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MÉTODOS CONTEMPORÂNEOS PARA ELABORAÇÃO DE PROGRAMAS DE TREINAMENTO DE ESPORTES DE ALTO RENDIMENTO AUTORES GIOVANI MARCON RICARDO MULLER BOTTURA CLÁUDIO NOVELLI MÉTODOS CONTEMPORÂNEOS PARA ELABORAÇÃO DE PROGRAMAS DE TREINAMENTO DE ESPORTES DE ALTO RENDIMENTO Conselho Regional de Educação Física da 4a Região – CREF4/SP Conselheiros Ailton Mendes da Silva Antonio Lourival Lourenço Bruno Alessandro Alves Galati Claudio Roberto de Castilho Erica Beatriz Lemes Pimentel Verderi Humberto Aparecido Panzetti João Francisco Rodrigues de Godoy Jose Medalha Luiz Carlos Carnevali Junior Luiz Carlos Delphino de Azevedo Junior Marcelo Vasques Casati Marcio Rogerio da Silva Marco Antonio Olivatto Margareth Anderáos Maria Conceição Aparecida Conti Mário Augusto Charro Miguel de Arruda Nelson Leme da Silva Junior Paulo Rogerio de Oliveira Sabioni Pedro Roberto Pereira de Souza Rialdo Tavares Rodrigo Nuno Peiró Correia Saturno Aprigio de Souza Tadeu Corrêa Valquíria Aparecida de Lima Vlademir Fernandes Wagner Oliveira do Espirito Santo Waldecir Paula Lima MÉTODOS CONTEMPORÂNEOS PARA ELABORAÇÃO DE PROGRAMAS DE TREINAMENTO DE ESPORTES DE ALTO RENDIMENTO Giovani Marcon Ricardo Muller Bottura Claudio Novelli 2019 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Agência Brasileira do ISBN - Bibliotecária Priscila Pena Machado CRB-7/6971 �0�����0DUFRQ��*LRYDQL�� 0«WRGRV�FRQWHPSRU¤QHRV�SDUD�HODERUD©¥R�GH�SURJUDPDV�GH�� WUHLQDPHQWR�GH�HVSRUWHV�GH�DOWR�UHQGLPHQWR���*LRYDQL�0DUFRQ�� 5LFDUGR�0XOOHU�%RWWXUD�H�&ODXGLR�1RYHOOL��ƃƃ�6¥R�3DXOR��� &5()��63���2���� ���S�������FP��ƃƃ��&ROH©¥R�/LWHU£ULD��2�DQRV�GD�,QVWDOD©¥R�� GR�&5()��63��� � ,QFOXL�ELEOLRJUDILD�� ,6%1������������������� � ���(VSRUWHV���7UHLQDPHQWR�����0HWDEROLVPR�HQHUJ«WLFR��� ���.HWWOHEHOO���WUHLQDPHQWR��,��%RWWXUD��5LFDUGR�0XOOHU��� ,,��1RYHOOL��&ODXGLR��,,,��7¯WXOR��,9��6«ULH�� � � &''������2���� Comissão Especial da Coleção Literária 20 anos da Instalação do CREF4/SP Responsáveis, junto a diretoria do CREF4/SP, pela avaliação, aprovação e revisão técnica dos livros Prof. Dr. Alexandre Janotta Drigo (Presidente) Profa. Ms. Érica Beatriz Lemes Pimentel Verderi Prof. Dr. Miguel de Arruda Editora Malorgio Studio Coordenação editorial Paolo Malorgio Capa Felipe Malorgio Revisão Joice Chaves Imagens de capa Pixabay.com Projeto gráfico e diagramação Rodrigo Frazão Copyright © 2019 CREF4/SP Todos os direitos reservados. Conselho Regional de Educação Física da 4a Região - São Paulo Rua Líbero Badaró, 377 - 3o Andar - Edifício Mercantil Finasa Centro - São Paulo/SP - CEP 01009-000 Telefone: (11) 3292-1700 crefsp@crefsp.gov.br www.crefsp.gov.br 5 Sumário Apresentação ...............................................................................................................7 Apresentação do livro ................................................................................................9 A genética na preparação física ..............................................................................11 Influência do metabolismo energético na estrutura temporal dos combates de judô ........................................................................................17 Introdução .............................................................................................................17 Material e método ..................................................................................................21 Casuística ...........................................................................................................21 Critério de inclusão ...........................................................................................22 Critério de exclusão ...........................................................................................22 Avaliação antropométrica ..................................................................................22 Análise das lutas ................................................................................................23 Determinação do VO2 máximo e limiar anaeróbio ...........................................25 Teste de Wingate .................................................................................................25 Análise estatística ..................................................................................................26 Resultados .............................................................................................................26 Dados das lutas .................................................................................................26 Relação entre padrão temporal e variáveis fisiológicas .....................................31 Discussão ...............................................................................................................34 Conclusão ..............................................................................................................35 Referências bibliograficas ......................................................................................36 Kettlebells: um mundo de possibilidades. ..............................................................39 Introdução .............................................................................................................39 O que é kettlebell e quais são suas origens? ........................................................39 Aplicações do kettlebell ..............................................................................................57 Kettlebell Sport. .......................................................................................................58 Kettlebell Juggling ....................................................................................................62 Kettlebell Training para GPP (General Physical Preparedness) ..................................64 Kettlebell e lpo ..............................................................................................................71 Kettlebell Swing ...........................................................................................................75 1 - Exercício básico para pessoas com baixo condicionamento físico (força, resistência). ..............................................................................79 2 - Exercício reabilitatório para pessoas com desabilidades locomotoras (caminhada). ............................................................................79 3 - Transição entre levantamentos no Kettlebell Sport. ...................................80 Aspectos fisiológicos do Kettlebell ....................................................................81 Aspectos biomecânicos do Kettlebell ................................................................82 Aspecto Mental ...................................................................................................83 Aspecto de promoção da saúde e qualidade de vida ...................................84 Referências deste capítulo .................................................................................84 Referências da internet ......................................................................................85 7 Esta é a segunda coleção literária que o Conselho Regional de Educação Física da 4ª Região - CREF4/SP lança, dessa vez para comemorar os 20 anos da sua instalação. O fato histórico de referência é a Resolução 011 de 28 de outubro de 1999, publicada pelo CONFEF, que fixou em seis, o número dos primeiros CREFs e, entre eles, o CREF4/SP, com sede na cidade de São Paulo e jurisdição em nosso Estado. Nesse momento, remeto-me à luta que antecedeu essa conquista, e que se iniciou com a “batalha” pela regulamentação de nossa profissão, marcada pela apresentação do Projeto de Lei nº 4.559/84, mas que somente foi efetivada pela Lei 9.696/98, passados 14 anos do movimento inicialno Congresso Nacional. Logo após essa vitória histórica, a próxima contenda foi a de atender aos requisi- tos estabelecidos pelas normas do CONFEF para a abertura de nosso Conselho, que à época exigia o registro de 2 mil profissionais. Com muito orgulho me lem- bro da participação de minha cidade natal - Rio Claro - neste contexto, por meio do trabalho iniciado pelo Prof. José Maria de Camargo Barros, do Departamento de Educação Física da UNESP. Vários professores e egressos dos Cursos se mo- bilizaram para inscreverem-se e buscarem novas inscrições em nossa cidade, tarefa na qual me incluí, tendo número de registro 000200-G/SP. Atualmente o CREF4/SP é o maior Conselho Regional em número de regis- trados, com uma sede que, além de bem estruturada, está bastante acessível aos Profissionais que se direcionam para a capital, estando próximo às estações de metrô São Bento e Anhangabaú. Também conta com a Seccional de Campinas bem aparelhada e atuante em prol da defesa da sociedade e atendimento aos Profissionais de Educação Física. Tudo isso demonstra que esses 20 anos foram de muito trabalho e empenho para a consolidação de nossa profissão, e assim destaco a força de todos os Conselheiros do passado e do presente e dos valo- rosos empregados que ajudaram a construir esta realidade. Apresentação 8 Por isso insistimos em comemorar, agora os 20 anos do CREF4-SP, ofere- cendo aos Profissionais de Educação Física, aos estudantes, às instituições de formação superior, bibliotecas e à sociedade uma nova Coleção Literária com- posta de 20 obras, uma para cada ano do aniversário. Buscamos permanecer “orientando o exercício profissional, agindo com excelência, justiça e ética”, uma das missões de nosso Conselho. Enquanto Presidente do Conselho Regional de Educação Física da 4ª Região (CREF4/SP) apresento a Coleção Literária em Comemoração aos 20 Anos da Instalação do CREF/SP, composta por livros que procuraram acolher as neces- sidades do campo profissional, atendendo o quesito de diversificação de con- textos e de autores, priorizando temas inéditos em relação ao que vem sendo produzido por este Conselho. O faço na esperança de que os Profissionais de Educação Física leitores dessas obras demostrem o mesmo empenho e amor pela profissão que seus próprios autores dedicaram, oferecendo seu tempo e cedendo os direitos au- torais dessa edição, tanto em relação ao livro físico quanto à versão digital de forma voluntária. Com esse gesto entram em conformidade com os pioneiros do CREF4/SP que assim o fizeram, e de certa forma ainda fazem, afinal não é por acaso que nosso lema atual é: “Somos nós, fortalecendo a profissão!” Parabéns para nós Profissionais de Educação Física do Estado de São Paulo. Nelson Leme da Silva Junior Presidente do CREF4/SP 9 Apresentação do livro Há quase 10 anos, quando finalizava os estudos de mestrado, não poderia imaginar o quanto o enfoque desse trabalho era importante. Desse estudo, dois temas já foram publicados: o primeiro em um congresso internacional e outro segundo em uma revista também internacional. Este capítulo, divulga mais um tema do referido trabalho. Tema que, por suas importantes informações deve ser contemplado. Sou grato as pessoas que, embora não participem da publicação deste ca- pítulo, muito contribuíram para a elaboração desse estudo, as quais são: o meu Orientador Dr. Turíbio Leite de Barros Neto, o meu Co-orientador Professor Dr. Emerson Franchini, o Coordenador do Programa de Pós Graduação da UNIFESP Dr. José Roberto de Brito Jardim, o Técnico dos atletas vice-campeão Olímpico o Professor Me Douglas Eduardo de Brito Vieira e os atletas, que vo- luntariamente, colaboraram. O livro: “Métodos contemporâneos para elaboração de programas de trei- namento de esportes de alto rendimento” vem com a proposta de passar aos leitores uma visão moderna das atividades atuais, que podem fazer a diferença durante a elaboração de programas de treinamento de esportes e que atuam com o alto rendimento esportivo. Como é um livro embasado na ciência, e a varieda- de de especificidades esportivas é enorme adotamos um esporte como exemplo de atividades aplicadas. A modalidade esportiva adotada foi o Judô, o mesmo esporte que fez parte do meu estudo de mestrado, em 2008, com o título: “Análise da influência do metabolismo energético nas ações desenvolvidas pelos atletas em combates de judô”, pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). No livro, são encontrados três capítulos com temas que propõem inovação aos programas de treinamento. No primeiro capítulo, com o tema: “A Genética na preparação física”, são encontradas informações de como podemos usar o conhecimento em Genética 10 a favor de um planejamento individualizado, na busca da excelência esportiva, e não informações para se definir quem terá ou não um futuro de bons resulta- dos. No Brasil, o Professor João Pesquero é um dos pioneiros nesta área e com seu Laboratório e grupo de estudos “Atletas do Futuro”, são uma referência mundial. O Professor Me. Ricardo Muller Bottura faz parte desse grupo e fez seu mestrado na UNIFESP com esse tema, portanto uma ótima referência para escrever este capítulo. No segundo capítulo, com o tema: “Influência do metabolismo energético na estrutura temporal dos combates de judô”, são encontrados diferentes refle- xões de como a preparação e o perfil dos atletas podem influenciar as ações que compõem um combate de judô. No último capítulo, com o tema: “Kettlebells: um mundo de possibilidades” é encontrado, de forma bem completa, fundamentações de “como?” e do “por quê?” usar essa ferramenta nos programas de treinamentos para esportes de alto rendimento. O Professor Me Claudio Novelli é a maior referência no nosso país na utilização dessa ferramenta em diversos estilos. Esta publicação tem a intenção de que as informações úteis sobre os méto- dos apresentados possam criar uma profunda reflexão de como aproveitar esse conhecimento no dia-a-dia, seja para trabalho, pesquisa ou estudos de esportes de alto rendimento. 11 A genética na preparação física Ricardo Muller Bottura No mundo da preparação física de alto rendimento, todo o planejamento ocorre em ciclos. Os maiores são os ciclos olímpicos que ocorrem de quatro em quatro anos, seguido do planejamento anual com suas diferentes competições, alterando o número de macrociclos, depois as programações intermediárias nos mesociclos, as semanas de treinamento nos microciclos até chegarmos nas sessões de treino que é quando realmente podemos manipular as capacidades físicas e metabólicas dos atletas. FIGURA 1 Ciclos de Treinamento Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 12 Porém, para chegar nesse nível de preparação física, o atleta passa por di- versos enfrentamentos internos e externos durante toda a sua vida esportiva, da iniciação às competições principais. A rotina de treinos exaustiva, a especia- lização precoce, as dificuldades de lidar com as derrotas ou lesões, as diferen- ças de resultados entre as categorias de base e o profissional, entre outras são adversidades pelas quais quase todo atleta em formação terá pela frente. Por essas razões, formar um atleta não é uma tarefa das mais fáceis. Imagine que todo atleta, antes de passar pelo processo de preparação física desenhado especificamente para o seu sucesso em determinada competição, foi uma crian- ça como qualquer outra. Ao pensar que todos têm períodos sensíveis para o desenvolvimento de suas habilidades motoras que no futuro serão a base do desempenho competitivo, é possível entender facilmente que o sucesso de um atleta está ligado a experiências obtidas bem antes de se tornar um. Isso não quer dizer que toda criança que atinge um desenvolvimento ma- duro das habilidades motoras chegará a ser um atleta, pois isso envolve diver- sos fatores ao longo da maturação física e psicológica de jovens competidores, alémde fatores genéticos1,3. Há pouco mais de 50 anos, a fisiologia do exercí- cio foi integrada à metodologia do treinamento de forma sólida pelo aumento considerável de estudos na área e elevou o nível de desempenho em diversos esportes. Agora é a vez da genética. Desde 1998 com o sucesso do Projeto Genoma, mais de 150 genes foram associados ao sucesso esportivo por possuírem variação entre indivíduos (polimorfismos), por meio de uma análise direta sobre os genótipos e os re- sultados obtidos pelos atletas. A maioria desses polimorfismos está ligada a algum processo metabólico que pode fornecer alguma vantagem aos atletas que as possuem. Porém, dentre todos os genes estudados, o polimorfismo R577X da ACTN3 talvez seja o que mais se sobressai, por ser uma proteí- na do sarcômero, responsável pela ancoragem da actina à linha Z, ou seja, não é uma alteração gênica que promove diferença metabólica, mas sim uma alteração estrutural. As alfa-actininas se apresentam de duas formas no músculo esquelético (ACTN2 e ACTN3), sendo que a ACTN3 está presente apenas nas fibras musculares do tipo II, principalmente nas fibras do tipo IIx. Porém, um polimorfismo no gene dessa proteína faz com que algumas pessoas não produzam ACTN3. Cerca de 17% da população mundial possui esta “deficiência”6,7. De uma forma geral, existem três diferentes genótipos que surgem do polimorfismo R577X da ACTN3, o RR e o RX que sintetizam ACTN3 e o XX que não a sintetiza e, portanto, possui apenas ACTN2 nas fibras mus- culares, o que causa uma maior proporção de fibras musculares do tipo IIx A genética na preparação sica 13 em indivíduos homozigotos RR quando comparados com os homozigotos XX9,12. Não por acaso, apenas de 2 a 4% dos atletas norte americanos e jamai- canos de elite até 400 m rasos possuem o genótipo XX, enquanto de 70 a 75% possuem o genótipo RR4,11. FIGURA 2 Posição das alfa-actininas no sarcômero Utilizei o gene da ACTN3 para exemplificar o efeito da genética no desempenho esportivo propositalmente. Este gene possui os efeitos mais vistosos e pode ser considerado determinante no sucesso esportivo em pro- vas que envolvem explosão muscular e sejam dependentes do metabolismo anaeróbio alático. Porém, essa influência do genótipo parece estar relacio- nada com esportes cíclicos como corrida, natação, remo ou ciclismo que tem em comum o fator metabólico como determinante na performance de um atleta. Em outras palavras, a preparação física é essencial nesses esportes, pois quanto mais potente for o indivíduo após o período de treinamento, mais próximo da vitória ele estará. E esse alto potencial de desenvolvimento é dependente da genética. Em esportes em que a técnica se apresenta como um fator determinante no desempenho tanto quanto a parte física, como tênis e as lutas por exemplo, um atleta pode superar seu adversário, mesmo sem estar mais bem preparado fisi- camente e, portanto, as questões genéticas que modulam o metabolismo podem ficar em segundo plano5. Foi exatamente essa a conclusão que pesquisadores espanhóis chegaram ao estudar atletas de judô de elite. Ao analisar o polimor- fismo R577X da ACTN3 em 108 atletas, os pesquisadores não encontraram di- ferenças na presença dos alelos R e X e nem na distribuição dos genótipos (RR, RX e XX) entre os atletas e outros 343 indivíduos não atletas, mostrando que ao menos a ACTN3 não é determinante para o sucesso de um atleta de judô10. Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 14 Isso significa que não há diferença entre esses indivíduos, mesmo com po- limorfismos diferentes? Não. De forma alguma. Vários são os fatores determi- nantes em uma luta e as diferenças genéticas também influenciam o sucesso, mas não são capazes de predizer se alguém pode ou não ser bem-sucedido, diferentemente dos esportes cíclicos, como vimos anteriormente. Uma extensa revisão sobre os fatores genéticos em esportes de combate mostrou que existe muita controvérsia em apontar algum gene que seja de- terminante no desempenho, uma vez que a maioria desses esportes tem uma característica metabólica intermitente que é difícil de predizer, além da técnica que pode sobrepor a qualidade física do oponente2. Se pensarmos dessa forma, devemos parar de procurar explicação na genética em esportes acíclicos e con- tinuar treinando como há tempos se faz, certo? Errado. É preciso olhar apenas com outros olhos para os mesmos dados. Ao saber que esportes acíclicos como os esportes de combate não são determinados apenas por uma ação metabólica e física que é influenciada pela genética individual, devemos utilizar essas in- formações para a melhoria da qualidade dos treinamentos dos atletas. Uma pequena revisão científica sobre a ACTN3 demonstrou que ele é muito mais do que apenas o gene que define “sprinters”. Saber o genótipo do atleta pode propiciar ao preparador físico uma melhor tomada de decisões na arquitetura do planejamento de treinos, uma vez que a ACTN3 pode ser vista como moduladora da resposta ao treinamento de força, da recuperação pós- -exercício e de risco de lesão associado ao exercício. Basicamente, indivíduos portadores de ao menos um alelo R possuem maior quantidade de testostero- na, melhor resposta de reguladores da hipertrofia muscular (mTOR e p70S6k) após treino resistido e menor quantidade de marcadores associação à lesão pós-treino (CK). Como as alfa-actininas são componentes da linha Z e essa é vulnerável a lesões, aparentemente uma maior quantidade de ACTN2 torna a linha Z menos estável e mais suscetível a lesões decorrentes do treinamento8. Sendo assim, conhecer geneticamente o atleta e saber como utilizar essas informações de forma eficiente durante as sessões de treino, que como disse- mos no primeiro parágrafo deste capítulo é quando conseguimos modular o metabolismo dos atletas, pode ser a diferença entre um atleta com uma sólida base das capacidades biomotoras que permite uma eficaz manifestação da téc- nica esportiva e um Ippon do adversário. A genética na preparação sica 15 Referências Barreiros A, Côté J, Fonseca AM (2014). From early to adult sport success: analyzing athletes’ progression in national squads. Eur J Sport Sci. 14 Suppl 1:S178-82. Franchini E (2014). Born to fight? Genetics and combat sports. Revista de Artes Marciales Asiáticas. 9(1):1-8. Guth LM, Roth SM (2014). Genetic influence on athletic performance. Curr Opin Pediatr. 25(6): 653–658. Irving R, Charlton V (2010). Jamaican Gold: Jamaican Sprinters. The University of the West Indies Press. 1ª Ed. Jung H, Lee N, Park S (2016). Interaction of ACTN3 gene polymorphism and muscle imbalance effects on kinematic efficiency in combat sports athletes. J Exerc Nutrition Biochem. 20(2):1-7. North K, and Beggs AH (1996). Deficiency of a skeletal muscle isoform of a-actinin (α-actinin-3) in merosin-positive congenital muscular dystrophy. Neuromuscul Disord. 6(4): 229-235. North KN, Yang N, Wattanasirichaigoon D, Mills M, Easteal S, and Beggs AH (1999). A common nonsense mutation results in alpha-actinin-3 deficiency in the general population. Nat Genet. 21(4): 353-354. Pickering C, Kiely J (2017). ACTN3: More than just a gene for speed. Front. Physiol. 8:1080. Pickering C, Kiely J (2018). ACTN3, morbidity, and health aging. Front. Genet. 9:15. Rodriguez-Romo G, Yvert T, de Diego A, Santiago C, de Durana ALD, Carratalá V, Ga- ratachea N, Lucia A (2013). No association between ACTN3 R577X polymorphism and elite judo athletic status. Int J Sports Physiol Perform. 8(5): 579-81. Scott RA, Irving R, Irwin L, Morrison E, Charlton V, Austin K, Tladi D, Deason M, Hea- dley SA, Kolkhorst FW, Yang N, North K, Pitsiladis YP (2010). ACTN3 and ACE geno- types in elite Jamaican and US sprinters. 42(1): 107-12. Vincent B, De Bock K, Ramaekers M, den Eede EV, Van Leemputte M, Hespel P, and Thomis MA (2007). ACTN3 (R577X) genotype is associated with fiber type distribution. Physiol Genomics.32: 58-63. 17 Influência do metabolismo energético na estrutura temporal dos combates de judô Giovani Marcon Introdução O judô apresenta grande variedade de movimentos e com diferentes dura- ções e intervalos, características de uma modalidade com atividades intermi- tentes (Kokubun & Daniel, 1992), sendo difícil analisar suas características. Por este motivo, a caracterização dos seus sistemas bioenergéticos predominantes vem sendo muito estudado. Estudar a influência do metabolismo energético e a estrutura temporal dos combates de judô podem caracterizar as ações realizadas quanto à inten- sidade e duração desenvolvidos também pelos diferentes perfis de atletas. Isso quer dizer que, existe a hipótese de que as intensidades e durações dos combates podem apresentar diferenças conforme os perfis de gênero e cate- gorias de peso dos atletas. Este conhecimento pode contribuir para o planejamento de treinos que ex- plorem melhor estes sistemas bioenergéticos, assim como estratégias de com- bates e na melhora do desempenho dos atletas. Hoje o formato do ciclo de competições internacionais de judô está dife- rente da época em que concluí o meu mestrado. O calendário com competi- ções é maior, de 8 a 10 competições por ano (Del Vecchio & Franchini, 2013) e houve algumas mudanças das regras. O julgamento e a dinâmica da apli- cação do Shido (punição) e o tempo de luta que passou de cinco para quatro minutos, são duas mudanças que podem impactar diretamente a estrutura temporal do combate. Um trabalho de grande valor foi realizado por Franchini et al. (1999), rela- tando que judocas com maior aptidão aeróbia podem ser capazes de manter um maior desempenho de esforços supramáximos intermitentes, quando com- parados com judocas com menor aptidão aeróbia. Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 18 Kons et al. (2018), publicaram recentemente um estudo que afirma que a capacidade aeróbia é relevante para combates com duração superior a dois mi- nutos para atletas masculinos. Que o sistema aeróbio é importante, com esses estudos já vimos que sim. Agora, como entender melhor sua influência e pre- dominância durante os combates. Existe um predomínio do sistema oxidativo para suprir o custo energético dos combates de judô desde o primeiro minuto de combate até o final, em com- paração com os outros sistemas anaeróbios Julio et at. (2017). Outro trabalho importante foi realizado por Cavazani (1991) que verificou, ao final dos combates de judô, uma concentração de ácido lático na ordem de 11,5 ± 5,5 mmol/l. Este estudo constatou também que os atletas que apresentaram menor valor de lactato ao final dos combates possuíam maior número de vitórias. Trabalhos como esses têm sido importantes para o judô, na medida em que contribuem para identificar alguns fatores determinantes das vitórias nesta modalidade. Já a escolha para o protocolo de avaliação da capacidade aeróbia é bastante dificultada por requerer esforço aparentemente muito diferente do que se ob- serva no desenvolvimento dos combates. Contudo Campbell et al. (1988), Ebine et al. (1991) e Callister et al. (1991) utilizaram nos seus estudos protocolos de cargas retangulares. O teste de Wingate tem sido o mais utilizado para a verificação da capacidade anaeróbia lática, inferida a partir da potência média gerada no decorrer do teste segundo Bar-Or (1987); Smith & Hill (1991); Inbar et al. (1996) e Lira et al. (2015). Para avaliação da composição corporal no estudo realizado por Franchini et al. (2005) utilizou-se da análise das dobras cutâneas para comparar a perfor- mance de judocas de elite com judocas que não são da elite. O estudo publicado por Franchini et al. (2005), relata que judocas de eli- te apresentam melhores resultados que judocas que não são da elite quando comparados aos resultados dos testes: Composição Corporal, teste de Wingate e SJFT. No Special Judo Fitness Test (SJFT),o judoca atacante terá que derrubar dois outros, da mesma categoria de peso, alternadamente. O teste consiste em três períodos de 15, 30 e 30 segundos de projeções com 10 segundos de inter- valo entre eles. A distância entre os dois que são derrubados é de 6 metros e o atacante deverá posicionar-se à meia distância entre os dois no início de cada período de quedas. O resultado do teste é representado por um índice obtido pela divisão da soma da frequência cardíaca, ao término do teste (P1) com a frequência cardíaca um minuto após o teste (P2), pelo número de projeções executadas (N), (Índice = (P1+P2)/N). Os melhores resultados nesse teste são determinados pelo menor índice obtido. In uência do metabolismo energético na estrutura temporal dos combates de judô 19 Considerando as variáveis determinantes das vitórias, é fácil observar que os atletas melhor condicionados fisicamente apresentam maior chance de vitó- ria, uma vez que conseguem aplicar maior número de golpes. Franchini et al. (2005), investigou a correlação entre as características antro- pométricas e fisiológicas e ações táticas ou técnicas dos judocas. Para avaliação da composição corporal, Franchini realizou análise das dobras cutâneas, utili- zando-se do método de Drink water and Ross. Para análise das características fisiológicas, Franchini utilizou-se dos testes de Wingate para membros supe- riores e SJFT. Para análise das ações técnicas ou táticas, Franchini utilizou-se de um scout, para registrar o número de ataques e tipo de ataques (golpes de pernas Ashi, golpes de braço Te, golpes de quadril Koshi, luta no solo Shime e Kansetsu e golpes de sacrifício Sutemi) executados pelos judocas durante os dois combates simulados para análise. Como conclusão, Franchini encontrou uma forte correlação entre as performances antropométricas e fisiológicas com as ações técnicas ou táticas. Judocas com menor % de gordura corporal apresen- tavam melhor desempenho nos combates, assim como judocas com melhores resultados nos testes de Wingate e SJFT. É importante lembrar que Franchini utilizou-se de um registro de número de ações técnicas ou táticas e a análise das capacidades fisiológicas. Portanto, não podemos ainda defender a hipótese de que um determinado treinamento específico para uma característica fisiológica irá influenciar as características de luta de um determinado judoca, uma vez que as ações podem ter intensidades e durações diferentes. Alguns estudos discutiram a importância da estrutura temporal, para o de- senvolvimento desta modalidade de característica intermitente Castarlenas & Planas (1997), Sterkowicz & Maslej (1998), Ribeiro Rosa (2000), Garcia & Luque (2007). Assim, esses estudos investigaram apenas as características do combate, nas situações de repouso e atividade, tanto em pé, quanto no solo, e entre carac- terística masculina e feminina Malderen et al.(2006). Como um dos primeiros a estudar a estrutura temporal dos combates de judô, Castarlenas & Planas (1997), analisaram a estatística dos combates divididos por categorias do Campeonato Mundial de Barcelona em 1991. Analisando a competição masculina, este estudo observou que 42% dos com- bates terminaram antes dos cinco minutos, 58% duraram cinco minutos, com média do tempo total de trabalho de 2min52s, sendo que deste tempo 70% foi de Tachi-waza e 30% Ne-waza, com tempo médio de pausa por combate de 1min41s. Após dividir os combates em sequência de trabalho (tempo entre Hajime e Mattê) e sequência de pausa (tempo entre Mattê e Hajime), foi verifi- cado que cada combate apresentou 11 sequências de trabalho, sendo que oito foram finalizados no combate em pé e três no solo. Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 20 Outro trabalho importante foi realizado por Malderen et al. (2006), além de investigar a estrutura temporal dos combates, analisou o tempo e técnica entre atletas masculinos e femininos, no Campeonato Sênior Belga em 2004.Foi ob- servado que o tempo de atividade total para atletas masculinos foi de 152±100s, e para atletas femininos o tempo total foi de 87±66s, o tempo de interrupção médio para atletas masculinos foi de 71±65s e para o feminino foi de 36±30s. Entre essas duas categorias não foram observadas diferenças significantes. A duração média das ações do tempo entre Mattê e Hajime e Nague-waza e Ne-waza foi 18,8±9s para atletas masculinos e de 19,9±7,3s para atletas femininos, a du- ração média das interrupções foi de 9,13±5,1s para atletas masculinos e 7,5±6,2s para atletas femininos,a distribuição do tempo de atividade entre Nage-waza e Ne-waza para atletas masculinos foi de 84,7% para Nage-waza e 15,3% para Ne- waza e para atletas femininos foi de 65% para Nage-waza e 35% para Ne-waza. Garcia & Luque (2007), publicaram um estudo relacionado à análise tem- poral do combate de judô realizado com lutas do campeonato da Espanha Sub–23, tanto com categorias masculinas como femininas. Quatorze combates foram analisados pelas mesmas variáveis do estudo realizado por Castarlenas & Planas (1997). Os resultados obtidos por este estudo em relação à duração total do combate foram entre 4min30s a 4min50s em ambas as categorias. O número total de sequências de trabalho por combate foi de 9 a 10 sequências nas duas categorias, sendo o número total de pausas por combate de 8 a 9, também em ambas as categorias. Houve diferença estatisticamente significante no tempo médio de trabalho em pé Tachi-waza entre as categorias feminina 14s± 2s e masculina 23s ± 6s. O tempo de intervalo médio oscilou entre 7m±2s para homens e 12m ± 4s para mulheres, com diferença estatisticamente significante. Como observado em estudos anteriores, a estrutura temporal mais comum oscila em 30s de atividade com 10s de intervalo. Contudo,até o ano de 2007, nenhum estudo havia investigado as ações es- pecíficas realizadas e a estrutura temporal de cada uma delas durante o perío- do de atividade entre um Hajime e um Mattê. Um dos temas já publicados, Marcon et al. (2007), originados do estudo do meu mestrado em 2008, contribuiu para a compreensão das demandas do combate de judô, sendo observado entre tempo total para cada sequência (tem- po de ação entre Hajime e Mattê; e tempo de intervalo entre Mattê e Hajime) os seguintes resultados: Combate 1 – Preparação: 4 ± 1s (12 ± 4%); Kumi-kata: 16 ± 5s (49 ± 15%); Técnica: 1,4 ± 0,3s (4 ± 1%); Ne-waza: 6 ± 4s (7 ± 5%); Intervalo: 7 ± 1s (19 ± 3%). In uência do metabolismo energético na estrutura temporal dos combates de judô 21 Combate 2 – Preparação: 4 ± 2s (13 ± 7%); Kumi-kata: 18 ± 3s (56 ± 9%); Técnica: 1,0 ± 0,4s (3 ± 1%); Ne-waza: 4 ± 2s (4 ± 2%); Intervalo: 6 ± 2s (16 ± 6%). Combate 3 – Preparação: 4 ± 1s (13 ± 3%); Kumi-kata: 17 ± 3s (49 ± 10%);Técnica: 1,7 ± 0,5s (5 ± 2%); Ne-waza: 5 ± 2s (5 ± 1%); Intervalo: 7 ± 1 (19 ± 3%). Esse foi o primeiro estudo no mundo que caracterizou as ações realizadas entre o tempo de atividade entre um Hajime e Mattê. Foi observado 11 sequên- cias, com quatro períodos de Ne-waza. Nossos resultados mostraram um tempo médio de intervalo mais curto e um tempo de sequência (entre Hajime e Mattê) semelhante (27s), comparando com os outros estudos anteriores. Também neste estudo chamamos a atenção para o Kumi-kata, como um fator importante e de- cisivo no judô competitivo. Já que a maior parte do tempo foi gasto nesta ação. Um recente estudo realizado por Julio et at. (2018), relata que uma melhora da resistência de força de membros superiores pode resultar em um aumento de intensidade durante os combates, principalmente durante as ações de dis- puta de pegada. A razão do esforço de alta intensidade para baixa intensidade no recente estudo publicado por Franchini et al. (2019), foi maior em combates de 1 minuto comparando com combates de durações de 2, 3 e 4 minutos, e foi menor no tempo extra comparando com combates de 2 e 3 minutos. Com o objetivo de conhecer a estrutura temporal dos combates de judô, vi- mos que muitos autores vêm pesquisando e criando alternativas para que essas informações possam vir a contribuir no processo de treinamento dos atletas. Os avanços tecnológicos aliados aos esforços desses autores certamente possibili- tarão novos entendimentos da estrutura temporal dos combates, seja por meio de criação de protocolos, novos aparelhos, desenvolvimento de programas de computadores etc. Assim, o estudo deste capítulo teve como objetivo analisar a influência do metabolismo energético na estrutura temporal dos combates de judô. Material e método Casuística Participaram desta pesquisa 10 judocas do sexo masculino com idade en- tre 18 e 32 (X = 23±4,1) anos de idade, caracterizados por categoria (peso), os quais assinaram um termo de consentimento aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de São Paulo (CEP 1311/05).Os atletas responderam um questionário de anamnese (anexo 1). Os testes foram realizados em duas etapas Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 22 de caracterização individual, avaliando-se tanto as capacidades energéticas quanto as características de luta. Houve perda de dois atletas durante a coleta de dados do teste Wingate. Um dos atletas não compareceu ao teste por motivo de lesão durante as competições e o outro atleta não compareceu por falta de tempo para realização do teste. Critério de Inclusão Os judocas eram filiados pela Federação Paulista de Judô (FPJ), saudáveis, treinados há mais de cinco anos sem interrupção e graduados, faixa preta, de nível estadual. Critério de exclusão Atletas que apresentaram irregularidades no questionário de anamnese, dia- béticos e hipertensos. Avaliação antropométrica Os atletas foram avaliados pela análise da composição corporal, utilizando o somatório de dobras cutâneas “SDC” (tríceps, subescapular, supra-ilíaca, ab- dominal, frontal da coxa – terço proximal, medial da perna) com compasso de dobras cutâneas (Lange Skinfold Caliper) mais peso e altura. Conforme descrito por Costa (2001), para medida da dobra cutânea tricip- tal o compasso foi posicionado na face posterior do braço paralelamente ao eixo longitudinal, no ponto que compreende a metade da distância entre a bor- da súpero-lateral do acrômio e olecrano. Para medida da dobra cutânea subescapular, o compasso foi posicionado para executar a medida obliquamente em relação ao eixo longitudinal seguin- do a orientação dos arcos costais, sendo localizado a 2 centímetros abaixo do ângulo inferior da escápula. Para medida da dobra cutânea suprailíaca o compasso foi posicionado para executar a medida obliquamente em relação ao eixo longitudinal na metade da distância entre o último arco costal e a crista ilíaca, sobre a linha axilar média. É necessário que o avaliador afaste o braço do avaliado para trás para permitir a execução da medida. Para medida da dobra cutânea abdominal o compasso foi posicionado para executar a medida aproximadamente a 2 centímetros a direita da cicatriz umbi- lical, paralelamente ao eixo longitudinal. Para medida da dobra cutânea frontal da coxa o compasso foi posicionado paralelamente ao eixo longitudinal, sobre o músculo reto femoral, a um terço da distância do ligamento inguinal e da borda superior da patela. In uência do metabolismo energético na estrutura temporal dos combates de judô 23 Para medida da dobra cutânea medial da perna o avaliado necessita estar sentado com a articulação do joelho em flexão de 90°, o tornozelo em posição anatômica e o pé sem apoio, a dobra é pinçada no ponto de maior perímetro da perna com o polegar da mão esquerda apoiado na borda me- dial da tíbia. Foi adotado como padrão o lado direito do corpo para todas as medidas, executando apenas uma medida por dobra. Análise das lutas As lutas foram desenvolvidas seguindo algumas adaptações de uma competição oficial. Os atletas foram divididos por categoria de peso,for- mando quatro categorias com pesos aproximados (Ligeiro, Leve, Médio e Pesado), todos os atletas realizaram três lutas. O combate não era finaliza- do após o acontecimento do Ippon (Golpe perfeito, técnica vencedora que finaliza o combate): se o Ippon fosse consequência de uma técnica em pé, o combate seguia normalmente; se o Ippon fosse consequência de uma técnica no solo o árbitro interrompia a sequência da atividade com a ordem Mattê, isso para que todos os atletas permanecessem os mesmos cinco minutos em atividade. Todos os atletas lutaram com no mínimo 20 minutos de intervalo entre suas lutas. As lutas foram filmadas com uma câmera de vídeo e analisadas por com- putador de acordo com as atividades desenvolvidas pelos atletas classifican- do-se em: (O) Repouso: período de interrupção da luta Mattê (punições, ordens do árbitro, atletas sem contato); (1) Preparação: período em que o judoca realiza movimentação sem esta- belecimento da pegada kumi-kata; (2) Pegada: período da luta em que o atleta disputa a melhor pegada kumi- -kata, podendo haver neste momento o contato de uma ou duas mãos; (3) Técnica: período da luta em que o judoca executa o golpe, ação motora de altíssima intensidade e curtíssima duração “explosão” (Tsukuri), já com o contato de uma ou duas mãos, o atleta passa a ter mais o contato de outra parte do corpo (pernas, quadril, costas, ombros...); (4) Projeção: momento da queda Kake, quando acontecem as projeções dos indivíduos, decorrente da execução de uma técnica, independente de ser pontuado ou não; e (5) Solo: combate no solo, momento em que as técnicas são aplicadas com objetivo de imobilizar ou finalizar o adversário Ne-waza. Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 24 A reprodução dos combates foi analisada em velocidade normal, com ob- servação em tempo real, com o código da atividade diretamente no computa- dor, por meio de um programa que calculava a duração da atividade com o relógio interno do computador conforme Marcon et al. (2010). Para cada judoca foi elaborada uma tabela de duas entradas: a primeira corresponde à classifica- ção da atividade (repouso, preparação, pegada, projeção ou solo) e a segunda à duração da atividade em segundos. Com esses dados, eram quantificados o número de vezes e o tempo de per- manência para cada atividade. Assim, o tempo das atividades era levantada em cada segundo de luta, podendo-se saber quais atividades foram mais ou menos desenvolvidas durante todo o combate. Com o esquema 1 pode-se visualizar melhor a ação de comandos do programa apresentado. Esquema 1 Representação das ações de comando para utilização do software. a) Tecla de ação de comando do relógio interno b) Atividade específica do combate c) Tempo total de combate d) % em tempo de atividade específica realizada em tempo real e) Tecla para fechar o software f) Vídeo em tempo real g) Tecla para busca de vídeo h) Tecla para pausa do programa i) Tempo parcial de cada estímulo j) Comando de correção do último comando b) a) c) d) e) f) g)h) i) j) In uência do metabolismo energético na estrutura temporal dos combates de judô 25 Determinação do VO2 máximo e limiar anaeróbio Os atletas foram submetidos a um teste ergoespirométrico, utilizando-se um protocolo de cargas crescentes em esteira rolante (CEMAFE-UNIFESP), começando com um período de aquecimento de 2 minutos, com carga de 7 Km/h, prosseguindo com o incremento de 1 Km/h a cada minuto até atin- gir o limiar anaeróbio, ocorrendo a partir desse momento, o acréscimo de inclinação na rampa de 5% até a exaustão. A análise do gás expirado foi realizada por um sistema metabólico computadorizado, VISTA MINI-CPX (VACUMED, EUA). Para a obtenção do limiar anaeróbio foi analisado o mo- mento em que houve aumento nos equivalentes ventilatórios (ventilação pulmonar “VE”, fração de dióxido de carbono “CO2” e quociente respira- tório “R”) de forma desproporcional ao oxigênio consumido ”VO2”. Neste caso o limiar anaeróbio é identificado considerando-se um dado valor de ”VO2”, no momento que o “VE/VO2” apresenta um aumento sem conco- mitante aumento do VE/VCO2.. E a capacidade aeróbia foi analisada pelo consumo máximo de oxigênio (VO2max). Teste de Wingate Antes de cada teste, foi verificada a massa corporal dos atletas e ajustada a carga correspondente a 0,06 kp/kg de massa corporal com maior precisão possível (Franchini et al. 1999), essa precisão foi de 100 g. Para iniciar o teste de potência anaeróbia alática e anaeróbia lática foi necessário realizar uma adaptação para os membros superiores, sendo que os atletas não puderam realizar nenhuma rotação prévia. Assim, ao iniciar o teste, era exigido que o atleta vencesse a inércia. Esse procedimento foi adotado por dois motivos: (1) Segundo Basset (1989), quando a carga é colocada após o início do teste, os valores atingidos são superiores àqueles com colocação da carga antes do início do teste, devido à influência da inércia do pedal; (2) o ciclo ergômetro que foi utilizado (Biotec 4100). Iniciando o teste, o atleta pedalou nessa carga o mais rápido possível durante 30 segundos. A potência foi analisada por meio das variáveis po- tência média “PanMéd”, potência de pico ”PanPico” e índice de fadiga ”IF” registradas em um programa, a cada segundo, durante 30 segundos (sof- tware CEFISE). Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 26 Análise estatística Para definir a confiabilidade do teste proposto, tanto intra quanto inter- -avaliadores, seguiu-se a proposta de Weir (2005). Para tal, empregou-se uma ANOVA para medidas repetidas, com o objetivo de verificar a significância da diferença entre avaliadores ou no mesmo avaliador, para os componentes temporais da luta. Após isto, calculou-se o coeficiente de correlação intra- classe (CCI) a partir das medidas dos quadrados obtidos pela ANOVA para medidas repetidas. Por fim, a partir da média dos quadrados dos resíduos, foi definido o erro típico da medida (ETM), para calcular o ETM na forma de coe- ficiente de variação (CV), ou seja, de forma relativa às variáveis dependentes (componentes temporais da luta) foram transformados em logaritmo natural (Hopkins, 2000). A incerteza relacionada à estimativa do CCI, ETM e CV foi representada pelo cálculo do intervalo de confiança das estimativas, adotando-se o coeficien- te de confiança de 95% como padrão. A partir destes três itens foi possível definir se os avaliadores eram capazes de gerar resultados semelhantes entre si, indicando se o protocolo proposto podia ser considerado objetivo ou não. Além disso, verificou-se a reprodutibi- lidade intra-avaliador, com o objetivo de definir a confiabilidade do protocolo empregado. Para verificar a associação entre as variáveis relacionadas ao padrão tem- poral de luta e as variáveis fisiológicas, empregou-se a correlação produto-mo- mento de Pearson. A significância estatística foi aceita em p ≤ 0,05. Resultados Dados das lutas As sequências realizadas foram caracterizadas pela soma das atividades entre cada repouso. Assim, existiram durante todas as lutas, 276 sequências de atividades, com média de 10,2 sequências de atividades por luta. O nú- mero de atividades por sequência está representado nos gráficos e histogra- mas a seguir. In uência do metabolismo energético na estrutura temporal dos combates de judô 27 Figura 1 Frequência do número de atividades por sequência. Atividades entre um comando de repouso para repouso. Números de atividades por seqüência 1210864 Fr eq üê nc ia 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 As sequências de atividades que mais apareceram foram: • Repouso + preparação + pegada + técnica + projeção + solo = 23,8% das sequências das atividades. • Repouso + preparação + pegada = 17,2% das sequências das atividades. • Repouso + preparação + pegada + projeção + solo = 13,4% sequências das atividades(Figura 2). Figura 2 Distribuição das sequências das atividades. 17,2% 23,8% 13,4% 45,6% Repouso + preparação + pegada + técnica + projeção + solo Repouso + preparação + pegada Repouso + preparação + pegada + projeção + solo Outras sequências Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 28 Os números de ações de cada atividade estão representados nos histogra- mas a seguir: Figura 3 Frequência absoluta da atividade repouso. Intervalo de tempo de 5s. De acordo com a Figura 3, a maior frequência da atividade repouso ocorreu no intervalo de tempo de 10s. Figura 4 Frequência absoluta da atividade preparação. Intervalo de tempo de 5s. 200 150 100 50 0 5,0 10,0 15,0 20,0 300 200 100 0 5,0 15,0 20,0 De acordo com a Figura 4, a maior frequência da atividade preparação ocorreu no intervalo de tempo de 5s. Repouso Preparação In uência do metabolismo energético na estrutura temporal dos combates de judô 29 Figura 5 Frequência absoluta da atividade pegada. Intervalo de tempo de 5s. 140 120 100 80 60 40 20 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 Pegada De acordo com a Figura 5, a maior frequência da atividade pegada ocorreu no intervalo de tempo de 5s. Figura 6 Frequência absoluta da atividade técnica. Intervalo de tempo de 1s. 200 100 0 1 2 3 Técnica De acordo com a Figura 6, a maior frequência da atividade técnica ocorreu no intervalo de tempo de 1s. Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 30 Figura 7 Frequência absoluta da atividade projeção. Intervalo de tempo de 1s. 120 100 80 60 40 20 0 1 2 3 4Projeção De acordo com a Figura 7, a maior frequência da atividade projeção ocor- reu no intervalo de tempo de 2s. Figura 8 Frequência absoluta da atividade solo. Intervalo de tempo de 5s. 100 80 60 40 20 0 5,0 Solo 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 De acordo com a Figura 8, a maior frequência da atividade solo ocorreu no intervalo de tempo de 5s. In uência do metabolismo energético na estrutura temporal dos combates de judô 31 Relação entre padrão temporal e variáveis fisiológicas Tabela 1 Dados antropométricos MC (kg) H (m) SDC (mm) Descrição 79,97 (25,13) 1,75 (0,08) 81,60 (52,62) Dados apresentados como média (desvio padrão). MC = Massa corporal; H = Altura; SDC = Somatório das dobras cutâneas. Tabela 2 Dados do Teste de Wingate Descrição PanPico (W) 447,12 (71,60) PanPicoRel (W∙kg-1) 6,27 (1,04) PanMéd (W) 317,12 (50,13) PanMédRel (W∙kg-1) 4,42 (0,45) IF (%) 57,19 (8,45) Dados apresentados na forma de média (desvio padrão). PanPico = Pico de potência PanPicoRel = Potência de pico relativa PanMéd = Potência média PanMédRel = Potência média relativa IF = Índice de fadiga Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 32 Tabela 3 Dados das lutas Combate 1 (s) Combate 2 (s) Combate 3 (s) Média (s) Proporção média Repouso 59 (13) 66 (13) 56 (16) 60 (10) 0,18 (0,02) Preparação 38 (14) 37 (13) 47 (22) 41 (13) 0,12 (0,04) Pegada 172 (51) 186 (27) 169 (49) 177 (37) 0,53 (0,11) Técnica 6 (5) 6 (6) 8 (5) 7 (4) 0,02 (0,02) Projeção 6 (5) 3 (3) 5 (2) 5 (2) 0,01 (0,01) Solo 60 (38) 40 (22) 44 (31) 47 (25) 0,14 (0,08) Dados apresentados na forma de média (desvio padrão). De acordo com os dados apresentados na Tabela 3, não foram observadas diferenças significantes entre o perfil temporal do combate nas três lutas anali- sadas, de tal forma que para as análises subsequentes, utilizou-se o valor médio dos três combates. Tabela 4 Descrição dos coeficientes de correlação (R) entre as variáveis temporais expressas de forma absoluta e as variáveis fisiológicas. Repouso Preparação Pegada Técnica Projeção Solo SDC -0,18 (0,613) -0,74 (0,014)* 0,42 (0,222) -0,12 (0,744) -0,49 (0,151) -0,40 (0,250) PanMáx 0,09 (0,828) 0,13 (0,768) 0,30 (0,469) -0,13 (0,768) -0,07 (0,865) -0,20 (0,630) PanMéd 0,40 (0,324) -0,26 (0,528) 0,31 (0,457) 0,05 (0,910) 0,23 (0,579) -0,18 (0,676) IF -0,58 (0,129) 0,28 (0,501) -0,14 (0,736) -0,16 (0,702) -0,45 (0,258) 0,13 (0,752) FC limiar -0,44 (0,231) -0,25 (0,513) -0,11 (0,781) -0,22 (0,567) -0,24 (0,530) -0,05 (0,908) VM limiar 0,02 (0,954) 0,46 (0,209) -0,75 (0,020)* 0,17 (0,654) 0,19 (0,624) 0,68 (0,045)* VO2Máx -0,14 (0,719) 0,09 (0,824) -0,5 (0,168) 0,04 (0,919) -0,01 (0,975) 0,39 (0,293) Dados apresentados na forma de R (P-valor) * Valor p abaixo de 0,05 – estatisticamente significante ao nível de 5% In uência do metabolismo energético na estrutura temporal dos combates de judô 33 SDC = Somatório das dobras cutâneas PanMáx = Potência máxima PanMéd = Potência média IF =Índice de fadiga FC limiar = Frequência cardíaca do limiar anaeróbio VM limiar = Velocidade média do limiar anaeróbio VO 2 máx= Volume máximo de oxigênio consumido Conforme indicado na Tabela 4 as variáveis fisiológicas PanMáx, PanMéd, IF, FClimiar e VO2Máx apresentaram relação de baixa significância estatística com as variáveis de padrão temporal. Ressalta-se que na variável fisiológica SDC apresentou relação negativa e significante com a variável de padrão temporal preparação. As demais relações não apresentaram significância. Quanto a variável fisiológica VMlimiar apresen- tou relação negativa significante com a variável de padrão temporal pegada e a mesma variável fisiológica apresentou relação positiva significante com a variável de padrão temporal solo. Tabela 5 Descrição dos coeficientes de correlação (R) entre as variáveis temporais ex- pressas de forma relativa e as variáveis fisiológicas. Repouso Preparação Pegada Técnica Projeção Solo SDC -0,02 (0,957) -0,73 (0,017)* 0,54 (0,111) -0,17 (0,633) -0,44 (0,204) -0,36 (0,314) PanMáx -0,06 (0,879) 0,05 (0,915) 0,22 (0,602) -0,16 (0,712) -0,21 (0,623) -0,27 (0,526) PanMéd 0,29 (0,489) -0,38 (0,357) 0,22 (0,605) -0,04 (0,932) 0,1 (0,821) -0,24 (0,572) IF -0,51 (0,192) 0,34 (0,404) -0,05 (0,901) -0,1 (0,82) -0,39 (0,345) 0,15 (0,727) FC limiar -0,19 (0,619) -0,08 (0,845) 0,08 (0,84) -0,06 (0,872) 0,14 (0,72) 0,05 (0,904) VM limiar 0,11 (0,778) 0,55 (0,125) -0,74 (0,022)* 0,25 (0,51) 0,21 (0,596) 0,69 (0,039)* VO 2 máx 0,01 (0,983) 0,21 (0,587) -0,4 (0,286) 0,14 (0,718) 0,11 (0,779) 0,44 (0,23) Os dados apresentados na forma de R (P-valor). * Valor p abaixo de 0,05 – estatisticamente significante ao nível de 5% SDC = Somatório das dobra cutâneas PanMáx = Potência máxima PanMéd = Potência média IF = Índice de fadiga FC limiar = Frequência cardíaca do limiar anaeróbio VM limiar = Velocidade média do limiar VO2máx = Volume máximo de oxigênio consumido Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 34 Os dados na Tabela 5, que mostra relação entre as variáveis de forma rela- tiva, confirmam os resultados encontrados na Tabela 4 que apresenta relação entre as variáveis de forma absoluta. Discussão Como citado anteriormente na introdução deste capítulo,é importante estudar a estrutural temporal dos combates de judô. Ao longo desses anos, observou-se que algumas questões já foram investigadas. Neste estudo verificamos que a disputa de pegada compreende a maior parte da luta, com períodos que duram de 11 a 21 segundos, exigindo dos atle- tas uma elevada intensidade e grande solicitação dos membros superiores. Portanto, podemos afirmar que é necessário que o atleta realize esse tipo de ação de forma repetida, em uma proporção que se aproxima de dois períodos de pegada para um de preparação, se considerado o tempo de intervalo e de- mais ações que se interpõem às pegadas. Quando ocorrem as ações no solo, elas têm duração ligeiramente inferior às ações na disputa de pegada. As ações de entrada de golpe podem ser carac- terizadas como ações de potência, uma vez que ocorrem a cada 30 segundos aproximadamente, se consideradoo tempo de luta no solo, o tempo de inter- valo, o tempo de movimentação ou preparação e o tempo de pegada. Ações como essas são executadas em curtíssimo período de tempo, o que resulta em demanda fisiológica bastante distinta das demais. Pode-se perceber que em relação aos membros inferiores, estes têm uma solicitação ou muito leve ou extremamente elevada, ou com poucas ações de resistência: movimentação, entrada do golpe e combate no solo, respectivamente. Para as ações dos membros superiores e tronco é exigida uma elevada resis- tência anaeróbia (manutenção ou disputa de pegada que pode variar de acordo com altura, peso do adversário, força das mãos ou táticas de combate), segui- das por ações de grande potência ao puxar ou ao empurrar o oponente para execução da técnica “golpe”. Todas as informações preliminares, observadas e discutidas neste trabalho foram obtidas sem que houvesse diferença estatisticamente significante entre as lutas quanto ao tempo gasto nas diferentes ações. A avaliação do perfil antropométrico dos judocas nos faz supor que os mais pesados permanecem menos tempo na ação de preparação, com base no dado observado nas Tabelas 4 e 5, as variáveis: somatório das dobras cutâneas e preparação apresentaram uma relação negativa e significante. In uência do metabolismo energético na estrutura temporal dos combates de judô 35 Entende-se que, durante o combate os atletas de classes com maior peso exploram menos a ação preparação, iniciando rapidamente a disputa da pegada o que caracteriza uma transição da ação preparação para a ação pe- gada. No momento da ação pegada o atleta ainda desenvolve a condição de preparação, mas em contato com seu adversário. Também com base nos dados da Tabela 4 e 5, notamos uma relação ne- gativa e significante entre a variável fisiológica velocidade do limiar anaeró- bio e a variável de padrão temporal pegada, a variável temporal de combate no solo apresentou uma relação positiva e significante, sendo que quanto maior a velocidade do limiar anaeróbio, menor o tempo de permanência na ação pegada e maior o tempo de permanecia do combate no solo. Com esse resultado supõe-se que quanto maior a capacidade aeróbia do atleta mais rápido é transição da ação pegada para a ação técnica, que exige do atleta esforços supramáximos, corroborando dados encontrados por Franchini et al. (1999). O mesmo conceito pode explicar a capacidade do atleta de per- manecer um tempo maior no combate do solo o que caracteriza esforços supramáximos intermitentes. Em relação ao teste de Potência Anaeróbia Wingate, os resultados encontrados durante este estudo, não comprovaram influência na per- formance de luta dos atletas. Conclusão Houve influência negativa e significante sobre a velocidade do limiar anaeróbio no tempo de ação pegada e influência positiva e significante no tempo de combate no solo, sendo também observada influência negativa e significante da somatório das dobras cutâneas dos atletas sobre o tempo de ação preparação desenvolvido nos combates de judô analisados no estudo desse capítulo. Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 36 Referências bibliograficas BAR-OR, O. The Wingate anaerobic test: an update on methodology, reliability and validity. Sports Med. Nov-Dec, v.4, n.6, p.381-9, 1987. BASSET. D. R. Correcting the Wingate test for changes in kinetic energy of the ergometer fly- wheel. International Journal of Sports Medicine, v.10, n. 6, p.446-449, 1989. BORTOLE, C. História dos mundiais. Ippon: Revista de Judô v. 2, n. 13, p. 6-7, 1997. BRACHT, V.; MOREIRA, N.; UMEDA, O.Y. 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Quantifying test-retest reliability using intraclass correlation coefficient and the SEM. J Strength Cond Res, v. 19, n. 1, p. 231-240, 2005. 39 Kettlebells: um mundo de possibilidades Claudio Novelli Introdução O que é kettlebell e quais são suas origens? Muito se fala e muito se confunde sobre o que é kettlebell. Propôs-se neste capítulo uma apresentação diferente dessa ferramenta. Um entendimento novo para quem já que perdeu o contato com o que é velho. Numa tradução livre, tem-se do Inglês, “kettle” = chaleira; “bell” = peça metálica torneada. E no Brasil, apesar de o termo kettlebell já estar caindo no uso comum do mundo fitness e crossfitter, há de se convir que ele é bastante difícil de ser pro- nunciado, e ainda gera muitas dúvidas e algumas variações curiosas. Surgirão vários links com indicações de vídeos de conteúdo complementar ao longo deste livro. Para começar, veja este vídeo sobre como pronunciar ke- ttlebell. Disponível em: <https://youtu.be/1q1R3keY5g8>. Simplificando, já que o simples é poderoso. “Chaleira”. Convencionou-se chamar o kettlebell de chaleira mesmo. E já é uma brincadeira carinhosa entre atletas brasileiros de kettlebell sport chamar um ao outro de “chaleirento” O kettlebell nada mais é que um implemento de carga, uma peça de ferro com formato similar a uma chaleira. Como implemento de carga, entendemos uma ferramenta que permita acrescentar intensidade a uma atividade física direcionada, a um exercício. Na Educação Física, o conceito de progressão de carga é invariavelmen- te abordado por meio do conto de Milo de Crotona, um jovem que passou a carregar um bezerro em suas costas diariamente pelas trilhas do acidentado relevo grego. Com o passar dos dias, o bezerro cresceu e, como era de se esperar, tornou-se um boi. Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 40 Gravura sobre o conto de Milo de Crotona. Disponível em: <https://www.teepublic.com/t-shirt/1583177-milo-of-croton-and-the-bull-progressive-overload> Acesso em: 26 set 2019. Sendo o implemento de carga que é, só se pode garantir com segurança que a exata origem do kettlebell é desconhecida, apesar de ser atribuída à Rússia em uma história bastante crível, especificamente à Marinha de São Petersburgo. Como não há registro histórico válido, supõe-se uma verossimilhança. Segundo essa história contada pelo Honoured Master of Sports Arsenij Zhernakov, balas de canhões eram utilizadas no treinamento físico pelos ma- rujos russos embarcados. Sendo esféricas, elas rolavam de um lado para outro. Isso levou alguém a esmerilar uma face da bola, tornando-a plana, con- gruente com o chão, para que ficasse estática. E talvez a mesma pessoa que teve essa iniciativa, ou outra igualmente pragmática, de alguma forma colocou uma alça sobre essa bola com a base esmerilada. Kettlebells: um mundo de possibilidades 41 Esquema representativo da suposta criação do ettlebell. Fonte: acervo próprio. E assim nasceu um kettlebell primitivo. Uma bola de ferro fundido, base plana, alça para facilitar o transporte e manuseio. Esse tipo de peça atualmente é chamado de clássica ou “cast iron”. Kettlebell clássico ou cast iron. Fonte: acervo próprio. Porém, há de se convir que não é exatamente genial colocar uma alça em um peso cujo formato desfavorece o seu transporte e manuseio. E a solução ao feitio “Ovo de Colombo” é algo que este autor imagina que possa haver ocorrido um número infindável de vezes em centenas de lugares diferentes ao longo de diversos pontos da linha do tempo neste pequeno pla- neta em que o ser humano habita. Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 42 A atleta de força Elise Serafin-Luftmann. Disponível em: <https://picryl.com/media/serafin-luftmann-elise-24d095>. Acesso em: 26 set 2019. O atleta de força Al Tauscher Disponível em: <https://www.oldtimestrongman.com/blog/2018/08/13/al-tauscher/>. Acesso em: 26 set 2019. Kettlebells: um mundo de possibilidades 43 O atleta de força Edward W Goodman. Disponível em: <https://www.oldtimestrongman.com/blog/2011/11/21/edward-w-goodman/>. Acesso em: 26 set 2019. Corroborando a capacidade humana de facilitar o ambiente a seu favor, há registros chineses de pedras e blocos com alças sendo utilizados para treina- mento de artistas marciais. Atletas chineses em competição com “pedras quadradas com alça”. Disponível em: <http://www.globaltimes.cn/content/1069195.shtml>. Acesso em: 26 set 2019. Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 44 Ainda, na Grécia Antiga parecem ter sido elaborados halteres e kettlebells de pedra para o mesmo fim: manuseio facilitado por uma alça no corpo do implemento. Peso grego Mastoide, 500 a.C. Disponível em: <https://www.ma-shops.com/harlanberk/item.php?id=3471&lang=en>. Acesso em: 26 set 2019. Halter grego antigo feito em pedra. Disponível em: <https://pt.interestrip.com/134pt-42-interesting-facts-about-ancient-greece>. Acesso em: 26 set 2019. Kettlebells: um mundo de possibilidades 45 Agora, a história que a este autor soa como a mais curiosa de todas. Veja que interessante esta pedra que pode ser admirada no Museu de Olímpia, na Grécia. A Pedra de Bybon, com inscrições. Disponível em: <http://odysseus.culture.gr/h/4/eh430.jsp?obj_id=11001>. Acesso em: 26 set 2019. Vista da superfície frontal da Pedra de Bybon, com suas inscrições. Disponível em: <http://odysseus.culture.gr/h/4/eh430.jsp?obj_id=11001>.Acesso em: 26 set 2019. Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 46 Segundo o Ministério Helênico da Cultura e Esportes da Grécia, esse grande peso de pedra não polida de 143,5kg é um tanto quanto único em sua categoria. Além disso, é parte das poucas evidências que se tem sobre os recordes de atletas durante os tempos antigos. Ela traz uma inscrição singular na sua frente, no formato boustrofedon, um antigo sistema de escrita feito de linhas escritas em direções opostas alternadamente. A inscrição afirma que Bybon levantou essa pedra acima de sua cabeça usando apenas um dos braços. O levantamento de peso era principalmente um exercício de treinamento nos tempos antigos, e não um evento Olímpico. O feito de Bybon, entretanto, foi extraordinário, e por isso foi celebrado com uma inscrição na própria rocha que foi levantada, e então oferecida ao Santuário em Olímpia. A Pedra de Bybon, a quem os amantes da prática do kettlebell consideram o primeiro kettlebell da história, está exposta no Hall número 6 do Museu da História dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, na cidade grega de Ilia. Sua origem foi datada no Período Arcaico, do final do ano sétimo A.C. ao iní- cio do ano sexto A.C. Foi descoberta na Olímpia Antiga, ao sudeste de Pelopion. Suas dimensões: 0,68 m de largura; 0,33 m de altura; 143,5 kg de massa. Chineses, os pais do Kung Fu, a arte marcial mãe, usando esses kettlebells quadrados, e na Grécia Antiga, usando pedras esculpidas para fins de treina- mento para Jogos Olímpicos. Por que razão militares e artistas marciais usariam essas pedras e blocos para serem os melhores entre os melhores? Curiosamente, quase todos os países com história mais longa do que a do Brasil emprega seus militares como atletas olímpicos. Mas já passou a idade da pedra lascada, apesar de os blocos chineses ainda serem uma realidade nos dias de hoje. Ao longo do curso da história, o kettlebell se desenvolveu ergonomicamente, a exemplo de como barras e anilhas se desenvolveram para o esporte de força nomeado “levantamento de peso olímpico” (LPO), mundialmente conhecido. Do kettlebell primordial, clássico, uma simples bola de ferro com uma alça ou soldada ou fundida ao corpo da base, nomeados de “cast iron” (aqui no Brasil errônea, invertida, mas popularmente chamados de “iron cast”) cami- nhou-se para os altamente ergonômicos kettlebells de competição, as peças de alto nível nomeadas “Pro Grade”. Em uma tradução livre, cast iron está para “ferro fundido”, e “pro grade” está para “Grau Profissional”. Kettlebells: um mundo de possibilidades 47 O profissional de Educação Física Claudio Novelli junto a kettlebells cast iron e pro grades de diferentes massas. Fonte: acervo próprio Como os clássicos cast iron são maciços, cada massa implicará em um tamanho diferente. Um kettlebell de 8 kg será razoavelmente pequeno. Um de 12 kg será maior. Um de 16 kg, maior ainda. Um de 32 kg será bastante grande. Isso é um processo natural, considerando que o material empregado por um fabricante em sua linha de produção é sempre o mesmo, com a mesma densidade. Ao olhar os kettlebells cast iron de diferentes massas em uma fileira, lado a lado, fica muito fácil identificar quais são os mais pesados e quais são os mais leves. No entanto, cada qual terá uma empunhadura diferente, um diâmetro de alça diferente, uma relação entre as distâncias da bola para alça diferente. Ou seja, cada um terá um ponto de apoio diferente do outro. Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 48 Kettlebell de 6 kg (esquerda) e de 4 kg (direita). Nota-se claramente as diferenças de dimensões. Fonte: acervo próprio. Já os kettlebells pro grade têm obrigatoriamente o mesmo tamanho, com mínimas variações admitidas de um para outro fabricante. Essas dimensões precisam ser respeitadas à risca para que possam ser admitidos em competições esportivas federadas. Kettlebells pro grade de massas variadas. Na foto, peças de 8 kg a 32 kg do fabricante Brasil Kettlebell l b. Fonte: acervo próprio. Kettlebells: um mundo de possibilidades 49 Basicamente, a bola do kettlebell pro grade deve ter um diâmetro de 21 cm. A largura interna da alça, 12,3 cm. O diâmetro da alça, de 31 a 35 mm. A altura total, da base até o topo da alça, sempre deve ser de 28 cm. Dimensões oficiais internacionais dos kettlebells pro grades. Fonte: Regras Internacionais de Arbitragem das Competições da WKSF (2018). Disponível em <www.kgb.pro.br>. Acesso em: 26 set 2019. Colocando lado a lado, seria difícil saber qual pro grade é o mais leve, e qual é o mais pesado. Sim, é isso mesmo. De 8 kg a 40 kg, todos os kettlebells pro grade têm exatamente o mesmo tamanho. Para facilitar a identificação das peças pro grade e suas respectivas massas, é adotado um código de cores internacional oficial para competições (WKSF, 2018). Massa Cor oficial 8 kg Azul claro 12 kg Marrom 16 kg Amarela 20 kg Roxo ou magenta 24 kg Verde 28 kg Laranja 32 kg Vermelha 36 kg Cinza 40 kg Branca Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 50 Note que as cores dos kettlebells de competição, os profissionais pro grades, são determinadas de quatro em quatro quilos. Isso não significa que não existam as cargas intermediárias. Existem, e a recomendação para progressão de cargas de treinamento é que se aumente a massa de trabalho quilo a quilo. No Brasil, os fabricantes utilizam uma progressão de quatro em quatro ou de dois em dois quilos. Há algumas formas improvisadas de aumentar artifi- cialmente a carga de um kettlebell, como prender uma anilha ao fundo da peça utilizando fita adesiva de alta aderência ou algo semelhante. O problema nisso, em aumentar a massa na base da peça, pode residir no afastamento do centro de massa do punho do praticante. Isso pode levar a um aumento do torque externo em diversas posturas e em diversos gestos, consequentemente a um aumento da resposta muscular (tor- que interno), observada como ativação da musculatura. Trocando em miúdos, uma peça mal projetada te deixará cansado mais rápido. Já fica a dica deste autor e atleta: invista em kettlebells de boa qualidade. Ou melhor, de ótima qualidade! Como são bens altamente duráveis, você só fará o investimento uma única vez. Experimente um olhar mais cuidadoso para os kettlebells de competição. As paredes da bola dos pro grades vão engrossando de fora para dentro, conforme a massa deles aumenta. Isso garante o mesmo tamanho externo, ao ter contato com a peça. Internamente, a história é outra. Kettlebells pro grade de 12 kg terão sua parede bem menos espessa do que um de 24 kg, por exemplo, como vemos a seguir. Da esquerda para a direita: kettlebell pro grade de 8 kg, 24 kg e 32 kg. Note que o primeiro tem o casco bastante fino (8 mm, segundo o fabricante – Brasil Kettlebell l b). Já o de 24 kg tem cerca de 4 cm de espessura. O de 32 kg é praticamente maciço. Fonte: acervo próprio. Kettlebells: um mundo de possibilidades 51 Surge uma você pode ter notado, como um ponto comum até aqui, o que é interessante, e explicará algumas coisas que se vê por aí no mercado fitness que adota o uso de kettlebells e de outros implementos. Você percebeu que todas as alças, de todas as imagens que você viu até agora, todas, todas mesmo, sem exceção, servem para que a pessoa trabalhe com apenas UMA mão por vez no kettlebell? Vamos dar uma olhada nessas imagens. Pegada em “hook grip” (esquerda) e inserção diagonal da mão na alça do kettlebell. Fonte: acervo próprio. Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de esportes de alto rendimento 52 Três atletas empunhando ettlebells e. Claudio Novelli (São Paulo, SP – esquerda acima); Leonel Mota Ribas (São Paulo, SP – esquerda, abaixo). Arsenij Zhernakov (São Petersburgo, Rússia – direita). Fonte: acervo
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