vez que a Educação Especial é de suma importância para o desenvolvimento de pessoas com deficiência mental, todo investimento em programas de estimulação precoce, pedagogia e outros profissionais, visa sempre o pleno desenvolvimento do potencial apresentado pelo indivíduo com deficiência mental e a inserção do mesmo em sua comunidade. Quanto maior for a integração da pessoa, maiores serão as oportunidades de aceitação e inclusão na sociedade. Vale aqui ressaltar que o trabalho da família, de instituições como a Associação de pais e amigos dos excepcionais (APAE) e de profissionais formam um canal empático para a obtenção de resultados positivos. Assim, o nível de desenvolvimento a ser alcançado pela criança, com deficiência mental, irá depender não só do grau de comprometimento da mesma, mas também de sua história de vida, particularmente do apoio familiar e das oportunidades verificadas (FURLAN; ARAÚJO; PERALTA, 2010). Pense nisso professor! E a educação na diversidade, o que queremos realmente, como chegar até ela? Bom: o primeiro passo é levar sempre em consideração o fato de que as pessoas são diferentes e que, portanto, a escola deve ajudar cada um a desenvolver suas aptidões no contexto comum a todos, livre de seleção e da consequente classificação de aluno(a)s em diferentes tipos de instituições especializadas. O segundo passo é eliminar o espírito de competitividade, a partir do qual a visão de mundo se restringe a uma corrida na qual apenas alguns conseguirão chegar ao final e o terceiro passo, oferecer oportunidades a todos para compensar as desigualdades existentes, 28 mas sem educar para ‘formar pessoas iguais’ (ALVAREZ; SOLER, 1998 apud DUK, 2006). No atendimento à diversidade, podem ser apontados alguns princípios,entre os quais, destacam-se: Personalização em lugar de padronização – reconhecer asdiferenças individuais, sociais e culturais dos aluno(a)s, a partir das quais a ação educacional é orientada; Resposta diversificada versus resposta uniforme – permite adequar os processos de ensino-aprendizagem às diferentes situações; Heterogeneidade versus homogeneidade – este princípio realça o valor dos agrupamentos heterogêneos dos alunos com o objetivo de educar com base em valores de respeito e aceitação das diferenças numa sociedade plural e democrática (duk, 2006, p. 62). Eis que uma escola inclusiva caracteriza-se, fundamentalmente, pelo compromisso com o direito de todo(a)s à educação, à igualdade de oportunidades e à participação de cada uma das crianças, adolescentes, jovens e adultos nas várias esferas da vida escolar. É isso que se busca ao retirar do nosso meio a pedagogia da negação e propor concomitantemente a diversidade: fazer acontecer a escola inclusiva na qual o ensino e a aprendizagem, as atitudes e o bem-estar de todos os(as) educando(a)s são considerados igualmente importantes. É uma escola na qual não há discriminação de qualquer natureza e que valoriza a diversidade humana como recurso valioso para o desenvolvimento de todo(a)s, uma escola que busca eliminar as barreiras à aprendizagem para educar de forma igualitária todos os meninos e meninas da comunidade. Na escola inclusiva, todos são reconhecidos em sua individualidade e apoiados diligentemente em sua aprendizagem. 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRETO, Sidirley de Jesus. Psicomotricidade, educação e reeducação. 2 ed. Blumenau: Livraria Acadêmica, 2000. FONSECA, Vitor da .Psicomotricidade: perspectivas multidisciplinares. Porto Alegre: Artmed, 2004. NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil 3: psicomotricidade: alternativas pedagógicas. Porto Alegre: Prodil, 1995. REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES ALMEIDA, Geraldo Peçanha de. Teoria e prática em psicomotricidade: jogos, atividades lúdicas, expressão corporal e brincadeiras infantis. 3 ed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2007. ANTIPOFF, Helena. A educação de bem dotados. Rio de Janeiro, SENAI, 1992. AUCOUTURIER, B., DARRAUT, I., EMPINET, J. L. A prática psicomotora: reeducação e terapia. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. AVELAR, Mônica Corrêa. Interesses e necessidade de crianças superdotadas. Mimeo. 2009. BRASIL. Ministério da Educação. Formação continuada a distância de professores para o atendimento educacional especializado. Deficiência Física. Brasília: SEESP/SEED, 2007. BRASIL. Ministério da Educação. Formação continuada a distância de professores para o atendimento 30 educacional especializado. Deficiência Mental. Brasília: SEESP/SEED, 2007. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Sala de Recursos Multifuncionais: espaços para o Atendimento Educacional Especializado. Brasília: MEC/SEESP, 2006. BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Subsídios para a organização e funcionamento de serviços de educação especial: áreas de altas habilidades. Brasília: MEC/SEESP, 1995. BRÊTAS, José Roberto da Silva. ET AL. Avaliação de funções psicomotoras de crianças entre 6 e 10 anos de idade. Acta Paul Enferm. 2005;18(4):403-12 CARDOSO, S.S, ALMEIDA, M.C.R. Efeitos de um programa de reeducação psicomotora desenvolvido para uma criança cega com relação aos fatores psicomotores: noção de corpo e lateralidade (endereço na Internet). Minas Gerais:Revista Digital Movimentum, 2007. 31
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