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EA D A Ordem 5 1. OBJETIVOS • Apresentar a etimologia e a sistemática adotada pelo le- gislador. • Compreender os aspectos teológicos e jurídicos funda- mentais do sacramento • Refletir sobre a celebração. • Analisar a normativa sobre os ordenandos. • Tratar do registro e do certificado da ordenação. 2. CONTEÚDOS • Etimologia e sistemática adotada pelo legislador. • Aspectos teológicos e jurídicos fundamentais. • A celebração. • O ministro da ordenação. © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 176 • Os ordenandos. • Registro e certificado da ordenação. 3. ORIENTAÇÃO PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia a orientação a seguir: 1) Os sacramentos da iniciação cristã constituem o fun- damento da vocação comum de todos os discípulos de Cristo à santidade e ao apostolado. Conferem as graças necessárias para viver tal vocação até o nosso encontro definitivo com Cristo. Temos, ainda, na Igreja outros dois sacramentos (ordem e matrimônio) que conferem uma particular missão na Igreja àqueles que os recebem, pois servem para edificar o povo de Deus por meio do serviço que é prestado aos demais. 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Na Unidade 4, você compreendeu os sacramentos de cura: a penitência e a unção dos enfermos. Nesta unidade você será con- vidado a refletir sobre os principais aspectos da disciplina eclesiás- tica relativa ao sacramento da ordem, possibilitando a você uma adequada compreensão teológico-jurídica do ministério ordenado na Igreja a partir do CIC atual. Ao final desta unidade você estará em condição de compre- ender que o ministério ordenado não pode ser entendido a não ser em uma perspectiva de serviço ao povo de Deus, e é a partir dela que se deve analisar toda a normativa. Vamos lá? 177© A Ordem 5. ETIMOLOGIA E SISTEMÁTICA ADOTADA PELO CIC Etimologicamente, ordenação vem de ordenar, e significa constituir alguém em uma determinada categoria. Na nossa ma- téria trata-se, portanto, de constituir ou colocar alguém no estado clerical. Convém esclarecer que os termos "ordem" e "ordenação" praticamente se equivalem. Todavia, "ordem" denota alguma coi- sa de estável, de estabilizado, ao passo que "ordenação" faz refe- rência, primeiramente, ao ato de receber ou conferir o sacramento e, só secundariamente, indica a sacra potestas a ser recebida ou já recebida. "Ordem" designa, também, o ato de receber o sacra- mento, a pessoa que o confere e a pessoa que o recebe. "Orde- nação" refere-se, especialmente, ao ato mediante o qual o sacra- mento é conferido. Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– Para uma visão panorâmica desta unidade e da história deste sacramento, inclusive em relação à questão terminológica, sugerimos o seguinte texto: OÑATIBIA, I. Ministérios Eclesiais: Ordem, In: BORÓBIO, D. (Org.). A cele- bração na Igreja, os sacramentos. São Paulo, Loyola, 1993, p. 491-517. V. 2 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Ao sacramento da ordem o CIC dedica 47 cânones, organi- zando-os de modo análogo aos outros sacramentos. Inicialmente, temos dois cânones introdutórios que possuem um caráter mais doutrinal e teológico (cânn. 1008-1009). Em seguida, aparecem 14 cânones que tratam da celebração e do ministro ordenante (cânn. 1010-1023). Nos cânn. 1010-1023 o foco principal não é a liturgia, pois para isso se deve ter presente o ritual da ordenação, mas, sim, a figura do ministro da ordenação, particularmente a sua responsabilidade para acertar a idoneidade do candidato ao ministério. © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 178 Passa-se, depois, para os cânones que tratam dos ordenan- dos (cânn. 1024-1052) e que se encontram divididos em três arti- gos (precedidos de dois cânones introdutórios - 1024 e 1025). São eles: 1º os requisitos nos ordenandos (1026-1032); 2º os requisitos prévios à ordenação (cânn. 1033-1039); 3º irregularidades e impedimentos (cânn. 1040-1049). Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– Nos três artigos (cânn. 1026-1049) a preocupação maior é aquela de indicar os elementos para a validade e para a liceidade da ordenação. Os critérios da subdivisão dos primeiros dois artigos não são de imediata compreensão. Parece que no artigo 1º são indicados os elementos e os requisitos que se exigem do ordenando enquanto pessoa, ao passo que no artigo 2º são individuados os re- quisitos formais a serem observados antes da ordenação. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Temos, ainda, um artigo sobre os documentos exigidos e os escrutínios (cânn. 1050-1052). E, enfim, a matéria é encerrada com dois cânones relativos ao registro e ao certificado da ordena- ção (cânn. 1053-1054). O CIC atual operou uma reorganização e uma simplificação desta matéria em relação ao CIC de 1917. Nota-se uma reformula- ção do conteúdo normativo e dogmático, à luz do Concílio Vatica- no II, com uma atenção majoritariamente teológica e fundativa. A atual disposição da normativa apresenta uma maior clareza, mais conteúdo teológico e uma maior atenção aos dados conciliares e às fontes. Os cânones doutrinais passam de três para dois. Os con- teúdos mudam, também, seguindo a reforma realizada por Paulo VI que no motu proprio Ministeria quaedam (15/08/1972) aboliu as "ordens menores" e instituiu os ministérios de leitor e de acó- lito, estabelecendo que somente com o diaconato se entra na or- dem clerical. A seguir, veremos os aspectos teológicos e jurídicos fundamentais. 179© A Ordem 6. ASPECTOS TEOLÓGICOS E JURÍDICOS FUNDAMEN- TAIS Aspectos teológicos Com o sacramento da ordem por instituição divina alguns dentre os fiéis, mediante o caráter indelével com o qual são mar- cados, são constituídos ministros sagrados; isto é, aqueles que são consagrados e destinados a servir, cada um no seu grau, com novo e peculiar título, o povo de Deus. Aqueles que são admitidos na ordem do episcopado ou do presbiterato recebem a missão e a fa- culdade de agir na pessoa de Cristo Cabeça, os diáconos, ao invés, estão habilitados a servir o povo de Deus na diaconia da liturgia, da palavra e da caridade. Este texto foi extraído do motu proprio Omnium in mentem do Papa Bento XVI (26 de outubro 2009), que contém algumas pou- cas modificações aos cânones relativos ao sacramento da ordem (artigos 1 e 2) e do matrimônio (artigos 3-5). As ordens são: o episcopado, o presbiterato e o diaconato (cân. 1009 §1). Conferem-se pela imposição das mãos e pela ora- ção consecratória (matéria e forma), prescrita para cada grau pe- los livros litúrgicos (cân. 1009 §2). Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– Paulo VI na Constituição Pontificalis Romani de 18 de junho de 1968, estabele- ceu que são ritos essenciais para a ordenação em qualquer grau a imposição das mãos e a oração consecratória correspondente a cada grau, em conformidade com os livros litúrgicos. Não são essenciais e, portanto, não afetam a validade do sacramento, os demais ritos importantes, como, por exemplo, a entrega dos instrumentos mediante os quais é significado o ministério que será exercido. O dom do Espírito Santo comunicado por meio da imposição das mãos e oração consecratória confere não apenas um aumento de graça para realizar santamen- te as funções eclesiais, mas, também, o caráter que habilita o ordenado a realizar as funções para as quais foi constituído. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 180 É fé da Igreja que Cristo Senhor quis associar e conformar ao seu sacerdócio o povo conquistado com o próprio sangue (LG 10). A participação neste sacerdócio se atua de dois modos: • Mediante o sacerdócio comum dos fiéis, conferido no batismo, por meio do qual somos regenerados para uma nova vida, incorporados a Cristo e à Igreja e habilitados ao culto; • Mediante o ministériosacerdotal, conferido no rito da or- denação, rito que habilita o ordenado para o serviço do povo de Deus, na condição de representante de Cristo Ca- beça, o qual age, assim, por intermédio dele. Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O fundamento do estado laical é o batismo (cân. 207 §1). O fundamento do es- tado clerical é a ordenação. Sempre é bom lembrar que todos os batizados, en- quanto tais constituem o povo de Deus, o laicato de Deus (no sentido etimológico de laos=povo). Deste este ponto de vista todos os fiéis são iguais na dignidade (ser) e na atividade (agir) e juntos contribuem para a edificação do Corpo de Cristo (cân. 208). Isso não significa afirmar que façam as mesmas coisas, pois a diversidade não exclui a igualdade e vice-versa. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A característica fundamental do ministério sacerdotal é a de ter a sua origem no próprio Cristo, tanto no sentido de que o prin- cípio constitutivo e exemplar do ministério ordenado é o serviço de Cristo, quanto no sentido de que o ministério sacerdotal é de instituição divina. Outro aspecto fundamental é que o ministério sacerdotal se coloca em continuidade com o ministério apostólico. Cristo quis que o seu ministério vivesse e perdurasse na Igreja para poder atingir a todos. Por esta razão a fundou sobre os apóstolos e sobre o ministério destes, para que pudessem falar e agir em seu nome, sendo sinal e instrumento de sua palavra e de sua ação no mun- do. Os apóstolos tornaram-se a semente do novo Israel, a origem da hierarquia na Igreja (AG 5; LG 18) e comunicaram aos outros o ministério recebido para completar e consolidar a obra por eles iniciada. Instaurou-se, assim, na Igreja a sucessão apostólica do 181© A Ordem ministério sacerdotal que, juntamente com a comunidade de fiéis, constitui essencialmente a Igreja. O ministério que perpetua o ofício dos apóstolos, chamado de ministério pastoral, é exercitado em diversas ordens por aque- les que, desde o início, são chamados bispos, presbíteros e diáco- nos (LG 28). Aos bispos é conferida a plenitude do sacramento da ordem (LG 21); com a ordenação episcopal passam a fazer parte do co- légio episcopal que, unido à sua cabeça, o Papa, é o responsável maior de toda a Igreja (LG 22). O ministério dos presbíteros é de comunhão e colaboração com o ministério episcopal. O Concílio nos recorda que mesmo não possuindo o ápice do sacerdócio e dependendo dos Bispos no exercício de sua potestade, os presbíteros são imagem de Cristo, sumo e eterno sacerdote, e foram ordenados para pregar o Evan- gelho, apascentar aos fiéis e celebrar o culto divino na condição de verdadeiros sacerdotes do novo testamento (LG 28). Aos diáconos são impostas as mãos não para o sacerdócio, mas para o ministério. Servem ao povo de Deus, em comunhão com o Bispo e com o seu presbitério, no ministério da liturgia, da pregação e da caridade (LG 29). Os Bispos e, em um grau subordinado, os presbíteros, por força do sacramento que confere a unção do Espírito Santo e os configura a Cristo, tornam-se participantes das funções de santifi- car, ensinar e governar. Mas, o exercício deste sacerdócio é deter- minado pela comunhão hierárquica (LG 24). Aspectos jurídicos Com o batismo, o sacramento da ordem tem uma função muito importante na Igreja. Se o batismo está na origem da igual- dade entre todos os fiéis na Igreja (cân. 204 §1, 208, 209-223), o sacramento da ordem está na origem da fundamental diversidade entre aqueles que o receberam e os demais fiéis (cân. 207 §1). © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 182 Os fiéis que recebem o sacramento da ordem são consagrados e destinados a apascentar o povo de Deus, realizando, na pessoa de Cristo Cabeça, cada um no seu grau (episcopado, presbiterado e diaconato), as funções de ensinar, santificar e governar. Por força da ordem recebida, os ministros sagrados coope- ram na edificação da Igreja e assumem entre os féis uma própria condição jurídica (cânn. 273-289). Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A particular condição canônica dos ministros sagrados não diminui a dignidade do sacerdócio comum e nem priva aos outros fiéis do dever-direito de realizar a missão que Deus confiou à Igreja no mundo. Os cânn. 204, 207, 208 e 1008 de- vem ser lidos conjuntamente. Eles exprimem uma eclesiologia de comunhão que apresenta a Igreja não apenas como uma realidade mística, mas organicamente estruturada. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 7. A CELEBRAÇÃO DA ORDENAÇÃO (CÂNN. 1010- 1011) Os cânones 1010 e 1011 ocupam-se da celebração da orde- nação, dando-nos indicações de caráter bem geral a respeito do tempo e do lugar da celebração, pois os demais aspectos celebra- tivos cabem aos ritos litúrgicos e deles o CIC não se ocupa. Quanto ao tempo, ficou estabelecido que a ordenação seja realizada dentro da missa, em dia de domingo ou festa de preceito. Como se trata de um ato de suma importância para a comunidade cristã (a consagração daqueles que deverão instruí-la, santificá-la e governá-la) é fundamental que se favoreça o máximo possível a participação dos fiéis em uma celebração eucarística. Todavia, por razões pastorais, a ordenação pode ser realizada em outros dias, não excluídos os feriais. Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Um motivo que justificaria a ordenação em um dia ferial seria justamente o que prescreve o cân. 1011 §2: "Sejam convidados para as ordenações os clérigos e outros fiéis, para que a elas assistam no maior número possível". O Ritual de 183© A Ordem ordenação especifica que a ordenação não seja realizada no tríduo pascal, na quarta-feira de cinzas, na Semana Santa e na comemoração dos fiéis defuntos. O vínculo entre a ordenação e o dia festivo quer evidenciar o caráter eclesial do sacramento recebido. A íntima relação entre a ordenação e o sacrifício eucarísti- co que o ministro deverá viver justifica que a celebração ocorra dentro da missa cujo significado para a vida da Igreja dispensa maiores comentários. Somente uma causa muito grave justificaria uma ordenação fora do contexto da Eucaristia. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Quanto ao lugar, considerando que o ato de ordenar cabe ao bispo diocesano e que tal acontecimento é de interesse geral para a Igreja local, seria mais adequado que a ordenação ocorresse na igre- ja catedral. Por motivos pastorais pode-se celebrá-la em outra igreja ou oratório. Sensibilizar a população de uma determinada paróquia ou região ao problema das vocações ou sublinhar a proveniência do candidato de um determinado ambiente podem ser suficientes razões pastorais para se realizar a ordenação em outro local. 8. O MINISTRO DO SACRAMENTO DA ORDEM (CÂNN. 1012-1023) A disciplina antiga distinguia entre ministro ordinário e mi- nistro extraordinário da ordenação. Ministro ordinário era o Bispo consagrado. Ministro extraordinário era aquele que, mesmo não tendo recebido a ordenação episcopal, tinha, por direito ou por indulto, o poder de conferir algumas ordens (até então havia as ordens maiores e menores). Desaparecidas as ordens menores por determinação do Papa Paulo VI com o motu proprio Ministeria quaedam, tal distinção não aparece mais no CIC atual. O ministro em geral O ministro da sagrada ordenação em seus três graus é o Bis- po consagrado (cân. 1112). Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A questão do ministro da ordenação não foi algo pacífico nos trabalhos de re- visão do CIC. A razão do desacordo em relação ao ministro da ordenação de presbíteros e diáconos é que historicamente há documentos que permitem a © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 184 ordenação de presbíteros feita por presbíteros e não pelo Bispo (Cf. HORTAL, Jesus. Os sacramentos da Igreja na sua dimensão canônico-pastoral. São Paulo:Loyola, 1987, p. 192-193). Portanto, não é possível dizer que por direito divino apenas o Bispo possa conferir a ordem do presbiterato e do diaconato. Por isso, o CIC afirma, apenas, que o Bispo é o ministro da sagrada ordenação, sem se referir ao direito divino. O bispo é o ministro ordinário da ordenação, ou seja, o faz em função de um ofício que tem na Igreja. Permanece aberta a questão se um presbítero poderia, ou não, obter tal faculdade (para a ordenação de pres- bíteros e diáconos) por meio de um especial indulto concedido pela competente autoridade eclesiástica, pois, caso contrário, a ordenação seria inválida. A atual normativa evita esta polêmica e, portanto, simplesmente nos diz que somente o bispo pode ordenar validamente "ex officio" aos presbíteros e diáconos e mais ninguém. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– É irrelevante se ele é um Bispo diocesano ou titular (cân. 376). Além disso, é irrelevante, para a validade da ordenação, se o bispo estiver suspenso, excomungado ou afastado da comunhão eclesiástica, desde que tenha, ao menos, reta intenção e realize o rito tal como está prescrito (imposição de mãos e oração conse- cratória). O ministro para a validade da ordenação Como afirmado, para uma válida ordenação é necessário um Bispo validamente consagrado, mesmo que não esteja em plena comunhão eclesial, desde que tenha a devida intenção e realize a ordenação como prescrito pelos livros litúrgicos aprovados. Neste último caso a ordenação seria ilícita, embora válida, e o bis- po estaria sujeito a graves sanções canônicas (cânn. 1382-1384). O ministro para a liceidade da ordenação Aqui é necessário especificar de qual ordenação se trata (episcopal ou diaconal), pois nos encontramos diante de requisi- tos bem distintos. A ordenação episcopal – a nenhum Bispo é lícito ordenar al- guém como Bispo a não ser que antes conste a existência de um mandato pontifício (cân. 1013). 185© A Ordem Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– É importante distinguir entre "mandato pontifício", que não confere qualquer po- der, mas, apenas, torna a ordenação legítima, e a "missão canônica" que, sobre o pressuposto da ordenação, conferindo o ofício, transmite, também, o poder ne- cessário para exercê-lo. Somente o Bispo legitimamente consagrado e, portanto, em comunhão hierárquica, pode receber a missio canonica. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A ordenação realizada sem um mandato pontifício é válida, mas ilícita. Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Tendo presente que alguém é constituído membro do corpo episcopal em virtu- de da ordenação episcopal e mediante a comunhão hierárquica com a cabeça do colégio e com os membros (LG 22), esta disposição de direito eclesiástico é justamente finalizada a exprimir e tutelar o direito divino, isto é, a comunhão do Bispo com a cabeça do colégio e com os seus membros. O Bispo que reali- za uma ordenação episcopal sem mandato pontifício e aquele que é ordenado por ele incorrem na excomunhão latae sententiae reservada à Santa Sé (cân. 1382). Considerando que a normativa penal está sujeita a uma interpretação estrita (cân. 18), não incorrem na excomunhão os Bispos consagrantes, embora possam incorrer em outras penas (cân. 1393). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Salvo dispensa da Santa Sé Apostólica, o Bispo consagrante principal, na ordenação episcopal, deve associar a si pelo menos dois Bispos consagrantes (cân. 1014). Como se lê na LG 22, este antiquíssimo uso indica a índole e a natureza colegial da ordem episcopal. Tal práxis a encontramos em vários concílios provinciais do século 4º. O Concílio de Nicéia I já indicava a conveniência de todos os bispos da província eclesiástica participarem da ordena- ção episcopal. É conveniente que todos os Bispos presentes consagrem o eleito, pois a partir da Bula de Pio XII Episcopalis consecrationis, de 30 de novembro de 1944, já não resta mais qualquer dúvida de que os Bispos associados ao rito da consagração não são meros assistentes, mas, sim, consagrantes, embora para a validade da or- denação seja suficiente que a realize apenas um. A ordenação presbiteral e diaconal – No caso do presbiterato e do diaconato a legitimidade do ministro ordenante é determina- da por dois requisitos alternativos: © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 186 2) Ou o ordenante é o Bispo diocesano próprio. Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Segundo o que estabelece o cân. 1016 o Bispo próprio para a ordenação dia- conal é o Bispo da diocese em que o candidato tem o domicílio, ou, então, da diocese à qual o candidato decidiu dedicar-se. Portanto, o ordenando é livre de escolher a própria diocese. Já no caso da ordenação presbiteral o Bispo próprio é aquele da diocese na qual o diácono foi incardinado por meio da recepção do diaconato. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 3) Ou, em caso contrário, deverá contar com legítimas car- tas dimissórias dadas pela autoridade competente. Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– Tais cartas são um documento mediante o qual uma competente autoridade (por exemplo, um Bispo diocesano, um Superior maior de um instituto religioso cleri- cal de direito pontifício) autoriza outro Bispo ou pede a ele que confira a ordem a um próprio candidato, atestando, assim, a idoneidade do mesmo. A ordenação conferida sem as cartas dimissórias comporta: a) para o Bispo ordenante a proi- bição de conferir as ordens por um ano (cân. 1383); b) para os ordenados a sus- pensão ipso facto do exercício do ministério (cân. 1383), pois faltaria a comunhão hierárquica com o próprio Bispo e com o Colégio Episcopal, tornando o exercício do ministério inválido ou ilícito, conforme os atos realizados. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O Bispo próprio, não impedido por justa causa, deve ordenar pessoalmente seus súditos (cân. 1015 §2); sem indulto apostólico não pode ordenar um súdito de rito oriental do Bispo diocesano (cân. 1017). Deve se recorrer à Congregação para o culto divino e a disciplina dos sacramentos. Recebido o indulto o ordenado permanece vin- culado ao próprio rito (cân. 112 §2), embora a ordenação tenha sido realizada no rito latino. Fora da própria jurisdição, o Bispo não pode conferir ordens, a não ser com licença do Bispo diocesano (cân. 1017). O legislador, no cân. 1015 §3, coloca o seguinte princípio ge- ral: quem pode dar cartas dimissórias para a recepção das ordens pode, também, conferir pessoalmente essas ordens, desde que te- nha o caráter episcopal. 187© A Ordem Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Evidentemente que isto ocorre normalmente no caso do Bispo diocesano com o próprio clero e em relação aos membros dos institutos seculares de direito dioce- sano ou pontifício ou em relação aos institutos religiosos ou sociedades de vida apostólica de direito diocesano. Já o cân. 1019 §1 estabelece que ao Superior maior de instituto religioso clerical de direito pontifício ou de sociedade clerical de vida apostólica de direito pontifício compete conceder cartas dimissórias para o diaconato e para o presbiterato a seus súditos, perpétua ou definitivamente ads- critos ao instituto ou à sociedade, de acordo com as constituições. Desta forma os Superiores maiores de tais institutos ou sociedades têm liberdade plena para escolher o Bispo ordenante de seus súditos. É claro que se deve contar tanto com o consentimento desse bispo quanto com o do lugar da ordenação, se forem diferentes (cân. 1017). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– As cartas dimissórias As cartas dimissórias são um documento mediante o qual uma competente autoridade (por exemplo, um Bispo diocesano, um Superior maior de um instituto religioso clerical de direito pontifício) autoriza outro Bispo ou pede a ele que confira aordem a um próprio candidato, atestando, assim, a sua idoneidade. Os cânones 1018 e 1019 definem quais são os sujeitos que podem dá-las. Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– Para o clero secular podem dar as cartas dimissórias, a teor do cân. 1018 §1: 1) o Bispo próprio mencionado no cân. 1016; 2) o Administrador apostólico; 3) o Administrador diocesano, com o consentimento do colégio dos consul- tores (cân. 502); 4) o Pró-vigário e o Pró-prefeito apostólico, com o consentimento do conse- lho mencionado no cân. 495 §2. As cartas dimissórias concedidas sem o consentimento do colégio dos consul- tores ou do conselho mencionado no cân. 495 §2 são nulas. O administrador diocesano, o Pró-vigário e o Pró-prefeito não poderão conceder as cartas dimis- sórias àqueles aos quais foram negadas pelo Bispo diocesano ou pelo Vigário ou Prefeito apostólico. A eventual concessão das cartas dimissórias neste último caso e a consequente ordenação recebida seria válida, mas ilícita, com as con- sequências penais já mencionadas. O Vigário geral e o Vigário episcopal neces- sitam de um mandato especial do Bispo diocesano para dar cartas dimissórias (cân. 134 §3). Para os membros dos institutos religiosos ou das sociedades de vida apostólica clericais de direito pontifício a autoridade competente para conceder as cartas dimissórias é, como vimos, o Superior maior (ordinário, à norma do cân. 134 §1). Tais cartas podem ser concedidas apenas aos súditos que, à norma das © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 188 constituições, foram adscritos ao instituto ou à sociedade de modo perpétuo ou definitivo (cân. 1019 §1). Os autores sustentam que o que foi estabelecido para os membros dos institutos religiosos por analogia valeria, também, para as prelazias pessoais (cân. 295 §1) e para os institutos seculares clericais de direito pontifício que, à norma do cân. 266 §3, incardinam os seus súditos (cf. cân. 715 §2). De fato, a alguns institutos seculares a Santa Sé concedeu no passado a faculdade de dar cartas dimissó- rias. Os Ordinários militarem podem dar as cartas dimissórias e promover às ordens somente se isto estiver previsto nos estatutos que devem ser aprovados pela Santa Sé. As ordenações de todos os ordenandos de qualquer outro insti- tuto religioso ou sociedade são regidas pelas normas estabelecidas para o clero diocesano (cân. 1019 §2). Os superiores maiores destes institutos não podem dar cartas dimissórias. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Os cânn. 1020-1023 recordam sobre a necessidade de que as cartas dimissórias sejam dadas após ter sido recolhida toda a documentação exigida pelo direito e tratam da questão da auten- ticidade, dos seus destinatários, dos limites e da revogação das cartas dimissórias. As cartas dimissórias podem ser revogadas ou limitadas por quem as concedeu ou por seu sucessor; mas, uma vez concedidas, não caducam com a cessação do direito de quem as concedeu (cân. 1023). 9. OS ORDENANDOS (CÂNN. 1024-1052) A normativa sobre os ordenandos é bem vasta e minuciosa. O CIC dedica 28 cânones ao tema, o que, aliás, não é pouco. Os cânn. 1024 e 1026 se ocupam dos requisitos exigidos para a validade do sacramento, sendo dois relativos à capacidade do sujeito e um relativo à devida liberdade. Já o cân. 1025 resume todas as condições exigidas para uma ordenação lícita, condições que serão desenvolvidas pelos cânones sucessivos. Mais uma vez nos ocuparemos aqui dos aspectos de maior importância. Requisitos para a validade da ordenação Os que são chamados a receber o sacramento da ordem de- vem apresentar os seguintes requisitos fundamentais: ser capaz e possuir a devida liberdade, vontade e intenção. 189© A Ordem • Sujeito capaz - Sujeito capaz de receber validamente o sa- cramento da ordem é exclusivamente o batizado do sexo masculino (cân. 1024). Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– De fato, sem o batismo, porta de acesso à Igreja (cân. 204 §1) e aos demais sacramentos (cân. 849), não é possível confiar a alguém as funções e os minis- térios eclesiásticos. Quanto à exigência de que o candidato seja homem nos en- contramos diante de uma práxis constante e universal da Igreja, reafirmada pela Congregação para a Doutrina da Fé na declaração Inter Insigniores de 15 de ou- tubro de 1976. Tal declaração foi confirmada por diversas vezes pelo Papa João Paulo II, particularmente na carta apostólica Mulieris dignitatem (15 de agosto de 1988), na exortação apostólica pós-sinodal Christifideles laici (30/12/1988) e, especialmente, na carta apostólica Ordinatio Sacerdotalis (22 de maio de 1994). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– • Liberdade, vontade e intenção – O cân. 1026 afirma que para alguém ser ordenado é preciso, também, ter a devida liberdade. Consequentemente é inválida a ordenação da- quele que é ordenado à força (cân. 125 §1 – violência física) ou, então, o faz com uma vontade contrária (simulação). Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Para prevenir problemas do gênero o legislador regula amplamente a forma- ção dos candidatos ao ministério ordenado (cânn. 1027, 1028, 232-264), exi- gindo que os candidatos sejam informados de tudo aquilo que diz respeito ao sacramento da ordem a fim de que se preparem devidamente e possam decidir livremente. Além disso, é exigida uma precisa e detalhada declaração feita pelo ordenando de próprio punho para que possa ser promovido às ordens sagradas. O conteúdo de tal declaração se encontra especificado no cân. 1036. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Nula é a ordenação daquele que a recebe sem a intenção ou vontade. A intenção exigida para a validade é, ao menos, aquela habitual, ou seja, aquela uma vez expressa pelo sujeito e não reti- rada por ele. Qualquer outro fator que apenas diminua a liberdade ou a vontade do ordenando, sem, todavia, eliminá-la por comple- to, não torna nula a ordenação, embora possa constituir uma das causas graves (para os diáconos) ou gravíssimas (para os presbíte- ros) em virtude das quais a Santa Sé costuma conceder o rescrito da perda do estado clerical, incluindo a dispensa da obrigação do celibato, concedida exclusivamente pelo Papa. © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 190 Requisitos para a liceidade da ordenação O cân. 1025 §1, fazendo referência à ordenação diaconal e presbiteral, resume as exigências para uma ordenação lícita, que, depois, serão desenvolvidas pelos cânones sucessivos: a) tenha completado o período de prova à norma do direi- to (cânn. 1027, 1032, 235, 236, 250); b) tenha todas as devidas qualidades, a juízo do Bispo pró- prio ou do Superior maior competente (cân. 1029); c) não tenha incorrido nas irregularidades ou impedimen- tos previstos (cânn. 1040-1049); d) tenha preenchido todos os requisitos fixados pelos cânn. 1033-1039; e) tenha fornecido os documentos exigidos pelo cân. 1050; f) tenha sido realizado o escrutínio previsto pelo cân. 1051. Segundo o cân. 1025 §2 requer-se, ainda, que o candidato seja considerado útil para o ministério da Igreja, a juízo do legítimo superior, reafirmando-se desta forma o princípio segundo o qual o sacramento da ordem não é conferido primariamente para a san- tificação pessoal, mas, sim, para o serviço para e na Igreja. Não se trata apenas aqui da Igreja particular, mas, também, da Igreja universal, pois embora imediatamente o serviço seja prestado a uma Igreja concreta, por meio da ordenação o candidato se torna clérigo da Igreja. Nos ordenandos exigem-se sinais especiais de vocação (cân. 1029) que constam de um duplo elemento: um divino, ou seja, o chamado de Deus ao qual o homem deve responder de forma livre e total; e um eclesiástico, ou seja, compete a autoridade da Igreja admitir ao ministério aos que julgar idôneos. Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Convém recordar quese de um lado ninguém pode ser obrigado a receber as ordens (cân. 1026), de outro lado o superior competente conserva a sua plena liberdade de decisão quanto a admitir ou não este ou aquele candidato. Não existe, na verdade, um direito à ordem sagrada. Isto vale, também, para um diácono "transeunte" que pode ter a sua ordenação presbiteral impedida por mo- 191© A Ordem tivos canônicos (cân. 1030). Entre estes motivos temos os impedimentos, as irregularidades e as censuras. Existe o direito a um recurso contra a decisão da competente autoridade, à norma do cân. 1732-1739. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Dentre os sinais de vocação divina temos uma série de re- quisitos que podem ser provados no foro externo: fé íntegra, reta intenção, ciência devida, boa reputação, integridade de costumes e qualidades físicas e psíquicas correspondentes à ordem a ser re- cebida. A idade mínima para a ordenação depende do grau da or- dem a ser recebida, à norma do cân. 1031: 23 anos para o diaco- nato transeunte; 25 anos para o diaconato permanente e celibatá- rio; 25 anos para o presbiterato, além de suficiente maturidade e da exigência de um intervalo de seis meses entre o diaconato e o presbiterato; 35 anos para o diaconato permanente e não celiba- tário; 35 anos para o episcopado (cân. 378, 3º). Quando a diferença entre a idade prescrita e a idade do candidato for inferior a um ano, a dispensa de tal requisito cabe ao Bispo diocesano ou ao Superior Geral no caso dos institutos religiosos clericais de direito pontifício. Se a diferença for superior a um ano a dispensa é reservada à Santa Sé (cân. 1031 §4). Nos cânn. 1033-1039 encontramos alguns atos prévios à or- denação que dizem respeito a várias coisas, como, por exemplo, à recepção dos sacramentos da iniciação cristã, à realização do rito litúrgico de admissão, à recepção dos ministérios de leitor e acó- lito, a um documento escrito de próprio punho no qual conste a liberdade de escolha e o compromisso de dedicação perpétua ao ministério, a obrigação do celibato etc. Outra exigência importante diz respeito aos documentos requeridos e que são indicados pelo cân. 1050: certificado de es- tudos devidamente concluídos, segundo a norma do cân. 1032; certificado de recepção do diaconato, caso se trate de ordenação para o presbiterato; certificado de recepção do batismo e confir- © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 192 mação, caso se trate da promoção ao diaconato e da recepção dos ministérios mencionados no cân. 1035; certificado de ter sido feita a declaração mencionada no cân. 1036; se o ordenado é casado e se destina ao diaconato permanente é preciso, também, o certifi- cado da celebração do matrimônio e do consentimento da esposa. Em casos particulares podem, ainda, ser exigidos outros documen- tos, além dos indicados pelo cân. 1050 como, por exemplo, a cer- tidão de óbito da esposa, a sentença de declaração de nulidade do matrimônio ou o decreto de dissolução do vínculo, a dispensa de eventuais irregularidades, etc. Uma última exigência importante diz respeito ao escrutínio sobre as qualidades requeridas no ordenando do qual se ocupa o cân. 1051. Irregularidades e impedimentos Os cânn. 1040-1049 se ocupam do instituto jurídico das irre- gularidades e dos impedimentos para a ordenação. A finalidade deste instituto é aquela de tutelar a dignidade, a santidade e a eficácia da ordem sagrada e do ministério e, ao mes- mo tempo, possibilitar um melhor discernimento na escolha dos candidatos ao ministério ordenado. O legislador pretende, com tal instituto, oferecer alguns critérios comuns que permitam excluir da admissão à ordem sagrada aquelas pessoas que objetivamente não são idôneas ao ministério, colocando, desta forma, um limite à discrição dos Ordinários quando vão admitir alguém às ordens sagradas. O cân. 1040 não permite que sejam admitidos às ordens sa- gradas aqueles que têm algum impedimento, seja ele perpétuo (definitivo), ao qual se dá o nome de irregularidade, seja ele sim- ples (provisório). 193© A Ordem Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– Os impedimentos, perpétuos ou simples, são apenas aqueles estabelecidos pela lei canônica (direito universal) e, portanto, são taxativos. Tratando-se as irregu- laridades e os impedimentos de leis que restringem o livre exercício dos direitos estão submetidos a uma interpretação estrita (cân. 18). O cân. 1043 estabelece que os fiéis estão obrigados a revelar os impedimentos ou as irregularidades para as sagradas ordens dos quais tenham conhecimento. A comunicação deve ser feita ao Ordinário competente para dar as cartas dimis- sórias, ou ao Ordinário próprio do ordenando, ou, mesmo, ao pároco próprio do ordenando. Estão isentos desta obrigação os sacerdotes que souberam do im- pedimento ou da irregularidade no contexto do sacramento da penitência, como, também, todos os profissionais obrigados ao segredo de ofício, além, é claro, daquelas pessoas que temem um dano para si ou para os próprios familiares. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A ignorância das irregularidades ou dos impedimentos não escusa deles (cân. 1045). Portanto, é necessário que os candida- tos ao ministério ordenado sejam informados previamente sobre a normativa canônica a respeito das irregularidades e impedimentos para a recepção das ordens sagradas para que sejam tomadas as devidas providências, conforme o caso apresentado. As irregularidades Como vimos a irregularidade é um impedimento canônico perpétuo (definitivo) que proíbe a recepção das ordens sagradas ou, então, de exercitá-las, quando recebidas. Segundo o cân. 1041, as irregularidades para receber as or- dens são as seguintes: 1) qualquer forma de amência ou de outra doença psíqui- ca, pela qual, ouvidos os peritos, o candidato seja consi- derado inábil para desempenhar devidamente o minis- tério; 2) o delito de apostasia, heresia ou cisma, entendido à nor- ma do cân. 751; 3) a tentativa de matrimônio, mesmo se apenas civil, quer seja o próprio candidato impedido de contrair matrimô- nio em razão de vínculo matrimonial, de ordem sagrada ou de voto público e perpétuo de castidade, quer o con- traia com mulher ligada pelo mesmo voto ou unida em matrimônio válido; © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 194 4) o homicídio voluntário (cân. 1397), mas não o homicídio culposo e, muito menos, o homicídio cometido por legí- tima defesa; e o aborto provocado, tendo-se seguido o efeito (cân. 1398); 5) a mutilação grave e dolosa de si próprio ou de outrem e a tentativa de suicídio; 6) o exercício de um ato de ordem reservado aos que estão constituídos na ordem do episcopado ou do presbiterato (cânn. 1378 e 1384), não a tendo recebido ou estando proibido de exercê-la devido à pena canônica declarada ou infligida (imposta). São irregulares para exercer as ordens recebidas (cân. 1044 §1): 1) quem, estando sob irregularidade para receber as or- dens, recebeu-as ilegitimamente; 2) quem cometeu o delito mencionado no cân. 1041, nº 2, se o delito é público. 3) quem cometeu o delito mencionado no cân. 1041, nn.3- 6. Os impedimentos Os impedimentos são circunstâncias externas, de per si tem- porais, nas quais o ordenando ou o ordenado se encontram e que proíbem a recepção ou o exercício das ordens. O cân. 1042 elenca os impedimentos para a recepção das ordens: 1) o matrimônio, a não ser que se trate de um casado can- didato ao diaconato permanente; 2) o desempenho de um ofício ou a posse de uma adminis- tração proibida aos clérigos, de acordo com os cânn. 285 e 286, da qual deve prestar contas, enquanto não esteja liberado após deixar o ofício ou a administração; 3) a condição de neófito, a não ser que já esteja suficiente- mente provado, a juízo do Ordinário. O cân. 1044 §2 elenca os impedimentos para o exercício das ordens: 195© A Ordem 1) arecepção das ordens por parte de quem estava proibi- do de recebê-las por causa de algum impedimento; 2) a amência ou outra doença psíquica enquanto o Ordiná- rio, consultando um perito, não tiver permitido o exercí- cio da ordem. A cessação dos impedimentos e das irregularidades Os impedimentos cessam com o desaparecimento da causa que os gerou ou, então, por dispensa. Já as irregularidades cessam quando cessa a lei que as estabeleceu ou por dispensa dada por quem de direito. A Santa Sé pode dispensar de todos os impedimentos e ir- regularidades estabelecidos pelo CIC, sejam ocultos ou públicos, mesmo os que não forem a ela reservados. O cân. 1047 afirma que é exclusivamente reservada à Santa Sé a dispensa de todas as irregularidades, se o fato em que se ba- seiam tiver sido levado ao foro judicial. Também a ela é reservada a dispensa: a) das irregularidades provenientes dos delitos públicos de quem cometeu apostasia, heresia ou cisma ou de quem tentou o matrimônio (cân. 1041,2-3); b) das irregularidades provenientes do delito, público ou oculto, de homicídio voluntário ou aborto, obtido o efei- to (cân. 1041,4); c) do impedimento no qual incorre o homem casado (cân. 1042); d) das irregularidades para o exercício da ordem recebida por quem tentou o matrimônio (cân. 1041,3), apenas nos casos públicos; e) por quem cometeu o homicídio voluntário ou o aborto, obtido o efeito (cân. 1041, 4), mesmo nos casos ocultos. Em todos os outros casos caberá ao Ordinário (cânn. 134 §1 e 295 §1) o poder de dispensar das irregularidades ou dos outros impedimentos não reservados à Santa Sé (cân. 1047 §4). © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 196 Após ter estabelecido quais são os sujeitos que podem dar a dispensa (cân. 1047), o CIC define como se comportar nos casos ocultos (cân. 1048) e indica, também, as formalidades a serem ob- servadas no pedido de dispensa (cân. 1049). Como princípio geral, ao se pedir a dispensa devem ser indi- cadas todas as irregularidades e impedimentos dos quais se quer ser liberado. Todavia, no caso de uma dispensa geral: a) o que foi omitido de boa fé, mesmo assim terá o benefí- cio da dispensa; b) o que foi ocultado de má, não terá o benefício da dis- pensa; c) o que foi levado ao foro judicial, como, também, a irre- gularidade prevista pelo cânon 1041, 4º, mesmo se ocul- tada de boa fé, não terá o benefício da dispensa. Se a irregularidade da qual se pede a dispensa foi causada por ho- micídio ou aborto procurado é necessário para a validade da dis- pensa que se indique, também, o número dos delitos cometidos. A dispensa geral das irregularidades e impedimentos para receber ordens vale para todas as ordens (cân. 1049 §3). 10. REGISTRO E CERTIFICADO DA ORDENAÇÃO Os cânones 1053-1054 definem o que deve ser feito após a ordenação tendo em vista a documentação do fato. São obriga- ções que devem ser cumpridas com seriedade e precisão. Terminada a ordenação, o nome de cada um dos ordenados e do ministro ordenante, o lugar e o dia da celebração devem ser registrados em livro especial a ser guardado cuidadosamente na cúria do lugar da ordenação. Além disso, todos os documentos de cada uma das ordenações devem ser cuidadosamente conserva- dos (cân. 1053 §1). 197© A Ordem O bispo ordenante deve dar a cada um dos ordenados um certificado autêntico da ordenação recebida; estes, se tiverem sido ordenados por um Bispo estranho, com carta dimissória, apresen- tem esse certificado ao próprio Ordinário para o registro da or- denação no livro especial a ser guardado no arquivo. A notícia da ordenação deve ser comunicada ao pároco do lugar do batismo, para que este a registre no livro de batismo (cân. 535 §2). 11. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Confira, na sequência, as questões propostas para verificar seu desempenho no estudo desta unidade: 1) Se pelo batismo todos nós somos sacerdotes, por qual motivo, então, temos na Igreja o sacerdócio ministerial? 2) Em qual tempo do ano litúrgico e onde (local) é possível receber as ordens? 3) Tendo presente a distinção entre validade e liceidade, quem é o ministro do sacramento da ordem em seus três graus? 4) O que são cartas dimissórias? 5) Qual a diferença entre impedimento e irregularidade? Os impedimentos e as irregularidades para receber e exercer as ordens são os mesmos? 12. CONSIDERAÇÕES Nesta unidade, você estudou os principais aspectos teológi- co-jurídicos do sacramento da ordem. Trata-se de uma normativa complexa que exigirá de sua parte um pouco mais de esforço para assimilá-la em seus tópicos de maior importância. Na próxima unidade, você será convidado a compreender o direito matrimonial da Igreja, partindo de uma abordagem que lhe permitirá conhecer uma série de aspectos normativos fundamen- tais para uma adequada práxis pastoral relativa a este sacramento. Até lá! © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 198 13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HORTAL, J. Os sacramentos da Igreja na sua dimensão canônico-pastoral. São Paulo: Loyola, 1987. OÑATIBIA, I. Ministérios Eclesiais: Ordem, In: BORÓBIO, D. (Org.). A celebração na Igreja, os sacramentos. São Paulo, Loyola, 1993.